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O FIM DO CAPITALISMO EM MEADOS DO SÉCULO XXI
Fernando Alcoforado
Abstract: This article aims to: 1) demonstrate how the profit is formed in capitalism; 2) demonstrate the inexorable
downward trend of the profit rate of the world capitalist system; 3) show that the world capitalist system will come to an
end in the mid-twenty-first century; 4) present the neutralizer actions of the profit rate downward trend in the world
capitalist system; 5) present the beneficial and harmful effects of industrial automation on the profit rate in capitalism
and society; 6) present the performance of the world capitalist system in the recent period; and 7) to analyze the
financialization of capital and risk of debacle of the world capitalist system.
Resumo: Este artigo tem por objetivos: 1) demonstrar como o lucro é formado no capitalismo; 2) demonstrar a tendência
inexorável de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial; 3) demonstrar que o sistema capitalista mundial
chegará ao fim em meados do século XXI; 4) apresentar as ações neutralizadoras da tendência de queda da taxa de lucro
no sistema capitalista mundial; 5) apresentar as consequências benéficas e maléficas da automação industrial sobre a taxa
de lucro no capitalismo e sobre a sociedade; 6) apresentar o desempenho do sistema capitalista mundial no período
recente; e, 7) analisar a financeirização do capital e de risco de debacle do sistema capitalista mundial.
Keywords: Profit rate in capitalism. Downward trend of the profit rate.
Palavras-chave: Taxa de lucro no capitalismo. Tendência de queda da taxa de lucro.
1. Introdução
Este artigo tem por objetivo demonstrar que o sistema capitalista mundial chegará ao fim
em meados do século XXI. Para alcançar este objetivo, foi apresentada no Capítulo 1 a
verdade sobre a formação do lucro no capitalismo se apoiando nos ensinamentos de Karl
Marx em sua obra O Capital (1999). O Capítulo 2 apresenta a demonstração da tese de
Karl Marx da inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista
mundial. No Capítulo 3 é demonstrado que a taxa de lucro será igual a zero no período
2048/2059 e são apresentadas as ações ou estratégias adotadas visando a neutralização da
tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial. O Capítulo 4 apresenta

Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo,
1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um
Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da
Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia
no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba,
2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br
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as consequências benéficas e maléficas da automação industrial sobre a taxa de lucro no
capitalismo e sobre a sociedade. O Capítulo 5 apresenta o desempenho do sistema
capitalista mundial no período recente no que concerne à taxa de lucro, a taxa de mais
valia e composição orgânica do capital. Finalmente, no Capítulo 6 é analisada a
financeirização do capital e o risco de débâcle do sistema capitalista mundial.
2. A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo
A partir de um determinado momento ao longo da história da humanidade, os seres
humanos começaram a trocar mercadorias (M). Nesta época ainda não existia o dinheiro
como meio de troca. Praticava-se o escambo, quando trocava mercadoria por mercadoria
(M = M). O uso da moeda como hoje a conhecemos é o resultado de uma longa
evolução. Por apresentar vantagens como a possibilidade de entesouramento,
divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, o metal se elegeu como principal
padrão de valor. Era trocado sob as formas mais diversas. A princípio, em seu estado
natural, depois sob a forma de barras e, ainda, sob a forma de objetos, como anéis,
braceletes etc. Surgem, então, no século VII a.C., as primeiras moedas com características
das atuais: são pequenas peças de metal com peso e valor definidos e com a impressão do
cunho oficial, isto é, a marca de quem as emitiu e garante o seu valor. O dinheiro surgiu,
portanto, para facilitar a troca entre mercadorias.
(M D M)
No capitalismo, o dinheiro deixou de ser um meio para trocas entre mercadorias de valor
equivalente, passando ele a ser, também, o meio para a obtenção de mais-dinheiro (D’). A
partir de uma quantidade de dinheiro (D) busca-se obter mais dinheiro (D’).
D M (.........) M´ D´
No primeiro volume de O Capital (1999), Karl Marx mostra como o lucro é realizado. Ele
explica que o capitalista encontra no mercado uma mercadoria especial, que,
diferentemente de todas as outras mercadorias, é a fonte geradora de seu lucro. Marx a
definiu como o “conjunto das capacidades mentais e físicas que existem em um ser
humano”. A compra e o uso destas “capacidades mentais e físicas” constitui a fonte
geradora do lucro dos capitalistas.
Embora o trabalhador tenha um contrato para trabalhar por, digamos, oito horas por dia,
ele cobriria o valor de seu salário em talvez quatro horas para atender suas necessidades.
Este primeiro período, Marx o descreve como tempo de trabalho necessário. Mas, uma vez
coberto o valor de seu salário, ele não para de trabalhar e continua a fazê-lo até o final de
seu turno de oito horas. É neste período extra que ultrapassa a parte necessária, que o
trabalhador produz a mais-valia para o capitalista, e é descrito por Marx como tempo de
trabalho excedente. Este é trabalho não pago e é de onde surgem os lucros do capitalista.
3
Segundo Marx, o lucro do capitalista resulta da Mais-Valia (m). Sendo que esta provém
da diferença entre o valor de um bem ou serviço produzido por um trabalhador e
o salário que lhe é pago. Em outras palavras, é o tempo de trabalho que não é pago ou
remunerado pelo capitalista. Logo, o lucro vem diretamente do trabalho humano, do
trabalhador. Daí pode-se calcular a taxa de exploração (m’), por exemplo, se o valor
produzido por um trabalhador durante um ano é de R$ 72.000,00 e o salário pago é de R$
18.000,00 (v), a mais-valia é de R$ 54.000,00 (m), então: m´= m/v= 54.000/18.000= 3
(300%).
O valor das matérias-primas e da energia utilizadas na produção da mercadoria não podem
se constituir em fonte geradora do lucro porque não cria um valor novo, haja vista que
simplesmente transferem o seu valor para o novo produto. Isto inclui o uso e o desgaste das
máquinas, que somente de forma gradual transferem seu valor, o que é conhecido como
depreciação. Segundo Karl Marx, o trabalho (combinado à natureza) é a verdadeira fonte
de todo valor novo, incluindo a mais-valia. Todo o valor decorrente de trabalho anterior
contido nas matérias-primas, etc., é transferido para as novas mercadorias. A isto Marx
chama de “trabalho morto”, em oposição ao novo valor adicionado resultante do trabalho
do ser humano que Marx descreve como “trabalho vivo”.
A força motriz do capitalismo é a produção de mais-valia. O capitalista está determinado a
extrair até a última gota de lucro do trabalho não pago aos trabalhadores. Ele faz isto
através de uma combinação de meios: prolongando a jornada de trabalho, aumentando a
velocidade das máquinas, introduzindo máquinas poupadoras de trabalho, através da
racionalização, de acordos de produtividade, de novos turnos, de estudos de tempo e
movimento, servindo-se de novas tecnologias etc. Estes métodos tornaram-se familiares
aos trabalhadores.
O capital total investido pelo capitalista foi considerado por Marx como se segue. O capital
constituído de meios de produção, matérias-primas, energia etc, é considerado capital
constante (k), que simplesmente transfere seu valor para as novas mercadorias. O valor que
eles transferem é fixo. Entretanto, o capital representado pela força de trabalho (salários) é
considerado capital variável (v), enquanto fonte de todo valor novo. Consequentemente, o
valor total de todas as mercadorias é composto de k + v + m, onde m representa a mais-
valia. Enquanto a mais-valia estiver “aprisionada” dentro da mercadoria, o capitalista
somente pode realizar este valor excedente quando as mercadorias são vendidas no
mercado. Dessa forma, a mais-valia é criada somente na produção, e realizada somente na
troca, no mercado.
É oportuno observar que é através da mais-valia (m) que o capitalista remunera seu capital
investido, paga encargos sociais e trabalhistas, bem como taxas e tributos ao governo, entre
outras exigências. Em última instância, é o trabalhador que, além de assegurar a produção
do bem ou serviço, garante o ganho do capitalista e o pagamento dos compromissos por
este assumidos. Se a jornada de trabalho é dividida entre trabalho necessário e trabalho
excedente, a taxa de mais-valia é a razão entre as duas porções da jornada de trabalho.
4
Quanto maior a porção excedente, maior a taxa de mais-valia. É exatamente a mesma razão
entre o valor excedente e o capital variável, quer dizer m/v. Em termos simples, a taxa de
mais-valia é a taxa de exploração do trabalho pelo capital, ou dos trabalhadores pelo
capitalista. A classe capitalista força a classe trabalhadora a executar mais trabalho do que
se requer para cobrir seus meios de subsistência, produzindo assim mais-valia.
O que interessa ao capitalista é o lucro e a busca por maiores taxas de lucro. Ele precisa
saber se o valor que legalmente deixa de pagar a seus trabalhadores – a Mais-Valia (m). – é
superior ao capital que investe em capital constante (k) e capital variável (v). Sendo o
capital constante a maquinaria, matérias-primas, energia, etc. utilizados na produção do
bem ou serviço e o capital variável a compra de força de trabalho aos trabalhadores sob a
forma de salários. Logo, matematicamente a taxa de lucro representa-se assim:
l´= m/(k+v)
Considerando que m´=m/v , teremos m= m´v. Substituindo m por m´v na fórmula que
calcula a taxa de lucro teremos:
l´= (m´v)/(k+v)
Dividindo o numerador e o denominador por v, teremos a taxa de lucro:
l´= m´. 1/ ( k/v + 1)= m´/ (k/v +1)
Considerando que a composição orgânica do capital (coc) é a relação entre capital
constante (k) e o capital variável (v):
coc= k/v
teremos a taxa de lucro expressa da forma abaixo indicada:
l´= m´/(coc + 1).
A análise desta fórmula permite constatar que a taxa de lucro (l’) é proporcional à taxa de
exploração do trabalhador (m’) e inversamente proporcional à composição orgânica do
capital (coc).
O incessante e impetuoso desenvolvimento técnico, impulsionado pela concorrência entre
capitalistas, obriga-os a investirem em maquinaria (capital constante= k) que lhes
permite produzir o mesmo com menos tempo de “trabalho vivo” (capital variável= v).
Portanto, na sua busca pela reprodução de capital, os capitalistas tendem a
investir mais em capital constante (k) e menos em capital variável (v), aumentando
tendencialmente a composição orgânica do capital (coc) fazendo com que a taxa de lucro
tenha tendência de diminuir.
5
O desemprego resulta deste maior investimento em capital constante (k) em prejuízo do
capital variável (v), tornando-se assim também mais difícil aos capitalistas obterem a mais-
valia. Diante da tendência da baixa da taxa de lucro, os capitalistas buscam aumentar a taxa
de exploração do trabalhador (m´) para aumentar o numerador da equação l´=m´/(coc+1).
Simultaneamente e contraditoriamente, incentivam o consumo enquanto o poder de
compra dos trabalhadores tende a baixar com o aumento do desemprego e na medida em
que reduz a parcela de salários (v). Assim, a circulação D-M-D’abranda e acontecem
as crises do sistema capitalista.
Esta pressão para introduzir máquinas que permitem poupar trabalho conduz, no entanto, a
uma diminuição relativa do capital variável (força de trabalho) em comparação ao capital
constante (meios de produção, matérias-primas etc.). Embora haja um relativo decréscimo
em força de trabalho para aquele que investiu em capital constante, tal fato, no entanto,
resulta em mais investimento sendo colocado ao alcance de cada trabalhador empregado.
Através da concorrência, o capitalista é forçado a investir para produzir mercadorias mais
baratas do que seus rivais.
As indústrias onde a produtividade do trabalho fica para trás da média são excluídas do
negócio por aquelas que usam os métodos mais atualizados. A concorrência leva à
concentração e centralização do capital. Este processo resulta em maiores empresas com os
mais modernos equipamentos e tecnologia. Esta acumulação de capital é uma característica
fundamental do capitalismo. Constitui missão histórica do capitalismo desenvolver as
forças produtivas. A força motriz da produção capitalista não é a satisfação das
necessidades humanas, mas a produção de valor excedente a um ritmo sempre crescente,
grande parte do qual deve ser acumulado e incorporado em novos meios de produção.
3. A inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial
No Capítulo 2, A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo, foi apresentada a
interpretação do grande pensador econômico e social do século XIX, Karl Marx, sobre a
dinâmica do sistema capitalista e sua fonte geradora do lucro. Segundo Marx, o lucro do
capitalista resulta da Mais-Valia (m) sendo que esta provém da diferença entre o valor de
um bem ou serviço produzido por um trabalhador e o salário que lhe é pago. Em outras
palavras, é o tempo de trabalho que não é pago pelo capitalista ao trabalhador. Logo,
o lucro vem diretamente do trabalho humano, do trabalhador. O valor das matérias-primas
e da energia utilizadas na produção da mercadoria não podem se constituir em fonte
geradora do lucro porque não cria um valor novo, haja vista que simplesmente transferem
o seu valor para o novo produto. Isto inclui o uso e o desgaste das máquinas, que somente
de forma gradual transferem seu valor, o que é conhecido como depreciação.
No Capítulo 2, ficou demonstrada que a força motriz do capitalismo é a produção de mais-
valia. O capital constituído de meios de produção, matérias-primas, energia etc, é
considerado capital constante (k), que simplesmente transfere seu valor para as novas
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mercadorias. Entretanto, o capital representado pela força de trabalho (salários) é
considerado capital variável (v), enquanto fonte de todo valor novo, e (m) é a mais valia ou
trabalho excedente ou não pago pelo capitalista ao trabalhador. Consequentemente, o valor
total de todas as mercadorias é composto de k + v + m.
O capitalista está determinado a extrair até a última gota de lucro do trabalho não pago aos
trabalhadores (m). Ele faz isto através de uma combinação de meios: prolongando a
jornada de trabalho, aumentando a velocidade das máquinas, introduzindo máquinas
poupadoras de trabalho, através da racionalização do processo produtivo, de acordos de
produtividade, de novos turnos, de estudos de tempo e movimento, servindo-se de novas
tecnologias etc. A jornada de trabalho é dividida entre trabalho socialmente necessário para
manutenção do trabalhador e de sua família e o trabalho excedente não pago pelo
capitalista ao trabalhador. Em termos simples, a taxa de mais-valia é a taxa de exploração
do trabalho pelo capital, ou dos trabalhadores pelo capitalista. Quanto maior a porção
excedente (m), maior é a taxa de mais-valia. A classe capitalista força a classe trabalhadora
a executar mais trabalho do que se requer para cobrir seus meios de subsistência,
produzindo assim a taxa de mais-valia (m/v).
O que interessa ao capitalista é o lucro e a busca por maiores taxas de lucro. Ele precisa
saber se o valor que legalmente deixa de pagar a seus trabalhadores – a Mais-Valia (m) – é
superior ao capital que investe em capital constante (k) e capital variável (v). O capital
constante corresponde à maquinaria, matérias-primas, energia, etc. utilizados na produção
do bem ou serviço e o capital variável diz respeito aos salários pagos aos trabalhadores.
Chris Harman (2007) publicou o artigo A Taxa de Lucro e o Mundo Atual no qual informa,
baseado em O Capital de Karl Marx, que a taxa de lucro é a chave através da qual os
capitalistas podem levar a frente seu objetivo de acumulação de capital. Porém, quanto
mais se desenvolve a acumulação é mais dificultoso para os capitalistas obterem taxas de
lucro para continuar o processo de acumulação. A taxa de lucro, sendo a meta da produção
capitalista, sua queda aparece como uma ameaça para o processo de produção capitalista.
Esta situação mostra o caráter histórico, transitório do modo de produção capitalista e o
conflito que se estabelece com as possibilidades de continuar seu desenvolvimento.
Segundo Karl Marx, esta situação mostra a verdadeira barreira para a produção capitalista
que é representada pelo próprio capital.
Baseado no raciocínio de Marx, Harman afirma o seguinte: cada capitalista pode,
individualmente, aumentar sua própria competitividade aumentando a produtividade de
seus trabalhadores. A forma de fazê-lo é utilizando mais “meios de produção” –
ferramentas, maquinaria etc. – em quantidade suficiente e qualidade necessária com base
na inovação por cada trabalhador. Com o aumento da proporção da extensão física dos
meios de produção para uma quantidade de trabalho empregada, proporção
que Marx denominou “composição técnica do capital”, um crescimento no volume e na
qualidade dos meios de produção também implica um aumento do investimento necessário
para adquiri-los (k). Isto também aumentará mais rápido que o investimento na força de
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trabalho (v). Para usar os termos de Marx, o “capital constante” (k) cresce mais rápido que
o “capital variável” (v).
O crescimento da relação (k/v), Marx denomina “composição orgânica do capital” (coc)
que é o corolário lógico da acumulação de capital. No entanto, a única fonte de valor do
sistema capitalista (geradora do lucro) como totalidade é o trabalho conforme foi
demonstrado no Capítulo 2 (A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo). Se o
investimento (k) cresce mais rápido que a força de trabalho (v), também deve crescer mais
rápido que o valor criado (m) pelos trabalhadores, que é de onde sai o lucro. Em suma, o
crescimento de capital cresce mais rápido do que a fonte de lucro. Matematicamente, a taxa
de lucro (l´) representa-se assim:
Sendo: m= mais valia ou trabalho excedente ou não pago e, v=trabalho pago com salários.
A taxa de mais-valia (m´) é a razão entre as duas porções da jornada de trabalho (m/v).
Considerando que m´=m/v , teremos m= m´v. Substituindo m por m´v na fórmula que
calcula a taxa de lucro teremos:
Dividindo o numerador e o denominador por v, teremos a taxa de lucro:
l´= m´. 1/ ( k/v + 1)= m´/ (k/v +1)
Considerando que a composição orgânica do capital (coc) é a relação entre capital
constante (k) e o capital variável (v):
teremos a taxa de lucro expressa da forma abaixo indicada:
l´= m´/(coc + 1).
A análise desta fórmula permite constatar que a taxa de lucro (l’) é proporcional à taxa de
mais-valia ou taxa de exploração do trabalhador (m’) e inversamente proporcional à
composição orgânica do capital (coc= k/v). A análise desta fórmula permite constatar que
havendo o aumento da composição orgânica do capital resultante do aumento da
capacidade e/ou modernização da produção resulta a elevação do denominador da equação
(coc), fato este que obrigaria o capitalista a elevar (m´) no numerador, isto é, a taxa de mais
valia ou de exploração do trabalhador para manter ou elevar a taxa de lucro. Esta é a razão
pela qual cada capitalista aumenta sua competitividade com o incremento de sua
“composição técnica do capital” e aumenta a taxa de mais valia ou de exploração do
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trabalhador. Cada capitalista luta, portanto, por uma maior produtividade da produção para
obter vantagem sobre seus competidores. Mas, o que parece benéfico para o capitalista
individual é desastroso para a sociedade capitalista como um todo porque cada vez que a
produtividade aumenta cai o montante médio de trabalho requerido na totalidade da
economia para a produção de um bem.
Baseado no raciocínio de Karl Marx em O Capital, Chris Harman (2007) informa ainda
que a taxa de lucro tenderá a cair no longo prazo, década após década. Não só haverá altos
e baixos em cada ciclo de “boom” e crise, mas também haverá uma tendência à queda no
longo prazo, tornando cada “boom” mais curto e cada queda mais profunda. Neste
processo, a reestruturação realizada pós-crise pode restabelecer a taxa de lucro para seu
nível prévio até que o aumento do investimento o faça diminuir novamente. De acordo
com este ponto de vista, há um movimento cíclico da taxa de lucro atravessado por agudas
crises de reestruturação. A Figura 1 apresentada a seguir mostra que as taxas de lucro nos
Estados Unidos, Alemanha e Japão apresentaram uma tendência de declínio de 1950 a
2000. A Figura 2 mostra o declínio da taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo em
corporações dos Estados Unidos de 1947 a 2007. Assim, as bases da teoria de Marx foram
confirmadas.
Figura 1- Taxa de lucro nos Estados Unidos, Alemanha e Japão
Fonte: https://www.marxists.org/portugues/harman/2007/mes/taxa.htm
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Figura 2- Taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo em
corporações dos Estados Unidos
Fonte: KLIMAN, A. The failure of capitalist production: underlying causes of the great
recession. London: Pluto, 2012.
A Figura 1 mostra que a taxa de lucro nos Estados Unidos, Alemanha e Japão
apresentaram uma tendência de declínio de 1950 a 2000. Se admitirmos que esta tendência
não seja revertida, por exemplo, para os Estados Unidos, maior economia mundial, a taxa
de lucro deste país que foi de 24% em 1950 e 13% em 2000 alcançará uma taxa de lucro
igual a zero em 2059. O mesmo deverá ocorrer também para o Japão, Alemanha e toda a
economia mundial. A Figura 2 mostra que a taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo
das corporações dos Estados Unidos foi de 32% em 1947 e 13% em 2007. Admitindo que
esta tendência seja mantida nos próximos anos, a taxa de lucro das corporações dos
Estados Unidos alcançará zero em 2048. Conclui-se, portanto, que o sistema capitalista
mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e 2059. Em outras palavras, o sistema capitalista
mundial passaria a ter taxas de lucro negativas a partir de meados do século XXI.
4. As ações neutralizadoras da tendência de queda da taxa de lucro do sistema
capitalista mundial
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Diante da inexorável tendência da queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial,
têm sido implementadas ações neutralizadoras visando sua reversão. Karl Marx (1999)
explica que influências neutralizadoras da queda da taxa de lucro entrariam em
funcionamento. É por esta razão que Marx descreve a queda da taxa de lucro como uma
queda tendencial. A primeira tendência neutralizadora da queda das taxas de lucro
explicada por Marx é uma mais intensa exploração do trabalho, um aumento da mais-valia
relativa. Isto tem acontecido em escala massiva desde a década de 1990 com a escalada do
neoliberalismo no mundo. Na Grã-Bretanha, a indústria de transformação alcança o mesmo
nível de produção com um milhão de trabalhadores a menos. Isto reflete a pressão sobre a
classe trabalhadora, não somente na Grã-Bretanha, mas em todo o mundo. A participação
do trabalho na renda nacional vem declinando em todas as principais economias
capitalistas da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
desde 1980. A defasagem tem sido particularmente grande nos Estados Unidos, onde a
produtividade cresceu 83% entre 1973 e 2007, enquanto os salários reais médios
aumentaram apenas 5%.
A parte do rendimento nacional que vai para os salários caiu aos seus níveis mais baixos
desde que estes registros começaram a ser feitos depois da II Guerra Mundial. Além disso,
a jornada de trabalho tem sido prolongada. A jornada semanal foi aumentada em todos os
lugares do mundo nos últimos anos. A classe trabalhadora está sendo pressionada pela
introdução do trabalho em tempo parcial, pela produção “just-in-time” que possibilita que
se perca o mínimo com o acúmulo de estoques e matérias-primas, pelos contratos de
período curto, e outras medidas regressivas para extrair ainda mais trabalho não pago da
classe trabalhadora.
Rob Sewell (2013) informa no artigo A crise capitalista e a queda tendencial da taxa de
lucro que a queda dos salários abaixo de seu valor é um dos fatores que serve para
contrabalançar uma taxa de lucro cadente. Mais uma vez isto se tornou uma característica
particularmente importante nos países capitalistas periféricos e semiperiféricos onde o
trabalho é explorado sem limites. A exploração do trabalho feminino e de crianças faz
parte deste processo. Marx (1999) se refere também ao barateamento do capital constante
(k) como um fator chave no processo de neutralização da tendência de queda na taxa de
lucro do sistema capitalista. Se a taxa de lucro tende a cair com uma maior proporção
investida em capital constante em relação ao capital variável, então um barateamento do
capital constante servirá para contrabalançar também a queda da taxa de lucro.
Rob Sewell (2013) afirma que a elevação da produtividade do trabalho serve para baratear
o capital constante transferido ao produto na transação, apesar do aumento constante de seu
volume. Dessa forma, a mesma influência que tende a causar a queda na taxa de lucro
serviria para moderar esta tendência. O valor do capital constante dependeria de qual
destas duas tendências é a mais forte. Se a produtividade do trabalho dobra, então o valor
do capital constante se reduz à metade. Se a produtividade é mais baixa do que a elevação
do valor do capital constante, haverá uma queda na taxa de lucro. Então, é preciso verificar
o efeito líquido destas forças conflitantes. Na prática, nos últimos 30 anos, temos visto uma
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queda dramática no valor dos componentes do capital constante, especialmente com o
avanço de novas tecnologias. Os preços em queda de chips de computador, por exemplo,
barateou os computadores, que são parte do capital constante usados extensamente na
economia. A China tem sido uma fonte de mercadorias baratas que inundam o mercado
mundial. Estas mercadorias baratas sob a forma de capital constante ajudaram a aumentar a
taxa de lucro nas últimas três décadas.
Rob Sewell (2013) acrescenta que o excesso relativo da população economicamente ativa é
outro fator neutralizador da queda das taxas de lucro. Podemos ver o crescimento em
massa do desemprego em todo o mundo, que agora se tornou uma característica
permanente. Isto serviu para rebaixar os níveis salariais e para baratear o custo da força de
trabalho além de aumentar o tempo de trabalho excedente, isto é, a mais-valia para os
capitalistas. A redução dos "custos salariais" é a principal característica nos últimos anos,
enquanto os capitalistas buscavam elevar seus lucros. O comércio externo é também um
meio de baratear os elementos do capital constante bem como para introduzir mercadorias
baratas no exterior, o que mais uma vez serve para reduzir o custo da força de trabalho. O
investimento de capital em países estrangeiros, onde a composição orgânica de capital é
mais baixa, rende também uma mais elevada taxa de lucro e um aumento da taxa de lucro
média dos que se engajam no comércio externo.
Rob Sewell (2013) informa ainda que capitais investidos no comércio exterior podem
proporcionar taxa de lucro mais elevada porque concorre com mercadorias que são
produzidas por outros países com menores facilidades de produção de forma que o país
mais desenvolvido vende suas mercadorias acima de seu valor, embora mais barato do que
os países concorrentes, explica Marx em O Capital. O proveito é o mesmo para os
capitalistas que introduzem nova maquinaria que lhe permite vender abaixo de seus
concorrentes, mas tirar um lucro excedente. A expansão do mercado mundial
("globalização") permitiu um aumento massivo no investimento, na produção e nas vendas.
Houve um aumento massivo na exportação de capital. O colapso da União Soviética e a
restauração do capitalismo na Rússia, na Europa do Leste e na China proporcionaram ao
capitalismo novos mercados e áreas de exploração. Isto permitiu que cerca de dois bilhões
de pessoas entrassem no mercado mundial capitalista.
A liberalização do mercado dos países capitalistas periféricos e semiperiféricos, incluindo
a privatização dos serviços públicos básicos, também abriu possibilidades para novos
investimentos, e todos eles permitiram aumentar a taxa de lucro durante este período. Em
outras palavras, estamos lidando apenas com uma tendência que se manifesta em toda a
história do desenvolvimento capitalista. A lei da queda da taxa de lucro funciona, portanto,
simplesmente como uma tendência, cujo efeito é decisivo somente sob circunstâncias
particulares e por longos períodos, explica Marx em O Capital (1999). Dessa forma, pode
haver períodos longos, mesmo décadas, em que a tendência da taxa de lucro a cair é
cancelada pelas tendências neutralizadoras acima citadas. Estas podem deter todo o
processo e mesmo revertê-lo, mas não indefinidamente. Eventualmente, esta tendência de
queda irá se reafirmar e agir como uma barreira ao desenvolvimento do capitalismo.
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É oportuno observar que as crises sucessivas que afetam o sistema capitalista poderão abrir
novas perspectivas de evolução e neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. Ao
levar alguns capitalistas à ruína, as crises poderão permitir uma recuperação dos lucros de
outros capitalistas. Os meios de produção dos capitalistas arruinados podem ser comprados
por outros capitalistas a preços de liquidação, o valor das matérias-primas cairá e o
desemprego obrigará os trabalhadores a aceitarem salários mais baixos. A produção
voltaria a ser rentável e a acumulação de capital se reiniciaria. De acordo com este ponto
de vista, há um movimento cíclico da taxa de lucro atravessado por agudas crises de
reestruturação, e não um declínio inevitável e constante no longo prazo. O
desenvolvimento do capitalismo não é apenas cíclico, mas também implica transformações
no tempo.
Um aspecto importante diz respeito ao processo pelo qual alguns capitalistas crescem à
custa de outros, o que Marx (1999) chama “concentração e centralização” do capital, fato
este que conduz, eventualmente, a que uns poucos capitalistas desempenhem um papel
predominante em certas partes do sistema. Sua atividade fica entrelaçada com a daqueles
capitais, grandes e pequenos, que os circundam. Se capitais de grande envergadura são
arruinados, perturba-se a operação dos demais destruindo seus mercados, eliminando seu
acesso a matérias-primas e componentes. Isto pode levar à falência empresas que antes
eram rentáveis, junto com aquelas não rentáveis, a um colapso que se retroalimente e
coloque o risco de criar “buracos negros” no coração do sistema.
Esta situação ocorreu em 1929 na grande crise do sistema capitalista mundial dos anos
entre as duas guerras mundiais e em 2008 com a crise que eclodiu nos Estados Unidos. A
quebra de algumas empresas, longe de conduzir ao fim da crise, depois de alguns anos,
aprofundou seu impacto. Como consequência, os capitais de todo o mundo se dirigiram aos
governos de seus países em busca de proteção. Para além de suas diferenças políticas, este
é o ponto que é comum entre o New Deal nos Estados Unidos, o período nazista na
Alemanha, os regimes populistas que emergiram na América Latina ou a aceitação
definitiva da intervenção estatal de corte keynesiano como a ortodoxia econômica na
Inglaterra dos tempos de guerra e, mais recentemente após a eclosão da crise de 2008 nos
Estados Unidos. Tal interdependência entre os Estados e os grandes capitais tem sido a
norma de todo o sistema capitalista mundial durante as primeiras três décadas que se
seguiram à Segunda Guerra Mundial até a era contemporânea.
A intervenção do Estado é uma arma de dois gumes. Evitam que os primeiros sintomas da
crise se desenvolvam na direção de um colapso absoluto, mas, também, obstrui a
capacidade de alguns capitalistas para que restabeleçam suas taxas de lucros à custa de
outros. Isto é o que está acontecendo no sistema capitalista mundial após a crise global de
2008. Este não foi um grande problema nas primeiras décadas após 1945, dado que o
impacto combinado da crise entre guerras e a referente à Segunda Guerra Mundial já havia
causado uma destruição massiva do velho capital (segundo algumas estimativas, um terço
do total foi destruído pela crise econômica de 1929 e pela 2ª Guerra Mundial). A
13
acumulação de capital pôde, assim, recomeçar com taxas de lucro mais altas do que no
período pré-guerra, e estas taxas se mantiveram estáveis ou oscilaram lentamente. O
capitalismo pôde desfrutar o que, muitas vezes, se denomina sua “época de ouro” na
década de 1950. Porém, quando os lucros começaram a cair a partir da década de 1960, o
sistema se viu diante da impossibilidade de uma reestruturação suficiente para restabelecer
estas taxas. Os governos nacionais intervieram para evitar a ameaça de grandes quebras.
Mas, ao fazê-lo, impediram que a reestruturação fosse suficiente para superar as pressões
que haviam causado a ameaça de falências.
5. As consequências da automação industrial sobre a taxa de lucro no capitalismo e
sobre a sociedade
Amilcar Moreti (2012) afirma no artigo A Fábrica do Futuro que a fábrica do futuro se
caracteriza por apresentar instalação repleta de robôs e um elevado grau de automação,
além de estar devidamente organizada em torno da tecnologia, do computador, que integra,
por softwares especialmente desenvolvidos, praticamente todas as atividades. Nela, há o
uso generalizado de ferramentas como CAD, MRP II, ERP, EDI, e acima de tudo conta
com a presença do trabalhador do conhecimento (o knowledge worker, o trabalhador que
usa o saber mais do que as mãos).
Moreti (2012) informa também que a organização da produção na fábrica do futuro está
focada na busca da mais alta produtividade, as atividades que não agregam valor são
eliminadas, os refugos e retrabalhos não são admitidos, os métodos de trabalho têm
mecanismos para a prevenção de problemas, os níveis de estoques são baixíssimos, pois o
just-in-time está em toda parte, isto é, opera um sistema de administração da produção que
determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certa e os
componentes são entregues diretamente nas linhas de fabricação e/ou montagem. Moreti
(2012) acrescenta que as fabricas são extremamente limpas e organizadas, em decorrência
da aplicação sistemática do housekeeping, que é uma das ferramentas utilizadas com o
intuito de assegurar a implantação da qualidade, produtividade e agilidade nos serviços
prestados, bem como a melhoria da qualidade de vida dos funcionários e os trabalhadores
são treinados em várias funções, desde a operação, preparação e manutenção até projetos
de novos produtos e/ou processos produtivos os quais são controlados por computadores
por meio de software integrados.
Hoje já existem muitas fábricas do futuro em plena operação, a exemplo dos sistemas
denominados produção enxuta, que surgiram no Japão e estão se espalhando por todo o
mundo. A autoridade do trabalhador, no que se refere à qualidade do produto, é
praticamente ilimitada porque ele pode, a qualquer instante, parar a linha de produção, uma
vez constatada uma não conformidade já ocorrida ou latente. Todos os trabalhadores
procuram ajudar na solução do problema para que a linha volte à normalidade o mais
rápido possível. Metodologias de identificação e solução de problemas são amplamente
difundidas e incorporadas à cultura de todos os trabalhadores. A gestão dos processos é
14
feita pela utilização de indicadores de desempenho amplamente discutidos e aceitos por
todos os trabalhadores que estiverem intimamente ligados aos objetivos da empresa.
O projeto dos produtos é desenvolvido juntamente com o dos processos onde serão
fabricados. A engenharia simultânea, que é uma abordagem sistemática para o
desenvolvimento integrado e paralelo do projeto de um produto e os processos
relacionados, incluindo manufatura e suporte, é aplicada em larga escala. A atenção aos
objetivos dos clientes guia o projeto, e a utilização de técnicas como o desdobramento da
função qualidade (QFD) e a análise de falhas (FMEA) assegura maior qualidade e
confiabilidade aos produtos. Os produtos têm um menor número de componentes, o que
diminui os riscos de falhas e menores custos, pois os produtos são modulados. Segundo
Moreti (2012), o layout é o elemento determinante da fábrica do futuro. As fábricas
grandes até então tidas como padrão são divididas em várias pequenas unidades dentro da
fábrica original, devidamente focalizadas, organizadas em células de produção, com
elevado grau de automação.
Os novos projetos contemplam áreas reduzidas para estoques de matérias-primas e
produtos acabados, e não há previsão de áreas para retrabalho. Até mesmo as áreas
reservadas para os produtos em processos são reduzidas, pois as linhas são balanceadas de
forma a permitir um fluxo contínuo e sem acúmulo em determinados pontos de processo.
Esse processo de mudança permite que possa se dobrar a produção utilizando-se a metade
da área até então usada. Na fábrica do futuro as informações são disponibilizadas em
tempo real com a utilização de painéis eletrônicos conectados a vários terminais de entrada
de dados. A utilização de cores é explorada ao máximo, com cartões kanban coloridos de
forma a transmitir uma ou mais informações sobre o andamento dos processos. As
informações sobre produção, produtividade, objetivos atingidos e a atingir, porcentagem de
refugos, etc., estão dispostas em quadros espalhados por todas as instalações, para serem
lidos, analisados e criticados por todos os trabalhadores.
No artigo Como serão as fábricas do futuro? da DELL- TECNOLOGIAS DO FUTURO
(2012), é informado que nas fábricas do futuro a quantidade de robôs trabalhando no lugar
de operários multiplica a cada ano e já há pesquisas que mostram como algumas profissões
podem desaparecer por conta disso. A DELL- TECNOLOGIAS DO FUTURO (2012)
afirma, baseado no relatório da Federação Internacional de Robótica (IRF, na sigla em
inglês), que cerca de 179 mil robôs industriais foram vendidos em 2013, um crescimento
de mais de 12% em relação ao ano anterior. A China, segundo o balanço da IRF, é o país
que mais investiu na automação, comprando 37 mil unidades no ano passado – ante pouco
menos de 1.500 compradas pelo Brasil. Já o Japão é o maior exportador de robôs e também
o país com as fábricas mais automatizadas do mundo, com mais de 300 mil robôs
industriais em operação.
No artigo acima citado (Como serão as fábricas do futuro?) consta a informação de que é
possível imaginar que as fábricas do futuro contarão cada vez menos com a presença de
seres humanos na linha de produção. Bom exemplo é a fábrica da Audi em Ingolstadt, na
15
Alemanha, que tem cerca de 800 empregados e praticamente o mesmo número de robôs
industriais, que fazem a maior parte do trabalho pesado e operacional. Na China, a
incorporação de robôs em fábricas é crescente. No artigo A era das fábricas inteligentes
está começando da EXAME.COM (2014) consta a informação de que a indústria
automobilística está entre as mais robotizadas do mundo e que na BMW de Leipzig na
Alemanha, com seus mais de 1.000 robôs, os funcionários, todos de colete azul,
acompanham tudo a distância pelas telas de computadores. Os seres humanos só
supervisionam o trabalho das máquinas. A unidade de Leipzig é uma prévia do futuro das
fábricas. Estamos no estágio inicial de uma mudança tão profunda na manufatura como
aquela provocada pela Revolução Industrial na Inglaterra.
No artigo acima citado A era das fábricas inteligentes está começando consta a informação
de que o setor produtivo mundial está num processo movido por três forças: o avanço
exponencial da capacidade dos computadores, a imensa quantidade de informação
digitalizada e novas estratégias de inovação. O progresso computacional fez com que as
máquinas ficassem muito mais potentes, ágeis e, sobretudo, baratas. Em 1985, o
computador mais rápido do mundo era o Cray-2, que custava 30 milhões de dólares. Em
seus anos de glória, foi utilizado para pesquisas em energia atômica. Hoje, um iPad tem
capacidade de processamento superior à do Cray-2. Na última década, o preço de alguns
modelos de sensores usados nos aparelhos eletrônicos caiu 85%. Na indústria, em geral, e
no caso específico da fábrica da BMW, em Leipzig, essa tendência pode ser sentida pela
forte expansão dos robôs.
O artigo Fábrica do futuro da NEWS TECMES (2014) informa que, em 2013, as vendas
de robôs industriais no mundo atingiram o recorde de 179.000 unidades e que, de acordo
com um estudo da consultoria americana McKinsey, o preço dos robôs vem caindo 10% ao
ano nas últimas décadas e a produtividade deles está aumentando. Informa ainda, que,
dependendo do tipo de aplicação, os modelos mais novos são 40% mais rápidos do que os
das gerações anteriores. máquinas de alta destreza que hoje são vendidas a 150.000 dólares
deverão custar metade desse valor até 2025 e que a segunda característica dessa nova era
industrial é a imensa quantidade de informação digital disponível. A concepção dos
produtos, o design, os testes com novos materiais, os protótipos, a arquitetura da fábrica, a
organização da linha de produção, o estoque de materiais, o manual de um equipamento,
tudo é digital.
No artigo A era das fábricas inteligentes está começando da EXAME.COM (2014)
informa que fábricas automatizadas e robotizadas significam indústrias com cada vez
menos gente e em três décadas foram eliminados 6 milhões de postos de trabalho
industriais nos Estados Unidos fazendo com que o emprego nas fábricas atingisse o
patamar da década de 1940. Os empregos que envolvem funções repetitivas vão
desaparecer rapidamente nos próximos anos. Nos países ricos, estima-se que 25% de todas
as funções na indústria deverão ser substituídas por tecnologias de automação até 2025. No
mundo, a estimativa é que 60 milhões de postos de trabalho em fábricas sejam eliminados.
16
Se levarmos em conta que a taxa de lucro é medida pela fórmula abaixo:
l´= m´/ (coc +1)
em que m´=m/v e coc= k/v, sendo m´ a taxa de mais-valia ou de exploração dos
trabalhadores, m corresponde ao valor do trabalho excedente não pago pelo capitalista ao
trabalhador, v diz respeito ao dispêndio com salários, k representa o capital constante
(meios de produção, matérias-primas, energia etc,) utilizado na produção e coc
corresponde à composição orgânica do capital. As consequências da automação sobre o
sistema capitalista são as seguintes:
1. A automação contribui para aumentar significativamente o capital constante (k) com
os investimentos em máquinas e instalações automatizadas e reduzir
significativamente (v) com a queda vertiginosa da mão de obra e do dispêndio com
salários o que faz com que a composição orgânica do capital (coc= k/v) se eleve
bastante. Esta situação faz com que o denominador da taxa de lucro (l´) seja elevado
significativamente.
2. Para compensar o aumento do denominador da taxa de lucro (l´), seu numerador
(m´=m/v) teria que se elevar enormemente o que obrigaria a empresa a aumentar
significativamente a mais valia (m= trabalho excedente não pago) dos trabalhadores
remanescentes. A taxa de exploração dos trabalhadores remanescentes teria que
aumentar para a empresa manter ou elevar sua taxa de lucro.
3. Na prática, seria impossível, haver uma fábrica totalmente automatizada, isto é, sem
trabalhadores porque a empresa precisaria de gente para supervisionar a operação e
efetuar a manutenção de máquinas e equipamentos automatizados. A taxa de
exploração desses trabalhadores (m´) teria que ser elevada ao máximo para
assegurar taxas de lucro elevadas para a empresa.
4. Teoricamente, se admitirmos que v=0, isto é uma fábrica sem trabalhadores,
coc=k/v=k/0=infinito contribuindo para que o denominador da taxa de lucro (coc+1)
seja igual a infinito. Por sua vez, sendo a mais valia (m= 0) daí resultaria m´=m/v =
0/0= valor indeterminado. A taxa de lucro tenderia a zero ou a um valor
indeterminado.
Constata-se, pelo exposto, que a automação é positiva para o capitalista porque passaria a
enfrentar seus concorrentes de forma mais competitiva haja vista que proporcionaria, entre
outras vantagens, o aumento de sua produtividade e a redução de seus custos. No entanto,
seria extremamente negativa para o capitalista porque tende a reduzir a taxa de lucro de seu
negócio. Além disso, a automação que não acontece apenas na indústria, mas que se
espraia pelo comércio e pelo setor de serviços, tende a reduzir a renda à disposição da
massa dos trabalhadores excluídos da produção contribuindo, desta forma, para o
subconsumo das massas. Haveria, em consequência, queda na demanda de produtos e
serviços devido ao aumento do desemprego e a queda na renda dos trabalhadores. A
sociedade seria altamente prejudicada porque a automação contribuiria para o aumento do
exército de desempregados.
17
Em síntese, o incessante e impetuoso desenvolvimento técnico, impulsionado pela
concorrência entre capitalistas, obriga-os a investirem em maquinaria automatizada (capital
constante= k) que lhes permite produzir o mesmo com menos tempo de “trabalho
vivo” (capital variável= v). Portanto, na sua busca pela reprodução de capital, os
capitalistas tendem a investir mais em capital constante (k) e menos em capital variável
(v), aumentando tendencialmente a composição orgânica do capital (coc) fazendo com que
a taxa de lucro tenha tendência de diminuir. A principal conclusão relacionada com a
automação da atividade produtiva é a de que ela colaboraria no sentido de comprometer os
interesses do capitalismo e de que sua viabilidade só deveria ocorrer em uma sociedade
que não persiga o lucro.
6. O desempenho do sistema capitalista mundial no período recente
A Figura 3 apresenta a evolução da taxa de lucro, a taxa de mais-valia e a composição
orgânica do capital referentes aos Estados Unidos, maior economia mundial, de 1951 a
2013 com a utilização dos fundamentos da economia marxista. Esta Figura foi extraída do
artigo Capitalismo & Crises Econômicas (2014) elaborado de Jacques Gouverneur, Doutor
em Direito pela Université Catholique de Louvain, Bélgica e Doutor em Economia pela
Université d’Oxford, Grã Bretanha e Marcel Roelandts que trabalha como pesquisador e
profere diversos cursos em várias Universidades e “Hautes Ecoles.
Figura 3- Taxa de lucro – Taxa de mais-valia – Composição orgânica do capital.
Estados Unidos 1951-2013
18
Fonte: Gouverneur, Jacques e Roelandts, Marcel. Capitalismo & Crises Econômicas.
<http://www.capitalism-and-crisis.info/pt/Bem-vindo/Novo>.
Na Figura 3, a taxa de lucro mede a rentabilidade do capital total investido. Ela indica
como este último se valoriza e exprime assim o grau de cumprimento da finalidade
capitalista. De todas as leis do capitalismo é essa a que Marx considerava como a
historicamente mais importante. Suas flutuações nos apresentam duas dinâmicas: 1) As
pulsações do curto prazo dos ciclos de acumulação, compostos sucessivamente de um
período de alta da taxa de lucro, seguido de uma baixa, e terminando por uma recessão
(1954, 1958, 1970, 1974-75, 1980-82, 1991, 2001, 2009). São os ciclos econômicos
tipicamente estudados por Marx em O Capital, ciclos que ele chamava de“decenais”; e, 2)
As evoluções tendenciais da taxa de lucro em médio prazo dão lugar a quatro grandes
fases de uma quinzena de anos cada uma para o alto (1951-66), para baixo (1966-82), para
o alto (1982-97), para baixo (1997-2009) e aparentemente de novo para o alto 2009.
Entretanto, não é porque a taxa de lucro cai na saída de cada ciclo de acumulação que se
está forçosamente na presença de uma baixa tendencial da taxa de lucro. É em médio
prazo que a baixa tendencial age, como indicava Marx em O Capital, e não a cada ciclo
curto. Estas são as conclusões de Gouverneur e Roelandts.
Segundo Gouverneur e Roelandts (2014), as flutuações da taxa de lucro [l´= m´/(coc +1)]
resultam da evolução respectiva da taxa de mais-valia (m´) como numerador e da
composição orgânica do capital (coc) como denominador: 1) A taxa de mais-valia (m´)
reparte o produto social entre os lucros e os salários (v). A dinâmica de investimento e as
crises dependem, portanto, grandemente do equilíbrio entre a proporcionalidade desta
repartição, como explica Marx no livro II de O Capital. As flutuações da taxa de mais-
valia dão lugar a três fases que dão ritmo à evolução do capitalismo desde o pós-guerra:
ela aumenta desde 1948 até 1966, diminui até o ano de 1982, e retoma sua curva para o
alto desde então; e, 2) A composição orgânica do capital (coc) mede a intensidade em
capital fixo em valor quando os ganhos de produtividade já não podem compensar os
gastos realizados para obter os meios de produção. A composição orgânica do capital
relaciona o capital constante (k) ao capital variável (v). É a relação entre os componentes
que fazem apenas transmitir o seu valor e aqueles que criam um novo valor, ou entre
aqueles que não produzem mais-valia e aqueles que produzem, ou ainda, entre o trabalho
passado cristalizado nas máquinas e o trabalho presente representado pelos assalariados.
Ela é então calculada relacionando-se o capital fixo investido à massa salarial empregada.
Gouverneur e Roelandts (2014) afirmam que a Figura 3 apresenta uma fortíssima
correlação entre a evolução da taxa de lucro e a da taxa de mais-valia, e a composição
orgânica do capital vindo depois para adicionar ou contrarrestar seus efeitos. Tanto
quando das baixas como das retomadas, a taxa de lucro volta a cair primeiro em
consequência da inversão da taxa de mais-valia, e a composição orgânica do capital vem
acrescentar os seus efeitos somente depois. Não se pode esquecer que tanto o numerador
da taxa de lucro (a taxa de mais-valia- m´), quanto o seu denominador (a composição
19
orgânica do capital- coc), são todos dois fortemente influenciados pela evolução
da produtividade do trabalho.
Segundo Gouverneur e Roelandts (2014), para seguir adiante, o capitalismo tem a
necessidade de se apoiar sobre as suas duas pernas: a produção e o consumo. Na realidade
a taxa de lucro é uma variável sintética que exprime simultaneamente as dinâmicas e as
contradições relativas à produção e à realização do valor. Como sua evolução depende
tanto da eficácia do capital (coc no denominador) como da repartição do produto total (a
taxa de mais-valia, m´, no numerador), ela mede tanto a capacidade do capital para
garantir a sua rentabilidade quanto a adequação dos mercados à produção. Gouverneur e
Roelandts afirmam que a taxa de lucro deve ser concebida como um indicador integrado
do restabelecimento das condições de produção e realização do produto social total. Ela
expressa tanto as contradições ligadas à repartição do valor produto (a luta de classe, ou
seja, a taxa de mais-valia no numerador), quanto o mecanismo da intensidade em capital
fixo (as forças produtivas, ou seja, a composição orgânica do capital no denominador).
Em O Capital (1999), Marx afirma que as crises não são mais do que soluções
momentâneas e violentas que restabelecem por um momento o equilíbrio perturbado. A
estagnação ocorrida na produção teria preparado — nos limites capitalistas — uma
expansão subsequente da produção. Segundo Gouverneur e Roelandts (2014), o ciclo de
acumulação de capital impõe a necessidade de crescimento do capital constante (k) em
detrimento do capital variável (v). Seu ritmo é então essencialmente ligado aos ciclos mais
ou menos decenais de rotação do capital fixo. Segundo Marx (1999), à medida que o valor
e a duração do capital constante se desenvolvem com o modo de produção capitalista, a
vida da indústria e do capital industrial se desenvolve em cada empresa particular e se
prolonga sobre um período, digamos, em média de dez anos. Este ciclo de rotações que se
encadeiam e se prolongam por uma série de anos, onde o capital é prisioneiro de seu
elemento fixo, constitui uma das bases materiais das crises periódicas.
Marx (1999) fala em O Capital de um período decenal médio, e não absoluto. Sem dúvida
os períodos de inversão do capital são muito diferentes, mas a crise serve sempre como
ponto de partida para um poderoso investimento. A crise fornece, por conseguinte — do
ponto de vista da sociedade tomada em seu conjunto — uma nova base material para o
próximo ciclo de rotação. Assim a lei [da baixa tendencial da taxa de lucro] age apenas
como uma tendência cuja ação manifesta-se claramente apenas em certas circunstâncias e
no curso de longos períodos. Marx evoca “longos períodos” nos cursos dos quais se
exerce a lei da baixa tendencial da taxa de lucro, ele fala de uma “trintena de anos”.
Na década de 1990, o crescimento no nível de trabalho improdutivo foi a causa principal
que impediu uma recuperação plena da taxa de lucro. Por que os gastos improdutivos
cresceram tanto, inclusive ao custo de afogar o que de outra forma teriam sido taxas de
lucro mais saudáveis? As razões estão descritas a seguir:
20
 Há ondas e mais de ondas de investimentos especulativos, dado que os capitalistas
buscam lucros fáceis apostando nos mercados de dinheiro, aventuras financeiras,
fundos de investimento (hedge funds) etc.
 Os custos do capitalismo para manter certa paz social aumentam, tanto para fazer
gastos em seguridade, como para conceder mínimos benefícios àqueles que o Capital
não pode empregar produtivamente.
 Os Estados nacionais recorrem a aventuras militares como uma forma de desafogo dos
problemas que enfrentam seus capitalistas.
Segundo HARMAN (2007), as reações das empresas individuais e dos Estados nacionais
às taxas de lucro decrescentes têm o efeito de reduzir os recursos disponíveis para a
acumulação produtiva que contribuiriam para evitar uma redução ainda maior das taxas de
lucro ao reduzir a pressão na escalada da composição orgânica do capital. HARMAN
(2007) afirma, também, que o trabalho “improdutivo” evita o aumento da pressão da
acumulação de capital para ser ainda mais capital-intensiva e que o valor, que de outra
forma aumentaria a proporção entre meios de produção e trabalho, é sugado para fora do
sistema. A acumulação de capital passa a ser mais lenta, mas pode continuar a um passo
estável. As taxas de lucro são mais baixas por conta do gasto improdutivo, mas não
enfrentam quedas bruscas e profundas pela rápida aceleração da proporção capital-
trabalho.
HARMAN (2007) afirma que esta estratégia foi aplicada no período imediato do pós-
guerra nos Estados Unidos. Os gastos com armamento beirando 13% do produto nacional
norte-americano (e com gastos indiretos, talvez uns 15%) era uma importante apropriação
de mais-valia que não continuava a acumulação de capital. Era um gasto do qual a classe
dominante norte-americana também esperava ganhar, gasto esse que sustentava sua
hegemonia global (tanto confrontando a União Soviética como aglutinando as classes
capitalistas europeias com os Estados Unidos), e que garantia um mercado a alguns setores
produtivos importantes da economia americana. Neste sentido, os capitalistas podiam
considerar os armamentos como uma vantagem, muito distinta, neste sentido, dos gastos
“improdutivos” para melhorar as condições de vida dos pobres. E se reduzia a taxa de
acumulação de capital, isto não era catastrófico, dado que a reestruturação do capital
mediante crises e guerras já havia impulsionado a acumulação de capital para um nível
mais alto que o conhecido na década de 1930.
HARMAN (2007) defende a tese de que a situação hoje é bem diferente. Desde inícios da
década de 1960, a emergência de importantes competidores internacionais gerou forte
pressão nos Estados Unidos para que reduzisse o percentual da produção dirigida a gastos
militares. O estímulo para os gastos militares, em meados da década de 1960 durante a
guerra do Vietnã e, nos anos 80, durante a “Guerra Fria”, permitiu somente um respiro de
curto prazo à economia norte-americana antes de revelar seus grandes problemas. O
aumento do gasto militar na administração George W. Bush de 3,9% para 4,7% do produto
bruto norte-americano (equivalente a cerca de um terço do investimento privado)
exacerbou o crescente gasto público e o déficit comercial do país.
21
Segundo HARMAN (2007), o efeito de todas estas formas de “gasto” é muito menos
benéfico para o capitalismo como um todo hoje do que há um século atrás. É possível que
ainda diminuam as pressões sobre a taxa de lucro provenientes da composição orgânica do
capital que certamente não cresce tão rápido como poderia se toda a mais-valia se
destinasse à acumulação de capital. O preço que os países capitalistas centrais pagam por
isto é uma lenta acumulação produtiva e um baixo crescimento das taxas de lucro, em
longo prazo. Daí compreende-se as repetidas tentativas “neoliberais” dos capitalistas e dos
Estados nacionais para aumentar as taxas de lucro, reduzindo o salário que pagam aos
trabalhadores ocupados, o ganho dos aposentados, desempregados e pensionistas e o
restabelecimento de critérios mercantis para reduzir os gastos em educação e saúde.
Restam, ainda, dúvidas sobre a parte do mundo onde estão ocorrendo investimentos
produtivos gigantescos como a China. Alguns analistas viram este país como a salvação
do sistema capitalista como um todo. O capital chinês conseguiu obter mais mais-valia
para novos investimentos – mais de 40% do produto nacional – que os Estados Unidos,
Europa, e inclusive o Japão. Conseguiu explorar mais seus trabalhadores, e não tem freios
diante dos níveis de gastos improdutivos que caracterizam os países capitalistas centrais
(embora o atual boom imobiliário se caracterize por uma proliferação de arranha-céus,
hotéis e shoppings na China). Tudo isto permitiu à China competir com os países
capitalistas centrais como mercado de exportação para muitos produtos. Porém, estes
mesmos altos níveis de investimento já estão acusando um impacto negativo na
lucratividade. Uma tentativa recente de aplicação de categorias marxistas na economia
chinesa chegou ao resultado de que suas taxas de lucro caíram de 40% em 1984 para 32%
em 2002, enquanto que a composição orgânica do capital aumentou em 50%.
O que importa é reconhecer que o sistema capitalista somente tem conseguido sobreviver
devido às suas crises recorrentes, ao avanço na pressão sobre as condições trabalhistas e às
grandes somas de capital desviadas para o gasto improdutivo. Apesar disso tudo, o sistema
capitalista mundial não conseguiu retornar a uma “idade de ouro” como a da década de
1950 e nem conseguirá no futuro. Pode ser que o capitalismo não esteja em crise
permanente, mas que esteja em uma fase de crises repetidas, das quais não poderá escapar.
E estas, necessariamente, trarão sérias consequências políticas, sociais, além de
econômicas.
Recentemente, a imprensa destacou os temores desencadeados pela desaceleração do
crescimento da China, a elevação dos riscos dos bancos europeus com o aumento da
inadimplência e pelas dúvidas acerca da saúde financeira de países capitalistas
semiperiféricos como o Brasil e a Rússia. Tudo isto veio se juntar uma nova fonte de
preocupação para os mercados globais: despencaram, nos últimos dias, os preços das
ações dos principais bancos do mundo rico, e a isso se seguiram especulações sobre a
estabilidade da economia mundial. Reapareceram alguns dos fantasmas da crise financeira
de 2008 e 2009, que devastou o capital de instituições financeiras após perdas gigantescas
com as hipotecas. Uma recidiva ocorreu em 2012, quando o mundo temia o colapso do
22
Euro e, com ele, dos grandes bancos europeus, que sofreriam calotes de países e empresas
da periferia. Tais eventos travaram os canais de expansão de crédito, mecanismo essencial
para o crescimento econômico. Não por acaso, a recuperação das instituições financeiras
ocupou lugar central na estratégia de combate à crise.
7. O sistema mundo capitalista rumo à derrocada?
Diante dos problemas enfrentados pelo capitalismo nos setores produtivos, para
“sobreviver” às suas próprias contradições, os capitalistas desenvolveram uma
gigantesca financeirização da economia, trocando-se o dinheiro diretamente por mais
dinheiro e sem passar diretamente pela produção funcionando meramente por
considerações especulativas (D D´). Mas a financeirização da economia está limitada,
entretanto, pela economia real produtiva que é a que gera riqueza. Em outras palavras, o
capital financeiro ou fictício que não gera riqueza não pode se tornar autônomo em relação
ao capital produtivo.
Embora o capital fictício acompanhe a evolução do capitalismo desde os seus primórdios,
a particularidade do seu comportamento no mundo de hoje está no seu dinamismo, no seu
peso específico dentro do capital financeiro em geral e na sua capacidade de penetrar em
todas as esferas da economia. Os principais condutores do capital fictício são os títulos de
dívida pública, os títulos de dívida de qualquer natureza, as ações negociadas nas bolsas e
a própria moeda de crédito emitida pelos bancos sem um lastro nos depósitos respectivos.
A Figura 4 mostra que os ativos financeiros superam amplamente o PIB mundial de 1980
a 2006.
Figura 4- Ativos financeiros globais em porcentagem do PIB mundial
23
Fonte: CHESNAIS. François. As dívidas ilegítimas - quando os bancos fazem mão baixa nas políticas
públicas. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012.
Nenhum outro setor da economia pode ostentar taxas de retorno tão elevadas, nem mesmo
qualquer uma das maiores empresas do setor produtivo podem sequer igualar os lucros
recordes do sistema financeiro. Os bancos conseguem os seus maiores lucros de sempre
facilitando a concentração e centralização do capital (operações que designam por "fusões
e aquisições"), cobrando taxas lucrativas de "assessoria" e subscrevendo os financiamentos
das fusões e aquisições. A segunda fonte de lucros está na especulação em geral, inclusive
sobre a negociação da dívida dos países e apostando nos mercados mundiais de valores,
sobretudo em energia onde o Goldman e o Morgan têm feito fortuna nos últimos tempos.
Além de desenvolverem as suas atividades especulativas, os bancos são cada vez mais
importantes acionistas em setores não bancários. Eles têm desempenhado o principal papel
na redução dos custos de mão de obra e na redução de investimentos de longo prazo na
pesquisa científica e tecnológica, como forma de maximizar os lucros a curto prazo. Por
último, a fonte mais lucrativa e a mais dinâmica dos seus lucros especulativos está na sua
expansão no estrangeiro, particularmente na Europa e especialmente na Ásia. É, pois, um
processo logicamente estruturado a partir da lei do valor e da produção mercantil sob o
comando do capital em geral. Acontece que, no estágio atual de "desenvolvimento" do
capitalismo, é o capital financeiro que expressa a fusão das frações dominantes dos
capitais industriais, agrícolas, comerciais e bancários, e que orienta e submete a
lucratividade dos capitais como um todo.
Em sua essência, o capital financeiro incorpora todos os capitais, embora se distinga de
todos. Ele não pode, por razões estruturais e relativas à lógica de sua reprodução e dos
capitais em geral, se achar blindado às crises. Em sua configuração completa, o processo
de valorização do capital incorpora a presença da categoria dinheiro, que representa a
forma mais geral da riqueza, apresentando, por isso, a possibilidade do surgimento de
dificuldades quando da passagem do valor da forma mercadoria para a forma dinheiro no
âmbito do circuito do capital (D-M-D'). Ao mesmo tempo, este movimento de valorização,
por se manifestar como lucro (ou juros), no plano da circulação, tendo em vista a
existência do crédito e do capital de empréstimo, cria a ilusão da extração de mais valor do
dinheiro em si mesmo (D - D'). Evidentemente, em termos práticos, semelhante resultado
equivaleria à desnecessidade da atividade produtora de mercadorias, o que contrariaria
totalmente e contraditoriamente, a lei do valor, a qual demonstra que a produção de mais-
valor somente ocorre em atividades diretamente produtivas, portanto, nos setores
industriais e agrícolas.
A negação da esfera da produção aparece como a base sobre a qual emerge o "capital
financeiro ou fictício" e introduz a possibilidade de autonomização das finanças. No
entanto, mais uma vez, trata-se de um processo contraditório. Se o ideal do capital
financeiro é o "desprezo" total e absoluto pelos processos produtivos e mesmo pela
comercialização de mercadorias, ele também se origina nos referidos setores, sem
24
conseguir, por isso, se emancipar realmente dos mesmos. Suas múltiplas naturezas são
mais que ambiguidades. Sua independência aparente perdura durante certo tempo em
função de seu ciclo particular de lucratividade bem mais curto que o dos outros capitais.
Mas, em decorrência de seus vínculos com as demais formas concretas do capital, ao
esbarrar com as crises dos setores produtivos e comerciais, o capital financeiro também
acaba por transmitir àquele as consequências de seus colapsos. Trata-se, pois, de uma
simbiose explosiva. Por conseguinte, a dominação do capital financeiro, que se acha, por
sua vez, dominado pelo fetiche do lucro imediato, é dependente da produção de
mercadorias e das contradições imanentes da extração da mais-valia e de sua repartição
entre as frações do capital no processo permanente e infinito da busca pela valorização do
capital como motor da acumulação.
François Chesnais (2011), professor emérito da Universidade de Paris 13, constata que o
funcionamento da economia mundial desde o início dos anos 2000 se baseou em dois
pilares: o regime de crescimento guiado pela dívida, adotado pelos Estados Unidos e pela
Europa, e o regime de crescimento orientado por exportações globais, no qual a China é a
principal base industrial e o Brasil, a Argentina e a Indonésia são os provedores-chave de
recursos naturais. No seu entendimento, a crise representa o beco sem saída, o impasse
absoluto do regime guiado pela dívida. Chesnais (2011) afirma que o segundo pilar está
levemente melhor, mas o crescimento baseado em exportações globais não poderá
funcionar por muito tempo sem uma forte demanda externa, especialmente dos Estados
Unidos e da União Europeia. Isto significa dizer que a demanda de commodities da China
não terá capacidade de compensar a queda na demanda dos Estados Unidos e da União
Europeia.
O sistema financeiro mundial está apresentando prejuízos em uma escala que ninguém
jamais previu. O sistema capitalista mundial está quebrado e não se sabe o que irá
substituí-lo. A atual crise é um produto de mudanças que vêm acontecendo no Ocidente há
vários anos. Há meio século, a atividade bancária parecia ser uma arte relativamente
simples. Os bancos passaram por um processo de transformação em sua atividade
principal, deixando para trás sua função clássica de intermediário entre os poupadores e os
emprestadores. Beneficiando-se da abertura da economia mundial a partir da década de
1990, estas instituições se transformaram em grupos financeiros diversificados e em
conglomerados cujos lucros provêm principalmente da criação de crédito, que se
converteu no principal meio de criação de moeda. Neste processo, os Bancos Centrais dos
países perderam completamente o controle. Os valores das transações mundiais citados
por Chesnais (2011) ilustram a dimensão do setor financeiro: em 2002, o PIB mundial era
de 32,3 trilhões de dólares, enquanto as transações financeiras somavam 1.140,6 trilhões
de dólares. No início da crise, em 2008, enquanto o PIB mundial era de 60,1 trilhões, as
movimentações financeiras atingiam 3.628 trilhões de dólares.
Chesnais (2011) afirma que, a partir da década de 1980, diminui a participação dos
salários na constituição do PIB e aumenta a isenção fiscal sobre os setores de maior renda.
As reduções da taxa de impostos sobre os rendimentos mais altos entre 1986 e 2007 nos
25
dão uma noção dessas medidas: na França, reduziu-se de 65% para 40%; na Inglaterra, de
60% para 40%; na Itália, de 62% para 43%; nos Países Baixos, de 72% para 52%; na
Bélgica, de 72% para 52%. O acesso a empréstimos através da emissão de títulos em
mercados especializados tornou-se o instrumento principal de financiamento orçamentário
dos países. Os títulos das dívidas públicas tornaram-se parte dos ativos negociados por
bancos e fundos de aplicação especulativos (inclusive empresas). Os bancos e fundos de
aplicação, servindo-se de um procedimento conhecido como efeito de alavancagem,
passaram a realizar empréstimos com valores muito superiores aos seus capitais próprios,
aumentando a debilidade do sistema e os riscos de pagamento.
O ciclo de expansão e acumulação do capitalismo financeiro mundial esbarrou na imensa
crise financeira global e na desaceleração sincronizada da atividade econômica. É
impossível a esta altura saber para onde o sistema capitalista mundial está indo. A grande
possibilidade de combinação de colapso financeiro com imensa recessão, se não algo pior
como a depressão, certamente mudará o mundo. A partir da eclosão da crise mundial em
2008, os governos em todo o mundo se tornaram reféns do sistema financeiro adotando
políticas fiscais e monetárias restritivas favoráveis aos bancos para salvá-los da bancarrota
e contrárias aos interesses de suas populações. Este é um momento de início do levante
das massas populares em todo o mundo contrárias às políticas de austeridade dos governos
e de corte dos benefícios sociais. Chesnais afirma que em 2008, a ameaça às finanças
globais veio dos bancos de investimento dos Estados Unidos e das grandes seguradoras. O
próximo episódio financeiro maior acontecerá quando um segmento do sistema bancário
da Europa entrar em colapso na Grécia, Espanha ou Itália que está em curso.
Segundo François Chesnais (2011) não haverá fim para a crise mundial enquanto os
bancos e os investidores financeiros estiverem no comando da economia mundial, com os
governos adotando políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e para dar
sobrevida ao regime guiado pela dívida como vem acontecendo atualmente. Segundo
Chesnais, para retomar o crescimento nos Estados Unidos e na Europa, seria preciso o
restabelecimento do poder de compra das classes baixas e médias, a recriação e expansão
da capacidade dos governos de fazer os investimentos sociais e ambientais necessários e o
estabelecimento de um sistema monetário internacional estável, não subordinado ao
capital financeiro. As condições para isso vão incluir o cancelamento de boa parte da
dívida soberana, considerada ilegítima, assim como de boa parte da dívida doméstica, o
restabelecimento de uma taxação correta para a renda das finanças e do capital, o
restabelecimento de um verdadeiro controle público do sistema de crédito, um controle
restrito dos fluxos de capital e uma luta efetiva contra os paraísos fiscais. Isto significa
dizer que os governos deveriam deixar de se subordinar aos ditames do capital financeiro e
suspender o pagamento de suas dívidas mesmo que levem alguns bancos à bancarrota
cujos recursos que lhes seriam destinados sejam aplicados em investimentos públicos para
a retomada do crescimento econômico.
Apesar de todos os artifícios para neutralizar a tendência da queda das taxas de lucro do
sistema capitalista mundial conforme previsto por Karl Marx (1999) em sua grande obra O
26
Capital, não impedirá a sua derrocada ao longo do tempo porque o custo político e social
seria imenso para a humanidade com a sua manutenção. Antes do colapso, o sistema
capitalista mundial será arruinado pela depressão econômica durante muitos anos gerando
em sua escalada a falência de muitas empresas, a inviabilização econômica dos
extremamente endividados Estados nacionais e o desemprego em massa em escala
planetária. Diante da existência do caos que já domina a economia mundial que tende a se
agravar, é chegada a hora de cada país e a humanidade se dotarem o mais urgentemente
possível de instrumentos necessários a terem o controle de seu destino. Para ter o controle
de seu destino a humanidade precisa levar ao fim o sistema capitalista mundial para
exercer a governabilidade da economia mundial. Este é o único meio de sobrevivência da
espécie humana.
8. Conclusões
8.1- Sobre a taxa de lucro no capitalismo
Foi demonstrado que a fonte geradora do lucro do capitalista é o trabalhador. Segundo
Marx, o lucro do capitalista resulta da Mais-Valia que provém da diferença entre o valor de
um bem ou serviço produzido por um trabalhador e o salário que lhe é pago. Em outras
palavras, é o tempo de trabalho que não é pago ou remunerado pelo capitalista.
Ficou evidenciado que, quanto mais se desenvolve a acumulação do capital, é mais difícil
para os capitalistas elevarem suas taxas de lucro. A queda da taxa de lucro aparece como
uma ameaça para o processo de produção capitalista. Se o investimento cresce mais rápido
que a força de trabalho empregada na produção, também deve crescer mais rápido que a
mais valia extraída dos trabalhadores, que é de onde sai o lucro. Em suma, o crescimento
de capital cresce mais rápido do que a fonte de lucro. Baseado no raciocínio de Karl Marx
em O Capital a taxa de lucro tenderá a cair no longo prazo, década após década.
Ficou demonstrada a inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista
mundial. Se for admitido que esta tendência não seja revertida nos Estados Unidos, maior
economia mundial, a taxa de lucro deste país que foi de 24% em 1950 e 13% em 2000
alcançará uma taxa de lucro igual a zero em 2059. O mesmo deverá ocorrer também para o
Japão, Alemanha e toda a economia mundial. Se considerarmos que a taxa de lucro ao
custo histórico do capital fixo das corporações dos Estados Unidos foi de 32% em 1947 e
13% em 2007 e admitirmos que esta tendência seja mantida nos próximos anos, a taxa de
lucro das corporações dos Estados Unidos alcançará zero em 2048. Conclui-se, portanto,
que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e 2059. Em outras
palavras, seria o fim do sistema capitalista mundial que não teria condições de sobreviver
com taxas zero ou negativas a partir de meados do século XXI.
8.2- Sobre a neutralização da tendência de queda da taxa de lucro
27
Diante da inexorável tendência da queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial
que pode levá-lo ao colapso, têm sido implementadas ações neutralizadoras visando sua
reversão. A primeira tendência neutralizadora da queda das taxas de lucro explicada por
Marx é uma mais intensa exploração do trabalho. A queda dos salários abaixo de seu valor
é um dos fatores que serve para contrabalançar uma taxa de lucro cadente. O barateamento
de máquinas e equipamentos é também um fator chave no processo de neutralização da
tendência de queda na taxa de lucro do sistema capitalista. A China tem sido atualmente
uma fonte de mercadorias baratas que inundam o mercado mundial. Estas mercadorias
baratas sob a forma de capital constante ajudaram a aumentar a taxa de lucro nas últimas
três décadas.
O excesso relativo da população economicamente ativa é outro fator neutralizador da
queda das taxas de lucro. Podemos ver o crescimento em massa do desemprego em todo o
mundo, que agora se tornou uma característica permanente. Isto serviu para rebaixar os
níveis salariais e para baratear o custo da força de trabalho além de aumentar o tempo de
trabalho excedente, isto é, a mais-valia para os capitalistas. A liberalização do mercado dos
países capitalistas periféricos e semiperiféricos, incluindo a privatização dos serviços
públicos básicos, também abriu possibilidades para novos investimentos, e todos eles
permitiram aumentar a taxa de lucro durante este período.
É oportuno observar que as crises sucessivas que afetam o sistema capitalista poderão abrir
novas perspectivas de evolução e neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. Ao
levar alguns capitalistas à ruína, as crises poderão permitir uma recuperação dos lucros de
outros capitalistas. Os meios de produção dos capitalistas arruinados podem ser comprados
por outros capitalistas a preços de liquidação, o valor das matérias-primas cairá e o
desemprego obrigará os trabalhadores a aceitarem salários mais baixos. A produção
voltaria a ser rentável e a acumulação de capital se reiniciaria.
Outra iniciativa importante para neutralizar a queda na taxa de lucro é buscar a proteção do
Estado como ocorreu com o New Deal na década de 1930, e, mais recentemente após a
eclosão da crise de 2008 nos Estados Unidos. Tal interdependência entre os Estados e os
grandes capitais tem sido a norma de todo o sistema capitalista mundial durante as
primeiras três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial até a era
contemporânea. A intervenção do Estado é, entretanto, uma arma de dois gumes porque, de
um lado, evitam que os primeiros sintomas da crise se desenvolvam na direção de um
colapso absoluto, mas, de outro lado, obstrui a capacidade de alguns capitalistas para que
restabeleçam suas taxas de lucros à custa de outros. Isto é o que está acontecendo no
sistema capitalista mundial após a crise global de 2008.
8.3- Sobre as dificuldades de recuperação plena da taxa de lucro
Ficou demonstrado que, na década de 1990, o crescimento no nível de trabalho
improdutivo foi a causa principal que impediu uma recuperação plena da taxa de lucro. O
trabalho “improdutivo” evita o aumento da pressão da acumulação de capital para ser ainda
28
mais capital-intensiva. O valor, que de outra forma aumentaria a proporção entre meios de
produção e trabalho, é sugado para fora do sistema. A acumulação de capital passa a ser
mais lenta. As taxas de lucro são mais baixas por conta do gasto improdutivo. O preço que
os países capitalistas centrais pagam por isto é uma lenta acumulação produtiva e um baixo
crescimento das taxas de lucro, em longo prazo.
O sistema capitalista somente tem conseguido sobreviver nos últimos tempos devido às
suas crises recorrentes, ao avanço na pressão sobre as condições trabalhistas e às grandes
somas de capital desviadas para o gasto improdutivo. Apesar disso tudo, o sistema
capitalista mundial não conseguiu retornar a uma “idade de ouro” como a da década de
1950 e nem conseguirá no futuro. Pode ser que o capitalismo não esteja em crise
permanente, mas que esteja em uma fase de crises repetidas, das quais não poderá escapar.
E estas, necessariamente, trarão sérias consequências políticas, sociais, além de
econômicas.
8.4- Sobre a automação da atividade produtiva e seus impactos
A fábrica do futuro se caracteriza por apresentar instalação repleta de robôs e um elevado
grau de automação, além de estar devidamente organizada em torno da tecnologia, do
computador, que integra, por softwares especialmente desenvolvidos, praticamente todas
as atividades. Hoje já existem muitas fábricas do futuro em plena operação, a exemplo dos
sistemas denominados produção enxuta, que surgiram no Japão e estão se espalhando por
todo o mundo. Nas fábricas do futuro a quantidade de robôs trabalhando no lugar de
operários multiplica a cada ano e já há pesquisas que mostram como algumas profissões
podem desaparecer por conta disso. É possível imaginar que as fábricas do futuro contarão
cada vez menos com a presença de seres humanos na linha de produção. Os seres humanos
só supervisionam o trabalho das máquinas ou fazem sua manutenção.
Se, de um lado, a automação é positiva para o capitalista porque passaria a enfrentar seus
concorrentes de forma mais competitiva haja vista que proporcionaria, entre outras
vantagens, o aumento de sua produtividade e a redução de seus custos, de outro lado, seria
extremamente negativa para o capitalista porque tende a reduzir a taxa de lucro de seu
negócio devido à redução da mais valia e ao aumento da composição orgânica do capital.
Além disso, a automação que não acontece apenas na indústria, mas que se espraia pelo
comércio e pelo setor de serviços, tende a reduzir a renda à disposição da massa dos
trabalhadores excluídos da produção contribuindo, desta forma, para o subconsumo das
massas. Haveria, em consequência, queda na demanda de produtos e serviços devido ao
aumento do desemprego e a queda na renda dos trabalhadores. A sociedade seria altamente
prejudicada porque a automação contribuiria para o aumento do exército de
desempregados.
8.5- Sobre a financeirização da economia mundial
29
Diante da queda da taxa de lucro nos setores produtivos, para “sobreviver” às suas
próprias contradições, os capitalistas desenvolveram uma gigantesca financeirização da
economia, trocando-se o dinheiro diretamente por mais dinheiro e sem passar diretamente
pela produção funcionando em bases especulativas. Mas a financeirização da economia
está limitada, entretanto, pela economia real produtiva que é a que gera riqueza. Em outras
palavras, o capital financeiro ou fictício que não gera riqueza não pode se tornar autônomo
em relação ao capital produtivo.
A negação da esfera da produção aparece como a base sobre a qual emerge o "capital
financeiro ou fictício" e introduz a possibilidade de autonomização das finanças. No
entanto, mais uma vez, trata-se de um processo contraditório. Se o ideal do capital
financeiro é o "desprezo" total e absoluto pelos processos produtivos e mesmo pela
comercialização de mercadorias, ele também se origina nos referidos setores, sem
conseguir, por isso, se emancipar realmente dos mesmos.
Beneficiando-se da abertura da economia mundial a partir da década de 1990, muitos
grupos financeiros se diversificaram e se transformaram em conglomerados cujos lucros
provêm principalmente da criação de crédito, que se converteu no principal meio de
criação de moeda. Neste processo, os Bancos Centrais dos países perderam completamente
o controle. Os valores das transações mundiais ilustram a dimensão do setor financeiro: em
2002, o PIB mundial era de 32,3 trilhões de dólares, enquanto as transações financeiras
somavam 1.140,6 trilhões de dólares. No início da crise, em 2008, enquanto o PIB mundial
era de 60,1 trilhões, as movimentações financeiras atingiam 3.628 trilhões de dólares.
O ciclo de expansão e acumulação do capitalismo financeiro mundial esbarrou na imensa
crise financeira global e na desaceleração sincronizada da atividade econômica. É
impossível a esta altura saber para onde o sistema capitalista mundial está indo. A grande
possibilidade de combinação de colapso financeiro com imensa recessão, se não algo pior
como a depressão, certamente mudará o mundo. A partir da eclosão da crise mundial em
2008, os governos em todo o mundo se tornaram reféns do sistema financeiro ao adotarem
políticas fiscais e monetárias restritivas favoráveis aos bancos para salvá-los da bancarrota
e contrárias aos interesses de suas populações.
Segundo François Chesnais não haverá fim para a crise mundial enquanto os bancos e os
investidores financeiros estiverem no comando da economia mundial, com os governos
adotando políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e para dar sobrevida
ao regime guiado pela dívida como vem acontecendo atualmente. Apesar de todos os
artifícios para neutralizar a tendência da queda das taxas de lucro do sistema capitalista
mundial conforme previsto por Karl Marx em sua grande obra O Capital, não impedirá a
sua derrocada ao longo do tempo porque o custo político e social seria imenso para a
humanidade com a sua manutenção. Antes do colapso, o sistema capitalista mundial será
arruinado pela depressão econômica durante muitos anos gerando em sua escalada a
falência de muitas empresas, a inviabilização econômica dos extremamente endividados
Estados nacionais e o desemprego em massa em escala planetária.
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Diante da existência do caos que já domina a economia mundial que tende a se agravar, é
chegada a hora de cada país e a humanidade se dotarem o mais urgentemente possível de
instrumentos necessários a terem o controle de seu destino. Para ter o controle de seu
destino a humanidade precisa levar ao fim o sistema capitalista mundial para exercer a
governabilidade da economia mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie
humana.
BIBLIOGRAFIA
ALCOFORADO, Fernando. A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo.
Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016.
________________________. A inexorável tendência de queda da taxa de lucro no
sistema capitalista mundial. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>,
2016.
_______________________. As ações neutralizadoras da tendência de queda da taxa de
lucro do sistema capitalista mundial. Disponível no website
<http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016.
_______________________. As consequências da automação industrial sobre a taxa de
lucro no capitalismo e sobre a sociedade. Disponível no website
<http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016.
_______________________. As consequências da automação industrial sobre a taxa de
lucro no capitalismo e sobre a sociedade. Disponível no website
<http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016.
_______________________. O desempenho do sistema capitalista mundial no período
recente. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016.
_______________________. O sistema mundo capitalista rumo à derrocada?. Disponível
no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016.
CHESNAIS, François. Les dettes illégitime. Quand les banques font main basse sur les
politiques publiques. Paris: Editions Raisons d´agir, 2011.
__________________. As dívidas ilegítimas - quando os bancos fazem mão baixa nas
políticas públicas. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012.
DELL- TECNOLOGIAS DO FUTURO. Como serão as fábricas do futuro?. Disponível
no website <http://delltecnologiasdofuturo.ig.com.br/para-empresa/como-serao-as-
fabricas-do-futuro/>, 2013.
EXAME.COM. A era das fábricas inteligentes está começando. Disponível no website
<http://exame2.com.br/mobile/revista-exame/noticias/a-fabrica-do-futuro>, 2014.
GOUVERNEUR, Jacques e ROELANDTS, Marcel. Capitalismo & Crises Econômicas.
Disponível no website <http://www.capitalism-and-crisis.info/pt/Bem-vindo/Novo>,
2014.
HARMAN, Chris A Taxa de Lucro e o Mundo Atual. Disponível no website <
https://www.marxists.org/portugues/harman/2007/mes/taxa.htm>, 2007.
MARX, Karl. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
31
MORETI, Amilcar. A Fábrica do Futuro. Disponível no website
<http://ajmoreti.blogspot.com.br/2012/04/fabrica-do-futuro.html?m=1>,2012.
NEWS TECMES. Fábrica do futuro. Disponível no website
<http://www.tecmes.com.br/2014/07/fabrica-do-futuro/#.VtWUH30rLcc>, 2014.
SEWELL, Rob A crise capitalista e a queda tendencial da taxa de lucro. Disponível no
website <http://www.diarioliberdade.org/mundo/laboral-economia/42024-a-crise-
capitalista-e-a-queda-tendencial-da-taxa-de-lucro.html>, 2013.

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  • 1. 1 O FIM DO CAPITALISMO EM MEADOS DO SÉCULO XXI Fernando Alcoforado Abstract: This article aims to: 1) demonstrate how the profit is formed in capitalism; 2) demonstrate the inexorable downward trend of the profit rate of the world capitalist system; 3) show that the world capitalist system will come to an end in the mid-twenty-first century; 4) present the neutralizer actions of the profit rate downward trend in the world capitalist system; 5) present the beneficial and harmful effects of industrial automation on the profit rate in capitalism and society; 6) present the performance of the world capitalist system in the recent period; and 7) to analyze the financialization of capital and risk of debacle of the world capitalist system. Resumo: Este artigo tem por objetivos: 1) demonstrar como o lucro é formado no capitalismo; 2) demonstrar a tendência inexorável de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial; 3) demonstrar que o sistema capitalista mundial chegará ao fim em meados do século XXI; 4) apresentar as ações neutralizadoras da tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial; 5) apresentar as consequências benéficas e maléficas da automação industrial sobre a taxa de lucro no capitalismo e sobre a sociedade; 6) apresentar o desempenho do sistema capitalista mundial no período recente; e, 7) analisar a financeirização do capital e de risco de debacle do sistema capitalista mundial. Keywords: Profit rate in capitalism. Downward trend of the profit rate. Palavras-chave: Taxa de lucro no capitalismo. Tendência de queda da taxa de lucro. 1. Introdução Este artigo tem por objetivo demonstrar que o sistema capitalista mundial chegará ao fim em meados do século XXI. Para alcançar este objetivo, foi apresentada no Capítulo 1 a verdade sobre a formação do lucro no capitalismo se apoiando nos ensinamentos de Karl Marx em sua obra O Capital (1999). O Capítulo 2 apresenta a demonstração da tese de Karl Marx da inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial. No Capítulo 3 é demonstrado que a taxa de lucro será igual a zero no período 2048/2059 e são apresentadas as ações ou estratégias adotadas visando a neutralização da tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial. O Capítulo 4 apresenta  Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br
  • 2. 2 as consequências benéficas e maléficas da automação industrial sobre a taxa de lucro no capitalismo e sobre a sociedade. O Capítulo 5 apresenta o desempenho do sistema capitalista mundial no período recente no que concerne à taxa de lucro, a taxa de mais valia e composição orgânica do capital. Finalmente, no Capítulo 6 é analisada a financeirização do capital e o risco de débâcle do sistema capitalista mundial. 2. A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo A partir de um determinado momento ao longo da história da humanidade, os seres humanos começaram a trocar mercadorias (M). Nesta época ainda não existia o dinheiro como meio de troca. Praticava-se o escambo, quando trocava mercadoria por mercadoria (M = M). O uso da moeda como hoje a conhecemos é o resultado de uma longa evolução. Por apresentar vantagens como a possibilidade de entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, o metal se elegeu como principal padrão de valor. Era trocado sob as formas mais diversas. A princípio, em seu estado natural, depois sob a forma de barras e, ainda, sob a forma de objetos, como anéis, braceletes etc. Surgem, então, no século VII a.C., as primeiras moedas com características das atuais: são pequenas peças de metal com peso e valor definidos e com a impressão do cunho oficial, isto é, a marca de quem as emitiu e garante o seu valor. O dinheiro surgiu, portanto, para facilitar a troca entre mercadorias. (M D M) No capitalismo, o dinheiro deixou de ser um meio para trocas entre mercadorias de valor equivalente, passando ele a ser, também, o meio para a obtenção de mais-dinheiro (D’). A partir de uma quantidade de dinheiro (D) busca-se obter mais dinheiro (D’). D M (.........) M´ D´ No primeiro volume de O Capital (1999), Karl Marx mostra como o lucro é realizado. Ele explica que o capitalista encontra no mercado uma mercadoria especial, que, diferentemente de todas as outras mercadorias, é a fonte geradora de seu lucro. Marx a definiu como o “conjunto das capacidades mentais e físicas que existem em um ser humano”. A compra e o uso destas “capacidades mentais e físicas” constitui a fonte geradora do lucro dos capitalistas. Embora o trabalhador tenha um contrato para trabalhar por, digamos, oito horas por dia, ele cobriria o valor de seu salário em talvez quatro horas para atender suas necessidades. Este primeiro período, Marx o descreve como tempo de trabalho necessário. Mas, uma vez coberto o valor de seu salário, ele não para de trabalhar e continua a fazê-lo até o final de seu turno de oito horas. É neste período extra que ultrapassa a parte necessária, que o trabalhador produz a mais-valia para o capitalista, e é descrito por Marx como tempo de trabalho excedente. Este é trabalho não pago e é de onde surgem os lucros do capitalista.
  • 3. 3 Segundo Marx, o lucro do capitalista resulta da Mais-Valia (m). Sendo que esta provém da diferença entre o valor de um bem ou serviço produzido por um trabalhador e o salário que lhe é pago. Em outras palavras, é o tempo de trabalho que não é pago ou remunerado pelo capitalista. Logo, o lucro vem diretamente do trabalho humano, do trabalhador. Daí pode-se calcular a taxa de exploração (m’), por exemplo, se o valor produzido por um trabalhador durante um ano é de R$ 72.000,00 e o salário pago é de R$ 18.000,00 (v), a mais-valia é de R$ 54.000,00 (m), então: m´= m/v= 54.000/18.000= 3 (300%). O valor das matérias-primas e da energia utilizadas na produção da mercadoria não podem se constituir em fonte geradora do lucro porque não cria um valor novo, haja vista que simplesmente transferem o seu valor para o novo produto. Isto inclui o uso e o desgaste das máquinas, que somente de forma gradual transferem seu valor, o que é conhecido como depreciação. Segundo Karl Marx, o trabalho (combinado à natureza) é a verdadeira fonte de todo valor novo, incluindo a mais-valia. Todo o valor decorrente de trabalho anterior contido nas matérias-primas, etc., é transferido para as novas mercadorias. A isto Marx chama de “trabalho morto”, em oposição ao novo valor adicionado resultante do trabalho do ser humano que Marx descreve como “trabalho vivo”. A força motriz do capitalismo é a produção de mais-valia. O capitalista está determinado a extrair até a última gota de lucro do trabalho não pago aos trabalhadores. Ele faz isto através de uma combinação de meios: prolongando a jornada de trabalho, aumentando a velocidade das máquinas, introduzindo máquinas poupadoras de trabalho, através da racionalização, de acordos de produtividade, de novos turnos, de estudos de tempo e movimento, servindo-se de novas tecnologias etc. Estes métodos tornaram-se familiares aos trabalhadores. O capital total investido pelo capitalista foi considerado por Marx como se segue. O capital constituído de meios de produção, matérias-primas, energia etc, é considerado capital constante (k), que simplesmente transfere seu valor para as novas mercadorias. O valor que eles transferem é fixo. Entretanto, o capital representado pela força de trabalho (salários) é considerado capital variável (v), enquanto fonte de todo valor novo. Consequentemente, o valor total de todas as mercadorias é composto de k + v + m, onde m representa a mais- valia. Enquanto a mais-valia estiver “aprisionada” dentro da mercadoria, o capitalista somente pode realizar este valor excedente quando as mercadorias são vendidas no mercado. Dessa forma, a mais-valia é criada somente na produção, e realizada somente na troca, no mercado. É oportuno observar que é através da mais-valia (m) que o capitalista remunera seu capital investido, paga encargos sociais e trabalhistas, bem como taxas e tributos ao governo, entre outras exigências. Em última instância, é o trabalhador que, além de assegurar a produção do bem ou serviço, garante o ganho do capitalista e o pagamento dos compromissos por este assumidos. Se a jornada de trabalho é dividida entre trabalho necessário e trabalho excedente, a taxa de mais-valia é a razão entre as duas porções da jornada de trabalho.
  • 4. 4 Quanto maior a porção excedente, maior a taxa de mais-valia. É exatamente a mesma razão entre o valor excedente e o capital variável, quer dizer m/v. Em termos simples, a taxa de mais-valia é a taxa de exploração do trabalho pelo capital, ou dos trabalhadores pelo capitalista. A classe capitalista força a classe trabalhadora a executar mais trabalho do que se requer para cobrir seus meios de subsistência, produzindo assim mais-valia. O que interessa ao capitalista é o lucro e a busca por maiores taxas de lucro. Ele precisa saber se o valor que legalmente deixa de pagar a seus trabalhadores – a Mais-Valia (m). – é superior ao capital que investe em capital constante (k) e capital variável (v). Sendo o capital constante a maquinaria, matérias-primas, energia, etc. utilizados na produção do bem ou serviço e o capital variável a compra de força de trabalho aos trabalhadores sob a forma de salários. Logo, matematicamente a taxa de lucro representa-se assim: l´= m/(k+v) Considerando que m´=m/v , teremos m= m´v. Substituindo m por m´v na fórmula que calcula a taxa de lucro teremos: l´= (m´v)/(k+v) Dividindo o numerador e o denominador por v, teremos a taxa de lucro: l´= m´. 1/ ( k/v + 1)= m´/ (k/v +1) Considerando que a composição orgânica do capital (coc) é a relação entre capital constante (k) e o capital variável (v): coc= k/v teremos a taxa de lucro expressa da forma abaixo indicada: l´= m´/(coc + 1). A análise desta fórmula permite constatar que a taxa de lucro (l’) é proporcional à taxa de exploração do trabalhador (m’) e inversamente proporcional à composição orgânica do capital (coc). O incessante e impetuoso desenvolvimento técnico, impulsionado pela concorrência entre capitalistas, obriga-os a investirem em maquinaria (capital constante= k) que lhes permite produzir o mesmo com menos tempo de “trabalho vivo” (capital variável= v). Portanto, na sua busca pela reprodução de capital, os capitalistas tendem a investir mais em capital constante (k) e menos em capital variável (v), aumentando tendencialmente a composição orgânica do capital (coc) fazendo com que a taxa de lucro tenha tendência de diminuir.
  • 5. 5 O desemprego resulta deste maior investimento em capital constante (k) em prejuízo do capital variável (v), tornando-se assim também mais difícil aos capitalistas obterem a mais- valia. Diante da tendência da baixa da taxa de lucro, os capitalistas buscam aumentar a taxa de exploração do trabalhador (m´) para aumentar o numerador da equação l´=m´/(coc+1). Simultaneamente e contraditoriamente, incentivam o consumo enquanto o poder de compra dos trabalhadores tende a baixar com o aumento do desemprego e na medida em que reduz a parcela de salários (v). Assim, a circulação D-M-D’abranda e acontecem as crises do sistema capitalista. Esta pressão para introduzir máquinas que permitem poupar trabalho conduz, no entanto, a uma diminuição relativa do capital variável (força de trabalho) em comparação ao capital constante (meios de produção, matérias-primas etc.). Embora haja um relativo decréscimo em força de trabalho para aquele que investiu em capital constante, tal fato, no entanto, resulta em mais investimento sendo colocado ao alcance de cada trabalhador empregado. Através da concorrência, o capitalista é forçado a investir para produzir mercadorias mais baratas do que seus rivais. As indústrias onde a produtividade do trabalho fica para trás da média são excluídas do negócio por aquelas que usam os métodos mais atualizados. A concorrência leva à concentração e centralização do capital. Este processo resulta em maiores empresas com os mais modernos equipamentos e tecnologia. Esta acumulação de capital é uma característica fundamental do capitalismo. Constitui missão histórica do capitalismo desenvolver as forças produtivas. A força motriz da produção capitalista não é a satisfação das necessidades humanas, mas a produção de valor excedente a um ritmo sempre crescente, grande parte do qual deve ser acumulado e incorporado em novos meios de produção. 3. A inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial No Capítulo 2, A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo, foi apresentada a interpretação do grande pensador econômico e social do século XIX, Karl Marx, sobre a dinâmica do sistema capitalista e sua fonte geradora do lucro. Segundo Marx, o lucro do capitalista resulta da Mais-Valia (m) sendo que esta provém da diferença entre o valor de um bem ou serviço produzido por um trabalhador e o salário que lhe é pago. Em outras palavras, é o tempo de trabalho que não é pago pelo capitalista ao trabalhador. Logo, o lucro vem diretamente do trabalho humano, do trabalhador. O valor das matérias-primas e da energia utilizadas na produção da mercadoria não podem se constituir em fonte geradora do lucro porque não cria um valor novo, haja vista que simplesmente transferem o seu valor para o novo produto. Isto inclui o uso e o desgaste das máquinas, que somente de forma gradual transferem seu valor, o que é conhecido como depreciação. No Capítulo 2, ficou demonstrada que a força motriz do capitalismo é a produção de mais- valia. O capital constituído de meios de produção, matérias-primas, energia etc, é considerado capital constante (k), que simplesmente transfere seu valor para as novas
  • 6. 6 mercadorias. Entretanto, o capital representado pela força de trabalho (salários) é considerado capital variável (v), enquanto fonte de todo valor novo, e (m) é a mais valia ou trabalho excedente ou não pago pelo capitalista ao trabalhador. Consequentemente, o valor total de todas as mercadorias é composto de k + v + m. O capitalista está determinado a extrair até a última gota de lucro do trabalho não pago aos trabalhadores (m). Ele faz isto através de uma combinação de meios: prolongando a jornada de trabalho, aumentando a velocidade das máquinas, introduzindo máquinas poupadoras de trabalho, através da racionalização do processo produtivo, de acordos de produtividade, de novos turnos, de estudos de tempo e movimento, servindo-se de novas tecnologias etc. A jornada de trabalho é dividida entre trabalho socialmente necessário para manutenção do trabalhador e de sua família e o trabalho excedente não pago pelo capitalista ao trabalhador. Em termos simples, a taxa de mais-valia é a taxa de exploração do trabalho pelo capital, ou dos trabalhadores pelo capitalista. Quanto maior a porção excedente (m), maior é a taxa de mais-valia. A classe capitalista força a classe trabalhadora a executar mais trabalho do que se requer para cobrir seus meios de subsistência, produzindo assim a taxa de mais-valia (m/v). O que interessa ao capitalista é o lucro e a busca por maiores taxas de lucro. Ele precisa saber se o valor que legalmente deixa de pagar a seus trabalhadores – a Mais-Valia (m) – é superior ao capital que investe em capital constante (k) e capital variável (v). O capital constante corresponde à maquinaria, matérias-primas, energia, etc. utilizados na produção do bem ou serviço e o capital variável diz respeito aos salários pagos aos trabalhadores. Chris Harman (2007) publicou o artigo A Taxa de Lucro e o Mundo Atual no qual informa, baseado em O Capital de Karl Marx, que a taxa de lucro é a chave através da qual os capitalistas podem levar a frente seu objetivo de acumulação de capital. Porém, quanto mais se desenvolve a acumulação é mais dificultoso para os capitalistas obterem taxas de lucro para continuar o processo de acumulação. A taxa de lucro, sendo a meta da produção capitalista, sua queda aparece como uma ameaça para o processo de produção capitalista. Esta situação mostra o caráter histórico, transitório do modo de produção capitalista e o conflito que se estabelece com as possibilidades de continuar seu desenvolvimento. Segundo Karl Marx, esta situação mostra a verdadeira barreira para a produção capitalista que é representada pelo próprio capital. Baseado no raciocínio de Marx, Harman afirma o seguinte: cada capitalista pode, individualmente, aumentar sua própria competitividade aumentando a produtividade de seus trabalhadores. A forma de fazê-lo é utilizando mais “meios de produção” – ferramentas, maquinaria etc. – em quantidade suficiente e qualidade necessária com base na inovação por cada trabalhador. Com o aumento da proporção da extensão física dos meios de produção para uma quantidade de trabalho empregada, proporção que Marx denominou “composição técnica do capital”, um crescimento no volume e na qualidade dos meios de produção também implica um aumento do investimento necessário para adquiri-los (k). Isto também aumentará mais rápido que o investimento na força de
  • 7. 7 trabalho (v). Para usar os termos de Marx, o “capital constante” (k) cresce mais rápido que o “capital variável” (v). O crescimento da relação (k/v), Marx denomina “composição orgânica do capital” (coc) que é o corolário lógico da acumulação de capital. No entanto, a única fonte de valor do sistema capitalista (geradora do lucro) como totalidade é o trabalho conforme foi demonstrado no Capítulo 2 (A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo). Se o investimento (k) cresce mais rápido que a força de trabalho (v), também deve crescer mais rápido que o valor criado (m) pelos trabalhadores, que é de onde sai o lucro. Em suma, o crescimento de capital cresce mais rápido do que a fonte de lucro. Matematicamente, a taxa de lucro (l´) representa-se assim: Sendo: m= mais valia ou trabalho excedente ou não pago e, v=trabalho pago com salários. A taxa de mais-valia (m´) é a razão entre as duas porções da jornada de trabalho (m/v). Considerando que m´=m/v , teremos m= m´v. Substituindo m por m´v na fórmula que calcula a taxa de lucro teremos: Dividindo o numerador e o denominador por v, teremos a taxa de lucro: l´= m´. 1/ ( k/v + 1)= m´/ (k/v +1) Considerando que a composição orgânica do capital (coc) é a relação entre capital constante (k) e o capital variável (v): teremos a taxa de lucro expressa da forma abaixo indicada: l´= m´/(coc + 1). A análise desta fórmula permite constatar que a taxa de lucro (l’) é proporcional à taxa de mais-valia ou taxa de exploração do trabalhador (m’) e inversamente proporcional à composição orgânica do capital (coc= k/v). A análise desta fórmula permite constatar que havendo o aumento da composição orgânica do capital resultante do aumento da capacidade e/ou modernização da produção resulta a elevação do denominador da equação (coc), fato este que obrigaria o capitalista a elevar (m´) no numerador, isto é, a taxa de mais valia ou de exploração do trabalhador para manter ou elevar a taxa de lucro. Esta é a razão pela qual cada capitalista aumenta sua competitividade com o incremento de sua “composição técnica do capital” e aumenta a taxa de mais valia ou de exploração do
  • 8. 8 trabalhador. Cada capitalista luta, portanto, por uma maior produtividade da produção para obter vantagem sobre seus competidores. Mas, o que parece benéfico para o capitalista individual é desastroso para a sociedade capitalista como um todo porque cada vez que a produtividade aumenta cai o montante médio de trabalho requerido na totalidade da economia para a produção de um bem. Baseado no raciocínio de Karl Marx em O Capital, Chris Harman (2007) informa ainda que a taxa de lucro tenderá a cair no longo prazo, década após década. Não só haverá altos e baixos em cada ciclo de “boom” e crise, mas também haverá uma tendência à queda no longo prazo, tornando cada “boom” mais curto e cada queda mais profunda. Neste processo, a reestruturação realizada pós-crise pode restabelecer a taxa de lucro para seu nível prévio até que o aumento do investimento o faça diminuir novamente. De acordo com este ponto de vista, há um movimento cíclico da taxa de lucro atravessado por agudas crises de reestruturação. A Figura 1 apresentada a seguir mostra que as taxas de lucro nos Estados Unidos, Alemanha e Japão apresentaram uma tendência de declínio de 1950 a 2000. A Figura 2 mostra o declínio da taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo em corporações dos Estados Unidos de 1947 a 2007. Assim, as bases da teoria de Marx foram confirmadas. Figura 1- Taxa de lucro nos Estados Unidos, Alemanha e Japão Fonte: https://www.marxists.org/portugues/harman/2007/mes/taxa.htm
  • 9. 9 Figura 2- Taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo em corporações dos Estados Unidos Fonte: KLIMAN, A. The failure of capitalist production: underlying causes of the great recession. London: Pluto, 2012. A Figura 1 mostra que a taxa de lucro nos Estados Unidos, Alemanha e Japão apresentaram uma tendência de declínio de 1950 a 2000. Se admitirmos que esta tendência não seja revertida, por exemplo, para os Estados Unidos, maior economia mundial, a taxa de lucro deste país que foi de 24% em 1950 e 13% em 2000 alcançará uma taxa de lucro igual a zero em 2059. O mesmo deverá ocorrer também para o Japão, Alemanha e toda a economia mundial. A Figura 2 mostra que a taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo das corporações dos Estados Unidos foi de 32% em 1947 e 13% em 2007. Admitindo que esta tendência seja mantida nos próximos anos, a taxa de lucro das corporações dos Estados Unidos alcançará zero em 2048. Conclui-se, portanto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e 2059. Em outras palavras, o sistema capitalista mundial passaria a ter taxas de lucro negativas a partir de meados do século XXI. 4. As ações neutralizadoras da tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial
  • 10. 10 Diante da inexorável tendência da queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial, têm sido implementadas ações neutralizadoras visando sua reversão. Karl Marx (1999) explica que influências neutralizadoras da queda da taxa de lucro entrariam em funcionamento. É por esta razão que Marx descreve a queda da taxa de lucro como uma queda tendencial. A primeira tendência neutralizadora da queda das taxas de lucro explicada por Marx é uma mais intensa exploração do trabalho, um aumento da mais-valia relativa. Isto tem acontecido em escala massiva desde a década de 1990 com a escalada do neoliberalismo no mundo. Na Grã-Bretanha, a indústria de transformação alcança o mesmo nível de produção com um milhão de trabalhadores a menos. Isto reflete a pressão sobre a classe trabalhadora, não somente na Grã-Bretanha, mas em todo o mundo. A participação do trabalho na renda nacional vem declinando em todas as principais economias capitalistas da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico desde 1980. A defasagem tem sido particularmente grande nos Estados Unidos, onde a produtividade cresceu 83% entre 1973 e 2007, enquanto os salários reais médios aumentaram apenas 5%. A parte do rendimento nacional que vai para os salários caiu aos seus níveis mais baixos desde que estes registros começaram a ser feitos depois da II Guerra Mundial. Além disso, a jornada de trabalho tem sido prolongada. A jornada semanal foi aumentada em todos os lugares do mundo nos últimos anos. A classe trabalhadora está sendo pressionada pela introdução do trabalho em tempo parcial, pela produção “just-in-time” que possibilita que se perca o mínimo com o acúmulo de estoques e matérias-primas, pelos contratos de período curto, e outras medidas regressivas para extrair ainda mais trabalho não pago da classe trabalhadora. Rob Sewell (2013) informa no artigo A crise capitalista e a queda tendencial da taxa de lucro que a queda dos salários abaixo de seu valor é um dos fatores que serve para contrabalançar uma taxa de lucro cadente. Mais uma vez isto se tornou uma característica particularmente importante nos países capitalistas periféricos e semiperiféricos onde o trabalho é explorado sem limites. A exploração do trabalho feminino e de crianças faz parte deste processo. Marx (1999) se refere também ao barateamento do capital constante (k) como um fator chave no processo de neutralização da tendência de queda na taxa de lucro do sistema capitalista. Se a taxa de lucro tende a cair com uma maior proporção investida em capital constante em relação ao capital variável, então um barateamento do capital constante servirá para contrabalançar também a queda da taxa de lucro. Rob Sewell (2013) afirma que a elevação da produtividade do trabalho serve para baratear o capital constante transferido ao produto na transação, apesar do aumento constante de seu volume. Dessa forma, a mesma influência que tende a causar a queda na taxa de lucro serviria para moderar esta tendência. O valor do capital constante dependeria de qual destas duas tendências é a mais forte. Se a produtividade do trabalho dobra, então o valor do capital constante se reduz à metade. Se a produtividade é mais baixa do que a elevação do valor do capital constante, haverá uma queda na taxa de lucro. Então, é preciso verificar o efeito líquido destas forças conflitantes. Na prática, nos últimos 30 anos, temos visto uma
  • 11. 11 queda dramática no valor dos componentes do capital constante, especialmente com o avanço de novas tecnologias. Os preços em queda de chips de computador, por exemplo, barateou os computadores, que são parte do capital constante usados extensamente na economia. A China tem sido uma fonte de mercadorias baratas que inundam o mercado mundial. Estas mercadorias baratas sob a forma de capital constante ajudaram a aumentar a taxa de lucro nas últimas três décadas. Rob Sewell (2013) acrescenta que o excesso relativo da população economicamente ativa é outro fator neutralizador da queda das taxas de lucro. Podemos ver o crescimento em massa do desemprego em todo o mundo, que agora se tornou uma característica permanente. Isto serviu para rebaixar os níveis salariais e para baratear o custo da força de trabalho além de aumentar o tempo de trabalho excedente, isto é, a mais-valia para os capitalistas. A redução dos "custos salariais" é a principal característica nos últimos anos, enquanto os capitalistas buscavam elevar seus lucros. O comércio externo é também um meio de baratear os elementos do capital constante bem como para introduzir mercadorias baratas no exterior, o que mais uma vez serve para reduzir o custo da força de trabalho. O investimento de capital em países estrangeiros, onde a composição orgânica de capital é mais baixa, rende também uma mais elevada taxa de lucro e um aumento da taxa de lucro média dos que se engajam no comércio externo. Rob Sewell (2013) informa ainda que capitais investidos no comércio exterior podem proporcionar taxa de lucro mais elevada porque concorre com mercadorias que são produzidas por outros países com menores facilidades de produção de forma que o país mais desenvolvido vende suas mercadorias acima de seu valor, embora mais barato do que os países concorrentes, explica Marx em O Capital. O proveito é o mesmo para os capitalistas que introduzem nova maquinaria que lhe permite vender abaixo de seus concorrentes, mas tirar um lucro excedente. A expansão do mercado mundial ("globalização") permitiu um aumento massivo no investimento, na produção e nas vendas. Houve um aumento massivo na exportação de capital. O colapso da União Soviética e a restauração do capitalismo na Rússia, na Europa do Leste e na China proporcionaram ao capitalismo novos mercados e áreas de exploração. Isto permitiu que cerca de dois bilhões de pessoas entrassem no mercado mundial capitalista. A liberalização do mercado dos países capitalistas periféricos e semiperiféricos, incluindo a privatização dos serviços públicos básicos, também abriu possibilidades para novos investimentos, e todos eles permitiram aumentar a taxa de lucro durante este período. Em outras palavras, estamos lidando apenas com uma tendência que se manifesta em toda a história do desenvolvimento capitalista. A lei da queda da taxa de lucro funciona, portanto, simplesmente como uma tendência, cujo efeito é decisivo somente sob circunstâncias particulares e por longos períodos, explica Marx em O Capital (1999). Dessa forma, pode haver períodos longos, mesmo décadas, em que a tendência da taxa de lucro a cair é cancelada pelas tendências neutralizadoras acima citadas. Estas podem deter todo o processo e mesmo revertê-lo, mas não indefinidamente. Eventualmente, esta tendência de queda irá se reafirmar e agir como uma barreira ao desenvolvimento do capitalismo.
  • 12. 12 É oportuno observar que as crises sucessivas que afetam o sistema capitalista poderão abrir novas perspectivas de evolução e neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. Ao levar alguns capitalistas à ruína, as crises poderão permitir uma recuperação dos lucros de outros capitalistas. Os meios de produção dos capitalistas arruinados podem ser comprados por outros capitalistas a preços de liquidação, o valor das matérias-primas cairá e o desemprego obrigará os trabalhadores a aceitarem salários mais baixos. A produção voltaria a ser rentável e a acumulação de capital se reiniciaria. De acordo com este ponto de vista, há um movimento cíclico da taxa de lucro atravessado por agudas crises de reestruturação, e não um declínio inevitável e constante no longo prazo. O desenvolvimento do capitalismo não é apenas cíclico, mas também implica transformações no tempo. Um aspecto importante diz respeito ao processo pelo qual alguns capitalistas crescem à custa de outros, o que Marx (1999) chama “concentração e centralização” do capital, fato este que conduz, eventualmente, a que uns poucos capitalistas desempenhem um papel predominante em certas partes do sistema. Sua atividade fica entrelaçada com a daqueles capitais, grandes e pequenos, que os circundam. Se capitais de grande envergadura são arruinados, perturba-se a operação dos demais destruindo seus mercados, eliminando seu acesso a matérias-primas e componentes. Isto pode levar à falência empresas que antes eram rentáveis, junto com aquelas não rentáveis, a um colapso que se retroalimente e coloque o risco de criar “buracos negros” no coração do sistema. Esta situação ocorreu em 1929 na grande crise do sistema capitalista mundial dos anos entre as duas guerras mundiais e em 2008 com a crise que eclodiu nos Estados Unidos. A quebra de algumas empresas, longe de conduzir ao fim da crise, depois de alguns anos, aprofundou seu impacto. Como consequência, os capitais de todo o mundo se dirigiram aos governos de seus países em busca de proteção. Para além de suas diferenças políticas, este é o ponto que é comum entre o New Deal nos Estados Unidos, o período nazista na Alemanha, os regimes populistas que emergiram na América Latina ou a aceitação definitiva da intervenção estatal de corte keynesiano como a ortodoxia econômica na Inglaterra dos tempos de guerra e, mais recentemente após a eclosão da crise de 2008 nos Estados Unidos. Tal interdependência entre os Estados e os grandes capitais tem sido a norma de todo o sistema capitalista mundial durante as primeiras três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial até a era contemporânea. A intervenção do Estado é uma arma de dois gumes. Evitam que os primeiros sintomas da crise se desenvolvam na direção de um colapso absoluto, mas, também, obstrui a capacidade de alguns capitalistas para que restabeleçam suas taxas de lucros à custa de outros. Isto é o que está acontecendo no sistema capitalista mundial após a crise global de 2008. Este não foi um grande problema nas primeiras décadas após 1945, dado que o impacto combinado da crise entre guerras e a referente à Segunda Guerra Mundial já havia causado uma destruição massiva do velho capital (segundo algumas estimativas, um terço do total foi destruído pela crise econômica de 1929 e pela 2ª Guerra Mundial). A
  • 13. 13 acumulação de capital pôde, assim, recomeçar com taxas de lucro mais altas do que no período pré-guerra, e estas taxas se mantiveram estáveis ou oscilaram lentamente. O capitalismo pôde desfrutar o que, muitas vezes, se denomina sua “época de ouro” na década de 1950. Porém, quando os lucros começaram a cair a partir da década de 1960, o sistema se viu diante da impossibilidade de uma reestruturação suficiente para restabelecer estas taxas. Os governos nacionais intervieram para evitar a ameaça de grandes quebras. Mas, ao fazê-lo, impediram que a reestruturação fosse suficiente para superar as pressões que haviam causado a ameaça de falências. 5. As consequências da automação industrial sobre a taxa de lucro no capitalismo e sobre a sociedade Amilcar Moreti (2012) afirma no artigo A Fábrica do Futuro que a fábrica do futuro se caracteriza por apresentar instalação repleta de robôs e um elevado grau de automação, além de estar devidamente organizada em torno da tecnologia, do computador, que integra, por softwares especialmente desenvolvidos, praticamente todas as atividades. Nela, há o uso generalizado de ferramentas como CAD, MRP II, ERP, EDI, e acima de tudo conta com a presença do trabalhador do conhecimento (o knowledge worker, o trabalhador que usa o saber mais do que as mãos). Moreti (2012) informa também que a organização da produção na fábrica do futuro está focada na busca da mais alta produtividade, as atividades que não agregam valor são eliminadas, os refugos e retrabalhos não são admitidos, os métodos de trabalho têm mecanismos para a prevenção de problemas, os níveis de estoques são baixíssimos, pois o just-in-time está em toda parte, isto é, opera um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certa e os componentes são entregues diretamente nas linhas de fabricação e/ou montagem. Moreti (2012) acrescenta que as fabricas são extremamente limpas e organizadas, em decorrência da aplicação sistemática do housekeeping, que é uma das ferramentas utilizadas com o intuito de assegurar a implantação da qualidade, produtividade e agilidade nos serviços prestados, bem como a melhoria da qualidade de vida dos funcionários e os trabalhadores são treinados em várias funções, desde a operação, preparação e manutenção até projetos de novos produtos e/ou processos produtivos os quais são controlados por computadores por meio de software integrados. Hoje já existem muitas fábricas do futuro em plena operação, a exemplo dos sistemas denominados produção enxuta, que surgiram no Japão e estão se espalhando por todo o mundo. A autoridade do trabalhador, no que se refere à qualidade do produto, é praticamente ilimitada porque ele pode, a qualquer instante, parar a linha de produção, uma vez constatada uma não conformidade já ocorrida ou latente. Todos os trabalhadores procuram ajudar na solução do problema para que a linha volte à normalidade o mais rápido possível. Metodologias de identificação e solução de problemas são amplamente difundidas e incorporadas à cultura de todos os trabalhadores. A gestão dos processos é
  • 14. 14 feita pela utilização de indicadores de desempenho amplamente discutidos e aceitos por todos os trabalhadores que estiverem intimamente ligados aos objetivos da empresa. O projeto dos produtos é desenvolvido juntamente com o dos processos onde serão fabricados. A engenharia simultânea, que é uma abordagem sistemática para o desenvolvimento integrado e paralelo do projeto de um produto e os processos relacionados, incluindo manufatura e suporte, é aplicada em larga escala. A atenção aos objetivos dos clientes guia o projeto, e a utilização de técnicas como o desdobramento da função qualidade (QFD) e a análise de falhas (FMEA) assegura maior qualidade e confiabilidade aos produtos. Os produtos têm um menor número de componentes, o que diminui os riscos de falhas e menores custos, pois os produtos são modulados. Segundo Moreti (2012), o layout é o elemento determinante da fábrica do futuro. As fábricas grandes até então tidas como padrão são divididas em várias pequenas unidades dentro da fábrica original, devidamente focalizadas, organizadas em células de produção, com elevado grau de automação. Os novos projetos contemplam áreas reduzidas para estoques de matérias-primas e produtos acabados, e não há previsão de áreas para retrabalho. Até mesmo as áreas reservadas para os produtos em processos são reduzidas, pois as linhas são balanceadas de forma a permitir um fluxo contínuo e sem acúmulo em determinados pontos de processo. Esse processo de mudança permite que possa se dobrar a produção utilizando-se a metade da área até então usada. Na fábrica do futuro as informações são disponibilizadas em tempo real com a utilização de painéis eletrônicos conectados a vários terminais de entrada de dados. A utilização de cores é explorada ao máximo, com cartões kanban coloridos de forma a transmitir uma ou mais informações sobre o andamento dos processos. As informações sobre produção, produtividade, objetivos atingidos e a atingir, porcentagem de refugos, etc., estão dispostas em quadros espalhados por todas as instalações, para serem lidos, analisados e criticados por todos os trabalhadores. No artigo Como serão as fábricas do futuro? da DELL- TECNOLOGIAS DO FUTURO (2012), é informado que nas fábricas do futuro a quantidade de robôs trabalhando no lugar de operários multiplica a cada ano e já há pesquisas que mostram como algumas profissões podem desaparecer por conta disso. A DELL- TECNOLOGIAS DO FUTURO (2012) afirma, baseado no relatório da Federação Internacional de Robótica (IRF, na sigla em inglês), que cerca de 179 mil robôs industriais foram vendidos em 2013, um crescimento de mais de 12% em relação ao ano anterior. A China, segundo o balanço da IRF, é o país que mais investiu na automação, comprando 37 mil unidades no ano passado – ante pouco menos de 1.500 compradas pelo Brasil. Já o Japão é o maior exportador de robôs e também o país com as fábricas mais automatizadas do mundo, com mais de 300 mil robôs industriais em operação. No artigo acima citado (Como serão as fábricas do futuro?) consta a informação de que é possível imaginar que as fábricas do futuro contarão cada vez menos com a presença de seres humanos na linha de produção. Bom exemplo é a fábrica da Audi em Ingolstadt, na
  • 15. 15 Alemanha, que tem cerca de 800 empregados e praticamente o mesmo número de robôs industriais, que fazem a maior parte do trabalho pesado e operacional. Na China, a incorporação de robôs em fábricas é crescente. No artigo A era das fábricas inteligentes está começando da EXAME.COM (2014) consta a informação de que a indústria automobilística está entre as mais robotizadas do mundo e que na BMW de Leipzig na Alemanha, com seus mais de 1.000 robôs, os funcionários, todos de colete azul, acompanham tudo a distância pelas telas de computadores. Os seres humanos só supervisionam o trabalho das máquinas. A unidade de Leipzig é uma prévia do futuro das fábricas. Estamos no estágio inicial de uma mudança tão profunda na manufatura como aquela provocada pela Revolução Industrial na Inglaterra. No artigo acima citado A era das fábricas inteligentes está começando consta a informação de que o setor produtivo mundial está num processo movido por três forças: o avanço exponencial da capacidade dos computadores, a imensa quantidade de informação digitalizada e novas estratégias de inovação. O progresso computacional fez com que as máquinas ficassem muito mais potentes, ágeis e, sobretudo, baratas. Em 1985, o computador mais rápido do mundo era o Cray-2, que custava 30 milhões de dólares. Em seus anos de glória, foi utilizado para pesquisas em energia atômica. Hoje, um iPad tem capacidade de processamento superior à do Cray-2. Na última década, o preço de alguns modelos de sensores usados nos aparelhos eletrônicos caiu 85%. Na indústria, em geral, e no caso específico da fábrica da BMW, em Leipzig, essa tendência pode ser sentida pela forte expansão dos robôs. O artigo Fábrica do futuro da NEWS TECMES (2014) informa que, em 2013, as vendas de robôs industriais no mundo atingiram o recorde de 179.000 unidades e que, de acordo com um estudo da consultoria americana McKinsey, o preço dos robôs vem caindo 10% ao ano nas últimas décadas e a produtividade deles está aumentando. Informa ainda, que, dependendo do tipo de aplicação, os modelos mais novos são 40% mais rápidos do que os das gerações anteriores. máquinas de alta destreza que hoje são vendidas a 150.000 dólares deverão custar metade desse valor até 2025 e que a segunda característica dessa nova era industrial é a imensa quantidade de informação digital disponível. A concepção dos produtos, o design, os testes com novos materiais, os protótipos, a arquitetura da fábrica, a organização da linha de produção, o estoque de materiais, o manual de um equipamento, tudo é digital. No artigo A era das fábricas inteligentes está começando da EXAME.COM (2014) informa que fábricas automatizadas e robotizadas significam indústrias com cada vez menos gente e em três décadas foram eliminados 6 milhões de postos de trabalho industriais nos Estados Unidos fazendo com que o emprego nas fábricas atingisse o patamar da década de 1940. Os empregos que envolvem funções repetitivas vão desaparecer rapidamente nos próximos anos. Nos países ricos, estima-se que 25% de todas as funções na indústria deverão ser substituídas por tecnologias de automação até 2025. No mundo, a estimativa é que 60 milhões de postos de trabalho em fábricas sejam eliminados.
  • 16. 16 Se levarmos em conta que a taxa de lucro é medida pela fórmula abaixo: l´= m´/ (coc +1) em que m´=m/v e coc= k/v, sendo m´ a taxa de mais-valia ou de exploração dos trabalhadores, m corresponde ao valor do trabalho excedente não pago pelo capitalista ao trabalhador, v diz respeito ao dispêndio com salários, k representa o capital constante (meios de produção, matérias-primas, energia etc,) utilizado na produção e coc corresponde à composição orgânica do capital. As consequências da automação sobre o sistema capitalista são as seguintes: 1. A automação contribui para aumentar significativamente o capital constante (k) com os investimentos em máquinas e instalações automatizadas e reduzir significativamente (v) com a queda vertiginosa da mão de obra e do dispêndio com salários o que faz com que a composição orgânica do capital (coc= k/v) se eleve bastante. Esta situação faz com que o denominador da taxa de lucro (l´) seja elevado significativamente. 2. Para compensar o aumento do denominador da taxa de lucro (l´), seu numerador (m´=m/v) teria que se elevar enormemente o que obrigaria a empresa a aumentar significativamente a mais valia (m= trabalho excedente não pago) dos trabalhadores remanescentes. A taxa de exploração dos trabalhadores remanescentes teria que aumentar para a empresa manter ou elevar sua taxa de lucro. 3. Na prática, seria impossível, haver uma fábrica totalmente automatizada, isto é, sem trabalhadores porque a empresa precisaria de gente para supervisionar a operação e efetuar a manutenção de máquinas e equipamentos automatizados. A taxa de exploração desses trabalhadores (m´) teria que ser elevada ao máximo para assegurar taxas de lucro elevadas para a empresa. 4. Teoricamente, se admitirmos que v=0, isto é uma fábrica sem trabalhadores, coc=k/v=k/0=infinito contribuindo para que o denominador da taxa de lucro (coc+1) seja igual a infinito. Por sua vez, sendo a mais valia (m= 0) daí resultaria m´=m/v = 0/0= valor indeterminado. A taxa de lucro tenderia a zero ou a um valor indeterminado. Constata-se, pelo exposto, que a automação é positiva para o capitalista porque passaria a enfrentar seus concorrentes de forma mais competitiva haja vista que proporcionaria, entre outras vantagens, o aumento de sua produtividade e a redução de seus custos. No entanto, seria extremamente negativa para o capitalista porque tende a reduzir a taxa de lucro de seu negócio. Além disso, a automação que não acontece apenas na indústria, mas que se espraia pelo comércio e pelo setor de serviços, tende a reduzir a renda à disposição da massa dos trabalhadores excluídos da produção contribuindo, desta forma, para o subconsumo das massas. Haveria, em consequência, queda na demanda de produtos e serviços devido ao aumento do desemprego e a queda na renda dos trabalhadores. A sociedade seria altamente prejudicada porque a automação contribuiria para o aumento do exército de desempregados.
  • 17. 17 Em síntese, o incessante e impetuoso desenvolvimento técnico, impulsionado pela concorrência entre capitalistas, obriga-os a investirem em maquinaria automatizada (capital constante= k) que lhes permite produzir o mesmo com menos tempo de “trabalho vivo” (capital variável= v). Portanto, na sua busca pela reprodução de capital, os capitalistas tendem a investir mais em capital constante (k) e menos em capital variável (v), aumentando tendencialmente a composição orgânica do capital (coc) fazendo com que a taxa de lucro tenha tendência de diminuir. A principal conclusão relacionada com a automação da atividade produtiva é a de que ela colaboraria no sentido de comprometer os interesses do capitalismo e de que sua viabilidade só deveria ocorrer em uma sociedade que não persiga o lucro. 6. O desempenho do sistema capitalista mundial no período recente A Figura 3 apresenta a evolução da taxa de lucro, a taxa de mais-valia e a composição orgânica do capital referentes aos Estados Unidos, maior economia mundial, de 1951 a 2013 com a utilização dos fundamentos da economia marxista. Esta Figura foi extraída do artigo Capitalismo & Crises Econômicas (2014) elaborado de Jacques Gouverneur, Doutor em Direito pela Université Catholique de Louvain, Bélgica e Doutor em Economia pela Université d’Oxford, Grã Bretanha e Marcel Roelandts que trabalha como pesquisador e profere diversos cursos em várias Universidades e “Hautes Ecoles. Figura 3- Taxa de lucro – Taxa de mais-valia – Composição orgânica do capital. Estados Unidos 1951-2013
  • 18. 18 Fonte: Gouverneur, Jacques e Roelandts, Marcel. Capitalismo & Crises Econômicas. <http://www.capitalism-and-crisis.info/pt/Bem-vindo/Novo>. Na Figura 3, a taxa de lucro mede a rentabilidade do capital total investido. Ela indica como este último se valoriza e exprime assim o grau de cumprimento da finalidade capitalista. De todas as leis do capitalismo é essa a que Marx considerava como a historicamente mais importante. Suas flutuações nos apresentam duas dinâmicas: 1) As pulsações do curto prazo dos ciclos de acumulação, compostos sucessivamente de um período de alta da taxa de lucro, seguido de uma baixa, e terminando por uma recessão (1954, 1958, 1970, 1974-75, 1980-82, 1991, 2001, 2009). São os ciclos econômicos tipicamente estudados por Marx em O Capital, ciclos que ele chamava de“decenais”; e, 2) As evoluções tendenciais da taxa de lucro em médio prazo dão lugar a quatro grandes fases de uma quinzena de anos cada uma para o alto (1951-66), para baixo (1966-82), para o alto (1982-97), para baixo (1997-2009) e aparentemente de novo para o alto 2009. Entretanto, não é porque a taxa de lucro cai na saída de cada ciclo de acumulação que se está forçosamente na presença de uma baixa tendencial da taxa de lucro. É em médio prazo que a baixa tendencial age, como indicava Marx em O Capital, e não a cada ciclo curto. Estas são as conclusões de Gouverneur e Roelandts. Segundo Gouverneur e Roelandts (2014), as flutuações da taxa de lucro [l´= m´/(coc +1)] resultam da evolução respectiva da taxa de mais-valia (m´) como numerador e da composição orgânica do capital (coc) como denominador: 1) A taxa de mais-valia (m´) reparte o produto social entre os lucros e os salários (v). A dinâmica de investimento e as crises dependem, portanto, grandemente do equilíbrio entre a proporcionalidade desta repartição, como explica Marx no livro II de O Capital. As flutuações da taxa de mais- valia dão lugar a três fases que dão ritmo à evolução do capitalismo desde o pós-guerra: ela aumenta desde 1948 até 1966, diminui até o ano de 1982, e retoma sua curva para o alto desde então; e, 2) A composição orgânica do capital (coc) mede a intensidade em capital fixo em valor quando os ganhos de produtividade já não podem compensar os gastos realizados para obter os meios de produção. A composição orgânica do capital relaciona o capital constante (k) ao capital variável (v). É a relação entre os componentes que fazem apenas transmitir o seu valor e aqueles que criam um novo valor, ou entre aqueles que não produzem mais-valia e aqueles que produzem, ou ainda, entre o trabalho passado cristalizado nas máquinas e o trabalho presente representado pelos assalariados. Ela é então calculada relacionando-se o capital fixo investido à massa salarial empregada. Gouverneur e Roelandts (2014) afirmam que a Figura 3 apresenta uma fortíssima correlação entre a evolução da taxa de lucro e a da taxa de mais-valia, e a composição orgânica do capital vindo depois para adicionar ou contrarrestar seus efeitos. Tanto quando das baixas como das retomadas, a taxa de lucro volta a cair primeiro em consequência da inversão da taxa de mais-valia, e a composição orgânica do capital vem acrescentar os seus efeitos somente depois. Não se pode esquecer que tanto o numerador da taxa de lucro (a taxa de mais-valia- m´), quanto o seu denominador (a composição
  • 19. 19 orgânica do capital- coc), são todos dois fortemente influenciados pela evolução da produtividade do trabalho. Segundo Gouverneur e Roelandts (2014), para seguir adiante, o capitalismo tem a necessidade de se apoiar sobre as suas duas pernas: a produção e o consumo. Na realidade a taxa de lucro é uma variável sintética que exprime simultaneamente as dinâmicas e as contradições relativas à produção e à realização do valor. Como sua evolução depende tanto da eficácia do capital (coc no denominador) como da repartição do produto total (a taxa de mais-valia, m´, no numerador), ela mede tanto a capacidade do capital para garantir a sua rentabilidade quanto a adequação dos mercados à produção. Gouverneur e Roelandts afirmam que a taxa de lucro deve ser concebida como um indicador integrado do restabelecimento das condições de produção e realização do produto social total. Ela expressa tanto as contradições ligadas à repartição do valor produto (a luta de classe, ou seja, a taxa de mais-valia no numerador), quanto o mecanismo da intensidade em capital fixo (as forças produtivas, ou seja, a composição orgânica do capital no denominador). Em O Capital (1999), Marx afirma que as crises não são mais do que soluções momentâneas e violentas que restabelecem por um momento o equilíbrio perturbado. A estagnação ocorrida na produção teria preparado — nos limites capitalistas — uma expansão subsequente da produção. Segundo Gouverneur e Roelandts (2014), o ciclo de acumulação de capital impõe a necessidade de crescimento do capital constante (k) em detrimento do capital variável (v). Seu ritmo é então essencialmente ligado aos ciclos mais ou menos decenais de rotação do capital fixo. Segundo Marx (1999), à medida que o valor e a duração do capital constante se desenvolvem com o modo de produção capitalista, a vida da indústria e do capital industrial se desenvolve em cada empresa particular e se prolonga sobre um período, digamos, em média de dez anos. Este ciclo de rotações que se encadeiam e se prolongam por uma série de anos, onde o capital é prisioneiro de seu elemento fixo, constitui uma das bases materiais das crises periódicas. Marx (1999) fala em O Capital de um período decenal médio, e não absoluto. Sem dúvida os períodos de inversão do capital são muito diferentes, mas a crise serve sempre como ponto de partida para um poderoso investimento. A crise fornece, por conseguinte — do ponto de vista da sociedade tomada em seu conjunto — uma nova base material para o próximo ciclo de rotação. Assim a lei [da baixa tendencial da taxa de lucro] age apenas como uma tendência cuja ação manifesta-se claramente apenas em certas circunstâncias e no curso de longos períodos. Marx evoca “longos períodos” nos cursos dos quais se exerce a lei da baixa tendencial da taxa de lucro, ele fala de uma “trintena de anos”. Na década de 1990, o crescimento no nível de trabalho improdutivo foi a causa principal que impediu uma recuperação plena da taxa de lucro. Por que os gastos improdutivos cresceram tanto, inclusive ao custo de afogar o que de outra forma teriam sido taxas de lucro mais saudáveis? As razões estão descritas a seguir:
  • 20. 20  Há ondas e mais de ondas de investimentos especulativos, dado que os capitalistas buscam lucros fáceis apostando nos mercados de dinheiro, aventuras financeiras, fundos de investimento (hedge funds) etc.  Os custos do capitalismo para manter certa paz social aumentam, tanto para fazer gastos em seguridade, como para conceder mínimos benefícios àqueles que o Capital não pode empregar produtivamente.  Os Estados nacionais recorrem a aventuras militares como uma forma de desafogo dos problemas que enfrentam seus capitalistas. Segundo HARMAN (2007), as reações das empresas individuais e dos Estados nacionais às taxas de lucro decrescentes têm o efeito de reduzir os recursos disponíveis para a acumulação produtiva que contribuiriam para evitar uma redução ainda maior das taxas de lucro ao reduzir a pressão na escalada da composição orgânica do capital. HARMAN (2007) afirma, também, que o trabalho “improdutivo” evita o aumento da pressão da acumulação de capital para ser ainda mais capital-intensiva e que o valor, que de outra forma aumentaria a proporção entre meios de produção e trabalho, é sugado para fora do sistema. A acumulação de capital passa a ser mais lenta, mas pode continuar a um passo estável. As taxas de lucro são mais baixas por conta do gasto improdutivo, mas não enfrentam quedas bruscas e profundas pela rápida aceleração da proporção capital- trabalho. HARMAN (2007) afirma que esta estratégia foi aplicada no período imediato do pós- guerra nos Estados Unidos. Os gastos com armamento beirando 13% do produto nacional norte-americano (e com gastos indiretos, talvez uns 15%) era uma importante apropriação de mais-valia que não continuava a acumulação de capital. Era um gasto do qual a classe dominante norte-americana também esperava ganhar, gasto esse que sustentava sua hegemonia global (tanto confrontando a União Soviética como aglutinando as classes capitalistas europeias com os Estados Unidos), e que garantia um mercado a alguns setores produtivos importantes da economia americana. Neste sentido, os capitalistas podiam considerar os armamentos como uma vantagem, muito distinta, neste sentido, dos gastos “improdutivos” para melhorar as condições de vida dos pobres. E se reduzia a taxa de acumulação de capital, isto não era catastrófico, dado que a reestruturação do capital mediante crises e guerras já havia impulsionado a acumulação de capital para um nível mais alto que o conhecido na década de 1930. HARMAN (2007) defende a tese de que a situação hoje é bem diferente. Desde inícios da década de 1960, a emergência de importantes competidores internacionais gerou forte pressão nos Estados Unidos para que reduzisse o percentual da produção dirigida a gastos militares. O estímulo para os gastos militares, em meados da década de 1960 durante a guerra do Vietnã e, nos anos 80, durante a “Guerra Fria”, permitiu somente um respiro de curto prazo à economia norte-americana antes de revelar seus grandes problemas. O aumento do gasto militar na administração George W. Bush de 3,9% para 4,7% do produto bruto norte-americano (equivalente a cerca de um terço do investimento privado) exacerbou o crescente gasto público e o déficit comercial do país.
  • 21. 21 Segundo HARMAN (2007), o efeito de todas estas formas de “gasto” é muito menos benéfico para o capitalismo como um todo hoje do que há um século atrás. É possível que ainda diminuam as pressões sobre a taxa de lucro provenientes da composição orgânica do capital que certamente não cresce tão rápido como poderia se toda a mais-valia se destinasse à acumulação de capital. O preço que os países capitalistas centrais pagam por isto é uma lenta acumulação produtiva e um baixo crescimento das taxas de lucro, em longo prazo. Daí compreende-se as repetidas tentativas “neoliberais” dos capitalistas e dos Estados nacionais para aumentar as taxas de lucro, reduzindo o salário que pagam aos trabalhadores ocupados, o ganho dos aposentados, desempregados e pensionistas e o restabelecimento de critérios mercantis para reduzir os gastos em educação e saúde. Restam, ainda, dúvidas sobre a parte do mundo onde estão ocorrendo investimentos produtivos gigantescos como a China. Alguns analistas viram este país como a salvação do sistema capitalista como um todo. O capital chinês conseguiu obter mais mais-valia para novos investimentos – mais de 40% do produto nacional – que os Estados Unidos, Europa, e inclusive o Japão. Conseguiu explorar mais seus trabalhadores, e não tem freios diante dos níveis de gastos improdutivos que caracterizam os países capitalistas centrais (embora o atual boom imobiliário se caracterize por uma proliferação de arranha-céus, hotéis e shoppings na China). Tudo isto permitiu à China competir com os países capitalistas centrais como mercado de exportação para muitos produtos. Porém, estes mesmos altos níveis de investimento já estão acusando um impacto negativo na lucratividade. Uma tentativa recente de aplicação de categorias marxistas na economia chinesa chegou ao resultado de que suas taxas de lucro caíram de 40% em 1984 para 32% em 2002, enquanto que a composição orgânica do capital aumentou em 50%. O que importa é reconhecer que o sistema capitalista somente tem conseguido sobreviver devido às suas crises recorrentes, ao avanço na pressão sobre as condições trabalhistas e às grandes somas de capital desviadas para o gasto improdutivo. Apesar disso tudo, o sistema capitalista mundial não conseguiu retornar a uma “idade de ouro” como a da década de 1950 e nem conseguirá no futuro. Pode ser que o capitalismo não esteja em crise permanente, mas que esteja em uma fase de crises repetidas, das quais não poderá escapar. E estas, necessariamente, trarão sérias consequências políticas, sociais, além de econômicas. Recentemente, a imprensa destacou os temores desencadeados pela desaceleração do crescimento da China, a elevação dos riscos dos bancos europeus com o aumento da inadimplência e pelas dúvidas acerca da saúde financeira de países capitalistas semiperiféricos como o Brasil e a Rússia. Tudo isto veio se juntar uma nova fonte de preocupação para os mercados globais: despencaram, nos últimos dias, os preços das ações dos principais bancos do mundo rico, e a isso se seguiram especulações sobre a estabilidade da economia mundial. Reapareceram alguns dos fantasmas da crise financeira de 2008 e 2009, que devastou o capital de instituições financeiras após perdas gigantescas com as hipotecas. Uma recidiva ocorreu em 2012, quando o mundo temia o colapso do
  • 22. 22 Euro e, com ele, dos grandes bancos europeus, que sofreriam calotes de países e empresas da periferia. Tais eventos travaram os canais de expansão de crédito, mecanismo essencial para o crescimento econômico. Não por acaso, a recuperação das instituições financeiras ocupou lugar central na estratégia de combate à crise. 7. O sistema mundo capitalista rumo à derrocada? Diante dos problemas enfrentados pelo capitalismo nos setores produtivos, para “sobreviver” às suas próprias contradições, os capitalistas desenvolveram uma gigantesca financeirização da economia, trocando-se o dinheiro diretamente por mais dinheiro e sem passar diretamente pela produção funcionando meramente por considerações especulativas (D D´). Mas a financeirização da economia está limitada, entretanto, pela economia real produtiva que é a que gera riqueza. Em outras palavras, o capital financeiro ou fictício que não gera riqueza não pode se tornar autônomo em relação ao capital produtivo. Embora o capital fictício acompanhe a evolução do capitalismo desde os seus primórdios, a particularidade do seu comportamento no mundo de hoje está no seu dinamismo, no seu peso específico dentro do capital financeiro em geral e na sua capacidade de penetrar em todas as esferas da economia. Os principais condutores do capital fictício são os títulos de dívida pública, os títulos de dívida de qualquer natureza, as ações negociadas nas bolsas e a própria moeda de crédito emitida pelos bancos sem um lastro nos depósitos respectivos. A Figura 4 mostra que os ativos financeiros superam amplamente o PIB mundial de 1980 a 2006. Figura 4- Ativos financeiros globais em porcentagem do PIB mundial
  • 23. 23 Fonte: CHESNAIS. François. As dívidas ilegítimas - quando os bancos fazem mão baixa nas políticas públicas. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012. Nenhum outro setor da economia pode ostentar taxas de retorno tão elevadas, nem mesmo qualquer uma das maiores empresas do setor produtivo podem sequer igualar os lucros recordes do sistema financeiro. Os bancos conseguem os seus maiores lucros de sempre facilitando a concentração e centralização do capital (operações que designam por "fusões e aquisições"), cobrando taxas lucrativas de "assessoria" e subscrevendo os financiamentos das fusões e aquisições. A segunda fonte de lucros está na especulação em geral, inclusive sobre a negociação da dívida dos países e apostando nos mercados mundiais de valores, sobretudo em energia onde o Goldman e o Morgan têm feito fortuna nos últimos tempos. Além de desenvolverem as suas atividades especulativas, os bancos são cada vez mais importantes acionistas em setores não bancários. Eles têm desempenhado o principal papel na redução dos custos de mão de obra e na redução de investimentos de longo prazo na pesquisa científica e tecnológica, como forma de maximizar os lucros a curto prazo. Por último, a fonte mais lucrativa e a mais dinâmica dos seus lucros especulativos está na sua expansão no estrangeiro, particularmente na Europa e especialmente na Ásia. É, pois, um processo logicamente estruturado a partir da lei do valor e da produção mercantil sob o comando do capital em geral. Acontece que, no estágio atual de "desenvolvimento" do capitalismo, é o capital financeiro que expressa a fusão das frações dominantes dos capitais industriais, agrícolas, comerciais e bancários, e que orienta e submete a lucratividade dos capitais como um todo. Em sua essência, o capital financeiro incorpora todos os capitais, embora se distinga de todos. Ele não pode, por razões estruturais e relativas à lógica de sua reprodução e dos capitais em geral, se achar blindado às crises. Em sua configuração completa, o processo de valorização do capital incorpora a presença da categoria dinheiro, que representa a forma mais geral da riqueza, apresentando, por isso, a possibilidade do surgimento de dificuldades quando da passagem do valor da forma mercadoria para a forma dinheiro no âmbito do circuito do capital (D-M-D'). Ao mesmo tempo, este movimento de valorização, por se manifestar como lucro (ou juros), no plano da circulação, tendo em vista a existência do crédito e do capital de empréstimo, cria a ilusão da extração de mais valor do dinheiro em si mesmo (D - D'). Evidentemente, em termos práticos, semelhante resultado equivaleria à desnecessidade da atividade produtora de mercadorias, o que contrariaria totalmente e contraditoriamente, a lei do valor, a qual demonstra que a produção de mais- valor somente ocorre em atividades diretamente produtivas, portanto, nos setores industriais e agrícolas. A negação da esfera da produção aparece como a base sobre a qual emerge o "capital financeiro ou fictício" e introduz a possibilidade de autonomização das finanças. No entanto, mais uma vez, trata-se de um processo contraditório. Se o ideal do capital financeiro é o "desprezo" total e absoluto pelos processos produtivos e mesmo pela comercialização de mercadorias, ele também se origina nos referidos setores, sem
  • 24. 24 conseguir, por isso, se emancipar realmente dos mesmos. Suas múltiplas naturezas são mais que ambiguidades. Sua independência aparente perdura durante certo tempo em função de seu ciclo particular de lucratividade bem mais curto que o dos outros capitais. Mas, em decorrência de seus vínculos com as demais formas concretas do capital, ao esbarrar com as crises dos setores produtivos e comerciais, o capital financeiro também acaba por transmitir àquele as consequências de seus colapsos. Trata-se, pois, de uma simbiose explosiva. Por conseguinte, a dominação do capital financeiro, que se acha, por sua vez, dominado pelo fetiche do lucro imediato, é dependente da produção de mercadorias e das contradições imanentes da extração da mais-valia e de sua repartição entre as frações do capital no processo permanente e infinito da busca pela valorização do capital como motor da acumulação. François Chesnais (2011), professor emérito da Universidade de Paris 13, constata que o funcionamento da economia mundial desde o início dos anos 2000 se baseou em dois pilares: o regime de crescimento guiado pela dívida, adotado pelos Estados Unidos e pela Europa, e o regime de crescimento orientado por exportações globais, no qual a China é a principal base industrial e o Brasil, a Argentina e a Indonésia são os provedores-chave de recursos naturais. No seu entendimento, a crise representa o beco sem saída, o impasse absoluto do regime guiado pela dívida. Chesnais (2011) afirma que o segundo pilar está levemente melhor, mas o crescimento baseado em exportações globais não poderá funcionar por muito tempo sem uma forte demanda externa, especialmente dos Estados Unidos e da União Europeia. Isto significa dizer que a demanda de commodities da China não terá capacidade de compensar a queda na demanda dos Estados Unidos e da União Europeia. O sistema financeiro mundial está apresentando prejuízos em uma escala que ninguém jamais previu. O sistema capitalista mundial está quebrado e não se sabe o que irá substituí-lo. A atual crise é um produto de mudanças que vêm acontecendo no Ocidente há vários anos. Há meio século, a atividade bancária parecia ser uma arte relativamente simples. Os bancos passaram por um processo de transformação em sua atividade principal, deixando para trás sua função clássica de intermediário entre os poupadores e os emprestadores. Beneficiando-se da abertura da economia mundial a partir da década de 1990, estas instituições se transformaram em grupos financeiros diversificados e em conglomerados cujos lucros provêm principalmente da criação de crédito, que se converteu no principal meio de criação de moeda. Neste processo, os Bancos Centrais dos países perderam completamente o controle. Os valores das transações mundiais citados por Chesnais (2011) ilustram a dimensão do setor financeiro: em 2002, o PIB mundial era de 32,3 trilhões de dólares, enquanto as transações financeiras somavam 1.140,6 trilhões de dólares. No início da crise, em 2008, enquanto o PIB mundial era de 60,1 trilhões, as movimentações financeiras atingiam 3.628 trilhões de dólares. Chesnais (2011) afirma que, a partir da década de 1980, diminui a participação dos salários na constituição do PIB e aumenta a isenção fiscal sobre os setores de maior renda. As reduções da taxa de impostos sobre os rendimentos mais altos entre 1986 e 2007 nos
  • 25. 25 dão uma noção dessas medidas: na França, reduziu-se de 65% para 40%; na Inglaterra, de 60% para 40%; na Itália, de 62% para 43%; nos Países Baixos, de 72% para 52%; na Bélgica, de 72% para 52%. O acesso a empréstimos através da emissão de títulos em mercados especializados tornou-se o instrumento principal de financiamento orçamentário dos países. Os títulos das dívidas públicas tornaram-se parte dos ativos negociados por bancos e fundos de aplicação especulativos (inclusive empresas). Os bancos e fundos de aplicação, servindo-se de um procedimento conhecido como efeito de alavancagem, passaram a realizar empréstimos com valores muito superiores aos seus capitais próprios, aumentando a debilidade do sistema e os riscos de pagamento. O ciclo de expansão e acumulação do capitalismo financeiro mundial esbarrou na imensa crise financeira global e na desaceleração sincronizada da atividade econômica. É impossível a esta altura saber para onde o sistema capitalista mundial está indo. A grande possibilidade de combinação de colapso financeiro com imensa recessão, se não algo pior como a depressão, certamente mudará o mundo. A partir da eclosão da crise mundial em 2008, os governos em todo o mundo se tornaram reféns do sistema financeiro adotando políticas fiscais e monetárias restritivas favoráveis aos bancos para salvá-los da bancarrota e contrárias aos interesses de suas populações. Este é um momento de início do levante das massas populares em todo o mundo contrárias às políticas de austeridade dos governos e de corte dos benefícios sociais. Chesnais afirma que em 2008, a ameaça às finanças globais veio dos bancos de investimento dos Estados Unidos e das grandes seguradoras. O próximo episódio financeiro maior acontecerá quando um segmento do sistema bancário da Europa entrar em colapso na Grécia, Espanha ou Itália que está em curso. Segundo François Chesnais (2011) não haverá fim para a crise mundial enquanto os bancos e os investidores financeiros estiverem no comando da economia mundial, com os governos adotando políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e para dar sobrevida ao regime guiado pela dívida como vem acontecendo atualmente. Segundo Chesnais, para retomar o crescimento nos Estados Unidos e na Europa, seria preciso o restabelecimento do poder de compra das classes baixas e médias, a recriação e expansão da capacidade dos governos de fazer os investimentos sociais e ambientais necessários e o estabelecimento de um sistema monetário internacional estável, não subordinado ao capital financeiro. As condições para isso vão incluir o cancelamento de boa parte da dívida soberana, considerada ilegítima, assim como de boa parte da dívida doméstica, o restabelecimento de uma taxação correta para a renda das finanças e do capital, o restabelecimento de um verdadeiro controle público do sistema de crédito, um controle restrito dos fluxos de capital e uma luta efetiva contra os paraísos fiscais. Isto significa dizer que os governos deveriam deixar de se subordinar aos ditames do capital financeiro e suspender o pagamento de suas dívidas mesmo que levem alguns bancos à bancarrota cujos recursos que lhes seriam destinados sejam aplicados em investimentos públicos para a retomada do crescimento econômico. Apesar de todos os artifícios para neutralizar a tendência da queda das taxas de lucro do sistema capitalista mundial conforme previsto por Karl Marx (1999) em sua grande obra O
  • 26. 26 Capital, não impedirá a sua derrocada ao longo do tempo porque o custo político e social seria imenso para a humanidade com a sua manutenção. Antes do colapso, o sistema capitalista mundial será arruinado pela depressão econômica durante muitos anos gerando em sua escalada a falência de muitas empresas, a inviabilização econômica dos extremamente endividados Estados nacionais e o desemprego em massa em escala planetária. Diante da existência do caos que já domina a economia mundial que tende a se agravar, é chegada a hora de cada país e a humanidade se dotarem o mais urgentemente possível de instrumentos necessários a terem o controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino a humanidade precisa levar ao fim o sistema capitalista mundial para exercer a governabilidade da economia mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana. 8. Conclusões 8.1- Sobre a taxa de lucro no capitalismo Foi demonstrado que a fonte geradora do lucro do capitalista é o trabalhador. Segundo Marx, o lucro do capitalista resulta da Mais-Valia que provém da diferença entre o valor de um bem ou serviço produzido por um trabalhador e o salário que lhe é pago. Em outras palavras, é o tempo de trabalho que não é pago ou remunerado pelo capitalista. Ficou evidenciado que, quanto mais se desenvolve a acumulação do capital, é mais difícil para os capitalistas elevarem suas taxas de lucro. A queda da taxa de lucro aparece como uma ameaça para o processo de produção capitalista. Se o investimento cresce mais rápido que a força de trabalho empregada na produção, também deve crescer mais rápido que a mais valia extraída dos trabalhadores, que é de onde sai o lucro. Em suma, o crescimento de capital cresce mais rápido do que a fonte de lucro. Baseado no raciocínio de Karl Marx em O Capital a taxa de lucro tenderá a cair no longo prazo, década após década. Ficou demonstrada a inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial. Se for admitido que esta tendência não seja revertida nos Estados Unidos, maior economia mundial, a taxa de lucro deste país que foi de 24% em 1950 e 13% em 2000 alcançará uma taxa de lucro igual a zero em 2059. O mesmo deverá ocorrer também para o Japão, Alemanha e toda a economia mundial. Se considerarmos que a taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo das corporações dos Estados Unidos foi de 32% em 1947 e 13% em 2007 e admitirmos que esta tendência seja mantida nos próximos anos, a taxa de lucro das corporações dos Estados Unidos alcançará zero em 2048. Conclui-se, portanto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e 2059. Em outras palavras, seria o fim do sistema capitalista mundial que não teria condições de sobreviver com taxas zero ou negativas a partir de meados do século XXI. 8.2- Sobre a neutralização da tendência de queda da taxa de lucro
  • 27. 27 Diante da inexorável tendência da queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial que pode levá-lo ao colapso, têm sido implementadas ações neutralizadoras visando sua reversão. A primeira tendência neutralizadora da queda das taxas de lucro explicada por Marx é uma mais intensa exploração do trabalho. A queda dos salários abaixo de seu valor é um dos fatores que serve para contrabalançar uma taxa de lucro cadente. O barateamento de máquinas e equipamentos é também um fator chave no processo de neutralização da tendência de queda na taxa de lucro do sistema capitalista. A China tem sido atualmente uma fonte de mercadorias baratas que inundam o mercado mundial. Estas mercadorias baratas sob a forma de capital constante ajudaram a aumentar a taxa de lucro nas últimas três décadas. O excesso relativo da população economicamente ativa é outro fator neutralizador da queda das taxas de lucro. Podemos ver o crescimento em massa do desemprego em todo o mundo, que agora se tornou uma característica permanente. Isto serviu para rebaixar os níveis salariais e para baratear o custo da força de trabalho além de aumentar o tempo de trabalho excedente, isto é, a mais-valia para os capitalistas. A liberalização do mercado dos países capitalistas periféricos e semiperiféricos, incluindo a privatização dos serviços públicos básicos, também abriu possibilidades para novos investimentos, e todos eles permitiram aumentar a taxa de lucro durante este período. É oportuno observar que as crises sucessivas que afetam o sistema capitalista poderão abrir novas perspectivas de evolução e neutralizar a tendência de queda da taxa de lucro. Ao levar alguns capitalistas à ruína, as crises poderão permitir uma recuperação dos lucros de outros capitalistas. Os meios de produção dos capitalistas arruinados podem ser comprados por outros capitalistas a preços de liquidação, o valor das matérias-primas cairá e o desemprego obrigará os trabalhadores a aceitarem salários mais baixos. A produção voltaria a ser rentável e a acumulação de capital se reiniciaria. Outra iniciativa importante para neutralizar a queda na taxa de lucro é buscar a proteção do Estado como ocorreu com o New Deal na década de 1930, e, mais recentemente após a eclosão da crise de 2008 nos Estados Unidos. Tal interdependência entre os Estados e os grandes capitais tem sido a norma de todo o sistema capitalista mundial durante as primeiras três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial até a era contemporânea. A intervenção do Estado é, entretanto, uma arma de dois gumes porque, de um lado, evitam que os primeiros sintomas da crise se desenvolvam na direção de um colapso absoluto, mas, de outro lado, obstrui a capacidade de alguns capitalistas para que restabeleçam suas taxas de lucros à custa de outros. Isto é o que está acontecendo no sistema capitalista mundial após a crise global de 2008. 8.3- Sobre as dificuldades de recuperação plena da taxa de lucro Ficou demonstrado que, na década de 1990, o crescimento no nível de trabalho improdutivo foi a causa principal que impediu uma recuperação plena da taxa de lucro. O trabalho “improdutivo” evita o aumento da pressão da acumulação de capital para ser ainda
  • 28. 28 mais capital-intensiva. O valor, que de outra forma aumentaria a proporção entre meios de produção e trabalho, é sugado para fora do sistema. A acumulação de capital passa a ser mais lenta. As taxas de lucro são mais baixas por conta do gasto improdutivo. O preço que os países capitalistas centrais pagam por isto é uma lenta acumulação produtiva e um baixo crescimento das taxas de lucro, em longo prazo. O sistema capitalista somente tem conseguido sobreviver nos últimos tempos devido às suas crises recorrentes, ao avanço na pressão sobre as condições trabalhistas e às grandes somas de capital desviadas para o gasto improdutivo. Apesar disso tudo, o sistema capitalista mundial não conseguiu retornar a uma “idade de ouro” como a da década de 1950 e nem conseguirá no futuro. Pode ser que o capitalismo não esteja em crise permanente, mas que esteja em uma fase de crises repetidas, das quais não poderá escapar. E estas, necessariamente, trarão sérias consequências políticas, sociais, além de econômicas. 8.4- Sobre a automação da atividade produtiva e seus impactos A fábrica do futuro se caracteriza por apresentar instalação repleta de robôs e um elevado grau de automação, além de estar devidamente organizada em torno da tecnologia, do computador, que integra, por softwares especialmente desenvolvidos, praticamente todas as atividades. Hoje já existem muitas fábricas do futuro em plena operação, a exemplo dos sistemas denominados produção enxuta, que surgiram no Japão e estão se espalhando por todo o mundo. Nas fábricas do futuro a quantidade de robôs trabalhando no lugar de operários multiplica a cada ano e já há pesquisas que mostram como algumas profissões podem desaparecer por conta disso. É possível imaginar que as fábricas do futuro contarão cada vez menos com a presença de seres humanos na linha de produção. Os seres humanos só supervisionam o trabalho das máquinas ou fazem sua manutenção. Se, de um lado, a automação é positiva para o capitalista porque passaria a enfrentar seus concorrentes de forma mais competitiva haja vista que proporcionaria, entre outras vantagens, o aumento de sua produtividade e a redução de seus custos, de outro lado, seria extremamente negativa para o capitalista porque tende a reduzir a taxa de lucro de seu negócio devido à redução da mais valia e ao aumento da composição orgânica do capital. Além disso, a automação que não acontece apenas na indústria, mas que se espraia pelo comércio e pelo setor de serviços, tende a reduzir a renda à disposição da massa dos trabalhadores excluídos da produção contribuindo, desta forma, para o subconsumo das massas. Haveria, em consequência, queda na demanda de produtos e serviços devido ao aumento do desemprego e a queda na renda dos trabalhadores. A sociedade seria altamente prejudicada porque a automação contribuiria para o aumento do exército de desempregados. 8.5- Sobre a financeirização da economia mundial
  • 29. 29 Diante da queda da taxa de lucro nos setores produtivos, para “sobreviver” às suas próprias contradições, os capitalistas desenvolveram uma gigantesca financeirização da economia, trocando-se o dinheiro diretamente por mais dinheiro e sem passar diretamente pela produção funcionando em bases especulativas. Mas a financeirização da economia está limitada, entretanto, pela economia real produtiva que é a que gera riqueza. Em outras palavras, o capital financeiro ou fictício que não gera riqueza não pode se tornar autônomo em relação ao capital produtivo. A negação da esfera da produção aparece como a base sobre a qual emerge o "capital financeiro ou fictício" e introduz a possibilidade de autonomização das finanças. No entanto, mais uma vez, trata-se de um processo contraditório. Se o ideal do capital financeiro é o "desprezo" total e absoluto pelos processos produtivos e mesmo pela comercialização de mercadorias, ele também se origina nos referidos setores, sem conseguir, por isso, se emancipar realmente dos mesmos. Beneficiando-se da abertura da economia mundial a partir da década de 1990, muitos grupos financeiros se diversificaram e se transformaram em conglomerados cujos lucros provêm principalmente da criação de crédito, que se converteu no principal meio de criação de moeda. Neste processo, os Bancos Centrais dos países perderam completamente o controle. Os valores das transações mundiais ilustram a dimensão do setor financeiro: em 2002, o PIB mundial era de 32,3 trilhões de dólares, enquanto as transações financeiras somavam 1.140,6 trilhões de dólares. No início da crise, em 2008, enquanto o PIB mundial era de 60,1 trilhões, as movimentações financeiras atingiam 3.628 trilhões de dólares. O ciclo de expansão e acumulação do capitalismo financeiro mundial esbarrou na imensa crise financeira global e na desaceleração sincronizada da atividade econômica. É impossível a esta altura saber para onde o sistema capitalista mundial está indo. A grande possibilidade de combinação de colapso financeiro com imensa recessão, se não algo pior como a depressão, certamente mudará o mundo. A partir da eclosão da crise mundial em 2008, os governos em todo o mundo se tornaram reféns do sistema financeiro ao adotarem políticas fiscais e monetárias restritivas favoráveis aos bancos para salvá-los da bancarrota e contrárias aos interesses de suas populações. Segundo François Chesnais não haverá fim para a crise mundial enquanto os bancos e os investidores financeiros estiverem no comando da economia mundial, com os governos adotando políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e para dar sobrevida ao regime guiado pela dívida como vem acontecendo atualmente. Apesar de todos os artifícios para neutralizar a tendência da queda das taxas de lucro do sistema capitalista mundial conforme previsto por Karl Marx em sua grande obra O Capital, não impedirá a sua derrocada ao longo do tempo porque o custo político e social seria imenso para a humanidade com a sua manutenção. Antes do colapso, o sistema capitalista mundial será arruinado pela depressão econômica durante muitos anos gerando em sua escalada a falência de muitas empresas, a inviabilização econômica dos extremamente endividados Estados nacionais e o desemprego em massa em escala planetária.
  • 30. 30 Diante da existência do caos que já domina a economia mundial que tende a se agravar, é chegada a hora de cada país e a humanidade se dotarem o mais urgentemente possível de instrumentos necessários a terem o controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino a humanidade precisa levar ao fim o sistema capitalista mundial para exercer a governabilidade da economia mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana. BIBLIOGRAFIA ALCOFORADO, Fernando. A verdade sobre a formação do lucro no capitalismo. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. ________________________. A inexorável tendência de queda da taxa de lucro no sistema capitalista mundial. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. _______________________. As ações neutralizadoras da tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. _______________________. As consequências da automação industrial sobre a taxa de lucro no capitalismo e sobre a sociedade. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. _______________________. As consequências da automação industrial sobre a taxa de lucro no capitalismo e sobre a sociedade. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. _______________________. O desempenho do sistema capitalista mundial no período recente. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. _______________________. O sistema mundo capitalista rumo à derrocada?. Disponível no website <http://fernando.alcoforado.zip.net>, 2016. CHESNAIS, François. Les dettes illégitime. Quand les banques font main basse sur les politiques publiques. Paris: Editions Raisons d´agir, 2011. __________________. As dívidas ilegítimas - quando os bancos fazem mão baixa nas políticas públicas. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012. DELL- TECNOLOGIAS DO FUTURO. Como serão as fábricas do futuro?. Disponível no website <http://delltecnologiasdofuturo.ig.com.br/para-empresa/como-serao-as- fabricas-do-futuro/>, 2013. EXAME.COM. A era das fábricas inteligentes está começando. Disponível no website <http://exame2.com.br/mobile/revista-exame/noticias/a-fabrica-do-futuro>, 2014. GOUVERNEUR, Jacques e ROELANDTS, Marcel. Capitalismo & Crises Econômicas. Disponível no website <http://www.capitalism-and-crisis.info/pt/Bem-vindo/Novo>, 2014. HARMAN, Chris A Taxa de Lucro e o Mundo Atual. Disponível no website < https://www.marxists.org/portugues/harman/2007/mes/taxa.htm>, 2007. MARX, Karl. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
  • 31. 31 MORETI, Amilcar. A Fábrica do Futuro. Disponível no website <http://ajmoreti.blogspot.com.br/2012/04/fabrica-do-futuro.html?m=1>,2012. NEWS TECMES. Fábrica do futuro. Disponível no website <http://www.tecmes.com.br/2014/07/fabrica-do-futuro/#.VtWUH30rLcc>, 2014. SEWELL, Rob A crise capitalista e a queda tendencial da taxa de lucro. Disponível no website <http://www.diarioliberdade.org/mundo/laboral-economia/42024-a-crise- capitalista-e-a-queda-tendencial-da-taxa-de-lucro.html>, 2013.