A economia capixaba, em 2015, já apresentava um ritmo de desaceleração. Em 2016, essa tendência se agravou e o cenário foi de retração em todos os setores econômicos. O resultado negativo mais expressivo foi apresentado pela indústria extrativa, que sofreu os efeitos do desastre ocorrido em Mariana-MG. Dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) apontam retração de 12,2% do PIB estadual em relação a 2015, pior resultado para esse agregado desde 2009.
Boletim 38 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Análise de conjuntura da economia capixaba
1. ANÁLISE DE CONJUNTURA DA ECONOMIA CAPIXABA
PIB
A economia capixaba, em 2015, já apresentava um ritmo de
desaceleração. Em 2016, essa tendência se agravou e o cenário foi
de retração em todos os setores econômicos. O resultado negativo
mais expressivo foi apresentado pela indústria extrativa, que sofreu
os efeitos do desastre ocorrido em Mariana-MG. Dados do Instituto
Jones dos Santos Neves (IJSN) apontam retração de 12,2% do PIB
estadual em relação a 2015, pior resultado para esse agregado desde
2009. Por sua vez, o último trimestre do ano de 2016, frente ao
terceiro trimestre do mesmo ano, apresentou variação positiva de
1,6%. Já o primeiro trimestre de 2017 houve estabilidade no
acumulado do ano e crescimento de 2,3% em relação ao trimestre
imediatamente anterior.
GRÁFICO 1 - Indicador do PIB Trimestral do Espírito Santo
Fonte: C oordenação de Estudos Econômicos – C EE/IJSN.
Elaboração própria.
Agricultura e Indústria foram as atividades que apresentaram perdas
mais expressivas, no acumulado do ano de 2016. O rompimento da
barragem de Fundão e a posterior paralisação das unidades da
Samarco no Estado surtiram efeito sobre a produção da Indústria
Extrativa, contribuindo para uma queda de 31,0%, a maior dentre os
setores. Numa menor intensidade, a Indústria de Transformação
recuou 1,5%. A retração da Indústria Geral capixaba atingiu 18,8%.
-0.1
0.6
6.0 6.6 6.9
1.4
-1.7
-9.6
-13.1
-13.8
-14.5
-6.9
0.0
-0.1
0.3
2.2
3.3
6.8
3.9
1.9
-1.1
-13.2
-13.5
-13.9
-12.2
0.0
-1.1
3.0 3.3
1.2
-0.8
-1.9
-0.5
-6.7
-3.9 -3.3
-1.5
1.6
2.3
-20.0
-15.0
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
Variação em relação ao mesmo trimestre do ano anterior
Acumulado ao londo do ano / mesmo período do ano anterior
Trimestre contra trimestre imediatamente anterior com ajuste sazonal (%)
2. No primeiro trimestre de 2017, o desempenho da Indústria capixaba
teve incremento de 4,0%, primeiro resultado positivo desde a
tragédia de Mariana-MG. O principal destaque positivo, neste período,
ficou por conta da Indústria Extrativa, que cresceu 6,5%, seguida por
Metalurgia, 5,7% e Fabricação de produtos alimentícios, 4,2%. A
Indústria de Transformação obteve resultado positivo de 1,6%. O
destaque negativo foi observado no segmento de Fabricação de
celulose, papel e produtos de papel, com retração de 9,1%.
A produção de café Conilon caiu expressivamente em 2016, retraindo
32,5%, em relação à produção de 2015. Esse recuo pela produção de
café e por outros produtos agrícolas capixabas foi provocado, em
parte, pela grave crise hídrica que assolou o Estado. Apesar da crise
hídrica, a produção de café Arábica expandiu 27,7%. Segundo
pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica
e Extensão Rural (INCAPER), isso foi possível, pois o cultivo dessa
variedade se dá em regiões acima de 500m de altitude, onde a
temperatura é mais amena e as chuvas foram mais intensas, mais
uniformes e mais bem distribuídas. Ademais, essas chuvas ocorreram
no início de 2016, período de enchimento dos grãos, quando a planta
mais necessitava de água.
No primeiro trimestre de 2017 os resultados na agricultura capixaba
foram, em sua maioria, positivos. No que tange a produção de café a
produção de Conilon expandiu 12,0%, ao passo que a produção de
café Arábica retraiu 11,3%. O fato de as condições climáticas
sinalizarem melhora nos últimos meses teve um efeito positivo sobre
a produção de Conilon no Estado. Já a retração da produção de café
Arábica no Estado decorreu da característica das safras a cada ano
alternadas, um ano de baixas safras, e outro de alta produção.
No que concerne ao comércio exterior capixaba, no ano acumulado
do ano de 2016, as importações retraíram 28,3%, enquanto que as
exportações recuaram 33,6%. As importações foram afetadas, em
parte, pela condição das empresas brasileiras, uma vez que
máquinas, equipamentos e insumos deixam de ser importados pelos
portos capixabas. Por outro lado, como a pauta das exportações do
país se concentra fortemente em commodities, isso torna economia
do estado muito dependente do crescimento da economia mundial.
Apesar da recuperação do crescimento da China, EUA e União
Europeia, principais países importadores de produtos do estado, as
exportações mantiveram resultados negativos, no ano de 2016, e os
portos acabaram por refletir esse cenário de retração do comércio
exterior.
No primeiro trimestre de 2017, o comércio exterior capixaba já
começou a mostrar reação frente à melhora das condições da
economia mundial. Nesse período as exportações tiveram
crescimento de 29,7% e as importações expandiram 12,4%. Em
3. valores monetários, isso correspondeu a um montante de US$ 2,0
bilhões em exportações, US$ 1,0 bilhão em importações.
O minério de ferro, que ocupa a primeira posição da pauta do Estado,
apresentou crescimento no valor das exportações de 56,0%,
atingindo a marca de US$ 523,41 milhões, em relação ao mesmo
período de 2016. No entanto, no tocante ao volume de exportação
houve recuo de 14,8%.
Indústria Capixaba
No acumulado nos quatro primeiros meses de 2017, a indústria
capixaba apresentou um crescimento de 4,8% frente ao mesmo
período de 2016, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal –
Produção Física (PIM-PF) do Instituo Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
TABELA 1 - Produção física industrial por tipo de índice e seções e atividades industriais
(Variação % acumulada em relação à igual período do ano anterior)
Seções e atividades industriais / Mês
Abr/17-
Abr/16
Acumulado
no ano
Acumulado
12 meses
Brasil
1.Indústria geral -4,5 0,7 3,6
2.Indústria extrativa 4,4 7,2 2,7
3.Indústria de transformação -5,7 1,8 -3,7
Espírito Santo
1.Indústria geral 1,4 3,3 -11,2
2.Indústria extrativa 2,9 5,6 -19,8
3.Indústria de transformação -0,2 1,1 -0,5
FONTE: IBGE / Sidra – Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF)
O crescimento da indústria capixaba contou com o aumento de 5,6%
na Indústria Extrativa, no acumulado até abril de 2017, impulsionado
pela fabricação e óleos brutos de petróleo, gás natural e minério de
ferro. Essa expansão coincidiu com a produção recorde da Vale
(cresceu 11,2% no primeiro trimestre), atingindo a marca de 86,2
milhões de toneladas. Outras contribuições importantes para o
resultado positivo da indústria capixaba vieram do setor de
Metalurgia (7,0%) e da Fabricação de Produtos Alimentícios (2,3%).
O primeiro aumento foi puxado por tubos trefilados e aço e bobinas à
quente de aço e aços ao carbono e o segundo por carnes de bovinos
frescas ou refrigeradas.
Um estímulo para o aumento na produção da Indústria Extrativa pode
ter sido o aumento nas vendas de minério de ferro, aço e petróleo.
Segundo coluna do jornal A Gazeta sobre Economia Capixaba, dentre
as 230 empresas que exportaram mais de R$ 100 milhões no
primeiro quadrimestre, cinco operam no Estado. Entre elas estão
Vale, ArcelorMittal, Petrobras, Fibria e Flexibras. O aumento nas
exportações desses itens é reflexo do cenário mais favorável na
4. economia mundial, com aumento no preço das commodities e das
importações chinesas, que aceleraram em 38,1% em fevereiro deste
ano.
Já a reação no preço do petróleo, deve-se à recuperação da demanda
internacional e mudanças no quadro da oferta. A Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (OPEP), fechou acordo de redução de
preços em novembro de 2016, aderindo a produtores independentes,
em especial a Rússia. Dessa forma, abriu-se espaço para que os EUA
expandissem sua produção a partir de fontes não convencionais,
mantendo os preços estáveis.
O principal destaque negativo da indústria capixaba ficou por conta
do segmento de Minerais não-metálicos, com retração 7,4%. O setor
de Fabricação de celulose, papel e produtos de papel também
apresentou um recuo na produção, da ordem de 1,6%, em relação ao
mesmo período do ano anterior.
Comércio Capixaba
O ano de 2016 acumulou declínio de 10,6% no volume de vendas do
varejo restrito, com destaque para Eletrodomésticos que recuou
34,2%. No varejo ampliado, o desempenho do comércio também não
foi satisfatório, com retração de 15,0%. O destaque, no varejo
ampliado, ficou por conta do segmento Veículos, motocicletas, partes
e peças, com retração de 23,4%.
No que diz respeito à receita nominal, no acumulado de 2016, a
retração foi mais suave do que no volume de vendas. O varejo
ampliado retraiu 0,4%. Já o varejo restrito teve contração de 7,5%.
No varejo ampliado, o segmento que impulsionou tal queda, foi,
novamente, Eletrodomésticos, no varejo ampliado e Veículos,
motocicletas, partes e peças, no varejo restrito, com quedas de
32,8% e 21,2% respectivamente.
No acumulado no primeiro quadrimestre de 2017, de acordo com os
dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do
comércio varejista restrito capixaba apresentou retraiu 11,5%.
Tabela 2 – Volume de vendas no varejo por atividade – Espírito Santo (variação real% em
relação ao mesmo período do ano anterior)
Atividades
Abr/17-
Abr/16
Acumulado
no ano
Acumulado
12 Meses
Comércio Varejista -4,6 -11,5 -11,2
Combustíveis e Lubrificantes -15,7 -14,2 15,6
Hiper., Super., Alim., Beb. E Fumo -13,6 -17,7 -8,1
Supermercados e Hipermercados -12,2 -16,5 -7,7
Tecidos, vestuário e calçados 45,0 5,3 -10,1
Móveis e eletrodomésticos -1,2 -4,9 -19,9
Móveis 21,4 -1,2 -23,9
Eletrodomésticos -16,2 -27,0 -23,9
Artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, de perfumaria e cosméticos
-2,7 0,0 0,2
Outros artigos de uso pessoal e doméstico 27,8 -5,3 -12,5
Comércio Varejista Ampliado -1,7 -5,1 -10,7
5. Veículos, motos, partes e peças 8,0 14,3 -8,6
Material de Construção -25,2 -35,3 -16,9
Fonte: Sidra – Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).
Dentre os setores, observa-se um perfil disseminado de quedas, com
destaque para o subsetor de eletrodomésticos, com contração de
27,0%. Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
bebidas e fumo tiveram, ambos, recuo de 17,7%.
Os resultados positivos foram apurados no segmento de Tecidos,
vestuário e calçados, 5,3%. O setor de Artigos farmacêuticos,
médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos apresentou
estabilidade, após três meses de crescimento. No entanto, a receita
nominal do setor teve incremento de 11,5% no acumulado até abril,
refletindo o aumento nos preços dos produtos desse segmento. A
Grande Vitória vive um boom no comércio varejista farmacêutico,
tendência que é nacional. Nos últimos dois anos foram abertas 334
novas lojas na Grande Vitória. O número de farmácias no Estado é
cinco vezes maior do que o recomendado pela Organização Mundial
da Saúde (OMS).
Já o comércio varejista ampliado, que além do varejo restrito, inclui
Veículos, motocicletas partes e peças e Material de Construção,
também recuou de 5,0%, puxado, principalmente, pelo subsetor
Material de Construção, que retraiu 33,6%.
Em Vitória, o percentual de famílias endividadas, chegou a 69,3%,
em maio, o que corresponde à 88.316 famílias. Já o percentual de
famílias inadimplentes atingiu 42,1%. Famílias que afirmam que não
terão condições de pagar suas dívidas em atraso somaram 4,2%. Os
dados foram divulgados pela Pesquisa de Endividamento e
Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-ES).
Dos consumidores de Vitória entrevistados pela Pesquisa de Intenção
de Consumo das Famílias (ICF), também realizada pela Fecomércio-
ES, 80,2% afirmaram que estão comprando menos. Quanto a
perspectiva de consumo, 79,4% dos entrevistados esperam consumir
menos no segundo semestre deste ano do que consumiram no
segundo semestre do ano passado.
A atividade do comércio é influenciada pela redução do consumo, pelo
desemprego e pelo aumento do endividamento e da inadimplência.
Além disso, a greve da polícia militar teve sua contribuição para o
resultado desfavorável apresentado pela atividade do comércio.
Estima-se que em seis dias de paralisação os prejuízos chegaram R$
180 milhões. Nesse período estabelecimentos permaneceram
fechados e alguns locais foram saqueados.