1. Décio Sena
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LÍNGUA PORTUGUESA
10° SIMULADO PADRÃO ESAF COM GABARITO COMENTADO
DÉCIO SENA
Considere o texto abaixo para responder às questões de 01 e 02.
AS CAUSAS DO DESEMPREGO
O agravamento recente da crise internacional jogou para segundo plano o que até então era o
objeto maior de preocupação: o desemprego. Certamente, após os ajustes que serão feitos, o problema
voltará à tona com maior intensidade.
A destruição de postos de trabalho ou o baixo poder de criação de postos significam subtração de
poder de compra e piora distributiva. Em primeiro lugar, em contextos de alto desemprego compromete-
se o exercício de um poder de compra agregado crescente, o que, dependendo das circunstâncias, resulta
em um menor crescimento do nível de atividade, estagnação ou mesmo recessão. Em segundo lugar,
desemprego elevado é um dos fatores que levam a uma piora distributiva. Por fim, o impacto fiscal do
aumento do desemprego é sempre deletério: cai o consumo privado, aumenta a demanda por seguro-
desemprego, cai a renda tributável e diminuem as contribuições para a Previdência (logo, a arrecadação).
Se a grande maioria concorda que o desemprego é um problema grave, nada garante que as
explicações de suas causas sejam compartilhadas por todos. Pipocam explicações conflitantes e, não raro,
terapias estapafúrdias. Muita gente ainda prefere pensar que o aumento do desemprego decorre de um
aumento do salário real. Para corrigir isso basta que o salário real se reduza e o emprego, como num passe
de mágica, crescerá. Essa idéia, apesar de possuir um apelo muito forte no senso comum, é equivocada. É
como se Keynes nunca tivesse existido.
As verdadeiras causas do desemprego são outras. É um fenômeno decorrente de variações da
demanda agregada (corrente e esperada). O que faz as firmas sustentarem ou aumentarem o número de
trabalhadores que operam suas instalações é a perspectiva de que sobreviverão no mercado e,
provavelmente, expandirão suas atividades. Isto é, que a demanda por sua produção continuará e/ou
aumentará, induzindo ajustes na instalação existente e/ou investimentos em capital fixo. Na realidade,
uma queda do salário real tem um efeito contrário, pois se traduz em queda do consumo, que, se
prolongada, leva a um aumento do desemprego.
[ ... ]
Costuma-se separar as causas do desemprego em estruturais e conjunturais, o que é correto. Mas é
incorreto afirmar que o desemprego é basicamente estrutural e governos não têm responsabilidade nesse
processo. Em primeiro lugar, é óbvio que mudanças estruturais acarretam um abalo nas condições típicas
de criação e manutenção de emprego. Mas governos existem, entre outras coisas, justamente para isso:
procurar mitigar as conseqüências perversas de processos que a sociedade, por própria conta, é incapaz de
enfrentar.
Em segundo lugar, as próprias políticas de governo podem vir a ser um dos focos de criação de
mais desemprego. No caso brasileiro, o desemprego está sendo criado tanto no setor privado, em resposta
às políticas de sustentação dos atuais regimes cambial e comercial geradores de desequilíbrios crônicos
no balanço de pagamentos, como no setor público, em virtude tanto da política de contenção salarial e de
dispensa de funcionários públicos, como das privatizações, que implicam enxugamento do quadro de
funcionários das empresas privatizadas.
Em suma, não basta dizer que o desemprego é estrutural ou tecnológico e ficar por isto mesmo.
No cerne da questão do desemprego estão, não uma globalização mítica, mas opções claras de política
econômica, acompanhadas da timidez das ações governamentais em termos de políticas compensatórias
ativas. Se se pretende um ataque efetivo às verdadeiras causas do desemprego no Brasil, para além da
retórica de praxe, uma correção radical de rumos se impõe.
ROGÉRIO P. DE ANDRADE, O Estado de São Paulo, 16-11-98, com cortes.
Questão 01)
As idéias contidas no trecho podem ser apresentadas como argumentos em favor de determinadas
teses. Indique a letra que apresenta uma tese sustentável com tais argumentos.
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a) Enfraquecimento do poder de compra, bem como má gestão da poupança privada são fatores que conduzem,
inevitavelmente, ao desemprego.
b) Segundo Keynes, salário real reduzido e aumento de níveis de emprego são fatores interdependentes, sendo
inversamente proporcional a relação entre eles: quanto menor o salário, maior será nível de emprego.
c) A manutenção ou mesmo o aumento de trabalhadores em uma empresa traduz a confiança dos seus
dirigentes em que o quadro recessivo tenderá, certamente, para um agravamento de suas condições.
d) Se bem que seja correto afirmar-se que governos não têm responsabilidade no processo do desemprego, é
inevitável que se reconheça que não há possibilidade de se separarem circunstâncias estruturais e
conjunturais, como responsáveis pela sua existência.
e) O desemprego, no caso brasileiro, vem sendo provocado pelo governo, através da adoção de políticas
econômicas inconvenientes, nocivas aos setores público e privado.
Questão 02)
Indique o item em que o vocábulo sublinhado à esquerda faz remissão incorreta à palavra
indicada à direita.
a) “para segundo plano o que até então” (l. 01) → “desemprego” (l. 02);
b) “explicações de suas causas” (l. 13) → “desemprego” (l. 12);
c) “expandirão suas atividades” (l. 21) → “trabalhadores” (l. 20);
d) “que, se prolongada” (l. 24) → “queda do consumo” (ls. 23-24);
e) “e conjunturais, o” (l. 25) → “separar as causas do desemprego” (l. 25).
Nas questões de 03 a 06, marque o segmento do texto que contém erro de estruturação sintática.
Questão 03)
a) Alega-se, e com razão, que Euclydes da Cunha, nos seus ensaios sobre a formação social do Brasil, concede
importância exagerada ao problema étnico, parecendo não ter atinado com a extensão e a profundidade da
influência da chamada “economia agrário-feudal” da vida brasileira.
b) Ou seja: despreza o sistema monocultor, latifundiário e escravocrata na análise da nossa patologia social; e
exalta a importância do processo biológico – a mistura de raças – como fator, ora de valorização, ora de
deterioração regional e nacional.
c) São recentíssimos, aliás, os estudos que vão estabelecendo o primado do fator cultural – inclusive o
econômico – entre as influências sociais e de solo, de clima, de raça, de hereditariedade de família, que
concorreram para a formação da sociedade brasileira, em geral e particularmente, para as suas formas
agrárias ou pastoris, caracterizadas pelo latifúndio, pela exclusividade de produção e pelo trabalho escravo
ou semi-escravo, com todos os seus concomitantes psicológicos de agricultura, sem amor profundo à terra.
d) Não nos deve espantar que a Euclydes da Cunha – a quem faltavam estudos rigorosamente especializados
de antropologia física e cultural, ainda mais que os de geologia, nos quais nos informou uma vez Arrojado
Lisboa, a mim e a Rodrigo Mello Franco de Andrade, ter o autor de Os Sertões recebido forte auxílio
técnico de Orville Derby – impressionasse de modo particular o aspecto étnico, ou ostensivamente étnico,
da geografia humana do Brasil.
e) Nem que, nos seus ensaios, resvalasse como resvalou, em mais de uma página eloqüente, no pessimismo
dos que descrêem da capacidade dos povos de meio-sangue – ou de vários sangues – para se afirmarem em
sociedades equilibradas e em organizações sólidas de economia, de governo e de caráter nacional.
GILBERTO FREYRE, Atualidades de Euclydes da Cunha, Temas Brasileiros, Ed. da Casa do Estudante do Brasil,
com adaptações.
Questão 04)
a) Em Euclydes da Cunha, o pessimismo diante da miscigenação não foi absorvente. Não o afastou, de todo,
da consideração e da análise daquelas poderosas influências sociais, à cuja sombra se desenvolveram, no
Brasil, condições e formas feudais de economia e de vida, já mortas na Europa ocidental; ...
b) Aqueles fazendeiros do sertão, que o escritor conheceu, a usufruírem “parasitariamente as rendas das terras
dilatadas, sem divisas fixas”, eram bem o prolongamento, no espaço e no tempo, dos sesmeiros da colônia.
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Uns e outros, senhores de escravos ou de semi-escravos “perdidos nos arrastadores e mocambos”. Semi-
escravos, os dos sertões, “cuidando a vida inteira, fielmente, dos rebanhos que lhes não pertencem”.
c) Aliás, é possível que o movimento messiânico de Antônio Conselheiro tenha tido alguma coisa da revolta
de oprimidos, entrevista apenas por Euclydes. Foi assim que Canudos ficou para a opinião européia mais
aguçada, no diagnóstico de revoluções exóticas: como revolta de classe oprimida.
d) A resenha do Hachette, de Paris, para o ano de 1897, pode ser considerada típica daquele diagnóstico,
quando faz do Conselheiro – um dos raros sul-americanos que alcançaram, então, fama mundial – curiosa
figura de profeta que pregava “le communisme en même temps que le rétablissement de la monarchie ...”
e) O aspecto “comunista” e ao mesmo tempo “monarquista” encontra-se noutros movimentos do século XIX,
classificados vagamente como surtos de misticismo doentio, entre grupos isolados: sertanejos do Nordeste,
restos de quilombolas, “fanáticos do Contestado”, europeus mal assimilados pela civilização brasileira do
litoral.
GILBERTO FREYRE, Atualidades de Euclydes da Cunha, Temas Brasileiros, Ed. da Casa do Estudante do Brasil,
com adaptações.
Questão 05)
a) O próprio aspecto de sebastianismo político do movimento de Canudos – exagerado na época pelos devotos
da República, mas desprezado hoje pelos estudiosos daquele capítulo dramático da história brasileira – está
a pedir a atenção de algum pesquisador mais pachorrento, que se disponha a acompanhar – tarefa difícil – a
atividade de agentes ou de simples amadores da restauração monárquica no nosso país, nos fins do século
passado e nos começos do atual.
b) Agentes ou amadores a quem a revolta do Conselheiro talvez tenha se apresentado como força de fácil
utilização política. Tais agentes e amadores não só existiram como atuaram, às vezes inteligentemente, a
favor de sua causa.
c) E sua atividade – se não francamente política – de sondagem pré-política das condições brasileiras e de
colheita de dados, para o que pode hoje denominar-se de povoamento ou sociedade planificadas, dentro da
concepção monárquica de reorganização da vida nacional, foi até ao interior do Brasil.
d) Foi até o estudo meticuloso e literalmente germânico de zonas remotas que somente agora estão
interessando de novo aos responsáveis pela política e pela administração do nosso país. E foi até a tentativas
francas ou sutis, no sentido de atrair grandes intelectuais do Brasil para a causa monárquica.
e) Tentativas que alcançaram Oliveira Lima – que chegou a ser convidado pelo Príncipe para ministro das
Relações Exteriores de um possível governo monárquico, que da noite para o dia se estabelecesse no Rio de
Janeiro – e se estenderam, de modo muito vago, ao próprio Euclydes.
GILBERTO FREYRE, Atualidades de Euclydes da Cunha, Temas Brasileiros, Ed. da Casa do Estudante do Brasil,
com adaptações.
Questão 06)
a) Admitido o aspecto vagamente político de Canudos – aquela mistura de “comunismo” com “monarquismo”
– a verdade é que o movimento do Conselheiro foi principalmente um choque violento de culturas: a do
litoral modernizado, urbanizado, europeizado, com a arcaica, pastoril e parada dos sertões.
b) E esse sentido social e amplamente cultural do drama, Euclydes percebeu-o lucidamente, embora os
preconceitos cientificistas – principalmente o da raça – lhes tivessem perturbado a análise e a interpretação
de alguns dos fatos da formação social do Brasil que seus olhos agudos souberam enxergar, ao procurarem
as raízes de Canudos.
c) A mesma lucidez afastou-o da exagerada idealização da atividade missionária e política dos Jesuítas –
organizadores de outros Canudos – na formação brasileira. Idealização a que se entregaram, com toda a
alma, Joaquim Nabuco e Eduardo Prado.
d) A Euclydes foi preciso ter havido o Anchieta – o mesmo Anchieta no qual os historiadores oficiais da
expansão inaciana no Brasil colonial recusam-se a enxergar a figura máxima daqueles dias, do ponto de
vista jesuítico – para que ele, Euclydes da Cunha, se sentisse reconciliado com a Companhia de Jesus.
e) Nas suas viagens de aventura científica, à saudade dos filhos se juntou sempre a dos amigos: “as imagens
dos amigos constantemente evocadas e cada vez mais impressionadoras à medida que se aumentam as
distâncias”.
GILBERTO FREYRE, Atualidades de Euclydes da Cunha, Temas Brasileiros, Ed. da Casa do Estudante do Brasil,
com adaptações.
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Questão 07)
Identifique o item sublinhado que contém erros de natureza ortográfica ou gramatical ou
impropriedade vocabular e marque a letra correspondente.
São tantas as situações que (1) se apresenta (2) na cadeia que uma vida é pouca (3) para
conhecê-las. Essa lição de humildade dada pelos cadeeiros mais experientes ajudou-me a relaxar e a
desenvolver técnicas defensivas para não ser feito de (4) idiota o tempo todo.
Para avaliar a veracidade das queixas subjetivas como náuseas, anorexia, fraqueza ou diarréia,
passei a pesar os pacientes em cada consulta. Dificilmente alguém que refere falta (5) de apetite e cinco
episódios de diarréia por dia ganha peso, ou quem diz estar com escarro e tosse sanguinolenta (6) deixa
de ter alguma alteração na ausculta pulmonar, por exemplo.
A advertência clara que (7) eu não podia contar com meus auxiliares para desmascarar os
farsantes, me (8) tornou mais atento às expressões faciais. Enquanto o doente fala há que olhá-lo direto
nos olhos, mudo, o olhar fixo por uns segundos a mais após o término de cada frase. Nos momentos de
dúvida, deixar cair (9) silêncios, abaixar (10) a cabeça sobre a ficha médica como se fosse escrever e
dar um bote com os olhos na direção dos enfermeiros e quem mais esteja por perto, a fim de surpreender
neles as expressões de descrédito.
DRAUZIO VARELLLA, Estação Carandiru, Companhia das Letras, com adaptações.
a) 1 e 10;
b) 2 e 3;
c) 4 e 6
d) 5 e 8;
e) 7 e 9.
Questão 08)
Leia o texto seguinte e responda à questão abaixo:
O levante integralista está fazendo sessenta anos. Foi um dos mais estrambóticos da História
brasileira, tão cheia de levantes, golpes e “revoluções” estrambólicos. Consistiu duma revolução de
jardim. Para começar, deu-se nos jardins do Palácio Guanabara, de onde surgiram dois caminhões cheios
de rebeldes, graças a cumplicidade de um oficial na portaria. Também consistiu, caso único nos anais
brasileiros, em um levante que foi direto no ponto e procurou alvejar a pessoa do presidente, ou pelo
menos o lugar aonde morava: uma vez no jardim, os revoltosos passaram a metralhar o palácio. Que país
era aquele em que um presidente que mantinha os lápis sempre apontados era arrancado da cama por uma
revolução no jardim?”
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO, Veja, com adaptações.
Com respeito aos vocábulos grifados no texto, não procede a afirmativa:
a) “de”: exemplifica emprego inadequado de preposição, em face da semântica do texto.
b) “a”: caracteriza deslize de emprego de acento grave indicativo de crase.
c) “em”: faz perceber correto emprego de preposição.
d) “no”: indica contração da preposição “em” – exigida pela regência do vocábulo “direto” – com o artigo
definido “o”, antecessor do substantivo “ponto”.
e) “aonde”: traduz incorreto emprego da preposição “a”, uma vez que o verbo da oração em que aparece não
admite seu emprego.
Questão 09)
Identifique o item sublinhado que contém erro de natureza ortográfica ou gramatical ou
impropriedade vocabular, e marque a letra correspondente.
Os uniformes vincados e asseados cobrem os corpos proletários, que são habituados a uma
“perfomance” emocional com os clientes e com a instituição. As diversas cores diferentes dos uniformes
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listrados (1) sugerem diferenças de função. As vestimentas padronizadas parece fazerem desprender
(2) nos funcionários os humores de uma farda, deixando alguns com o sentimento de uma débil auto-
estima. (3) Outras vezes, estas vestes, com seu (4) apelo e encantamento, podem lembrar a caracterização
comum, no cinema e na televisão, de um presidiário. De um desses jovens, que se vestia de vermelho e
cuja tarefa era escorrer e limpar as mesas, recolher bandejas e papéis, a quem perguntei se havia
diferenças entre quem se veste de uma cor e quem se veste de outra, a resposta veio em tom respeitoso e
orgulhoso: “Ah! tem (5) diferença sim!”
JOSÉ MOURA GONÇALVES FILHO, Olhar e memória, O Olhar, Companhia das Letras, com adaptações.
a) 1;
b) 2;
c) 3;
d) 4;
e) 5.
Questão 10)
Indique o período com pontuação incorreta.
a) O lançamento de uma segunda biografia de Clarice Lispector, “Eu Sou Uma Pergunta – Uma Biografia”, de
Teresa Cristina Monteiro Ferreira, publicada apenas quatro anos após a de Nádia Batella Gotlip, “Clarice –
Uma Vida Que Se Conta”(Ática, 1995), recoloca em pauta questões sobre o gênero biografia e nos força a
encarar o “problema” específico de qualquer biografia de Clarice.
b) Em linhas gerais, o “problema” com o qual toda a biografia – ou, no fundo, toda a crítica – de Clarice se
depara é o seguinte: Clarice não cessa de se criticar, ou de se biografar em seus próprios textos.
c) No caso específico da biografia, como demonstram os dois livros até agora publicados, o “problema” se
desdobra na estratégia de introduzir os textos biográficos de autoria da própria Clarice numa narrativa que
se quer o arrolamento de fatos importantes de uma vida.
d) Impressiona, deste modo, inicialmente, um dado de semelhança entre as duas: ambas perscrutam de perto o
texto de Clarice, reduzido freqüentemente à confirmação da informação biográfica – ou simplesmente a
substituindo.
e) A biografia suplementa o dado obtido na investigação do pesquisador com o que nos conta sobre sua vida, a
própria autora; ou então ocorre o inverso: é o texto que suplementa alguma lacuna do dado, algo que o
pesquisador não conseguiu obter pelas vias do fato.
Folha de São Paulo, 05-09-99, com adaptações.
GABARITO COMENTADO
QUESTÃO 01
GABARITO: E
Comentário:
Para entendimento da resposta, releia-se a passagem de texto compreendida entre as linhas 28 e
36:
“Mas os governos existem, entre outras coisas, justamente para isso: procurar mitigar as
conseqüências perversas de processos que a sociedade, por conta própria, é incapaz de enfrentar.
Em segundo lugar, as próprias políticas de governo podem vir a ser um dos focos de criação de
mais desemprego. No caso brasileiro, o desemprego está sendo criado tanto no setor privado, em
resposta às políticas de sustentação dos atuais regimes cambial e comercial geradores de desequilíbrios
crônicos no balanço de pagamentos, como no setor público, em virtude tanto da política de contenção
salarial e de dispensa de funcionários públicos, como das privatizações, que implicam enxugamento do
quadro de funcionários de empresas privatizadas.”
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QUESTÃO 02
GABARITO: C
Comentário:
Quando se lê o fragmento contido nas linhas 18 a 21:
“As verdadeiras causas do desemprego são outras. É um fenômeno decorrente de variações da
demanda agregada (corrente e esperada). O que faz as firmas sustentarem ou aumentarem o número de
trabalhadores que operam suas instalações é a perspectiva de que sobreviverão no mercado e,
provavelmente, expandirão suas atividades.”
percebe-se que o pronome sublinhado faz alusão às atividades das firmas.
QUESTÃO 03
GABARITO: C
Comentários:
Há mau emprego de acento grave em “... sem profundo amor à terra.” fragmento que finaliza o
item “c”. Diante das palavras casa, terra e distância só se deve empregar este acento quando tais
substantivos surgem com alguma determinação.
Desta forma, comparem-se as exemplificações:
Meses após terem embarcado para a viagem de instrução, os guardas-marinhas, tendo o navio-
escola aportado, puderam ir a terra.
Meses após terem embarcado para a viagem de instrução, os guardas-marinhas, tendo o navio-
escola aportado, puderam ir à terra natal.
QUESTÃO 04
GABARITO: A
Comentário:
Há impropriedade de utilização de acento grave indicativo de crase na passagem da alternativa
“a” “Não o afastou, de todo, da consideração e da análise daquelas poderosas influências sociais, à cuja
sombra se desenvolveram ... ”.
Não se admite acento grave diante do pronome relativo cuja(s), por não ser possível encontrar-se
o artigo definido a(s) diante dele. Sendo assim, o “a” que o antecede é, apenas, preposição.
QUESTÃO 05
GABARITO: C
Comentário:
Há erro de colocação pronominal na passagem da alternativa “c” “ ... para o que pode hoje
denominar-se de povoamento ... ”, já que o advérbio “hoje” provocaria a próclise do pronome
relativamente à forma verbal “denominar-se”. Na verdade, como a locução verbal “pode denominar”
sofre a intercalação do advérbio, estariam gramaticalmente corretas as situações:
1. ... para o que se pode hoje denominar de povoamento ... (próclise motivada pelo pronome
relativo “que”.
... para o que pode hoje se denominar de povoamento ... (próclise motivada pelo advérbio
“hoje”.
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QUESTÃO 06
GABARITO: B
Comentário:
Ocorreu deslize de concordância nominal em passagem da alternativa “b”.
Note-se a utilização do pronome pessoal oblíquo átono “lhes” no fragmento “E esse sentido
social e amplamente cultural do drama, Euclydes percebeu-o lucidamente, embora os preconceitos
cientificistas – principalmente o da raça – lhes tivessem perturbado a análise e a interpretação de alguns
dos fatos da formação social do Brasil que seus olhos agudos souberam enxergar, ao procurarem as
raízes de Canudos.”
O pronome tem como referente “Euclydes”. Em verdade, apesar de ser pronome pessoal o
pronome oblíquo a que se faz menção indica, semanticamente, posse. Tal como se se tentasse dizer que os
preconceitos cientificistas tivessem perturbado a análise e a interpretação de Euclydes, sua interpretação.
Sendo alusivo a Euclydes, deveria ter sido utilizado em terceira pessoa do singular. O texto retificado
apontaria: “E esse sentido social e amplamente cultural do drama, Euclydes percebeu-o lucidamente,
embora os preconceitos cientificistas – principalmente o da raça – lhe tivessem perturbado a análise e a
interpretação de alguns dos fatos da formação social do Brasil que seu olhos agudos souberam enxergar,
ao procurarem as raízes de Canudos.”
Saliente-se que pronomes pessoais oblíquos átonos quando têm valor semântico tradutor de posse
desempenham função de adjunto adnominal.
QUESTÃO 07
GABARITO: E
Comentário:
Vejam-se as diversas passagens em negrito no texto:
que – Correto. Pronome relativo corretamente utilizado em função de sujeito da forma verba “se
apresenta”.
apresenta – Incorreto. A forma verbal “apresenta” tem como por sujeito o pronome relativo
anteriormente citado, o qual, semanticamente, vale por “situações”. Desta forma, observa-se erro de
concordância verbal a ser retificado com a modificação para se apresentam.
Pouca – Correto. Utilizou-se o pronome indefinido flexionado em feminino, concordando com o
substantivo “vida”.
feito de – Correto. Expressão equivalente a “tomado como”.
refere falta – Correto. O verbo “referir” (não pronominal) significa narrar, relatar, contar, expor
de viva voz.
sanguinolenta – Correto. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, edição de 1998, apresenta os dois vocábulos com variação no emprego do trema:
sanguinolento e sanguinolento.
clara – Incorreto. Há deslize de regência nominal. O substantivo “advertência” impõe a presença
de uma preposição “de” regendo a oração completiva nominal “que eu não podia contar com meus
auxiliares”. Desta forma, retifique-se o texto para A advertência clara de que eu não podia contar ...
me – Incorreto. Não há palavra de atração para o pronome pessoal oblíquo átono “me”. A
próclise seria recomendável.
deixar cair – Incorreto. O sujeito de “cair” é o substantivo “silêncios”. Retifique-se o texto para
deixar caírem silêncios
abaixar - Correto. “Abaixar” é variante gráfica para “baixar”.
O enunciado solicita que se aponte o item que contém erros. O duplo erro só ocorre no item e).
QUESTÃO 08
8. Décio Sena
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GABARITO: D
Comentário:
Na passagem textual “ ... em um levante que foi direto no ponto e procurou alvejar a figura do
presidente, ... ” observa-se deslize de regência, uma vez que o verbo “ir” – da forma “foi” – solicita a
preposição “a”. A passagem retificada apontaria: “ ... em um levante que foi direto ao ponto e procurou
alvejar a figura do presidente, ... ”. A afirmativa está flagrantemente equivocada. Todas as demais estão
corretas.
QUESTÃO 09
GABARITO: E
Comentários:
Não é correta, segundo o uso culto formal, a substituição do verbo HAVER – significando existir
pelo verbo TER. Este fato, embora venha se constituindo freqüente e tolerado por gramáticos
contemporâneos ainda não está validado pelo uso clássico da língua. Em uma prova de língua portuguesa,
deve-se privilegiar este nível de linguagem. O correto seria, então, “Ah! Há (ou Existe) diferença sim! “
Nos demais itens não há deslizes,
Chama-se a atenção para o substantivo “listra”, formador do adjetivo “listrado”, bem como para a
estrutura que se origina do emprego do verbo PARECER seguido de formas verbais no infinitivo.
QUESTÃO 10
GABARITO: e
Comentários:
Observe-se a passagem sublinhada no item e) da questão:
A biografia suplementa o dado obtido na investigação do pesquisador com o que nos conta sobre
sua vida, a própria autora; ou então ocorre o inverso: é o texto que suplementa alguma lacuna do dado,
algo que o pesquisador não conseguiu obter pelas vias do fato.
Note-se que a expressão “a própria autora” é o sujeito da forma verbal “conta”. A vírgula
destacada em negrito está, deste modo, separando o sujeito do predicado, o que é intolerável.