2. 2
Teoria da Montagem
> O que é a edição de um filme (film
editing)?
É a arte de contar histórias (storytelling) através da junção
de um ou mais planos (shots) que, juntos, formam uma
sequência (sequence). Através da junção das sequências
forma-se o filme.
A edição de um filme é o momento em que o cinema se
separa de outro tipo de artes que o precederam, como a
fotografia, o teatro ou a dança.
Contudo, a arte de editar um filme é, muitas vezes, uma
arte invisível, já que, através da edição é possível que o
espectador fique tão imerso na narrativa fílmica que não
nota o trabalho do editor.
3. 3
Teoria da Montagem
> O que é a edição de um filme (film
editing)?
- um único take (cada plano é separado de todos os outros no
tempo e no espaço)
No seu nível mais fundamental, a edição de um filme é a
arte, técnica e prática de juntar estes planos num todo
coerente.
Contudo, o trabalho de um editor não é um trabalho puramente
mecânico de juntar pedaços, ou editar diálogos. Um editor
trabalha com diferentes camadas: a história, a música, o
ritmo, as actuações dos actores e com isso ele passa por um
trabalho de re-escrever o filme, quase como se fosse uma nova
realização.
O conceito fundamental da edição é, por isso, a
CONTINUIDADE (Raccord)
4. 4
Teoria da Montagem
> O que é a edição de um filme (film
editing)?
O grande objectivo é tornar essa infinitude de possibilidades
num todo criativo e coerente.
A edição de um filme é, em conclusão, uma arte que pode ser
usada de diversas formas:
• Criar montagens sensuais e
provocativas
• Ser um laboratório experimental
• Criar um ponto de vista em situações
estranhas
• Guiar no ritmo da história
• Criar a ilusão de perigo onde não há
nenhum aparente problema
• Criar surpresa quando ninguém o
espera
• Criar um estado emocional de ligação
com o espectador.
5. 5
Teoria da Montagem
> Questões relevantes a colocar antes
de editar um filme:
1. Género: este filme preenche as expectativas de um género
particular?
2. personagens: os personagens são memoráveis? São
carismáticos?
3. estrutura: cria suspense? Qual é a grande questão sobre a
qual os espectadores vão
ponderar ao longo do filme?
4. tema: acerca de que é realmente o filme?
5. resolução: o filme satisfaz até à última cena?
6. 6
Teoria da Montagem
> Questões relevantes a colocar antes
de editar um filme:
6. momentos: existem (pelo menos) 4 ou 5 momentos
memoráveis? [pensar na construção de um trailer]
7. história: o ponto em que o protagonista é obrigado a
resolver o seu conflito interior de
forma a conseguir solucionar a situação (conflito exterior) em
que está envolvido.
8. novo: uma nova perspectiva é apresentada sobre a condição
humana?
9. personagens secundários: devem reflectir os conflitos dos
protagonistas
7. 7
Teoria da Montagem
> Conceitos Fundamentais – A
Informação pela Imagem:
O espectador quer primeiro entender ‘onde’ e ‘com quem’ se
passou ‘o quê’ ou ‘como’, e ‘porquê’. Então:
1) Onde: plano geral estático, demorado, onde se possa
perceber a geografia do lugar
(pode iniciar-se por movimento de câmara).
2) Quem: plano mais próximo (mas ainda geral) das
personagens envolvidas;.
3) O Quê / Como: planos médios, próximos dos objectos
relevantes, grandes planos de
cada personagem.
4) Porquê: planos de pormenor.
8. 8
Teoria da Montagem
> Pequena história:
Os primeiros filmes da história eram uma espécie de
reportagem de acontecimentos sociais:
- filmes de família / documentários sociais
(componente social que permite a identificação do
espectador)
- Irmãos Lumière – Filmes-Plano: Tudo é filmado num único
plano.
10. 10
Teoria da Montagem
> - George Meliès: Voyage Dans La
Lune – 1902:
A importação da estrutura narrativa do teatro:
- o conceito de narrativa
- cenas estáticas filmadas
- efeitos especiais
- ainda não há a ideia de sequência, mas apenas
quadros-plano
12. 12
Teoria da Montagem
O primeiro filme que o usa o conceito de plano e de
corte é, por isso, um filme histórico:
The Great Train Robbery, de Edwin S. Porter, 1903
- Porter desenvolve o conceito de continuidade
(continuity editing), desenvolvendo narrativas
paralelas.
- contudo, tudo é ainda insípido, já que não há ainda
a ideia de paralelismo temporal (as acções paralelas
começam quando as outras já acabaram, como se
tivéssemos dois pontos de vista da mesma cena)
14. 14
Teoria da Montagem
> Pequena história:
Dois momentos chave:
1 – Cinema Clássico
D.W. Griffith – um realizador norte-americano que
solidificou o sistema narrativo (e a quem chamam o inventor
de Hollywood), que sistematizou e inventou novas formas de
intensificar e contar histórias através do cinema. Exemplo:
Intolerance. Conceito de accelerated montage (montagem de
sequência de planos que são cada vez mais curtos, criando
suspense e emoção).
Regra dos 180º.
- escala dos planos (começaram a fazer-se mais planos do
que apenas os planos-quadro)
- multiciplicidade dos ângulos de vista
16. 16
Teoria da Montagem
> Pequena história:
Dois momentos chave:
2 – Teoria Soviética de Montagem
Kulleshov Efect – a capacidade do filme criar sentido, isto é,
de ter uma característica de significado. Teorizou, por isso,
os dois valores do plano:
A – que cada plano tem um valor intrínseco enquanto
representação da realidade;
B – que cada plano ganha significado quando colocado em
relação com outros planos.
Exemplo: Kuleshov Effect – October – 22m25
18. 18
Teoria da Montagem
> Pequena história:
Dois momentos chave:
2 – Teoria Soviética de Montagem
Sergei Eisenstein – realizador soviético que teorizou num
sentido completamente diferente de Griffith, ao teorizar uma
consciência intelectual da montagem: cada plano serve para
entrar em conflito com o próximo, criando um terceiro
significado.
Montagem Dialéctica (intelectual) – Teoria Marxista
Tese vs Antítese = Síntese
Exemplo: O Couraçado Potemkine (sequência das escadas de
Odessa) – 47 min
19. 19
Teoria da Montagem
> Cinema clássico americano
A institucionalização das regras, mas a constante reinvenção
técnica do cinema e dos códigos do enquadramento.
Case Study:
Orson Welles e o seu “Citizen Kane” (O Mundo a seus Pés)
- levar os códigos cinematográficos ao limite (com ligações
aos clássicos do cinema mudo)
(ver sequência do News on The March)
- a montagem através da profundidade de campo (ver a
sequência da infância de Kane)
20. 20
Teoria da Montagem
> Pequena História
NOUVELLE VAGUE:
- ruptura provocada por um conjunto de cineastas franceses no
final da década de 50 e na década de 60.
- esse grupo começou na revista Cahiers du Cinéma, através
da recuperação de clássicos como Hitckcock ou Ford.
Inventou a política dos autores (o realizador como entidade
máxima do filme).
- Autores: Jean Luc Godard, Alain Resnais, François Truffaut
ou Éric Rohmer, entre outros.
Case Study: A Bout du Souffle / O Acossado / Breathless de
Jean Luc Godard:
- A ruptura: a montagem como criação de um caos narrativo.
A invenção contra as regras.
- Os efeitos de montagem: a invenção dos jump cuts.
- Colagem e citação de outros filmes (famosa sequência dos
lábios e imitar Bogart)
- Câmara à mão
- Quebra da regra dos 180º.
21. 21
Regras da Montagem
> A edição serve a diversas funções:
manipulação do tempo;
criação de um sentido do espaço, assegurando a continuidade
(embora o oposto também seja verdadeiro);
fornecimento de ponto da vista;
ou simplesmente revelação de objectos importantes ao filme.
22. 22
Regras da Montagem
> Alguns dos tipos básicos de cortes
incluem:
• Match cut
• Jump cut
• Cutaway
• Cut-ins
• Cross cutting
• POV shots
23. 23
Regras da Montagem
> Um Match cut configura a
continuidade da acção mostrando o
seu começo num plano e o seu
prosseguimento no plano seguinte.
24. 24
Regras da Montagem
> Um Jump Cut ocorre quando dois
planos são mal combinados no espaço
ou no tempo quanto à continuidade
da acção. A transição entre os dois
planos sente-se assim abrupta ou
inábil, pois o corte interrompe o fluxo
da acção e obriga a pausar um
momento para perceber o que
aconteceu entre os planos 1 e 2.
Segundo a linguagem clássica do
cinema, muitos realizadores e críticos
sentem que Jump Cuts são erros a
evitar, mas outros realizadores
incorporam-nos como dispositivos
estilísticos (por ex: Godard, Au Bout
de Souffle).
25. 25
Regras da Montagem
> Os Cutaways fornecem uma
perspectiva maior sobre eventos de
uma cena, temporariamente dirigindo
a atenção para longe da acção
principal. Fornecem comentário à
acção principal ou oferecem sugestão
de alguma mudança que vai ocorrer.
> Um Cut-in trabalha similarmente a um
cutaway pois é um plano de
deslocação momentânea da acção
principal, mas difere do anterior pois
descreve geralmente em close-up um
objecto presente no enquadramento e
importante à acção principal.
26. 26
Regras da Montagem
> O Cross-cuting faz exame de dois
planos diferentes, mas de algum
modo relacionados, através da
contínua interpenetração de ambos
numa sequência mais longa. Esta
técnica cria o sentimento de
simultaneidade de duas acções
diferentes que ocorrem em espaços
distintos, e trabalha também para
construir suspense.
> Um plano de ponto-de-vista (POV)
oferece um perspectiva na primeira-
pessoa da acção em cena.
27. 27
Técnica da Montagem Corrente
> 1. Ordem dos planos: os planos
devem suceder-se tendo em atenção
o cenário, isto é, se num qualquer
plano está, por exemplo, um retrato
em cima duma mesa, o plano
seguinte (que poderia ter sido filmado
semanas antes, ou depois, do
anterior) deve mostrar que o retrato
continua no mesmo sítio, pois doutra
forma o espectador sentiria que o
retrato tinha desaparecido
‘milagrosamente’.
28. 28
Técnica da Montagem Corrente
> 2. Selecção de distâncias:
a) Escala: é necessário variar a distância da câmara ao objecto,
isto é, passar (por exemplo) de plano geral a grande plano
quando na cena haja alguma coisa que deve ser vista mais
perto. Geralmente, dispomos durante a montagem de diversos
planos duma mesma cena, daí a necessidade de, na escolha
dos planos, jogar com a escala adequada. É através do PG que
se dá a geografia do lugar e através do GP que se dão as
emoções.
b) Ângulo: ainda porque dispomos de diversos planos com
diferentes tomadas de vista (em diferente ângulos), temos que
fazer variar, de plano a plano, o ângulo pelo qual se vê o
objecto filmado, de modo a manter a fluidez visual.
c) Direcção: deve-se ter em atenção durante a montagem a
direcção que os actores tomam de plano para plano, de modo a
não se movimentarem para o lado contrário ao do anterior.
29. 29
Técnica da Montagem Corrente
> 3. Minutagem: Na montagem é
essencial olhar ao tempo de cada
plano. A minutagem será o
tratamento de tempo em cada plano
que se projecta, um factor métrico. A
minutagem está directamente
relacionada com o ritmo e, nesta
operação, há que fazer os cortes do
plano, logo que o resto (antes e
depois) seja dispensável.
30. 30
Técnica da Montagem Corrente
> 4. Fluidez: É o cuidado a ter na
ligação dos planos, de forma a tornar
despercebidos os cortes. Na ligação
dos planos, consideraremos o corte
mecânico e o corte dramático. O corte
dramático é também designado por
dois terços, pois dá-se a dois terços
de um gesto ou de um movimento do
actor. O corte mecânico é feito no fim
do gesto ou do movimento do actor.
O corte mecânico é mais simples de
praticar mas anula o efeito emocional.
31. 31
Algumas Regras da Montagem
1) Só se corta uma panorâmica depois de ela terminar.
2) Se se corta durante a panorâmica, o plano só é ligável a
outra panorâmica, também já em movimento, à mesma
velocidade e para o mesmo lado da anterior.
3) A uma panorâmica à esquerda não pode seguir-se outra à
direita (e vice-versa); se o fizesse, estava a praticar uma
tesoura.
4) Só se corta um travelling depois de ele terminar.
5) Um travelling não liga com outro, a não ser que seja no
mesmo sentido.
6) Só se corta o movimento de grua depois de ele acabar.
7) Um movimento de grua não deve ser seguido de outro no
sentido inverso, a não ser que tenha decorrido algum tempo de
permanência (o suficiente para o espectador ter esquecido o
anterior).
32. 32
Algumas Regras da Montagem
8) Nenhum corte pode ir contra a regra dos 180º.
9) Após o corte, a linha de olhares tem que se manter correcta.
10) Após o corte, o sentido de direcção tem que se manter.
11) Em nenhum caso se deve cortar entre câmaras que
ofereçam praticamente o mesmo enquadramento (regra dos
30º).
12) Ao cortar durante um conversa telefónica entre dois
actores, deve proceder-se de modo a que um deles pareça
olhar para a direita do ecrã e o outro para a esquerda, como se
estivessem virados um para o outro.
13) Uma cortina é entendida como uma mudança de cena.
14) Um encadeado é entendido como uma passagem de tempo
(excepto nos musicais e vídeo-clips onde se lê como efeito
estético-formal).
15) Quando surge um assunto totalmente novo, só alguns
segundos depois o espectador tem a sua atenção total
concentrada nele. Por isso, o novo assunto deve surgir em
plano geral fixo.
33. 33
Algumas Regras da Montagem
16) Após a introdução de uma nova cena, deve dar-se o mais
depressa possível um plano geral da mesma (o PG dá a
geografia do lugar), a não ser que, propositadamente, se
pretenda dificultar uma leitura rápida do espaço, diferindo, por
isso, no tempo, o plano
geral.
17) Logo após a entrada em cena de um novo personagem de
certa importância no contexto da narrativa, ou após a volta de
um personagem que não é visto há algum tempo, deve usar-se
o grande plano; instintivamente, o espectador quer ver como é
esse novo personagem, ou confirmar quem é o personagem
que retorna (que pode não ser reconhecido no plano geral).
18) Os cortes fazem-se no lugar certo e no tempo certo: se é
feito antes, dá-se um sentimento de insatisfação; se é feito
depois, surge o aborrecimento e a impaciência
por um quadro novo.
19) Um corte dramático (num momento emocional) vale mais
do que um corte mecânico.
20) As ligações devem ser harmoniosas (racords de acção, de
elementos fixos e técnicos).
34. 34
Adobe Première
> Novo Projecto
Pal / NTSC / 4:3 / 16:09 / Outros formatos
> Interface (Diferentes Janelas)
Project
Effects Control
Sequence
Effects
Source
Program
Tool
Audio
> Organização da informação no Project
Sequence
Bin
Text
Image
Video
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Adobe Première
> Import Video
> Sequence
Ferramentas: Cortes, Selecções, Movimentos
Aumentar e diminuir visão de sequência
> Effects Control / Source
Como alterar um video
> Transições / Efeitos Especiais
> Título (Title Tool)
Mudança de texto
> Motion
Texto, imagem.
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Exercício
> Efeito Kuleshov
Fazer 3 sequências diferentes:
Colocar dois planos diferentes em cada sequência.
No início de cada plano colocar o título do sentimento que se
quer expressar
Usar as imagens fornecidas
http://www.box.net/shared/408ec7auq8
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Notas do Editor
Normalmente, num filme comercial, spot de televisão ou mesmo algumas séries de televisão, há apenas uma câmara por cada take (tomada). Por isso, cada plano é separado de todos os outros no tempo e no espaço.
Falar de que os primódios do cinema são uma boa indústria, mas que seca rapidamente.
Meliés era um mágico e, por isso, desenvolvou a componente dos efeitos especiais. O primeiro desses efeitos é curioso: sem querer, a câmara parou e a película colou dois planos totalmente diferentes qd a câmara voltou a rolar.
Ritmo de montagem
(A chegada da revolução e o povo acena; depois as tropas do Czar atira sobre o povo). The massacre on the Odessa steps is a perfect example of Eisenstein’s dialectic montage, and this is probably why it is one of the most memorable sequences ever committed to celluloid (even if it is entirely fictitious). Shots of women, children and cripples are rapidly inter-cut with shots of the Tsar’s armed troops. Again and again, we see the tormented, fearful faces of the victims, but all we see of their killers are their boots and their guns. The dialectic is simple but effective. Innocence versus brutality. Light versus darkness. Us versus them. So powerful is this scene that at the end of it the spectator is left reeling with shock and anger – just as Eisenstein had intended.
Pequena curiosidade: a técnica dos jump cuts, diz-se, foi inventada por acidente. Godard tinha o filme finalizado, mas achava que o filme estava 30 minutos mais longo do que devia. Então decidiu cortar todas as sequências que achava entendiantes.
Ver início do filme: lábios do Bogart.
capítulo 2: jump cuts; cena sobre nada; a regra dos 180º
e ao minuto 20m55s: jump cuts; a recusa do campo/contra-campo.