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CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 1
PERIMETRIA AUTOMÁTICA
A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA
ALEXIS GALENO MATOS, PHD
INTRODUÇÃO
Desde a época de Hipocrates existem registros de
doenças que afetavam o campo de visão. Von
Graefe foi o responsável em 1855 pela introdução
da perimetria à medicina clínica e desde então o
desenvolvimento de aparelhos automatizados
promoveram uma maior reprodutibilidade e
melhor sensibilidade da localização dos defeitos
comparada aos manuais.
A perimetria computadorizada ainda é o principal
método funcional para acompanhamento e
diagnóstico de várias patologias. Muitas destas
geram defeitos que os pacientes não percebem
devido à binocularidade sobrepor os 120 graus
centrais do campo de visão, sendo diagnosticada
apenas no exame.
Hoje, dispomos de perímetros (aparelhos que
usam cúpula) e campimetros (aparelhos usam tela
plana) que mensuram através de estímulos
luminosos a topografia da sensibilidade retiniana.
Vários fatores como a iluminação do fundo, a
duração do estímulo, o erro refracional do
paciente, o tamanho do estímulo usado (tamanho
III é o padrão), a localização do estímulo e a idade
do paciente podem influenciar essa percepção.
O Limiar de Sensibilidade ou Threshold é
mensurado em escala logaritimica chamada
decibel (dB) (unidade de atenuação do estímulo
luminoso de cada aparelho, logo concluímos que
não tem como comparar exames de diferentes
dispositivos). Então temos o seguinte raciocínio:
“Quanto maior valor em decibel, menor
estímulo lançado e melhor a sensibilidade da
área testada.”
Por se tratar de um exame subjetivo, a perimetria
está sujeita a efeito de aprendizado e a flutuações
das respostas, tanto dentro do próprio exame
(short flutuation), quanto entre exames distintos
(long flutuation) em que o estado emocional e a
atenção do momento podem influenciar o
resultado. Visando diminuir esses fatores,
cuidados do perimetrista são essenciais para um
exame confiável:
 Adaptação do paciente à baixa iluminação
 O ajuste da altura da cadeira e encaixe
correto e confortável no aparelho
 Oclusão adequada do olho contralateral
 Orientação sobre o teste: importância da
fixação no alvo durante exame, apertar o
botão tão logo percebeu o estímulo,
ignorando os sons, deixar claro que o exame
não é uma prova e que alguns estímulos não
serão vistos e que o paciente pode piscar
normalmente durante o exame
A presença do perimetrista na sala durante todo o
exame é fundamental para acompanhar a
evolução e as dificuldades do paciente,
interrompendo quando perceber o cansaço ou
perda de fixação do ponto, reiniciando após as
orientações.
Cabe ao solicitante fazer a indicação correta da
estratégia, do tipo de alvo de fixação, do programa
(Tabela 1) e da refração a ser usada, de acordo
com a patologia e as limitações do paciente.
Pacientes idosos com lesões macular submetidos
a estratégias cansativas ou que apresentem
grandes defeitos tendem a não realizar campos
confiáveis. Nesses pacientes o aumento do
tamanho do estímulo para “V”, alvo de fixação fora
da área central, estratégias mais rápidas e
programas focados na área sã podem melhorar o
aproveitamento do exame.
Tabela 1. Alguns programas e quantidade de pontos
testados no Humphrey (Zeiss):
Programa Pontos
testados
Distância entre pontos
30-2 76 pontos 6° nos 30° centrais
24-2 54 pontos 6° nos 24° centrais
24-2C 64 pontos Igual 24-2 + 10 centrais
10-2 68 pontos 2° nos 10° centrais
Macular 16 pontos 2° nos 5° centrais
30/60 -2 68 pontos 12° entre 30°-60°
ÍNDICES DE CONFIABILIADADE
Saber se o exame foi confiável é fundamental para
o aproveitamento do resultado. Para isso os
aparelhos apresentam meios de monitorar a
fixação do paciente. O método tradicional de
Heijl- Krakau usa estímulos lançados na mancha
cega e espera-se que o paciente não os perceba,
marcando como não confiável quando maior que
20%.
Figura 1. Gráfico do gaze tracker
CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 2
A partir da série 700 do Humphrey usa “gaze
tracker”. Trata-se de um sensor infravermelho
para verificar a movimentação ocular (traços para
cima) e piscadas (traços para baixo). (Figura 1)
O índice que mais altera a confiabilidade é o falso
positivo. Esse teste é feito baseado na resposta
positiva de visualização sem emissão do estímulo
luminoso ou pela confirmação de visualização em
tempo fora do normal esperado, simulando uma
ansiedade nas respostas.
Isso gera numerações de sensibilidades
periféricas mais altas que o limiar foveal e áreas
brancas no gráfico de cinza, mascarando
possíveis lesões existentes. (Figura 2)
Figura 2. Gráficos de limiares e tons de cinza
apresentando escotomas brancos sugestivos de
elevado falso positivo.
O falso negativo é um teste que visa identificar o
cansaço ou desatenção do paciente durante o
exame. Principalmente quando usado estratégias
e programas inadequados para a idade do
paciente. Para isso o aparelho lança estímulos
mais intensos em locais já percebidos com
estímulos mais fracos.
Uma vez que os pontos periféricos são testados
no decorrer do exame, é natural que o paciente
cansado falhe na percepção dos estímulos da
periferia, gerando gráficos que se assemelham a
trevos de quatro folhas. (Figura 3)
Figura 3. Gráficos de limiares e tons de cinza
apresentando escotomas periféricos em trevo de quatro
folhas sugestivos de elevado falso negativo.
Tanto falso negativo quanto falso positivo já
demonstram diminuição de confiabilidade em
valores próximos de 20%, mas muitos autores
ainda usam até 33% como valor para considerar o
exame confiável.
GRÁFICOS
Os gráficos contidos no printout tentam
representar a situação do campo de visão do
paciente. Os primeiros gráficos apresentados são
os Limiares Absolutos que demonstram em
decibel (dB) os limiares obtidos em cada ponto
testado.
O Gráfico de tons de cinza é a representação
gráfica baseada em tonalidades de cinza com
intervalos de 4 dB entre tons. Tonalidades mais
escuras representam piores sensibilidade. (Figura
4)
Figura 4. Gráficos de limiares e tons de cinza.
Na região inferior do printout temos os gráficos
que comparam a sensibilidade apresentada pelo
paciente com pacientes da mesma idade contidas
no banco de dados do aparelho, chamado Total
Deviation ou Desvio Total. Esses valores podem
apresentar valores iguais, maiores e menores que
o esperado para a idade informada do paciente (o
cadastro da idade correta é fundamental).
O gráfico de probabilidades analisa esses valores
comparados com valores de pacientes com a
mesma idade do banco de dados e representa a
probabilidade de achar esse valor no grupo de
pacientes comparados. Por exemplo, P<0,5%
significam que se espera que menos de 0,5% dos
indivíduos normais tenham esses resultados.
(Figura 5)
Figura 5. Representação dos índices de probabilidades
Importante ressaltar que qualquer patologia que
afete a sensibilidade pode causar alterações
nesses gráficos. Sejam alterações superficiais ou
densas. Então, erros de refração, glaucoma,
lesões retinianas e neurológicas, opacidade de
córnea, catarata e muitas outras patologias
podem afetar o Total Deviation.
CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 3
Figura 6. Representação gráfica do Total deviation e
Patern deviation com seus valores acima e
representação dos índices de probabilidades abaixo.
Ao lado do Total Deviation temos o gráfico do
Pattern Deviation ou Desvio Padrão tentando
eliminar as opacidades superficiais e “filtrar” os
defeitos mais grosseiros e densos. Para isso, usa
o sétimo valor mais positivo e o transforma em
“zero” subtraindo todos os valores do Total
Deviation. Esse também faz a mesma análise com
o gráfico de probabilidades. (Figura 6)
Em alguns aparelhos existe o gráfico de Bebie.
Esse gráfico lista em decibel do melhor valor (R1)
ao último valor (R59) gerando uma curva que é
comparada com percentis. Não mostra a
localização do defeito, mas permite rapidamente
ver a profundidade. (Figura 7)
Figura 7. Gráfico de Bebie ilustrando o Rank dos valores
dentro dos percentis.
INDICES GLOBAIS
Os índices globais são valores baseados nos
gráficos apresentados. O Desvio Médio ou Mean
Deviation (MD) é a média ponderada dos valores
comparativos do gráfico Total Deviation.
Representa a sensibilidade global do paciente,
sendo influenciada por erros de refração ou
opacidade de meios. Vai reduzindo com a piora da
sensibilidade que afeta o campo visual.
O Desvio Padrão ou Pattern Standard Deviation
(PSD) corresponde ao desvio padrão da média
das diferenças entre cada valor da sensibilidade.
Representa o desequilíbrio entre áreas sãs e
doentes, indicando defeitos localizados.
Apresenta valores mais altos em defeitos
isolados, mas a partir da piora difusa da
sensibilidade com alteração desse desequilíbrio
há a diminuição do PSD.
O Glaucoma Hemifield Test (GHT) promove a
comparação entre 5 setores do hemicampo
superior com correspondentes inferiores no
Pattern Deviation, gerando os seguintes
indicadores:
 Outside normal limits quando a comparação
está fora do normal
 Borderline quando a comparação está saindo
do normal
 Within normal limits quando a comparação
está dentro do normal
 General reduction of sensitivy quando há
redução difusa de sensibilidade
 Abnormally high sensitivy quando há
aumento difuso de sensibilidade, por exemplo
elevado falso positivo.
O VFI ou Visual Field Index é um índice percentual
baseado nos valores do Pattern Deviation, usando
a correção da idade do paciente e ponderando a
localização dos pontos. Os defeitos centrais
causam maiores diminuições do VFI que os
periféricos. Valor normal 100% e cegueira 0%.
ARTEFATOS
Algumas vezes o resultado apresentado na
perimetria pode simular patologias, mas que na
verdade, foram ocasionados por problemas
simples na realização do exame ou condições
específicas do paciente.
Alguns defeitos periféricos simulam defeitos
arqueados, com baixos valores de sensibilidade
quando comparados a valores próximos podem
ser decorrentes da obstrução visual pelo aro
metálico da lente de prova quando o paciente se
afasta. Também pode ser decorrente de órbitas
fundas ou altas ametropias não corrigidas
gerando aberrações periféricas. A correção feita
com lentes de contato pode melhorar esse
artefato. (Figura 8)
Figura 8. Gráfico de cinza ilustrando alteração periféfica
superior e inferior sugestiva de artefato.
Defeitos superiores com valores de sensibilidade
desproporcionais aos valores próximos podem
sinalizar ptose palpebral causando obstrução
mecânica da visualização dos estímulos. Pode ser
resolvido com uso de fitas adesivas que elevem a
pálpebra. (Figura 9)
CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 4
Figura 9. Gráfico de cinza ilustrando alteração periférica
superior sugestiva de artefato de ptose
Outros problemas como a oclusão inadequada no
olho contralateral, a correção refrativa inadequada
para visão de perto, corectopia, miose por uso de
pilocarpina ou o piscar inadequado podem gerar
artefatos que simulam lesões.
AVALIAÇÃO DE PROGRESSÃO
A avaliação da progressão de uma lesão, muitas
vezes, pode ser complicada. Principalmente
quando estamos diante de exames sujeitos a
flutuação e efeito aprendizado. Habitualmente, o
método subjetivo de julgamento baseado na
comparação dos exames realizados ainda é muito
usado. Porém os aparelhos apresentam
“softwares” que auxiliam nessa avaliação,
tentando eliminar possíveis flutuações.
As avaliações podem ser fundamentadas em
eventos, como no GPA ou o overview, onde é
feita a comparação de exames anteriores com os
atuais. Ou ainda baseada em tendencias, usando
o MD ou VFI, como meio de prever a velocidade
de progressão e estimar cronologicamente danos
mais graves.
O GPA ou Guided progression analysis usa os
dois primeiros exames confiáveis como baseline e
a partir deles realiza a comparação ilustrando
pontos alterados (triângulos) em um gráfico.
(Figura 10)
Figura 10. Ilustração do GPA, primeiro gráfico em tons
de cinza, segundo dos indices de probabilidade, terceiro
dos valores numéricos e por último a análise dos pontos
alterados.
Os triângulos sem pintura () ilustram a piora do
ponto testado em um exame. O pintado pela
metade (◭) ilustra a piora em dois exames e o
triangulo preto () em 3 exames consecutivos. Os
pontos representados pela “X” são pontos já
previamente deteriorados desde o baseline.
O julgamento da progressão é dado pela
quantidade de pontos alterados na série de
exames, gerando a informação de possível
progressão ou progressão.
A análise de progressão baseada no VFI precisa
de no mínimo 5 exames para gerar uma reta e
uma respectiva inclinação de velocidade (slope)
para fazer uma previsão futura de danos mais
graves. (Figura 11).
Figura 11. Ilustração do gráfico de tendencia baseado no
VFI. Apresenta uma reta ilustrando a velocidade de
progressão e a previsão futura do VFI a 0% aos 82 anos.
REFERENCIAS
Arcieri, Enyr Saran, et al. "Efeitos da constrição pupilar na
perimetria de freqüência dupla em olhos normais." Arquivos
Brasileiros de Oftalmologia (2002).
Asaoka, Ryo, et al. "Patients have two eyes!: binocular versus
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visual science 52.9 (2011): 7007-7011.
BEBIE, HANS, FRANZ FANKHAUSER, and JÜRG SPAHR.
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Caprioli, Joseph. "Automated perimetry in glaucoma." American
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Fankhauser, Franz, Jürg Spahr, and Hans Bebie. "Some
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Goldstick, Bruce J., and Robert N. Weinreb. "The effect of
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Klewin, Kristine M., and Ronald L. Radius. "Background
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Schimiti, Rui Barroso, Vital Paulino Costa, and Newton Kara
Jose. "Perimetria computadorizada em pacientes
glaucomatosos afácicos." Arq. bras. oftalmol61.2 (1998): 184-
90.

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Artigo Campo Visual - Alexis_Galeno

  • 1. CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 1 PERIMETRIA AUTOMÁTICA A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA ALEXIS GALENO MATOS, PHD INTRODUÇÃO Desde a época de Hipocrates existem registros de doenças que afetavam o campo de visão. Von Graefe foi o responsável em 1855 pela introdução da perimetria à medicina clínica e desde então o desenvolvimento de aparelhos automatizados promoveram uma maior reprodutibilidade e melhor sensibilidade da localização dos defeitos comparada aos manuais. A perimetria computadorizada ainda é o principal método funcional para acompanhamento e diagnóstico de várias patologias. Muitas destas geram defeitos que os pacientes não percebem devido à binocularidade sobrepor os 120 graus centrais do campo de visão, sendo diagnosticada apenas no exame. Hoje, dispomos de perímetros (aparelhos que usam cúpula) e campimetros (aparelhos usam tela plana) que mensuram através de estímulos luminosos a topografia da sensibilidade retiniana. Vários fatores como a iluminação do fundo, a duração do estímulo, o erro refracional do paciente, o tamanho do estímulo usado (tamanho III é o padrão), a localização do estímulo e a idade do paciente podem influenciar essa percepção. O Limiar de Sensibilidade ou Threshold é mensurado em escala logaritimica chamada decibel (dB) (unidade de atenuação do estímulo luminoso de cada aparelho, logo concluímos que não tem como comparar exames de diferentes dispositivos). Então temos o seguinte raciocínio: “Quanto maior valor em decibel, menor estímulo lançado e melhor a sensibilidade da área testada.” Por se tratar de um exame subjetivo, a perimetria está sujeita a efeito de aprendizado e a flutuações das respostas, tanto dentro do próprio exame (short flutuation), quanto entre exames distintos (long flutuation) em que o estado emocional e a atenção do momento podem influenciar o resultado. Visando diminuir esses fatores, cuidados do perimetrista são essenciais para um exame confiável:  Adaptação do paciente à baixa iluminação  O ajuste da altura da cadeira e encaixe correto e confortável no aparelho  Oclusão adequada do olho contralateral  Orientação sobre o teste: importância da fixação no alvo durante exame, apertar o botão tão logo percebeu o estímulo, ignorando os sons, deixar claro que o exame não é uma prova e que alguns estímulos não serão vistos e que o paciente pode piscar normalmente durante o exame A presença do perimetrista na sala durante todo o exame é fundamental para acompanhar a evolução e as dificuldades do paciente, interrompendo quando perceber o cansaço ou perda de fixação do ponto, reiniciando após as orientações. Cabe ao solicitante fazer a indicação correta da estratégia, do tipo de alvo de fixação, do programa (Tabela 1) e da refração a ser usada, de acordo com a patologia e as limitações do paciente. Pacientes idosos com lesões macular submetidos a estratégias cansativas ou que apresentem grandes defeitos tendem a não realizar campos confiáveis. Nesses pacientes o aumento do tamanho do estímulo para “V”, alvo de fixação fora da área central, estratégias mais rápidas e programas focados na área sã podem melhorar o aproveitamento do exame. Tabela 1. Alguns programas e quantidade de pontos testados no Humphrey (Zeiss): Programa Pontos testados Distância entre pontos 30-2 76 pontos 6° nos 30° centrais 24-2 54 pontos 6° nos 24° centrais 24-2C 64 pontos Igual 24-2 + 10 centrais 10-2 68 pontos 2° nos 10° centrais Macular 16 pontos 2° nos 5° centrais 30/60 -2 68 pontos 12° entre 30°-60° ÍNDICES DE CONFIABILIADADE Saber se o exame foi confiável é fundamental para o aproveitamento do resultado. Para isso os aparelhos apresentam meios de monitorar a fixação do paciente. O método tradicional de Heijl- Krakau usa estímulos lançados na mancha cega e espera-se que o paciente não os perceba, marcando como não confiável quando maior que 20%. Figura 1. Gráfico do gaze tracker
  • 2. CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 2 A partir da série 700 do Humphrey usa “gaze tracker”. Trata-se de um sensor infravermelho para verificar a movimentação ocular (traços para cima) e piscadas (traços para baixo). (Figura 1) O índice que mais altera a confiabilidade é o falso positivo. Esse teste é feito baseado na resposta positiva de visualização sem emissão do estímulo luminoso ou pela confirmação de visualização em tempo fora do normal esperado, simulando uma ansiedade nas respostas. Isso gera numerações de sensibilidades periféricas mais altas que o limiar foveal e áreas brancas no gráfico de cinza, mascarando possíveis lesões existentes. (Figura 2) Figura 2. Gráficos de limiares e tons de cinza apresentando escotomas brancos sugestivos de elevado falso positivo. O falso negativo é um teste que visa identificar o cansaço ou desatenção do paciente durante o exame. Principalmente quando usado estratégias e programas inadequados para a idade do paciente. Para isso o aparelho lança estímulos mais intensos em locais já percebidos com estímulos mais fracos. Uma vez que os pontos periféricos são testados no decorrer do exame, é natural que o paciente cansado falhe na percepção dos estímulos da periferia, gerando gráficos que se assemelham a trevos de quatro folhas. (Figura 3) Figura 3. Gráficos de limiares e tons de cinza apresentando escotomas periféricos em trevo de quatro folhas sugestivos de elevado falso negativo. Tanto falso negativo quanto falso positivo já demonstram diminuição de confiabilidade em valores próximos de 20%, mas muitos autores ainda usam até 33% como valor para considerar o exame confiável. GRÁFICOS Os gráficos contidos no printout tentam representar a situação do campo de visão do paciente. Os primeiros gráficos apresentados são os Limiares Absolutos que demonstram em decibel (dB) os limiares obtidos em cada ponto testado. O Gráfico de tons de cinza é a representação gráfica baseada em tonalidades de cinza com intervalos de 4 dB entre tons. Tonalidades mais escuras representam piores sensibilidade. (Figura 4) Figura 4. Gráficos de limiares e tons de cinza. Na região inferior do printout temos os gráficos que comparam a sensibilidade apresentada pelo paciente com pacientes da mesma idade contidas no banco de dados do aparelho, chamado Total Deviation ou Desvio Total. Esses valores podem apresentar valores iguais, maiores e menores que o esperado para a idade informada do paciente (o cadastro da idade correta é fundamental). O gráfico de probabilidades analisa esses valores comparados com valores de pacientes com a mesma idade do banco de dados e representa a probabilidade de achar esse valor no grupo de pacientes comparados. Por exemplo, P<0,5% significam que se espera que menos de 0,5% dos indivíduos normais tenham esses resultados. (Figura 5) Figura 5. Representação dos índices de probabilidades Importante ressaltar que qualquer patologia que afete a sensibilidade pode causar alterações nesses gráficos. Sejam alterações superficiais ou densas. Então, erros de refração, glaucoma, lesões retinianas e neurológicas, opacidade de córnea, catarata e muitas outras patologias podem afetar o Total Deviation.
  • 3. CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 3 Figura 6. Representação gráfica do Total deviation e Patern deviation com seus valores acima e representação dos índices de probabilidades abaixo. Ao lado do Total Deviation temos o gráfico do Pattern Deviation ou Desvio Padrão tentando eliminar as opacidades superficiais e “filtrar” os defeitos mais grosseiros e densos. Para isso, usa o sétimo valor mais positivo e o transforma em “zero” subtraindo todos os valores do Total Deviation. Esse também faz a mesma análise com o gráfico de probabilidades. (Figura 6) Em alguns aparelhos existe o gráfico de Bebie. Esse gráfico lista em decibel do melhor valor (R1) ao último valor (R59) gerando uma curva que é comparada com percentis. Não mostra a localização do defeito, mas permite rapidamente ver a profundidade. (Figura 7) Figura 7. Gráfico de Bebie ilustrando o Rank dos valores dentro dos percentis. INDICES GLOBAIS Os índices globais são valores baseados nos gráficos apresentados. O Desvio Médio ou Mean Deviation (MD) é a média ponderada dos valores comparativos do gráfico Total Deviation. Representa a sensibilidade global do paciente, sendo influenciada por erros de refração ou opacidade de meios. Vai reduzindo com a piora da sensibilidade que afeta o campo visual. O Desvio Padrão ou Pattern Standard Deviation (PSD) corresponde ao desvio padrão da média das diferenças entre cada valor da sensibilidade. Representa o desequilíbrio entre áreas sãs e doentes, indicando defeitos localizados. Apresenta valores mais altos em defeitos isolados, mas a partir da piora difusa da sensibilidade com alteração desse desequilíbrio há a diminuição do PSD. O Glaucoma Hemifield Test (GHT) promove a comparação entre 5 setores do hemicampo superior com correspondentes inferiores no Pattern Deviation, gerando os seguintes indicadores:  Outside normal limits quando a comparação está fora do normal  Borderline quando a comparação está saindo do normal  Within normal limits quando a comparação está dentro do normal  General reduction of sensitivy quando há redução difusa de sensibilidade  Abnormally high sensitivy quando há aumento difuso de sensibilidade, por exemplo elevado falso positivo. O VFI ou Visual Field Index é um índice percentual baseado nos valores do Pattern Deviation, usando a correção da idade do paciente e ponderando a localização dos pontos. Os defeitos centrais causam maiores diminuições do VFI que os periféricos. Valor normal 100% e cegueira 0%. ARTEFATOS Algumas vezes o resultado apresentado na perimetria pode simular patologias, mas que na verdade, foram ocasionados por problemas simples na realização do exame ou condições específicas do paciente. Alguns defeitos periféricos simulam defeitos arqueados, com baixos valores de sensibilidade quando comparados a valores próximos podem ser decorrentes da obstrução visual pelo aro metálico da lente de prova quando o paciente se afasta. Também pode ser decorrente de órbitas fundas ou altas ametropias não corrigidas gerando aberrações periféricas. A correção feita com lentes de contato pode melhorar esse artefato. (Figura 8) Figura 8. Gráfico de cinza ilustrando alteração periféfica superior e inferior sugestiva de artefato. Defeitos superiores com valores de sensibilidade desproporcionais aos valores próximos podem sinalizar ptose palpebral causando obstrução mecânica da visualização dos estímulos. Pode ser resolvido com uso de fitas adesivas que elevem a pálpebra. (Figura 9)
  • 4. CAMPO VISUAL - A TOPOGRAFIA DA SENSIBILIDADE RETINIANA 4 Figura 9. Gráfico de cinza ilustrando alteração periférica superior sugestiva de artefato de ptose Outros problemas como a oclusão inadequada no olho contralateral, a correção refrativa inadequada para visão de perto, corectopia, miose por uso de pilocarpina ou o piscar inadequado podem gerar artefatos que simulam lesões. AVALIAÇÃO DE PROGRESSÃO A avaliação da progressão de uma lesão, muitas vezes, pode ser complicada. Principalmente quando estamos diante de exames sujeitos a flutuação e efeito aprendizado. Habitualmente, o método subjetivo de julgamento baseado na comparação dos exames realizados ainda é muito usado. Porém os aparelhos apresentam “softwares” que auxiliam nessa avaliação, tentando eliminar possíveis flutuações. As avaliações podem ser fundamentadas em eventos, como no GPA ou o overview, onde é feita a comparação de exames anteriores com os atuais. Ou ainda baseada em tendencias, usando o MD ou VFI, como meio de prever a velocidade de progressão e estimar cronologicamente danos mais graves. O GPA ou Guided progression analysis usa os dois primeiros exames confiáveis como baseline e a partir deles realiza a comparação ilustrando pontos alterados (triângulos) em um gráfico. (Figura 10) Figura 10. Ilustração do GPA, primeiro gráfico em tons de cinza, segundo dos indices de probabilidade, terceiro dos valores numéricos e por último a análise dos pontos alterados. Os triângulos sem pintura () ilustram a piora do ponto testado em um exame. O pintado pela metade (◭) ilustra a piora em dois exames e o triangulo preto () em 3 exames consecutivos. Os pontos representados pela “X” são pontos já previamente deteriorados desde o baseline. O julgamento da progressão é dado pela quantidade de pontos alterados na série de exames, gerando a informação de possível progressão ou progressão. A análise de progressão baseada no VFI precisa de no mínimo 5 exames para gerar uma reta e uma respectiva inclinação de velocidade (slope) para fazer uma previsão futura de danos mais graves. (Figura 11). Figura 11. Ilustração do gráfico de tendencia baseado no VFI. Apresenta uma reta ilustrando a velocidade de progressão e a previsão futura do VFI a 0% aos 82 anos. REFERENCIAS Arcieri, Enyr Saran, et al. "Efeitos da constrição pupilar na perimetria de freqüência dupla em olhos normais." Arquivos Brasileiros de Oftalmologia (2002). Asaoka, Ryo, et al. "Patients have two eyes!: binocular versus better eye visual field indices." Investigative ophthalmology & visual science 52.9 (2011): 7007-7011. BEBIE, HANS, FRANZ FANKHAUSER, and JÜRG SPAHR. "Static perimetry: accuracy and fluctuations." Acta ophthalmologica 54.3 (1976): 339-348. Caprioli, Joseph. "Automated perimetry in glaucoma." American journal of ophthalmology 111.2 (1991): 235-239. Fankhauser, Franz, Jürg Spahr, and Hans Bebie. "Some aspects of the automation of perimetry." Survey of ophthalmology 22.2 (1977): 131-141. Goldstick, Bruce J., and Robert N. Weinreb. "The effect of refractive error on automated global analysis program G- 1." American journal of ophthalmology104.3 (1987): 229-232. Katz, Joanne, et al. "Automated perimetry detects visual field loss before manual Goldmann perimetry." Ophthalmology 102.1 (1995): 21-26. Klewin, Kristine M., and Ronald L. Radius. "Background illumination and automated perimetry." Archives of Ophthalmology 104.3 (1986): 395-397. Schimiti, Rui Barroso, Vital Paulino Costa, and Newton Kara Jose. "Perimetria computadorizada em pacientes glaucomatosos afácicos." Arq. bras. oftalmol61.2 (1998): 184- 90.