1) João Batista pregava um batismo de arrependimento para perdão dos pecados e preparava o caminho para Jesus.
2) Jesus foi batizado por João no rio Jordão.
3) O Evangelho de Marcos detalha a vida, ensinos e milagres de Jesus, culminando em sua crucificação e ressurreição.
1. INTRODUÇÃO A
O EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS
Autoria
Desde os primeiros séculos a Igreja Cristã atribui a autoria do segundo evangelho do Novo Tes-
tamento a João Marcos, filho de Maria, uma mulher de posses e muito prestígio em Jerusalém (At
12.12). Marcos era primo de Barnabé, amigo e companheiro de ministério dos apóstolos Paulo e Pe-
dro. A igreja primitiva também nos informa que Pedro teve participação decisiva na evangelização e
no discipulado de João Marcos, e que ambos desen-volveram laços de profunda amizade e respeito
mútuo. Pedro se referia a Marcos como “meu filho Marcos” ( (1Pe 5.13).
)
É de aceitação geral que Marcos recebeu de Pedro grande parte das informações contidas no
Evangelho que leva seu nome. Com a autoridade apostólica de Pedro subjazendo este livro sagrado,
ele jamais sofreu qualquer contestação à sua inclusão no cânon das Escrituras. Isso em muito coo-
perou para o rápido reconhecimento deste livro sagrado, bem como sua extraordinária disseminação
por toda a Itália e regiões do império romano. Segundo Papias (por volta do ano 140 d.C.), citando
uma fonte ainda mais antiga, Marcos foi grande cooperador de Pedro e seu amigo íntimo, de quem
ouviu sobre os ensinos e realizações de Jesus Cristo. O comitê de tradução da Bíblia King James
acredita que o Evangelho Segundo Marcos consiste, basicamente, na pregação e no ensino do
apóstolo Pedro, ordenada e interpretada por João Marcos (At 10.37).
Ainda muito jovem João Marcos teve o privilégio de acompanhar Paulo e Barnabé em sua primeira
viagem missionária. Depois viajou com Barnabé para Chipre, pregando a Palavra do Senhor (At
15.38-40). Cerca de doze anos mais tarde, é convidado por Paulo para acompanhá-lo (Cl 4.10; Fm
24). Pouco antes de ser executado pelo império romano, Paulo manda chamar João Marcos (2Tm
4.11) para seguir anunciando o Evangelho a todos os povos.
Propósitos
Enquanto Mateus teve como principal propósito levar o Evangelho aos judeus, Marcos escreveu
objetivando evangelizar e discipular os gentios, particularmente, ensinar os cristãos da Igreja de
Roma. Por isso Marcos se preocupa em explicar alguns dos costumes judaicos (Mc 7.2-4; 15.42),
traduz palavras aramaicas, idioma falado na Palestina na época de Jesus e muito diferente do he-
braico antigo (Mc 3.17; 5.41; 7.11-34; 15.22) e dá ênfase à perseguição e ao martírio dos crentes
ocorrida por volta dos anos 64 e 67 d.C. O grande incêndio de Roma, um plano diabólico do próprio
imperador romano Nero, para acentuar a adoração do seu povo à sua pessoa, lançando a culpa
sobre os cristãos e justificar uma perseguição que condenou sumariamente milhares de pessoas ao
martírio e à morte.
Marcos, antevendo essa chacina, procurou preparar os cristãos – de forma explícita e velada – du-
rante todo o seu texto do Evangelho (Mc 1.12,13; 3.22,30; 8.34-38; 10.30,33-45; 13.8-13).
Data da primeira publicação
Os primeiros estudiosos das Sagradas Escrituras acreditavam que o Evangelho Segundo Mateus
tinha sido escrito e publicado antes da obra de Marcos. Entretanto, atualmente, muitos teólogos e
biblistas são unânimes em afirmar que o Evangelho Segundo Marcos foi o primeiro dos Evangelhos
a chegar ao grande público leitor. Isso por volta do final da década de 50 d.C.
Devido ao fato de Marcos ter sido o intérprete do apóstolo Pedro, havendo preparado sua obra
sobre o Evangelho em estreita sintonia com os ensinos e orientações do seu querido mestre, tanto
Mateus quanto Lucas utilizaram os textos de Marcos como principal fonte documentária na produção
dos seus relatos sobre a vida e a obra de Jesus Cristo em seus Evangelhos.
De acordo com alguns pais da Igreja, como Irineu e Clemente de Alexandria, o Evangelho Segundo
Marcos foi escrito nas regiões da Itália, mais precisamente, em Roma. Pesquisas históricas indicam
que Pedro e Marcos estavam em Roma, pouco antes do martírio de Pedro que se deu na mesma
cidade e no qual o apóstolo teria solicitado que sua crucificação se desse de cabeça para baixo, pois
acreditava não ser digno do mesmo tipo de martírio e morte que foram impostos ao Senhor Jesus.
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2. No final de sua primeira carta, Pedro indica claramente que está com Marcos, em Roma, criptogra-
fando (codificando) a palavra “Roma” por “Babilônia” (1Pe 5.13) a fim de proteger a Igreja que se
reunia naquela cidade das perseguições do império.
Esboço Geral de Marcos
1. O ministério do Servo (1.1 –10.52)
A. A preparação para o ministério de Jesus (1.1-13)
B. Por meio da vida e obra de João Batista (1.1-8)
C. Por meio do seu próprio batismo (1.9-11)
D. Por meio da vitória sobre a tentação (1.12, 13)
2. Seu ensino e poder (1.14 – 3.12)
A. Sobre uma espécie de demônio (1.21-28)
B. Sobre a doença (1.29-39)
C. Sobre a impureza e a lepra (1.40-45)
D. Sobre toda a paralisia (2.1-12)
E. Sobre a corrupção (2.13-20)
F. Sobre doutrinas equivocadas (2.21, 22)
G. Sobre o uso do sábado (2.23-28)
H. Sobre as deformidades (3.1-6)
I. Sobre os demônios (3.7-12)
3. Ministério posterior na Galiléia (3.13-6.29)
A. Escolha e convocação dos Doze (3.13-21)
B. Condenação dos rejeitadores (3.22-30)
C. A família espiritual de Jesus (3.31-35)
4. As parábolas de Jesus (4.1-34)
A. O semeador (4.1-34)
B. A candeia (4.21-25)
C. O desenvolvimento do grão (4.26-29)
D. A semente de mostarda (4.30-34)
5. As virtudes do Senhor Jesus (4.35 – 9.1)
A. Sobre as tempestades (4.35-41)
B. Sobre os demônios (5.1-20)
C. Sobre a doença e a morte (5.21-43)
D. Ao comissionar os apóstolos (6.7-13)
E. Afetando o assassino Herodes (6.14-29)
F. Ao alimentar 5.000 homens (6.30-44)
G. Ao caminhar sobre as águas (6.45-52)
H. Sobre as enfermidades (6.53-56)
I. Sobre as tradições religiosas (7.1-23)
J. Para com uma mulher gentia (7.24-30)
K. Para com um homem surdo (7.31-37)
L. Ao alimentar mais 4.000 homens (8.1-9)
M. Ao condenar os fariseus (8.10-13)
N. Em seu ensino sobre o fermento (8.14-21)
O. Sobre a falta de visão (8.22-26)
P. Sobre a vida do apóstolo Pedro (8.27-33)
Q. Sobre todos os discípulos (8.34 – 9.1)
6. Suas profecias (9.2-50)
A. Quanto a Sua glória (9.2-29)
B. Quanto a Sua morte (9.30-32)
C. Quanto às recompensas (9.33-41)
D. Quanto ao inferno (9.42-50)
7. Seus ensinos na região da Peréia (10.1-52)
A. Sobre o divórcio (10.1-12)
B. Sobre os pequeninos (10.13-16)
C. Sobre a vida eterna (10.17-31)
D. Sobre Sua morte e ressurreição (10.32-34)
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3. E. Sobre a ambição humana (10.35-45)
F. Quando da cura do cego Bartimeu (10.46-52)
8. A Paixão de Cristo (11.1 – 15.47)
A. Domingo: A entrada triunfal (11.1-11)
B. Segunda-feira: Purificação (11.12-19)
C. Terça-feira: Ensinos (11.20 – 13.37)
D. Sobre a fé (11.20-26)
E. Sobre Israel (12.1-12)
F. Sobre os deveres cívicos (12.13-17)
G. Sobre a ressurreição (12.18-27)
H. Sobre o maior dos mandamentos (12.28-34)
I. Sobre a divindade de Jesus (12.35-37)
J. Sobre a questão da arrogância (12.38-40)
K. Sobre as ofertas e ajudas (12.41-44)
L. Sobre o futuro (13.1-37)
M. Quarta-feira: A unção e a traição (14.1-11)
N. Quinta-feira: A ceia e a traição (14.12-52)
O. Preparativos para a ceia (14.12-16)
P. A última Páscoa com Jesus (14.17-21)
Q. Rumo ao Getsêmani (14.26-31)
R. Oração e pranto no Getsêmani (14.32-42)
S. Traição e prisão no Getsêmani (14.43-52)
T. Sexta-feira: Juízo e execução (14.53 – 15.47)
U. Cristo julgado por Caifás (14.53-65)
V. Pedro nega a Jesus (14.66-72)
W. Cristo julgado por Pilatos (15.1-15)
X. O martírio de Cristo (15.16-20)
9. Crucificação, morte e ressurreição (15.21 – 16.20)
A. A crucificação do Senhor Jesus (15.21-32)
B. A morte de Jesus Cristo (15.33-41)
C. O sepultamento e o Sábado (15.42-47)
D. Domingo: A ressurreição de Jesus! (16.1-8)
E. Jesus prova que está vivo (16.9-18)
F. Jesus ascende ao Céu de onde voltará (16.19, 20)
Observaçãoç
O Evangelho Segundo Marcos também pode ser sumarizado a partir dos deslocamentos geográfi-
cos feitos por Jesus Cristo durante sua peregrinação na terra:
1. Os preparativos para a vinda de Deus encarnado (1.1-13)
2. A pregação do Filho de Deus na Galiléia (1.14 – 9.50)
3. A pregação de Jesus, o Cristo na Peréia (10.1-52)
4. A Paixão do Filho do homem em Jerusalém (11.1 – 16.20).
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4. O EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS
João Batista revela o caminho de camelo, usava ao redor da cintura um
(Mt 3.1-12; Lc 3.1-18, Jo 1.19-28) cinto de couro e se alimentava de gafa-
1 Princípio do Evangelho de Jesus Cris-
to, o Filho de Deus.1
2 Conforme está escrito no livro do
nhotos e mel silvestre.4
A mensagem de João
profeta Isaías: “Eis que Eu envio o meu (Mt 3.11-12; Lc 3.15-17; Jo 1.19-28)
mensageiro diante de ti, a fim de prepa- 7 E esta era a pregação de João: “Depois
rar o teu caminho; voz do que clama no de mim vem aquele que é mais poderoso
deserto: do que eu, do qual não sou digno sequer
3 ‘Preparai o caminho do Senhor, tornai de curvar-me para desamarrar as cor-
retas as suas veredas’”.2 reias das suas sandálias.
4 E foi assim que chegou João, batizando 8 Eu vos batizei com água; Ele, entretan-
no deserto e pregando um batismo de ar- to, vos batizará com o Espírito Santo”.5
rependimento para perdão dos pecados.3
5 Vinham encontrar-se com ele pessoas Jesus é batizado
de toda a região da Judéia e todo o povo (Mt 3.13-17; Lc 3.21-22; Jo 1.32-34)
de Jerusalém, e eram batizados por ele no 9 Aconteceu, naqueles dias, que chegou
rio Jordão, confessando seus pecados. Jesus, vindo de Nazaré da Galiléia, e foi
6 João vestia roupas tecidas com pêlos batizado por João no rio Jordão.
1 A expressão “Evangelho” no grego mais antigo significa “um prêmio conferido a quem levava boas notícias”. Com o tempo,
essa palavra passou a significar “boas novas”. Cristo é em si a “boa notícia” para a humanidade e, ao mesmo tempo, é portador
das “boas novas” de Salvação (cada indivíduo precisa ser salvo, liberto, do poder do pecado original, do sistema mundial dirigido
por Satanás e do inferno eterno). A palavra “princípio” indica a introdução do Evangelho. O livro de Marcos teria sido o primeiro
a ser escrito, servindo como base para Mateus e Lucas, sendo os três, conhecidos como os “Sinóticos” (termo de origem grega
que significa: “análise dos fatos a partir de um determinado ponto de vista” ou “estudo comparativo”). A palavra “Cristo” é um
adjetivo de origem grega que significa “Ungido” (em hebraico, Messias). No AT, reis, sacerdotes e profetas foram “ungidos”, o que
confirmava sua escolha divina. “Filho de Deus” tem um sentido amplo no NT, mas quando aplicado a Jesus salienta sua Deidade
(Sl 2.7; Jo 10.38; 14.10; Hb 1.2) e sua Missão (10.45).
2 “Está escrito”, frase muito usada para lembrar ou citar passagens do AT. Marcos faz alusão às profecias de Is 40.3; Ml 3.1.
Conforme a tradição entre os mestres judaicos, citava-se apenas o nome do “profeta maior” ou mais antigo. Fica claro, no contex-
to, que o Senhor (Jeová ou Javé) do AT é plenamente identificado com Jesus Cristo no NT (Rm 10.9-13).
3 João é a forma simplificada do nome hebraico Johanen, que significa “dom de Jeová”. Era parente de Jesus, porquanto suas
mães eram primas (Lc 1.36). Seu ministério público teve início por volta do ano 27 a.C., proclamando a vinda iminente do Messias
e Seu Reino. João insistia na urgência do “arrependimento” (em grego, metanoia, quer dizer: “mudança radical de pensamento e
volta ao juízo”) devido à aproximação da vinda do Senhor. A mesma necessidade impreterível dos nossos dias. O ato simbólico
de João “mergulhar” (palavra derivada da expressão grega baptizô) as pessoas nas águas, após confissão pública e oral dos
pecados, entrou para a história da Igreja.
4 As roupas e o tipo de alimentação de João revelam sua austeridade e desprendimento dos interesses materiais deste mundo.
Seu jeito de vestir-se era típico dos profetas e lembrava Elias (2 Rs 1.8; Zc 13.4), a quem João muito se assemelha (9.13). Alimen-
tar-se de gafanhotos era uma prática comum entre as comunidades pobres (Lv 11.22), especialmente as que viviam a oeste do
mar Morto, entre cujos habitantes (a seita dos essênios) estão os que escreveram e preservaram os Rolos do mar Morto (a mais
importante descoberta arqueológica do século XX e que muito ajudou nesta tradução da Bíblia King James). Alguns grupos de
beduínos ainda hoje comem gafanhotos tostados ou salgados.
5 João batiza apenas com água, simbolizando a purificação dos pecados reconhecidos e renunciados. Entretanto, Jesus Cristo
oferecerá o dom do Espírito e com Ele a filiação adotiva e perene de Deus (em hebraico Yahweh), nosso Pai (em aramaico, Abba,
que significa: pai querido), conforme Jo 3.3-6. O batismo cristão é muito mais importante que o batismo judaico de prosélitos, dos
essênios (que batizavam os judeus que entravam para sua seita) e o praticado por João. Isso porque somente no batismo cristão
está implícito o ato simbólico de identificação do pecador restaurado com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
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5. 5 MARCOS 1
10 E, imediatamente após deixar a água, 16 Caminhando pela praia do mar da
viu os céus rasgando-se e o Espírito des- Galiléia, viu Jesus a Simão e seu irmão
cendo até Ele na forma de uma pomba. André lançando suas redes ao mar, pois
11 Então houve uma voz vinda dos céus: eram pescadores.
“Tu és o meu Filho amado; em ti muito 17 Então, dirigiu-se a eles Jesus dizendo:
me agrado”.6 “Vinde em minha companhia, e Eu vos
tornarei pescadores de pessoas”.
Jesus é tentado 18 Naquele mesmo momento, eles aban-
(Mt 4.1-11; Lc 4.1-13) donaram as suas redes e seguiram Jesus.
12 Logo em seguida, o Espírito o dirigiu 19 Andando um pouco mais adiante,
para o deserto. Jesus avistou Tiago, filho de Zebedeu, e
13 Ali esteve Ele por quarenta dias sendo seu irmão João. Eles estavam num barco
tentado por Satanás; viveu entre as feras consertando as redes.
selvagens, e os anjos o serviram.7 20 Sem demora os chamou. E eles,
deixando o pai, Zebedeu, com os em-
Jesus convoca seus discípulos pregados no barco, partiram seguindo
(Mt 4.12-22; Lc 4.14,15; 5.1-11; Jo 1.35-42) a Jesus.10
14 E depois que João foi levado à prisão,
Jesus partiu para a Galiléia, pregando a Jesus ensina na sinagoga
todos as boas novas de Deus:8 (Lc 4.31-37)
15 “Cumpriu-se o tempo e está chegando 21 Dirigiram-se para Carfanaum e, assim
o Reino de Deus; arrependei-vos e crede que chegou o sábado, tendo entrado na
no Evangelho”.9 sinagoga, Jesus passou a ensinar.11
6 Jesus insistiu em ser batizado para endossar a autoridade de João; identificar-se com os pecadores que sinceramente busca-
vam o perdão de Deus (2 Co 5.21); anunciar e confirmar publicamente seu ministério; permitir que João o apresentasse ao mundo
como o Messias prometido (Jo 1.53) e que ele (Jesus) recebesse a plena unção do Espírito de Deus (Lc 3.22). A forma de pomba
era real e visível e não apenas uma analogia espiritualizada para descrever romanticamente o fenômeno, pois Lucas ainda é mais
preciso, usando a expressão “em forma corpórea” (Lc 3.22). Esse mesmo fenômeno ocorreu também por ocasião da Criação (Gn
1.2). O próprio Deus fala sobre o amor e a alegria que sente por Jesus, Seu Filho (Jo 12.28), e Suas palavras relembram Gn 22.2;
Sl 2.7 e Is 42.1. Temos aqui uma visão clara da Trindade, doutrina cristã que só pode ser bem aceita após o verdadeiro encontro
com a pessoa de Cristo, o Filho de Deus.
7 Sem dúvida foi o próprio Jesus quem relatou aos seus discípulos os detalhes desta batalha histórica (Mt 4.1-11; Lc 4.1-14).
Todos os sinóticos dão ênfase à relação existente entre o “batismo” e a “tentação” de Cristo. Jesus, dirigido (ou impelido) pelo
Espírito, foi ativo no Seu batismo e passivo na tentação. Por meio do batismo Ele cumpriu toda a justiça, e pela tentação Sua
justiça foi provada. Antes de iniciar seu ministério de destruir o poder de Satanás nas vidas dos seres humanos, foi necessário
que Ele vencesse o Inimigo no campo de batalha da sua própria vida na terra (Hb 2.18; 4.15). A magnitude de toda essa batalha
se observa no fato de que anjos vieram servi-lo (Mt 4.11, Lc 22.43). Em menor grau, cada discípulo que é chamado a uma missão
desafiadora no Reino e impactante no mundo deve estar preparado para semelhante conflito e vitória.
8 Entre a tentação de Jesus e a execução de João Batista ocorreram os eventos registrados em Jo 1.19 – 4.54. Os fatos que
levaram à prisão estão narrados em Mc 6.17-20.
9 A palavra grega metanoia (que significa mudar de mentalidade e voltar ao juízo correto) reflete a expressão hebraica shub
que freqüentemente (cerca de 120 vezes) ocorre no AT com a conotação espiritual de “retornar” a Deus. No contexto da
conversão cristã, aponta para uma mudança radical de vida, em conseqüência da fé depositada na pessoa e obra de Jesus
Cristo (At 3.19; 26.20; 1Ts 1.9).
10 Marcos emprega (cerca de 50 vezes) em seus escritos, como parte do seu estilo, uma palavra grega traduzida de várias
maneiras: “sem demora, logo, então, assim, em seguida, rapidamente” e outras semelhantes, que revelam seu senso de urgência
em comunicar o Evangelho ao mundo (especialmente aos gentios). Jesus ensina que a vocação do discípulo missionário implica:
no discipulado (“vinde em minha companhia” ou “após mim”); em ser capacitado por Cristo (“Eu vos tornarei”); num esforço
pessoal para explicar as boas novas às pessoas (“pescadores”) e na disposição de colocar as ambições e os interesses seculares
em segundo plano (“abandonaram as suas redes”).
11 A sinagoga sempre teve uma importância vital para as comunidades judaicas em todo o mundo desde sua fundação, na
época do exílio, até nossos dias. Uma sinagoga podia ser estabelecida em qualquer cidade ou povoado onde houvesse ao menos
dez homens judeus casados, e seu propósito maior era ensinar as Escrituras e adorar a Deus. Era costume entre os líderes das
sinagogas, convidar os mestres visitantes a participarem da adoração e ministrarem a Palavra na reunião do sábado (em hebraico
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6. MARCOS 1 6
22 E todos ficavam maravilhados com o muita febre, e logo falaram com Jesus a
seu ensino, pois lhes ministrava como al- respeito dela.
guém que possui autoridade e não como 31 Então, aproximando-se, Ele a tomou
os mestres da lei.12 pela mão e a levantou. A febre imediata-
23 Mas, naquele exato momento, levan- mente a deixou e ela se pôs a serví-los.
tou-se na sinagoga um homem possuído 32 Ao final da tarde, logo após o pôr-do-
de um espírito imundo, que vociferava: sol, o povo levou até Jesus todos os que
24 “O que queres de nós, Jesus Nazareno? estavam passando mal e os dominados
Vieste para nossa destruição? Conheço a por demônios.
ti, sei quem tu és: o Santo de Deus!” 33 E, assim, a cidade inteira se aglomerou
25 Mas Jesus o repreendeu severamente: à porta da casa.
“Fica quieto e sai dele!”13 34 Jesus curou a muitos de várias enfer-
26 Então, o espírito imundo, sacudindo midades, bem como expulsou diversos
aquele homem violentamente e gritando demônios. Entretanto, não permitia que
com poderosa voz, saiu dele. os demônios falassem, pois eles sabiam
27 Todos ficaram atônitos e assustados per- quem era Ele.15
guntavam uns aos outros: “O que é isto?
Novo ensinamento, e vejam quanta autori- Jesus retira-se para orar
dade! Aos espíritos imundos Ele dá ordens, (Lc 4.42-44)
e eles prontamente lhe obedecem!” 35 De madrugada, em meio a escuridão,
28 Assim, rapidamente as notícias sobre a Jesus levantou-se, saiu da casa e retirou-
sua pessoa se espalharam em várias dire- se para um lugar deserto, onde ficou
ções e por toda a região da Galiléia. orando.16
36 Simão e seus amigos saíram para pro-
O poder de Jesus sobre doenças curá-lo.
e demônios 37 Então, quando o acharam, informa-
(Mt 8.14-15; Lc 4.38-39) ram: “Todos estão te procurando!”
29 E assim que saíram da sinagoga, diri- 38 E Jesus os instruiu: “Vamos seguir para
giram-se para a casa de Simão e André, outros lugares, às aldeias vizinhas, a fim
juntamente com Tiago e João.14 de que Eu pregue ali também. Pois foi
30 A sogra de Simão estava deitada, com para isso que vim”.
shabbãth que significa: o dia do descanso). Jesus, assim como Paulo mais tarde (At 13.15; 14.1; 17.2; 18.4), aproveitou essa opor-
tunidade cultural para anunciar as novas e boas notícias do Reino de Deus (o Evangelho). Jesus escolheu Carfanaum, importante
centro de comércio e distribuição de peixes, como sede do seu ministério após a rejeição que sofreu em sua terra natal, Nazaré
(Lc 4.16-31). Os romanos mantinham um centurião na cidade (8.5) e uma coletoria de impostos (Mt 9.9).
12 Marcos dedica boa parte dos seus escritos a salientar o quanto os ensinos e as atitudes de Jesus tocavam os corações das
pessoas e as deixavam impressionadas (2.12; 5.20,42; 6.2,51; 7.37; 10.26; 11.26; 11.18; 15.5). Sua autoridade provinha direta e
absolutamente de Deus e por isso não citava os grandes mestres da Lei como era costume dos rabinos.
13 Com exceção do texto correspondente de Lc 4.34, o título “O Santo de Deus” foi usado apenas em Jo 6.69 e se refere à
origem divina de Jesus, mais do que ao seu messianato (Lc 1.35). Esse título foi usado pelos demônios com base na crença do
ocultismo de que o uso exato do nome de uma pessoa permitia certo controle sobre ela. O homem estava possesso de mais
de um demônio, mas apenas o líder deles gritou e falou. Entretanto, Jesus, em plena autoridade divina, ordena que o demônio
“fique impedido de expressar-se”, literalmente em grego que significa “seja amordaçado!” ou “fique imobilizado e
com a boca amarrada”.
14 Jesus e seus discípulos certamente foram almoçar com a família de Pedro (1Co 9.5), pois a refeição principal do sábado era
tradicionalmente servida logo após o encerramento do culto matinal das sinagogas.
15 O povo aguarda o final do pôr-do-sol e, conseqüentemente, o encerramento do sábado, para carregar seus enfermos e
possessos (Jr 17.21,22) e os levar à presença de Cristo a fim de serem curados e libertos. Marcos retrata com clareza a perfeita
humanidade e divindade de Jesus. Ele sentiu compaixão pelo povo (6.34) e os curou, mas sabia da Sua prioridade: anunciar
o Reino e a Salvação (1.15). Soube evitar a publicidade e não permitiu que pessoas nem o Inimigo o enganassem com falsa
adoração ou lisonja (1.24,34; 3.11; 5.7).
16 A expressão grega transliterada proi indica a última vigília da noite, das três às seis horas da manhã. Jesus reage ao crescen-
i
te aumento de sua popularidade e se retira para um lugar tranqüilo e isolado onde possa conversar a sós com o Pai.
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7. 7 MARCOS 1, 2
39 E aconteceu que Ele percorreu toda a Jesus perdoa e cura
Galiléia, pregando nas sinagogas e expe- (Mt 9.1-8; Lc 5.17-26)
lindo os demônios.
A cura do leproso que creu
2 Chegando de novo em Cafarnaum,
depois de alguns dias, o povo ficou
sabendo que ele estava em casa.1
(Mt 8.1-4; Lc 5.12-16) 2 E foram tantos os que se aglomeraram
40 Certo leproso aproxima-se de Jesus ali, que já não havia lugar nem à porta; e
e suplica-lhe de joelhos: “Se for da tua Ele lhes pregava a Palavra.2
vontade, tens o poder de purificar-me!” 3 Vieram trazer-lhe um paralítico, carre-
41 Movido de grande compaixão, Jesus gado por quatro homens.
estendeu a mão e, tocando nele, excla- 4 Não conseguindo levá-lo até Jesus, por
mou: “Eu quero. Sê purificado!” causa da multidão, removeram parte
42 No mesmo instante toda a doença de- da cobertura sobre o lugar onde estava
sapareceu da pele daquele homem, e ele Jesus e, por essa abertura no teto, baixa-
foi purificado.17 ram a maca na qual se achava deitado o
43 Em seguida Jesus se despede dele com paralítico.3
forte recomendação: 5 Observando a fé que eles demonstra-
44 “Atenta, não digas nada a ninguém; vam, declarou Jesus ao paralítico: “Filho!
contudo vai, mostra-te ao sacerdote e Estão perdoados de ti os pecados”.
oferece pela tua purificação os sacrifícios 6 Entretanto, alguns dos mestres da lei
que Moisés prescreveu, para que sirvam que por ali estavam sentados, julgaram
de testemunho”.18 em seu íntimo:
45 Contudo, assim que o homem saiu, 7 “Como pode esse homem falar desse
começou a proclamar o que acontecera modo? Está blasfemando! Quem afinal
e a divulgar ainda muitas outras coisas, pode perdoar pecados, a não ser exclusi-
de modo que Jesus não mais conseguia vamente Deus?”4
entrar publicamente numa cidade, mas 8 Jesus imediatamente percebeu em seu
via-se obrigado a ficar fora, em lugares espírito que era isso o que eles estavam
desabitados. Mesmo assim, pessoas de urdindo e lhes questionou: “Por que co-
todas as partes iam ter com Ele.19 gitais desta maneira em vossos corações?
17 O termo grego usado no original não se refere apenas e especificamente à lepra ou hanseníase (como se conhece hoje), mas
a vários tipos de doenças e cânceres de pele. Todavia, como implicou em imundícia, segundo o AT (Lv 13 e 14), era natural que
se tornasse um símbolo do pecado: ambos são repugnantes; espalham-se pelo corpo e são contagiosos; são incuráveis, a não
ser pela misericórdia de Deus; só Cristo pode oferecer plena solução, e isso por causa do seu compadecimento, do seu poder
que vem de Deus (Jo 3.2) e porque foi para cumprir essa missão que Ele veio ao mundo (10.45).
18 Os sacrifícios serviam de comprovação diante dos sacerdotes e para o povo de que a cura era genuína (e que Jesus respei-
tava a Lei). A cura era um testemunho concreto e visível do poder divino de Jesus, pois os judeus acreditavam que somente Deus
podia curar uma doença de pele como a lepra (2Rs 5.1-4).
19 A inevitável popularidade de Jesus Cristo (1.28; 3.7,8; Lc 7.17) e a inveja e oposição cada vez mais intensa dos líderes
religiosos (2.6,7,16,23,24; 3.2,6,22) forçaram Jesus a se retirar da sua amada Galiléia e peregrinar pelos territórios circunvizinhos.
No entanto, o povo, sedento, viajava de todas as partes para receber a bênção da Sua Palavra e Poder.
Capítulo 2
1 Pedro e sua família (1Co 9.5) faziam questão de hospedar Jesus sempre que ele estava em Cafarnaum, e Jesus se sentia
em casa (1.21,29).
2 A Palavra é o Evangelho: Cristo e as boas novas da Salvação eterna (1.15). As multidões estavam à espera do Senhor e o
receberam com o mesmo entusiasmo de antes (1.32,33,37).
3 Uma casa típica da Palestina daqueles tempos tinha o telhado plano, onde se podia chegar por uma escada externa. O
telhado era geralmente coberto com uma camada de barro apoiada por esteiras feitas de ramos de palmeiras e sustentadas por
vigas de madeira.
4 Na teologia judaica, nem mesmo o Messias teria poder para perdoar pecados, somente e exclusivamente o Altíssimo (Deus,
em hebraico Yahweh). Jesus, de forma simples e natural, age como perfeito ser humano (compassivo e solidário em relação ao
próximo), e perfeitamente como Deus (oferecendo solução à mais profunda e dramática necessidade humana: o perdão). Essa
demonstração prática, pública e visual da deidade de Jesus foi considerada pelos teólogos locais (escribas ou mestres da lei)
como uma grave e escandalosa blasfêmia.
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8. MARCOS 2 8
9 O que é mais fácil dizer ao paralítico: Jesus à mesa com pecadores
‘Estão perdoados de ti os pecados’, ou (Mt 9.10-13; Lc 5.29-32)
falar: ‘Levanta-te, toma a tua maca e sai 15 Aconteceu que, em casa de Levi, pu-
andando’?5 blicanos e pessoas de má fama, que eram
10 Todavia, para que saibais que o Filho numerosas e seguiam Jesus, estavam à
do homem tem na terra autoridade mesa com Ele e seus discípulos.8
para perdoar pecados...” – dirigiu-se ao 16 Quando os mestres da lei que eram
paralítico – fariseus o viram comendo com os pu-
11 “Eu te ordeno: Levanta-te, toma tua blicanos e outras pessoas mal afamadas,
maca e vai para tua casa”. perguntaram aos discípulos de Jesus:
12 Então, ele se levantou e, no mesmo “Por que Ele se ali-menta na companhia
instante, tomando sua maca saiu andan- de publicanos e pecadores?”
do à frente de todos, que, estupefatos, 17 Ao ouvir tal juízo, Jesus lhes ponderou:
glorificaram a Deus, exclamando: “Nun- “Não são os que têm saúde que necessi-
ca vimos nada semelhante a isto!”6 tam de médico, mas, sim, os enfermos.
Eu não vim para convocar justos, mas
Jesus convoca Mateus sim pecadores”.9
(Mt 9.9-13; Lc 5.27-32)
13 Uma vez mais, saiu Jesus e foi cami- Jesus explica o jejum
nhar na praia, e toda a multidão vinha ao (Mt 9.14-17; Lc 5.33-39)
seu encontro, e Ele os ensinava. 18 Os discípulos de João e os fariseus estavam
14 Enquanto andava, viu a Levi, filho jejuando. Algumas pessoas vieram ter com
de Alfeu, sentado à mesa da coletoria, Jesus e inquiriram: “Por que os discípulos de
e o chamou: “Segue-me!” Ao que ele se João e os discípulos dos fariseus jejuam, mas
levantou e o seguiu.7 os teus discípulos não jejuam?”10
5 Para Jesus seria mais fácil apenas curar o paralítico e chamar a atenção do público para sua pessoa. Mas perdoar tinha a ver
com a glória de Deus e lhe custaria uma vida de sacrifício e seu próprio holocausto na cruz (10.45). E para os mestres? O que
seria mais fácil? Curar ou perdoar? A expressão de Jesus: “Estão perdoados de ti os pecados”, é a tradução literal dos melhores
originais, em grego .
6 Jesus intitulou a si mesmo de “Filho do homem” por cerca de 80 vezes nos evangelhos. Segundo o profeta Daniel (Dn
7.13,14), o filho de um ser humano é retratado como personagem celestial a quem, no final dos tempos, Deus confiou plena
autoridade, glória máxima e poder soberano. Fica claro que um dos propósitos dos muitos milagres, sinais e prodígios realizados
por Jesus era apresentar provas indiscutíveis da sua divindade (Jo 2.11; 20.30,31). Com certeza o paralítico e a multidão presente
compreenderam claramente quem era Jesus e sua atitude, pois glorificaram a Deus.
7 Levi era o nome de infância de Mateus e nome apostólico que significa “dádiva do Senhor” (Mt 9.9; 10.3). Levi era publicano e
cobrador de impostos (Lc 5.27), sujeito às ordens de Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia. A coletoria era quase sempre uma es-
pécie de bilheteria onde eram cobrados pedágios para aqueles que transitassem pela estrada internacional que ligava Damasco
ao litoral do Mediterrâneo e ao Egito, passando por Cafarnaum. A maioria dos publicanos cobrava impostos além da lei e prestava
falsos relatórios ao governo de Roma. Eram odiados pelo povo; para os fariseus eram iguais aos pecadores (literalmente: gente
de má fama) que desprezavam a Lei. Em vista de viverem na companhia dos gentios eram excluídos da sinagoga.
8 Na cultura oriental e especialmente na judaica, fazer uma refeição na casa de alguém era um grande sinal de amizade entre os
participantes. O termo “pecadores” era em geral uma maneira de se referir aos cobradores de impostos, mentirosos, enganado-
res, adúlteros, assaltantes, criminosos, e pessoas de má reputação. Jesus e seus discípulos eram os convidados de honra de um
grupo com essas qualificações gerais. Jesus compartilha as bênçãos de sua mesa com os pecadores remidos (Ap 3.20).
9 Os fariseus eram um grupo de religiosos e sucessores dos hassidins, judeus piedosos que juntaram suas forças às dos
macabeus durante a guerra pela liberdade da Síria (166 a 142 a.C). Os fariseus surgiram no reinado de João Hircano, entre 135 e
105 a.C. Embora alguns realmente fossem homens de Deus, a maioria dos que conflitaram com Jesus eram hipócritas, invejosos,
formalistas e envenenados por sórdidos interesses políticos. Segundo o farisaísmo, a graça de Deus era oferecida somente para
aqueles que cumprissem a Lei.
10 Os discípulos de João jejuaram porque seu mestre estava preso, por estarem em oração pela redenção proclamada por
João e por causa da doutrina (ascetismo) de purificação e arrependimento pregada por João como preparação para a vinda de
Cristo. Entretanto, a Lei de Moisés prescrevia apenas um jejum obrigatório: no Dia da Expiação (Lv 16.29,31; 23.27-32; Nm 29.7).
Após o Exílio na Babilônia, quatro outros jejuns anuais eram observados (Zc 7.5; 8.9). Na época de Jesus os fariseus tinham o
costume de jejuar duas vezes por semana (Lc 18.12).
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9. 9 MARCOS 2, 3
19 Explicou-lhes Jesus: “Como podem os 25 Mas Ele esclareceu: “Nunca lestes como
convidados do noivo jejuar enquanto o agiu Davi e seus companheiros, quando
têm consigo?11 sofreram necessidade e tiveram fome?
20 Contudo, virão dias quando o noivo 26 Na época do sumo sacerdote Abiatar,
lhes será arrancado; e então, nessa oca- Davi entrou na casa de Deus e se ali-
sião, jejuarão. mentou dos pães dedicados à oferta da
21 Ninguém costura remendo de pano Presença, que somente aos sacerdotes era
novo em roupa velha, porquanto o permitido comer, e os ofereceu também
remendo novo forçará o tecido velho aos seus companheiros”.14
e o rasgará ainda mais, aumentando a 27 E então concluiu: “O sábado foi criado
ruptura. por causa do ser humano, e não o ser
22 Assim como não há pessoa que depo- humano por causa do sábado.
site vinho novo em recipiente de couro 28 Assim sendo, o Filho do homem é Se-
velho; caso o faça, o vinho arrebentará o nhor inclusive do sábado”.15
recipiente, e dessa forma, tanto o vinho
novo quanto o recipiente se estragarão. Jesus cura as deformidades
Ao contrário, põe-se o vinho novo em (Mt 12.9-14; Lc 6.6-11)
um recipiente de couro novo”.12
Jesus é Senhor do Sábado
3 Em outra ocasião, Jesus entrou na
sinagoga e encontrou ali um homem
que tinha atrofiada uma das mãos.
(Mt 12.1-14; Lc 6.1-11) 2 Alguns dos fariseus estavam procuran-
23 E aconteceu que, passava Jesus num dia do uma razão para acusar Jesus; por isso
de sábado pelas plantações de cereal. Os o observavam com toda a atenção, a fim
seus discípulos, enquanto caminhavam, de constatar se Ele iria curá-lo em pleno
começaram a colher algumas espigas. sábado.
24 Então os fariseus advertiram-no: “Vê! 3 Então convidou Jesus ao homem da
Por que teus discípulos fazem o que não mão atrofiada: “Levanta-te e vem aqui
é permitido aos sábados?”13 para o meio”.
11 A expressão “noivo” refere-se a Cristo (Ef 5.23-32). No AT, o “noivo” é Deus (Os 1.1-11; Is 54.5; 62.45; Jr 2.2). Os casamentos
judaicos eram uma ocasião para alegria geral e a sua celebração chegava a durar uma semana. Não fazia o menor sentido pensar
em jejum durante essas festividades. O jejum sempre esteve relacionado a momentos de dificuldade, grandes desafios e tristeza.
Enquanto o “noivo” estava na festa era tempo de regozijo, o tempo triste e amargo chegaria, quando Jesus seria “tirado com
violência” (literalmente em grego aparthç), e naqueles dias, sim, os discípulos jejuariam. Certamente que a analogia de Jesus foi
ç
bem compreendida pelos inquiridores.
12 Estas duas parábolas (Mt 9.16,17; Lc 5.36) ensinam claramente sobre a impossibilidade de se misturar o velho ritualismo da Lei (o
Judaísmo em todas as suas formas e ramificações) com a Nova Aliança da graça e da liberdade em Cristo: o Evangelho (Gl 5.1,13).
13 A lei mosaica permitia a todo viajante colher espigas de trigo ao longo das estradas com o objetivo específico de comê-
las, na hora, para matar a fome (Dt 23.25). Os fariseus não estão criticando essa prática, mas, sim, o fazer isso no sábado. É
impressionante a calma e a segurança de Jesus diante das sucessivas investidas dos seus inquiridores, pois segundo o Talmude
judaico, a ofensa de trabalhar (colher) no sábado incorria em pena de morte por apedrejamento, desde que o acusado fosse
advertido e sua falta ficasse comprovada pelo testemunho de duas ou três autoridades religiosas, por isso o “Vê!” dos fariseus,
tem o sentido de: “Atenção! Foste pego em flagrante delito”.
14 Jesus busca em sua defesa um episódio ocorrido com o venerado (pelos judeus fariseus especialmente) rei Davi (1Sm 21.1-
6). A relação entre os acontecimentos está no fato de homens de Deus terem feito algo proibido pela Lei. Como no direito judaico
é sempre permitido praticar o bem e salvar vidas (ainda que seja no sábado), tanto Davi quanto os discípulos estavam dentro
do chamado “espírito da lei” (Is 58.6,7; Lc 6.6-11; 13.10-17; 17.1-6). Havia, portanto, uma jurisprudência formada e os fariseus
tiveram de aceitar a argumentação pública de Jesus. De acordo com 1 Sm 21.1-9, Aimeleque, pai de Abiatar, era sumo sacerdote
na ocasião (2Sm 8.17; Mt 12.4).
15 A tradição judaica havia criado tantas restrições e normas sobre a guarda do dia do sábado, que a maioria das pessoas
sentia-se culpada por não conseguir cumprir rigorosamente todas as ordenanças estabelecidas. Jesus enfatiza o propósito que
Deus tem para o sábado: um dia para descanso; restauração espiritual, mental e física. Jesus conclui sua alusão à história judaica,
mostrando que se a lei do sábado não tinha aplicação no caso do servo do templo, muito menos teria qualquer restrição sobre
Cristo, o Senhor do Templo. Somente no evangelho de Marcos encontramos a importante definição “O Filho do homem é Senhor
inclusive do sábado”, um dia especial consagrado a Deus.
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10. MARCOS 3 10
4 Em seguida Jesus indaga deles: “O que evitar que a massa de pessoas o apertasse,
nos é permitido fazer no sábado: o bem tirando-lhe os movimentos.
ou o mal? Salvar vidas ou matar as pesso- 10 Pois Ele havia curado grande multi-
as?” No entanto, eles ficaram calados.1 dão, de modo que todos os que padeciam
5 Indignado, olhou para os que estavam de alguma enfermidade se acotovelavam
ao seu redor e, profundamente entriste- na tentativa de vê-lo e tocá-lo.
cido com a dureza do coração deles, or- 11 E acontecia que todas as vezes que as
denou ao homem: “Estende a tua mão”. pessoas com espíritos imundos o viam,
Ele a estendeu, e eis que sua mão fora atiravam-se aos seus pés e berravam: “Tu
restaurada. és o Filho de Deus!”
6 Diante disso, retiraram-se os fariseus 12 Todavia, Jesus repreendia tais espíritos
e iniciaram, em acordo com os hero- severamente, ordenando que não reve-
dianos, uma conspiração contra Jesus, lassem quem era Ele.
e tramavam um meio de condená-lo à
morte.2 Jesus convoca os Doze
(Mt 10.1-4; Lc 6.12-16)
Jesus cura multidões na praia 13 Jesus subiu a um monte e convocou
7 Jesus retirou-se com seus discípulos e para si aqueles a quem ele queria. E eles
foi na direção do mar, e uma numerosa foram para junto dele.
multidão vinda da Galiléia o seguia. 14 E escolheu doze, qualificando-os como
8 E assim que ouviram a respeito de apóstolos, para que convivessem com ele
tudo o que Ele estava realizando, grande e os pudesse enviar a proclamar.
quantidade de pessoas provenientes da 15 E tivessem autoridade para expulsar
Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, das demônios.4
regiões do outro lado do Jordão e das 16 Ele constituiu, pois, os Doze: Simão, a
cercanias das cidades de Tiro e Sidom, quem atribuiu o nome de Pedro.
veio ter com Jesus.3 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu
9 Então, por causa das multidões, Ele irmão, aos quais deu o nome de Boaner-
pede aos discípulos que passem a manter ges, que quer dizer, “filhos do trovão”.
um pequeno barco à sua disposição, para 18 E depois, André; Filipe; Bartolomeu;
1 O argumento de Jesus é claro: ser capaz de fazer o bem e preferir fazer o mal é pecado (em aramaico o sentido geral da
palavra “pecar” é “errar”), pois há pouca diferença entre fazer o mal e deixar de fazer o bem (Tg 4.17). Os mestres judaicos
pregavam que o sábado era um dia dedicado ao descanso, amor e misericórdia, por isso, o socorro a quem estivesse em perigo
era permitido. Entretanto, Jesus os confronta com suas próprias e cruéis intenções, uma vez que estavam usando o sábado para
tramar o seu assassinato.
2 A partir desta controvérsia, os mestres e as autoridades eclesiásticas judaicas foram tomados por terrível ódio contra Jesus,
a ponto de se juntarem com os herodianos, um partido político nacionalista muito influente que apoiava Herodes e sua dinastia
contra Roma (Mt 22.16). Os fariseus (que significa “os separados”) formavam um partido do povo, com pessoas de classe baixa,
e se opunham aos herodianos e aos saduceus, ricos e aristocratas (12.18-23). Entretanto, para matar Jesus todo conchavo foi
aceito entre eles.
3 A popularidade de Jesus crescia assustadoramente. Essa rápida lista de Marcos mostra que as multidões vinham não apenas
das áreas adjacentes a Cafarnaum, mas também de longas distâncias. As regiões mencionadas incluem praticamente a totalida-
de das principais regiões de Israel e países vizinhos. Iduméia (forma grega da palavra hebraica Edom) aqui se refere a uma grande
área da Palestina ocidental ao sul da Judéia, e não ao antigo território edomita de Edom.
4 O próprio Jesus discipulou os Doze por meio do ensino constante e de estreita convivência, por isso foram designados
apóstolos (em grego appostellç forma verbal de “apóstolo”, ou seja “comissionado”, “designado para uma missão”). Além dos
discípulos esse termo se aplica à pessoa de Jesus (Hb 3.1), a Barnabé (At 14.14), a Paulo e a Matias (At 1.16-26), a Tiago, irmão
do Senhor (Gl 1.19), e a alguns outros discípulos (Rm 16.7). No NT essa palavra é usada muitas vezes com um sentido mais
genérico (Jo 13.16), sendo traduzida por “mensageiro”. O apostolado foi o dom principal concedido pelo Espírito Santo para
estabelecer a Igreja de Cristo. Era necessário que o apóstolo fosse testemunha ocular da ressurreição ou comissionado por Jesus
(1Co 1.1). Nem as Escrituras (AT e NT), nem a tradição da Igreja, desde os primórdios, apóiam a hierarquia eclesiástica com a
instituição de um papa soberano e infalível no comando de apóstolos, bispos e ministros paroquianos.
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11. 11 MARCOS 3, 4
Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; 28 Com toda a certeza Eu vos asseguro
Tadeu; Simão, o zelote; que todos os pecados e blasfêmias dos
19 e Judas Iscariotes, que o traiu. homens lhes serão perdoados.
29 Todavia, quem blasfemar contra o Es-
O pecado sem perdão pírito Santo jamais receberá perdão. Pelo
(Mt 12.22-32; Lc 11.14-23) contrário, é culpado de pecado eterno”.
20 Foi então Jesus para casa. E uma vez 30 Jesus explicou isso porque eles esta-
mais grande multidão se apinhou, de tal vam exclamando: “Ele está possesso de
maneira que Ele e os seus discípulos não um espírito imundo”.6
conseguiam nem ao menos comer pão.
21 Quando os familiares de Jesus to- Jesus, sua mãe e seus irmãos
maram conhecimento do que estava (Mt 12.46-50; Lc 8.19-21)
acontecendo, partiram para forçá-lo a 31 Foi quando chegaram a mãe e os ir-
voltar, pois comentavam: “Ele perdeu mãos de Jesus. E ficando do lado de fora,
o juízo!”5 mandaram alguém chamá-lo.
22 Mas os mestres da lei, que haviam des- 32 E havia grande número de pessoas
cido de Jerusalém exclamavam: “Ele está sentadas em torno dele; e lhe avisaram:
possuído por Belzebu!”, e mais: “É pelo “Olha! Tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs
príncipe dos demônios que ele expulsa estão lá fora e buscam por ti”.
os demônios”. 33 Então, Ele lhes respondeu com uma
23 Foi então que Jesus os chamou mais questão: “Quem é minha mãe, ou meus
para perto e lhes admoestou por pará- irmãos?”
bolas: “Como é possível Satanás expulsar 34 E, repassando com o olhar a todos
Satanás? que estavam sentados ao seu redor de-
24 Se um reino estiver dividido contra si clarou: “Aqui estão minha mãe e meus
mesmo, não poderá subsistir. irmãos!
25 Se uma casa se dividir contra si mes- 35 Pois qualquer pessoa que fizer a von-
ma, igualmente não conseguirá manter- tade de Deus, esse é meu irmão, irmã e
se firme. mãe”.7
26 Portanto, se Satanás se atira contra si
próprio e se divide, não poderá subsistir, A parábola do semeador
mas se destruirá. (Mt 13.1-9; Lc 8.4-8)
27 De fato, ninguém pode entrar na casa
do homem forte e furtar dali os seus
bens, sem que primeiro o amarre. Só
4 Retornou Jesus à beira-mar para en-
sinar. E a multidão que se juntou ao
seu redor era tão numerosa que o forçou
depois conseguirá saquear a casa dele. a entrar num barco, onde assentou-se. O
5 Um grupo de parentes e amigos de Jesus parte de Nazaré (terra natal de Jesus e sua parentela) e viaja cerca de 48 km para
tentar levá-lo à força de volta para a casa de seus pais e irmãos (José já havia morrido nessa época), pois se preocupavam muito
com a maneira como ele se entregava ao ministério de servir às multidões (Mt 1.25; Mt 12.46-50; Lc 2.7; Lc 8.19). Em hebraico,
a maneira como Jesus responde não é agressiva, mas enaltece os laços espirituais que devem unir a família de Deus para que
sejam ainda mais seguros, leais e duradouros, pois devem ter como princípio a obediência à Palavra. Esse foi o conceito-base
que originou a Igreja.
6 Belzebu é uma antiga expressão hebraica (Baal-zebude significa “senhor das moscas”, 2Rs 1.2,16) ligada ao líder máximo
dos demônios. A declaração de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo é das mais solenes. Entretanto, o pecado
imperdoável não é um pensamento, ato ou palavra isolada, mas sim a persistente atitude de arrogância, oposição intencional e
rejeição explícita a Jesus Cristo e Sua Palavra. Essa é a maneira de ser de todos aqueles que amam mais as trevas do que a Luz
(Jo 3.19). Jesus não declarou que os mestres e líderes religiosos haviam efetivamente cometido esse pecado, mas que estavam
em iminente perigo.
7 Os parentes de Jesus ainda não acreditavam na Sua pessoa como Filho de Deus e Senhor dos Senhores (Jo 7.5). Não há
razão para concluir que os irmãos e irmãs de Jesus pudessem ser primos, filhos de José antes de seu casamento com Maria.
Assim como não há base bíblica e histórica para se aceitar a doutrina da virgindade perpétua de Maria, mãe de Jesus, dogma
católico instituído pelo Papa Pio IX em 1854.
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12. MARCOS 4 12
barco estava no mar e todo o povo agru- Jesus explica a parábola
pava-se na praia.1 (Mt 13.10-23; Lc 8.9-15)
2 E, assim, Ele lhes transmitia muitos en- 10 Quando se afastaram das multidões,
sinamentos por parábolas, e enfatizava os Doze e alguns outros que o seguiam
ao ministrar:2 lhe pediram para elucidar as parábolas.
3 “Escutai! Eis que o semeador saiu a 11 Então, lhes revelou: “A vós foi conce-
semear. dido o mistério do Reino de Deus; aos
4 Enquanto lançava a semente, parte dela de fora, entretanto, tudo é pregado por
caiu à beira do caminho, e chegaram as parábolas,4
aves e a devoraram. 12 com o propósito de que: ‘mesmo que
5 Outra parte caiu em solo pedregoso vejam, não percebam; ainda que ouçam,
e, não havendo terra suficiente, nasceu não compreendam, e isso para que não
rapidamente, pois a terra não era pro- se convertam e sejam perdoados’”.5
funda. 13 Então Jesus os questionou: “Se não
6 Contudo, ao raiar do sol, as plantas se compreendeis essa parábola, como po-
queimaram; e porque não tinham raiz, dereis entender todas as outras?
secaram. 14 O semeador semeia a Palavra.
7 Outra parte ainda caiu entre os espi- 15 Algumas pessoas são como a semente à
nhos; estes espinhos cresceram e sufo- beira do caminho, onde a Palavra foi se-
caram as plantas, e por isso não pôde meada. Mas assim que a ouvem, Satanás
dar frutos. vem e toma a Palavra nelas semeada.
8 Finalmente, outras partes caíram em 16 Assim também ocorre com a que foi
terra boa, germinaram, cresceram e semeada em solo pedregoso: são as pes-
ofereceram grande colheita, a trinta, soas que, ao ouvirem a Palavra, logo a
sessenta e até cem por um”.3 recebem com alegria.
9 E alertou: “Aquele que tem ouvidos 17 Entretanto, visto que não têm raízes
para ouvir, ouça!” em si mesmas, são de pouca perseve-
1 Jesus posicionou-se de forma a facilitar a transmissão do ensino para um grande número de pessoas de uma só vez. Preci-
sava evitar também o assédio das massas que literalmente o sufocavam na busca exclusiva da cura física. Jesus deseja ensinar
seu povo a viver em plena comunhão com Deus, e esse era um desafio maior do que curar as enfermidades do corpo. Sentar-se
era a postura tradicional dos mestres judeus da época (Mt 5.1; Lc 5.3; Jo 8.2).
2 As parábolas eram histórias tiradas da vida diária e usadas para ilustrar verdades espirituais e morais (Mt 13.3). Muitas vezes
na forma de comparações, analogias ou ditos proverbiais. Essas histórias eram um valioso recurso didático usado pelos grandes
mestres (2Sm 12.1-7 e Talmude). Conquistavam a atenção, prendiam o interesse, tornavam concretas idéias abstratas, levavam
o ouvinte a uma decisão correta, e, no caso de Jesus, guardavam em sigilo o mistério do Reino para os desprovidos de interesse
em adorar sinceramente a Deus e desenvolver uma sociedade justa (Mt 4.11-12; Lc 4.23, 15.3).
3 As sementes eram lançadas com o auxílio das mãos naquela época, e isso para que caíssem exatamente nas covas prepa-
radas para o plantio. Entretanto, algumas caíam em terreno improdutivo. Todavia, Jesus anuncia uma colheita excepcional (Gn
26.12), chegando a render 100 plantas produtivas por semente plantada. A colheita sempre foi uma figura (símbolo) da consuma-
ção dos tempos e do Reino de Deus (Jl 3.13; Ap 14.14-20).
4 Em grego, a expressão “mistério” tem o sentido de “oculto”, “insondável”, “secreto”. No NT refere-se ao conhecimento do
verdadeiro Deus. Verdade essa, outrora oculta, mas agora revelada na pessoa e obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Porém,
esse mistério não é acessível exclusivamente à razão humana; mas, sim, ao mais profundo dos sentimentos humanos (simboliza-
do no ocidente pelo coração, por ser um órgão vital, além do cérebro). A vontade de buscar a Deus e submeter-se à Sua Palavra,
ilumina o coração do crente. O principal mistério é a revelação de Deus e Seus propósitos na pessoa de Cristo (Mt 16.17). Por
isso, todos nós que fomos contemplados com essa revelação, devemos sentir grande júbilo e comemorar a Salvação todos os
dias, agindo para com Deus e na sociedade como cidadãos do Reino: com amor e reverência, graça e justiça. Compreende-
se o “Reino” em dois momentos: o presente reino reconhecido pelos cristãos sinceros e que reside nos mesmos, os quais se
submetem à vontade de seu Rei, Jesus Cristo, e o chamado “Reino Milenar”, que será inaugurado por ocasião da segunda (e
iminente) volta de Cristo (Ap 20.2).
5 O estilo de pregação e ensino de Jesus se assemelha ao ministério de Isaías, o qual conquistou muitos discípulos (Is 8.16),
mas igualmente desmascarou a falsidade e a dureza de muitos corações incrédulos face aos inúmeros apelos de Deus.
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13. 13 MARCOS 4
rança. Ao surgir alguma tribulação ou A parábola do Reino
perseguição por causa da Palavra, rapi- (Mt 13.31-35; Lc 13.18-21)
damente sucumbem. 26 Então contou-lhes que: “O Reino de
18 Outras ainda, como a semente lançada Deus é semelhante a um homem que
entre os espinhos, escutam a Palavra, lançou a semente sobre a terra.
19 porém, quando chegam as preocupa- 27 Enquanto ele dorme e acorda, durante
ções da vida diária, a sedução da riqueza noites e dias, a semente germina e cres-
e todas as demais ambições, agridem e ce, embora ele desconheça como isso
sufocam a Palavra, tornando-a infrutí- acontece.
fera.6 28 A terra por si mesma produz o fruto:
20 Todavia, outras pessoas são como as primeiro surge a planta, depois a espiga,
que foram semeadas em terra boa: estas e, mais tarde, os grãos que enchem a
ouvem a Palavra, acolhem-na e oferecem espiga.
farta colheita: a trinta, sessenta e até cem 29 Assim que as espigas amadurecem, o
por um”. homem imediatamente lhes passa a foi-
ce, pois é chegado o tempo da colheita”.8
A parábola da luz encoberta
(Lc 8.16-18) A parábola do grão de mostarda
21 E lhes propôs: “Quem, porventura, (Mt 13.31-35; Lc 13.18-21)
traz uma candeia para colocá-la sob uma 30 E contou-lhes mais: “Com o que com-
vasilha ou debaixo de uma cama? Ao pararemos o Reino de Deus? Que pará-
invés, não a traz para ser depositada no bola buscaremos para representá-lo?
p p
candelabro? 31 É como um grão de mostarda, que é
22 Pois nada há de oculto que não venha a menor das sementes que se planta na
a ser revelado, e nada em segredo que terra.
não seja trazido à luz do dia. 32 Porém, uma vez semeada, cresce e se
23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, transforma na maior das hortaliças, com
ouça!” ramos tão grandes, a ponto de as aves
24 E seguiu ensinando: “Ponderai aten- do céu poderem abrigar-se sob a sua
tamente o que tendes ouvido! Pois com sombra”.9
a medida com que tiverdes medido vos
medirão igualmente a vós; e ainda mais O ensino parabólico de Jesus
vos será acrescentado! (Mt 13.34-35)
25 Porquanto, ao que tem mais se lhe 33 Assim, por meio de muitas parábolas
dará; de quem não tem, até o que tem lhe semelhantes Jesus lhes comunicava a Pa-
será retirado”.7 lavra, conforme a medida das possibili-
6 A prosperidade, a cultura e a boa formação acadêmica podem oferecer uma falsa e temporária sensação de auto-suficiência
e segurança (10.17-25; Dt 8.17,18; 32.15; Ec 2.4-11; Tg 5.1-6). Por outro lado, a pobreza, as perdas e os sofrimentos, podem
produzir rancor e mágoas injustas contra Deus (Ec 7.29; Rm 8.28).
7 Aqui temos uma exortação para não ficarmos reclamando do que nos falta, mas juntarmos tudo o que temos – no sentido
de condições humanas e recursos vários – e investirmos em nosso crescimento espiritual e humano no Reino de Deus. Deus co-
nhece bem todas as nossas limitações e não espera que venhamos a ser perfeitos, ou consigamos isso ou aquilo, para vivermos
plenamente (Jo 10.10). Quanto mais nos apropriamos da Verdade (a Palavra) agora, tanto mais recebe-remos no futuro. Se não
valorizarmos e correspondermos ao pouco de revelação que temos recebido, aqui e agora, nem isso nos adiantará no futuro.
8 Esta parábola foi registrada apenas no livro de Marcos. Enquanto a história do semeador revela a importância de um solo
fértil para receber a boa semente (a Palavra); aqui se evidencia o poder misterioso da própria semente: com o passar do tempo,
vai realizando seu trabalho de fazer germinar, crescer e dar frutos (1Pe 1.23-25). Devemos, portanto, semear sempre e em todos
os corações humanos sobre a face da terra.
9 Embora possua uma das menores sementes dentre as hortaliças, a mostarda palestina pode crescer até uma altura de 4 me-
tros. A parábola ilustra a expansão poderosa e impressionante do Cristianismo em todo o mundo, apesar do seu humilde início:
um pobre mestre vindo de uma inexpressiva família e cidade da Galiléia que, seguido por um pequeno grupo de homens – quase
todos incultos – pregou durante alguns anos sobre a chegada do Reino, afirmando ser Deus encarnado.
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14. MARCOS 4, 5 14
dades de compreensão de seus ouvintes. Silencia-te!” E logo o vento serenou, e
34 E nada lhes transmitia sem usar algu- houve completa bonança.
ma parábola. Entretanto, quando estava 40 E indagou aos seus discípulos: “Por
em particular com os seus discípulos, que sois covardes? Ainda não tendes fé?”
explicava-lhes tudo clara-mente. 41 Os discípulos, contudo, estavam toma-
dos de terrível pavor e comentavam uns
A tempestade se submete a Jesus com os outros: “Quem é este que até o
(Mt 8.23-27; Lc 8.22-25) vento e o mar lhe obedecem?”13
35 Naquele mesmo dia, ao cair da tarde,
pediu aos seus discípulos: “Passemos A libertação de um possesso
para a outra margem”.10 (Mt 8.28-34; Lc 8.26-39)
36 Eles, então, despedindo-se da mul-
tidão, o levaram no barco, assim como
estava. E outros barcos o seguiam.
5 E assim, atravessaram o mar e foram
para a região dos gerasenos.1
2 Logo que Jesus desceu do barco, veio
37 Aconteceu que levantou-se um tre- dos sepulcros, caminhando ao seu en-
mendo vendaval, e as grandes ondas contro, um homem possuído por um
se jogavam para dentro do barco, de espírito imundo.
maneira que este foi se enchendo de 3 Esse homem vivia em meio aos sepul-
água.11 cros e não havia quem conseguisse do-
38 Jesus estava na popa, dormindo com a miná-lo, nem mesmo com correntes.
cabeça sobre um travesseiro. Os discípu- 4 Muitas vezes já haviam acorrentado
los o despertaram e suplicaram: “Mestre! seus pés e mãos, mas ele arrebentava os
Não te importas que pereçamos?”12 grilhões e estraçalhava algemas e corren-
39 Então, Ele se levantou, repreendeu o tes. Ninguém tinha força para detê-lo.
vento e ordenou ao mar: “Aquieta-te! 5 E, noite e dia, sem repouso, perambula-
10 Jesus partiu do território da Galiléia com o objetivo de ir até a margem leste do mar da Galiléia; a região dos gerasenos (5.1).
11 O mar (ou grande lago) da Galiléia, localizado numa bacia cercada por montanhas, onde se destaca o monte Hermon, ainda
hoje é sujeito a grandes tempestades, que descem às vezes dos altos montes e atingem com violência o lago de Quinerete (ou
Tiberíades), que fica 200 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo.
12 A impetuosidade e o temor dos discípulos ilustram claramente o comportamento humano diante das várias situações ad-
versas da vida. Temos a tendência de perguntar: Por quê? Ou de instigar a Deus como se Ele fosse nosso segurança pessoal:
O Senhor não está vendo? Em contraste, temos a segurança tranqüila de Jesus ao nosso lado (Lc 8.23). Mais tarde, a Igreja
Primitiva veria nesta experiência um grande consolo, diante das terríveis perseguições que sofreria por amor a Cristo e à evange-
lização dos povos. Por isso, desde os primórdios, a figura do barco passou a ser identificada como um dos símbolos da Igreja,
na arte cristã. É compreensível que sintamos medo e insegurança. Todavia, Jesus não admite que seus filhos sejam covardes
(literalmente em grego , pessoas que perdem o ânimo, a vontade de lutar, e se desesperam; tímidos - no sentido de
medrosos – pois não confiam em um amigo que os possa ajudar). Nossa fé deve ir além da certeza de que Jesus está conosco e
pode sanar qualquer dificuldade; devemos crer que – haja o que houver – Ele nos ajudará a atravessar os problemas e a chegar
em terra firme (Sl 23).
13 Esta é a grande e angustiante pergunta da humanidade. Todas as pessoas, um dia, terão de dar uma resposta objetiva a
essa questão. Se respondermos a ela como fez Marcos (1.1), devemos seguir a Jesus como Nosso Rei e Filho de Deus. Se nossa
resposta for qualquer coisa diferente disso, devemos assumir as conseqüências da incredulidade (3.28-29). Deus demonstrou Sua
presença em Cristo, e não apenas o Seu poder (Sl 65.7; 107.25-30; Pv 30.4). Jesus ainda investiria muito tempo e energia em ensino
e discipulado; realizaria também muitos outros milagres e sinais até que seus seguidores se dessem conta da Sua plena divindade;
de que eram pessoas salvas e cidadãos do Reino, e da missão para a qual foram escolhidos e chamados como discípulos.
Capítulo 5
1 Gerasa ficava cerca de 60 km a sudeste do mar da Galiléia e chegou a possuir terras no litoral leste do mar, dando seu nome
à pequena aldeia onde Jesus e seus discípulos aportaram. Hoje é conhecida como Khersa. Próximo dali, menos de 2 km ao sul,
há um precipício íngreme, e não distante encontram-se ruínas de cavernas que abrigaram antigos túmulos. Algumas pessoas,
especialmente gentios (não judeus), doentes e sem família costumavam viver nessas cavernas em meio aos sepulcros. Alguns
manuscritos gregos de Mateus (Mt 8.28-34), denominam os habitantes desse território de “gadarenos”, outros originais dizem
“gergesenos”. A maioria da população dessa região era formada por gentios, como revela a grande criação de porcos. Animais
considerados impuros pelos judeus e, portanto, proibidos de servirem como alimento ou sequer serem tocados.
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15. 15 MARCOS 5
va por entre os sepulcros e pelas colinas, cipício abaixo, em direção ao mar, e nele
gritando e cortando-se com lascas de se afogaram.
rocha.2 14 As pessoas que apascentavam os por-
6 Ao avistar Jesus, ainda de longe, correu cos fugiram e relataram esses fatos na ci-
e atirou-se aos seus pés. dade e nos campos, e todo o povo correu
7 E clamou aos berros: “Que queres de para ver o que se havia passado.
mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? 15 Quando chegaram próximo de Jesus,
Suplico-te por Deus que não me ator- observaram ali o homem que fora toma-
mentes!”3 do por uma legião de demônios, assenta-
8 Pois Jesus já lhe havia ordenado: “Sai do, vestido e em perfeito juízo. E ficaram
deste homem, espírito imundo!” assustados.
9 Todavia, Jesus o interrogou: “Qual é o 16 Os que presenciaram os fatos narra-
teu nome?” Respondeu ele: “Meu nome é ram ao povo o que havia ocorrido com
Legião, porque somos muitos”.4 o endemoninhado, e contaram também
10 E implorava insistentemente para que sobre os porcos.
Jesus não os mandasse para fora daquela 17 Então o povo começou a implorar a
região.5 Jesus que se afastasse daquela região que
11 Enquanto isso, perto dali, numa colina lhes pertencia.
vizinha, uma grande manada de porcos 18 E, quando Jesus estava entrando no
estava pastando. barco, o homem que fora possuído pelos
12 Foi então que os demônios rogaram a espíritos imundos, rogava-lhe que o dei-
Jesus: “Manda-nos para os porcos, para xasse seguir com Ele.
que entremos neles”. 19 Jesus não consentiu; entretanto, orien-
13 E Jesus lhes deu permissão, e os es- tou-o: “Vai para tua casa, para a tua fa-
píritos imundos deixaram o homem e mília e anuncia a eles tudo quanto Deus
entraram nos porcos. E a manada com tem realizado a teu favor, e como teve
cerca de dois mil porcos atirou-se pre- misericórdia de ti”.6
2 A descrição do estado deste homem, invadido e dominado por um exército de demônios, representa em detalhes a situação
da humanidade em todas as partes do mundo. O propósito e a força de Satanás e seus espíritos fica igualmente bem evidente
(Jo 10.10). O ser humano é a mais preciosa obra de Deus; no qual projetou Sua própria imagem (em grego eikõn cujo significado
é “semelhança derivada, que implica num arquétipo” – Gn 1.27; 9.6). Os demônios têm a missão de atormentar e destruir a
semelhança divina (em latim imago Dei) nos seres humanos.
3 O sentido original da frase em hebraico traz a idéia de “O que temos a ver um com o outro?” Expressões semelhantes são
encontradas no AT (2Sm 16.10; 19.22), e que podem significar: “Cuide dos seus assuntos!” Ao perceber que seria castigado
severamente, o líder dos demônios ironizou um apelo, reconhecendo com precisão a majestade da pessoa de Cristo. A expressão
“Altíssimo” era um vocábulo muito especial, usado principalmente por gentios, para se referir à soberania de Deus. Em grego
transliterado Hupistos e, em hebraico Elyon (Gn 14.18-22; Nm 24.16; Is 14.14; Dn 3.26; 4.2).
4 A expressão latina “legião” era muito conhecida na época, pois representava uma força militar romana composta de até 6.000
soldados. O termo indica que o homem estava possuído por grande quantidade de demônios. Era comum entre os mestres em
exorcismo, procurar conhecer o nome individual dos espíritos que haviam tomado o corpo de determinada pessoa. Eles acredi-
tavam que só assim podiam dominar totalmente cada um desses demônios e expulsá-los. Jesus demonstrou que incorporava
em si o poder de Deus, expulsando milhares de espíritos sem lhes pedir qualquer identificação. Apenas mencionando o nome do
líder, que estava absolutamente fragilizado e apavorado com a simples presença de Jesus.
5 Satanás e seus demônios são estrategistas sagazes, podem se organizar em exércitos para tentar o domínio de territórios e
regiões (o termo grego chõran, foi traduzido em algumas versões da Bíblia como “país”, entretanto, sua tradução mais apropriada
é “região”). Porém, o grande temor desses espíritos é serem mandados para o castigo eterno. Ou seja, “para o abismo”, lugar de
confinamento destinado aos espíritos malignos e ao próprio Satanás (Ap 9.1-11).
6 Jesus envia o homem gentio, agora salvo, como missionário (Mt 28.19), para pregar aos seus. Entre os gentios pagãos não
havia necessidade de guardar temporariamente o segredo messiânico que tantas vezes Jesus pediu aos seus irmãos judeus (Mt
8.4; Mc 1.34,44; 3.12). A palavra “Senhor” (Lc 8.39), em hebraico e no dialeto aramaico, refere-se a “Deus” (nome que os judeus
não pronunciam em sinal de respeito, e quando o escrevem em português o fazem com um hífen no lugar da letra “e”, ou seja:
“D-us”, tendo em mente o tetragrama hebraico impronunciável do AT ).
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16. MARCOS 5 16
20Então, partiu aquele homem, e come- 29 E, naquele instante, se lhe estancou a
çou a pregar por toda a Decápolis as coi- hemorragia, e a mulher sentiu em seu
sas que Jesus havia feito por ele. E todos corpo que estava liberta do seu sofri-
ficavam maravilhados.7 mento.
30 No mesmo momento, ao sentir que do
Jesus vence a doença e a morte seu interior fora liberado poder, Jesus vi-
(Mt 9.18-26; Lc 8.40-56) rando-se em meio à multidão, inquiriu:
21 E retornando Jesus de barco para a “Quem tocou em meu manto?”11
outra margem, numerosa multidão, 31 Ao que os discípulos alegaram-lhe:
uma vez mais, se formou ao seu redor, “Vês a multidão que te comprime de
enquanto estava na praia. todos os lados e perguntas: ‘Quem me
22 Foi quando chegou ali um dos dirigen- tocou?’”
tes da sinagoga local, chamado Jairo. Ao 32 No entanto, Jesus continuou olhando
ver Jesus, prostrou-se aos seus pés.8 ao seu redor, esperando ver quem havia
23 E lhe pediu aos prantos e com insis- feito aquilo.
tência: “Minha filha pequena está à beira 33 Então, a mulher, assustada e trêmula,
da morte! Vem, impõe tuas mãos sobre sabendo o que lhe tinha sucedido, apro-
ela, para que seja curada e viva”. ximou-se e prostrando-se aos seus pés
24 Então Jesus foi com ele. E uma enorme declarou-lhe toda a verdade.
multidão o acompanhava, apertando-o 34 E Jesus afirmou-lhe: “Minha filha, a
de todos os lados. tua fé te salvou! Vai-te em paz e estejas
25 E estava por ali certa mulher que, liberta do teu sofrimento”.
havia doze anos, vinha padecendo de 35 Enquanto Jesus ainda estava falando,
hemorragia. chegaram algumas pessoas vindas da casa
26 Ela já tinha sofrido demasiado sob os de Jairo, o dirigente da sinagoga, a quem
cuidados de vários médicos e gastara informaram: “Tua filha já está morta! Não
tudo o que possuía; porém, em vez de adianta mais incomodar o Mestre”.
melhorar, ia de mal a pior.9 36 Mas Jesus não deu atenção àquelas
27 Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, notícias, e voltando-se para o dirigente
passou pelo aglomerado de pessoas e da sinagoga o encorajou: “Não temas,
conseguiu tocar em seu manto. tão somente continue crendo!”12
28 Pois dizia consigo mesma: “Se eu pu- 37 E ordenou que ninguém o acompa-
der ao menos tocar as suas vestes, ficarei nhasse a não ser Pedro, Tiago e João,
curada”.10 irmão de Tiago.13
7 Decápolis era uma confederação formada por dez cidades gregas, localizadas ao nordeste da Palestina, e incluía a famosa
cidade de Damasco.
8 O dirigente de uma sinagoga, ou numa forma arcaica: “o principal”, era comumente um leigo com habilidades e responsabi-
lidades administrativas, entre elas: zelar pelo patrimônio, atender às necessidades legais e sociais exigidas e cooperar para que
os rabinos pudessem dedicar-se completamente ao ministério pastoral e do ensino. Em grandes sinagogas podia haver até uma
equipe de “administradores” (At 13.15).
9 Além do sofrimento físico crônico, a mulher ainda sofria o desprezo da sociedade da época por ser considerada impura. Pela lei
qualquer pessoa que se aproximasse dela ficaria igualmente impura (Lv 15.25-33). O Talmude (interpretação e aplicação da Lei de Moi-
sés ao contexto da vida diária dos judeus) registrava uma série de remédios e tratamentos receitados para doenças de vários tipos.
10 Mateus especifica que o toque ocorreu “na orla” do manto (Mt 23.5).
11 A palavra grega aqui traduzida como “poder” é dunamis, o termo mais usado para designar “milagre” e significa o poder
sobrenatural e pessoal de Deus. Curiosamente, o termo grego, usado por Jesus, está no feminino, indicando assim que o Senhor
tinha conhecimento de “quem” o tocara, porém, desejava que a mulher testemunhasse e solidificasse sua fé em Deus. Embora a
cura tivesse sido importante (como sempre é), Jesus fez uso de um jogo de palavras para revelar claramente ao coração daquela
mulher que ainda mais importante do que a saúde física é a salvação eterna da alma, e por isso escolheu a palavra “salvou”
(vs.34), no original em grego .
12 Os tempos verbais no original grego formam a seguinte frase literal: “Pára de temer; continua crendo”.
13 Pedro, Tiago e João tinham um relacionamento especial, mais chegado com Jesus (At 3.1). Jesus permitiu a presença de
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17. 17 MARCOS 5, 6
38 Assim que chegaram à casa do di- 2 Com a chegada do sábado, começou a
rigente da sinagoga, Jesus observou ensinar na sinagoga local, e muitos dos
grande agitação, com muitas pessoas que o escutavam ficavam admirados e
consternadas, chorando e se lamentando exclamavam: “De onde lhe vem tudo
em alta voz. isto? E que sabedoria é esta que lhe foi
39 Ao entrar na casa lhes questionou: “Por outorgada?
que estais em alvoroço e pranteais? A 3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria
criança não morreu, mas está dormindo!” e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E
40 E todos ali menosprezaram o juízo fei- não convivem conosco suas irmãs?” E fi-
to por Jesus. Ele, contudo, mandou que caram escandalizados por causa dele.1
saíssem, chamou para perto de si o pai 4 Contudo Jesus lhes afirmou: “Somente
e a mãe da criança, bem como os discí- em sua própria terra, junto aos seus pa-
pulos que estavam em sua companhia, e rentes e em sua própria casa, é que um
adentrou o recinto onde jazia a criança. profeta não é devidamente honrado”.2
41 Então, pegando na mão da menina, 5 E, por isso, não podia realizar ali ne-
ordenou em aramaico: “Talitha koum!”, nhum milagre, com exceção feita a alguns
que significa “Filhinha! Eu te ordeno, doentes, que ao impor de suas mãos fo-
levanta-te!”14 ram curados.
42 E no mesmo instante, a menina que 6 E perplexo com a falta de fé por parte
tinha doze anos de idade, ergueu-se do dos seus, passou a percorrer os povoados
leito e começou a andar. Diante disso, vizinhos e os ensinava.
todos ficaram assombrados.
43 Então Jesus lhes recomendou expres- Jesus envia os Doze em Missão
samente para que nenhuma outra pessoa (Mt 10.5-15; Lc 9.1-6)
viesse a saber do que haviam presencia- 7 Convocou então os Doze para junto
do. E mandou que dessem algo de comer de si e os enviou de dois em dois, conce-
à menina. dendo-lhes autoridade sobre os espíritos
imundos.3
Jesus é rejeitado pelos seus 8 E determinou que nada levassem pelo
(Mt 13.53-58; Lc 4.16-30) caminho, a não ser um cajado somente;
6 Então, partiu Jesus dali e foi para sua
terra natal, na companhia dos seus
discípulos.
nem pão, nem mochila de viagem, nem
dinheiro em seus cintos.
9 Que andassem calçados com sandálias,
apenas cinco testemunhas, na ocasião deste milagre. Isso para evitar uma divulgação imediata e incontrolável da notícia. Era de vital
importância, para sua Missão, que Jesus não fosse alvo da atenção das autoridades religiosas judaicas, especialmente na Judéia.
14 Marcos é o único dos Evangelhos que, nesse caso, conserva a expressão original em aramaico, dialeto hebraico falado mais
precisamente na cidade de Nazaré, por Jesus, seus familiares e discípulos. A expressão transliterada Talitha koum! (pronuncia-se
“Talita cumi!”), e significa literalmente “Cordeirinha, levante-se!”
Capítulo 6
1 Mateus apresenta Jesus como “o filho do carpinteiro” (Mt 13.55), Marcos informa que ele também foi carpinteiro. A palavra
grega usada por Marcos descreve o trabalho de um artesão, análise que leva à conclusão de que Jesus poderia igualmente ter
trabalhado como escultor, ferreiro ou marceneiro, juntamente com seus familiares. O termo “escândalo” foi literalmente usado
nos originais em grego para descrever a reação de alguns parentes e conhecidos de Jesus, que sabendo
que ele era um trabalhador braçal (como a maioria deles), nascido em uma família humilde, não conseguiam compreender, nem
aceitar, como Jesus podia pregar com tanta unção e sabedoria. Justino Mártir (por volta de 160 d.C.) relata em seus escritos que
em sua época era comum às pessoas procurarem artigos de madeira feitos por Jesus.
2 Jesus revelou várias profecias antigas que anteviam sua chegada e ministério messiânico, uma delas é sobre o Profeta de
Dt 18.15,18. O primeiro dos grandes sermões de Pedro, em Atos, mostra claramente que Jesus é o sucessor maior de Moisés
e Davi (At 3.22).
3 Os discípulos saíram para ministrar em duplas, isso reforçaria a credibilidade dos testemunhos, conforme a lei (Dt 17.6), além
de oferecer encorajamento mútuo durante o tempo de ministério no campo missionário. Eles receberam autoridade da mesma
fonte que abastecia Jesus (Jo 17.2), a qual Ele concede aos seus discípulos ainda hoje (Lc 9.1; Jo 20.21-23).
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