1. INTRODUÇÃO
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS
Autoria
Desde os primeiros cânones das Sagradas Escrituras, como o Cânon muratório, o terceiro
evangelho do Novo Testamento é reconhecido como de autoria de Lucas, o médico de homens e de
almas; o médico amado, como ficou conhecido (Cl 4.14). Irineu, um dos pais da Igreja, já citava o
Evangelho Segundo Lucas em suas obras, por volta do ano 180 d.C.
Lucas, grande amigo e companheiro de ministério do apóstolo Paulo (2Tm 4.11; Fm 24), é o único
autor gentio do Novo Testamento. Embora não tenha sido testemunha ocular da vida de Jesus Cristo,
andou com Deus, cheio do Espírito Santo, o qual o inspirou a escrever este Evangelho e o livro de
Atos e a servir como missionário até sua morte.
Lucas nos informa que seu trabalho foi beneficiado pela obra de outros (Lc 1.1), que ele consultou
várias testemunhas oculares (Lc 1.2), e que selecionou e dispôs as informações com extremo cui-
dado, sob a direção do Espírito Santo (Lc 1.3), a fim de instruir Teófilo quanto à fidedignidade da fé
em Jesus Cristo (Lc 1.4).
Propósitos
O Evangelho Segundo Lucas é especificamente endereçado a Teófilo, cujo nome significa “aquele
que ama a Deus”. Entretanto, o Espírito Santo ampliou em muito o alcance dessa obra, destinando-a
a todos aqueles que amam a Deus e desejam saber a verdade sobre Jesus Cristo, Seu Filho, nosso
Salvador. Lucas trata Teófilo por “excelentíssimo” o que reforça a idéia de que esse livro tinha como
principal objetivo um leitor em especial: Teófilo, um alto oficial do império romano que, segundo
historiadores renomados, desejoso de conhecer a verdade, patrocinou Lucas nesse projeto e inves-
tigação acurada de todos os fatos concernentes à vida e obra de Jesus Cristo; cujo ensino já invadia
Roma, convertendo multidões. Na mesma época surgiam vários relatórios falsos sobre Jesus e,
tanto Teófilo, quanto o próprio discípulo Lucas, tinham grande interesse em produzir um documento
histórico claro e verdadeiro sobre a pessoa e a obra de Jesus de Nazaré, o Cristo.
Embora particularmente destinado a Teófilo, o Evangelho Segundo Lucas se inclina para todos
os gentios. O autor revela interesse especial por detalhes médicos (Lc 4.38; 7.15; 8.55; 14.2; 18.35;
22.50). Há grande ênfase nos acontecimentos relacionados ao nascimento de Cristo. Curiosamente,
somente Lucas registra a anunciação a Zacarias e Maria, os cânticos de Isabel e Maria, o nascimento
e a infância de João Batista, o nascimento de Jesus, a visita dos pastores, a circuncisão de Jesus e
Sua apresentação no Templo, detalhes da infância de Jesus e até alguns dos pensamentos íntimos
de Maria, mãe de Jesus. Lucas demonstra grande interesse por fatos que se deram com indivíduos:
os relatos de Zaqueu ( 19.1-10); do ladrão q se arrepende (
q (Lc ); que p (23.39-43), e nas p
), parábolas do filho
perdulário (15.11-32) e do publicano arrependido (18.9-14). É Lucas quem nos relata a história
sobre o bom samaritano (10.29-37) e do ex-leproso agradecido (17.11-19). Lucas ainda dá especial
atenção à disciplina espiritual da oração: falar com Deus (Lc 3.21; 5.16; 6.12; 9.18, 28-29; 10.21; 11.1;
22.39-46; 23.34, 46). O Evangelho Segundo Lucas dá grande destaque às mulheres, algo incomum
na época (Veja os capítulos: 1, 2, 7.11-17, 36-50; 8.1-3; 10.38-42, 21.1-4; 23.27-31, 49). O livro
apresenta quatro belos cânticos, conhecidos como: o Magnificat de Maria (Lc1.46-55), o Benedictus
t
de Zacarias (Lc1.67-79), o Gloria in Excelsis Deo dos anjos (Lc 2.14) e o Nunc Dimitris de Simeão
(2.29-32). Lucas ainda reflete sobre o contraste da pobreza em relação à riqueza (1.52-53; 4.16-22;
6.20, 24-25; 12.13-21; 14.12-13; 16.19-31).
Este é o Evangelho do misericordioso Filho de Deus que oferece Salvação a toda humanidade
(19.10).
Data da primeira publicaçãoç
Considerando que os últimos capítulos do livro de Atos mostram Paulo em Roma, e que o Evan-
gelho Segundo Lucas foi publicado antes de Atos (At 1.1), podemos concluir que este Evangelho foi
escrito entre os anos 59 e 64 d.C., em Cesaréia, durante os dois anos em que Paulo esteve preso ali
por pregar a Palavra de Deus (At 24.27).
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2. Lucas tinha completo domínio da língua grega da época. Seu vocabulário é amplo e rico, e seu
estilo, algumas vezes se aproxima do grego clássico, como ocorre logo no prefácio (Lc 1.1-40),
ao passo que em outras ocasiões assume um tom bem semítico (1.5 – 2.52), assemelhando-se
à Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para a língua grega). Seu vocabulário é sensível à
cultura e geografia de cada lugar sobre o qual narra fatos passados. Por exemplo, quando Lucas se
refere a Pedro num contexto judaico, emprega uma linguagem mais semítica que nos momentos em
que descreve Paulo, num contexto helenístico (grego).
Esboço geral de Lucas
1. Prefácio e objetivos da obra (1.1-4)
2. O Filho de Deus e a humanidade (1.5 – 4.13)
A. O nascimento de João Batista (1.5-25)
B. O nascimento do Filho do homem (1.26-56)
C. O advento de João Batista (1.57-80)
D. O advento do Filho de Deus (2.1-20)
E. Adoração ao bebê Jesus (2.21-38)
F. A infância de Jesus (2.39-52)
G. O batismo de Jesus (3.1-22)
H. A genealogia de Jesus (3.23-38)
I. A tentação do Filho de Deus (4.1-13)
3. O ministério do Filho de Deus (4.14 – 9.50)
A. O anúncio do Seu ministério (4.14-30)
B. A autoridade da Sua obra (4.31 – 6.11)
C. Sobre todos os demônios (4.31-37)
D. Sobre todas as doenças (4.38-44)
E. Sobre todos os discípulos (5.1-11)
F. Sobre toda a impureza (5.12-16)
G. Sobre todas as limitações (5.17-26)
H. Sobre todos os desprezados (5.27-39)
I. Sobre todas as deformidades (6.6-11)
4. Os colaboradores de Seu ministério (6.12-49)
A. A convocação dos discípulos (6.12-16)
B. O perfil dos discípulos (6.17-49)
5. As realizações do Seu ministério (7.1 – 9.50)
A. Ministração na doença (7.1-10)
B. Ministração na morte (7.11-17)
C. Ministração aos pecadores (7.36-50)
D. Ministração sustentada (8.1-3)
E. Ministração por parábolas (8.4-21)
F. Ministração nas tempestades (8.22-25)
G. Ministração sobre demônios (8.26-39)
H. Ministração no desespero (8.40-56)
I. Ministração pelos discípulos (9.1-9)
J. Ministração às necessidades (9.10-17)
K. Ministração de predições (9.18-50)
6. O Filho de Deus é rejeitado pelos homens (9.51 – 19.27)
A. Rejeição pelos samaritanos (9.51-56)
B. Rejeição das pessoas mundanas (9.57-62)
C. A comissão dos setenta e dois (10.1-24)
D. Rejeição de um teólogo (10.25-37)
E. Recepção em Betânia (10.38-42)
F. Ensino sobre a oração (11.1-13)
G. Rejeição por Israel (11.14-36)
H. Rejeição pelos fariseus e doutores (11.37-54)
I. Ensinos diante da rejeição (12.1 – 19.27)
J. Sobre a hipocrisia (12.1-12)
K. Sobre a avareza e cobiça (12.13-34)
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3. L. Sobre a fidelidade (12.35-48)
M. Sobre discórdias e sinais (12.49-59)
N. Sobre o arrependimento (13.1-9)
O. Sobre a falsidade (13.10-17)
P. Sobre o Reino de Deus (13.18-35)
7. Pregações para os corações endurecidos (14.1-6)
A. Sobre os que são convidados (14.12-14)
B. Sobre os que são indiferentes (14.15-24)
C. Sobre os que são indulgentes (14.25-35)
D. Sobre o amor de Deus (15.1-32)
E. Sobre a riqueza (16.1-31)
F. Sobre a necessidade do perdão (17.1-6)
G. Sobre a importância do serviço (17.7-10)
H. Sobre a gratidão (17.11-19)
I. Sobre o estabelecimento do Reino (17.20-37)
J. Sobre a oração (18.1-14)
K. Sobre o ingresso no Reino (18.15-30)
L. Sobre a Sua morte (18.31-34)
M. Sobre a Salvação (18.35 – 19.10)
N. Sobre fidelidade (19.11-27)
8. A Paixão do Filho de Deus (19.28 – 23.56)
A. Domingo (19.28-44)
B. Segunda-feira (19.45-48)
C. Terça-feira (20.1 – 21.38)
D. Autoridade contestada (20.1-8)
E. Autoridade revelada (20.9-18)
F. Autoridade resistida (20.19-40)
G. Autoridade demonstrada (20.41 – 21.4)
H. Discurso apocalíptico (21.5-38)
I. Quarta-feira (22.1-6)
J. Quinta-feira (22.7-53)
K. A Ceia do Senhor (22.7-38)
L. O jardim do Getsêmani (22.39-46)
M. Jesus é traído e preso (22.47-53)
N. Sexta-feira (22.54 – 23.55)
O. Jesus é negado por Pedro (22.54-62)
P. Jesus é ridicularizado (22.63-65)
Q. Jesus é levado ao Sinédrio (22.66-71)
R. Jesus é levado a Pilatos (23.1-5)
S. Jesus é levado a Herodes (23.6-12)
T. Jesus novamente diante de Pilatos (23.13-25)
U. A condenação e crucificação (23.26-49)
V. O sepultamento (23.50-55)
W. Sábado (23.56)
9. A vindicação do Filho de Deus diante dos homens (24.1-53)
A. Domingo: a vitória sobre a morte (24.1-12)
B. Jesus cumpre suas profecias (24.13-35)
C. O padrão da vida ressurreta (24.36-43)
D. O Senhor da Igreja (24.44-48)
E. O doador do Espírito Santo (24.49)
F. O Senhor exaltado eternamente (24.50-53).
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4. O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS
Prefácio e dedicatória a Teófilo Isabel era estéril, e ambos eram avançados
1 Tendo em vista que muitos já se
empenharam em elaborar uma nar-
rativa histórica sobre os eventos que se
em idade.
8 Em certa ocasião, quando seu grupo
estava de serviço, Zacarias ministrava
cumpriram entre nós, como sacerdote diante de Deus.
2 conforme nos transmitiram os que des- 9 Ele foi escolhido por sorteio, de acordo
de o princípio foram testemunhas ocula- com a tradição do sacerdócio, para ter
res dos fatos e servos dedicados à Palavra, acesso ao altar do Santo dos Santos e ali
3 eu, pessoalmente, investiguei tudo em oferecer a queima do incenso.4
minúcias, a partir da origem e decidi 10 E, chegando o momento da oferta do
escrever-te um relato ordenado, ó exce- incenso, uma multidão de pessoas estava
lentíssimo Teófilo.1 orando do lado de fora.
4 E isso, para que tenhas plena certeza das 11 Foi então que um anjo do Senhor
verdades que a ti foram ministradas. apareceu a Zacarias, à direita do altar do
incenso.
Gabriel anuncia o nascimento de João 12 Assim que Zacarias o viu, ficou per-
5 Na época de Herodes, rei da Judéia, plexo e um grande temor o dominou
havia um certo sacerdote chamado Zaca- completamente.
rias, que fazia parte do grupo sacerdotal 13 Entretanto, o anjo lhe assegurou: “Não
de Abias. E Isabel, sua esposa, também tenhas medo, Zacarias; eis que a tua
era uma das descendentes de Arão.2 súplica foi ouvida. Isabel, tua esposa, te
6 Os dois andavam em justiça aos olhos dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome
de Deus e obedeciam de forma irrepre- de João.5
ensível a todos os mandamentos e dou- 14 Ele te será motivo de grande felicidade
trinas do Senhor.3 e regozijo. E muitos se alegrarão com o
7 Contudo, eles não tinham filhos, porque seu nascimento.
1 A palavra grega anothen, traduzida por “origem”, quer dizer: “de cima”, “dos altos céus” (Jo 3.31; Tg 1.17), e se refere também
a uma análise criteriosa de “alto a baixo”, “do começo ao fim”. Teófilo, que em latim e grego significa “querido por Deus” ou
“aquele que ama a Deus”, foi um militar de alta patente do exército romano que, convertido ao Senhor, patrocinou a pesquisa e a
publicação deste relatório fiel sobre a vida e a obra de Jesus, livro que veio a tornar-se parte do cânon bíblico (livros inspirados por
Deus) do NT e cujo propósito, assim como João (Jo 20.31), é proporcionar a seus leitores plena certeza quanto aos tremendos
fatos relacionados à história de Cristo e à nossa salvação eterna.
2 Herodes, o Grande, reinou de 37 a 4 a.C. por toda a Samaria, Galiléia e grande parte da Peréia e da Celo-Síria (Mt 2.1). O tem-
po referido pelo texto situa-se entre os anos 7 e 6 a.C. Zacarias e Isabel eram ambos de ascendência sacerdotal, da linhagem de
Arão, grupo sacerdotal de Abias. Tradicionalmente, desde os tempos de Davi, os sacerdotes foram organizados em 24 grandes
divisões, sendo Abias um dos líderes das famílias dos sacerdotes (Ne 12.12; 1Cr 24.10).
3 Zacarias e Isabel não eram impecáveis, mas amavam ao Senhor de coração, e Deus observava essa “adoração interior” em
seus servos, a qual se refletia “exteriormente” no cumprimento irrepreensível dos preceitos religiosos (Fp 3.6) e, especialmente, no
relacionamento com as pessoas. Um grande contraste em relação às atitudes apenas “cosméticas” dos fariseus (Mt 5.20; 23.2-5).
4 Uma das grandes responsabilidades do sacerdote era manter o incenso queimando em louvor a Deus, no altar diante do
Santo dos Santos. Ele colocava ali incenso novo todas as manhãs, antes do sacrifício matinal, e, outra vez, logo após o sacrifício
vespertino (Êx 30.6-8). Era raro que um sacerdote tivesse o privilégio de ministrar ao Senhor no Santo dos Santos, pois eles eram
muitos e a determinação dessa tarefa se fazia por lançamento de sortes. Além disso, essa era uma experiência única na vida
de muitos sacerdotes (2Sm 6.7) que, por não estarem vivendo de acordo com a vontade de Deus, eram fulminados pela ira do
Senhor em pleno ato de ministração (Ne 11.1; Pv 16.33; Jo 1.7; At 1.26).
5 A expressão usada pelo anjo, traduzida por “não tenhas medo”, no hebraico tem o sentido de “não perder a confiança em
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5. 5 LUCAS 1
15 Pois ele será grande aos olhos do Se- minhas palavras, as quais, no seu devido
nhor, jamais beberá vinho nem qualquer tempo, se cumprirão”.
outra bebida fermentada, e será pleno 21 Enquanto isso, o povo estava aguar-
do Espírito Santo desde antes do seu dando Zacarias e preocupava-se com o
nascimento. fato de que demorasse tanto no santuá-
16 E conduzirá muitos dos filhos de Israel rio do Senhor.10
à conversão ao Senhor, seu Deus.6 22 Mas, ao sair, nenhuma palavra conse-
17 Ele avançará na presença do Senhor, guia pronunciar; as pessoas perceberam
no mesmo espírito e poder de Elias, com que ele tivera uma visão no santuário.
o propósito de fazer voltar o coração dos Zacarias tentava comunicar-se através de
pais a seus filhos e os desobedientes à sinais, permanecendo todavia mudo.
sabedoria dos justos, deixando um povo 23 Ao completar seus dias dedicados ao
preparado para o Senhor”.7 serviço, ele regressou para casa.
18 Então, Zacarias indagou do anjo: 24 E, passado esse tempo, Isabel, sua espo-
“Como poderei certificar-me disso? Pois sa, engravidou, mas durante cinco meses
já sou idoso, e minha esposa igualmente ocultou-se das pessoas não saindo de casa.
de idade avançada”.8 25 E ela dizia a si mesma: “Isto é dádiva
19 Ao que o anjo lhe replicou: “Sou Ga- do Senhor para mim! Eis que seus olhos
briel, aquele que está permanentemente me contemplaram, para retirar de sobre
na presença de Deus e fui encarregado mim a grande humilhação que sentia
de vir para falar e transmitir-te estas diante de todos”.11
boas notícias.9
20 Porém, eis que permanecerás em si- Gabriel anuncia o nascimento de Jesus
lêncio, pois não conseguirás falar até o 26 Então, no sexto mês, Deus enviou o
dia em que venha a ocorrer tudo quanto anjo Gabriel para Nazaré, uma cidade
te revelei, porquanto não acreditaste nas da Galiléia,
Deus”, sendo uma palavra de encorajamento muito usada em toda a Bíblia (no verso 30 e em 2.10; 5.10; 8.50; 12.7,32; Gn 15.1;
21.17; 26.24; Dt 1.21; Js 8.1). O nome João deriva do hebraico antigo e significa: “O Senhor é bom e misericordioso”.
6 A grandeza de João seria reconhecida pelas qualidades de profeta precursor do Senhor, nazireu (Nm 6.3) e sacerdote. O per-
manente estado de plenitude e dependência do Espírito Santo capacitaria João a proclamar a Palavra de tal maneira que muitos
seriam convertidos de seus caminhos mundanos e formariam um povo de coração preparado para a vinda de Jesus Cristo e do
Reino de Deus (At 19.4). João cumpriu as profecias de Ml 3.1; 4.5,6 e as registradas em Is 40.3,4 (veja Lc 7.24-35). João também
se submeteu ao voto nazireu de abstinência de bebidas alcoólicas (Nm 6.1-4). Em seu caso, desde o ventre de sua mãe, como
Sansão (Jz 13.4-7) e Samuel (1Sm 1.11).
7 Não há qualquer possibilidade de Elias ter voltado na pessoa de João (Jo 1.21). A Bíblia não oferece nenhuma base textual
para as teorias da reencarnação ou mediunidade. Entretanto, João foi Elias na semelhança do seu amor e fidelidade ao Senhor
(Mt 11.14). Na sua mensagem poderosa e destemida, convocando os seres humanos ao mais sincero e absoluto arrependimento
de seu deliberado e contínuo afastamento de Deus.
8 À semelhança de Abraão (Gn 15.8), de Gideão (Jz 6.17) e de Ezequias (2Rs 20.8), Zacarias pediu um sinal (1Co 1.22), talvez
não da melhor maneira, mas o anjo o atendeu e nos deixou uma lição sobre jamais duvidar da Palavra do Senhor. Um estudo
comparativo de Abraão e Sara em relação a Zacarias e Isabel, focalizando especialmente Isaque e João, será de grande valor
(Gn 15 a 18).
9 O nome Gabriel em hebraico antigo significa: “o poderoso homem de Deus”. Apenas dois anjos têm seus nomes identificados
nas Sagradas Escrituras: Gabriel (Dn 8.16; 9.21) e Miguel (Dn 10.13,21; Jd 9; Ap 12.7).
10 A multidão estava aguardando com apreensão e ansiedade que o sacerdote (Zacarias) saísse do Santo dos Santos para
proferir a tradicional bênção arônica (Nm 6.24-26). Entretanto, ele saiu mudo. Todo sacerdote tinha a obrigação de trabalhar
durante uma semana nas dependências do templo, uma vez a cada seis meses (vs. 23, 39).
11 Especialmente no AT, a ausência de filhos ou o empobrecimento eram considerados sinais do desfavor divino, ou de sérios
pecados ocultos, o que sujeitaria as pessoas ao castigo de Deus. No caso da infertilidade, toda a responsabilidade pela falta de
filhos e, portanto, pelo descontentamento divino, recaía sobre a mulher, a qual era vítima das mais variadas e deprimentes formas
de julgamento e rejeição por parte da comunidade e, muitas vezes, do próprio marido. Jesus e seus discípulos jamais aprovaram
esse tipo de teologia simplista e distante dos propósitos gerais de Deus para a humanidade (Gn 16.2; 25.21; 30.23; 1Sm 1.1-18;
Lv 20.20,21; Sl 128.3; Jr 22.30).
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6. LUCAS 1 6
27 a uma virgem prometida em casamen- 35 Então o anjo lhe esclareceu: “O Espíri-
to a certo homem chamado José, descen- to Santo virá sobre ti, e o poder do Altís-
dente de Davi. E o nome da virgem era simo te cobrirá com a sua sombra. E por
Maria.12 esse motivo, o ser que nascerá de ti será
28 O anjo chegou ao lugar onde ela chamado Santo, Filho de Deus.18
estava e ao se aproximar lhe declarou: 36 Saiba também que Isabel, tua parenta,
“Alegra-te, mui agraciada! O Senhor está dará à luz a um filho mesmo em idade
contigo!”.13 avançada, sendo que este já é o sexto mês
29 Diante de tais palavras, Maria ficou de gestação para aquela a quem julgavam
intrigada, imaginando qual poderia ser o estéril.
motivo daquele tipo de saudação. 37 Porquanto para Deus não existe nada
30 Mas o anjo lhe revelou: “Maria, não que lhe seja impossível!”.
temas; pois recebeste grande graça da 38 Diante disso, declarou Maria: “Eis aqui
parte de Deus. a serva do Senhor; que se realize em mim
31 Eis que engravidarás e darás à luz um tudo conforme a tua palavra!”. Em segui-
filho, a quem chamarás pelo nome de da o anjo partiu.
Jesus.14
32 Ele será Grande, e será chamado Filho O encontro de Maria com Isabel
do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o 39 Durante aqueles dias, Maria prepa-
trono de seu pai Davi,15 rou-se e saiu rapidamente em viagem
33 e Ele reinará para sempre sobre o povo para uma cidade da região montanhosa
de Jacó, e seu Reino nunca terá fim”.16 da Judéia.
34 Então, perguntou Maria ao anjo: 40 Chegou à casa de Zacarias e foi saudar
“Como acontecerá isso, pois jamais tive Isabel.
relação sexual com homem algum?”.17 41 Assim que Isabel ouviu a saudação de
12 Lucas trata o assunto da concepção virginal de Jesus de forma clara e objetiva (observe os versos 27, 34 e 35 e Mt 1.18-25).
A fecundação foi obra do Espírito Santo que, ao cobrir Maria, na forma de uma sombra, gerou em seu ventre o embrião que
seria Jesus, a eterna segunda pessoa da Trindade. Jesus jamais deixou de ser Deus, mas Deus assumiu completamente corpo
e alma humanas, possibilitando que Jesus fosse plenamente homem e plenamente Deus a um só tempo (Jo 1.14). Maria havia
sido desposada, o que significa no judaísmo da época, uma espécie de noivado definitivo. Um compromisso de casamento sem
possibilidade de arrependimento. Qualquer infidelidade por parte da mulher a partir desse pacto matrimonial, era punida com a
pena de morte por apedrejamento para a virgem que cometera adultério e para o homem que a tivesse seduzido (Dt 22.23,24).
Maria e José eram descendentes diretos de Davi (vs.32,69 e 2.4).
13 Em algumas versões traduzidas a partir da Vulgata latina, conservou-se a palavra “Ave” (de onde teve origem a frase: “Ave
Maria”) uma expressão comum de saudação em latim, e que significa: “Salve!” ou “Seja Feliz!”, mais propriamente traduzida aqui
por “Alegra-te!”. Outra expressão que aparece em algumas versões da Bíblia é: “cheia de graça”, numa referência ao favor de
Deus para com sua serva. A tradução e o sentido mais literal dessa frase nos originais gregos são: “tu que foste e permaneces
repleta do favor divino”.
14 O nome próprio “Jesus” deriva do hebraico antigo (cwSy - Yeshua) e significa: “Josué”, que quer dizer: “Yahweh Salva” ou
“Jeová é o Salvador” (Mt 1.21).
15 “Grande” era um título de destaque dado a personalidades notáveis, especialmente aos imperadores da época. O anjo
comunica que o Reino de Cristo é imenso e jamais terá fim. A expressão hebraica traduzida por “Altíssimo” é igualmente um
título honroso, muitas vezes usado no AT e no NT em referência à pessoa de Deus (nos versos 35,76; 6.35; 8.28; Gn 14.19; 2Sm
22.14; Sl 7.10), e tem dois sentidos. Refere-se ao divino Filho de Deus e ao Messias (o Cristo, em grego). O messianato de Jesus
é claramente abordado nos versos 32b e 33. Quanto ao trono de Davi, que significa o comando do mundo, foi profetizado no AT
que seria entregue por Deus ao Messias, da descendência de Davi (2Sm 7.13,16; Sl 2.6,7; 89.26,27; Is 9.6,7).
16 A missão de Cristo como mediador um dia se encerrará (1Co 14.24-28) e dará lugar ao Reino unificado do Pai e do Filho que
durará eternamente (Sl 45.6; Rm 1.3,4; Fp 2.9-11; Hb 1.8; Ap 11.15).
17 Maria não se assusta tanto com o anjo quanto com as palavras dele. Entretanto, mesmo sendo uma jovem simples de
7
pequena aldeia do interior da Galiléia, não duvida da revelação divina que recebe, como ocorreu com o experiente teólogo e
dedicado sacerdote Zacarias. Maria apenas – compreensivelmente – desejava saber “como” tal evento se daria. Muito embora as
revelações comunicadas a Maria tenham sido ainda mais extraordinárias do que as anunciadas a Zacarias, a serva do Senhor não
precisou de provas ou sinais para aceitar, com alegria submissa, a missão que o Senhor lhe confiara.
18 Alguns séculos depois da ressurreição do Senhor, surgiram certos escritos seculares questionando o período da primeira
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7. 7 LUCAS 1
Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e braço; dispersou aqueles cujos sentimen-
Isabel ficou plena do Espírito Santo.19 tos mais íntimos são soberbos.
42 E, com um forte grito, exclamou: 52 Derrubou governantes dos seus tro-
“Bendita és tu entre todas as mulheres, e nos, mas exaltou os humildes.
bendito é o fruto de teu ventre! 53 Supriu abundantemente os famintos,
43 Mas, qual o motivo desta graça mara- mas expulsou de mãos vazias os que se
vilhosa, que me venha visitar a mãe do achavam ricos.21
meu Senhor? 54 Ajudou a seu servo Israel, recordando-
44 Pois, no mesmo instante em que a se da sua misericórdia infinda
tua voz de saudação chegou aos meus 55 a favor de Abraão e sua descendência,
ouvidos, o bebê que está em meu ventre para sempre, assim como prometera aos
agitou-se de alegria. nossos antepassados”.22
45 Bem-aventurada é aquela que acredi- 56 E Maria permaneceu com Isabel por
tou que o Senhor cumprirá tudo quanto cerca de três meses, quando então retor-
lhe foi revelado!”. nou à sua casa.23
Magnificat, o cântico de Maria Nasce João Batista
46 Então declarou Maria:20 “Engrandece 57 Ao se completar o tempo de Isabel dar
minha alma ao Senhor, à luz, nasceu-lhe um filho.
47 e o meu espírito se regozija em Deus, 58 Todos os seus vizinhos e parentes ou-
meu Salvador, viram falar da grande misericórdia com
48 pois contemplou a insignificância da a qual o Senhor a havia contemplado e
sua serva. Mas, de hoje em diante, todas muito se alegraram com ela.
as gerações me chamarão bem-aventu- 59 No oitavo dia levaram o menino para
rada, ser circuncidado, e desejavam dar-lhe o
49 porque o Poderoso realizou maravilhas nome do pai, Zacarias.
a meu favor; Santo é o seu Nome! 60 No entanto sua mãe tomou a palavra
50 A sua misericórdia estende-se aos que e afirmou: “Não! O nome dele deverá ser
o temem, de geração em geração. João”.
51 Ele operou poderosos feitos com seu 61 Ponderaram-lhe: “Mas ninguém há en-
juventude de Jesus, sobre o qual a Bíblia nada fala. Foram sugeridas várias hipóteses e uma delas levanta a possibilidade de
Jesus ter passado por uma fase em que teria cometido alguns pecados para se assemelhar ainda mais aos seres humanos. As
Sagradas Escrituras, entretanto, são claras em afirmar que Jesus nasceu Santo (a expressão hebraica original significa: separado
para habitação de Deus) e jamais cometeu um só pecado (2Co 5.21; Hb 4.15; 7.26; 1Pe 2.22; 1Jo 3.5). Não foi o nascimento
virginal de Jesus que o fez “Santo”, e muito menos, “Filho de Deus”. Esse foi o meio pelo qual o Filho, preexistente (que sempre
existiu), revelou Sua Deidade (Jo 1.1,14; Fp 2.6).
19 Lucas dá grande ênfase à ação do Espírito Santo, não apenas no evangelho, mas, especialmente no livro de Atos. Algumas
versões trazem a expressão “possuída” para descrever o quanto Isabel ficou cheia (em plenitude) do Espírito. Foi pelo Espírito
que Isabel reconheceu Maria como mãe do Redentor (v.43) e é só pelo Espírito Santo que o pecador pode conhecer a Cristo
como seu único, suficiente e eterno Salvador e Senhor (Jo 16.8,9).
20 Maria (e não Isabel como sugerem algumas versões), na plenitude do Espírito Santo, a exemplo de Ana (1Sm 2.1-10), louva
ao Senhor por sua graça e misericórdia para com todos, especialmente para com os humildes e desprotegidos. A tradição da
Igreja transformou esse cântico (salmo) num hino conhecido como Magnificat, pois na tradução desse texto em latim, na Vulgata,
a primeira palavra é “Magnificat”, que significa: “Engrandece”.
21 Maria, usando uma forma de expressão profética, refere-se às maravilhas que a vinda do Cristo (o Messias) produziria (Tg
5.1-6). Deus supre os “famintos” de bênçãos espirituais e bens materiais (de pão e justiça – Ef 1.3 com 1Sm 2.5), especialmente
quando eles aprendem o que é “temer ao Senhor” (viver em harmonia e respeito à vontade revelada de Deus na sua Palavra).
22 A expressão “seu servo”, em grego transliterado é paidos, e significa: “servo filho”. “Filhos de Deus” é uma expressão que,
em grego, se refere a outras duas palavras: tekna ou huioi. Além do servo Israel, também Davi e Cristo são como “servos” de Deus
(v.69; conforme At 3.13,26; 4.25,27,30). Israel, como o Servo de Yahweh (Jeová), tendo cumprido sua missão, cede seu lugar
ao Messias (Jesus Cristo) nas maravilhosas profecias sobre o “Meu Servo” (Is 41.8,9; 42.1; 44.1,2,21; 45.4). O cântico termina
garantindo que Deus será fiel às promessas que fez a Seu povo (Gn 22.16-18).
23 Maria ficou com Isabel, sua parenta e amiga querida, até o nascimento de João Batista, quando retornou para casa, em Nazaré.
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8. LUCAS 1 8
tre teus parentes que se chame assim”. 71 Salvando-nos dos nossos inimigos e
62 Então, através de sinais, consultaram das mãos de todos os que nos odeiam,
o pai do menino que nome queria que 72 para demonstrar sua misericórdia aos
lhe dessem. nossos antepassados e recordar sua santa
63 Ele pediu uma tabuinha e, para surpresa aliança,
de todos, escreveu: “O nome dele é João”.24 73 o juramento que prestou ao nosso pai
64 No mesmo instante sua boca se abriu, Abraão.
sua língua se soltou e ele começou a falar, 74 Que nos resgataria da mão de todos
louvando a Deus. os nossos inimigos, a fim de o servirmos
65 Toda a vizinhança foi tomada de gran- livres do medo,
de temor e por toda a região montanhosa 75 em santidade e justiça na sua presença,
da Judéia se comentavam esses fatos. durante todos os dias de nossas vidas.
66 E aconteceu que todos quantos ouviam 76 Tu, menino, serás chamado profeta do
falar dessas ocorrências ficavam imagi- Altíssimo, pois marcharás à frente do Se-
nando: “O que virá a ser este menino?”. nhor, para lhe preparar o caminho.27
Pois a boa mão do Senhor estava com ele. 77 Para proclamar ao seu povo o conhe-
cimento da salvação, mediante o perdão
Benedictus, o cântico de Zacarias dos seus pecados.
67 Então, seu pai Zacarias foi cheio do 78 E isso, por causa das profundas miseri-
Espírito Santo e profetizou:25 córdias de nosso Deus, através das quais
68 “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, dos céus nos visitará o sol nascente,28
pois que visitou e redimiu o seu povo. 79 para iluminar aqueles que estão viven-
69 Ele concedeu poderosa salvação na do em meio às trevas, e guiar nossos pés
casa de Davi, seu servo.26 no caminho da paz”.29
70 Assim como prometera por meio dos 80 E o menino crescia e se robustecia em
seus santos profetas desde a antigüidade. espírito; e viveu no deserto até o dia em
24 Na antigüidade judaica era usado um pedacinho de madeira coberto com cera e um buril (um pequeno instrumento de metal
usado para gravar textos e imagens em madeira), como uma espécie de livro de anotações. A importância dos nomes atribuídos
às pessoas é algo notável em toda a Bíblia. No início da Nova Dispensação, temos Zacarias – “Deus se recorda de Sua aliança”
(v.54); Isabel – “Deus é fiel”; João – “Deus é bom e misericordioso” (Mt 3.1); Maria – “aquela que guarda em seu coração”, e o
próprio Jesus – “Deus é o Salvador” (v.31; Mt 1.21).
25 A exemplo de Maria, com seu salmo, Zacarias também expressa sua alegria espiritual e louvor (agora com a voz livre do
sinal punitivo do anjo, devido ao cumprimento da promessa), por meio de um hino profético. Esse cântico ficou conhecido pela
Igreja como Benedictus, que em latim significa “Bendito” ou “Louvado seja”, pois se trata da palavra que inicia este hino na
Vulgata latina.
26 A salvação de Deus para Israel não se limitará à redenção nacional (v.71), mas, principalmente, à salvação espiritual
(vs.75,77). A expressão hebraica, aqui interpretada por “poderosa” se traduz literalmente por “chifre de boi”, numa alusão à força
e ao poder (conforme Dt 33.17; Sl 18.1-3; 22.21; 92.10,11; 132.17,18; Mq 4.13). Jesus – o Messias da Casa de Davi – tem poder
para salvar e libertar seu povo de todo tipo de opressão e escravidão.
27 João foi chamado profeta do Altíssimo, enquanto Jesus foi reconhecido como Filho do Altíssimo (v.32). O principal ministério
7
de João foi testificar de Cristo (Jo 1.7,29,32-36). O maior ministério do cristão é também ser testemunha de Jesus Cristo (At 1.8).
João recebeu a missão de preparar os caminhos do Senhor para sua primeira vinda, enquanto nós devemos apressar o glorioso
retorno de Cristo por meio do nosso testemunho e da evangelização de todos os povos (2Pe 3.11,12).
28 Assim como o sol nascente desvanece as trevas, Cristo aniquilou o poder e a culpa do pecado. Veja figuras de linguagem
semelhantes em: Nm 24.17; Is 9.2; 60.1. Ele conquistou o império que estava nas mãos de Satanás e destruiu o poder da morte
(Rm 5.12-21). O sacerdote Zacarias, não apenas exaltou seu filho, o profeta João, mas louvou o Messias Jesus que chegaria em
breve (vs.78,79).
29 Os que vivem nas trevas são os que estão perdidos, a caminho da morte (separação de Deus) eterna (Is 9.1,2; Mt 4.16).
A humanidade busca desesperadamente por paz, entretanto o que se vê é o aumento constante da violência e da brutalidade
entre pessoas e nações. O vocábulo “paz” no original grego (transliterado: irene), significa: “estado de descanso, tranqüilidade
e segurança, devido a um harmonioso relacionamento entre Deus e a pessoa humana”. Jesus Cristo é o Príncipe da Paz e todos
os seus discípulos já podem desfrutar dessa Paz que será completa e mundial, quando o Senhor estabelecer seu Reino de forma
plena e definitiva na terra renovada (Ap 21.1).
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9. 9 LUCAS 1, 2
que havia de revelar-se publicamente a 7 e ela deu à luz o seu primogênito. En-
Israel.30 volveu-o com tiras de pano e o colocou
sobre uma manjedoura, pois não havia
Nasce Jesus de Nazaré, o Cristo lugar para eles na hospedaria.5
(Mt 1.18-25)
2 Naquela época, César Augusto pu-
blicou um decreto, convocando para
um recenseamento, todos os moradores
“Gloria in Exelsis Deo!”
8 Nas proximidades havia pastores que
estavam nos campos e que durante a
das terras dominadas por seu império.1 noite cuidavam dos seus rebanhos.
2 Este foi o primeiro cadastramento da 9 E aconteceu que um anjo do Senhor
população de todo o império romano, apareceu a eles e a glória do Senhor
quando Quirino era governador da Síria.2 reluzindo os envolveu; e todos ficaram
3 E todos seguiam para as cidades onde ha- apavorados.
viam nascido, a fim de serem arrolados. 10 Todavia o anjo lhes revelou: “Não
4 Por isso, José também viajou da cidade temais; eis que vos trago boas notícias
de Nazaré da Galiléia para a Judéia, até de grande alegria, e que são para todas
Belém, cidade de Davi, porque pertencia as pessoas:
à casa e à descendência de Davi.3 11 Hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o
5 E partiu com o propósito de alistar-se, Salvador, que é o Messias, o Senhor!6
juntamente com Maria, sua esposa pro- 12 Isto vos servirá de sinal: encontrareis
metida, que estava grávida.4 um recém-nascido envolto em panos e
6 Enquanto estavam em Belém, chegou o deitado sobre uma manjedoura”.
momento de nascer o bebê, 13 E no mesmo instante, surgiu uma
30 Zacarias e Isabel, já idosos quando João nasceu; morreram quando ele era ainda muito jovem. Segundo historiadores e
arqueólogos, João teria sido levado para o deserto da Judéia, onde viveu cerca de trinta anos e muito aprendeu com os essênios
da região de Qunram. A semelhança de terminologia da sua pregação com os chamados Rolos do Mar Morto é notável. João
Batista começou seu ministério público com cerca de trinta anos, idade em que os profetas tinham, em geral, sua maioridade e
maturidade espiritual reconhecidas pelos conselhos de rabinos.
Capítulo 2
1 Lucas procura sempre relacionar sua narrativa aos grandes fatos históricos de seu tempo. César Augusto (30 a.C. a 14 d.C)
foi o primeiro e o maior dos imperadores romanos. Estabeleceu a chamada “Pax Romana”, trocou o sistema republicano por uma
forma imperial de governo, conquistou todo o mundo civilizado do Mediterrâneo e estabeleceu a idade áurea das artes, arquite-
tura e literatura romanas. No ano 27 a.C. o senado romano lhe concedeu o título de “augusto”, que em latim significa: “exaltado”
ou “digno de toda a reverência”. Embora os judeus estivessem isentos do serviço militar romano, e por isso não eram obrigados
a atender às convocações militares, não estavam livres de pagar os impostos, e esse recenseamento ou cadastramento visava
exatamente alistar todos os cidadãos e moradores sob o domínio romano, especialmente para recolhimento de impostos. Deus
usou o decreto de um imperador pagão para cumprir a profecia de Mq 5.2.
2 Quirino foi um oficial romano que coincidentemente trabalhou neste censo e em um segundo alistamento geral que ocorreu
de 6 a 9 d.C., registrado por Lucas em At 5.37, no qual Judas se levantou contra o governo romano da época, alegando que Deus
era o único e legítimo Rei de Israel, sendo, portanto, ilícito (um pecado) pagar impostos a qualquer outra autoridade.
3 Belém é a mesma cidade onde nasceu o rei Davi cerca de 1000 anos antes destes eventos (1Sm 17.12; 20.6) e se localizava
a uma distância aproximada de 10 km ao sul de Jerusalém. Naquela época, uma viagem de pelo menos três dias até Nazaré.
“Judéia”, era a maneira greco-romana de chamar a parte sul da Palestina, no passado abrangida pelo reino de Judá.
4 Na Síria, província romana na qual se localizava a Palestina, as mulheres acima de 12 anos deviam pagar um imposto indivi-
dual ao governo, e para isso tinham de ser cadastradas (recenseadas). Maria também pertencia à casa de Davi.
5 No ocidente e por motivos não históricos nos acostumamos a celebrar o natal (nascimento de Jesus Cristo) em dezembro.
Entretanto, segundo muitos historiadores e arqueólogos de prestígio, a data mais provável deve ter sido na primavera palestina
(entre maio e junho). Era costume entre as mães judias envolver os filhos recém-nascidos com tiras de tecido para que ficassem
bem agasalhados e protegidos. A cidade estava lotada com pessoas de todas as partes vindas para ser arroladas no censo. Maria
sentia as dores de parto e a única solução foi se acomodarem em um estábulo. Ao nascer, Jesus foi posto em uma manjedoura,
uma espécie de cocho onde se colocava o alimento dos animais.
6 Os líderes religiosos e o povo judeu estavam divididos em suas expectativas quanto à obra do Messias prometido. Uns
esperavam que ele fosse um grande líder militar e os livrasse do domínio romano. Outros desejavam cura para as enfermidades
e os muitos sofrimentos físicos. E, outros ainda, ambicionavam um Messias que os livrasse da fome e da pobreza. Contudo, a
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10. LUCAS 2 10
grande multidão do exército celestial Jesus é apresentado no templo
que se juntou ao anjo e louvavam a Deus 21 Completando-se os oito dias para o
entoando: ritual de circuncisão do menino, foi-lhe
14 “Glória a Deus nos mais altos céus, e dado o nome de Jesus, o qual já havia
paz na terra às pessoas que recebem a sido outorgado pelo anjo antes de Ele
sua graça!”.7 nascer.8
15 Quando os anjos partiram e foram 22 De igual modo, ao completar-se o
para os céus, os pastores combinaram tempo da purificação deles, de acordo
entre si: “Vamos até Belém, e vejamos com a Lei de Moisés, José e Maria le-
este acontecimento que o Senhor nos varam o bebê Jesus até Jerusalém para
deu a saber”. apresentá-lo a Deus no templo.9
16 Então correram até o local e chegando, 23 Assim como está escrito na Lei do
encontraram Maria e José, e o recém- Senhor: “Todo primogênito nascido do
nascido deitado numa manjedoura. sexo masculino deverá ser dedicado ao
17 E depois de o contemplarem, comuni- Senhor”.
caram a todos o que lhes fora revelado a 24 Também um sacrifício deveria ser ofe-
respeito daquele menino, recido, como proclama a Lei do Senhor:
18 Ao ouvirem o que os pastores relata- “duas rolinhas ou dois pombinhos”.10
vam ficaram sobremodo assustados.
19 Maria, contudo, observava silenciosa “Nunc Dimittis”
todos os acontecimentos, e refletia sobre 25 Entrementes, havia um homem em
eles em seu coração. Jerusalém chamado Simeão, homem
20 Os pastores retornaram glorificando justo e piedoso e que almejava a conso-
e louvando a Deus por tudo quanto lação de Israel; e o Espírito Santo estava
tinham visto e ouvido, assim como lhes sobre Ele.11
fora predito. 26 O Espírito Santo lhe havia revelado
missão prioritária do Cristo, anunciada pelos anjos, é que Ele viria resgatar a humanidade, pagando o preço pelo pecado: a morte
(Mt 1.21; Jo 4.42). A pessoa e a obra de Cristo neste mundo significam: maior glorificação de Deus Pai nos céus (17.4,5) e paz
divina eterna para todos os habitantes da terra que receberem seu Espírito com amor e sinceridade (v.14; Rm 5.1,2). A expressão
hebraica: “Senhor”, até a vinda de Cristo, era usada exclusivamente para se referir a Deus (At 2.36; Fp 2.11).
7 Um grande coral de anjos entoou um cântico de louvor a Deus. As primeiras palavras deste pequeno hino, registrado em
latim na Vulgata, são: Gloria in exelsis Deo! Os anjos exaltam a majestade de Deus em todo o universo, nos céus, onde Deus
habita (Mt 6.9). O mundo da época vivia sob a Pax romana, uma paz exterior e temporária, imposta por um imperador humano. Os
anjos anunciam a “Paz de Deus”, eterna e absoluta, garantida a todos quantos se agradam (recebem com gratidão, sinceridade
e lealdade) a graça de Deus (Lucas usa a palavra “agrado” em vários momentos 3.22; 10.21; 12.32). A “Paz de Deus” só p
) g ç ( p g ) pode
ser recebida por quem crer que Ele é o Único doador e Salvador. Em resumo: é um ato de fé (Rm 5.1). O Messias davídico era
chamado de “Príncipe da Paz” (Is 9.6). De outro lado, embora Cristo tenha prometido essa Paz aos seus discípulos (Jo 14.27),
Ele deixou bem claro que haveria lutas, aflições e tensões (Mt 10.34-36; Lc 12.49; Jo 16.33), pois manter a paz com Deus significa
viver em oposição diária a Satanás e seus ardis (Tg 4.4).
8 Jesus, o Filho de Deus, relacionou-se de perto com a Lei e a Velha Aliança. Nasceu, cresceu e foi educado sob a Lei para
resgatar todos os que estavam sob a Lei e suas conseqüências. Obedeceu a Lei e foi além, para nos ensinar a viver sob o espírito
da lei; ou seja, livres da formalidade da letra, mas conduzidos pelo Espírito de Deus, nosso Advogado e Orientador quanto ao que
devemos fazer para agradar ao Pai Celestial (Jo 14.25-27; Gl 4.4-5). Lucas usa muitas vezes a expressão “louvando ao Senhor”
(1.64; 2.13,28; 5.25,26; 7.16; 13.13; 17.15,18; 18.43; 19.37; 23.47; 24.53).
9 Depois de dar à luz a um filho, a mãe judia, precisava aguardar 40 dias (resguardo), para dirigir-se ao templo e oferecer os
sacrifícios chamados de “purificação”. Se fosse pobre e não pudesse comprar um cordeiro e uma rolinha (espécie de pombo
pequeno), como ocorreu com José e Maria, eram aceitáveis dois pombinhos (Lv 12.2-8; 5.11).
10 Belém distava de Jerusalém cerca de 10 km. Todos os primogênitos dos seres humanos e dos animais deviam, p
p g pela Lei,
serem consagrados (dedicados) ao Senhor (Êx 13.12-13). Os animais eram sacrificados, pois somente o sangue e a morte dos
inocentes podia pagar o preço dos pecados humanos. Cristo tomou sobre si esta penalidade (Is 53.6; 2Co 5.21) e se deu em
sacrifício único, suficiente e perpétuo. Os primogênitos humanos eram simbolicamente oferecidos aos cuidados do Senhor (Rm
8.29), e seus pais se obrigavam a educá-los para adorar e servir a Deus. Os filhos deviam seguir a fé dos pais durante toda a vida,
mas eram os levitas quem, de fato, dedicavam suas vidas inteiras ao serviço religioso diário, como ministros, representando a
adoração de todos os primogênitos masculinos de Israel (Nm 3.11-13; 8.17,18).
11 A consolação que os judeus piedosos (fiéis e adoradores sinceros de Deus) aguardavam era a vinda do Messias (Cristo,
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11. 11 LUCAS 2
que não morreria sem ter a oportunida- velada. Quanto a ti, todavia, uma espada
de de ver o Cristo de Deus. traspassará a tua alma”.13
27 Movido pelo Espírito Santo, ele di-
rigiu-se ao templo. Assim que os pais As profecias de Ana
trouxeram o menino Jesus para reali- 36 Estava também presente a profetiza
zarem com Ele o ritual de consagração Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.
exigido pela tradição da Lei, Era uma senhora de idade avançada; ti-
28 Simeão o tomou em seus braços e lou- nha vivido com seu marido durante sete
vou a Deus, exclamando: anos depois de se casar,14
29 “Ó Soberano! Como prometeste, po- 37 e desde então permanecera viúva até
des agora despedir em paz o teu servo. a idade de oitenta e quatro anos. Jamais
30 Porquanto os meus olhos já contem- deixava o templo: adorava a Deus, jeju-
plaram a tua Salvação,12 ando e orando dia e noite.
31 a qual preparaste à vista de todos os 38 Havendo chegado ali, naquele exato
povos: momento, deu graças a Deus e proclama-
32 luz para revelação aos gentios, e para va acerca do bebê Jesus para todos os que
glória do teu povo de Israel”. anelavam pela redenção de Jerusalém”.15
33 O pai e a mãe do menino ficaram 39 Depois de terem cumprido tudo
admirados com a proclamação feita a quanto era requerido pela Lei do Senhor,
respeito dele. retornaram para a sua própria cidade,
34 Então Simeão os abençoou e revelou Nazaré, na Galiléia.
a Maria, mãe de Jesus: “Eis que este 40 E o menino crescia e se fortalecia, tor-
menino está destinado a ser o respon- nando-se pleno em sabedoria; e a graça
sável pela queda e pelo soerguimento de de Deus permanecia sobre Ele.16
multidões em Israel, e a ser um sinal de
contradição, O menino Jesus no templo
35 de maneira que a intimidade dos 41 Todos os anos seus pais viajavam até
pensamentos de muitos corações será re- Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa.
em grego) e a implantação de um Reino de justiça, paz e felicidade (vs. 26,38; 23.51; 24.21; Is 40.1,2; Mt 5.4). O Espírito Santo,
antes do evento de Pentecostes, vinha “sobre” as pessoas e as agraciava com sua presença por algum tempo. Após a ascensão
de Cristo, o Espírito vem “habitar”, ou, como no sentido original do AT, “tabernacular” permanentemente na vida do crente (Jo
14.16-18). Lucas dá grande atenção em seus textos à pessoa e ao tríplice ministério do Espírito Santo: Primeiro como condutor
da graça preveniente e sensibilizadora que leva o ser humano a buscar a Deus (Jo 16.8), em seguida, revelando a Cristo e
iniciando a obra salvadora do Senhor (Jo 3.5; Rm 8.9), e santificando a vida do crente e o preparando para herdar a vida eterna
com Cristo (Rm 8.14).
12 Todo aquele que tem uma fé viva e verdadeira na pessoa e na obra de Cristo pode, com toda a certeza e tranqüilidade, morrer
em plena paz (1Jo 1.1 em relação a Gn 15.15). Simeão declama um salmo que se tornaria um hino da Igreja conhecido como:
Nunc dimittis, que são as primeiras palavras deste cântico em latim, como aparece na Vulgata, e significam: “Agora despede”.
Lucas, não sendo judeu, teve o cuidado de ressaltar a verdade de que a Salvação é uma graça disponível também aos gentios e
não apenas aos judeus (v.32; Mt 24.14; Mc 13.10; Ap 7.9).
13 Cristo veio para reabilitar o caído, consolar os que sofrem e restaurar os que se consideram perdidos. Aos que não se
acham necessitados, Cristo veio para, literalmente, “derrubar a casa” (em grego, ptõsis), pois Jesus é pedra de tropeço para os
incrédulos (20.17-18; 1Co 1.23; 1Pe 2.6-8). Jesus causa divisão entre o que prefere viver nas trevas e aqueles que atendem ao
apelo do seu amor (Jo 3.19), e entre o criminoso arrependido e o blasfemo (Lc 23.39-43). Lucas, pela primeira vez, fala sobre os
sofrimentos e o martírio de Cristo, salientando que sua mãe sofreria tanto quanto Ele, como se uma espada varasse seu coração.
No entanto não se tem notícia de que Maria tivesse ficado amargurada, ressentida com Deus ou amaldiçoasse seu destino.
14 A Bíblia apresenta outras profetizas: Miriã (Êx 15.20), Débora (Jz 4.4), Hulda (2 Rs 22.14) e as filhas de Filipe (At 21.9). Curio-
samente, essa Ana do NT louvou a Deus pelo menino Jesus, assim como, a Ana do AT exaltou ao Senhor pelo menino Samuel.
Ambas foram divinamente inspiradas para revelar a Palavra de Deus. O nome “Ana” significa em hebraico antigo: “misericordiosa”
(1Sm 2.1-10).
15 Jerusalém é a cidade santa do povo escolhido de Deus (Is 40.2; 52.9). Neste texto representa a nação de Israel como um todo.
16 Lucas não menciona a vinda dos magos (astrônomos), o perigo da parte de Herodes, nem ainda a fuga para o Egito e a
viagem de retorno de lá (Mt 2.1-23).
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12. LUCAS 2, 3 12
42 Assim sendo, no ano em que Ele com- 49 Então Ele lhes perguntou: “Por que
pletou doze anos de idade, eles subiram à me procuráveis? Como não sabíeis
festa, de acordo com a tradição.17 que era meu dever tratar de assuntos
43 Encerradas as comemorações, vol- concernentes ao meu Pai?”.
tando seus pais para casa, o menino 50 Mas eles não compreenderam bem o
Jesus ficou em Jerusalém, sem que eles que lhes explicara.19
notassem. 51 Contudo, Ele seguiu com eles para
44 Imaginando que Ele estivesse entre os Nazaré, pois lhes era obediente. Sua mãe,
muitos companheiros de viagem, cami- entretanto, meditava silenciosamente em
nharam por um dia inteiro. Então come- seu coração sobre todos estes aconteci-
çaram a buscá-lo entre os seus parentes e mentos.
conhecidos. 52 E Jesus se desenvolvia em sabedoria,
45 Como não conseguiam encontrá-lo, estatura e graça na presença de Deus e de
retornaram a Jerusalém para procurá-lo. todas as pessoas.20
46 Após três dias o acharam no templo,
sentado na companhia dos mestres, ou- João Batista proclama a Palavra
vindo-os e propondo-lhes questões. (Mt 3.1-12; Mc 1.2-8)
47 Todos os que o ouviam ficavam mara-
vilhados com a sua capacidade intelectual
e com a maneira como comunicava suas
3 No décimo quinto ano do reinado de
Tibério César, época em que Pôncio
Pilatos foi governador da Judéia; Hero-
conclusões.18 des, tetrarca da Galiléia; seu irmão Filipe,
48 Assim que seus pais o avistaram, tetrarca da Ituréia e Traconites; e Lisânias,
ficaram perplexos. Então sua mãe o tetrarca de Abilene, e1
inquiriu: “Filho, por que agiste assim 2 Anás e Caifás exerciam o ofício de
conosco? Teu pai e eu nos angustiamos sumo sacerdotes. Foi nesse mesmo ano
muito à tua procura!”. que João, filho de Zacarias, recebeu
17 José e Maria tinham o zelo de cumprir tudo quanto a Lei requeria, e assim educavam o menino Jesus. Aos doze anos, a
7
tradição judaica considerava o jovem menino como “filho da lei”, e seu dever era aprender os preceitos mais amplos da Lei, para
no ano seguinte começar a cumprir as exigências cerimoniais relacionadas às festas, jejuns, orações e estudos teológicos. Jesus
estava certo de que seus pais sabiam da necessidade que ele tinha – no ano em que completava doze anos – de dedicar-se a
esse aprendizado e aprofundamento na cultura judaica junto aos rabinos e mestres da Lei do seu tempo.
18 Na época de Jesus as aulas eram gravadas na memória e no coração dos alunos, não havia as facilidades modernas dos
muitos livros, cadernos e computadores. As respostas orais dos alunos às seguidas perguntas dos mestres demonstravam
o quanto do ensino havia sido retido e compreendido. Jesus assombrou até os doutores de seu tempo com seu saber e
carisma pessoal.
19 Jesus tentou gentilmente lembrar seus pais terrenos sobre seu compromisso de obediência ainda maior a Seu Pai celeste,
e por isso contrapôs a expressão: “teu pai”, usada por Maria, com a frase: “meu Pai”. Ao doze anos Jesus já tinha grande com-
preensão sobre quem Ele era e qual sua missão na terra. Sua mãe, entretanto, procurou compreender o que havia se passado
ponderando tudo silenciosamente em seu coração, e assim agiria durante toda a vida de seu filho na terra. Lucas faz questão de
frisar que Jesus foi obediente aos seus pais e os seguiu para casa. Na época em que Lucas estava escrevendo seu Evangelho
(entre 60 e 70 d.C.), muitas lendas sobre a adolescência e a primeira juventude de Jesus circulavam por todo o império romano.
Uma delas dizia que Jesus passou por uma fase de rebeldia contra seus pais, bem como transformava pequenas peças de barro
em pássaros apenas para demonstrar seu poder. O problema, como sempre, é que muitos acreditaram mais na ficção do que
na realidade.
20 Lucas afirma a perfeita e completa humanidade pela qual Deus passou ao encarnar-se em Jesus de Nazaré, seu Filho. Como
qualquer pessoa, Cristo passou pelas diversas fases do desenvolvimento humano, porém sempre de forma brilhante, perfeito e
sem pecado. José, o pai terreno de Jesus, morreu quando Ele era ainda muito jovem, deixando para Ele toda a responsabilidade
de cuidar de Maria, sua mãe, e dos demais irmãos. E Jesus ajudou a sustentar sua família por muito tempo, trabalhando como
carpinteiro e pedreiro (Mc 6.3).
Capítulo 3
1 Tibério passou a ter autoridade sobre as províncias romanas por volta de 11 d.C, e Pilatos exerceu a suprema autoridade de
Roma na Judéia, entre os anos de 26 e 36 d.C, enquanto Herodes Antipas (filho de Herodes, o Grande) a exerceu na Galiléia e
Peréia, de 4 a.C. até 39 d.C. O “décimo quinto ano”, citado por Lucas, refere-se ao ano 25 ou 26 d.C.
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13. 13 LUCAS 3
uma palavra convocatória do Senhor, tar em vossos corações: ‘Abraão é nosso
no deserto.2 pai!’. Pois eu vos asseguro que destas
3 Então ele percorreu toda a região pedras Deus pode fazer surgir filhos a
próxima ao Jordão, proclamando um Abraão.5
batismo de arrependimento para perdão 9 O machado já está posto à raiz das árvo-
dos pecados.3 res, e toda árvore que não der bom fruto
4 Assim como está escrito no livro das será cortada e jogada ao fogo”.
palavras do profeta Isaías: “Voz do que 10 E as multidões lhe rogavam: “O que
clama no deserto: ‘Preparai o caminho devemos fazer então?”.
do Senhor, tornai retas as suas veredas. 11 Diante do que João as exortava: “Quem
5 Pois que todo o vale será aterrado e todas tiver duas túnicas dê uma a quem não
as montanhas e colinas, niveladas. As estra- tem nenhuma; e quem possui o que co-
das tortuosas se transformarão em retas e mer, da mesma maneira reparta”.
os caminhos acidentados serão aplanados. 12 Chegaram inclusive alguns publicanos
6 E todos os seres viventes contemplarão para ser batizados. E indagavam: “Mes-
a salvação que Deus oferece’”. tre, como devemos proceder?”.
7 João repreendia as multidões que vi- 13 E João lhes respondeu: “Não deveis exi-
nham para ser batizadas por ele: “Raça gir nada além do que vos foi prescrito”.6
de víboras! Quem lhes persuadiu a fugir 14 Então um grupo de soldados lhe in-
da ira vindoura?4 quiriu: “E quanto a nós, o que devemos
8 Produzi, então, frutos que demonstrem fazer?”. E ele os orientou: “A ninguém
arrependimento. E não comeceis a cogi- molesteis com extorsões, nem denun-
2 Embora Roma tivesse substituído o sumo sacerdote Anás, sucedido por seu filho Eleazar no ano 15 d.C., os judeus continuavam
a reconhecer sua autoridade (Jo 18.13; At 4.6), e por isso Lucas incluiu o nome dele junto com Caifás, a quem os romanos tinham
nomeado. Depois de 400 anos sem um profeta oficial, o Senhor convoca (chama) João para ser Sua voz e anunciar a vinda do
Messias. João foi o último dos profetas da Antiga Aliança, por isso seu estilo característico, um tanto diferente dos profetas do NT. O
chamado de Deus veio a João da mesma maneira como vinha aos profetas do AT (Jr 1.2; Ez 1.3; Os 1.1; Jl 1.1). A palavra “deserto”
nos originais, nem sempre se refere a uma região seca e arenosa, mas principalmente a um lugar desolado e desabitado.
3 João foi chamado por Deus para pregar arrependimento ao povo. Somente um coração contrito e quebrantado é caminho
pavimentado para a vinda de Jesus e a habitação do Espírito Santo. O batismo de João era um ato simbólico, no qual as pessoas
demonstravam publicamente sua compreensão e tristeza pelos erros e pecados cometidos, e a sincera disposição de buscar uma
vida em plena harmonia com a vontade de Deus. A morte do homem interior é a única maneira de revelar o caráter de Deus: a
Imago Deii (Imagem de Deus). Quanto mais parecidos com Deus, mais verdadeiramente humanos nos tornamos. A remissão total
dos pecados viria na Salvação de Deus: Jesus Cristo (v.6), que seria oferecida a todas as pessoas da terra e, por fim, virá a eterna
condenação dos rebeldes (v.7). Somente Jesus Cristo tem o poder de perdoar todos os nossos pecados e cancelar (pagando
por nós), a pena de condenação já decretada contra nós (Rm 8.1).
4 Deus mandou que João quebrasse a arrogância daqueles que imaginavam a salvação apenas como uma promessa heredi-
tária e mais nada. João lhes fala da única maneira capaz de os fazer acordar para a realidade. Advertindo-os severamente para o
fato de que estavam sendo enganados pela “mãe das víboras”: o Diabo. Eram, portanto, uma geração de serpentes venenosas
(Jo 8.44). Os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que amam a Deus e aos seus semelhantes (Rm 8.44). A ira de Deus
manifestou-se no ano 70 d.C. quando toda Jerusalém foi destruída (21.20-23); e o será de maneira global, por ocasião do Juízo
final (Jo 3.36). Os arrogantes, os ímpios e todos aqueles que vivem longe de um arrependimento genuíno, e de uma vida cristã
sincera, estão diariamente sujeitos ao Juízo de Deus (v.9; Mt 7.19; 13.40-42).
5 Os frutos que surgem em função de um verdadeiro arrependimento diante de Deus são: O reconhecimento da responsabilida-
de pessoal e social. A disposição para evitar o mal. A prática espontânea de boas obras. A partilha amorosa e voluntária dos bens
pessoais com aqueles que mais necessitam. Um caráter honesto e justo em todos os relacionamentos e assuntos. Uma atitude
paciente em todas as situações. A prática da verdade. Um espírito alegre e otimista mesmo em meio às grandes dificuldades da
vida, compreendendo que a esperança não vem das pessoas, nem das coisas, mas de Deus, nosso Pai (1Tm 6.6). João usa um
trocadilho em hebraico, facilmente compreendido naquela época por seus conterrâneos. A palavra aramaica transliterada: “filhos”
banim, muito se assemelha à palavra “pedras” abanim, significando que Deus pode dar aos que carecem de dignidade humana,
a mais alta posição com Seu Filho.
6 Os publicanos eram agentes judeus contratados pelo império romano para receberem os impostos cobrados pelo governo.
Eram detestados pelo povo judeu por várias razões, entre as quais por colaborarem com o conquistador romano pagão e, por
muitas vezes fraudarem e oprimirem seus próprios irmãos (Lc 19.2,8). Entretanto, os publicanos que se arrependiam, passavam
a ter um comportamento honesto e justo.
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14. LUCAS 3 14
cieis falsamente. Contentai-vos com o 19 Contudo, quando João admoestou He-
vosso próprio salário”.7 rodes, o tetrarca, por causa de Herodias,
mulher do próprio irmão de Herodes, e
João exalta a Jesus: o Caminho devido a muitas outras obras perversas
(Mt 3.11-12; Mc 1.7-8; Jo 1.19-17) que havia praticado,
15 A esta altura as pessoas estavam em 20 Herodes acrescentou a todas essas mal-
grande expectativa, imaginando em seus dades a de mandar João para a prisão.10
corações se porventura João não seria o
Cristo. O batismo e a ascendência de Jesus
16 Então João esclareceu a todos: “Eu, de (Mt 1.1-17; 3.13; Mc 1.9-11)
fato, vos batizo com água. Entretanto, 21 E ocorreu que, quando todo o povo
chegará alguém mais poderoso do que estava sendo batizado, da mesma manei-
eu, tanto que não sou digno sequer de ra Jesus o foi; e no momento em que Ele
desamarrar as correias das suas sandá- estava orando, o céu se abriu11
lias. Ele sim, vos batizará com o Espírito 22 e o Espírito Santo desceu sobre Ele em
Santo e com fogo.8 forma corporal, como uma pomba. E do
17 Ele traz uma pá em suas mãos, a fim de céu surgiu uma voz: “Tu és o meu Filho
limpar a sua eira e juntar o trigo em seu amado; e em ti me agrado sobremaneira”.
celeiro; todavia queimará a palha com o 23 Jesus tinha cerca de trinta anos de idade
fogo que jamais se apaga”.9 quando iniciou seu ministério. Ele era,
18 E com muitas outras palavras João en- como se dizia, filho de José; filho de Eli,12
tusiasmava as multidões e lhes pregava as 24 filho de Matate, filho de Levi, filho de
Boas Novas. Melqui, filho de Janai, filho de José,
7 Os publicanos contavam com a cooperação de uma escolta romana para realizar o trabalho de coletar impostos. Era comum
os publicanos se juntarem aos soldados e armarem situações para defraudarem os judeus que deviam impostos ao governo. A
orientação clara de João é que, uma vez arrependido e comprometido com o Reino, o comportamento deve ser digno e ético.
Uma autoridade que teme a Deus jamais deveria usar seu cargo ou posição para intimidar com o propósito de extorquir, ou acusar
(denunciar) com objetivos escusos.
8 João tinha o ministério do arauto. Na cultura oriental da época, um proclamador adiantava-se à caravana do monarca com
o objetivo de anunciar a chegada de tão importante personalidade, a fim de que o povo se preparasse adequadamente para
recebê-lo. Normalmente as pessoas se vestiam com roupas de gala, arrumavam suas casas e decoravam a cidade de forma
festiva. Em termos espirituais, o arrependimento era a grande preparação para a vinda do Messias (o Cristo) e a inauguração
de um novo tempo, no qual Jesus concederia o Seu Espírito aos que nele cressem (Jo 3.3,5), o que veio a ocorrer a partir do
Pentecostes (At 1.5; 2.4,38). A expressão “fogo”, nos originais, está ligada ao Juízo (v.17; 12.49-53), ao Pentecostes (At 2.3) e às
provações (1Co 3.13).
9 A palha representa os infiéis e impenitentes (Rt 1.22), e o trigo, os justos e fiéis. Deus, em relação às pessoas, sempre faz
separação entre os que humildemente desejam Sua Graça e os arrogantes e rebeldes, que preferem uma vida de pecado, e,
conseqüentemente, seu salário. O vocábulo grego transliterado: “asbestõ”, significa uma qualidade do fogo que, devido à sua
fúria e poder de combustão, não pode ser apagado. Muitos judeus imaginavam que na vinda do Messias somente os pagãos
seriam julgados e condenados ao fogo eterno. Entretanto, João deixa bem claro que o Juízo vem para todos quantos não se
arrependem, inclusive os judeus de nascimento.
10 Esse foi Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, que mandou matar todas as crianças judias de Belém. Conforme
os escritos de Josefo, historiador judeu, João foi encarcerado em Maquero, a leste do mar Morto (Jo 3.22-24). Lucas antecipa a
narração deste fato para encerrar a seção sobre o ministério de João e iniciar sua descrição do ministério de Jesus (Mt 4.12; Mc
1.14), mais tarde faz breve menção à morte de João (9.7-9).
11 Lucas chama atenção para o fato de que Jesus estava em oração por ocasião do seu batismo, assim como o faz em muitos
momentos (5.16; 6.12; 9.18-29; 11.1; 22.32,41; 23.34,46), oferecendo aos seus discípulos um grande exemplo e demonstrando
sua total humanidade e dependência do Pai (Hb 4.15; 5.7). O Espírito assumiu uma forma corpórea (uma espécie de pombo),
para que os presentes pudessem reconhecer a Jesus como o Messias (Is 11.2,3; 42.1; Sl 2.7; Hb 1.5) e para sinalizar o início de
um tempo em que seus discípulos poderiam viver plenos do Espírito do Pai (4.1,14). Este evento demonstra que a Trindade está
presente no batismo e na vida do cristão sincero (Mt 28.19).
12 Lucas segue a linhagem de Maria, mãe natural de Jesus, e seu parentesco consangüíneo; enquanto Mateus destaca a
ascendência de José (o pai jurídico de Jesus). Tanto José, quanto Maria, pertenciam à Casa de Davi. Mateus preocupa-se em
demonstrar o parentesco de Jesus com Abraão, enquanto Lucas ressalta a importância de Maria na genealogia de Jesus e sua
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15. 15 LUCAS 3, 4
25 fi lho de Matatias, fi lho de Amós, fi lho fi lho de Jarede, fi lho de Maalaleel, fi lho
de Naum, fi lho de Esli, fi lho de Nagai, de Cainã,
26 fi lho de Máate, fi lho de Matatias, fi lho 38 fi lho de Enos, fi lho de Sete, fi lho de
de Semei, fi lho de José, fi lho de Jodá, Adão, fi lho de Deus.
27 fi lho de Joanã, fi lho de Resa, fi lho
de Zorobabel, filho de Salatiel, fi lho de Jesus vence o ataque satânico
Neri, (Mt 4.1-11; Mc 1.12,13)
28 fi lho de Melqui, fi lho de Adi, fi lho de
Cosã, fi lho de Elmadã, fi lho de Er,
29 fi lho de Josué, fi lho de Eliézer, fi lho de
4 Pleno do Espírito Santo, retornou
Jesus do Jordão e foi conduzido pelo
Espírito ao deserto,1
Jorim, fi lho de Matate, fi lho de Levi, 2 onde enfrentou as tentações do Diabo
30 fi lho de Simeão, fi lho de Judá, fi lho de por quarenta dias. Durante todos esses
José, fi lho de Jonã, fi lho de Eliaquim, dias não comeu nada e, ao fim desse
31 fi lho de Meleá, fi lho de Mená, fi lho de período, estava faminto.
Matatá, fi lho de Natã, fi lho de Davi, 3 Indagou-lhe, então, o Diabo: “Se tu és o
32 fi lho de Jessé, fi lho de Obede, fi lho de Filho de Deus, ordena que esta pedra se
Boaz, fi lho de Salá, fi lho de Naassom, transforme em pão”.2
33 fi lho de Aminadabe, fi lho de Admim, 4 Mas Jesus lhe contestou: “Está escrito:
fi lho de Arni, fi lho de Esrom, fi lho de ‘Nem só de pão viverá o ser humano’”.
Peres, fi lho de Judá, 5 Então o Diabo o levou a um lugar mui-
34 fi lho de Jacó, fi lho de Isaque, fi lho de to alto e lhe mostrou, em uma fração de
Abraão, fi lho de Terá, fi lho de Naor, tempo, todos os reinos do mundo.
35 fi lho de Serugue, fi lho de Ragaú, fi lho
g g 6 E lhe propôs: “Eu te darei todo o poder
de Faleque, fi lho de Éber, fi lho de Salá, sobre eles e toda a glória destes reinos,
36 fi lho de Cainã, fi lho de Arfaxade, fi lho porque me foram entregues e tenho
de Sem, filho de Noé, filho de Lameque, autoridade para doá-los a quem bem
37 fi lho de Matusalém, fi lho de Enoque, entender.
solidariedade com toda a humanidade em Adão. Não era nada comum descrever uma árvore genealógica pelo lado materno.
Todavia, Lucas se propusera a fazer uma narrativa o mais lógica e ordenada possível dos acontecimentos. Como já havia sido
muito franco e direto ao explicar a geração virginal de Jesus (1.34,35), fato ainda mais inusitado, não podia omitir a maneira como
a paternidade de Jesus ocorrera: de um lado, José, “como se dizia” ou “como se imaginava” (v.23; 4.22), ou seja, o pai juridica-
mente responsável por Jesus; e o Espírito de Deus que o gerou. Aos trinta anos de idade Jesus inicia seu ministério, assim como
era costume entre os levitas (Nm 4.47), quando um servo judeu era considerado maduro para os variados serviços religiosos.
Jesus cumpriu toda a Lei, e foi além.
Capítulo 4
1 Lucas é inspirado por Deus (aqui e no livro de Atos) para dar especial destaque à ação da terceira pessoa da Trindade – o
Espírito Santo – no mover do coração do Senhor e de seus discípulos para fazerem a vontade do Pai (1.35; 41.7; 2.25-27; 3.16,22;
4.14,18; 10.21; 11.13; 12.10,12). Durante toda a sua vida na terra, Jesus suportou fortes e complexas tentações, em algumas delas
a Bíblia não nos revela os detalhes. Todavia, esse embate mereceu especial destaque, pois esteve em questão todo o futuro dos
seres humanos. Os ataques do Diabo foram contra o Messias (o Ungido de Deus, Seu Filho), o cabeça da Nova Humanidade (Cl
2.15). Jesus foi tentado de forma extremamente sutil, ardilosa e não menos poderosa. Contudo, venceu por nós. Em contraste
com Adão (em hebraico: homem – Gn 2.20, enquanto Eva, significa: humanidade), que se tornou o cabeça da Velha Humani-
dade, pois não conseguiu obedecer ao Criador, embora vivendo em condições ideais; e caiu, cometendo o primeiro pecado da
humanidade, com conseqüências mortais, o qual acompanhará o gene de cada indivíduo humano, de geração em geração, até o
final dos tempos. O Segundo Adão (Jesus – o Novo Homem), venceu o Diabo em total fraqueza da carne. Adão havia inaugurado
a humanidade com toda a autoridade e glória do mundo (Gn 1.28-30), enquanto Jesus foi glorificado através do sofrimento, da
humilhação e da morte (Rm 1.4; Fp 2.9-11). O primeiro Adão não aceitou cumprir a vontade de Deus e fez prevalecer os seus
próprios desejos, rebelando-se contra a única restrição imposta a ele por Deus. O Segundo Adão, o Filho de Deus, aceitou, de
livre vontade, cumprir todos os desejos do Pai (Gl 4.4; Fp 2.6-8).
2 Após 40 dias em absoluto jejum, os originais hebraicos e gregos revelam que Jesus não apenas estava com “fome” (como
consta em algumas versões), mas sim que ele estava sôfrego de fome (esfomeado). O Diabo nem sempre é horrível e violento,
pois pode travestir-se de luz e justiça. Sua estratégia foi induzir Jesus a abdicar de sua condição humana, usar de seus poderes
divinos, e deixar o caminho do sofrimento inevitável. O Diabo sempre fará as tentações parecerem irresistivelmente atraentes.
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16. LUCAS 4 16
7 Portanto, se prostrado me adorares, tu- Jesus é rejeitado pelos seus
do isso será teu!”.3 (Mt 13.54-58; Mc 6.1-4)
8 Contudo Jesus lhe afirmou: “Está escri- 16 Jesus viajou para Nazaré, onde havia
to: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás e só a sido criado e conforme seu costume, num
Ele darás culto’”. dia de sábado, entrou na sinagoga. E posi-
9 Em seguida o Diabo o levou para Jeru- cionou-se em pé para fazer a leitura.
salém, e o colocou sobre a parte mais alta 17 Foi-lhe entregue o livro do profeta Isa-
do templo e o desafiou: “Se tu és o Filho ías. Desenrolando-o achou o lugar onde
de Deus, lança-te daqui para baixo. está escrito:5
10 Pois, como está escrito: ‘Aos seus an- 18 “O Espírito do Senhor está sobre mim,
jos ordenará a teu respeito, para que te porque me ungiu para pregar o Evan-
protejam; gelho aos pobres. Ele me enviou para
11 eles te sustentarão sobre suas mãos proclamar a libertação dos aprisionados
para que não batas com teu pé contra e a recuperação da vista aos cegos; para
alguma pedra’”.4 restituir a liberdade aos oprimidos,
12 Repreendeu-lhe Jesus: “Dito está! ‘Não 19 e promulgar a época da graça do Se-
tentarás o Senhor teu Deus’”. nhor”.
13 E assim, tendo concluído todo o tipo 20 Em seguida, enrolou novamente o li-
de tentação, o Diabo afastou-se dele até vro, devolveu-o ao assistente e assentou-
o tempo oportuno. se. E na sinagoga todos estavam com os
olhos fixos em sua pessoa.
Jesus volta pleno do Espírito 21 Então Ele começou a pregar-lhes:
(Mt 4.12-17; Mc 1.14-15) “Hoje se cumpriu a Escritura que aca-
14 Então, Jesus retornou para a Galiléia, bais de ouvir”.6
no poder do Espírito, e por toda aquela 22 E todos exclamavam maravilhas sobre
região se espalhou sua fama. Ele, e estavam admirados com as palavras
15 Ensinava nas sinagogas e, de todos, de graça que saíam dos seus lábios. Mas
recebia manifestações de grande apre- questionavam entre si: “Não é este o filho
ciação. de José?”.
Entretanto, Jesus – o Novo Homem - apegou-se à Palavra de Deus e, citando a Torá (Lei), mais precisamente, passagens em
Deuteronômio (8.3; 6.13-16), enfatiza que o pão e a fartura material nada valem sem a bênção de Deus. Jesus não diz que não
podia fazer o que o Diabo lhe sugeria, mas sim que sua vontade maior era agradar ao Pai.
3 Uma tentação aparentemente inteligente, considerando que Jesus veio para dominar sobre todos os reinos da terra. Depois
deste lugar, Jesus foi conduzido ao canto sudeste da colunata do templo, o seu ponto mais alto (ou pináculo do templo), um
declive de cerca de 30 metros para o vale do Cedrom. Todavia, o ardil de Satanás estava no fato de tentar fazer com que Jesus
evitasse os sofrimentos do caminho da cruz, os quais veio especificamente suportar como única maneira, divinamente legal, de
libertar a humanidade do estigma do pecado (Mc 10.45), herança do Velho Homem. Pecado esse que somente poderia ser pago
(resgatado), com a morte (sacrifício) de um homem inocente (sem pecados). Uma vez que o Diabo não conseguiu iludir Jesus
apelando para as suas necessidades físicas, tenta seduzi-lo com toda a glória e poder que este mundo pode oferecer e que estão
(temporariamente) sob seu domínio, mas é novamente rechaçado (1Jo 5.19).
4 Satanás questiona a filiação de Jesus a Deus, cita as Escrituras corretamente (Sl 91.11-12), porém aplica o ensino de forma
tendenciosa e errônea, como fizera em Gn 3.1, e tenta fazer com que Jesus teste a fidelidade do seu Pai e chame a atenção do
público sobre sua pessoa de forma espetacular. O príncipe do mal é afastado quando Jesus reafirma sua total humanidade ao
usar a Palavra para confirmar que não cabe ao homem testar a Deus; e sua total divindade ao chamar a atenção de Satanás para
o fato de que ele não deveria estar provocando a Deus. Entretanto, o Diabo continuou tentando ao Senhor (o arrogante é surdo)
durante todo o seu ministério (Mc 8.33), até culminar com a prova maior, no Getsêmani (Jo 14.30; Lc 22.53).
5 Jesus foi para Nazaré cerca de um ano depois do início do seu ministério. Os acontecimentos narrados por João, de Jo 1.19
até 4.42, foram sintetizados por Lucas em Lc 4.13-14. Jesus voltou para sua terra natal apenas duas vezes (Mt 13.53-58 e 6.1-6).
Em ambos os casos se destaca a falta de fé daqueles que mais conviveram com Ele, mas o conheciam apenas como um jovem
e bom judeu do interior, que ajudava seu pai José a manter a família como carpinteiro e construtor (pedreiro). Os livros do AT
eram escritos em rolos de couro, guardados em lugar especial e honroso na sinagoga (como ainda ocorre em nossos dias), e
oferecidos, por um funcionário, ao pregador do dia ou a um mestre visitante (no caso de Jesus naquele dia). Jesus leu o texto de
Is 61.1,2 em hebraico e o pregou em aramaico, sua língua materna e de seus conterrâneos.
6 O texto do AT lido por Jesus descreve o ministério do Messias, na emancipação dos pobres, através da riqueza que há no
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