Introdução ao evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos
1.
2. Conforme a tradição da Igreja o
autor deste Evangelho é João Marcos,
de origem judaica, filho de certa Maria,
em cuja casa se reunia a comunidade
de Jerusalém (At 12,12).
Com Barnabé, seu primo,
Marcos acompanhou Paulo durante
algum tempo na primeira viagem
missionária (At
12,25.13,5.13;15,37.39) e depois
aparece com ele, prisioneiro em Roma
(Cl 4,10).
Mas liga-se mais a Pedro, que
o trata por “meu filho” na saudação da
sua primeira Carta (1Pd 5,13).
O Autor
3. Características, Local, Data e
Forma
Dos 4 Evangelhos o de Marcos é o mais antigo. Antes a “Boa Nova”
era anunciada somente via oral (de boca em boca), ou seja, não havia nada
por escrito. Entre os anos 65 e 73 D.C., por volta do martírio de Pedro, corria-
se o grave risco de se perder o contato com as origens do Evangelho, pois as
testemunhas e os discípulos de Jesus, que anunciavam oralmente o
Evangelho, estavam desaparecendo; a expansão da Igreja para fora da
Palestina e a reflexão teológica em choque com as culturas estrangeiras
poderiam distorcer a doutrina cristã da sua originalidade.
Por esta razão Marcos registrou por escrito a pregação que até então
era oral, criando o Evangelho que teria sido escrito em Roma, depois da
perseguição de Nero, em 64 d.C. Essa data de composição é confirmada
pelas alusões à Guerra Judaica e à destruição de Jerusalém (66-73 d.C.), que
se verifica sobretudo no capítulo 13 do evangelho. O texto bíblico apresenta-
se sob a forma de uma sequência de narrativas geralmente breves e sem
conexões muito precisas.
4. O cuidado que Marcos teve de
explicar os costumes judaicos (Mc 7), de
traduzir as palavras aramaicas, de frisar o
alcance do Evangelho para os pagãos
supõem que o livro se destina a não-
judeus, fora da palestina.
Destinatários
5. Marcos mostra que Jesus não é um Messias de sucesso fácil, tal como
muita gente imaginava e imagina ainda hoje, mas um Messias diferente
(“inesperado”). A princípio, nem mesmo seus discípulos o compreenderam. A
melhor forma de sustentar a fé da comunidade é esclarecê-la. Para tanto é
preciso voltar sempre àquilo que Jesus disse e fez. Por isso Marcos apresenta
Jesus de Nazaré como o verdadeiro Messias que, com sua morte e
Ressurreição, demonstrou ser verdadeiramente o Filho de Deus (15,39) que a
todos possibilita a salvação (10,45).
Finalidade
6. Ao colocar por escrito o seu Evangelho, que até então era transmitido
oralmente, Marcos mantém a originalidade da vida e da pregação de Jesus,
“reevangeliza” a comunidade em crise, responde às dúvidas que a rodeavam e
oferece-lhe um “manual” para o novo impulso missionário e a expansão da
comunidade.
A insistência na necessidade de seguir Jesus carregando a própria cruz
(8,34) se deve, certamente, ao abalo sofrido pela comunidade devido a cruel
perseguição de Nero. Tal como para os outros evangelistas, Marcos
apresenta-nos a pessoa de Jesus e o grupo dos discípulos como o primeiro
modelo de Igreja.
Conteúdo
7. Mais do que em qualquer outro Evangelho, Jesus, “Filho de Deus”
(1,1.11; 9,7; 15,39) revela-se profundamente humano, de contraste por vezes
desconcertantes: é acessível (8,1-3) e distante(4,38-39); acarinha (10,16) e
repele (8,12-13); pede segredo acerca da sua pessoa e do bem que faz (1,44)
e manda apregoar o benefício recebido (5,19);manifesta limitações (13,22). É
verdadeiramente “O Filho do Homem”, título da sua preferência (2,10).
Deste modo, a pessoa de Jesus torna-se misteriosa: porque encerra
em si, conjuntamente, um verdadeiro homem e um Deus verdadeiro. Aqui
reside a dificuldade da sua aceitação por parte das multidões que os erguem,
e mesmo por parte dos discípulos.
Na primeira parte do Evangelho (1,14– 8,30) Jesus mostra-se mais
preocupado com o acolhimento do povo, atende às suas necessidades e
ensina; na segunda parte (8,31 – 13,36) volta-se especialmente para os
apóstolos que escolheu (3,13-19): com, sábia pedagogia vai-os formando,
revelando-lhes progressivamente o plano da salvação (10,29-30.42-45)e
introduzindo-os na intimidade com o Pai (11,22-26).
O Jesus de Marcos
8. Conforme vimos acima, a pessoa de Jesus é essencialmente misteriosa e por
vezes controversa. Para segui-lo o discípulo precisa de uma fé a toda prova:
sente-se tentado a abandoná-lo vendo n’Ele apenas o carpinteiro de Nazaré.
Por isso, Jesus é também um incompreendido: os seus familiares pensam que
Ele os trocou por outra família (3,20-21.31-35); os doutores da Lei e os
fariseus não aceitam a interpretação da Lei (2,23-28; 3,22-30); os chefes do
povo e os sacerdotes veem-no como um revolucionário perigoso (11,27-33).
Daí que, desde o início do Evangelho, se desenhe o destino de Jesus: a morte
(3,1-6; 14,1-2). A incompreensão é uma das mais negativas características no
discípulo do Evangelho de Marcos. Talvez porque queriam, como os discípulos
de todos os tempos, um cristianismo sem esforço e sem grandes
compromissos. Apesar disto Jesus não desanima e continua a ensiná-los
(8,31-38; 9,30-37; 10,32-45). O efeito não foi muito positivo: no fim da
caminhada para Jerusalém e após Ele lhes ter recordado as dificuldades por
que iria passar a sua fé (14,26-31), a verem traído por um dos doze e preso
(14,42-45), “abandonando-o, todos os discípulos fugiram” (14,50). Este é,
certamente, o Evangelho onde qualquer cristão se sentirá melhor retratado.
Jesus e os Discípulos no
Evangelho de Marcos
9. Por ser o Evangelho mais antigo
dentro os quatro, só ele conserva o
esquema da mais antiga pregação
apostólica, sintetizada em At 1,22: começa
com o batismo de João (1,4) e termina
com a Ascensão do Senhor (16,19).
Entre os estudiosos bíblicos é
comum se afirmar que todos os outros
Evangelhos, sobretudo os Sinóticos
(Mateus, Marcos e Lucas), utilizaram mais
ou menos o texto de Marcos, assim como
o seu esquema histórico-geográfico da
vida pública de Jesus: Galileia, Viagem
para Jerusalém, Jerusalém.
Fonte para os demais
Evangelhos