1. O documento discute aspectos psicológicos da gestão de si a partir da perspectiva da psicologia fenomenológica.
2. A psicologia fenomenológica enfatiza que o ser humano é um ser relacional, corporal e intencional que busca o autoconhecimento e o crescimento.
3. Seis questões são abordadas como critérios para avaliar a saúde existencial de uma pessoa: como lida com as relações, a temporalidade, a espacialidade, a corporeidade, a conscientização e a af
2. Gestão de si - aspectos
psicológicos
Ênio Brito Pinto 2013
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3. Uma boa gestão começa
pela saúde do gestor.
Antes de cuidar da paróquia e dos fieis é
necessário que a pessoa religiosa cuide de
si.
É preciso gerenciar de uma maneira saudável
a própria vida para que possa se colocar de
maneira cada vez mais vívida e presente em
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seu caminho religioso e existencial.
4. A proposta deste diálogo de hoje
é levantar, do ponto de vista
psicológico, alguns critérios
básicos a partir dos quais a
pessoa possa verificar como
cuida de si.
Em que psicologia nos apoiaremos
aqui?
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5. A psicologia não é una!
Toda psicologia se fundamenta em uma
visão de homem.
É este fundamento na visão de homem
que vai dar as bases para se
compreender como é a saúde
emocional.
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7. Três grandes áreas da Psicologia
Psicanálises:
• Clássica (Freud);
• Lacaniana;
• Kleiniana;
• Winnicottiana.
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8. Três grandes áreas da psicologia
Comportamentalismo:
• Behaviorismo Radical
(Skinner);
• Terapia CognitivoComportamental;
• PNL.
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9. Três grandes áreas da Psicologia
Psicologia
fenomenológica
(também chamada de existencial
ou humanista):
•
•
•
•
•
Gestalt-terapia;
ACP;
Logoterapia;
Daseinsanalyse;
Psicodrama.
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10. Muito sinteticamente, a visão básica de ser humano para
cada uma das correntes em psicologia:
Psicologia Fenomenológica: a ‘pessoa
motivada pelo crescimento’
Freud: ‘pessoa que reduz tensão’
Skinner: ‘pessoa controlada pelo ambiente’
TCC: ‘você é o que você pensa’
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11. A visão de ser humano para a
Gestalt-terapia, uma psicologia
fenomenológica
Fundamentos para se compreender a
saúde existencial - 10 conceitos
básicos
12. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
1. é “corpo-psique-espírito,
como dimensão. Cada ser
humano, individualmente,
tem todas essas
características que podem
ser mais ou menos
desenvolvidas”
(Bello, 2006, p. 41)
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13. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
2. é um todo complexo e
organicamente integrado,
cujas qualidades
decorrem de sua
configuração total;
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15. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
4. é um ser marcado pela
necessidade, intrínseca a todo
organismo vivo, de atualizar o
seu potencial e se tornar a
totalidade mais complexa,
organizada e autônoma que for
capaz (autoatualização).
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16. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
5. é um ser intencional, que
atribui sentidos a si e ao
mundo, compondo uma
unidade de mútua
implicação de subjetividade
e mundo;
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17. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
6. é um ser livre, auto-
orientado e
responsável pelos
sentidos e propósitos
que dá a si mesmo e
ao mundo;
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18. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
7. é um ser implicado e
configurado, mas não
determinado, pelo ambiente
(relacional, geográfico,
histórico), que limita a sua
liberdade;
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19. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
8. é um ser que busca a
construção de si e de seu
mundo e continuamente
se desvela e se exprime
na atualização de seu
potencial;
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20. Psicologia fenomenológica: conceitos básicos sobre o ser humano
9. é um ser de natureza fluida,
com tendência a crescer em
um movimento de sair de si,
projetar-se em um constante
devir, um incessante tornarse, um contínuo processo de
vir-a-ser.
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22. A visão de ser humano e
a concepção de saúde
existencial em Gestaltterapia
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23. O fato de que há um impulso natural do ser humano
para o crescimento, não quer dizer necessariamente
que esse impulso seja predominantemente positivo.
• Nascemos com potenciais (dons).
• Ao longo da vida temos que escolher que
potenciais devemos desenvolver.
• Ao longo da vida temos que abdicar, ainda
que temporariamente, de alguns potenciais.
• Há potenciais que se esgotam, e reconhecer
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isso é geralmente muito difícil.
24. A saúde para a Gestalt-terapia: critérios básicos
Antes de tudo: a saúde existencial é
horizonte.
É o todo que configura as partes, e
não o contrário.
A saúde existencial deve ser
percebida no cotidiano (Lebenswelt).
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25. A saúde para a Gestalt-terapia: critérios básicos
(é a qualidade do contato e das relações que vai
nos dizer da saúde existencial.)
Como a pessoa se relaciona consigo?
Como vive sua corporalidade, seu mundo, como se
relaciona com o outro, com a realidade
compartilhada?
Como está sua capacidade de autopercepção e de
percepção do outro e do mundo?
Como vive sua temporalidade?
Como ocupa os espaços?
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26. A saúde para a Gestalt-terapia: critérios básicos
Como está seu autossuporte (e sua consequente
habilidade para responder às escolhas que faz),
levando-se em conta a sua idade e a sua cultura?
Como estão sua criatividade e flexibilidade diante das
exigências da vida?
Como se deixa conduzir pela situação nos infinitos
processos de auto-atualização e de transformação
de si e do mundo que realiza em seu dia-a-dia, em
seu cotidiano, o lugar e o tempo nos quais a vida
efetivamente acontece?
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27. A saúde para a Gestalt-terapia: critérios básicos
Como (e se) se abre para o desconhecido e para o
desconhecer-se renovadores, para as
possibilidades que sua inevitável e complexa
abertura o conduz?
Será capaz de assombrar-se com os mistérios mais
profundos da vida e do sagrado como uma criança
se assombra com um novo e insuspeitado
conhecimento?
Finalmente, como lida com as finitudes, com os
desapegos, com as gestalten que diuturnamente se
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abrem e se fecham, com a mortalidade?
28. Seis questões eleitas para hoje: COMO a pessoa lida
com
1) as relações;
2) a temporalidade (o tempo vivido);
3) a espacialidade (o espaço vivido);
4) a corporeidade (o corpo vivido);
5) a conscientização e a valoração;
6) a vida afetiva.
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30. as relações interpessoais
Principal pressuposto: o ser humano é
dialogal.
É importante olhar o outro como é.
Perceber o outro como diferente, de uma
forma única e definida, que lhe é
própria.
Aceitar o outro, de modo que possa ter
contatos de pessoa a pessoa.
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31. as relações interpessoais
“O risco da perda da identidade ou de
separação é inerente ao contato. Nisto
reside a aventura e a arte do
contato.”(Polster e Polster)
O diferente não é errado a princípio, não
é adversário, não é desprezível; é
apenas possibilidade.
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32. as relações interpessoais
“meu mundo é sempre
assim ‘nosso’ mundo,
um mundo
intersubjetivo, um
mundo comum.”
Tatossian
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34. a temporalidade, ou como se vive o tempo
Cronos (tempo cronológico)
e Kairós (tempo vivido)
têm inúmeros encontros e
desencontros pela vida
afora.
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35. a temporalidade, ou como se vive o tempo
“Só no agora você está em
contato com o que está
acontecendo.”
(Perls, 1977, p. 80)
A ansiedade patológica é, antes
de tudo, uma luta contra o
tempo. É uma fuga do agora.
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36. a temporalidade, ou como se vive o tempo
“Sabedoria é perceber que
a vida é uma viagem, cujo
significado se encontra no
próprio percorrê-la e não
em seu ponto de
chegada.”
Alexander Lowen
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37. a temporalidade, ou como se vive o tempo
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o
propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e
tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e
tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo
de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo
de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e
tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e
tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo
de paz.
Eclesiastes 3:1-8
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39. a corporalidade e a espacialidade, ou como se movimenta
A saúde existencial aparece
objetivamente na vitalidade corporal.
Olhos brilhantes, pele colorida e
aquecida, expressão espontânea e
graciosa, corpo que percebe seus ritmos
e os respeita.
“Os olhos têm especial importância,
porque são o espelho da alma.”
(Lowen, 1993, p. 16)
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40. a corporalidade e a espacialidade, ou como se movimenta
Um caminho objetivamente longo pode ser
mais curto do que um caminho objetivamente
curto.
Ao nos orientarmos somente pela distância
objetivamente medida,perdemos contato
com a distância vivida.
A pessoa sadia é aquela que se apossa
plenamente do “direito de sentir-se em
casa no mundo”, com a responsabilidade
que é a contraparte desse direito.
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41. a corporalidade e a espacialidade, ou como se movimenta
O homem é uma alma vivente, e não um corpo
que recebe provisoriamente uma alma (cf Highwater, 1992).
Como alma vivente, o ser humano se apóia nos
dois aspectos, seu corpo e sua alma, para se
constituir um organismo presente em um
campo, ou seja, um indivíduo e um ser sócioambiental.
O ser humano não tem um corpo, ele é um corpo.
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43. Conscientização e valoração
“Fundamentalmente, um organismo vive em
seu ambiente através da manutenção das
suas diferenças e, de forma mais importante,
pela assimilação do ambiente às suas
diferenças. (...)
Aquilo que é selecionado e assimilado é
sempre o novo; o organismo sobrevive pela
assimilação do novo, pela mudança e
crescimento.” (PHG)
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44. Conscientização e valoração
Se sempre somos parte de uma
cultura,
se compartilhamos um fundamento
simbólico e comunicacional que não
é de nenhuma forma apenas
individual,
a saúde existencial se baseia
também numa postura sempre
crítica com relação a essa cultura.
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45. Conscientização e valoração
que significa sentir-se como
pessoa? A experiência de nossa
própria personalidade é a convicção
básica de que todos começamos
como seres psicológicos. Haverá
sempre um elemento de mistério na
percepção do próprio ser. Pois esta
percepção é pressuposição de
autoindagação.” (Rollo May)
“O
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46. Conscientização e valoração
“Quanto menos confiança
tivermos em nós mesmos,
quanto menos contato
tivermos conosco mesmos, e
com o mundo, maior será
nosso desejo de controle.”
(Perls,
1977, p. 38)
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48. a afetividade, ou como afeta e é afetado
“o sentimento não é apenas uma
idéia ou uma crença; ele envolve
também o corpo e, portanto, é
mais do que um processo
mental. Ele é constituído por
dois elementos: uma atividade
corporal e a percepção mental
dessa atividade.” (Lowen, 1993, p. 83)
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49. a afetividade, ou como afeta e é afetado
Vivenciamos, basicamente, seis sentimentos
(polares) e suas combinações:
Amor
raiva
Medo
coragem
Alegria
tristeza
(por
exemplo: a saudade é a combinação do amor
com a tristeza, o ciúme é a combinação do amor
com o medo, a fé é a combinação da coragem com
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o amor e a alegria.)
50. a afetividade, ou como afeta e é afetado
Nenhum sentimento é bom ou ruim por si, tudo
depende de como é vivido, do diálogo que
podemos estabelecer com nossos sentimentos.
Não dá para se escolher o que sentir, uma vez
que os sentimentos são acontecimentos
corporais, não são frutos da vontade. A vontade
governa os atos, e, assim mesmo, nem sempre!
A liberdade e a vivacidade se enraízam na
possibilidade do diálogo com os sentimentos, e
não em seu domínio ou negação ou repressão.
A patologia é a apatia, o não-sentir.
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51. a afetividade, ou como afeta e é afetado
Além de ser chave da graça e da espiritualidade do corpo,
os sentimentos são também fundamento para o contato
e chave da sexualidade, por isso se fala em sexualidade
E afetividade.
Sexualidade, nunca é demais frisar, é um conceito amplo,
pois se todos os fenômenos genitais são sexuais, há
uma série de fenômenos sexuais que não têm relação
direta com o genital.
A vivência da sexualidade humana está para além do
biológico, está para além do reflexo, sendo muito mais
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fruto do reflexivo.
52. a afetividade, ou como afeta e é afetado
O gerenciamento da própria sexualidade tem
algumas premissas básicas, das quais destacarei
três:
1) lidar com a sexualidade para além da
repressão moralista ou da sublimação
compensadora, i.e., integrar a sexualidade.
•
a pessoa que tem uma sexualidade integrada
é aquela que pode dizer, com todas as letras,
e tomando corajosa posse de sua fala, “eu
sou um ser sexual, e isso é uma de minhas
qualidades”.
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53. a afetividade, ou como afeta e é afetado
O gerenciamento da própria sexualidade tem algumas premissas básicas,
das quais destacarei três:
2) A sexualidade, quer seja no que se refere
ao celibato, quer seja no seu sentido
mais amplo, é sempre uma vivência
individual.
• Cada pessoa tem o seu jeito próprio e
único de perceber sua sexualidade e tem
que desenvolver seu jeito próprio e único
de viver a sexualidade.
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54. a afetividade, ou como afeta e é afetado
O gerenciamento da própria sexualidade tem algumas premissas básicas,
das quais destacarei três:
3) A identidade sexual não é escolha, mas
descoberta.
• “a orientação sexual não é uma questão
de branco e preto. Então, pessoas em
quem predomina a orientação
heterossexual podem experimentar em
menor grau, e em certas situações,
sentimentos de atração ao próprio sexo.”
(Duffy, 2006)
Duffy,
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56. “O sofrimento e o conflito não
são sem sentido ou
desnecessários: eles
assinalam a destruição que
ocorre em toda formação
figura/fundo para que nova
figura possa emergir.”
(PHG, p. 62)
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58. “Ser sadio existencialmente consiste
tanto em se abrir às próprias
possibilidades como em aceitar e
enfrentar os paradoxos e restrições da
existência.
A saúde existencial está profundamente
relacionada ao modo como
conseguimos estabelecer articulações
eficientes entre a amplitude e as
restrições do existir.” (Forghieri)
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59. “Saúde é também uma adaptação
equilibrada e habilidosa ao
sofrimento, deficiência, doença,
envelhecimento e morte, que atinge a
vida de todos.
Saúde plena é a entrega apaixonada
ao jogo da vida. Entregar-se sem
apego às perdas.” (
)
Eymard Mourão Vasconcelos
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60. “O espírito humano só pode
crescer se for nutrido por algo
muito maior que ele mesmo.
Nossa limitação humana nos
abre para o ilimitado.”
(Hycner, 1995, p. 88)
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