O artista cubano Hamlet Lavastida foi detido há quase duas semanas em Cuba, acusado de "incitação à delinquência". Sua detenção faz parte de uma crescente repressão do governo cubano contra intelectuais e artistas dissidentes. A prisão de Lavastida provocou protestos de outros artistas e intelectuais que exigem sua libertação.
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1. 03/08/2021 Detenção do artista plástico Hamlet Lavastida agrava repressão a intelectuais em Cuba | Cultura | EL PAÍS Brasil
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ARTE
Detenção do artista plástico Hamlet Lavastida agrava
repressão a intelectuais em Cuba
Feira artística Arco, na Espanha, acolhe nesta quinta-feira um ato de protesto
contra a perseguição a artistas pelo regime de Díaz-Canel
CAMILA OSORIO | ANA MARCOS
Cidade Do México / Madri - 08 JUL 2021 - 10:25 BRT
O artista cubano Hamlet Lavastida em uma imagem de arquivo. PETER ROSEMANN
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Em 26 de junho, Hamlet Lavastida, um artista cubano de 38 anos, completava o sexto dia de
quarentena obrigatória na sua casa, na Havana, após voltar de um ano de residência artística
em Berlim. Mas naquela manhã notou algo diferente pela sua janela: um homem suspeito que
se dirigia ao seu prédio. Imaginou o pior, então ligou rapidamente para uma amiga, Katherine
Bisquet, conforme relatou ela no Facebook. Não fosse por aqueles poucos segundos de
conversa, talvez o paradeiro dele não fosse conhecido. Lavastida se encontra há quase duas
semanas na penitenciária de Villa Marista, conhecida por ser um centro de tortura. “Chamam
o lugar de Onde todo mundo canta, por causa de um antigo programa de calouros da
televisão cubana”, comenta o artista Marco A. Castillo, ex-integrante do coletivo Los
Carpinteros e amigo de Lavastida, que foi acusado, sem mais detalhes, de “incitação à
delinquência”.
O eco dessa detenção chegou à feira de arte contemporânea Arco, em Madri, que nesta
quinta-feira acolhe um ato de denúncia por esses fatos. Além disso, um coletivo de artistas e
intelectuais cubanos imprimirá em notas de cinco euros os lemas dos movimentos de
oposição ao regime cubano e os lançará na Arco como uma performance coletiva, conforme o
próprio Lavastida pretendia fazer em Cuba. O público poderá participar da ação levando suas
cédulas para que os artistas façam as intervenções.
O único indício contra Lavastida é uma mensagem em um chat privado em
que o artista sugeria a conhecidos marcar notas de pesos cubanos com
símbolos que fizessem alusão aos novos movimentos de oposição ao
regime castrista, agora liderado pelo presidente Miguel Díaz-Canel.
“Estamos indignados por esta violação à privacidade dos cidadãos”, diz
uma carta de protesto firmada por 140 intelectuais cubanos que exigem a
libertação dele. “Pelas injustas acusações contra nosso colega e,
fundamentalmente, pelo fato de o Governo cubano estar tipificando como
delitos o intercâmbio de ideias e o exercício da imaginação.”
Lavastida é um artista dissidente que, como vários rappers e pintores da
ilha, tem desafiado a propaganda do regime. Sua obra, na forma de
cartazes, murais urbanos, colagens e vídeos, aborda os arquivos que
constroem a “identidade totalitária do processo revolucionário cubano”. “É
preciso se aproximar da complexidade de Cuba além das típicas cenas de
tabaco e café”, disse numa entrevista, quatro anos atrás, a propósito da sua
obra chamada Vida profilática.
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Censura, um
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que corrói a arte
no Brasil de
Bolsonaro
A prisão dele é a mais recente e visível entre uma dezena de detenções que
o Governo cubano efetuou nos últimos dois meses, aumentando fortemente
a repressão a músicos, pintores, jornalistas e outros cidadãos dissidentes.
Como aconteceu com outros encarcerados, como o artista Luis Manuel
Otero (livre, mas sob constante vigilância) e o cantor de rap Maykel Osorbo,
detido e acusado de “desacato”, “resistência e “atentado” (é conhecido por
ser parte do grupo que fez recentemente a célebre canção que irritou o
Governo: Pátria e vida, uma versão opositora do lema Pátria ou morte). As
críticas e protestos saíram da ilha e encontraram uma caixa de ressonância
em outros países, como a Espanha. Nesta quinta-feira, Castillo, o crítico de arte Gerardo
Mosquera e o curador mexicano Cuauhtémoc Medina organizaram um encontro na feira Arco
para denunciar a situação do seu colega e a de outros como o jornalista Esteban Rodríguez, a
artista Tania Bruguera e a amiga para quem Lavastida ligou, a poeta Katherine Bisquet,
conforme denunciou José Miguel Vivanco, diretor da ONG Human Rights Watch para as
Américas.
Luis Manuel Otero Alcántara, líder do Movimento San Isidro (MSI), posa em abril, minutos antes de ser detido na sua casa
em Havana (Cuba). YANDER ZAMORA / (EPA) EFE
Em Berlim, Lavastida teve uma bolsa de um ano do programa internacional da galeria de arte
Bethanien, financiada pela Fundação do KfW, o banco de desenvolvimento alemão. Em abril,
inaugurou uma exposição individual, Cultura profilática, numa sala do centro artístico
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Bethanien. “É um artista corajoso”, que “com suas obras faz uso de seu direito à liberdade de
expressão”, diz a galeria, que voltará a expor a obra do artista nesta sexta-feira para
reivindicar sua libertação. O Governo alemão está mediando com as autoridades cubanas em
favor de Lavastida, informaram fontes do ministério alemão de Relações Exteriores. Tanto a
Embaixada como a delegação da UE em Havana protestaram pela detenção do artista e
pediram sua liberação imediata, informa Elena Sevillano, de Berlim.
Coco Fusco é uma artista cubana e professora em Nova York que se manteve em contato
com seus colegas perseguidos. Considera que parte da repressão se deve ao fato de os
artistas terem conseguido, graças à sua criatividade, mas também ao acesso à tecnologia,
romper as imagens da propaganda cubana e se transformarem em porta-vozes do que
acontece na ilha. “Representam um setor muito antenado em relação à tecnologia, muitos
viajaram, têm contatos fora, sabem como articular suas reivindicações e suas queixas de uma
maneira sofisticada, e entendem como lidar com a imagem, que é a única coisa que Cuba
produziu: o sonho da revolução transformado em produto de consumo e imagem”, afirma
Fusco.
Por esta mesma razão, o Governo cubano tenta limitar o acesso dos artistas às redes sociais
através do monopólio exercido pela estatal de comunicações da ilha, a Etecsa. O EL PAÍS
tentou entrar em contato com uma das artistas que foram temporariamente detidas pela
polícia, Tania Bruguera, mas uma familiar dela relatou que seu telefone fixo estava
grampeado pela segurança do Estado, e também que seu acesso à internet havia sido
cortado.
“A segurança do Estado decidiu declarar guerra a todos os que se queixam, porque sabem
que o país está num momento vulnerável politicamente”, acrescenta Fusco. O país atravessa
uma aguda crise econômica devido à pandemia e à queda do turismo, o que se traduz na falta
de alimentos e remédios. Não só os artistas protestam contra esta situação —a detenção
arbitrária de quem denuncia a crise se tornou uma constante. “Em Cuba, podem tirar o seu
celular se você gravar uma cena que retrate o que está acontecendo”, exemplifica Castillo.
O artista Luis Manuel Otero está entre os intelectuais que já foram detidos dezenas de vezes,
a última delas em abril. “Tenho vigilância em minha casa 24 horas por dia”, diz, de Havana.
Conta que essa última detenção ocorreu logo antes da inauguração do oitavo congresso do
Partido Comunista de Cuba, quando realizava uma performance de protesto em sua casa
contra a repressão do Governo. Foi temporariamente detido, e algumas das suas obras foram
apreendidas. Depois de pedir sem sucesso a sua devolução, iniciou uma greve de fome.
Vários dos detidos e vigiados estiveram em uma manifestação em 30 de abril em apoio a
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Otero, como o jornalista Esteban Rodríguez e a ativista Mary Karla Arés (que registrou na
rede a violência contra esse protesto), entre outros. Lavastida participou dos protestos nas
redes sociais pela libertação de seus colegas Otero e Osorbo.
Para alguns membros do movimento artístico oposicionista San Isidro, cuja sede é a casa de
Otero, este aumento da repressão reflete também a conjuntura política depois do congresso
do único partido existente no país. Já falam em “Primavera Negra”, segundo um documento
deste coletivo. Otero recua um pouco mais: a 2018, ano em que alguns artistas organizaram a
Bienal 00, e o Governo em resposta assinou o Decreto 349, que regula (e censura) o setor
artístico. “Aquilo conectou um grande grupo, já somos uma grande massa intelectual de
artistas”, afirma Otero. Perderam o medo inclusive de se posicionar diante do ministro da
Cultura, com o que, como recorda Castillo, após várias reuniões a comunicação terminou.
“Há um processo novo que é o compromisso de uma geração com uma mudança, e isso vai
além do medo. Estamos hiperconectados, e preparados para dar a vida, se for necessário, por
esta história”, afirma Otero.
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