O porquê dos nossos sentimentos: por que eles existem?
Psicoterapias, neuroplasticidade e alterações na consciência
1. Palavras-chave: neurociência, depressão, consciência, psicoterapia, TCC.
Neurocientistas procuram atualmente relacionar mudanças na consciência, para
compreendê-la melhor, a partir dos efeitos da psicoterapia, avaliando alterações
no cérebro, a neuroplasticidade. Se as psicoterapias promovem modificações na
estrutura e/ou no funcionamento de áreas cerebrais, a consciência deverá ser
alterada também.
A consciência, sendo um ou vários estados cerebrais ao mesmo tempo,
interligados, possui uma base física na qual se assenta: o cérebro. E assim
também é a mente na qual a consciência é uma “parte” dela.
Possuímos uma tendência a considerar a consciência como algo imaterial,
sobrenatural e, sendo assim, algumas pessoas dizem que processos físico-
químicos, ou biológicos se você preferir, não produzem algo imaterial. “Nunca
vimos nada físico produzir um estado imaterial”, eles dizem. Mas as
psicoterapias conseguem mexer fisicamente com o substrato neural e,
consequentemente, alterando o comportamento de uma pessoa, havendo assim
mudanças na consciência. Mesmo em um exemplo simples, como uma pancada
na cabeça a fazer com que alguém desmaie, também houve uma alteração na
consciência, um desligamento, mostrando que ondas de choque mecânicas
atuaram em níveis neuronais, de impulsos nervosos, íons, influindo fortemente
na consciência a ponto de desligá-la.
Em outro ponto, o cérebro imutável, estático, cedeu lugar a outro dinâmico,
onde qualquer aprendizado só é possível graças à neuroplasticidade que apenas
de algumas décadas para cá foi possível se perceber graças a instrumentos
eletrônicos sofisticados. PET, SPECT, iFMRI são algumas siglas já conhecidas
nesse campo.
A CBT (ou TCC) é uma das terapias mais poderosas nesse processo de
avaliação de modificações na consciência, embora a psicoterapia psicodinâmica
também produz resultados semelhantes apesar de suas abordagens diferentes.
Talvez as duas funcionam pois dessa maneira porque buscam finais comuns.
Mas a TCC é ainda preferida dos cientistas, mexendo com as emoções,
sentimentos, comportamentos, etc., avaliando mudanças em que, por exemplo,
uma área de sintoma como da cognição, é acompanhada por mudanças em
outras áreas de sintomas como comportamentos e emoções.
Assim, analisando atividades cerebrais antes e depois da TCC em depressões,
verificou-se modificações em áreas do sistema límbico, o córtex pré-frontal
dorsolateral e áreas cinguladas. Algo até surpreendente pois poucas áreas do
cérebro se alteraram e, com isso, alteraram a consciência. Poucas áreas mas
2. importantes. Houve diminuição da atividade no sistema límbico, especialmente
a amígdala, com o córtex pré-frontal dorsolateral tornando-se relativamente mais
ativo.
A depressão produz modificações nos comportamentos dos indivíduos que vão
desde uma tristeza onde sair, tirar férias, se desprender de preocupações do dia
a dia, possam levar a um melhoramento de seus sintomas, com até modificações
em que eles fiquem abatidos, sem forças para o trabalho, para continuarem com
suas vidas sociais, e até permanecerem literalmente prostrados em suas camas.
Aqui eu abro um parênteses para um exemplo no qual eu mesmo fui o
protagonista de uma depressão profunda onde, por três anos, mais ficava em
minha cama do que de pé! Mesmo com um antidepressivo, a clomipramina, eu
ficava deitado o dia inteiro e só tinha energias para me levantar, pasme, por
volta das seis horas da tarde. Às vezes levantava ao meio-dia e ia resolver alguns
compromissos. Dormia minhas sete a oito horas comuns de sono, me
alimentava, tomava banho e até saía, mas muito triste.
Então posso dizer de uma mudança de consciência a qual fui submetido. Eu não
falava para o médico sobre essa situação; eu não chegava a ele e dizia que o
remédio e/ou a dosagem estavam errados;e não por que não queria e sim porque
minha consciência não me permitia, onde eu havia perdido grande parte dela
esquecendo da minha vida anterior, social, afetiva e de trabalho. Foi algo onde
se mostra um dos lados mais nefastos da depressão:a pessoasem consciência do
que ocorre, podendo levá-la a comportamentos destrutivos.
Acabei por mudar de cidade e de médico. Foi-me receitado a fluoxetina - o
prozac - e, em apenas oito dias, eu levantei da cama às sete horas da manhã,
tomei um banho e saí. O que é a química cerebral…
Hoje estou muito bem e a fluoxetina possui uma ação muito bem conhecida: ela
segura o chamado neurotransmissor transportador que não deixaria a serotonina
realizar com eficácia as suas sinapses, levando-a de volta à membrana pré-
sináptica. A famosa frase: “inibidor seletivo da recaptação da serotonina.”
Referência Bibliográfica
Daniel Collerton. Psychotherapy and brain plasticity. 2013. Disponível em: <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3764373/ >. Acesso em: 11-11-
2017.