1. Observação: a fé é um conceito que considero repleto de confusões e/ou más
interpretações. Por exemplo, se você pergunta se alguém possui fé, ela na hora lembra
da própria religião e valores religiosos. Até aí é compreensível mas possivelmente ela
não acreditará, por exemplo, que a mesma carga emocional de fé de um pajé, em seus
valores, no meio da floresta amazônica, seja igual a do Papa na Igreja Católica. Por
isto recomendo a leitura de "Esclarecimento sobre a fé para os
meus artigos" caso surjam dúvidas sobre a questão da fé -
http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2014/04/esclarecimento-sobre-fe-para-
os-meus.html
Este artigo:
“Todas as terapias, meditações e religiões são faces de uma mesma atividade: a
Neurorreligação.”
Religião significa: "(s.f.) Culto rendido à divindade. / Fé; convicções religiosas, crença: a
religião transforma o indivíduo. / Doutrina religiosa: religião cristã. / Tendência para crer
em um ente supremo. / Acatamento às coisas santas. / Fig. Coisa a que se vota
respeito: o trabalho era para ele uma religião”.¹ Significa também "religar-se", religar-se
ao mundo.
É um modo de se ajustar à sociedade em que se vive, de buscar equilíbrio em todos os
aspectos possíveis nas vidas das pessoas, e, também, a felicidade, através de
orações, cultos, valores religiosos, etc., sendo, a fé, um dos sentimentos mais
importantes para tanto.
Mas a Neurociência tem mostrado que os nossos sentimentos e emoções são
resultados de atividades cerebrais relacionadas com neurotransmissores, neurônios,
sinapses, produção de hormônios, ou seja, nada de sobrenatural influindo em qualquer
cérebro ou sistema nervoso de nós seres humanos. E mais: há uma relação íntima
entre esses fenômenos e a Teoria da Evolução onde tudo o que sentimos, é o
resultado de conjuntos de genes em nossos DNA’s criadores de áreas cerebrais
específicas, e que foram decisivos na perpetuação da espécie humana na Terra.
Então defino aqui um conceito, a Neurorreligação, devido ao meu modo de
ver o Relativismo Religioso. (2)
A Neurorreligação se baseia nos seguintes fatos:
2. 1 - O acreditar e a fé 3 são sentimentos, mas não sentimentos oriundos de qualquer
fator ou ente (s) sobrenatural (is) e sim próprio da evolução do nosso sistema nervoso,
especificamente do nosso cérebro. Eles como todos os outros sentimentos e emoções
serviram à Evolução para que a espécie humana não se extinguisse.
2 - Existe uma capacidade natural, que nasce conosco, onde, conforme os valores
religiosos vão se formando na mente das pessoas,4 pela influência do meio social, elas
direcionam suas energias ao (s) ente (s) divino (s) e crenças aprendidas junto a ele (s).
A fé seria uma extensão do acreditar: primeiro você acredita nos valores religiosos. É
um sentimento. Depois você passa a, dizendo de forma prática, dar crédito, confiar,
orar por um ente divino ou mais (se a sua religião for politeísta), orar pelos poderes
associados a essas crenças, etc. (5)
3 - Neste momento você pode passar a se sentir bem, aliviado de sintomas negativos
como, por exemplo, a tensão, angústia, ansiedade, sendo que a prática constante e
intensa pode curar até depressões ou muitos outros estados emocionais negativos.
4 - Esses sentimentos são devidos à estimulação de áreas cerebrais específicas que
introduzem em seu corpo e/ou no seu próprio cérebro, neurotransmissores, hormônios,
e/ou substâncias químicas diversas fazendo com que você melhore de seus
problemas. Exemplo: quando de uma oração você não está se comunicando com
Deus, não está em contato com o sobrenatural de nenhuma espécie. Você, como
qualquer outra pessoa de religião diferente, com valores religiosos diferentes, está
"forçando" as áreas cerebrais responsáveis por sentimentos e emoções.
5 - Mas qualquer terapia, psicológica junto ou não à psiquiátrica, ou outra qualquer, e
meditações, podem também estimular os seus neurônios a produzirem substâncias
químicas a melhorar a sua condição mental.
6 - Quero dizer que as religiões, terapias e meditações estão em um mesmo patamar,
não de eficácia, mas de finalidade para as pessoas se religarem ao mundo, se
ajustarem às suas vidas, controlarem as suas emoções.
É evidente que as religiões, por terem os seus valores passados às pessoas desde
quando crianças poderão ser mais eficazes, inclusive em um número maior de casos.
Considero clássicas as experiências do neurocientista estadunidense Andrew
Newberg, onde freiras cristãs e monges budistas foram submetidos a tomógrafos
computadorizados enquanto as primeiras rezavam e os monges meditavam. Veja um
trecho 6 do texto publicado em uma revista de divulgação científica aqui no Brasil:
3. “No momento do transe, a área do cérebro responsável pelo sentido de orientação tem
sua atividade reduzida, daí a sensação de desligamento com o corpo, relatada por
quem passa por profundas experiências espirituais. É o que contam sentir os religiosos
que passam por experiências sensoriais. ‘No momento de uma longa prece, sinto um
aquietar da mente, uma sensação de paz interior e elevação espiritual. E também um
sentimento de plenitude, como se a presença do Criador estivesse permeando meu
ser’, relatou uma freira americana que participou das pesquisas.”
Newberg acredita em encontrar Deus na química dos neurônios, diferente do que digo
aqui, mas, de qualquer maneira, suas experiências revelam a força da concentração,
do esforço do pensar e ao mesmo tempo de ter fé em valores religiosos ou na filosofia,
neste caso, budista. Tanto as freiras quantos os monges, diferindo radicalmente em
muitas crenças, atingem estados mentais bem próximos, modificando o funcionamento
da mesma área cerebral.
E para você ter uma ideia da diferença em crenças do cristianismo do budismo, basta
saber que, para este último, o Deus cristão não existe!
Concluindo, Neurorreligação “é o resultado que se obtém ao nos concentrarmos, nos
valores religiosos, nas terapias ou meditações, modificando o funcionamento de áreas
cerebrais em nível de neurônios, neurotransmissores, hormônios, e outras substâncias
químicas, para nos sentirmos bem”. As terapias, religiões e meditações são então
neurorreligações.
E pode parecer estranho a frase “nos concentrarmos, seja em valores religiosos,
terapias ou meditações…”, porque coloquei “valores religiosos” junto com terapias e
meditações. Dá impressão que desrespeito a religião brasileira, coloco-a para baixo. O
problema é que em nossa sociedade, em nosso meio ambiente social, predomina o
culto ao cristianismo, onde se acha que ele é absoluto, o único verdadeiro, tendo as
suas verdades como absolutas. Mas como em tudo neste blog eu defendo a ideia do
Relativismo Religioso, porque, também, todas as religiões do mundo, em todas as
épocas em que existiram ou ainda existem, se consideravam e se consideram
absolutas, as únicas donas das verdades.
Qual estará certa? Nenhuma. Todas foram obras das mentes das pessoas.
O sobrenatural não existe.
Notas:
4. 1 - Dicionário Aurélio On Line - Brasil - http://www.dicionariodoaurelio.com/Religiao.html
- Acesso em 25/05/2014
2 - Ver todos os artigos do meu blog “O Relativismo Religioso - Como eu o vejo” -
http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br
3 - Ler “O acreditar e a fé como vantagens evolutivas” -
http://finalizacaoargos.blogspot.com.br/2008/02/o-acreditar-e-f-como-vantagens.html
4 - Ler "Neurociência e como se formam os valores religiosos em nosso cérebro" -
http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2013/06/um-valor-se-forma-quando-
uma-ou-mais.html
5 - É como se o cérebro enganasse a si mesmo mas você pode pensar de outra forma
pois senão poderá duvidar e muito desta minha afirmação: o ser humano cria entes
imaginários, atribui valores a eles, poderes, acreditando e colocando neles a fé que é
muito poderosa. E não se pode provar que existem nem questionar porque seria
heresia, blasfêmia. Tudo isto é passado de geração à geração em um povo ou região e
acaba sendo tomado como uma verdade absoluta. Resumidamente, as religiões hoje
existentes, algumas com mais de um bilhão de adeptos como o cristianismo, hinduísmo
e o islamismo, começaram assim.
6 - Revista SUPERINTERESSANTE - “Espiritualidade: A genética da fé” - Março 2006 -
Texto de Carla Aranha - http://super.abril.com.br/cultura/espiritualidade-genetica-fe-
446288.shtml - Acesso em 25/05/2014