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Todos os anos vemos em revistas, jornais, na internet e até em reportagens
televisivas, notícias da construção de computadores, chips, cada vez mais
rápidos e com mais memórias do que estamos acostumados a ver. E dessas
notícias para outras onde o computador poderá superar a capacidade humana
como um todo, também surgem junto àquelas onde há realmente intenção de
humanos em construírem máquinas específicas a superarem nossas capacidades
mentais.
Isso é fascinante para muitas pessoas, e, sem reservas, para mim também, mas
precisamos analisar muitos fatos sobre o cérebro humano e o processamento da
informação nessas máquinas, para depois pensarmos se há realmente a
possibilidade dos computadores nos superarem.
Nossa mente atua em um nível de complexidade muito maior que a simples
lógica binária de 1 e 0: raciocinamos em cima de conceitos, abstrações,
deduzimos, temos intuição. Relacionamos imagens umas com as outras e
deduzimos ou compreendemos relações entre elas. Imagens essas em nossas
memórias passíveis até de serem modificadas, a ponto de não mais serem uma
réplica daquilo visto pelos nossos olhos. Nossa imaginação é verdadeiramente
uma aliada muito importante da mente em nossos pensamentos. Poderíamos
ficar aqui listando muito das capacidades naturais de nosso cérebro e, ainda,
temos muito mais do que se imagina: o sentir. Veja, por exemplo, a intuição.
Em sua definição entra a palavra pressentimento ou a expressão “maneira de se
adquirir conhecimento instantâneo sem que haja interferência do raciocínio.”
Estamos assim além da lógica comum, lógica matemática, fria, sem
sentimentos.
O neurocientista português António Damásio, em seu brilhante livro “E o
cérebro criou o homem”, cita os problemas dos qualia, dizendo, sobre um deles,
da participação de emoções e sentimentos em todas as nossas experiências
subjetivas, nos significados das coisas e nas ideias.
A própria consciência, considerada um dos mais difíceis problemas para
resolvermos, está, conforme Damásio, relacionada com o sentir, como ele bem
explica no livro “O Mistério da Consciência”.
Nosso cérebro não é e nunca foi uma máquina biológica racional de resolução
de problemas: é uma máquina racional e emocional de resolução de problemas.
Pensa-se até em colocar (se já não o fizeram eficientemente) circuitos neurais
orgânicos a sofisticar o processamento da informação de chips, ou seja, até de
imitar o funcionamento pura e simplesmente do nosso cérebro.
Neste ponto chegamos a um problema onde, creio eu, mostraria de uma vez por
todas a incapacidade das máquinas serem mais inteligentes que nós: será que
para construirmos algo no mínimo tão inteligente quanto aos humanos, não se
necessitaria de um sistema ainda mais inteligente? Em outras palavras, só um
sistema mais capaz conseguiria entender, e por isso criar, um outro de menor
capacidade?
Talvez não conseguiríamos construir nem algo tão inteligente como nós pois
nunca chegaríamos, pela própria ciência cognitiva, a entendermos o nosso
cérebro por completo.
Termino este artigo por aqui pois, se alguém tiver respostas a essas perguntas,
este texto deixará de ter significado.

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  • 1. Todos os anos vemos em revistas, jornais, na internet e até em reportagens televisivas, notícias da construção de computadores, chips, cada vez mais rápidos e com mais memórias do que estamos acostumados a ver. E dessas notícias para outras onde o computador poderá superar a capacidade humana como um todo, também surgem junto àquelas onde há realmente intenção de humanos em construírem máquinas específicas a superarem nossas capacidades mentais. Isso é fascinante para muitas pessoas, e, sem reservas, para mim também, mas precisamos analisar muitos fatos sobre o cérebro humano e o processamento da informação nessas máquinas, para depois pensarmos se há realmente a possibilidade dos computadores nos superarem. Nossa mente atua em um nível de complexidade muito maior que a simples lógica binária de 1 e 0: raciocinamos em cima de conceitos, abstrações, deduzimos, temos intuição. Relacionamos imagens umas com as outras e deduzimos ou compreendemos relações entre elas. Imagens essas em nossas memórias passíveis até de serem modificadas, a ponto de não mais serem uma réplica daquilo visto pelos nossos olhos. Nossa imaginação é verdadeiramente uma aliada muito importante da mente em nossos pensamentos. Poderíamos ficar aqui listando muito das capacidades naturais de nosso cérebro e, ainda, temos muito mais do que se imagina: o sentir. Veja, por exemplo, a intuição. Em sua definição entra a palavra pressentimento ou a expressão “maneira de se adquirir conhecimento instantâneo sem que haja interferência do raciocínio.” Estamos assim além da lógica comum, lógica matemática, fria, sem sentimentos. O neurocientista português António Damásio, em seu brilhante livro “E o cérebro criou o homem”, cita os problemas dos qualia, dizendo, sobre um deles, da participação de emoções e sentimentos em todas as nossas experiências subjetivas, nos significados das coisas e nas ideias. A própria consciência, considerada um dos mais difíceis problemas para resolvermos, está, conforme Damásio, relacionada com o sentir, como ele bem explica no livro “O Mistério da Consciência”. Nosso cérebro não é e nunca foi uma máquina biológica racional de resolução de problemas: é uma máquina racional e emocional de resolução de problemas. Pensa-se até em colocar (se já não o fizeram eficientemente) circuitos neurais orgânicos a sofisticar o processamento da informação de chips, ou seja, até de imitar o funcionamento pura e simplesmente do nosso cérebro. Neste ponto chegamos a um problema onde, creio eu, mostraria de uma vez por todas a incapacidade das máquinas serem mais inteligentes que nós: será que
  • 2. para construirmos algo no mínimo tão inteligente quanto aos humanos, não se necessitaria de um sistema ainda mais inteligente? Em outras palavras, só um sistema mais capaz conseguiria entender, e por isso criar, um outro de menor capacidade? Talvez não conseguiríamos construir nem algo tão inteligente como nós pois nunca chegaríamos, pela própria ciência cognitiva, a entendermos o nosso cérebro por completo. Termino este artigo por aqui pois, se alguém tiver respostas a essas perguntas, este texto deixará de ter significado.