O documento discute a evolução da panificação brasileira para atender aos gostos dos consumidores, oferecendo uma variedade maior de pães, incluindo opções funcionais e especiais. O consumo de pão no Sul do Brasil cresceu 12% ao ano, com os gaúchos comendo em média 45kg por pessoa. Padarias e supermercados ampliaram suas linhas para 340 produtos, captando aqueles dispostos a pagar mais por pães diferenciados.
1. | 20 | Economia > ZERO HORA > DOMINGO | 28 | JANEIRO | 2007
Consumo Saborosa combinação de
FOTOS JÚLIO CORDEIRO
farinha, água e sal sai renovada do forno
O pão também
ficou
chique
ALEXANDRE DE SANTI
mo a Wal-Mart elevassem a oferta
nas suas padarias. Há cinco anos,
Em Porto Alegre, um pão po- um supermercado do grupo tinha
de custar R$ 11. Pelo valor de até 130 produtos na seção de pães e
um buffet livre completo no confeitaria. Agora, chegam a 340 e
centro da cidade, é possível le- as lojas oferecem mais fornadas de
var apenas o pão de um quilo pães quentes especiais ao longo do
para casa, envolto em papel de dia. Com a variedade, veio o cresci-
seda, como antigamente. A mento de 12% ao ano no setor de
transação – aparentemente ab- padaria.
surda – ocorre todos os dias no – Estamos vivendo uma fase de
bairro Moinhos de Vento, na experimentação deste produto. O
Capital, em uma das mais chi- cliente que compra o pão especial é
ques padarias locais. o mesmo que compra o pão francês
– diz Idenio Belmonte, diretor de
produtos perecíveis da re-
O preço diferencido é a
ponta mais sofisticada
de um lento movimento na
de na Região Sul.
Os supermercados têm
panificação brasileira. Há influência especial no pão
consumidores dispostos a da cidade porque Porto
pagar mais caro pelo mais Alegre está entre as comu-
antigo alimento preparado nidades que mais com-
pelo homem. E a indústria pram o produto nesses es-
do pão está em sintonia Lúcia tabelecimentos. Em Belo
com o desejo do cliente, Horizonte, por exemplo,
oferecendo novidades su- 93,2% dos consumidores
cessivas. escolhem as padarias de bairros –
Consumidores como a publicitária um dos índices mais altos entre as
Lúcia Floriani, de 43 anos, passam capitais. Os porto-alegrenses prefe-
pelas padarias dos supermercados e rem as padarias em 79,5% dos ca-
se encantam com a variedade e a sos, segundo a Associação Brasileira
apresentação dos pães. Farinha, da Indústria de Panificação e Con-
água e sal. Não poderia ser mais feitaria (Abip), deixando o restante
simples, mas agora existem pães re- das compras para supermercados e
cheados, italianos, rústicos, bague- lojas de conveniência. Balcões repletos de pães mais elaborados atraem a atenção e conquistam consumidores das receitas tradicionais
tes, com baixo teor de gordura, fo-
lhados, com aveia, linhaça, centeio,
gergelim, pães pretos, pães alemães,
doces, os novos pães de soja e até
pães com quinua real, um cereal que
Variedade aumenta que vem treinando padeiros no
Brasil inteiro. Em quatro anos, o
Propan capacitou funcionários de
O perfil da panificação brasileira:
Panificadoras 52 mil
nasce somente na Bolívia, a 3,8 mil
metros do nível do mar, utilizado
pela Nasa para alimentação de as-
ao gosto do freguês 200 estabelecimentos gaúchos –
cerca de 3% do total. O programa
incentiva a diversificação e o de-
Faturamento em 2006
Importância na economia
Empregos
R$ 30 bilhões
2% do PIB
600 mil diretos
tronautas. Todos os pães, dispostos, senvolvimento de receitas ex-
bem iluminados e salpicados com Na Nutrella, fabricante de pães Nas padarias de bairro, mesmo clusivas, para fugir da pa-
farinha crua, dão a impressão de te- industrializados instalada em Gra- sem tamanha variedade, a revolu- dronização sofrida pela
rem saído direto de uma propagan- vataí, a procura por pães funcionais ção também chegou. Uma loja po- panificação ao longo de
da de revista. – como integrais e lights – cresceu de comprar até 38 tipos de pães décadas.
Na tarde de quinta-feira, Lúcia es- 70% em cerca de cinco anos. congelados produzidos por indús- – Os que ficaram no
piava os produtos de padaria em um Atualmente, a empresa oferece 33 trias para assar em fornos próprios. sistema burro estão pati-
supermercado da Capital em busca variedades de pães e tem a meta de Assim, oferecem pão quentinho nando – conta Arildo.
de inspiração para o jantar. Passou seguir lançando quatro novos pro- com maior freqüência. Há cinco Com crescimento da renda nas
por pães comuns, pelas cestas de ca- dutos por ano, de acordo com Da- anos, a variedade não chegava a classes mais pobres e novos pães Consumo anual de
cetinho e fixou o olho na seção de niel Neitzke, gerente de marketing cinco, lembra Arildo Oliveira, presi- direcionados para um público cada pão por pessoa:
pães especiais. Pediu cinco baguetes da empresa. A preocupação com a dente do Sindicato da Indústria da vez mais abrangente, o consumo Brasil 33,11 kg
italianas. saúde é o motor da expansão da Panificação e Confeitaria no Rio cresceu na Região Sul. Por ano, os Região Sul 45 kg
– Não tinha nada para jantar e re- empresa no segmento. Grande do Sul (Sindipan-RS). consumidores sulistas comem seis Alemanha 100 kg
solvi mudar um pouco – comenta a – As pessoas estão deixando de Para Oliveira, um dos responsá- quilos a mais de pão em compara- Argentina 73 kg
publicitária. consumir o pão comum para co- veis pela melhoria de variedade e ção com cinco anos atrás, chegan- Chile 93 kg
O desejo de dar uma cara nova mer o pão que traz um benefício aumento de consumo é o Programa do a 45 quilos anuais. E pagam Europa 60 kg
para a refeição fez com que redes co- para a saúde – diz. de Apoio à Panificação (Propan), mais caro por isso com prazer. Fontes: Abip e Propan