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1. INTRODUÇÃO
O primeiro ano de vida é um período marcado por um crescimento e
desenvolvimento acelerados, por este motivo o lactente apresenta uma elevada
necessidade nutricional em plena fase de crescimento e maturação. Suas
necessidades são elevadas tanto quantitativas como qualitativamente, pois estão em
plena fase de multiplicação e diferenciação celular.
O aleitamento materno é um alimento natural e ideal para a criança nos seus
primeiros anos de vida. A imunoglobina A está em maior concentração no leite
humano, cada mãe produz o leite especial para o filho que gerou. As mães dos
recém-nascidos, principalmente prematuros, produzem o leite com todos os
elementos necessários para o bebê; nenhum outro alimento pode substituí-lo de
igual forma, é mais digestivo, prático, nutritivo, menos alergênico e fortalece a
musculatura da face promovendo um bom desenvolvimento.
Mediante pesquisas realizadas provou-se que o aleitamento materno é
imprescindível na alimentação da criança, não devendo ser substituído, pois além de
ser um alimento singular, suas vantagens vão além da nutrição fortalecendo e
estreitando o relacionamento mãe e filho. O ato de amamentar transmite à criança
carinho, tranqüilidade e segurança.
1.2 Tipos de aleitamento materno
É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno
adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecidas no mundo
inteiro. Assim, o aleitamento materno costuma ser classificado em:
Aleitamento materno exclusivo – quando a criança recebe somente leite materno,
direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos
ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de
reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos.
9
Aleitamento materno predominante – quando a criança recebe, além do leite
materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos
de frutas, etc.
Aleitamento materno – quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou
ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos.
Aleitamento materno complementado – quando a criança recebe, além do leite
materno, qualquer alimento sólido ou semi-sólido com a finalidade de complementá-
lo, e não de substituí-lo. Nessa categoria a criança pode receber, além do leite
materno, outro tipo de leite, mas este não é considerado alimento complementar.
Aleitamento materno misto ou parcial – quando a criança recebe leite materno e
outros tipos de leite.
10
2. OBJETIVO
2.1. Geral
Apresentar as vantagens do aleitamento materno.
2.2. Específico
Demonstrar que as vantagens do aleitamento materno vão além do aspecto
nutricional e apresentar soluções para os problemas relacionados ao mesmo.
11
3. ALEITAMENTO MATERNO
A excelência do aleitamento materno pode ser verificada sob diversos
prismas. A literatura médica tem oferecido continuamente novas evidências nesse
sentido, não restando dúvidas sobre sua superioridade.
No entanto, há muito o aleitamento materno deixou de ser visto como um ato
natural, fisiológico. Hoje em dia, em nossa sociedade, as mulheres que amamentam
não o fazem por necessidade ou tradição, e sim porque optaram pela amamentação.
As crianças, no entanto não podem optar, muito embora elas tenham o direito de
sobreviver, de crescerem sadias, física e mentalmente, e de terem uma boa
qualidade de vida. Elas tem direito a serem amamentadas.
3.1. Benefícios do aleitamento materno
A proteção do aleitamento materno em relação à sobrevivência da criança é
relatada nos textos mais antigos, como o Talmud, a Bíblia e o Corão. As razões
dessa excelência, porém, têm sido desvendadas apenas mais recentemente. Esse
esclarecimento se deveu especialmente ao desenvolvimento da bioquímica, da
imunologia e aos estudos epidemiológicos.
3.1.1 Para a criança
O aleitamento materno exclusivo é o modo ideal de nutrir a criança até os 4 a
6 meses de vida, pois atende às necessidades nutricionais, metabólicas, confere
proteção imunológica e proporciona ainda as melhores condições para a interação
entre mãe e filho. Vem ocorrendo, porém, indesejável declínio na prática do
aleitamento materno. Essa tendência, iniciada nos países desenvolvidos no pós-
guerra, alastrou-se também para os países em desenvolvimento, trazendo
repercussões danosas para a saúde das crianças. Nos países desenvolvidos, a
prática do aleitamento artificial levou ao aumento da obesidade e das alergias e,
para aqueles em desenvolvimento, contribuiu para a desnutrição, as infecções,
12
especialmente diarréias e infecções respiratórias, e a mortalidade infantil. Nas
crianças que não recebem o aleitamento natural, a relação entre a diarréia
infecciosa, a desnutrição e as infecções subseqüentes é esperada. Na falta de
saneamento básico e de higiene adequada, a contaminação alimentar por bactérias
enteropatogênicas é a regra.
Em relação às doenças respiratórias, há também evidências de que as
crianças amamentadas ao peito, no primeiro semestre de vida, recebem efeito
protetor com relação às otites. Demonstrou-se que as crianças amamentadas
exclusivamente ao peito, por pelo menos quatro meses, tiveram redução de 50% no
número de episódios durante o primeiro ano de vida.
O aleitamento materno protege a criança também contra outras infecções. No
recém-nascido, há evidências concretas em relação à sepse e à enterocolite
necrosante. Comprovou-se também proteção contra a infecção urinária. Verificou-se
que crianças com idade inferior a 6 meses apresentam menor incidência dessa
doença quando amamentadas ao peito. Especula-se que essa proteção pode ser
atribuída a um oligossacarídeo encontrado na urina que reduz a adesividade
bacteriana às células uroepiteliais e/ou maior concentração de fatores imunológicos
na urina de crianças que recebem leite humano.
A relação das doenças não-infecciosas contra as quais o leite humano exerce
proteção vem crescendo progressivamente. Essa lista, iniciada pela desnutrição
marasmática e o kwashiorkor, continua com a doença alérgica, a anemia ferropriva,
a hipocalcemia neonatal, a acrodermatite enteropática e a morte súbita. O
mecanismo pelo qual a proteção em relação a esta última ocorre não é totalmente
conhecido, mas conjectura-se que o sono prolongado determinado por mamadeira
facilite apnéias.
Os cirurgiões-dentistas têm chamado a atenção sobre a relação entre doença
dentária – má oclusão e cáries – e o desmame precoce. Quando a criança suga ao
peito, a musculatura da boca tem papel ativo, e a língua, função de ordenha. Com a
mamadeira, essa musculatura é pouco solicitada, pois apenas com uma leve sucção
o leite já flui para a boca. A língua passa a ter apenas o papel de obstruir o orifício
do bico da borracha quando a criança quer interromper o fluxo de leite. Essa
situação não fisiológica atrapalha o desenvolvimento normal da boca, provocando a
má oclusão dentária. Outro problema sério são as cáries. Além do açúcar adicionado
13
ao leite, o resíduo deixado pela mamadeira noturna provoca cáries rampantes na
arcada superior, não protegida pela língua.
A proteção contra os fenômenos alérgicos conferida pelo leite humano é
muito importante. Pode haver alergia alimentar em crianças alimentadas
exclusivamente ao peito, relacionado ao leite de vaca ingerido pela mãe. Esta última
situação é rara e, se diagnosticada, de solução simples. Por outro lado, as crianças
em aleitamento artificial recebem proteínas estranhas em grande quantidade e
apresentam processos alérgicos muito mais frequentemente que crianças
amamentadas. Esse fato é mais comum nas primeiras 6 semanas de vida, quando
ocorre a absorção de moléculas protéicas inteiras pela mucosa intestinal. Assim, a
dermatite atópica, as pneumopatias alérgicas e a alergia intestinal são associadas à
ingestão do leite de vaca. Essa situação se agrava em crianças com potencial
alérgico, que iniciam a produção de lgA mais tardiamente, e a permeabilidade da
mucosa ás macromoléculas pode ser mais prolongada. Por esse motivo, é
recomendado que filhos de pais alérgicos que sejam amamentados exclusivamente
ao peito por pelo menos três meses.
O leite humano promove também a proteção a longo prazo contra a
obesidade, aterosclerose, hipertensão arterial e infarto do miocárdio. A concetração
mais elevada de colesterol do leite humano favorece a indução de sistemas
enzimáticos que regulam sua biossíntese e catabolismo. A proteção imunológica
transmitida pelo leite humano pode refletir-se também em longo prazo. Falam, nesse
sentido, o isolamento de um peptídeo de albumina bovina como possível
desencadeante do diabetes melito e a observação de que crianças amamentadas
por mais de 4 meses apresentam taxa menor dessa doença. Esse efeito pode ser
especialmente benéfico em famílias com alto risco para essa doença. Registrou-se
também que as crianças amamentadas por mais de quatro meses apresentaram
proteção contra o desenvolvimento de leucemias e linfomas e início mais tardio da
doença de Chron.
Quanto à mortalidade, o efeito protetor do aleitamento materno é bem
conhecido. Victoria e cols. Estudaram a mortalidade de crianças com idade inferior a
1 ano em Porto Alegre e Pelotas. Verificaram que o risco de morrer por diarréia,
infecção respiratória e outras infecções, nas crianças que nunca receberam leite
materno, foi respectivamente 14,2 3,6 e 2,5 vezes mais elevado em relação às
amamentadas exclusivamente ao peito.
14
Monteiro e cols. Utilizaram esses índices para avaliar o impacto do programa
de incentivo ao aleitamento materno na Grande São Paulo entre 1981 e 1987. Os
resultados são bastante expressivos, podendo-se atribuir ao aleitamento materno
redução de 11,8% na mortalidade infantil. Avaliando em separado o efeito na
mortalidade por diarréia, infecções respiratórias e outras infecções verificaram-se
redução de 32,3%, 22,3% e 17,7%, respectivamente.
Em relação ao controle da diarréia, as duas estratégias mais importantes são
o aleitamento materno e o saneamento ambiental, especialmente a qualidade da
água. O aleitamento materno provê proteção significativa contra a diarréia em
qualquer tipo de ambiente e age não só transmitindo fatores antiinfecciosos, mas
também reduzindo a exposição à água. Por esse motivo, especialmente quando não
complementado, torna-se particularmente valioso nas áreas em desenvolvimento.
O aleitamento materno, além de suprir todas as necessidades nutricionais do
lactente nos primeiros meses de vida, proporciona as condições ideais para a
comunicação e a troca de afeto entre mãe e filho. O modo de sucção – verdadeira
ordenha – é completamente diferente daquele realizado para retirar o leite da
mamadeira. A atividade da sucção ao peito é muito importante para o
desenvolvimento do psiquismo, sendo muito mais íntima e afetuosa. As sensações
táteis, olfatórias, térmicas e auditivas fazem parte dessa experiência. Relata-se que
as crianças amamentadas ao peito são mais ativas desde o período neonatal,
frequentemente aprendem a andar mais precocemente e apresentam personalidade
mais estável e melhor adaptação social.
Em relação ao desenvolvimento neuropsicomotor, diversos estudos sugerem
que o melhor desempenho da criança decorre apenas como conseqüência da
melhor estimulação, pelo contexto mais adequado da relação entre mãe e filho. O
trabalho de Lucas e cols., porém, mostra que o melhor desenvolvimento em
prematuros pode ser devido à composição do leite humano.
3.1.2 Para a mãe
O aleitamento materno é o modo mais prático de alimentar a criança. Não há
necessidade de comprá-lo ou de armazená-lo. Já está pronto, na temperatura
adequada, não havendo possibilidade de contaminação. Dispensa bicos,
15
mamadeiras e esterilização. Também é positivo porque a criança não necessita
receber chá ou água e, à noite, a mãe pode alimentar seu filho com muito mais
comodidade. Além de tudo, o aleitamento é importante para a realização feminina,
na medida em que completa o processo de maternidade.
A mulher deve ser esclarecida dessas vantagens, porém amamentar é um
direito e não uma obrigação. As vantagens iniciam-se logo após o parto, protegendo-
a da anemia por sangramento uterino prolongado. A amamentação provoca
liberação de ocitocina que induz menor perda sanguínea e involução uterina mais
rápida. Propicia o fornecimento de nutrientes de mãe para o filho, com dispêndio de
cerca de 500 calorias por dia. Assim, de um modo fisiológico e sem dieta, sua forma
física volta ao normal mais rapidamente.
A valorização da mama como símbolo sexual e a falsa idéia que a
amamentação provoca a queda das mamas fazem com que muitas mães,
erradamente, pratiquem o desmame precoce. Na realidade, esse efeito é provocado
pelo ganho excessivo de peso durante a gestação. Acredita-se até que, quando a
mulher amamenta, a mama realiza a função à qual se destina, aumenta seu tono.
Além disso, a mulher que amamenta tem taxas menores de câncer de mama e
ovário.
A lactação provoca um efeito contraceptivo que, por meio de um maior
espaçamento entre as gestações, protege a saúde da mulher e da criança. Em
condições de aleitamento materno exclusivo, a inibição da ovulação pode chegar a
98% no primeiro semestre após o parto. O efeito contraceptivo diminui com a
redução do ritmo de sucção e a introdução de outros alimentos, porém pode
prolongar-se até o segundo semestre. Nas populações que não dispõem de
assistência médica, esse efeito é mais importante e pode representar uma redução
natural de metade dos nascimentos. Nos centros urbanos, onde é comum a
complementação da mamada, a contracepção é menos intensa. Esse fato
observado na população não exime, porém, o uso de métodos contraceptivos,
individualmente. Cerca de um mês após o parto, quando as relações sexuais são
reiniciadas, muitas mães, temerosas que o contraceptivo oral provoque efeitos
indesejáveis na criança, iniciam o desmame. Cabe ao pediatra superar o
constrangimento da mãe e dizer da necessidade de escolha de um método
contraceptivo, encaminhando-a para a consulta com o obstetra esclarecendo que
amenorréia nem sempre significa anavulação. Além do condom, as opções mais
16
comuns incluem o uso de progesterona (oral ou injetável), diafragma e dispositivo
intra-uterino. O uso do estrógeno tem sido evitado pela possibilidade de hipogalactia
e feminilização dos meninos.
Em relação à legislação, a mulher que trabalha fora de casa teve seus direitos
ampliados pela Constituição de 1988. Seus tópicos mais relevantes são:
- Disposições constitucionais transitórias e estabilidade: estabilidade da
gestante. Fica garantida a estabilidade provisória da gestante, desde a confirmação
da gravidez, até cinco meses após o parto. O empregador só poderá demiti-la por
motivo de justa causa.
- Direitos assegurados em relação a salário e função (Art.393). Durante a
licença-gestante a mulher tem direito ao salário integral, sendo-lhe facultativo
exercer a função que anteriormente ocupara.
- Licença-gestante (Art.392). Esta licença foi ampliada para 120 dias, ou seja,
4 semanas antes e 12 semanas depois do parto. A mãe poderá tirar toda a licença
após o nascimento da criança.
- Ampliação da licença-gestante (Art.392 – 2º parágrafo). Em casos
excepcionais, os períodos antes e depois do parto poderão ser aumentados em mais
duas semanas cada um, mediante atestado médico. A lei não caracteriza o que seja
“caso excepcional” e, tendo em vista a recomendação médica de ser mantido o
aleitamento materno por seis meses, a ampliação da licença-gestante pode ser
aplicada a toda mãe que está amamentando seu filho.
- Descansos especiais durante o trabalho (Art.396). Até seis meses após o
parto, a mulher terá direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um,
durante a jornada de trabalho. Estes descansos não devem ser confundidos com os
intervalos habituais de repouso e alimentação. Quando a saúde da criança exigir,
este prazo poderá ser aumentado até 6 meses.
- Creche na empresa (Art. 389). O artigo 389 determina que empresas que
empregam mais de 30 mulheres com mais de 16 anos de idade tenham local
apropriado onde seja permitido às empregadas deixar seus filhos nos primeiros seis
meses de vida. Porém são oferecidas alternativas: caso o empregador não ofereça a
creche, deverá estabelecer convênio com creche próxima, ou reembolsar à
empregada as despesas necessárias para o atendimento de seu filho no período do
trabalho. Porém, conforme os acordos realizados durantes os dissídios, esta
17
obrigação às vezes é relegada. Decorre daí que poucas empresas possuem creches
e a possibilidade da mãe amamentar durante o período de trabalho é quase virtual.
3.1.3 Econômico-sociais
Quando se trata de alimentação de crianças em áreas pobres, a primeira
preocupação é sem dúvida o custo do próprio alimento. O gasto com o aleitamento
materno é, com certeza, mais baixo, pelo fato de que o custo da complementação da
dieta materna é inferior ao da alimentação infantil artificial. Além disso, evita-se uma
série de outros ônus.
A mãe que prepara a mamadeira de seu filho deve ter condições mínimas
para que o alimento não se transforme em vetor de doenças. Quando não está mais
lactando, a aquisição do leite torna-se uma necessidade imperiosa e o recurso deve
estar disponível. Para o preparo da mamadeira, são necessários técnica higiênica,
equipamentos e utensílios adequados. Sabemos que mães, em famílias pobres, têm
dificuldade tanto em comprar como em preparar a mamadeira. Decorre daí a alta
freqüência de situações inadequadas, com erros tanto de diluição como risco de
contaminação. A substituição do leite por farináceas é freqüente, e esse hábito, se
rotineiro, leva à desnutrição. A falta de informações e de recursos e a de ações
simples como a fervura da água levam a conseqüência como diarréia, desidratação
e desnutrição. Assim, há incremento da demanda por assistência médica, compra de
medicamentos e até internação hospitalar. Os custos materiais decorrentes são,
com certeza, relevantes, mais incomparáveis ao custo social representado pelos
óbitos. As crianças que sobrevivem a esse processo podem apresentar seqüelas
físicas e intelectuais. Estima-se que a prática do aleitamento materno como única
medida possa impedir a morte de cerca de 2 milhões de crianças por ano nos países
em desenvolvimento.
3.2 Características bioquímicas
O início da produção láctea gera o colostro e pode ocorrer no terceiro
trimestre da gestação; este geralmente apresenta coloração amarelada e aspecto
mais denso que o leite materno. Tem grande importância na proteção contra
18
infecções pela alta concentração dos fatores de defesa, especialmente lgA. Possui
maior concentração protéica e salina menor de lactose e de lipídeos em relação ao
leite maduro. O pequeno volume produzido nos primeiros dias de vida da criança é
altamente adequado às necessidades do recém-nascido. Sua concentração
modifica-se progressivamente, recebendo após uma semana a denominação de leite
de transição e, duas semanas após o parto, já é o leite maduro. Na tabela a seguir
tem-se a composição do leite humano colostro, transição e maduro.
Tabela 1 - composição do leite humano colostro/ transição/ maduro
Componentes
Colostro
(1 a5 dias)
Transição
(5 a 10 dias)
Maduro
(> 15 dias)
Água (g/dl) 87,2 86,4 87,6
Energia (Kcal/dl) 58 74 71
Gordura (g/dl) 2,1 3,9 4,0
Lactose (g/dl) 4,1 5,4 6,8
Proteínas (g/dl) 3,1 0,9 0,8
Tabela 1: Galisa (2008).
3.2.1 Proteínas
A concentração de proteínas do leite humano maduro é a mais baixa dentre
todos os mamíferos. A concentração geralmente relatada é de 1,1g, contudo, se a
determinação excluir o nitrogênio não-protéico, decrescerá para 0,8 a 0,9%. Essa
concentração é adequada para o crescimento normal da criança e provoca baixa
carga de excreção renal de solutos. A relação proteínas do soro/caseína do leite
humano é cerca de 80/20, e do leite de vaca de 60/40. O coalho do leite humano
mais macio, que facilita a digestão, é conseqüência dessa relação.
Tabela 2 - comparação leite humano/ leite de vaca em relação a proteínas:
Tipo de leite Relação Proteína de soro/Caseína
Leite materno 40/60
Leite de vaca 80/20
Fonte: Galisa (2008).
A proteína do soro com maior concentração é a alfa lacto-albumina, que
possui apenas função nutricional, mas compõe o sistema enzimático necessário à
síntese de lactose. Seguen-se allacto ferrina, o IgA secretora e a lisozima que tem
também função de defesa. A beta-lactoglobulina é a principal causa das alergias ao
19
leite de vaca. A ausência desse componente no leite humano é interpretada como
característica de espécie-especificidade, visto que provoca resposta imunológica em
atópicos.
A proteína do soro com maior concentração é a alfa-lactoalbumina, que
possui apenas função nutricional, mas compõe o sistema enzimático necessário à
síntese de lactose. Seguem-se a lactoferrina, a IgA secretora e a lisozima que têm
também função de defesa. A beta-lactoglobulina é a principal causa das alergias ao
leite de vaca. A ausência desse componente no leite humano é interpretada como
característica de espécie, visto que provoca resposta imunológica em atópicos. Em
relação aos aminoácidos sulfurados, a menor relação metionina/cistina-1/2-é muito
importante, especialmente para o prematuro, visto que não dispõe de cistationase.
Sem essa enzima o prematuro não consegue transformar metionina em cistina, que
é a forma como o aminoácido sulfurado é aproveitado. A taurina é considerada um
aminoácido essencial para os recém-nascidos, porque no início da vida o ser
humano não consegue sintetizá-la. Exerce papel neurotransmissor e
neuromodulador no desenvolvimento do sistema nervoso central, e o leite humano a
apresenta em alta concentração.
A composição do nitrogênio protéico no leite humano e no leite de vaca é
apresentada na tabela a seguir:
Tabela 3 – Composição nitrogênica do leite humano e de vaca.
Constituintes Leite Humano Leite de Vaca
Nitrogênio total 1,93 5,31
Nitrogênio protéico 1,43 (8,9) 5,03 (31,4)
Nitrogênio da caseína 0,40 (2,5) 4,37 (27,3)
Nitrogênio da proteína no
soro
1,03 (6,4) 0,93 (5,8)
Alfa-lactoalbumina 0,42 (2,6) 0,17 (1,1)
Lactoferrina 0,27 (1,7) Traços
Beta-lactoglobulina - 0,57 (3,6)
Lisozina 0,08 (0,5) Traços
Albumina do soro 0,08 (0,5) 0,07 (0,4)
IgA 0,16 (1,0) 0,005 (0,03)
IgG 0,005 (0,03) 0,096 (0,6)
IgM 0,003 (0,02) 0,005 (0,03)
Fonte: Marcondes et al (2002).
*As cifras referem-se a gramas de nitrogênio por litro, e as entre parênteses, a gramas de proteína
por litro.
20
No leite de vaca há quantidade exagerada de tirosina e fenilalanina, que
supera a capacidade enzimática do prematuro, resultando em aminoacidemia, com
letargia e dificuldade de ganho de peso. Existe a possibilidade de seqüelas quando
essa situação é prolongada.
O leite humano tem maior biodisponibilidade de carnitina. Essa proteína é
necessária para a metabolização dos ácidos graxos de cadeia longa.
3.2.2 Gorduras
O leite humano tem aproximadamente 3,5g% de lipídeos. Estes incluem os
ácidos graxos essenciais e o colesterol, carreiam vitaminas lipossolúveis, geram os
ácidos graxos de cadeia longa e fornecem cerca de 50% da energia do leite
humano. Sua concentração é mais elevada no final da mamada, acreditando-se que
essa variação tenha função reguladora do apetite. Verificam-se também flutuações
circadianas conforme a dieta materna.
Reconhece-se, atualmente, a grande importância dada aos ácidos graxos de
cadeia longa insaturados. As concentrações dos ácidos linoléicos e alfa-linolênico
são substancialmente mais elevadas no leite humano. De particular interesse são
seus derivados poliinsaturados de cadeia mais longa como o ácido araquidônico
(AA) e o ácido decosaexanóico (DHA). Nessa fase, são considerados ácidos graxos
essenciais pelo fato de não serem sintetizados na quantidade adequada. Atribui-se a
eles ação primordial no desenvolvimento neuropsicomotor e da retina de
prematuros. Grande parte do aumento de massa cinzenta é devida ao
desenvolvimento das arborizações complexas e à formação de sinapses que
fundamentam a função neuronal e o processo de aprendizado. O processo de
mielinização acelera-se após o nascimento, protegendo os axônios e aumentando a
capacidade de transmissão do estímulo elétrico. Todas as membranas envolvidas
nesse processo são formadas por fosfolipídios e ácidos graxos poliinsaturados,
especialmente o DNA. O recém-nascido prematuro que não recebe leite humano
corre risco de ter déficit desses elementos. Durante a vida fetal, ocorre passagem do
AA e do DNA via placentária, acumulação no córtex cerebral e níveis plasmáticos
elevados. Após o nascimento, quando o recém-nascido prematuro não recebe leite
humano, essas concentrações caem em seu desenvolvimento neuropsicomotor e o
da retina pode ser prejudicado. O efeito dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia
21
longa não se limita ao sistema nervoso. São precursores das prostaglandinas que
têm uma série de funções biológicas ligadas aos aparelhos digestivos e circulatórios
e contribuem para a defesa contra infecções.
O leite humano tem maior teor de colesterol que o leite de vaca, e acredita-se
que isso favoreça a indução de sistemas enzimáticos que regulam o metabolismo do
colesterol na vida adulta, com efeito benéfico em relação à prevenção de doenças
cardiovascular. A presença de lípase no próprio leite humano é um aspecto também
adequado, fazendo com que os triglicerídeos sejam mais facilmente digeridos.
3.2.3 Carboidratos
O carboidrato predominante do leite humano é a lactose, sendo sua
concentração cerca de 6,8g%. A lactose é um dissacarídeo, sintetizado na própria
glândula mamária, formado por glicose e galactose. Além da lactose, há outros
carboidratos no leite humano: monossacarídeos, oligossacarídeos e carboidratos
ligados a proteínas. Estes dois últimos grupos de substâncias favorecem a
proliferação bífida. Encontra-se também fucose, que não é encontrada no leite de
vaca, e pode ser importante no início da colonização intestinal pelo L. bifidus. A
lactose tem ações na prevenção do raquitismo por facilitar a absorção de cálcio e no
desenvolvimento do sistema nervoso central, pois é fonte de galactose, essencial
para a produção de galacolipídeos, que incluem os cerebrosídeos. A lactose é
encontrada apenas no leite de mamíferos e, dentre todas as espécies, o leite
humano a contém e concentração mais elevada. Isso com certeza valoriza seu
significado em relação ao desenvolvimento neuropsicomotor.
3.2.4 Minerais
A concentração de minerais no leite humano é 3, 6 vezes menor que no leite
de vaca. Sua concentração é mais bem adaptada ás necessidades nutricionais e á
capacidade metabólica do recém-nascido.A carga renal de solutos determinada pelo
leite humano é significativamente mais baixa .A alimentação artificial é hiperosmolar
22
e facilita os desequilíbrios hidroeletrolítico e acidobásico por ocasião de perdas
anormais de líquidos.Experimentos em animais recebendo dieta com alta
concentração de sódio mostram que se pode desenvolver hipertensão,revertida
quando a relação sódio/potássio diminui.Embora a concentração de cálcio seja bem
mais baixa que a no leite de vaca; a quantidade absorvida é maior com leite
humano.Neste a relação cálcio/fósforo é a ideal -2/1-,e não há formação de sabões
insolúveis no intestino na forma de palmitato, como no aleitamento artificial.Os níveis
de cálcio no leite materno não são influenciados por sua dieta, ocasionando menor
frequência de hipocalcemia neonatal.
Tabela 4 - Composição de minerais do leite humano e do leite de vaca:
Constituintes por 100ml Leite Humano Leite de Vaca
Ca (mg) 26 120
P (mg) 12 94
Fe (mg) 0,03 0,05
Cobre (µg) 25 7,5
Zn (mg) 0,25 0,35
Se (mg) 1,8 7,5
Fonte: Galisa (2008).
Tanto o leite humano como o de vaca apresentam baixas proporções de ferro,
porém, o contido no primeiro é mais bem absorvido. A biodisponibilidade de ferro no
leite humano é de 49%, e a do leite de vaca é de 4%. Esse fato se justifica pelo
menor pH no trato gastrointestinal do recém-nascido alimentado com leite humano e
pela presença de facilitadores como zinco, cobre e lacto ferrina em quantidades
adequadas. A vitamina C pode também ser facilitadora da absorção de ferro,
dependendo da dieta materna. Além disso, a criança amamentada exclusivamente
ao peito não apresenta as micro-hemorragias gastrintestinais, muitas vezes
descritas naquelas que recebem leite de vaca, nos primeiros seis meses de vida.
Esses fatores, em conjunto, diminuem o risco de anemia ferropriva e retardam a
diminuição do estoque de ferro. Recém-nascidos de termo, de mães bem nutridas,e
alimentados ao peito, não necessitam de nenhuma suplementação de ferro nesse
período. Adicionalmente tem sido demostrada que a suplementaçãocom cereais,
vegetais e frutas pode reduzir a absorção de ferro e saturar a lactoferrina, que perde
seu efeito bacterioestático.
O leite humano contém zinco em quantidade adequada para as necessidades
da criança. Sua alta disponibilidade faz com que tenha efeito terapêutico na
23
acrodermite enteropática, doença desencadeada pela deficiência de zinco e d maior
ocorrência nas crianças em aleitamento artificial.
A presença do flúor no leite humano é cercada de muito interesse, o
flúorconverte a hidroxiapatita do esmalte em fluorapatita, menos solúvel em meio
ácido. Sua ação depende do estoque fetal e do teor no leite humano, que é função
da concentração na água de abastecimento. Essa concentração é ideal entre 0,7 e
1ppm, o que determina a concentração do leite de 4 a 14mg/litro. A suplementação
de flúor não é útil para crianças no primeiro semestre de vida, recebendo leite
humano ou não. A recomendação de suplementação é restrita a crianças de 6
meses a 3 anos, quando sua concentração na água for menor que 0,3ppm.
3.2.5 Vitaminas
O conteúdo de vitaminas hidrossolúveis do leite materno depende da dieta da
mãe. Mães que apresentam um bom estado nutricional garantem a produção de leite
com teores adequados de vitaminas, tornando-o ideal à espécie humana.
A concentração baixa de vitamina D no leite humano pode ser contornada
com banho de sol pelo lactente em horários apropriados.
O leite materno apresenta ainda pouca quantidade de vitamina K. Esta é
produzida pelas bactérias Intestinais duas semanas após o nascimento com a
instalação da microbiota intestinal; portanto, como medida profilática, recomenda-se,
após o parto, a administração da vitamina K.
Tabela 5 - composição de vitaminas do leite humano e do leite de vaca.
Constituinte (por litro) Leite Humano Leite de Vaca
Vitamina A (µg ER) 50 29,5
Vitamina E (MG) 0,49 0,04
B1 (µg) 91
B2 (µg) 35 91
Niacina (mg) 0,18 0,17
B6 (µg) 13 55
Ácido Fólico (µg) 0,85 6,0
B12 (µg) 0,04 0,4
Ácido ascórbico (mg) 5 1,7
Fonte: Marcondes et al (2002).
24
3.3 PROTEÇÃO IMUNOLÓGICA
3.3.1 Características antiinfecciosas
Atribuía-se há algum tempo, a maior freqüência de infecções na criança de
pouca idade, em aleitamento artificial, apenas à contaminação do leite. De fato a
mamadeira pode ser vetor de patógenos,especialmente nas áreas em
desenvolvimento. Porém, demonstrou-se que o próprio leite humano possui ação de
proteção contra infecções. Para tanto, contém uma série de elementos, alguns já
perfeitamente identificados, como os fatores de defesa solúveis e os insolúveis.
Fatores solúveis – São classificados em específicos e não específicos. Os
específicos são representados pelas imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG e IgE). A mais
importante delas é a IgA, Sintetizada na própria glândula mamária e encontrada
predominantemente em sua forma dimérica, a IgA secretória (IgAs), mais notável
não só em concentração, mas também em atividade protetora. Apresenta peso
molecular elevado (cerca de 375.000), não sendo digerida pelas secreções gástrica
e intestinal e, portanto, quase não absorvida. Assim sendo, seu teor nas fezes é
semelhante ao do leite humano, o que levou à falsa idéia de que, não sendo
absorvida, não tivesse nenhuma ação, quando na realidade, seu efeito se dá por
meio da proteção de superfície. A concentração de IgAs é bem mais elevada no
colostro, porém é compensada por maior volume tanto no leite de transição como no
leite maduro. A criança em aleitamento materno exclusivo recebe uma quantidade
bastante elevada dessa imunoglobulina, cerca de 0,5g/Kg/dia, o que representa 50
vezes a dose preconizada para hipoglobulinemia. A IgAs reveste a mucosa
intestinal, impedindo a agressão por bactérias, toxinas ou antígenos estranhos, e a
proteção proporcionada é substancial. A IgAs é estável à pasteurização a 56°C por
30 minutos. Perde 30% de sua atividade a 62,5°C por 30 minutos, sendo inativa por
fervura.
Os fatores solúveis não-específicos mais importantes estão descritos a seguir:
25
Fator bífido – as crianças amamentadas ao peito possuem flora
predominante de Lactobacillus bífidos, que são bacilos anaeróbios que colonizam
seu intestino e dificultam a proliferação de agentes patogênicos. O fator bífido, seu
substrato, e um carboidrato nitrogenado dialisável, não carreador de aminoácidos.
Facilita, na presença de lactose, a formação dos ácidos láctico e acético e, em
menor escala, também dos ácidos fórmicos e succínico que, determinando pH mais
baixo, inibem a proliferação de enterobacteriácias e fungos.
O fator bífido resiste à fervura e, se congelado a vácuo, conserva-se estável
pelo menos por três meses.
Fator de resistência – A proteção proporcionada pelo leite humano contra a
infecção estafilocócica é bastante conhecida clinicamente. Experimentalmente,
verificou-se que somente animais que haviam recebido leite humano sobreviveram à
infecção causada por estafilococos. Trata-se de fator de natureza lipídica, com
estrutura bioquímica ainda não totalmente esclarecida, más com semelhanças ao
ácido linoléico e característica de termo estabilidade.
Lisozima – Trata-se de uma enzima de grande importância no controle da
flora gram-negativa com local de ação no trato gastrintestinal. A criança
amamentada ao peito apresenta essa enzima em alta concentração nas fezes,
comprovando sua baixa absorção. No leite humano, a concentração de lisozima é
pelo menos 30 vezes superior à do leite de vaca. Documentou-se grande variação
de sua concentração, com níveis mais baixo no início da lactação, ascendendo
progressivamente até alcançar os níveis mais altos no sexto mês, mantendo taxas
elevadas por pelo menos um ano. Produzida por neutrófilos e macrófagos, tem ação
bacteriostática contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, por meio de lise de
parede celular. A lisozima é pouco afetada pela pasteurização, havendo perda de
apenas 23% a 62,5°C por 30 minutos. A fervura provoca sua inativação.
Lactoferrina – a ação dessa proteína provoca, por quelação, a diminuição da
disponibilidade de ferro para os patógenos. Tem efeito bacteriostático, inibindo o
crescimento de agentes infecciosos como Staphylococcus, E. coli e Candida
albicans. Sua concentração é mais elevada no colostro, mas apresenta níveis úteis
até o segundo ano de vida. Sua afinidade com o ferro é 300 vezes maior que a da
transferrina, é muito pouco absorvida no recém-nascido de termo, e a terapia com
ferro oral pode influir na função de quelação. A pasteurização a 62,5°C, por 30
minutos, provoca destruição de 2/3 de seu conteúdo.
26
Interferon – Não foi detectado interferon livre no leite humano. Entretanto, os
linfócitos do leite produzem esse fator antiviral. Demonstrou-se experimentalmente
que as células do colostro secretam substância com intensa ação antiviral.
Complemento – o leite materno possui todas as frações do complemento (C1
a C9). Dentre elas, as frações C3 e C4, reconhecidas por sua capacidade de
opsonização, ainda que em concentrações baixas, quando comparadas às do soro.
As Imunoglobulinas podem ativar o complemento e já foi descrito um proativador C3.
A fração C3 tem função de opsonização e quimiotaxia, importantes na lise de
bactérias ligadas ao seu anticorpo específico. O complemento contido no leite
humano é destruído por 30 minutos de pasteurização a 56°C.
Proteína ligada à vitamina B12 – trata-se de proteína de alto peso molecular,
presente no leite humano em concentração elevada. Atua na luz intestinal, sendo
pouco absorvida, conservando concentração elevada nas fezes. Impede o
crescimento de bactérias, por tornar a vitamina B12 indisponível, como nutrientes
para os microorganismos. É destruída por fervura.
Gangliosídeos – são glicolipídeos constituídos por ácidos siálicos, hexoses e
hexoaminas. Tem ação contra a diarréia e impedem a ação das toxinas de E. coli,
Campylobacter jejuni e V. cholerae. São resistentes à fervura.
Interleucinas – esse fator de defesa é constituído por um grupo de antígenos
que estimulam a diferenciação de leucócitos. Já foram identificados agentes
quimiocinéticos que aumentam a motilidade de macrófagos e a ativação de linfócitos
T do leite humano.
Outros fatores solúveis não-específicos – além dos fatores citados, há
uma série de outros elementos de defesa identificados em pesquisas mais recentes,
tais como glicoproteínas, oligossacarídeos, ácidos graxos livres e mucinas.
Fatores celulares – o leite humano contém neutrófilos, macrófagos e
linfócitos, importantes na defesa contra as infecções. No colostro, a quantidade de
linfócitos pode chegar a 5.000/mm3, sendo 40 a 60% polimorfonucleares. Essas
células ocorrem apenas nas primeiras 6 semanas e têm atividade fagocitáriana luz
intestinal e de proteção contra infecções mamárias. Os macrófagos representam
cerca de 40% dos leucócitos do colostro, chegam até a90% no leite maduro e são
mais ativos que os macrófagosdo sangue. Conservam a movimentação amebóide,
realizam fagocitose e produzem complemento, lisozima e lactoferrina. Ativam os
linfócitos T por meio do processamento antigênico e transportam imunoglobulinas.
27
Além disso, têm outras ações como produção de lactoperoxidase e do fator de
crescimento celular. Os linfócitos representam cerca de 10% dos leucócitos do leite.
Cerca de 80% são linfócitos T que estimulam outros componentes do sistema
imunológico, e os restantes são linfócitos B com capacidade de produção de
anticorpos.
A resposta imunológica transmitida pelo leite humano é dirigida
especificamente contra as agressões do ambiente materno. Quando um patógeno
do organismo materno é capturado por um macrófago, a informação antigênica é
passada para linfócitos T e a seguir para linfócitos B. Estes se transformam em
células plasmáticas e liberam anticorpos específicos diretamente na mama. Como
substrato dessa ação, demonstrou-se a existência de uma dinâmica enteromamária
e broncomamária, quando a partir de antígenos ambientais é gerada uma resposta
imunológica. Dessa forma, o leite materno provê anticorpos específicos à criança de
pouca idade e isso é especialmente importante, porque ocorre mesmo antes do seu
do seu sistema imune produzir seus próprios anticorpos. Nesse sentido, já foram
documentados, entre outros, antígenos específicos contra E.coli, Clostricidium tetani,
Corynebacterium diphteriase, Klebsiella, Shigella, Salmonella, Streptococcus,
Staphylococcus, Mycoplasmapneumoniae e H.influenzae. Foi também detectada
atividade contra diversos vírus, como enterovírus, poliovírus 1,2 e 3,
influenzacoxsackie, echovírus, rotavírus, citomegalovírus, além do herpesvírus e da
rubéola.
3.3.2 Proteção contra fenômenos alérgicos
A criança alimentada com leite de vaca está sujeita ao desenvolvimento de
quadros alérgicos. Nas primeiras semanas de vida, pode ocorrer a absorção de
moléculas inteiras pela mucosa intestinal. Verificou-se que, com o uso de fórmulas
lácteas, a incidência de alergia ao leite de vaca é de cerca de 1%. A criança não
amamentada ao peito apresenta maior permeabilidade da barreira intestinal, até que
se inicie a produção de IgA no trato intestinal. Isso habitualmente ocorre com 6
semanas de vida, más as crianças alérgicas apenas aos 3 meses. Por esse motivo,
28
a amamentação é componente importante em programas para a redução da
morbidade em crianças de famílias alérgicas.
Outro aspecto importante nessa proteção são os fatores tróficos do trato
digestivo. Sabe-se que uma série de nutrientes e hormônios influencia o
desenvolvimento pré e pós-natal do intestino. Incluem-se, entre outros,
oligoelementos, vitaminas, fator de crescimento epidérmico, insulina, IGF-I, IGF-II,
GH, glicocorticóides e nucleotídeos. Essas substâncias desempenham papel
decisivo nas alterações adaptativas necessárias para a alimentação do recém-
nascido. Podem ser sintetizadas endogenamente, mas o leite humano as possui,
garantindo e apressando essa diferenciação.
3.4 TÉCNICAS DE AMAMENTAÇÃO
Apesar de a sucção do bebê ser um ato reflexo, ele precisa aprender a retirar
o leite do peito de forma eficiente. Quando o bebê pega a mama adequadamente, o
que requer uma abertura ampla da boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas
também parte da aréola forma-se um lacre perfeito entre a boca e a mama,
garantindo a formação do vácuo, indispensável para que o mamilo e a aréola se
mantenham dentro da boca do bebê.
Figura 1 www.clubedemaes.blogspot.com
29
A língua eleva suas bordas laterais e a ponta, formando uma concha
(canolamento) que leva o leite até a faringe posterior e esôfago, ativando o reflexo
de deglutição. A retirada do leite (ordenha) é feita pela língua, graças a um
movimento peristáltico rítmico da ponta da língua para trás, que comprime
suavemente o mamilo. Enquanto mama no peito, o bebê respira pelo nariz,
estabelecendo o padrão normal de respiração nasal.
O ciclo de movimentos mandibulares (para baixo, para a frente, para cima e
para trás) promove o crescimento harmônico da face do bebê.
A técnica de amamentação, ou seja, a maneira como a dupla mãe/bebê se
posiciona para amamentar/mamar e a pega/sucção do bebê são muito importantes
para que o bebê consiga retirar, de maneira eficiente, o leite da mama e também
para não machucar os mamilos.
Uma posição inadequada da mãe e/ou do bebê na amamentação dificulta o
posicionamento correto da boca do bebê em relação ao mamilo e à aréola,
resultando no que se denomina de “má pega”. A má pega dificulta o esvaziamento
da mama, levando a uma diminuição da produção do leite. Muitas vezes, o bebê
com pega inadequada não ganha o peso esperado apesar de permanecer longo
tempo no peito.
Isso ocorre porque, nessa situação, ele é capaz de obter o leite anterior, mas
tem dificuldade de retirar o leite posterior, mais calórico.
Figura 2 www.alimentandosaudeam.blogspot.com
30
Postura para amamentar sentada
• As suas costas estão bem suportadas direitas e;
• Os seus pés estão planos (que pode ser preciso um de apoio ou de um livro
grosso);
• Dispõe de almofadas extra, para apoiar suas costas e braços ou um para
ajudar a levantar o seu bebê, se necessário.
Postura para amamentar deitada
• Procure-se manter bem plana, com uma almofada debaixo da sua cabeça e o
seu ombro repousado na cama.
• Deite-se bem sobre o lado.
• Uma almofada suportando-lhe as costas e outra entre as pernas também
ajudar.
3.5 PROBLEMAS MAIS COMUNS
3.5.1 Mamilos planos ou invertidos
Mamilos planos ou invertidos podem dificultar o início da amamentação, mas
não necessariamente a impedem, pois o bebê faz o “bico” com a aréola. Para fazer
o diagnóstico de mamilos invertidos, pressiona-se a aréola entre o polegar e o dedo
indicador: se o mamilo for invertido, ele se retrai; caso contrário, não é mamilo
invertido. Para uma mãe com mamilos planos ou invertidos amamentar com
sucesso, é fundamental que ela receba ajuda logo após o nascimento do bebê.
31
Figura 3 http://enfernat.blogspot.com/2010_01_01_archive.html
3.5.2 Ingurgitamento mamário
Consiste em parte no aumento da quantidade de sangue e fluídos nos tecidos
que suportam a mama (congestão vascular) e de certa quantidade de leite que fica
retido na glândula mamária. As duas mamas ficam inchadas (aumentam de volume,
dolorosas, quentes, vermelhas, brilhantes e tensas por causa do edema (líquido) nos
tecidos.
A mãe queixa-se de dor principalmente na axila e pode ter febre (a chamada “febre
de leite”). O leite pode parar de descer.
Geralmente ocorre alguns dias (2 a 5) após o nascimento ou em qualquer
época durante a amamentação, todavia, é mais difícil de acontecer em hospitais. A
recomendação básica é a intensificação das mamadas, mas quando há dor difusa
ou pontos dolorosos deve ser feita ordenha manual.
3.5.3 Fissuras do mamilo
Decorrentes da má posição da criança em relação à mama; do número e
duração inadequada das mamadas e principalmente da técnica incorreta de sucção.
Orientar as mães durante o pré-natal sobre o preparo da mama e técnicas de
amamentação, dando ênfase as estratégias que devem ser utilizadas para o
fortalecimento dos tecidos areolar e mamilar, tais como: Banho de sol nos seios,
fricção de toalha e utilização de sutiã de algodão com orifício na região mamilar.
32
3.5.4 Mastite
O acúmulo de leite sem a ordenha de alívio pode facilitar o início da mastite,
que é facilmente diagnosticado; mamas quentes, febre, dor a palpação e pode sai
pus. É mais freqüente na 2ª e 3ª semanas depois do parto. A mãe deverá descansar
por mais tempo. Deverá tirar uma licença de seu emprego. Se continuar a trabalhar
a infecção poderá retornar.
3.6 DROGAS NA LACTAÇÃO
O aleitamento materno está associado a benefícios de ordem nutricional,
imunológica, afetiva, econômica e social. Por isso, torna-se fundamental a
identificação dos fatores que levam ao desmame precoce, a fim de proporcionar o
maior tempo possível de aleitamento às crianças. Diversos estudos comprovam que,
dentre os fatores responsáveis pelo abandono precoce da amamentação,
encontram-se os problemas relacionados aos riscos de exposição dos lactentes a
medicações maternas. Informações e referências na literatura sobre drogas e leite
materno estão disponíveis, porém muitos profissionais de saúde, em especial
médicos, talvez por desinformação ou até desinteresse, preferem interromper a
amamentação em vez de se esforçarem para compatibilizá-la com a terapêutica
materna. Além disso, observa-se que é freqüente o conflito entre informações das
bulas dos medicamentos e evidências científicas sobre o uso dos mesmos durante o
aleitamento.
Embora o conhecimento a respeito de drogas na lactação tenha sido muito
ampliado, ainda não se conhecem os efeitos colaterais para as crianças
amamentadas de muitas drogas utilizadas pela nutriz. Além disso, os efeitos de
muitas drogas novas ainda não foram devidamente estudados ou apresentam
divergências na literatura quando utilizados na lactação. Portanto, surge a
necessidade de atualizações constantes sobre o uso de medicamentos durante a
amamentação, visando racionalizar esse uso e proteger o aleitamento materno.
Para que o profissional de saúde possa se orientar sobre o uso de
medicamentos na lactação, torna-se útil o conhecimento dos fatores que determinam
sua segurança nesse período. Tais fatores podem estar relacionados com o leite
materno, com a mulher, com a droga ou com o lactente.
33
O leite materno está sujeito a mudanças significativas nas concentrações de
lipídeos e proteínas, dependentes da fase da lactação (colostro versus leite maduro)
ou até mesmo da fase de uma mamada (leite anterior versus leite posterior). Tais
alterações influenciam na extensão da transferência de drogas do plasma para o
leite, causando variações nas concentrações das mesmas no leite materno.
Durante os primeiros dias de lactação (colostro), as células alveolares são
pequenas e o espaço intercelular é largo, o que faz com que substâncias maternas,
incluindo drogas, linfócitos, imunoglobulinas e proteínas transfiram se mais
facilmente para o leite materno. Com a redução dos níveis de progesterona, há
crescimento das células alveolares e estreitamento dos espaços intercelulares, com
conseqüente redução da transferência de drogas e demais substâncias. Contudo, o
volume de leite (colostro) ingerido nos primeiros dias de vida do bebê (50 a 60 ml/d)
é considerado baixo, sendo a dose absoluta de medicamento passada para o
recém-nascido durante esse período muito baixa.
Fatores que reduzem a capacidade da mãe de metabolizar ou excretar a
droga podem aumentar a exposição do lactente. Assim, cuidado especial deve ser
tomado ao se prescrever drogas para nutrizes com doenças hepáticas ou renais,
pelos níveis mais elevados e pelo maior tempo da droga na circulação materna.
A via pela qual a droga é administrada à mãe tem importância pelos níveis
alcançados no plasma materno e, posteriormente, no leite humano. Assim, muitas
drogas administradas topicamente ou inaladas não atingem níveis plasmáticos
significativos, possuindo níveis lácteos não mensuráveis. Muitos antibióticos,
corticosteróides e retinóides aplicados em áreas pequenas não são bem absorvidos
por via transcutânea e são praticamente indetectáveis no plasma.
Conhecer certas características das drogas e sua difusão pelo corpo pode ser
útil na identificação do risco de seu uso durante a amamentação.
Outro aspecto importante é o pico dos níveis séricos da droga. Usualmente, o
pico na mãe coincide com o pico no leite materno, sendo menor neste. Assim, saber
quando ocorre o pico sérico de um medicamento é útil para adequar o horário de
administração da droga e os horários da amamentação da criança. Para evitar que a
mamada coincida com o período de maior concentração sérica do medicamento,
recomenda-se que o mesmo seja administrado à mãe imediatamente após ter
amamentado a criança. Além disso, drogas com meia-vida longa ou que possuem
34
metabólitos ativos promovem um período de exposição mais prolongado do lactente
à droga.
A biodisponibilidade oral é de grande importância na avaliação do risco ao
lactente. Drogas com baixa biodisponibilidade, pouco absorvidas pelo lactente, são
ideais para uso durante a lactação. Por exemplo, sumatriptano (15% biodisponível) é
preferível ao rizatriptano (mais que 45% biodisponível).
Independentemente das características farmacológicas, drogas sabidamente
tóxicas ao lactente, como antineoplásicos, radiofármacos ou drogas de abuso, são
proscritas durante a lactação.
Dentro do possível, o médico deve ter essas informações em mente ao
prescrever qualquer tipo de medicamento para uma nutriz.
A idade da criança deve ser considerada ao se avaliar os possíveis efeitos de
uma droga utilizada pela mãe que amamenta. Em neonatos, os efeitos são maiores
do que em lactentes com mais idade, que apresentam funções hepáticas e renais
mais eficazes. Esses efeitos podem ser ainda maiores em crianças pré-termo, cuja
imaturidade pode prolongar a meia-vida das drogas, causando acúmulo após doses
repetidas.
Lactentes que mamam mais freqüentemente e um volume maior de leite
estão mais expostos às drogas maternas que aqueles que mamam menos
freqüentemente e um volume menor.
Após compreender os mecanismos que determinam a exposição do lactente
às drogas, torna-se necessário conhecer as medidas que quantificam essa
exposição. As medidas mais utilizadas são razão leite/plasma, dose absoluta e dose
relativa no lactente. Essas medidas tornam-se mais importantes quando as mulheres
fazem uso de fármacos por longos períodos.
A estimativa da porcentagem da dose materna recebida pelo lactente através
do leite tem sido utilizada para avaliar a segurança das drogas durante o
aleitamento.
Esse valor geralmente é expresso em porcentagem da dose materna e
propõe uma padronização da proporção da dose materna recebida pelo lactente.
Recomenda-se, arbitrariamente, que a dose relativa do lactente deva ser menor que
10% para que a droga seja considerada segura. Porém, como o método se baseia
no princípio de que mãe e filho possuem mesma absorção, metabolização e
35
excreção, ele não é tão eficaz em determinar a segurança da droga durante o
aleitamento.
Em virtude do uso cada vez mais freqüente de implante de próteses de
silicone para aumento ou correção de mama, algumas informações podem ser úteis.
Segundo a literatura, o silicone utilizado para aumento do volume das mamas foi
implantado em cerca de 1 milhão de mulheres norte-americanas até o ano de 2001.
No entanto, apenas um estudo relatou disfunção esofagiana em 11 crianças
amamentadas cujas mães receberam implantes. Outros estudos não confirmam
esses achados. Assim o implante de silicone foi classificado como compatível com a
amamentação.
Alguns fármacos que podem suprimir a lactação, o uso de qualquer uma
dessas drogas pode representar risco potencial de déficit ponderal, principalmente
durante o puerpério imediato, época mais sensível para a supressão da lactação.
Portanto, o profissional de saúde deve estar atento caso o uso de qualquer uma
dessas drogas seja realmente necessário, devendo retardar ao máximo sua
introdução (semanas ou meses).
Tabela 2 www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-0582200700
Alguns aspectos práticos para a tomada de decisões na prescrição de drogas
às mães durante a lactação são os seguintes:
36
• Avaliar a necessidade de terapia medicamentosa. Em caso afirmativo,
consultas com o pediatra e com o obstetra ou clínico são muito úteis. A
droga prescrita deve ter um benefício reconhecido na condição para a
qual está sendo indicada.
• Preferir drogas já estudadas e sabidamente seguras para a criança,
que sejam pouco excretadas no leite materno. Por exemplo, prescrever
paracetamol em vez de ácido acetilsalicílico, penicilinas em vez de
quinolonas.
• Preferir drogas que já são liberadas para uso em recém-nascidos e
lactentes.
• Preferir terapia tópica ou local à oral e parenteral, quando possível e
indicado.
• Preferir medicamentos com um só fármaco, evitando combinações de
fármacos. Exemplo: usar somente paracetamol em vez de
apresentações contendo paracetamol, ácido acetilsalicílico e cafeína.
• Escolher medicamentos que passem minimamente para o leite. Por
exemplo, os antidepressivos sertralina e paroxetina possuem níveis
lácteos bem mais baixos que a fluoxetina.
• Escolher medicamentos pouco permeáveis à barreira
hematoencefálica, pois estes, em geral, atingem níveis pouco elevados
no leite.
• Escolher medicamentos com elevado peso molecular, pois essa
característica reduz muito a transferência para o leite. Exemplo:
heparina.
• Programar o horário de administração da droga à mãe, evitando que o
período de concentração máxima do medicamento no sangue e no leite
materno coincida com o horário da amamentação. Em geral, a
exposição do lactente à droga pode ser diminuída se a mesma for
utilizada pela mãe imediatamente antes ou após a amamentação.
• Considerar a possibilidade de dosar a droga na corrente sangüínea do
lactente quando houver risco para a criança, como nos tratamentos
maternos prolongados, a exemplo do uso de antiepiléticos.
37
• Orientar a mãe para observar a criança com relação aos possíveis
efeitos colaterais, tais como alteração do padrão alimentar, hábitos de
sono, agitação, tônus muscular e distúrbios gastrointestinais.
• Evitar drogas de ação prolongada pela maior dificuldade de serem
excretadas pelo lactente. Exemplo: preferir midazolam a diazepam.
• Orientar a mãe para retirar o seu leite com antecedência e estocá-lo
em congelador (por, no máximo, 15 dias) para alimentar o bebê no
caso de interrupção temporária da amamentação e sugerir ordenhas
periódicas para manter a lactação.
Contudo fica claro que indicação criteriosa do tratamento materno e a seleção
cuidadosa dos medicamentos geralmente permitem que a amamentação continue
sem interrupção e com segurança. Torna-se fundamental, portanto, que os pediatras
e demais profissionais de saúde procurem manter-se atualizados sobre este tema.
Atenção especial deve ser dada a situações em que as nutrizes utilizam drogas que
possam reduzir a produção de leite. Tais medicamentos devem ser evitados durante
a lactação, porém, caso seu uso seja imperativo, deve-se acompanhar o
crescimento do lactente. A amamentação ao seio somente deverá ser interrompida
ou desencorajada se existir evidência substancial de que a droga usada pela mãe
poderá ser nociva para a criança, ou quando não houver informações a respeito e a
droga não puder ser substituída por outra que seja inócua para o bebê. Em geral,
mães em amamentação devem evitar o uso de medicamentos. No entanto, se isto
for imperativo, deve-se fazer opção por uma droga já estudada, que seja pouco
excretada no leite materno, ou que não tenha risco aparente para a saúde da
criança.
3.6.1 Álcool
A ingestão de etanol (1,5 a 1,9 g/kg de peso corporal) pode reduzir
significativamente o reflexo de ejeção do leite e reduzir (na dose de 0,3 g de etanol
por kg) em até 20% a ingestão de leite pelo lactente, deve-se ressaltar que apenas
doses baixas (não mais que 0,5 g de álcool por quilo de peso da mãe por dia) devem
38
ser utilizadas, devido à baixa atividade das enzimas álcool desidrogenase no
lactente e ao relato de efeito supressor da produção de leite.
3.7 ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL E A INTRODUÇÃO DE NOVOS ALIMENTOS
Diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se utilizar uma
fórmula infantil que satisfaça as necessidades do lactente. Antes do sexto mês
deverá ser utilizada uma fórmula de partida e, a partir do sexto mês, recomenda-se
uma fórmula infantil de seguimento. Para as crianças em uso de fórmulas infantis
modificadas, a introdução de alimentos não lácteos poderá seguir o mesmo
preconizado para aquelas em aleitamento materno exclusivo (a partir dos seis
meses).
3.7.1 Características gerais das fórmulas infantis
• Gordura: há redução da quantidade de gordura animal saturada e acréscimo
de óleos vegetais (gorduras poliinsaturadas de melhor qualidade), como
também o acréscimo de ácidos graxos essenciais (linoléico e alfa-linolênico).
• Carboidratos: as fórmulas contêm lactose exclusiva ou associação de
lactose com polímeros de glicose (malto-dextrinas), não necessitando,
portanto, de adição de açúcar ou farinha.
• Proteínas: há quantidade adequada de proteína com desnaturação protéica
(quebra da caseína, em cadeias menores, formando proteínas solúveis e
favorecendo a digestão e absorção), além de melhor relação proteína do
soro/caseína.
• Minerais: há modificação nos teores dos minerais tentando aproximar os
seus teores aos do leite materno. A relação cálcio/fósforo é adequada,
favorecendo a mineralização óssea.
39
• Oligoelementos (vitaminas e microminerais): atendem às necessidades da
criança sadia.
3.7.2 Introdução de novos alimentos
O consumo precoce de alimentos complementares interfere na manutenção
do aleitamento materno. Muitas vezes, estes alimentos não suprem as necessidades
nutricionais dessa faixa etária, na qual a velocidade de crescimento é elevada,
tornando os lactentes mais vulneráveis tanto à desnutrição quanto a deficiências de
certos micronutrientes
O Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria adota a
recomendação da OMS, que preconiza o uso de leite materno exclusivo até os seis
meses de idade. A partir deste período, está indicada a introdução de alimentos
complementares, e deve-se promover a manutenção da amamentação até os dois
anos ou mais.
O Ministério da Saúde/OPAS e a Sociedade Brasileira de Pediatria
estabeleceram, para crianças menores de dois anos, dez passos para a alimentação
saudável.
• Passo 1. Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água,
chás ou quaisquer outros alimentos.
• Passo 2. A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros
alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.
• Passo 3. Após os seis meses, dar alimentos complementares (cereais,
tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes), três vezes ao dia, se a
criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada.
• Passo 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de
horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.
• Passo 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e
oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e,
gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.
• Passo 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação
variada é, também, uma alimentação colorida.
40
• Passo 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas
refeições.
• Passo 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas,
salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com
moderação.
• Passo 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o
seu armazenamento e conservação adequados.
• Passo 10. Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar,
oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando
a sua aceitação.
4. METODOLOGIA
O presente estudo utilizou como método a revisão bibliográfica em livros,
artigos e manuais relacionados ao assunto.
41
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O profissional Nutricionista tem como meta a prevenção e a promoção da
saúde da população por meio de uma alimentação balanceada, respeitando sempre
as Leis da Alimentação, para assim garantir todos os nutrientes necessários. Por
este motivo a Nutriz deve receber toda orientação necessária para que o lactente
não seja privado de receber um alimento a ele adequado, como é, de maneira
exclusiva, o leite materno.
42
6. CONCLUSÃO
Diante dos estudos apresentados fica evidente que o leite humano é
insubstituível, pois além dos fatores nutricionais, o aleitamento materno estreita as
relações entre mãe e filho trazendo ao bebê conforto e segurança. Ressaltando
ainda o fator imunológico que, para o recém nascido é de estrema importância.
Não havendo condições de amamentação, deve ser recomendado o uso de
fórmulas infantis, por que são adequadas as necessidades do lactente, o que não
ocorre com o leite de vaca. Lembrando que essa orientação só deve ser feita em
casos em que o aleitamento materno é contra-indicado.
43
REFERÊNCIAS
GALISA, Mônica Santiago; ESPERANÇA, Leila Maria Biscola; Sá, Neide Gaudenci.
Nutrição: Conceitos e Aplicações. São Paulo: M. Books, 2008.
MARCONDES, Eduardo; VAZ, Flavio Adolfo Costa; RAMOS, José Lauro Araujo;
OKAY, Yassuhiko. Pediatria Básica: Pediatria Geral e Neonatal. 9ª. Ed. São Paulo:
Sarvier, reimpressão, 2002.
SILVA, Sandra Maria Chemin Seabra da. Tratado de Alimentação, Nutrição e
Dietoterapia. Ed. Editora Roca.
44
ZANCHETA, Giselle Duailibe. Aleitamento materno e Fórmulas Infantis. Escola
Superior de Ciências da Saúde – ESCS. Internato – 6º ano – Unidade de
Gastroenterologia Pediátrica – HBDF. Orientadora: Dra. Eliza de Carvalho.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. Manual de
orientação: alimentação do lactente, alimentação do pré-escolar, alimentação
do escolar, alimentação do adolescente, alimentação na escola / Sociedade
Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. - São Paulo: Sociedade
Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2006. 64 p.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e
alimentação complementar. Brasília, 2009. p.112 – (Série A. Normas e Manuais
Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23).
Manual: Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. Ministério da
Saúde. Ano 2010.
45

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Do trabalho

  • 1. 1. INTRODUÇÃO O primeiro ano de vida é um período marcado por um crescimento e desenvolvimento acelerados, por este motivo o lactente apresenta uma elevada necessidade nutricional em plena fase de crescimento e maturação. Suas necessidades são elevadas tanto quantitativas como qualitativamente, pois estão em plena fase de multiplicação e diferenciação celular. O aleitamento materno é um alimento natural e ideal para a criança nos seus primeiros anos de vida. A imunoglobina A está em maior concentração no leite humano, cada mãe produz o leite especial para o filho que gerou. As mães dos recém-nascidos, principalmente prematuros, produzem o leite com todos os elementos necessários para o bebê; nenhum outro alimento pode substituí-lo de igual forma, é mais digestivo, prático, nutritivo, menos alergênico e fortalece a musculatura da face promovendo um bom desenvolvimento. Mediante pesquisas realizadas provou-se que o aleitamento materno é imprescindível na alimentação da criança, não devendo ser substituído, pois além de ser um alimento singular, suas vantagens vão além da nutrição fortalecendo e estreitando o relacionamento mãe e filho. O ato de amamentar transmite à criança carinho, tranqüilidade e segurança. 1.2 Tipos de aleitamento materno É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecidas no mundo inteiro. Assim, o aleitamento materno costuma ser classificado em: Aleitamento materno exclusivo – quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos. 9
  • 2. Aleitamento materno predominante – quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas, etc. Aleitamento materno – quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. Aleitamento materno complementado – quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semi-sólido com a finalidade de complementá- lo, e não de substituí-lo. Nessa categoria a criança pode receber, além do leite materno, outro tipo de leite, mas este não é considerado alimento complementar. Aleitamento materno misto ou parcial – quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. 10
  • 3. 2. OBJETIVO 2.1. Geral Apresentar as vantagens do aleitamento materno. 2.2. Específico Demonstrar que as vantagens do aleitamento materno vão além do aspecto nutricional e apresentar soluções para os problemas relacionados ao mesmo. 11
  • 4. 3. ALEITAMENTO MATERNO A excelência do aleitamento materno pode ser verificada sob diversos prismas. A literatura médica tem oferecido continuamente novas evidências nesse sentido, não restando dúvidas sobre sua superioridade. No entanto, há muito o aleitamento materno deixou de ser visto como um ato natural, fisiológico. Hoje em dia, em nossa sociedade, as mulheres que amamentam não o fazem por necessidade ou tradição, e sim porque optaram pela amamentação. As crianças, no entanto não podem optar, muito embora elas tenham o direito de sobreviver, de crescerem sadias, física e mentalmente, e de terem uma boa qualidade de vida. Elas tem direito a serem amamentadas. 3.1. Benefícios do aleitamento materno A proteção do aleitamento materno em relação à sobrevivência da criança é relatada nos textos mais antigos, como o Talmud, a Bíblia e o Corão. As razões dessa excelência, porém, têm sido desvendadas apenas mais recentemente. Esse esclarecimento se deveu especialmente ao desenvolvimento da bioquímica, da imunologia e aos estudos epidemiológicos. 3.1.1 Para a criança O aleitamento materno exclusivo é o modo ideal de nutrir a criança até os 4 a 6 meses de vida, pois atende às necessidades nutricionais, metabólicas, confere proteção imunológica e proporciona ainda as melhores condições para a interação entre mãe e filho. Vem ocorrendo, porém, indesejável declínio na prática do aleitamento materno. Essa tendência, iniciada nos países desenvolvidos no pós- guerra, alastrou-se também para os países em desenvolvimento, trazendo repercussões danosas para a saúde das crianças. Nos países desenvolvidos, a prática do aleitamento artificial levou ao aumento da obesidade e das alergias e, para aqueles em desenvolvimento, contribuiu para a desnutrição, as infecções, 12
  • 5. especialmente diarréias e infecções respiratórias, e a mortalidade infantil. Nas crianças que não recebem o aleitamento natural, a relação entre a diarréia infecciosa, a desnutrição e as infecções subseqüentes é esperada. Na falta de saneamento básico e de higiene adequada, a contaminação alimentar por bactérias enteropatogênicas é a regra. Em relação às doenças respiratórias, há também evidências de que as crianças amamentadas ao peito, no primeiro semestre de vida, recebem efeito protetor com relação às otites. Demonstrou-se que as crianças amamentadas exclusivamente ao peito, por pelo menos quatro meses, tiveram redução de 50% no número de episódios durante o primeiro ano de vida. O aleitamento materno protege a criança também contra outras infecções. No recém-nascido, há evidências concretas em relação à sepse e à enterocolite necrosante. Comprovou-se também proteção contra a infecção urinária. Verificou-se que crianças com idade inferior a 6 meses apresentam menor incidência dessa doença quando amamentadas ao peito. Especula-se que essa proteção pode ser atribuída a um oligossacarídeo encontrado na urina que reduz a adesividade bacteriana às células uroepiteliais e/ou maior concentração de fatores imunológicos na urina de crianças que recebem leite humano. A relação das doenças não-infecciosas contra as quais o leite humano exerce proteção vem crescendo progressivamente. Essa lista, iniciada pela desnutrição marasmática e o kwashiorkor, continua com a doença alérgica, a anemia ferropriva, a hipocalcemia neonatal, a acrodermatite enteropática e a morte súbita. O mecanismo pelo qual a proteção em relação a esta última ocorre não é totalmente conhecido, mas conjectura-se que o sono prolongado determinado por mamadeira facilite apnéias. Os cirurgiões-dentistas têm chamado a atenção sobre a relação entre doença dentária – má oclusão e cáries – e o desmame precoce. Quando a criança suga ao peito, a musculatura da boca tem papel ativo, e a língua, função de ordenha. Com a mamadeira, essa musculatura é pouco solicitada, pois apenas com uma leve sucção o leite já flui para a boca. A língua passa a ter apenas o papel de obstruir o orifício do bico da borracha quando a criança quer interromper o fluxo de leite. Essa situação não fisiológica atrapalha o desenvolvimento normal da boca, provocando a má oclusão dentária. Outro problema sério são as cáries. Além do açúcar adicionado 13
  • 6. ao leite, o resíduo deixado pela mamadeira noturna provoca cáries rampantes na arcada superior, não protegida pela língua. A proteção contra os fenômenos alérgicos conferida pelo leite humano é muito importante. Pode haver alergia alimentar em crianças alimentadas exclusivamente ao peito, relacionado ao leite de vaca ingerido pela mãe. Esta última situação é rara e, se diagnosticada, de solução simples. Por outro lado, as crianças em aleitamento artificial recebem proteínas estranhas em grande quantidade e apresentam processos alérgicos muito mais frequentemente que crianças amamentadas. Esse fato é mais comum nas primeiras 6 semanas de vida, quando ocorre a absorção de moléculas protéicas inteiras pela mucosa intestinal. Assim, a dermatite atópica, as pneumopatias alérgicas e a alergia intestinal são associadas à ingestão do leite de vaca. Essa situação se agrava em crianças com potencial alérgico, que iniciam a produção de lgA mais tardiamente, e a permeabilidade da mucosa ás macromoléculas pode ser mais prolongada. Por esse motivo, é recomendado que filhos de pais alérgicos que sejam amamentados exclusivamente ao peito por pelo menos três meses. O leite humano promove também a proteção a longo prazo contra a obesidade, aterosclerose, hipertensão arterial e infarto do miocárdio. A concetração mais elevada de colesterol do leite humano favorece a indução de sistemas enzimáticos que regulam sua biossíntese e catabolismo. A proteção imunológica transmitida pelo leite humano pode refletir-se também em longo prazo. Falam, nesse sentido, o isolamento de um peptídeo de albumina bovina como possível desencadeante do diabetes melito e a observação de que crianças amamentadas por mais de 4 meses apresentam taxa menor dessa doença. Esse efeito pode ser especialmente benéfico em famílias com alto risco para essa doença. Registrou-se também que as crianças amamentadas por mais de quatro meses apresentaram proteção contra o desenvolvimento de leucemias e linfomas e início mais tardio da doença de Chron. Quanto à mortalidade, o efeito protetor do aleitamento materno é bem conhecido. Victoria e cols. Estudaram a mortalidade de crianças com idade inferior a 1 ano em Porto Alegre e Pelotas. Verificaram que o risco de morrer por diarréia, infecção respiratória e outras infecções, nas crianças que nunca receberam leite materno, foi respectivamente 14,2 3,6 e 2,5 vezes mais elevado em relação às amamentadas exclusivamente ao peito. 14
  • 7. Monteiro e cols. Utilizaram esses índices para avaliar o impacto do programa de incentivo ao aleitamento materno na Grande São Paulo entre 1981 e 1987. Os resultados são bastante expressivos, podendo-se atribuir ao aleitamento materno redução de 11,8% na mortalidade infantil. Avaliando em separado o efeito na mortalidade por diarréia, infecções respiratórias e outras infecções verificaram-se redução de 32,3%, 22,3% e 17,7%, respectivamente. Em relação ao controle da diarréia, as duas estratégias mais importantes são o aleitamento materno e o saneamento ambiental, especialmente a qualidade da água. O aleitamento materno provê proteção significativa contra a diarréia em qualquer tipo de ambiente e age não só transmitindo fatores antiinfecciosos, mas também reduzindo a exposição à água. Por esse motivo, especialmente quando não complementado, torna-se particularmente valioso nas áreas em desenvolvimento. O aleitamento materno, além de suprir todas as necessidades nutricionais do lactente nos primeiros meses de vida, proporciona as condições ideais para a comunicação e a troca de afeto entre mãe e filho. O modo de sucção – verdadeira ordenha – é completamente diferente daquele realizado para retirar o leite da mamadeira. A atividade da sucção ao peito é muito importante para o desenvolvimento do psiquismo, sendo muito mais íntima e afetuosa. As sensações táteis, olfatórias, térmicas e auditivas fazem parte dessa experiência. Relata-se que as crianças amamentadas ao peito são mais ativas desde o período neonatal, frequentemente aprendem a andar mais precocemente e apresentam personalidade mais estável e melhor adaptação social. Em relação ao desenvolvimento neuropsicomotor, diversos estudos sugerem que o melhor desempenho da criança decorre apenas como conseqüência da melhor estimulação, pelo contexto mais adequado da relação entre mãe e filho. O trabalho de Lucas e cols., porém, mostra que o melhor desenvolvimento em prematuros pode ser devido à composição do leite humano. 3.1.2 Para a mãe O aleitamento materno é o modo mais prático de alimentar a criança. Não há necessidade de comprá-lo ou de armazená-lo. Já está pronto, na temperatura adequada, não havendo possibilidade de contaminação. Dispensa bicos, 15
  • 8. mamadeiras e esterilização. Também é positivo porque a criança não necessita receber chá ou água e, à noite, a mãe pode alimentar seu filho com muito mais comodidade. Além de tudo, o aleitamento é importante para a realização feminina, na medida em que completa o processo de maternidade. A mulher deve ser esclarecida dessas vantagens, porém amamentar é um direito e não uma obrigação. As vantagens iniciam-se logo após o parto, protegendo- a da anemia por sangramento uterino prolongado. A amamentação provoca liberação de ocitocina que induz menor perda sanguínea e involução uterina mais rápida. Propicia o fornecimento de nutrientes de mãe para o filho, com dispêndio de cerca de 500 calorias por dia. Assim, de um modo fisiológico e sem dieta, sua forma física volta ao normal mais rapidamente. A valorização da mama como símbolo sexual e a falsa idéia que a amamentação provoca a queda das mamas fazem com que muitas mães, erradamente, pratiquem o desmame precoce. Na realidade, esse efeito é provocado pelo ganho excessivo de peso durante a gestação. Acredita-se até que, quando a mulher amamenta, a mama realiza a função à qual se destina, aumenta seu tono. Além disso, a mulher que amamenta tem taxas menores de câncer de mama e ovário. A lactação provoca um efeito contraceptivo que, por meio de um maior espaçamento entre as gestações, protege a saúde da mulher e da criança. Em condições de aleitamento materno exclusivo, a inibição da ovulação pode chegar a 98% no primeiro semestre após o parto. O efeito contraceptivo diminui com a redução do ritmo de sucção e a introdução de outros alimentos, porém pode prolongar-se até o segundo semestre. Nas populações que não dispõem de assistência médica, esse efeito é mais importante e pode representar uma redução natural de metade dos nascimentos. Nos centros urbanos, onde é comum a complementação da mamada, a contracepção é menos intensa. Esse fato observado na população não exime, porém, o uso de métodos contraceptivos, individualmente. Cerca de um mês após o parto, quando as relações sexuais são reiniciadas, muitas mães, temerosas que o contraceptivo oral provoque efeitos indesejáveis na criança, iniciam o desmame. Cabe ao pediatra superar o constrangimento da mãe e dizer da necessidade de escolha de um método contraceptivo, encaminhando-a para a consulta com o obstetra esclarecendo que amenorréia nem sempre significa anavulação. Além do condom, as opções mais 16
  • 9. comuns incluem o uso de progesterona (oral ou injetável), diafragma e dispositivo intra-uterino. O uso do estrógeno tem sido evitado pela possibilidade de hipogalactia e feminilização dos meninos. Em relação à legislação, a mulher que trabalha fora de casa teve seus direitos ampliados pela Constituição de 1988. Seus tópicos mais relevantes são: - Disposições constitucionais transitórias e estabilidade: estabilidade da gestante. Fica garantida a estabilidade provisória da gestante, desde a confirmação da gravidez, até cinco meses após o parto. O empregador só poderá demiti-la por motivo de justa causa. - Direitos assegurados em relação a salário e função (Art.393). Durante a licença-gestante a mulher tem direito ao salário integral, sendo-lhe facultativo exercer a função que anteriormente ocupara. - Licença-gestante (Art.392). Esta licença foi ampliada para 120 dias, ou seja, 4 semanas antes e 12 semanas depois do parto. A mãe poderá tirar toda a licença após o nascimento da criança. - Ampliação da licença-gestante (Art.392 – 2º parágrafo). Em casos excepcionais, os períodos antes e depois do parto poderão ser aumentados em mais duas semanas cada um, mediante atestado médico. A lei não caracteriza o que seja “caso excepcional” e, tendo em vista a recomendação médica de ser mantido o aleitamento materno por seis meses, a ampliação da licença-gestante pode ser aplicada a toda mãe que está amamentando seu filho. - Descansos especiais durante o trabalho (Art.396). Até seis meses após o parto, a mulher terá direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho. Estes descansos não devem ser confundidos com os intervalos habituais de repouso e alimentação. Quando a saúde da criança exigir, este prazo poderá ser aumentado até 6 meses. - Creche na empresa (Art. 389). O artigo 389 determina que empresas que empregam mais de 30 mulheres com mais de 16 anos de idade tenham local apropriado onde seja permitido às empregadas deixar seus filhos nos primeiros seis meses de vida. Porém são oferecidas alternativas: caso o empregador não ofereça a creche, deverá estabelecer convênio com creche próxima, ou reembolsar à empregada as despesas necessárias para o atendimento de seu filho no período do trabalho. Porém, conforme os acordos realizados durantes os dissídios, esta 17
  • 10. obrigação às vezes é relegada. Decorre daí que poucas empresas possuem creches e a possibilidade da mãe amamentar durante o período de trabalho é quase virtual. 3.1.3 Econômico-sociais Quando se trata de alimentação de crianças em áreas pobres, a primeira preocupação é sem dúvida o custo do próprio alimento. O gasto com o aleitamento materno é, com certeza, mais baixo, pelo fato de que o custo da complementação da dieta materna é inferior ao da alimentação infantil artificial. Além disso, evita-se uma série de outros ônus. A mãe que prepara a mamadeira de seu filho deve ter condições mínimas para que o alimento não se transforme em vetor de doenças. Quando não está mais lactando, a aquisição do leite torna-se uma necessidade imperiosa e o recurso deve estar disponível. Para o preparo da mamadeira, são necessários técnica higiênica, equipamentos e utensílios adequados. Sabemos que mães, em famílias pobres, têm dificuldade tanto em comprar como em preparar a mamadeira. Decorre daí a alta freqüência de situações inadequadas, com erros tanto de diluição como risco de contaminação. A substituição do leite por farináceas é freqüente, e esse hábito, se rotineiro, leva à desnutrição. A falta de informações e de recursos e a de ações simples como a fervura da água levam a conseqüência como diarréia, desidratação e desnutrição. Assim, há incremento da demanda por assistência médica, compra de medicamentos e até internação hospitalar. Os custos materiais decorrentes são, com certeza, relevantes, mais incomparáveis ao custo social representado pelos óbitos. As crianças que sobrevivem a esse processo podem apresentar seqüelas físicas e intelectuais. Estima-se que a prática do aleitamento materno como única medida possa impedir a morte de cerca de 2 milhões de crianças por ano nos países em desenvolvimento. 3.2 Características bioquímicas O início da produção láctea gera o colostro e pode ocorrer no terceiro trimestre da gestação; este geralmente apresenta coloração amarelada e aspecto mais denso que o leite materno. Tem grande importância na proteção contra 18
  • 11. infecções pela alta concentração dos fatores de defesa, especialmente lgA. Possui maior concentração protéica e salina menor de lactose e de lipídeos em relação ao leite maduro. O pequeno volume produzido nos primeiros dias de vida da criança é altamente adequado às necessidades do recém-nascido. Sua concentração modifica-se progressivamente, recebendo após uma semana a denominação de leite de transição e, duas semanas após o parto, já é o leite maduro. Na tabela a seguir tem-se a composição do leite humano colostro, transição e maduro. Tabela 1 - composição do leite humano colostro/ transição/ maduro Componentes Colostro (1 a5 dias) Transição (5 a 10 dias) Maduro (> 15 dias) Água (g/dl) 87,2 86,4 87,6 Energia (Kcal/dl) 58 74 71 Gordura (g/dl) 2,1 3,9 4,0 Lactose (g/dl) 4,1 5,4 6,8 Proteínas (g/dl) 3,1 0,9 0,8 Tabela 1: Galisa (2008). 3.2.1 Proteínas A concentração de proteínas do leite humano maduro é a mais baixa dentre todos os mamíferos. A concentração geralmente relatada é de 1,1g, contudo, se a determinação excluir o nitrogênio não-protéico, decrescerá para 0,8 a 0,9%. Essa concentração é adequada para o crescimento normal da criança e provoca baixa carga de excreção renal de solutos. A relação proteínas do soro/caseína do leite humano é cerca de 80/20, e do leite de vaca de 60/40. O coalho do leite humano mais macio, que facilita a digestão, é conseqüência dessa relação. Tabela 2 - comparação leite humano/ leite de vaca em relação a proteínas: Tipo de leite Relação Proteína de soro/Caseína Leite materno 40/60 Leite de vaca 80/20 Fonte: Galisa (2008). A proteína do soro com maior concentração é a alfa lacto-albumina, que possui apenas função nutricional, mas compõe o sistema enzimático necessário à síntese de lactose. Seguen-se allacto ferrina, o IgA secretora e a lisozima que tem também função de defesa. A beta-lactoglobulina é a principal causa das alergias ao 19
  • 12. leite de vaca. A ausência desse componente no leite humano é interpretada como característica de espécie-especificidade, visto que provoca resposta imunológica em atópicos. A proteína do soro com maior concentração é a alfa-lactoalbumina, que possui apenas função nutricional, mas compõe o sistema enzimático necessário à síntese de lactose. Seguem-se a lactoferrina, a IgA secretora e a lisozima que têm também função de defesa. A beta-lactoglobulina é a principal causa das alergias ao leite de vaca. A ausência desse componente no leite humano é interpretada como característica de espécie, visto que provoca resposta imunológica em atópicos. Em relação aos aminoácidos sulfurados, a menor relação metionina/cistina-1/2-é muito importante, especialmente para o prematuro, visto que não dispõe de cistationase. Sem essa enzima o prematuro não consegue transformar metionina em cistina, que é a forma como o aminoácido sulfurado é aproveitado. A taurina é considerada um aminoácido essencial para os recém-nascidos, porque no início da vida o ser humano não consegue sintetizá-la. Exerce papel neurotransmissor e neuromodulador no desenvolvimento do sistema nervoso central, e o leite humano a apresenta em alta concentração. A composição do nitrogênio protéico no leite humano e no leite de vaca é apresentada na tabela a seguir: Tabela 3 – Composição nitrogênica do leite humano e de vaca. Constituintes Leite Humano Leite de Vaca Nitrogênio total 1,93 5,31 Nitrogênio protéico 1,43 (8,9) 5,03 (31,4) Nitrogênio da caseína 0,40 (2,5) 4,37 (27,3) Nitrogênio da proteína no soro 1,03 (6,4) 0,93 (5,8) Alfa-lactoalbumina 0,42 (2,6) 0,17 (1,1) Lactoferrina 0,27 (1,7) Traços Beta-lactoglobulina - 0,57 (3,6) Lisozina 0,08 (0,5) Traços Albumina do soro 0,08 (0,5) 0,07 (0,4) IgA 0,16 (1,0) 0,005 (0,03) IgG 0,005 (0,03) 0,096 (0,6) IgM 0,003 (0,02) 0,005 (0,03) Fonte: Marcondes et al (2002). *As cifras referem-se a gramas de nitrogênio por litro, e as entre parênteses, a gramas de proteína por litro. 20
  • 13. No leite de vaca há quantidade exagerada de tirosina e fenilalanina, que supera a capacidade enzimática do prematuro, resultando em aminoacidemia, com letargia e dificuldade de ganho de peso. Existe a possibilidade de seqüelas quando essa situação é prolongada. O leite humano tem maior biodisponibilidade de carnitina. Essa proteína é necessária para a metabolização dos ácidos graxos de cadeia longa. 3.2.2 Gorduras O leite humano tem aproximadamente 3,5g% de lipídeos. Estes incluem os ácidos graxos essenciais e o colesterol, carreiam vitaminas lipossolúveis, geram os ácidos graxos de cadeia longa e fornecem cerca de 50% da energia do leite humano. Sua concentração é mais elevada no final da mamada, acreditando-se que essa variação tenha função reguladora do apetite. Verificam-se também flutuações circadianas conforme a dieta materna. Reconhece-se, atualmente, a grande importância dada aos ácidos graxos de cadeia longa insaturados. As concentrações dos ácidos linoléicos e alfa-linolênico são substancialmente mais elevadas no leite humano. De particular interesse são seus derivados poliinsaturados de cadeia mais longa como o ácido araquidônico (AA) e o ácido decosaexanóico (DHA). Nessa fase, são considerados ácidos graxos essenciais pelo fato de não serem sintetizados na quantidade adequada. Atribui-se a eles ação primordial no desenvolvimento neuropsicomotor e da retina de prematuros. Grande parte do aumento de massa cinzenta é devida ao desenvolvimento das arborizações complexas e à formação de sinapses que fundamentam a função neuronal e o processo de aprendizado. O processo de mielinização acelera-se após o nascimento, protegendo os axônios e aumentando a capacidade de transmissão do estímulo elétrico. Todas as membranas envolvidas nesse processo são formadas por fosfolipídios e ácidos graxos poliinsaturados, especialmente o DNA. O recém-nascido prematuro que não recebe leite humano corre risco de ter déficit desses elementos. Durante a vida fetal, ocorre passagem do AA e do DNA via placentária, acumulação no córtex cerebral e níveis plasmáticos elevados. Após o nascimento, quando o recém-nascido prematuro não recebe leite humano, essas concentrações caem em seu desenvolvimento neuropsicomotor e o da retina pode ser prejudicado. O efeito dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia 21
  • 14. longa não se limita ao sistema nervoso. São precursores das prostaglandinas que têm uma série de funções biológicas ligadas aos aparelhos digestivos e circulatórios e contribuem para a defesa contra infecções. O leite humano tem maior teor de colesterol que o leite de vaca, e acredita-se que isso favoreça a indução de sistemas enzimáticos que regulam o metabolismo do colesterol na vida adulta, com efeito benéfico em relação à prevenção de doenças cardiovascular. A presença de lípase no próprio leite humano é um aspecto também adequado, fazendo com que os triglicerídeos sejam mais facilmente digeridos. 3.2.3 Carboidratos O carboidrato predominante do leite humano é a lactose, sendo sua concentração cerca de 6,8g%. A lactose é um dissacarídeo, sintetizado na própria glândula mamária, formado por glicose e galactose. Além da lactose, há outros carboidratos no leite humano: monossacarídeos, oligossacarídeos e carboidratos ligados a proteínas. Estes dois últimos grupos de substâncias favorecem a proliferação bífida. Encontra-se também fucose, que não é encontrada no leite de vaca, e pode ser importante no início da colonização intestinal pelo L. bifidus. A lactose tem ações na prevenção do raquitismo por facilitar a absorção de cálcio e no desenvolvimento do sistema nervoso central, pois é fonte de galactose, essencial para a produção de galacolipídeos, que incluem os cerebrosídeos. A lactose é encontrada apenas no leite de mamíferos e, dentre todas as espécies, o leite humano a contém e concentração mais elevada. Isso com certeza valoriza seu significado em relação ao desenvolvimento neuropsicomotor. 3.2.4 Minerais A concentração de minerais no leite humano é 3, 6 vezes menor que no leite de vaca. Sua concentração é mais bem adaptada ás necessidades nutricionais e á capacidade metabólica do recém-nascido.A carga renal de solutos determinada pelo leite humano é significativamente mais baixa .A alimentação artificial é hiperosmolar 22
  • 15. e facilita os desequilíbrios hidroeletrolítico e acidobásico por ocasião de perdas anormais de líquidos.Experimentos em animais recebendo dieta com alta concentração de sódio mostram que se pode desenvolver hipertensão,revertida quando a relação sódio/potássio diminui.Embora a concentração de cálcio seja bem mais baixa que a no leite de vaca; a quantidade absorvida é maior com leite humano.Neste a relação cálcio/fósforo é a ideal -2/1-,e não há formação de sabões insolúveis no intestino na forma de palmitato, como no aleitamento artificial.Os níveis de cálcio no leite materno não são influenciados por sua dieta, ocasionando menor frequência de hipocalcemia neonatal. Tabela 4 - Composição de minerais do leite humano e do leite de vaca: Constituintes por 100ml Leite Humano Leite de Vaca Ca (mg) 26 120 P (mg) 12 94 Fe (mg) 0,03 0,05 Cobre (µg) 25 7,5 Zn (mg) 0,25 0,35 Se (mg) 1,8 7,5 Fonte: Galisa (2008). Tanto o leite humano como o de vaca apresentam baixas proporções de ferro, porém, o contido no primeiro é mais bem absorvido. A biodisponibilidade de ferro no leite humano é de 49%, e a do leite de vaca é de 4%. Esse fato se justifica pelo menor pH no trato gastrointestinal do recém-nascido alimentado com leite humano e pela presença de facilitadores como zinco, cobre e lacto ferrina em quantidades adequadas. A vitamina C pode também ser facilitadora da absorção de ferro, dependendo da dieta materna. Além disso, a criança amamentada exclusivamente ao peito não apresenta as micro-hemorragias gastrintestinais, muitas vezes descritas naquelas que recebem leite de vaca, nos primeiros seis meses de vida. Esses fatores, em conjunto, diminuem o risco de anemia ferropriva e retardam a diminuição do estoque de ferro. Recém-nascidos de termo, de mães bem nutridas,e alimentados ao peito, não necessitam de nenhuma suplementação de ferro nesse período. Adicionalmente tem sido demostrada que a suplementaçãocom cereais, vegetais e frutas pode reduzir a absorção de ferro e saturar a lactoferrina, que perde seu efeito bacterioestático. O leite humano contém zinco em quantidade adequada para as necessidades da criança. Sua alta disponibilidade faz com que tenha efeito terapêutico na 23
  • 16. acrodermite enteropática, doença desencadeada pela deficiência de zinco e d maior ocorrência nas crianças em aleitamento artificial. A presença do flúor no leite humano é cercada de muito interesse, o flúorconverte a hidroxiapatita do esmalte em fluorapatita, menos solúvel em meio ácido. Sua ação depende do estoque fetal e do teor no leite humano, que é função da concentração na água de abastecimento. Essa concentração é ideal entre 0,7 e 1ppm, o que determina a concentração do leite de 4 a 14mg/litro. A suplementação de flúor não é útil para crianças no primeiro semestre de vida, recebendo leite humano ou não. A recomendação de suplementação é restrita a crianças de 6 meses a 3 anos, quando sua concentração na água for menor que 0,3ppm. 3.2.5 Vitaminas O conteúdo de vitaminas hidrossolúveis do leite materno depende da dieta da mãe. Mães que apresentam um bom estado nutricional garantem a produção de leite com teores adequados de vitaminas, tornando-o ideal à espécie humana. A concentração baixa de vitamina D no leite humano pode ser contornada com banho de sol pelo lactente em horários apropriados. O leite materno apresenta ainda pouca quantidade de vitamina K. Esta é produzida pelas bactérias Intestinais duas semanas após o nascimento com a instalação da microbiota intestinal; portanto, como medida profilática, recomenda-se, após o parto, a administração da vitamina K. Tabela 5 - composição de vitaminas do leite humano e do leite de vaca. Constituinte (por litro) Leite Humano Leite de Vaca Vitamina A (µg ER) 50 29,5 Vitamina E (MG) 0,49 0,04 B1 (µg) 91 B2 (µg) 35 91 Niacina (mg) 0,18 0,17 B6 (µg) 13 55 Ácido Fólico (µg) 0,85 6,0 B12 (µg) 0,04 0,4 Ácido ascórbico (mg) 5 1,7 Fonte: Marcondes et al (2002). 24
  • 17. 3.3 PROTEÇÃO IMUNOLÓGICA 3.3.1 Características antiinfecciosas Atribuía-se há algum tempo, a maior freqüência de infecções na criança de pouca idade, em aleitamento artificial, apenas à contaminação do leite. De fato a mamadeira pode ser vetor de patógenos,especialmente nas áreas em desenvolvimento. Porém, demonstrou-se que o próprio leite humano possui ação de proteção contra infecções. Para tanto, contém uma série de elementos, alguns já perfeitamente identificados, como os fatores de defesa solúveis e os insolúveis. Fatores solúveis – São classificados em específicos e não específicos. Os específicos são representados pelas imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG e IgE). A mais importante delas é a IgA, Sintetizada na própria glândula mamária e encontrada predominantemente em sua forma dimérica, a IgA secretória (IgAs), mais notável não só em concentração, mas também em atividade protetora. Apresenta peso molecular elevado (cerca de 375.000), não sendo digerida pelas secreções gástrica e intestinal e, portanto, quase não absorvida. Assim sendo, seu teor nas fezes é semelhante ao do leite humano, o que levou à falsa idéia de que, não sendo absorvida, não tivesse nenhuma ação, quando na realidade, seu efeito se dá por meio da proteção de superfície. A concentração de IgAs é bem mais elevada no colostro, porém é compensada por maior volume tanto no leite de transição como no leite maduro. A criança em aleitamento materno exclusivo recebe uma quantidade bastante elevada dessa imunoglobulina, cerca de 0,5g/Kg/dia, o que representa 50 vezes a dose preconizada para hipoglobulinemia. A IgAs reveste a mucosa intestinal, impedindo a agressão por bactérias, toxinas ou antígenos estranhos, e a proteção proporcionada é substancial. A IgAs é estável à pasteurização a 56°C por 30 minutos. Perde 30% de sua atividade a 62,5°C por 30 minutos, sendo inativa por fervura. Os fatores solúveis não-específicos mais importantes estão descritos a seguir: 25
  • 18. Fator bífido – as crianças amamentadas ao peito possuem flora predominante de Lactobacillus bífidos, que são bacilos anaeróbios que colonizam seu intestino e dificultam a proliferação de agentes patogênicos. O fator bífido, seu substrato, e um carboidrato nitrogenado dialisável, não carreador de aminoácidos. Facilita, na presença de lactose, a formação dos ácidos láctico e acético e, em menor escala, também dos ácidos fórmicos e succínico que, determinando pH mais baixo, inibem a proliferação de enterobacteriácias e fungos. O fator bífido resiste à fervura e, se congelado a vácuo, conserva-se estável pelo menos por três meses. Fator de resistência – A proteção proporcionada pelo leite humano contra a infecção estafilocócica é bastante conhecida clinicamente. Experimentalmente, verificou-se que somente animais que haviam recebido leite humano sobreviveram à infecção causada por estafilococos. Trata-se de fator de natureza lipídica, com estrutura bioquímica ainda não totalmente esclarecida, más com semelhanças ao ácido linoléico e característica de termo estabilidade. Lisozima – Trata-se de uma enzima de grande importância no controle da flora gram-negativa com local de ação no trato gastrintestinal. A criança amamentada ao peito apresenta essa enzima em alta concentração nas fezes, comprovando sua baixa absorção. No leite humano, a concentração de lisozima é pelo menos 30 vezes superior à do leite de vaca. Documentou-se grande variação de sua concentração, com níveis mais baixo no início da lactação, ascendendo progressivamente até alcançar os níveis mais altos no sexto mês, mantendo taxas elevadas por pelo menos um ano. Produzida por neutrófilos e macrófagos, tem ação bacteriostática contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, por meio de lise de parede celular. A lisozima é pouco afetada pela pasteurização, havendo perda de apenas 23% a 62,5°C por 30 minutos. A fervura provoca sua inativação. Lactoferrina – a ação dessa proteína provoca, por quelação, a diminuição da disponibilidade de ferro para os patógenos. Tem efeito bacteriostático, inibindo o crescimento de agentes infecciosos como Staphylococcus, E. coli e Candida albicans. Sua concentração é mais elevada no colostro, mas apresenta níveis úteis até o segundo ano de vida. Sua afinidade com o ferro é 300 vezes maior que a da transferrina, é muito pouco absorvida no recém-nascido de termo, e a terapia com ferro oral pode influir na função de quelação. A pasteurização a 62,5°C, por 30 minutos, provoca destruição de 2/3 de seu conteúdo. 26
  • 19. Interferon – Não foi detectado interferon livre no leite humano. Entretanto, os linfócitos do leite produzem esse fator antiviral. Demonstrou-se experimentalmente que as células do colostro secretam substância com intensa ação antiviral. Complemento – o leite materno possui todas as frações do complemento (C1 a C9). Dentre elas, as frações C3 e C4, reconhecidas por sua capacidade de opsonização, ainda que em concentrações baixas, quando comparadas às do soro. As Imunoglobulinas podem ativar o complemento e já foi descrito um proativador C3. A fração C3 tem função de opsonização e quimiotaxia, importantes na lise de bactérias ligadas ao seu anticorpo específico. O complemento contido no leite humano é destruído por 30 minutos de pasteurização a 56°C. Proteína ligada à vitamina B12 – trata-se de proteína de alto peso molecular, presente no leite humano em concentração elevada. Atua na luz intestinal, sendo pouco absorvida, conservando concentração elevada nas fezes. Impede o crescimento de bactérias, por tornar a vitamina B12 indisponível, como nutrientes para os microorganismos. É destruída por fervura. Gangliosídeos – são glicolipídeos constituídos por ácidos siálicos, hexoses e hexoaminas. Tem ação contra a diarréia e impedem a ação das toxinas de E. coli, Campylobacter jejuni e V. cholerae. São resistentes à fervura. Interleucinas – esse fator de defesa é constituído por um grupo de antígenos que estimulam a diferenciação de leucócitos. Já foram identificados agentes quimiocinéticos que aumentam a motilidade de macrófagos e a ativação de linfócitos T do leite humano. Outros fatores solúveis não-específicos – além dos fatores citados, há uma série de outros elementos de defesa identificados em pesquisas mais recentes, tais como glicoproteínas, oligossacarídeos, ácidos graxos livres e mucinas. Fatores celulares – o leite humano contém neutrófilos, macrófagos e linfócitos, importantes na defesa contra as infecções. No colostro, a quantidade de linfócitos pode chegar a 5.000/mm3, sendo 40 a 60% polimorfonucleares. Essas células ocorrem apenas nas primeiras 6 semanas e têm atividade fagocitáriana luz intestinal e de proteção contra infecções mamárias. Os macrófagos representam cerca de 40% dos leucócitos do colostro, chegam até a90% no leite maduro e são mais ativos que os macrófagosdo sangue. Conservam a movimentação amebóide, realizam fagocitose e produzem complemento, lisozima e lactoferrina. Ativam os linfócitos T por meio do processamento antigênico e transportam imunoglobulinas. 27
  • 20. Além disso, têm outras ações como produção de lactoperoxidase e do fator de crescimento celular. Os linfócitos representam cerca de 10% dos leucócitos do leite. Cerca de 80% são linfócitos T que estimulam outros componentes do sistema imunológico, e os restantes são linfócitos B com capacidade de produção de anticorpos. A resposta imunológica transmitida pelo leite humano é dirigida especificamente contra as agressões do ambiente materno. Quando um patógeno do organismo materno é capturado por um macrófago, a informação antigênica é passada para linfócitos T e a seguir para linfócitos B. Estes se transformam em células plasmáticas e liberam anticorpos específicos diretamente na mama. Como substrato dessa ação, demonstrou-se a existência de uma dinâmica enteromamária e broncomamária, quando a partir de antígenos ambientais é gerada uma resposta imunológica. Dessa forma, o leite materno provê anticorpos específicos à criança de pouca idade e isso é especialmente importante, porque ocorre mesmo antes do seu do seu sistema imune produzir seus próprios anticorpos. Nesse sentido, já foram documentados, entre outros, antígenos específicos contra E.coli, Clostricidium tetani, Corynebacterium diphteriase, Klebsiella, Shigella, Salmonella, Streptococcus, Staphylococcus, Mycoplasmapneumoniae e H.influenzae. Foi também detectada atividade contra diversos vírus, como enterovírus, poliovírus 1,2 e 3, influenzacoxsackie, echovírus, rotavírus, citomegalovírus, além do herpesvírus e da rubéola. 3.3.2 Proteção contra fenômenos alérgicos A criança alimentada com leite de vaca está sujeita ao desenvolvimento de quadros alérgicos. Nas primeiras semanas de vida, pode ocorrer a absorção de moléculas inteiras pela mucosa intestinal. Verificou-se que, com o uso de fórmulas lácteas, a incidência de alergia ao leite de vaca é de cerca de 1%. A criança não amamentada ao peito apresenta maior permeabilidade da barreira intestinal, até que se inicie a produção de IgA no trato intestinal. Isso habitualmente ocorre com 6 semanas de vida, más as crianças alérgicas apenas aos 3 meses. Por esse motivo, 28
  • 21. a amamentação é componente importante em programas para a redução da morbidade em crianças de famílias alérgicas. Outro aspecto importante nessa proteção são os fatores tróficos do trato digestivo. Sabe-se que uma série de nutrientes e hormônios influencia o desenvolvimento pré e pós-natal do intestino. Incluem-se, entre outros, oligoelementos, vitaminas, fator de crescimento epidérmico, insulina, IGF-I, IGF-II, GH, glicocorticóides e nucleotídeos. Essas substâncias desempenham papel decisivo nas alterações adaptativas necessárias para a alimentação do recém- nascido. Podem ser sintetizadas endogenamente, mas o leite humano as possui, garantindo e apressando essa diferenciação. 3.4 TÉCNICAS DE AMAMENTAÇÃO Apesar de a sucção do bebê ser um ato reflexo, ele precisa aprender a retirar o leite do peito de forma eficiente. Quando o bebê pega a mama adequadamente, o que requer uma abertura ampla da boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas também parte da aréola forma-se um lacre perfeito entre a boca e a mama, garantindo a formação do vácuo, indispensável para que o mamilo e a aréola se mantenham dentro da boca do bebê. Figura 1 www.clubedemaes.blogspot.com 29
  • 22. A língua eleva suas bordas laterais e a ponta, formando uma concha (canolamento) que leva o leite até a faringe posterior e esôfago, ativando o reflexo de deglutição. A retirada do leite (ordenha) é feita pela língua, graças a um movimento peristáltico rítmico da ponta da língua para trás, que comprime suavemente o mamilo. Enquanto mama no peito, o bebê respira pelo nariz, estabelecendo o padrão normal de respiração nasal. O ciclo de movimentos mandibulares (para baixo, para a frente, para cima e para trás) promove o crescimento harmônico da face do bebê. A técnica de amamentação, ou seja, a maneira como a dupla mãe/bebê se posiciona para amamentar/mamar e a pega/sucção do bebê são muito importantes para que o bebê consiga retirar, de maneira eficiente, o leite da mama e também para não machucar os mamilos. Uma posição inadequada da mãe e/ou do bebê na amamentação dificulta o posicionamento correto da boca do bebê em relação ao mamilo e à aréola, resultando no que se denomina de “má pega”. A má pega dificulta o esvaziamento da mama, levando a uma diminuição da produção do leite. Muitas vezes, o bebê com pega inadequada não ganha o peso esperado apesar de permanecer longo tempo no peito. Isso ocorre porque, nessa situação, ele é capaz de obter o leite anterior, mas tem dificuldade de retirar o leite posterior, mais calórico. Figura 2 www.alimentandosaudeam.blogspot.com 30
  • 23. Postura para amamentar sentada • As suas costas estão bem suportadas direitas e; • Os seus pés estão planos (que pode ser preciso um de apoio ou de um livro grosso); • Dispõe de almofadas extra, para apoiar suas costas e braços ou um para ajudar a levantar o seu bebê, se necessário. Postura para amamentar deitada • Procure-se manter bem plana, com uma almofada debaixo da sua cabeça e o seu ombro repousado na cama. • Deite-se bem sobre o lado. • Uma almofada suportando-lhe as costas e outra entre as pernas também ajudar. 3.5 PROBLEMAS MAIS COMUNS 3.5.1 Mamilos planos ou invertidos Mamilos planos ou invertidos podem dificultar o início da amamentação, mas não necessariamente a impedem, pois o bebê faz o “bico” com a aréola. Para fazer o diagnóstico de mamilos invertidos, pressiona-se a aréola entre o polegar e o dedo indicador: se o mamilo for invertido, ele se retrai; caso contrário, não é mamilo invertido. Para uma mãe com mamilos planos ou invertidos amamentar com sucesso, é fundamental que ela receba ajuda logo após o nascimento do bebê. 31
  • 24. Figura 3 http://enfernat.blogspot.com/2010_01_01_archive.html 3.5.2 Ingurgitamento mamário Consiste em parte no aumento da quantidade de sangue e fluídos nos tecidos que suportam a mama (congestão vascular) e de certa quantidade de leite que fica retido na glândula mamária. As duas mamas ficam inchadas (aumentam de volume, dolorosas, quentes, vermelhas, brilhantes e tensas por causa do edema (líquido) nos tecidos. A mãe queixa-se de dor principalmente na axila e pode ter febre (a chamada “febre de leite”). O leite pode parar de descer. Geralmente ocorre alguns dias (2 a 5) após o nascimento ou em qualquer época durante a amamentação, todavia, é mais difícil de acontecer em hospitais. A recomendação básica é a intensificação das mamadas, mas quando há dor difusa ou pontos dolorosos deve ser feita ordenha manual. 3.5.3 Fissuras do mamilo Decorrentes da má posição da criança em relação à mama; do número e duração inadequada das mamadas e principalmente da técnica incorreta de sucção. Orientar as mães durante o pré-natal sobre o preparo da mama e técnicas de amamentação, dando ênfase as estratégias que devem ser utilizadas para o fortalecimento dos tecidos areolar e mamilar, tais como: Banho de sol nos seios, fricção de toalha e utilização de sutiã de algodão com orifício na região mamilar. 32
  • 25. 3.5.4 Mastite O acúmulo de leite sem a ordenha de alívio pode facilitar o início da mastite, que é facilmente diagnosticado; mamas quentes, febre, dor a palpação e pode sai pus. É mais freqüente na 2ª e 3ª semanas depois do parto. A mãe deverá descansar por mais tempo. Deverá tirar uma licença de seu emprego. Se continuar a trabalhar a infecção poderá retornar. 3.6 DROGAS NA LACTAÇÃO O aleitamento materno está associado a benefícios de ordem nutricional, imunológica, afetiva, econômica e social. Por isso, torna-se fundamental a identificação dos fatores que levam ao desmame precoce, a fim de proporcionar o maior tempo possível de aleitamento às crianças. Diversos estudos comprovam que, dentre os fatores responsáveis pelo abandono precoce da amamentação, encontram-se os problemas relacionados aos riscos de exposição dos lactentes a medicações maternas. Informações e referências na literatura sobre drogas e leite materno estão disponíveis, porém muitos profissionais de saúde, em especial médicos, talvez por desinformação ou até desinteresse, preferem interromper a amamentação em vez de se esforçarem para compatibilizá-la com a terapêutica materna. Além disso, observa-se que é freqüente o conflito entre informações das bulas dos medicamentos e evidências científicas sobre o uso dos mesmos durante o aleitamento. Embora o conhecimento a respeito de drogas na lactação tenha sido muito ampliado, ainda não se conhecem os efeitos colaterais para as crianças amamentadas de muitas drogas utilizadas pela nutriz. Além disso, os efeitos de muitas drogas novas ainda não foram devidamente estudados ou apresentam divergências na literatura quando utilizados na lactação. Portanto, surge a necessidade de atualizações constantes sobre o uso de medicamentos durante a amamentação, visando racionalizar esse uso e proteger o aleitamento materno. Para que o profissional de saúde possa se orientar sobre o uso de medicamentos na lactação, torna-se útil o conhecimento dos fatores que determinam sua segurança nesse período. Tais fatores podem estar relacionados com o leite materno, com a mulher, com a droga ou com o lactente. 33
  • 26. O leite materno está sujeito a mudanças significativas nas concentrações de lipídeos e proteínas, dependentes da fase da lactação (colostro versus leite maduro) ou até mesmo da fase de uma mamada (leite anterior versus leite posterior). Tais alterações influenciam na extensão da transferência de drogas do plasma para o leite, causando variações nas concentrações das mesmas no leite materno. Durante os primeiros dias de lactação (colostro), as células alveolares são pequenas e o espaço intercelular é largo, o que faz com que substâncias maternas, incluindo drogas, linfócitos, imunoglobulinas e proteínas transfiram se mais facilmente para o leite materno. Com a redução dos níveis de progesterona, há crescimento das células alveolares e estreitamento dos espaços intercelulares, com conseqüente redução da transferência de drogas e demais substâncias. Contudo, o volume de leite (colostro) ingerido nos primeiros dias de vida do bebê (50 a 60 ml/d) é considerado baixo, sendo a dose absoluta de medicamento passada para o recém-nascido durante esse período muito baixa. Fatores que reduzem a capacidade da mãe de metabolizar ou excretar a droga podem aumentar a exposição do lactente. Assim, cuidado especial deve ser tomado ao se prescrever drogas para nutrizes com doenças hepáticas ou renais, pelos níveis mais elevados e pelo maior tempo da droga na circulação materna. A via pela qual a droga é administrada à mãe tem importância pelos níveis alcançados no plasma materno e, posteriormente, no leite humano. Assim, muitas drogas administradas topicamente ou inaladas não atingem níveis plasmáticos significativos, possuindo níveis lácteos não mensuráveis. Muitos antibióticos, corticosteróides e retinóides aplicados em áreas pequenas não são bem absorvidos por via transcutânea e são praticamente indetectáveis no plasma. Conhecer certas características das drogas e sua difusão pelo corpo pode ser útil na identificação do risco de seu uso durante a amamentação. Outro aspecto importante é o pico dos níveis séricos da droga. Usualmente, o pico na mãe coincide com o pico no leite materno, sendo menor neste. Assim, saber quando ocorre o pico sérico de um medicamento é útil para adequar o horário de administração da droga e os horários da amamentação da criança. Para evitar que a mamada coincida com o período de maior concentração sérica do medicamento, recomenda-se que o mesmo seja administrado à mãe imediatamente após ter amamentado a criança. Além disso, drogas com meia-vida longa ou que possuem 34
  • 27. metabólitos ativos promovem um período de exposição mais prolongado do lactente à droga. A biodisponibilidade oral é de grande importância na avaliação do risco ao lactente. Drogas com baixa biodisponibilidade, pouco absorvidas pelo lactente, são ideais para uso durante a lactação. Por exemplo, sumatriptano (15% biodisponível) é preferível ao rizatriptano (mais que 45% biodisponível). Independentemente das características farmacológicas, drogas sabidamente tóxicas ao lactente, como antineoplásicos, radiofármacos ou drogas de abuso, são proscritas durante a lactação. Dentro do possível, o médico deve ter essas informações em mente ao prescrever qualquer tipo de medicamento para uma nutriz. A idade da criança deve ser considerada ao se avaliar os possíveis efeitos de uma droga utilizada pela mãe que amamenta. Em neonatos, os efeitos são maiores do que em lactentes com mais idade, que apresentam funções hepáticas e renais mais eficazes. Esses efeitos podem ser ainda maiores em crianças pré-termo, cuja imaturidade pode prolongar a meia-vida das drogas, causando acúmulo após doses repetidas. Lactentes que mamam mais freqüentemente e um volume maior de leite estão mais expostos às drogas maternas que aqueles que mamam menos freqüentemente e um volume menor. Após compreender os mecanismos que determinam a exposição do lactente às drogas, torna-se necessário conhecer as medidas que quantificam essa exposição. As medidas mais utilizadas são razão leite/plasma, dose absoluta e dose relativa no lactente. Essas medidas tornam-se mais importantes quando as mulheres fazem uso de fármacos por longos períodos. A estimativa da porcentagem da dose materna recebida pelo lactente através do leite tem sido utilizada para avaliar a segurança das drogas durante o aleitamento. Esse valor geralmente é expresso em porcentagem da dose materna e propõe uma padronização da proporção da dose materna recebida pelo lactente. Recomenda-se, arbitrariamente, que a dose relativa do lactente deva ser menor que 10% para que a droga seja considerada segura. Porém, como o método se baseia no princípio de que mãe e filho possuem mesma absorção, metabolização e 35
  • 28. excreção, ele não é tão eficaz em determinar a segurança da droga durante o aleitamento. Em virtude do uso cada vez mais freqüente de implante de próteses de silicone para aumento ou correção de mama, algumas informações podem ser úteis. Segundo a literatura, o silicone utilizado para aumento do volume das mamas foi implantado em cerca de 1 milhão de mulheres norte-americanas até o ano de 2001. No entanto, apenas um estudo relatou disfunção esofagiana em 11 crianças amamentadas cujas mães receberam implantes. Outros estudos não confirmam esses achados. Assim o implante de silicone foi classificado como compatível com a amamentação. Alguns fármacos que podem suprimir a lactação, o uso de qualquer uma dessas drogas pode representar risco potencial de déficit ponderal, principalmente durante o puerpério imediato, época mais sensível para a supressão da lactação. Portanto, o profissional de saúde deve estar atento caso o uso de qualquer uma dessas drogas seja realmente necessário, devendo retardar ao máximo sua introdução (semanas ou meses). Tabela 2 www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-0582200700 Alguns aspectos práticos para a tomada de decisões na prescrição de drogas às mães durante a lactação são os seguintes: 36
  • 29. • Avaliar a necessidade de terapia medicamentosa. Em caso afirmativo, consultas com o pediatra e com o obstetra ou clínico são muito úteis. A droga prescrita deve ter um benefício reconhecido na condição para a qual está sendo indicada. • Preferir drogas já estudadas e sabidamente seguras para a criança, que sejam pouco excretadas no leite materno. Por exemplo, prescrever paracetamol em vez de ácido acetilsalicílico, penicilinas em vez de quinolonas. • Preferir drogas que já são liberadas para uso em recém-nascidos e lactentes. • Preferir terapia tópica ou local à oral e parenteral, quando possível e indicado. • Preferir medicamentos com um só fármaco, evitando combinações de fármacos. Exemplo: usar somente paracetamol em vez de apresentações contendo paracetamol, ácido acetilsalicílico e cafeína. • Escolher medicamentos que passem minimamente para o leite. Por exemplo, os antidepressivos sertralina e paroxetina possuem níveis lácteos bem mais baixos que a fluoxetina. • Escolher medicamentos pouco permeáveis à barreira hematoencefálica, pois estes, em geral, atingem níveis pouco elevados no leite. • Escolher medicamentos com elevado peso molecular, pois essa característica reduz muito a transferência para o leite. Exemplo: heparina. • Programar o horário de administração da droga à mãe, evitando que o período de concentração máxima do medicamento no sangue e no leite materno coincida com o horário da amamentação. Em geral, a exposição do lactente à droga pode ser diminuída se a mesma for utilizada pela mãe imediatamente antes ou após a amamentação. • Considerar a possibilidade de dosar a droga na corrente sangüínea do lactente quando houver risco para a criança, como nos tratamentos maternos prolongados, a exemplo do uso de antiepiléticos. 37
  • 30. • Orientar a mãe para observar a criança com relação aos possíveis efeitos colaterais, tais como alteração do padrão alimentar, hábitos de sono, agitação, tônus muscular e distúrbios gastrointestinais. • Evitar drogas de ação prolongada pela maior dificuldade de serem excretadas pelo lactente. Exemplo: preferir midazolam a diazepam. • Orientar a mãe para retirar o seu leite com antecedência e estocá-lo em congelador (por, no máximo, 15 dias) para alimentar o bebê no caso de interrupção temporária da amamentação e sugerir ordenhas periódicas para manter a lactação. Contudo fica claro que indicação criteriosa do tratamento materno e a seleção cuidadosa dos medicamentos geralmente permitem que a amamentação continue sem interrupção e com segurança. Torna-se fundamental, portanto, que os pediatras e demais profissionais de saúde procurem manter-se atualizados sobre este tema. Atenção especial deve ser dada a situações em que as nutrizes utilizam drogas que possam reduzir a produção de leite. Tais medicamentos devem ser evitados durante a lactação, porém, caso seu uso seja imperativo, deve-se acompanhar o crescimento do lactente. A amamentação ao seio somente deverá ser interrompida ou desencorajada se existir evidência substancial de que a droga usada pela mãe poderá ser nociva para a criança, ou quando não houver informações a respeito e a droga não puder ser substituída por outra que seja inócua para o bebê. Em geral, mães em amamentação devem evitar o uso de medicamentos. No entanto, se isto for imperativo, deve-se fazer opção por uma droga já estudada, que seja pouco excretada no leite materno, ou que não tenha risco aparente para a saúde da criança. 3.6.1 Álcool A ingestão de etanol (1,5 a 1,9 g/kg de peso corporal) pode reduzir significativamente o reflexo de ejeção do leite e reduzir (na dose de 0,3 g de etanol por kg) em até 20% a ingestão de leite pelo lactente, deve-se ressaltar que apenas doses baixas (não mais que 0,5 g de álcool por quilo de peso da mãe por dia) devem 38
  • 31. ser utilizadas, devido à baixa atividade das enzimas álcool desidrogenase no lactente e ao relato de efeito supressor da produção de leite. 3.7 ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL E A INTRODUÇÃO DE NOVOS ALIMENTOS Diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se utilizar uma fórmula infantil que satisfaça as necessidades do lactente. Antes do sexto mês deverá ser utilizada uma fórmula de partida e, a partir do sexto mês, recomenda-se uma fórmula infantil de seguimento. Para as crianças em uso de fórmulas infantis modificadas, a introdução de alimentos não lácteos poderá seguir o mesmo preconizado para aquelas em aleitamento materno exclusivo (a partir dos seis meses). 3.7.1 Características gerais das fórmulas infantis • Gordura: há redução da quantidade de gordura animal saturada e acréscimo de óleos vegetais (gorduras poliinsaturadas de melhor qualidade), como também o acréscimo de ácidos graxos essenciais (linoléico e alfa-linolênico). • Carboidratos: as fórmulas contêm lactose exclusiva ou associação de lactose com polímeros de glicose (malto-dextrinas), não necessitando, portanto, de adição de açúcar ou farinha. • Proteínas: há quantidade adequada de proteína com desnaturação protéica (quebra da caseína, em cadeias menores, formando proteínas solúveis e favorecendo a digestão e absorção), além de melhor relação proteína do soro/caseína. • Minerais: há modificação nos teores dos minerais tentando aproximar os seus teores aos do leite materno. A relação cálcio/fósforo é adequada, favorecendo a mineralização óssea. 39
  • 32. • Oligoelementos (vitaminas e microminerais): atendem às necessidades da criança sadia. 3.7.2 Introdução de novos alimentos O consumo precoce de alimentos complementares interfere na manutenção do aleitamento materno. Muitas vezes, estes alimentos não suprem as necessidades nutricionais dessa faixa etária, na qual a velocidade de crescimento é elevada, tornando os lactentes mais vulneráveis tanto à desnutrição quanto a deficiências de certos micronutrientes O Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria adota a recomendação da OMS, que preconiza o uso de leite materno exclusivo até os seis meses de idade. A partir deste período, está indicada a introdução de alimentos complementares, e deve-se promover a manutenção da amamentação até os dois anos ou mais. O Ministério da Saúde/OPAS e a Sociedade Brasileira de Pediatria estabeleceram, para crianças menores de dois anos, dez passos para a alimentação saudável. • Passo 1. Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos. • Passo 2. A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. • Passo 3. Após os seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada. • Passo 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança. • Passo 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. • Passo 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida. 40
  • 33. • Passo 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. • Passo 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. • Passo 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados. • Passo 10. Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. 4. METODOLOGIA O presente estudo utilizou como método a revisão bibliográfica em livros, artigos e manuais relacionados ao assunto. 41
  • 34. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O profissional Nutricionista tem como meta a prevenção e a promoção da saúde da população por meio de uma alimentação balanceada, respeitando sempre as Leis da Alimentação, para assim garantir todos os nutrientes necessários. Por este motivo a Nutriz deve receber toda orientação necessária para que o lactente não seja privado de receber um alimento a ele adequado, como é, de maneira exclusiva, o leite materno. 42
  • 35. 6. CONCLUSÃO Diante dos estudos apresentados fica evidente que o leite humano é insubstituível, pois além dos fatores nutricionais, o aleitamento materno estreita as relações entre mãe e filho trazendo ao bebê conforto e segurança. Ressaltando ainda o fator imunológico que, para o recém nascido é de estrema importância. Não havendo condições de amamentação, deve ser recomendado o uso de fórmulas infantis, por que são adequadas as necessidades do lactente, o que não ocorre com o leite de vaca. Lembrando que essa orientação só deve ser feita em casos em que o aleitamento materno é contra-indicado. 43
  • 36. REFERÊNCIAS GALISA, Mônica Santiago; ESPERANÇA, Leila Maria Biscola; Sá, Neide Gaudenci. Nutrição: Conceitos e Aplicações. São Paulo: M. Books, 2008. MARCONDES, Eduardo; VAZ, Flavio Adolfo Costa; RAMOS, José Lauro Araujo; OKAY, Yassuhiko. Pediatria Básica: Pediatria Geral e Neonatal. 9ª. Ed. São Paulo: Sarvier, reimpressão, 2002. SILVA, Sandra Maria Chemin Seabra da. Tratado de Alimentação, Nutrição e Dietoterapia. Ed. Editora Roca. 44
  • 37. ZANCHETA, Giselle Duailibe. Aleitamento materno e Fórmulas Infantis. Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS. Internato – 6º ano – Unidade de Gastroenterologia Pediátrica – HBDF. Orientadora: Dra. Eliza de Carvalho. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação: alimentação do lactente, alimentação do pré-escolar, alimentação do escolar, alimentação do adolescente, alimentação na escola / Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. - São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2006. 64 p. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília, 2009. p.112 – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23). Manual: Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. Ministério da Saúde. Ano 2010. 45