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GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO PARTE DO
     PROCESSO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA
               ORGANIZACIONAL

       KNOWLEDGE MANAGEMENT AS PART OF THE
      ORGANIZATIONAL COMPETITIVE INTELLIGENCE
                      PROCESS

                                           Marta Lígia Pomim Valentim*
                                            João Vítor Vieira Gelinski**


           Resumo

           A gestão do conhecimento (GC) é entendida como
           um importante recurso no processo de inteligência
           competitiva, porque trabalha os fluxos informais
           do processo. As estratégias usadas no âmbito da
           gestão do conhecimento possibilitam a construção
           de conhecimento de forma mais eficaz, assim como
           criam um contexto positivo para o
           compartilhamento dos ativos de conhecimento
           gerados pelas pessoas da organização. Finalmente,
           por meio de métodos e técnicas específicas da GC
           é possível criar uma cultura organizacional positiva



*
  Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo. Líder do Grupo de Pesquisa Informação, Conhecimento
e Inteligência Organizacional. Assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
da Universidade Estadual de Londrina. Professora do Departamento de Ciência da
Informação da Universidade Estadual de Londrina. valentim@uel.br
**
   Bolsista de Iniciação Científica. Membro do Grupo de Pesquisa Informação,
Conhecimento e Inteligência Organizacional. Graduando do Curso de
Biblioteconomia da Universidade Estadual de Londrina. jvitor@uel.br


Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005            41
em relação ao processo de inteligência competitiva,
          gerando vantagem competitiva organizacional.

Palavras-chave

GESTÃO DO CONHECIMENTO
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA
CULTURA ORGANIZACIONAL
CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO


1 INTRODUÇÃO

         A visão das abordagens gerenciais voltadas ao conhecimento co-
meçou a ser explorada pelas organizações, a partir do momento em que, no
contexto organizacional, valorizou-se a inteligência. Essa inteligência é re-
sultado de características próprias de cada organização, ou seja, é única.
         A inteligência competitiva (IC) é entendida como um processo
organizacional, que tem o propósito de descobrir oportunidades e reduzir
riscos, bem como conhecer o ambiente interno e externo à organização,
visando o estabelecimento de estratégias de ação a curto, médio e longo
prazo (VALENTIM et al., 2003, p.2).
         Kahaner citado por Miller (2002, p.34), afirma a necessidade de
se desenvolver um processo de inteligência como conseqüência da ve-
locidade dos processos de negócios, da sobrecarga de informações, do
crescimento global da competitividade, da agressividade da concorrên-
cia e das rápidas mudanças tecnológicas.
         O aproveitamento efetivo dos fluxos informacionais, formais
(gestão da informação) e informais (gestão do conhecimento), subsidi-
am a inteligência competitiva, permitindo segurança no processo de to-
mada de decisão, bem como auxilia o desenvolvimento e a melhoria dos
processos corporativos.

                             O processo de inteligência prospera no âmbito das
                             empresas que são transparentes com relação a elas

42           Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
próprias. Na verdade, se a maioria das empresas
                              soubessem o que já sabem, seriam todas inteligen-
                              tes (MILLER, 2002, p.43).

        O conhecimento humano é fundamental para o processo de
IC. É importante, nesse momento, conceituar o termo conhecimen-
to: “informação valiosa da mente humana, que inclui reflexão, sín-
tese e contexto, é de difícil estruturação, transferência e captura
em máquinas, bem como é freqüentemente tácito” (DAVENPORT,
1998, p.18).
        Entende-se gestão do conhecimento como um

                              conjunto de estratégias para criar, adquirir, com-
                              partilhar e utilizar ativos de conhecimento, bem
                              como estabelecer fluxos que garantam a informa-
                              ção necessária no tempo e formato adequados, a
                              fim de auxiliar na geração de idéias, solução de
                              problemas e tomada de decisão (VALENTIM, 2003,
                              p.1).

        No processo de inteligência competitiva, a gestão do conheci-
mento é responsável pelo gerenciamento do conhecimento produzido na
organização. Atua junto aos fluxos informais, e tem como foco o capital
intelectual ou capital humano da organização.
        De acordo com Choo (2003, p.30), o conhecimento reside na
mente dos indivíduos. No entanto, exige uma conversão e um
compartilhamento a fim de se consolidar como conhecimento.
        Choo (2003, p.33) enfatiza que a criação de significado se dá a
partir da interpretação do ambiente, permitindo aos membros da
corporação compreender melhor as mudanças e seu significado, com
isso conquistam uma maior segurança e visão estratégica.
        Construir conhecimento é uma atividade inerente ao ser huma-
no. Todos os indivíduos, no âmbito organizacional, têm diferentes neces-
sidades de informação e conhecimento para desenvolverem suas ativi-
dades. Para compreender essas necessidades resgatamos os cinco anéis
de Wurman (1995, p.48):


Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005        43
a) Informação interna - são as mensagens que governam nossos
         sistemas internos e possibilitam o funcionamento do nosso
         corpo. Aqui, a informação toma a forma de mensagens
         cerebrais;
       b) Informação conversacional - são as trocas formais e
         informais, as conversas que mantemos com as pessoas à nossa
         volta, sejam amigos, parentes, colegas de trabalho, estranhos
         na fila de embarque ou clientes em reuniões de negócios. A
         conversa – talvez por sua natureza informal – constitui uma
         importante fonte de informação;
       c) Informação de referência - aqui nos voltamos para a
         informação que opera os sistemas do nosso mundo – ciência e
         tecnologia – e, mais imediatamente, para os materiais de
         referência que usamos em nossa vida. A informação de
         referência pode ser qualquer coisa, desde um manual de física
         quântica até a lista telefônica ou o dicionário;
       d) Informação noticiosa - ela abrange os ventos da atualidade
         – a informação transmitida pela mídia sobre pessoas, lugares
         e acontecimentos que talvez não afetem diretamente a nossa
         vida, mas podem influenciar nossa visão de mundo;
       e) Informação cultural - esta é a forma menos quantificável.
         Abrange história, filosofia e artes, qualquer expressão de uma
         tentativa de compreender e acompanhar nossa civilização.
         Informações colhidas nos outros anéis são incorporadas aqui
         para construir o conjunto que determina nossas atitudes e
         crenças, bem como a natureza de nossa sociedade como um
         todo.

        O indivíduo absorve informações visando atender as suas ne-
cessidades de informação e conhecimento, que necessariamente preci-
sam ser atendidas, sob pena de causar stress ou ansiedade informacional.
        Para Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p. 105):

                            O processo de criação de conhecimento compre-
                            ende cinco fases – compartilhamento do conheci-
                            mento tácito, criação e conceitos, justificação de

44          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
conceitos, construção de protótipos, e nivelação
                              do conhecimento.

          Para compreender melhor a construção de conhecimento reali-
zada pelos indivíduos é necessário entender a dinâmica que a envolve.
Nesse sentido, divide-se o conhecimento em dois momentos: tácito e
explícito. O ‘conhecimento tácito’ está na mente humana, caracteriza-
se pelo conhecimento de mundo, pelas experiências vivenciadas, pelo
know-how adquirido e pelas competências essenciais consolidadas.
Qualifica-se ‘conhecimento explícito’ como aquele que está sistemati-
zado em algum tipo de suporte, seja impresso, eletrônico ou digital, por
isso mesmo, é de fácil acesso e compartilhamento.
          A construção de conhecimento exige do indivíduo algumas com-
petências, como: saber pensar; saber observar; saber estabelecer rela-
ções; saber questionar; saber aproveitar o conhecimento acumulado atra-
vés das experiências vivenciadas ao longo da vida; ter capacidade de
apreender; ter consciência da própria ignorância. Além disso, precisa de
condições cerebrais mínimas para exercitar as situações lógico-
sistêmicas. A partir dessas competências o indivíduo tem condições de
construir conhecimento, e a partir dessa construção, construir outro e
mais outro... em um movimento sem fim.
          Pode-se afirmar que o processo mental é dialógico em todos os
níveis, utiliza-se de funções, como por exemplo: associa/dissocia, isola/
relaciona, analisa/sintetiza, problematiza/soluciona, diversifica/unifica,
individualiza/coletiviza, percebe/representa etc. Essas funções são rea-
lizadas de forma complexa e utilizam estratégias cognitivas de modo a
filtrar, compreender e criar conhecimento.
          Morin (1999, p.97), falando sobre o cérebro, sintetizou: “Eis uma
máquina totalmente físico-química nas suas interações; totalmente bio-
lógica na sua organização; totalmente humana nas suas atividades
pensantes e conscientes”.
          O cérebro humano, mais especificamente o encéfalo é constitu-
ído por dois hemisférios, o esquerdo e o direito que se complementam,
mas ao mesmo tempo em que se complementam, se caracterizam de
forma diferenciada e privilegiam diferentes funções:


Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005      45
Quadro 1: Hemisférios do cérebro humano e suas funções


         É importante mencionar que a sociedade/cultura na qual o indi-
víduo está inserido é influenciadora no uso dos hemisférios. Na socieda-
de/cultura ocidental, por exemplo, existe uma tendência em privilegiar o
lado lógico, racional da criança. Essa condição sócio-cultural será
determinante quanto à maneira que o indivíduo fará suas ‘leituras’ de
mundo, bem como a forma que encaminhará suas ações.
         O conhecimento recebe também, uma influência direta da lin-
guagem, aqui entendida de forma lato, isto é, para criar conhecimento é
necessário reconhecer o significado (signo) e a representação (símbolo)
das coisas. A criação de conhecimento precisa necessariamente utilizar
a linguagem, pois de outro modo ela se perderá na mente humana. Por
isso, na gestão de conhecimento utiliza-se do jargão tácito/explícito, ou
seja, sem o explícito não é possível acessar o conhecimento do outro,
mas muitas vezes não é possível conhecer o próprio conhecimento.


2 CULTURA ORGANIZACIONAL VISANDO A GESTÃO
DE CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES

        A cultura organizacional entendida por Terra (2000), como re-
flexo das normas, padrões e valores que ajudam a interpretar o que é
apropriado e inapropriado no âmbito organizacional, permite-nos conhe-

46          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
cer quais são os valores agregados aos procedimentos da organização,
assim possibilita-nos explorar os ativos de forma expressiva.
         Com o desenvolvimento de uma cultura voltada ao processo de
gestão do conhecimento, facilita-se a superação dos obstáculos carac-
terizados por modelos hierárquico-burocráticos.
         Desse modo, evidencia-se que os sistemas tradicionais estão
cada vez mais obsoletos, e que na era da informação e do conhecimento
será agregado valor com base nas competências compartilhadas, fazen-
do-se também necessário um maior controle sobre os fluxos dos ativos
desse processo.
         Através dos quatro modos de conversão propostos por Nonaka
e Takeuschi (1997), pode-se criar um novo conhecimento com base em
um conhecimento já existente.
         Na socialização ocorre a transformação de conhecimento tácito
em outro do mesmo caráter. Nesse momento, o compartilhamento de
informações, conhecimento, experiências e modelos mentais, viabilizam-
se, por exemplo, por meio de seminários, treinamentos e brainstormings.
         Por meio da conversão de modelos mentais em conceitos, me-
táforas e analogias transformam-se o conhecimento tácito em explícito,
esta fase denomina-se ‘externalização’.
         A combinação trata da troca de informações já explicitadas, com
o auxílio das tecnologias da informação e diversas mídias, resultando em
protótipos e modelos reais.
         Por fim, a internalização baseada na prática dos membros da
organização permite aos indivíduos apreender, transformando a organi-
zação num espaço de saber, mais conhecida como ‘learning
organization’.
         Os quatro modelos de conversão do conhecimento apresenta-
dos visam à construção do chamado conhecimento organizacional, que
se traduz no capital intelectual da organização.
         A construção de conhecimento pressupõe uma cultura
organizacional favorável. Para exemplificar a importância disso, obser-
va-se uma situação muito comum em organizações: quando os executi-
vos chegam ao local de trabalho, geralmente, buscam um café e um
jornal. Naturalmente começam a ler as notícias, às vezes de forma ale-
atória, às vezes focados em questões ligadas à organização. No entanto,

Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005   47
se nesse momento, o chefe direto ou algum executivo de maior nível,
entrar no local em que essa ação está ocorrendo, certamente a pessoa
encerrará imediatamente a leitura e, provavelmente, será tomada por
um sentimento de vergonha, culpa ou de incômodo por estar lendo jor-
nal, mesmo que a leitura se referisse ao negócio da organização.
         Esta situação exemplifica bem a importância da cultura favorá-
vel à construção de conhecimento, porque mesmo que a organização
fomente uma atitude e um comportamento positivo em relação a isso, as
pessoas precisam realmente apropriar-se desse sentimento, ou seja, se
a pessoa acreditasse de fato que a leitura de jornal é importante para
que ela possa estabelecer relações entre as suas atividades e o negócio
da organização, não sentiria vergonha, culpa ou se incomodaria por es-
tar lendo. Ao contrário, estaria absolutamente tranqüila em relação à
ação ‘ler jornal’.
         Além da cultura organizacional favorável, a organização tam-
bém precisa de um ambiente físico favorável, isto é, organizações com
muitas paredes/divisórias, mesas/armários etc., sem perceber bloque-
iam a socialização do conhecimento. Por exemplo, um setor de trabalho
composto por quatro pessoas, com uma única mesa de reunião é mais
favorável à construção de conhecimento, do que cada indivíduo possuir
uma mesa de trabalho própria.
         Socializar conhecimento é fundamental para o processo de cons-
trução de conhecimento. Somente é possível socializar conhecimento,
quando o indivíduo se apropria de informação (conhecimento explícito),
estabelece relações com seu próprio conhecimento (conhecimento táci-
to) e novamente o socializa ao grupo. Esse movimento é que possibilita
a construção do conhecimento organizacional, uma vez que ele ocorre
no espaço corporativo.
         Algumas organizações preocupadas com o dinamismo desse
movimento criaram ambientes/espaços físicos que propiciam as pesso-
as a interagirem entre si. Espaços próprios são criados, visando a
integração entre as pessoas e o desenvolvimento da criatividade indivi-
dual e do grupo. Esses espaços dependem essencialmente do tipo de
negócio da organização. Por exemplo, se uma organização atua na área
de jogos eletrônicos, será necessário criar espaços que fomentem a
criatividade das pessoas. Além disso, o contato com crianças e adoles-

48          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
centes é fundamental, pois serão os consumidores dos produtos gera-
dos, por isso será necessário criar espaços tanto dentro, como fora da
organização que possibilitem o contato de forma efetiva e, mais do que
isso, possibilitem a troca de informações úteis a criação e construção de
novos conhecimentos.
         Além da cultura e de espaços físicos favoráveis à construção de
conhecimento, a organização precisa incentivar de forma efetiva o com-
portamento positivo das pessoas em relação à socialização de conheci-
mento. Isso significa, que as pessoas que de fato atuam nesse paradigma,
devem de alguma forma ser premiadas pela organização. O tipo de
premiação é uma escolha da própria organização, e deve estar de acordo
com a cultura organizacional daquele contexto corporativo. Pode-se citar
como exemplos: viagens nacionais e internacionais, equipamentos eletrô-
nicos, cursos de capacitação, objetos de consumo, aumentos salariais,
participação nos lucros, recebimento de ações da empresa etc.
         A construção de conhecimento pressupõe atitudes voltadas a:
‘aprender a aprender’, ‘aprender a pensar’ e ‘aprender a questionar’.
Por outro lado, a socialização do conhecimento pressupõe atitudes vol-
tadas a: ‘aprender a compartilhar’, ‘aprender a compreender’ e ‘apren-
der a diversidade intelectual’ (MORIN, 2002, p.75-78).
         O homem é um ser social, por isso, a construção de conheci-
mento ocorre na mente humana, a partir de uma cultura/sociedade. Por-
tanto, a construção de conhecimento será sempre uma construção
advinda do conhecimento de mundo próprio, mas repleto de signos e
símbolos de uma determinada cultura/sociedade. A organização tam-
bém influenciará na construção de conhecimento, uma vez que ela pos-
sui sua própria cultura, naturalmente recortada da sociedade na qual
está inserida.
         O homem somente constrói conhecimento, porque é capaz de
consolidá-lo através da linguagem (signos e símbolos), ou seja, a cons-
trução de conhecimento necessita do movimento tácito/explícito, pois é
através dele que é possível a geração de um novo conhecimento.
Maturana e Varela (2001, p.270) sintetizam muito bem esses aspectos:

                              Não é o conhecimento, mas sim o conhecimento
                              do conhecimento, que cria o comprometimento.

Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005   49
Não é saber que a bomba mata, e sim saber o que
                            queremos fazer com ela que determina se a fare-
                            mos explodir ou não. Em geral, ignoramos ou fingi-
                            mos desconhecer isso, para evitar a responsabili-
                            dade que nos cabe em todos os nossos atos coti-
                            dianos, já que todos estes – sem exceção – contri-
                            buem para formar o mundo em que existimos [...].



3 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

        A informação matéria-prima fundamental para o processo de
inteligência competitiva, também é a base para a construção de conhe-
cimento nos indivíduos. Nesse sentido, é importante resgatar os concei-
tos, sobre os termos dados, informação e conhecimento:

                            dados são simples observações sobre o estado do
                            mundo, são facilmente estruturados, obtidos por
                            máquinas, freqüentemente quantificados e facil-
                            mente transferidos; informação são dados dota-
                            dos de relevância e propósito, requer unidade de
                            análise, exige consenso em relação ao significado
                            e necessariamente exige a mediação humana; co-
                            nhecimento é a informação valiosa da mente hu-
                            mana, inclui reflexão, síntese e contexto, além dis-
                            so é de difícil estruturação, transferência e captura
                            em máquinas, bem como é freqüentemente tácito
                            (DAVENPORT, 1998, p.18).

        A informação é entendida, portanto, como algo que deve ser com-
preendida pelo indivíduo, para que de fato seja considerada informação.
Os dados apenas contribuem para a construção do conhecimento, quando
por algum motivo, o indivíduo armazena-os em sua memória, caso contrá-
rio os dados serão usados naquele momento e, em seguida, descartados.
        O conhecimento construído pelos indivíduos, requer necessaria-
mente de uma estruturação e, posterior, gravação na estrutura cerebral.
Carter (2003, p.314) afirma que

50          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
Cada fragmento é despachado para uma parte di-
                              ferente de nossa vasta biblioteca interna. Mas, à
                              noite, quando o corpo descansa, esses fragmen-
                              tos são tirados para fora do armazém, remontados
                              e reprisados. Cada repassagem as grava mais fun-
                              do na estrutura neural até chegar um momento em
                              que as memórias e a pessoa que as guarda são
                              efetivamente a mesma coisa.

        Assim sendo, a informação necessariamente precisa ser com-
preendida, de modo que seja possível estabelecer relações/conexões
entre o que se está absorvendo e o que existe acumulado na estrutura
neural de um determinado indivíduo. Isso funciona do ponto de vista que
aquela nova informação apreendida pelo indivíduo, será relacionada a
outras existentes, assim, propiciará uma reação em cadeia, permitindo
ao cérebro ações químicas que possibilitem a gravação daquela infor-
mação de forma eficiente, tornando-a parte da memória.
        Carter (2003, p.316-317) também afirma que esse processo
denomina-se de “potencialização de longo prazo”, explica que isso ocor-
re porque

                              a cada vez que um grupo de neurônios dispara
                              junto, a tendência de o fazer novamente é aumen-
                              tada [...] Quanto mais rápido um neurônio disparar,
                              maior a carga elétrica que atira para fora e maior a
                              probabilidade de deflagrar seu vizinho. Uma vez
                              que o vizinho tiver sido incitado a disparar, ocorre
                              uma alteração química na sua superfície que o dei-
                              xa mais sensível à estimulação pelo mesmo vizinho
                              [...] Se a célula vizinha não for novamente estimu-
                              lada, ela permanecerá nesse estado de prontidão
                              por horas, talvez dias. Se a primeira célula voltar a
                              disparar durante o período, o vizinho poderá res-
                              ponder mesmo se a taxa de disparos da célula ‘nú-
                              mero um’ for relativamente baixa. Um segundo dis-
                              paro a torna ainda mais receptiva, e assim por di-
                              ante. Finalmente, a disparada sincrônica repetida
                              une os neurônios de tal maneira que uma mínima

Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005           51
atividade em um fará com que todos aqueles que
                            se tornaram associados a ele também disparem.
                            Formou-se a memória.

        A informação, conforme mencionado anteriormente, deve obri-
gatoriamente ser significativa para ser absorvida. Um indivíduo que não
lê japonês, certamente, não conseguirá entender do que se trata um
documento redigido nesta língua, portanto, não compreenderá seu con-
teúdo. O cérebro humano possui uma área cortical para cada sentido.
Ela

                            É formada por uma colcha de retalhos de regiões
                            menores, cada uma das quais lida com uma faceta
                            específica da percepção sensorial [...] Uma vez que
                            as informações de entrada tiverem sido reunidas
                            nessas áreas, elas serão retransmitidas para frente
                            para grandes regiões corticais conhecidas como
                            áreas de associação. Aqui, as percepções sensori-
                            ais são casadas com associações cognitivas apro-
                            priadas – a percepção de uma faca, por exemplo, é
                            juntada aos conceitos de esfaquear, comer, fatiar e
                            assim sucessivamente. É somente nesse estágio
                            que as informações de entrada se tornam uma per-
                            cepção plenamente desenvolvida, significativa
                            (CARTER, 2003, p.213).

         Por esse motivo, cada indivíduo constrói o conhecimento de
maneira única, uma vez que a informação, mesmo quando recebida por
várias pessoas, em um mesmo momento/contexto, será associada dife-
rentemente por cada indivíduo. Portanto, o conhecimento é construído
individualmente. No entanto, é importante lembrar que a linguagem (es-
crita e falada) é um mecanismo importantíssimo para a construção de
conhecimento, pois por meio dela ocorre a retroalimentação das estru-
turas informacionais do mundo, se a informação é a matéria-prima do
conhecimento, o ciclo sempre se renova.
         O paradoxo existe pelo fato de que, apesar do conhecimento ser
construído individualmente, ele somente será conhecimento, se e quan-

52          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
do o indivíduo sistematizá-lo para si próprio e para os outros, pois é a
partir da sistematização por meio da linguagem (escrita e falada) que de
fato o conhecimento será criado. Esse fato é o que nos diferencia das
outras raças, pois somente o homem é capaz de fazê-lo, com tamanha
competência.
         A linguagem é fundamental para a construção do conhecimen-
to, uma vez que “o significado de uma palavra representa um amálgama
tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se
trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento”
(VIGOTSKY, 1998, p.150).
         A construção do conhecimento é entendida como um processo
dinâmico, sem fim, do qual a linguagem faz parte. É a linguagem que
consolida, de fato, o novo conhecimento. “O pensamento não é simples-
mente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir”
(VIGOTSKY, 1998, p.156).
         As associações são feitas individualmente, por isso mesmo, o
conhecimento construído é individual e único. Como exemplo, pode-se
citar que dois indivíduos, nascidos na mesma família, com a mesma edu-
cação, o mesmo meio social e econômico, a mesma trajetória de vida,
com experiências vivenciadas conjuntamente, não produzirão o mesmo
conhecimento.
         Nesse sentido, as organizações devem adotar modelos de ges-
tão, como por exemplo, a gestão do conhecimento, visando apoiar o
compartilhamento de conhecimento gerado por cada indivíduo, no espa-
ço corporativo, de forma a possibilitar maior socialização e integração,
buscando obviamente obter resultados positivos para o negócio da orga-
nização.
         Alguns acreditam que isso é extorquir o bem mais valioso dos
indivíduos, a inteligência. No entanto, uma cultura voltada para o
compartilhamento e socialização do conhecimento, beneficia a todos,
uma vez que a troca possibilita também o acesso ao conhecimento gera-
do por outros indivíduos. Nesse caso, todos ganham. Se analisarmos
que a ciência é construída dessa forma, qual seja, o acesso ao conheci-
mento gerado por diferentes indivíduos, e que somente por esse motivo,
foi possível a humanidade avançar tanto, podemos entender o quanto
isso representa para uma organização.

Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005   53
4 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E MEDIAÇÃO

        O processo de inteligência competitiva apóia-se na gestão da
informação e na gestão do conhecimento para desenvolver sua ativida-
des. Existem correntes teóricas que não acreditam na gestão do conhe-
cimento, simplesmente pelo fato de que o conhecimento está na cabeça
das pessoas. No entanto, se entendermos gestão do conhecimento como
um conjunto de estratégias de ação que visam fomentar a criação, o
compartilhamento/socialização e a retroalimentação do conhecimento
humano, em um determinado espaço organizacional, sem dúvida nenhu-
ma a gestão do conhecimento é possível.
        “A transmissão racional e intencional de experiência e pensa-
mento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala hu-
mana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho”
(VIGOTSKY, 1998, p.7).
        Partindo-se desse pressuposto, pode-se afirmar que o co-
nhecimento gerado por meio de experiências vivenciadas, bem como
as reflexões advindas dessa experiência vivenciada, possibilitam
uma necessidade humana de expô-las a outro. Certamente, em
muitos casos, a fala será o canal de distribuição utilizado. Contudo,
outras vezes, a escrita será o canal utilizado. Se isso é verdade,
várias ações estratégicas podem ser desenvolvidas buscando atin-
gir esse objetivo.
        No espaço organizacional o conhecimento de cada indivíduo é
extremamente importante e requer ser comunicado. A comunicação por
sua vez, requer uma mediação eficiente, caso contrário, a comunicação
será realizada, mas sem um resultado eficaz.
        Isso significa que a mediação tem importante papel na ges-
tão do conhecimento, pois uma pessoa ou equipe terá de ser res-
ponsável pela organicidade e logicidade do conhecimento gerado
pelos indivíduos da organização, visando sua distribuição aos de-
mais. Se fizermos uma analogia com o que ocorre no cérebro hu-
mano, em relação aos dados e informações apreendidos durante o
dia, sabemos que a organização desses dados e informações ocor-
re enquanto o indivíduo dorme. No dia seguinte, todos os dados e


54         Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
informações apreendidos no dia anterior, estarão catalogados e clas-
sificados, de modo que poderão ser acessados quando necessário
pelo indivíduo. Nesse caso, o próprio organismo realizou a media-
ção entre o conhecimento existente e o novo conhecimento apre-
endido/assimilado, conferindo, organizando, sistematizando, esta-
belecendo relações etc.
         Voltando ao espaço organizacional, a mediação exige, sem dúvi-
da alguma, uma linguagem que possa ser compreendida por todos os
indivíduos da organização, assim como deve ter consistência quanto ao
seu significado, caso contrário o conhecimento não será compreendido
e assimilado por todos.
         O conhecimento gerado por cada indivíduo carrega suas cren-
ças, seus valores etc., por esse motivo é necessário realizar uma releitura
do significado das falas/palavras, buscando dar consistência antes de
efetuar o compartilhamento/socialização.
         Desenvolver a fala e a escrita dos indivíduos da organização é
uma ação concreta que pode fomentar o compartilhamento/socialização
do conhecimento. É claro que neste caso, estamos nos referindo a ca-
pacidade de expor com clareza as idéias e as reflexões, tanto oralmente
quanto por meio da escrita. É importante mencionar que a escrita exige
do indivíduo, maior capacidade analítica, pois precisa traduzir de forma
clara a situação que se quer informar.
         Outra ação concreta que pode ser desenvolvida se refere as
estruturas de comunicação disponibilizadas aos indivíduos da organiza-
ção. Exatamente, por esse motivo, as tecnologias de informação e co-
municação são tão importantes para a gestão do conhecimento, pois
ajudam enormemente seu gerenciamento.
         A construção de terminologias de especialidade voltadas ao ne-
gócio da organização é outra ação concreta, que auxilia a gestão do
conhecimento, propiciando maior consistência à linguagem utilizada pe-
las pessoas da organização e, por conseqüência, maior compreensão e
assimilação.
         Enfim, as ações concretas que podem ser desencadeadas,
objetivando a gestão do conhecimento são inúmeras, e o mais importan-
te é entender o significado da mediação nesse processo.


Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005   55
5 GESTÃO DO CONHECIMENTO NO PROCESSO DE
 TOMADA DE DECISÃO

         A tomada de decisão implica necessariamente no comprometi-
mento com o desenvolvimento da ação. Sendo assim, exige racionalidade
a fim de buscar segurança e diminuição de riscos.
         Nesse momento, verificam-se duas possibilidades: a opção
por uma solução satisfatória e a opção pela melhor solução. Choo
(2003) afirma que a primeira alternativa se caracteriza por atender
aos critérios mínimos de satisfação. Por outro lado, a segunda, mos-
tra-se superior a todas as outras, quando comparadas aos critérios
de satisfação.
         Sob esse aspecto também entram em questão as simplificações
cognitivas, que de forma sintética tratam da generalização de crenças e
expectativas com a finalidade de baixar a incerteza e aumentar a proba-
bilidade.
         Choo (2003), expõe o perigo de se adotar esses procedimen-
tos quando da tomada de decisão, pois apesar de diminuírem o esforço
mental necessário para se fazer uma escolha, podem levar a erros de
julgamento.
         Para que de fato isso aconteça, as intenções da organização
devem ser bem definidas quanto ao favorecimento de uma autonomia
aos indivíduos. O caos criativo pode ser favorável, na medida em que
propicia a formulação de novos conceitos, e a redundância que deve ser
encarada como a disponibilização da informação, mesmo onde ela não é
requisitada, deve ser implementada com equilíbrio evitando assim so-
brecarregar as tarefas e prejudicar as operações organizacionais.
         É importante ressaltar que o processo de criação de conheci-
mento é fundamentado na criatividade e estimulação do caráter imagi-
nativo nos indivíduos, para tanto, deve-se fomentar um ambiente
corporativo capacitante.
         Percebe-se que a maioria das empresas ainda tem uma estrutu-
ra baseada no modelo hierárquico-burocrático, com acentuadas funções
técnicas e grande controle por parte da alta administração.


56          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
6 CONCLUSÃO

         A gestão do conhecimento é extremamente importante para a
dinâmica do processo de inteligência competitiva. Por meio dela, os flu-
xos informais são trabalhados e permitem as pessoas da organização
uma interação e um compartilhamento de informação e conhecimento.
         A organização deve se valer de modelos de gestão do conheci-
mento, de modo a propiciar um contexto corporativo capacitante, e cri-
ador de conhecimento organizacional, resultando no crescimento indivi-
dual e coletivo.
         Além disso, a organização que atuar nesse paradigma, estará
criando um ambiente colaborativo voltado ao sucesso do negócio, capa-
citando a própria organização para a competitividade internacional.
         É importante mencionar também, que esse modelo de gestão
não será um diferencial, mas sim uma exigência para a sobrevivência da
organização.
         A gestão do conhecimento necessita de variáveis e contextos
que somente são possíveis a partir do comprometimento da alta admi-
nistração. No entanto, cada ator desse processo é tão importante quan-
to as variáveis e contextos adequados, ou seja, é um processo complexo
que deve considerar todos os elementos fundamentais, de maneira equi-
librada, para o seu sucesso.

           Abstract

           The Knowledge Management (KM) is taken as
           an important tool in the process of competitive
           intelligence, for it works with the informal
           stream of the process. The strategies used in
           the area of knowledge management make the
           formation of a well supported knowledge
           possible and create a positive environment to
           the sharing of knowledge actives generated by
           the people involved in the organization.
           Finally, through      specific methods and

Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005   57
techniques from the KM it is possible to create
         a positive organizational culture towards the
         competitive intelligence process generating
         organizational competitive advantages.


Keywords

KNOWLEDGE MANAGEMENT
COMPETITIVE INTELLIGENCE
ORGANIZATIONAL CULTURE
KNOWLEDGE FORMATION


REFERÊNCIAS

CARTER, R. O livro de ouro da mente: o funcionamento e os mistérios
do cérebro humano. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 431p.
CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações
usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar
decisões. São Paulo: Senac, 2003. 425p.
DAVENPORT, T. Ecologia da informação: por que só a tecnologia
não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura,
1998. 316p.
MATURANA, H. R; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento: as
bases da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. 283p.
MILLER, J. P. O milênio da inteligência competitiva. Porto Alegre:
Bookman, 2002. 293p.
MORIN, E. O método 3: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre:
Sulina, 1999. 288p.
________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6.ed.
São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2002. 118p.


58          Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na
empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 376p.
TERRA, J. C. C. Gestão do conhecimento: o grande desafio
empresarial. São Paulo: Negócio, 2000. 283p.
VALENTIM, M. L. P. Cultura organizacional e gestão do
conhecimento. InfoHome, Londrina, 2003. 2p. Disponível em: <http://
www.ofaj.com.br/colunaicgc_mv_0303.html>. Acesso em: 29 set. 2004.
VALENTIM, M. L. P. et al. O processo de inteligência competitiva em
organizações. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 1-23, jun.
2003. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/jun03/Art_03.htm>. Acesso
em: 03 de jul. 2003.
VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998. 194p.
VON KROGH, G.; ICHIJO, K.; NONAKA, I. Facilitando a criação
de conhecimento: reinventando a empresa com o poder da inovação
contínua. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 350p.
WURMAN, R. S. Ansiedade de informação: como transformar
informação em compreensão. 5.ed. São Paulo: Cultura Editores, 1995.
380p.




Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005   59

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Gestão do Conhecimento - Sistemas de Informação (FEI - 1º sem/2013)
 
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  • 1. GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO PARTE DO PROCESSO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA ORGANIZACIONAL KNOWLEDGE MANAGEMENT AS PART OF THE ORGANIZATIONAL COMPETITIVE INTELLIGENCE PROCESS Marta Lígia Pomim Valentim* João Vítor Vieira Gelinski** Resumo A gestão do conhecimento (GC) é entendida como um importante recurso no processo de inteligência competitiva, porque trabalha os fluxos informais do processo. As estratégias usadas no âmbito da gestão do conhecimento possibilitam a construção de conhecimento de forma mais eficaz, assim como criam um contexto positivo para o compartilhamento dos ativos de conhecimento gerados pelas pessoas da organização. Finalmente, por meio de métodos e técnicas específicas da GC é possível criar uma cultura organizacional positiva * Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Líder do Grupo de Pesquisa Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional. Assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Londrina. Professora do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. valentim@uel.br ** Bolsista de Iniciação Científica. Membro do Grupo de Pesquisa Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional. Graduando do Curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual de Londrina. jvitor@uel.br Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 41
  • 2. em relação ao processo de inteligência competitiva, gerando vantagem competitiva organizacional. Palavras-chave GESTÃO DO CONHECIMENTO INTELIGÊNCIA COMPETITIVA CULTURA ORGANIZACIONAL CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO 1 INTRODUÇÃO A visão das abordagens gerenciais voltadas ao conhecimento co- meçou a ser explorada pelas organizações, a partir do momento em que, no contexto organizacional, valorizou-se a inteligência. Essa inteligência é re- sultado de características próprias de cada organização, ou seja, é única. A inteligência competitiva (IC) é entendida como um processo organizacional, que tem o propósito de descobrir oportunidades e reduzir riscos, bem como conhecer o ambiente interno e externo à organização, visando o estabelecimento de estratégias de ação a curto, médio e longo prazo (VALENTIM et al., 2003, p.2). Kahaner citado por Miller (2002, p.34), afirma a necessidade de se desenvolver um processo de inteligência como conseqüência da ve- locidade dos processos de negócios, da sobrecarga de informações, do crescimento global da competitividade, da agressividade da concorrên- cia e das rápidas mudanças tecnológicas. O aproveitamento efetivo dos fluxos informacionais, formais (gestão da informação) e informais (gestão do conhecimento), subsidi- am a inteligência competitiva, permitindo segurança no processo de to- mada de decisão, bem como auxilia o desenvolvimento e a melhoria dos processos corporativos. O processo de inteligência prospera no âmbito das empresas que são transparentes com relação a elas 42 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 3. próprias. Na verdade, se a maioria das empresas soubessem o que já sabem, seriam todas inteligen- tes (MILLER, 2002, p.43). O conhecimento humano é fundamental para o processo de IC. É importante, nesse momento, conceituar o termo conhecimen- to: “informação valiosa da mente humana, que inclui reflexão, sín- tese e contexto, é de difícil estruturação, transferência e captura em máquinas, bem como é freqüentemente tácito” (DAVENPORT, 1998, p.18). Entende-se gestão do conhecimento como um conjunto de estratégias para criar, adquirir, com- partilhar e utilizar ativos de conhecimento, bem como estabelecer fluxos que garantam a informa- ção necessária no tempo e formato adequados, a fim de auxiliar na geração de idéias, solução de problemas e tomada de decisão (VALENTIM, 2003, p.1). No processo de inteligência competitiva, a gestão do conheci- mento é responsável pelo gerenciamento do conhecimento produzido na organização. Atua junto aos fluxos informais, e tem como foco o capital intelectual ou capital humano da organização. De acordo com Choo (2003, p.30), o conhecimento reside na mente dos indivíduos. No entanto, exige uma conversão e um compartilhamento a fim de se consolidar como conhecimento. Choo (2003, p.33) enfatiza que a criação de significado se dá a partir da interpretação do ambiente, permitindo aos membros da corporação compreender melhor as mudanças e seu significado, com isso conquistam uma maior segurança e visão estratégica. Construir conhecimento é uma atividade inerente ao ser huma- no. Todos os indivíduos, no âmbito organizacional, têm diferentes neces- sidades de informação e conhecimento para desenvolverem suas ativi- dades. Para compreender essas necessidades resgatamos os cinco anéis de Wurman (1995, p.48): Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 43
  • 4. a) Informação interna - são as mensagens que governam nossos sistemas internos e possibilitam o funcionamento do nosso corpo. Aqui, a informação toma a forma de mensagens cerebrais; b) Informação conversacional - são as trocas formais e informais, as conversas que mantemos com as pessoas à nossa volta, sejam amigos, parentes, colegas de trabalho, estranhos na fila de embarque ou clientes em reuniões de negócios. A conversa – talvez por sua natureza informal – constitui uma importante fonte de informação; c) Informação de referência - aqui nos voltamos para a informação que opera os sistemas do nosso mundo – ciência e tecnologia – e, mais imediatamente, para os materiais de referência que usamos em nossa vida. A informação de referência pode ser qualquer coisa, desde um manual de física quântica até a lista telefônica ou o dicionário; d) Informação noticiosa - ela abrange os ventos da atualidade – a informação transmitida pela mídia sobre pessoas, lugares e acontecimentos que talvez não afetem diretamente a nossa vida, mas podem influenciar nossa visão de mundo; e) Informação cultural - esta é a forma menos quantificável. Abrange história, filosofia e artes, qualquer expressão de uma tentativa de compreender e acompanhar nossa civilização. Informações colhidas nos outros anéis são incorporadas aqui para construir o conjunto que determina nossas atitudes e crenças, bem como a natureza de nossa sociedade como um todo. O indivíduo absorve informações visando atender as suas ne- cessidades de informação e conhecimento, que necessariamente preci- sam ser atendidas, sob pena de causar stress ou ansiedade informacional. Para Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p. 105): O processo de criação de conhecimento compre- ende cinco fases – compartilhamento do conheci- mento tácito, criação e conceitos, justificação de 44 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 5. conceitos, construção de protótipos, e nivelação do conhecimento. Para compreender melhor a construção de conhecimento reali- zada pelos indivíduos é necessário entender a dinâmica que a envolve. Nesse sentido, divide-se o conhecimento em dois momentos: tácito e explícito. O ‘conhecimento tácito’ está na mente humana, caracteriza- se pelo conhecimento de mundo, pelas experiências vivenciadas, pelo know-how adquirido e pelas competências essenciais consolidadas. Qualifica-se ‘conhecimento explícito’ como aquele que está sistemati- zado em algum tipo de suporte, seja impresso, eletrônico ou digital, por isso mesmo, é de fácil acesso e compartilhamento. A construção de conhecimento exige do indivíduo algumas com- petências, como: saber pensar; saber observar; saber estabelecer rela- ções; saber questionar; saber aproveitar o conhecimento acumulado atra- vés das experiências vivenciadas ao longo da vida; ter capacidade de apreender; ter consciência da própria ignorância. Além disso, precisa de condições cerebrais mínimas para exercitar as situações lógico- sistêmicas. A partir dessas competências o indivíduo tem condições de construir conhecimento, e a partir dessa construção, construir outro e mais outro... em um movimento sem fim. Pode-se afirmar que o processo mental é dialógico em todos os níveis, utiliza-se de funções, como por exemplo: associa/dissocia, isola/ relaciona, analisa/sintetiza, problematiza/soluciona, diversifica/unifica, individualiza/coletiviza, percebe/representa etc. Essas funções são rea- lizadas de forma complexa e utilizam estratégias cognitivas de modo a filtrar, compreender e criar conhecimento. Morin (1999, p.97), falando sobre o cérebro, sintetizou: “Eis uma máquina totalmente físico-química nas suas interações; totalmente bio- lógica na sua organização; totalmente humana nas suas atividades pensantes e conscientes”. O cérebro humano, mais especificamente o encéfalo é constitu- ído por dois hemisférios, o esquerdo e o direito que se complementam, mas ao mesmo tempo em que se complementam, se caracterizam de forma diferenciada e privilegiam diferentes funções: Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 45
  • 6. Quadro 1: Hemisférios do cérebro humano e suas funções É importante mencionar que a sociedade/cultura na qual o indi- víduo está inserido é influenciadora no uso dos hemisférios. Na socieda- de/cultura ocidental, por exemplo, existe uma tendência em privilegiar o lado lógico, racional da criança. Essa condição sócio-cultural será determinante quanto à maneira que o indivíduo fará suas ‘leituras’ de mundo, bem como a forma que encaminhará suas ações. O conhecimento recebe também, uma influência direta da lin- guagem, aqui entendida de forma lato, isto é, para criar conhecimento é necessário reconhecer o significado (signo) e a representação (símbolo) das coisas. A criação de conhecimento precisa necessariamente utilizar a linguagem, pois de outro modo ela se perderá na mente humana. Por isso, na gestão de conhecimento utiliza-se do jargão tácito/explícito, ou seja, sem o explícito não é possível acessar o conhecimento do outro, mas muitas vezes não é possível conhecer o próprio conhecimento. 2 CULTURA ORGANIZACIONAL VISANDO A GESTÃO DE CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES A cultura organizacional entendida por Terra (2000), como re- flexo das normas, padrões e valores que ajudam a interpretar o que é apropriado e inapropriado no âmbito organizacional, permite-nos conhe- 46 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 7. cer quais são os valores agregados aos procedimentos da organização, assim possibilita-nos explorar os ativos de forma expressiva. Com o desenvolvimento de uma cultura voltada ao processo de gestão do conhecimento, facilita-se a superação dos obstáculos carac- terizados por modelos hierárquico-burocráticos. Desse modo, evidencia-se que os sistemas tradicionais estão cada vez mais obsoletos, e que na era da informação e do conhecimento será agregado valor com base nas competências compartilhadas, fazen- do-se também necessário um maior controle sobre os fluxos dos ativos desse processo. Através dos quatro modos de conversão propostos por Nonaka e Takeuschi (1997), pode-se criar um novo conhecimento com base em um conhecimento já existente. Na socialização ocorre a transformação de conhecimento tácito em outro do mesmo caráter. Nesse momento, o compartilhamento de informações, conhecimento, experiências e modelos mentais, viabilizam- se, por exemplo, por meio de seminários, treinamentos e brainstormings. Por meio da conversão de modelos mentais em conceitos, me- táforas e analogias transformam-se o conhecimento tácito em explícito, esta fase denomina-se ‘externalização’. A combinação trata da troca de informações já explicitadas, com o auxílio das tecnologias da informação e diversas mídias, resultando em protótipos e modelos reais. Por fim, a internalização baseada na prática dos membros da organização permite aos indivíduos apreender, transformando a organi- zação num espaço de saber, mais conhecida como ‘learning organization’. Os quatro modelos de conversão do conhecimento apresenta- dos visam à construção do chamado conhecimento organizacional, que se traduz no capital intelectual da organização. A construção de conhecimento pressupõe uma cultura organizacional favorável. Para exemplificar a importância disso, obser- va-se uma situação muito comum em organizações: quando os executi- vos chegam ao local de trabalho, geralmente, buscam um café e um jornal. Naturalmente começam a ler as notícias, às vezes de forma ale- atória, às vezes focados em questões ligadas à organização. No entanto, Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 47
  • 8. se nesse momento, o chefe direto ou algum executivo de maior nível, entrar no local em que essa ação está ocorrendo, certamente a pessoa encerrará imediatamente a leitura e, provavelmente, será tomada por um sentimento de vergonha, culpa ou de incômodo por estar lendo jor- nal, mesmo que a leitura se referisse ao negócio da organização. Esta situação exemplifica bem a importância da cultura favorá- vel à construção de conhecimento, porque mesmo que a organização fomente uma atitude e um comportamento positivo em relação a isso, as pessoas precisam realmente apropriar-se desse sentimento, ou seja, se a pessoa acreditasse de fato que a leitura de jornal é importante para que ela possa estabelecer relações entre as suas atividades e o negócio da organização, não sentiria vergonha, culpa ou se incomodaria por es- tar lendo. Ao contrário, estaria absolutamente tranqüila em relação à ação ‘ler jornal’. Além da cultura organizacional favorável, a organização tam- bém precisa de um ambiente físico favorável, isto é, organizações com muitas paredes/divisórias, mesas/armários etc., sem perceber bloque- iam a socialização do conhecimento. Por exemplo, um setor de trabalho composto por quatro pessoas, com uma única mesa de reunião é mais favorável à construção de conhecimento, do que cada indivíduo possuir uma mesa de trabalho própria. Socializar conhecimento é fundamental para o processo de cons- trução de conhecimento. Somente é possível socializar conhecimento, quando o indivíduo se apropria de informação (conhecimento explícito), estabelece relações com seu próprio conhecimento (conhecimento táci- to) e novamente o socializa ao grupo. Esse movimento é que possibilita a construção do conhecimento organizacional, uma vez que ele ocorre no espaço corporativo. Algumas organizações preocupadas com o dinamismo desse movimento criaram ambientes/espaços físicos que propiciam as pesso- as a interagirem entre si. Espaços próprios são criados, visando a integração entre as pessoas e o desenvolvimento da criatividade indivi- dual e do grupo. Esses espaços dependem essencialmente do tipo de negócio da organização. Por exemplo, se uma organização atua na área de jogos eletrônicos, será necessário criar espaços que fomentem a criatividade das pessoas. Além disso, o contato com crianças e adoles- 48 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 9. centes é fundamental, pois serão os consumidores dos produtos gera- dos, por isso será necessário criar espaços tanto dentro, como fora da organização que possibilitem o contato de forma efetiva e, mais do que isso, possibilitem a troca de informações úteis a criação e construção de novos conhecimentos. Além da cultura e de espaços físicos favoráveis à construção de conhecimento, a organização precisa incentivar de forma efetiva o com- portamento positivo das pessoas em relação à socialização de conheci- mento. Isso significa, que as pessoas que de fato atuam nesse paradigma, devem de alguma forma ser premiadas pela organização. O tipo de premiação é uma escolha da própria organização, e deve estar de acordo com a cultura organizacional daquele contexto corporativo. Pode-se citar como exemplos: viagens nacionais e internacionais, equipamentos eletrô- nicos, cursos de capacitação, objetos de consumo, aumentos salariais, participação nos lucros, recebimento de ações da empresa etc. A construção de conhecimento pressupõe atitudes voltadas a: ‘aprender a aprender’, ‘aprender a pensar’ e ‘aprender a questionar’. Por outro lado, a socialização do conhecimento pressupõe atitudes vol- tadas a: ‘aprender a compartilhar’, ‘aprender a compreender’ e ‘apren- der a diversidade intelectual’ (MORIN, 2002, p.75-78). O homem é um ser social, por isso, a construção de conheci- mento ocorre na mente humana, a partir de uma cultura/sociedade. Por- tanto, a construção de conhecimento será sempre uma construção advinda do conhecimento de mundo próprio, mas repleto de signos e símbolos de uma determinada cultura/sociedade. A organização tam- bém influenciará na construção de conhecimento, uma vez que ela pos- sui sua própria cultura, naturalmente recortada da sociedade na qual está inserida. O homem somente constrói conhecimento, porque é capaz de consolidá-lo através da linguagem (signos e símbolos), ou seja, a cons- trução de conhecimento necessita do movimento tácito/explícito, pois é através dele que é possível a geração de um novo conhecimento. Maturana e Varela (2001, p.270) sintetizam muito bem esses aspectos: Não é o conhecimento, mas sim o conhecimento do conhecimento, que cria o comprometimento. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 49
  • 10. Não é saber que a bomba mata, e sim saber o que queremos fazer com ela que determina se a fare- mos explodir ou não. Em geral, ignoramos ou fingi- mos desconhecer isso, para evitar a responsabili- dade que nos cabe em todos os nossos atos coti- dianos, já que todos estes – sem exceção – contri- buem para formar o mundo em que existimos [...]. 3 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO A informação matéria-prima fundamental para o processo de inteligência competitiva, também é a base para a construção de conhe- cimento nos indivíduos. Nesse sentido, é importante resgatar os concei- tos, sobre os termos dados, informação e conhecimento: dados são simples observações sobre o estado do mundo, são facilmente estruturados, obtidos por máquinas, freqüentemente quantificados e facil- mente transferidos; informação são dados dota- dos de relevância e propósito, requer unidade de análise, exige consenso em relação ao significado e necessariamente exige a mediação humana; co- nhecimento é a informação valiosa da mente hu- mana, inclui reflexão, síntese e contexto, além dis- so é de difícil estruturação, transferência e captura em máquinas, bem como é freqüentemente tácito (DAVENPORT, 1998, p.18). A informação é entendida, portanto, como algo que deve ser com- preendida pelo indivíduo, para que de fato seja considerada informação. Os dados apenas contribuem para a construção do conhecimento, quando por algum motivo, o indivíduo armazena-os em sua memória, caso contrá- rio os dados serão usados naquele momento e, em seguida, descartados. O conhecimento construído pelos indivíduos, requer necessaria- mente de uma estruturação e, posterior, gravação na estrutura cerebral. Carter (2003, p.314) afirma que 50 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 11. Cada fragmento é despachado para uma parte di- ferente de nossa vasta biblioteca interna. Mas, à noite, quando o corpo descansa, esses fragmen- tos são tirados para fora do armazém, remontados e reprisados. Cada repassagem as grava mais fun- do na estrutura neural até chegar um momento em que as memórias e a pessoa que as guarda são efetivamente a mesma coisa. Assim sendo, a informação necessariamente precisa ser com- preendida, de modo que seja possível estabelecer relações/conexões entre o que se está absorvendo e o que existe acumulado na estrutura neural de um determinado indivíduo. Isso funciona do ponto de vista que aquela nova informação apreendida pelo indivíduo, será relacionada a outras existentes, assim, propiciará uma reação em cadeia, permitindo ao cérebro ações químicas que possibilitem a gravação daquela infor- mação de forma eficiente, tornando-a parte da memória. Carter (2003, p.316-317) também afirma que esse processo denomina-se de “potencialização de longo prazo”, explica que isso ocor- re porque a cada vez que um grupo de neurônios dispara junto, a tendência de o fazer novamente é aumen- tada [...] Quanto mais rápido um neurônio disparar, maior a carga elétrica que atira para fora e maior a probabilidade de deflagrar seu vizinho. Uma vez que o vizinho tiver sido incitado a disparar, ocorre uma alteração química na sua superfície que o dei- xa mais sensível à estimulação pelo mesmo vizinho [...] Se a célula vizinha não for novamente estimu- lada, ela permanecerá nesse estado de prontidão por horas, talvez dias. Se a primeira célula voltar a disparar durante o período, o vizinho poderá res- ponder mesmo se a taxa de disparos da célula ‘nú- mero um’ for relativamente baixa. Um segundo dis- paro a torna ainda mais receptiva, e assim por di- ante. Finalmente, a disparada sincrônica repetida une os neurônios de tal maneira que uma mínima Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 51
  • 12. atividade em um fará com que todos aqueles que se tornaram associados a ele também disparem. Formou-se a memória. A informação, conforme mencionado anteriormente, deve obri- gatoriamente ser significativa para ser absorvida. Um indivíduo que não lê japonês, certamente, não conseguirá entender do que se trata um documento redigido nesta língua, portanto, não compreenderá seu con- teúdo. O cérebro humano possui uma área cortical para cada sentido. Ela É formada por uma colcha de retalhos de regiões menores, cada uma das quais lida com uma faceta específica da percepção sensorial [...] Uma vez que as informações de entrada tiverem sido reunidas nessas áreas, elas serão retransmitidas para frente para grandes regiões corticais conhecidas como áreas de associação. Aqui, as percepções sensori- ais são casadas com associações cognitivas apro- priadas – a percepção de uma faca, por exemplo, é juntada aos conceitos de esfaquear, comer, fatiar e assim sucessivamente. É somente nesse estágio que as informações de entrada se tornam uma per- cepção plenamente desenvolvida, significativa (CARTER, 2003, p.213). Por esse motivo, cada indivíduo constrói o conhecimento de maneira única, uma vez que a informação, mesmo quando recebida por várias pessoas, em um mesmo momento/contexto, será associada dife- rentemente por cada indivíduo. Portanto, o conhecimento é construído individualmente. No entanto, é importante lembrar que a linguagem (es- crita e falada) é um mecanismo importantíssimo para a construção de conhecimento, pois por meio dela ocorre a retroalimentação das estru- turas informacionais do mundo, se a informação é a matéria-prima do conhecimento, o ciclo sempre se renova. O paradoxo existe pelo fato de que, apesar do conhecimento ser construído individualmente, ele somente será conhecimento, se e quan- 52 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 13. do o indivíduo sistematizá-lo para si próprio e para os outros, pois é a partir da sistematização por meio da linguagem (escrita e falada) que de fato o conhecimento será criado. Esse fato é o que nos diferencia das outras raças, pois somente o homem é capaz de fazê-lo, com tamanha competência. A linguagem é fundamental para a construção do conhecimen- to, uma vez que “o significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento” (VIGOTSKY, 1998, p.150). A construção do conhecimento é entendida como um processo dinâmico, sem fim, do qual a linguagem faz parte. É a linguagem que consolida, de fato, o novo conhecimento. “O pensamento não é simples- mente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir” (VIGOTSKY, 1998, p.156). As associações são feitas individualmente, por isso mesmo, o conhecimento construído é individual e único. Como exemplo, pode-se citar que dois indivíduos, nascidos na mesma família, com a mesma edu- cação, o mesmo meio social e econômico, a mesma trajetória de vida, com experiências vivenciadas conjuntamente, não produzirão o mesmo conhecimento. Nesse sentido, as organizações devem adotar modelos de ges- tão, como por exemplo, a gestão do conhecimento, visando apoiar o compartilhamento de conhecimento gerado por cada indivíduo, no espa- ço corporativo, de forma a possibilitar maior socialização e integração, buscando obviamente obter resultados positivos para o negócio da orga- nização. Alguns acreditam que isso é extorquir o bem mais valioso dos indivíduos, a inteligência. No entanto, uma cultura voltada para o compartilhamento e socialização do conhecimento, beneficia a todos, uma vez que a troca possibilita também o acesso ao conhecimento gera- do por outros indivíduos. Nesse caso, todos ganham. Se analisarmos que a ciência é construída dessa forma, qual seja, o acesso ao conheci- mento gerado por diferentes indivíduos, e que somente por esse motivo, foi possível a humanidade avançar tanto, podemos entender o quanto isso representa para uma organização. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 53
  • 14. 4 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E MEDIAÇÃO O processo de inteligência competitiva apóia-se na gestão da informação e na gestão do conhecimento para desenvolver sua ativida- des. Existem correntes teóricas que não acreditam na gestão do conhe- cimento, simplesmente pelo fato de que o conhecimento está na cabeça das pessoas. No entanto, se entendermos gestão do conhecimento como um conjunto de estratégias de ação que visam fomentar a criação, o compartilhamento/socialização e a retroalimentação do conhecimento humano, em um determinado espaço organizacional, sem dúvida nenhu- ma a gestão do conhecimento é possível. “A transmissão racional e intencional de experiência e pensa- mento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala hu- mana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho” (VIGOTSKY, 1998, p.7). Partindo-se desse pressuposto, pode-se afirmar que o co- nhecimento gerado por meio de experiências vivenciadas, bem como as reflexões advindas dessa experiência vivenciada, possibilitam uma necessidade humana de expô-las a outro. Certamente, em muitos casos, a fala será o canal de distribuição utilizado. Contudo, outras vezes, a escrita será o canal utilizado. Se isso é verdade, várias ações estratégicas podem ser desenvolvidas buscando atin- gir esse objetivo. No espaço organizacional o conhecimento de cada indivíduo é extremamente importante e requer ser comunicado. A comunicação por sua vez, requer uma mediação eficiente, caso contrário, a comunicação será realizada, mas sem um resultado eficaz. Isso significa que a mediação tem importante papel na ges- tão do conhecimento, pois uma pessoa ou equipe terá de ser res- ponsável pela organicidade e logicidade do conhecimento gerado pelos indivíduos da organização, visando sua distribuição aos de- mais. Se fizermos uma analogia com o que ocorre no cérebro hu- mano, em relação aos dados e informações apreendidos durante o dia, sabemos que a organização desses dados e informações ocor- re enquanto o indivíduo dorme. No dia seguinte, todos os dados e 54 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 15. informações apreendidos no dia anterior, estarão catalogados e clas- sificados, de modo que poderão ser acessados quando necessário pelo indivíduo. Nesse caso, o próprio organismo realizou a media- ção entre o conhecimento existente e o novo conhecimento apre- endido/assimilado, conferindo, organizando, sistematizando, esta- belecendo relações etc. Voltando ao espaço organizacional, a mediação exige, sem dúvi- da alguma, uma linguagem que possa ser compreendida por todos os indivíduos da organização, assim como deve ter consistência quanto ao seu significado, caso contrário o conhecimento não será compreendido e assimilado por todos. O conhecimento gerado por cada indivíduo carrega suas cren- ças, seus valores etc., por esse motivo é necessário realizar uma releitura do significado das falas/palavras, buscando dar consistência antes de efetuar o compartilhamento/socialização. Desenvolver a fala e a escrita dos indivíduos da organização é uma ação concreta que pode fomentar o compartilhamento/socialização do conhecimento. É claro que neste caso, estamos nos referindo a ca- pacidade de expor com clareza as idéias e as reflexões, tanto oralmente quanto por meio da escrita. É importante mencionar que a escrita exige do indivíduo, maior capacidade analítica, pois precisa traduzir de forma clara a situação que se quer informar. Outra ação concreta que pode ser desenvolvida se refere as estruturas de comunicação disponibilizadas aos indivíduos da organiza- ção. Exatamente, por esse motivo, as tecnologias de informação e co- municação são tão importantes para a gestão do conhecimento, pois ajudam enormemente seu gerenciamento. A construção de terminologias de especialidade voltadas ao ne- gócio da organização é outra ação concreta, que auxilia a gestão do conhecimento, propiciando maior consistência à linguagem utilizada pe- las pessoas da organização e, por conseqüência, maior compreensão e assimilação. Enfim, as ações concretas que podem ser desencadeadas, objetivando a gestão do conhecimento são inúmeras, e o mais importan- te é entender o significado da mediação nesse processo. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 55
  • 16. 5 GESTÃO DO CONHECIMENTO NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO A tomada de decisão implica necessariamente no comprometi- mento com o desenvolvimento da ação. Sendo assim, exige racionalidade a fim de buscar segurança e diminuição de riscos. Nesse momento, verificam-se duas possibilidades: a opção por uma solução satisfatória e a opção pela melhor solução. Choo (2003) afirma que a primeira alternativa se caracteriza por atender aos critérios mínimos de satisfação. Por outro lado, a segunda, mos- tra-se superior a todas as outras, quando comparadas aos critérios de satisfação. Sob esse aspecto também entram em questão as simplificações cognitivas, que de forma sintética tratam da generalização de crenças e expectativas com a finalidade de baixar a incerteza e aumentar a proba- bilidade. Choo (2003), expõe o perigo de se adotar esses procedimen- tos quando da tomada de decisão, pois apesar de diminuírem o esforço mental necessário para se fazer uma escolha, podem levar a erros de julgamento. Para que de fato isso aconteça, as intenções da organização devem ser bem definidas quanto ao favorecimento de uma autonomia aos indivíduos. O caos criativo pode ser favorável, na medida em que propicia a formulação de novos conceitos, e a redundância que deve ser encarada como a disponibilização da informação, mesmo onde ela não é requisitada, deve ser implementada com equilíbrio evitando assim so- brecarregar as tarefas e prejudicar as operações organizacionais. É importante ressaltar que o processo de criação de conheci- mento é fundamentado na criatividade e estimulação do caráter imagi- nativo nos indivíduos, para tanto, deve-se fomentar um ambiente corporativo capacitante. Percebe-se que a maioria das empresas ainda tem uma estrutu- ra baseada no modelo hierárquico-burocrático, com acentuadas funções técnicas e grande controle por parte da alta administração. 56 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 17. 6 CONCLUSÃO A gestão do conhecimento é extremamente importante para a dinâmica do processo de inteligência competitiva. Por meio dela, os flu- xos informais são trabalhados e permitem as pessoas da organização uma interação e um compartilhamento de informação e conhecimento. A organização deve se valer de modelos de gestão do conheci- mento, de modo a propiciar um contexto corporativo capacitante, e cri- ador de conhecimento organizacional, resultando no crescimento indivi- dual e coletivo. Além disso, a organização que atuar nesse paradigma, estará criando um ambiente colaborativo voltado ao sucesso do negócio, capa- citando a própria organização para a competitividade internacional. É importante mencionar também, que esse modelo de gestão não será um diferencial, mas sim uma exigência para a sobrevivência da organização. A gestão do conhecimento necessita de variáveis e contextos que somente são possíveis a partir do comprometimento da alta admi- nistração. No entanto, cada ator desse processo é tão importante quan- to as variáveis e contextos adequados, ou seja, é um processo complexo que deve considerar todos os elementos fundamentais, de maneira equi- librada, para o seu sucesso. Abstract The Knowledge Management (KM) is taken as an important tool in the process of competitive intelligence, for it works with the informal stream of the process. The strategies used in the area of knowledge management make the formation of a well supported knowledge possible and create a positive environment to the sharing of knowledge actives generated by the people involved in the organization. Finally, through specific methods and Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 57
  • 18. techniques from the KM it is possible to create a positive organizational culture towards the competitive intelligence process generating organizational competitive advantages. Keywords KNOWLEDGE MANAGEMENT COMPETITIVE INTELLIGENCE ORGANIZATIONAL CULTURE KNOWLEDGE FORMATION REFERÊNCIAS CARTER, R. O livro de ouro da mente: o funcionamento e os mistérios do cérebro humano. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 431p. CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Senac, 2003. 425p. DAVENPORT, T. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998. 316p. MATURANA, H. R; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento: as bases da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. 283p. MILLER, J. P. O milênio da inteligência competitiva. Porto Alegre: Bookman, 2002. 293p. MORIN, E. O método 3: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 1999. 288p. ________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6.ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2002. 118p. 58 Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005
  • 19. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 376p. TERRA, J. C. C. Gestão do conhecimento: o grande desafio empresarial. São Paulo: Negócio, 2000. 283p. VALENTIM, M. L. P. Cultura organizacional e gestão do conhecimento. InfoHome, Londrina, 2003. 2p. Disponível em: <http:// www.ofaj.com.br/colunaicgc_mv_0303.html>. Acesso em: 29 set. 2004. VALENTIM, M. L. P. et al. O processo de inteligência competitiva em organizações. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 1-23, jun. 2003. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/jun03/Art_03.htm>. Acesso em: 03 de jul. 2003. VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 194p. VON KROGH, G.; ICHIJO, K.; NONAKA, I. Facilitando a criação de conhecimento: reinventando a empresa com o poder da inovação contínua. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 350p. WURMAN, R. S. Ansiedade de informação: como transformar informação em compreensão. 5.ed. São Paulo: Cultura Editores, 1995. 380p. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 41-59, jul./dez. 2005 59