O documento resume informações sobre câncer de endométrio e vulva, incluindo fatores de risco, tipos histológicos, estágios, diagnóstico e tratamento. O câncer de endométrio é o 6o mais frequente em mulheres e o tratamento cirúrgico padrão envolve histerectomia e linfadenectomia. Já o câncer de vulva acomete principalmente mulheres acima de 60 anos e requer ressecção cirúrgica com margem adequada.
Câncer de Endométrio: Sintomas, Fatores de Risco e Tratamento
1. Câncer de Endométrio
Dra Adriana Alvarenga - Cirurgiã Oncológica – Equipe Oncovitta
Residência em cirurgia oncológica pelo Hospital de Amor de Barretos.
Residência em Cirurgia Geral – Hospital do Servidor Público estadual de São Paulo
2. Epidemiologia
6º mais frequente em mulheres.
3ª neoplasia ginecológica(BR)
80% estão confinados ao
útero no diagnóstico.
Idade mediana 60 anos.
4. Fatores de risco
Estrógeno*
Obesidade (estrona), HAS, DM.
Menarca precoce / menopausa tardia/ nuliparidade.
Sd. de Lynch (10% casos)
Tamoxifeno (risco de 7.5x).
Hiperplasia endometrial com atipias.
5. Tipos Histológicos (Bokhman, 1983)
? Tipo I: pré ou perimenopausa; associada a estrogênio; endométrio com
hiperplasia atípica; obesas, nulíparas; baixo grau; subtipo endometrioide (PTEN mutado).
? Tipo II: pós menopausa; não associado a estrogênio; endométrio atrófico;
não obesas; alto grau; subtipo seropapilífero ou células claras.
Agressivo (p53 mutado)
6. HIPERPLASIA ENDOMETRIAL
Hiperplasia simples s/ atipia < 1 % dos casos vira carcinoma.
Hiperplasia complexa progride em 3% dos casos.
Hiperplasia com atipia simples progride em 8% dos casos, e quando
complexa em 29%.
Hiperplasia endometrial com atipia = Histerectomia simples.
7. Manifestação
clínica
95% dos casos apresentam-se com sangramento vaginal ou corrimento purulento.
15% dos sangramentos pós menopausa são por câncer de endométrio.
5% são assintomáticas.
CO com células glanduras atípicas exige biopsia endometrial.
8. Subtipos histológicos
? Adenocarcinoma endometrioide (80% dos casos).
? G1 crescimento sólido < ou = 5%
? G2 crescimento sólido entre 6 e 50%
? G3 crescimento sólido > 50% do tumor..
? Quanto maior o grau, maior a agressividade. Se houver diferenciação escamosa confere
maior agressividade.
9. Subtipos histológicos
? Adenocarcinoma mucinoso ( < 1% dos carcinomas), melhor prognóstico.
? Adenocarcinoma seroso-papilífero (5-10% casos), agressivo.
? Carcinoma de células claras (< 5% casos), agressivo. Considerados alto grau pela
FIGO.
? Carcinoma escamoso é raro, associado a piométrio. Muito agressivo.
? Carcinomas mistos: 2 ou mais subtipos de carcinoma no tumor, sendo cada um pelo
menos 10% da peça.
10. Subtipos histológicos
? Sarcomas de corpo uterino: corresponde de 2-5% dos cânceres de corpo uterino.
? 0,2% das HT por mioma tem AP: leiomiossarcoma.
? Relacionado a radiação ionizante em pelve (5-25 anos exposição).
? Tratamento cirúrgico. Se liomiossarcoma não há benefício em linfadenectomia e SOB.
? Carcinossarcoma trata igual ao câncer de endométrio de alto risco.
11. Diagnóstico
? Histeroscopia com biópsia (ideal).
? Biópsia por aspiração + citologia endometrial.
? Curetagem (quando histeroscopia não disponível).
Atenção:
-pré-menopausa: obesa + sangramento + anovulação.
- pós-menopausa: obesa + qualquer sangramento ou CO com células endometriais ou
endometrio com mais de 5mm.
12. Estadiamento
FIGO
? Cirúrgico.
? TC e RNM para pacientes sintomáticas ou alto
risco de doença extra-uterina.
? 30% das pacientes em aparente ECI tem
doença extra-uterina diagnosticada após
cirurgia.
? CA 125 está associado a doença avançada, só
tem valor se alterado.
13.
14. Tratamento
Cirurgia padrão:
lavado peritoneal + histerectomia simples + SOB + omentectomia inframesocólica + biópsias
peritoneais + linfadenectomia pélvica e para-aórtica (G3 ou histologia desfavorável ou > IB
ou doença extra-uterina).
Ideal é abrir a peça e congelar -> avaliar profundidade de invasão (15 -20% subestadiados).
Citorredução primária tem benefício na sobrevida.
Laparoscopia é padrão ouro.
15. Tratamento
Linfadenectomia - quando dispensar (clinica Mayo 2000):
1. Se endometrioide G1 ou G2 com < 50% de invasão e < 2 cm.
2. Se endometrioide G1 ou G2 com < 50% de invasão e > 2cm: biopsia de linfonodo
pélvico, só faz paraórtico se LND +.
Linfadenectomia sistemática:
1. Se endometrioide G3 ou células claras ou seroso ou > 50% de invasão.
16. Radioterapia
Fatores adversos que potenciais:
1. idade > 60 anos.
2. IAL +
3. Envolvimento de segmento inferior do útero.
4. Tumor > 2cm.
17. Radioterapia
Nas pacientes ECI:
? Risco baixo (< 5% recidiva): endometriode IA G1 ou G2, ILV negativa. Cd: sem
adjuvância.
? Risco intermediário (14-20% recidiva): endometrioide 1B G1 ou G2 e IAL negativa. Cd:
braquiterapia.
? Risco intermediário-alto: endometrioide IA G3 ou 1B G1 ou G2 com IAL. Cd:
braquiterapia e RT péliva com ou sem QT.
? Risco alto: todos os não endometrioides. Cd: RT + QT
18. Radioterapia
? EC II: braquiterapia + RT pélvica com ou sem QT.
? EC III: QT -> RT + braquiterapia (se LND retroperitoneal comprometido, realizar campo
extendida).
? EC IV: QT -> RT.
19. Quimioterapia
? EC III e IV como adjuvante.
? Células claras,carcinossarcoma, seroso papilífero independente do EC.
? p53 mutados *
20. Hormonioterapia
? Nos tumores recidivados, com receptor de estrogênio (endometrioides).
? Sem papel na adjuvância isolada.
? Se tumor inicial (1AG1 com desejo de preservar fertilidade): acetato de
medroxiprogesterona ou DIU Myrena (taxa de resposta 10-30%).
21. Seguimento Clínico
Até 2 anos:
•3/3 meses
com exame
físico
3-5 anos:
•6/6 meses
exame
físico.
Após 5 anos:
•Retorno
anual.
24. Epidemiologia
● Mulheres acima de 60 anos.
● Habitualmente com mais de 6 meses de história de lesão.
● Qualquer lesão vulvar = biópsia (permite o diagnóstico das lesões).
25. Doenças Vulvares Epiteliais
● Líquen escleroso: mais frequente.
Prurido, dispareunia e queimação.
Aspecto de atrofia tecidual.
Tratamento: creme de propionato de testosterona ou clobetasol.
● Hipertrofia escamosa:
Prurido vulvar.
Lesões brancas ou róseas, espessadas (pode haver escoriação).
Tratamento: corticoide tópico (se resolve em 6 semanas).
26. Doenças Vulvares Epiteliais
● Neoplasia intraepitelial vulvar (NIV): qualquer lesão crônica com atipia
NIV usual/ clássico: associado ao HPV 16: padrão verrucoso ou basaloide.
NIV diferenciado (simples): associado ao líquen escleroso (2-10% casos).
- menos agressivas que os NIC no sentido de transformação
maligna.
27. Doenças Vulvares Epiteliais
● Doença de Paget: sítio mais comum extra-mamário.
○ adenocarcinoma in situ de vulva (diferencial de melanoma).
○ Sintomas: prurido + úlcera vulvar.
○ Lesão macroscópica tende a subestimar a lesão microscópica.
○ Tratamento: cirúrgico com margem de 2 cm, incluindo derme subjacente (se não há como
ressecar, fazer imiquimod).
28. Carcinoma de Vulva - Epidemiologia
● Corresponde a 4% das neoplasias genitais femininas.
● 75% das mulheres tem lesão pré-invasiva aos 40 anos.
● CEC em 95% dos casos.
● Mulheres com baixo nivel socio-econômico e condições precárias de higiene. Sem
predisposição de raça.
29. Fatores de Risco
● Distrofia vulvar crônica.
● Irradiação da pelve.
● Tabagismo.
● Doenças imunossupressoras.
● História de câncer vaginal ou colo de útero (provável associação com HPV).
○ se história de câncer de vulva: risco de 10-40% de ter câncer de colo de útero e 38% de risco
para qualquer câncer de trato genital baixo.
● HPV 40% são associadas ao HPV (6-11)**
30. Tipos Histológicos
● 90% são CEC: ceratinizante (65-80%), não ceratinizante, basaloide, condilomatoso,
verrucoso (condiloma gigante de Buschke-Lowenstein - HPV 6-11).
● Carcinoma basocelular.
● Adenocarcinoma: 2%
● Melanoma: 3%
● Sarcoma: 1%
● Neoplasias metastáticas: 8%.
● Carcinoma de glândulas de Bartholin.
31. Lorem Ipsum
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Carcinoma de Vulva
Tipo 2
Tipo 1
Idade > 60 anos,
não associado ao
CEC de colo
uterino.
Unifocal. HPV
raro.
Precursor: liquen
escleroso.
< 60 anos, alta
associação com
CEC de colo
uterino.
Multifocal. Pouco diferenciado.
Associado com HPV, NIV,
condiloma, tabagismo.
32. Quadro Clínico e
Disseminação
● Prurido vulvar (45% dos casos).
● Tumoração (45%).
● Dor (23%)
● Sangramento 14%.
● Disseminação locorregional.
● 60% no lábio maior; 20% lábio menor
e vestíbulo; 12% clitóris; 6% perineal
33. Diagnóstico
● Lesões suspeitas = biópsia incisional.
○ teste de Collins: azul de toluidina 1% e
remoção com ác. acético 1%. Se
permanece azul é suspeito (afinidade
com DNA).
35. Tratamento
● Cirúrgico sempre que possível.
○ risco de deiscência de 50% (radical)
○ linfedema 15% (radical).
● Tumor in situ ou NIV 3, ou Paget: pode
ser feito imiquimod.
● Melanoma in situ: cirurgia.
36. Câncer de vulva precoce (T1N0-1)
● Cirurgia mais conservadora possível
desde que dê margem (1-2 cm). Acima
de 1mm de profundidade, precisa fazer
estudo nodal (PLS ou LND)
○ se tumor a menos de 1cm da linha
média ou invadindo clitóris: bilateral
37. Carcinoma Invasor
● Cirurgia com margem de 1-2 cm, com
limite profundo na gordura.
○ Vulvectomia simples: ressecção de
grandes e pequenos lábios, clitóris e
região interna do vestíbulo.
38. ○ Vulvectomia
○ Radical
○ Inicia desde a região púbica até os
sulcos genitofemorais, períneo, ânus e
vestíbulo vaginal. Ressecção em W +
linfadenectomia inguino-femoral.
○ Vulvectomia supra-radical
○ acrescenta-se linfadenectomia
pélvica bilateral.
Carcinoma Invasor
Incisão da linfadenectomia é separada (melhor
resultado estético e funcional, além de menos
deiscência).
39. ○ Estudo nodal:
■ unilateral: se T1/T2 distando mais de 1 cm da linha média. Se linfonodo
positivo e com profundidade de invasão> 5mm, realizar
linfadenectomia contralateral.
■ Linfonodo inguinal comprometido e pélvico clinicamente negativo: RT
■ Linfonodo inguinal e pélvico comprometidos: LND seguida de RT.
Carcinoma Invasor
41. ○ Quimioterapia
■ EC III ou IV: cisplatina + 5 FU + RT.
■ Doença localmente avançada independente do status
nodal
● manutenção de irressecabilidade em 3-5% das pacientes.
Carcinoma Invasor
42. Outros subtipos
● Melanoma de vulva:
○ 5-7% dos casos.
○ Péssimo prognóstico: agravam - comprometimento nodal, profundida de invasão e ulceração.
● Carcinoma de glândula de Bartholin:
○ adenocarcinoma, CEC, carcinoma de células transicionais, adenocístico (melhor prognóstico)
e adenoescamoso.
○ disseminação local com altas taxas de recidiva local. Raro doença a distância.
43. ● T1N0-1: vulvectomia parcial, se mais de 1mm - estudo nodal uni ou bilateral.
● T2-T3: vulvectomia radical com esvaziamento bilateral.
● T3-T4 volumosos com N2 (2 ou mais linfonodos +) ou N3 (ulcerado): RT pré-operatória
com ou sem QT + vulvectomia radical.
● Se ressecção poderá necessitar de estoma: neoadjuvância (RT + QT).
● Doença metastática ou irresecável: RT+ QT.
● Principal fator prognóstico é o status nodal.
RESUMINDO
44. Câncer de Vagina
● Corresponde a 1-2% dos cânceres genitais femininos.
● Associado a HPV em 70% dos casos.
● Maioria é metastática.
○ acima de 50 anos (pico 60-70 anos).
○ tipo mais comum é CEC.
45. Câncer de Vagina
● 3-7% das NIVA evoluem para carcinoma invasor apesar do tratamento.
● Lesão vaginal após 5 anos de tratamento de CEC de colo uterino = novo primário.
● Fatores predisponentes:
○ imunossupressão;
○ RT prévia;
○ exposição na gestação a dietilbestrol (DES)- associada a adenocarcinoma de células claras.
46. Câncer de Vagina
● Diagnóstico:
○ citologia quando lesões ainda não visíveis;
○ pode haver corrimento mau cheiroso ou sangramento vaginal;
○ maioria são no ⅓ proximal da vagina (dissemina igual ao colo de útero).
○ se biopsia da vagina com adenocarcinoma -> investigar endométrio!
47. Câncer de Vagina
● Estadiamento:
○ EC 0: in situ.
○ EC I: limitado a parede vaginal.
○ EC II: envolve tec. subvaginal, mas não chega a parede pélvica.
○ EC III: extensão a parede pélvica.
○ EC IV
■ IVa: órgão adjacentes.
■ IVb: órgão distantes.
48. Câncer de Vagina
● Tratamento:
○ lesões precursoras: estudar toda a vagina. Pode-se aplicar laser de CO2 ou 5-FU ou exérese.
○ EC I: cirurgia
■ lesões com < 5 mm de profundidade de invasão: colpectomia parcial.
■ lesão com > 5mm ou adenocarcinoma: colpectomia + linfadenectomia (se útero presente: HT).
■ lesão < 2cm e não candidata a cirurgia: braquiterapia (associar RT externa se linfonodo bulky).
49. Câncer de Vagina
● Tratamento:
○ EC II/ III e IV
■ radioterapia externa + braquiterapia + quimioterapia (moldes de CEC de colo uterino).
50. Câncer de Vagina
● Prognóstico:
○ volume do tumor;
○ profundidade da invasão;
○ estadiamento, linfonodos, grau de diferenciação, idade, tamanho do tumor (menos
importantes).