2. O bullying e sua incidência nas escolas brasileiras
Uma efetiva compreensão da ocorrência de bullying no ambiente escolar exige o conhecimento prévio do
conceito, e das características dessa prática. No que tange a etimologia do termo, Pereira (2009) relata que é
originário do inglês bully, e sua definição requer a consideração das ações que o compõe, assim como do
caráter de continuidade, conforme descrito a seguir.
A prática do bullying não pressupõe, necessariamente, agressões físicas, pois de acordo com as abordagens
de Fante (2010) o bullying é parte de um grupo de comportamentos agressivos que englobam insultos,
assédios, exclusões e intimidações, de forma repetitiva e sem motivo aparente, ou seja, ridicularização do
indivíduo, produzindo exclusão social, isolamento, visando meramente maltratar e gerar angústia na vítima,
podendo gerar manifestações patológicas psicológicas, como depressão e ansiedade. Devido ao fato de ser
caracterizado pela continuidade da prática, o bullying não pode ser associado a uma simples violência.
3. Pereira (2009) explica que o bullying:
[...] se manifesta através de insultos, intimidações,
apelidos cruéis, gozações que magoam
profundamente, acusações injustas, tomar
pertences, meter medo, atuação de grupos que
hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida dos
outros alunos, levando-os à exclusão, além de
danos físicos, morais e materiais (PEREIRA, 2009, p.
31).
4. Bullying através dos ambientes virtuais
De forma complementar é válido destacar que, na sociedade
denominada ‘da informação’, as tecnologias da informação e
comunicação (TICs) tem ocupado cada dia mais espaço, em especial
na vida dos jovens, que passaram a receber e disponibilizar os mais
diversos tipos de informações. Assim, pode-se destacar que as TICs
têm influenciado as formas como os jovens se relacionam, ampliando
também, o espaço de manifestação do bullying através dos ambientes
virtuais, passando a ser denominado cyberbullying (AZEVEDO et. al,
2011).
5. Cyberbullying
O cyberbullying é uma forma de bullying que compromete a intimidade dos sujeitos, expondo-o
por meio da eletrônica. Pode ser entendido como, o emprego das tecnologias da informação e
comunicação para promover e propagar comportamentos de hostilidade de forma repetitiva
contra uma pessoa ou grupo, visando agredir e afetar em especial a moral. Assim como a
modalidade convencional, esse tipo de violência também gera efeitos psicológicos, emocionais,
sociais, cognitivos e até físicos no sujeito ofendido. No âmbito psicológico os efeitos produzidos
geralmente perpassam introversão, baixa autoestima, insegurança, angústia, depressão, prejuízos
cognitivos e outros (CRUZ, 2011).
O ápice do cyberbullying foi a disseminação do telefone celular na sociedade e as redes sociais
neles disponíveis, visto que essa tecnologia permite fotografar, filmar e compartilhar situações
que para o ofendido são consideradas constrangedoras.
6. Bullying nas escolas brasileiras
O bullying tem sido muito recorrente nas escolas brasileiras. Dados do relatório final da pesquisa
bullying escolar no Brasil de 2010, organizado por grupo (Alfa/Beta), conforme destacado por
Fischer (2010, p. 46), deixam claro que a prática deste tipo de violência é maior entre alunos da
sexta série do Ensino Fundamental, ou seja, da segunda fase desse nível educacional. Em termos
de faixa etária a manifestação de tal fenômeno é entre 11 a 15 anos.
7. Bullying na sociedade
Tendo como base as informações apresentadas anteriormente, verifica-se que a violência de
uma forma geral tem se manifestado no meio escolar, em especial o bullying, que é praticado
por alunos que desejam autoafirmação, assim como admiração de colegas do grupo, contra
minorias mais indefesas, tais como: os mais fracos e os mais diferentes como deficientes, negros,
obesos, entre outros.
Apesar do enfoque discutido nesse subtítulo voltar-se ao ambiente escolar é válido salientar que
o bullying não é exclusivo desse cenário, pode manifestar-se em todos os lugares onde exista a
relação interpessoal, no trabalho, na escola, na família, nas prisões entre outros. Contudo, é
válido salientar em consonância com Pereira (2009) que, muitos estudiosos têm se preocupado
mais com o meio escolar, visto que é composto por um público em formação, que ainda não
detém de mecanismos psicológicos para repelir ou ignorar as ofensas.
8. Ações e procedimentos que o professor
pode utilizar no combate ao bullying
Um ponto marcante acerca do bullying que se deve considerar são as formas de combatê-lo. Enquanto nos
casos de mera indisciplina pode-se mais facilmente obter solução por meio do diálogo, no bullying não é assim
tão simples, necessitando de uma intervenção mais intensa, requerendo muitas vezes a intervenção de outros
profissionais além dos educadores. (PEREIRA, 2009).
Compreende-se que o combate ao bullying não pode ser feito por meio de ações isoladas e tão pouco por
pessoas isoladas, pois apesar desses serem fundamentais na luta contra esse lamentável prática é fundamental
para o sucesso que família, professores, vítimas e sociedade se unam em um único objetivo, para que possam
conter e tratar os praticantes, procurando ressocializá-los, bem como dar um suporte psicológico, pedagógico e
até neurológico às vítimas, para que o sofrimento vivido não se transforme em marcas dolorosas.
O professor pode atuar criando estratégias de caráter lúdico para trabalhar a convivência coletiva pacífica
embasada no respeito e quando necessário aplicar punições ao agressor, realizando devidos encaminhamentos
para profissionais especializados conforme a necessidade de cada sujeito. De acordo com as considerações de
Ferreira e Tavares (2009) os professores devem ficar constantemente atentos em relação aos comportamentos
dos alunos, seja como vítimas ou como praticantes do bullying, pois nos dois casos existe a necessidade
intervenção.
Para se combater o bullying o professor pode promover discussões com os alunos, nos quais ocorra
abordagem sobre a diversidade e o respeito em momentos distintos. Pode-se, por exemplo, sugerir aos alunos,
responderem questões envolvendo aspectos inerentes ao bullying, de forma subjetiva, e em seguida realizar
debates em sala de aula, estabelecendo uma relação democrática, pois é muito importante oportunizar tempo
para discussões.
9. Busca de soluções
É importante deixar claro no contexto da busca de soluções para o bullying que, assim como as
vítimas, os agressores também necessitam de atenção, pois suas atitudes podem ser decorrentes
de maus tratos sofridos, ou pela ausência de modelos educativos fundamentados em valores
morais e humanistas (PEREIRA, 2009).
Entre as estratégias a serem realizadas pelos professores, é válido destacar a importância de
reuniões com pais e alunos, visando conscientizar esse público na necessidade da participação
de todos. Para tanto, pode-se aproveitar os momentos da das reuniões e Conselho de Classe já
previstos no calendário letivo. Uma sugestão que se mostra eficiente, é apresentar aspectos
teóricos informativos por meio de slids, bem como vídeos motivacionais que alertam para a
importância do respeito, e em seguida pode-se abrir espaço para discussões e contribuições,
consolidando desta forma a perspectiva democrática da gestão escolar (SÓ, 2010).
10. Busca de soluções
Considerando que o ‘diferente’ é parte do cotidiano da sociedade e, consequentemente, da
escola, é necessário que desde o início da escolarização que os professores realizem programas
direcionados à diversidade, tendo como base ensinar os alunos a respeitar, viver e se construir
no espaço heterogêneo, respeitando e valorizando as diferenças dos outros, como componentes
importantes para a construção da identidade coletiva e da cultura do grupo.
11. Considerações finais
Posteriormente à realização das várias leituras necessárias à elaboração desse recurso educacional foi
possível compreender, entre outros aspectos, que o bullying, é uma prática de violência e desrespeito que
têm recebido ênfase na atualidade por afetar a vida de muitas pessoas. Essa ação, preponderantemente
psicológica, é composta de atos intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de
indivíduos visando angustiar outro. O professor é agente fundamental no combate a esse tipo de violência
devendo para tanto, conhecer as causas, consequências as características básicas das vítimas e agressores,
entendendo que ambos necessitam de intervenção.
Devido ao fato de a escola ser uma instância relevante no desenvolvimento social e psicológico dos
sujeitos, é necessário que esteja atenta aos fatores que permeiam a construção do conhecimento do
sujeito no mundo, centrando-se não só na formação de conhecimentos conceituais, mas também
procedimentais e atitudinais fundamentados na garantia dos direitos individuais e coletivos, em especial
no repúdio a toda forma de preconceito, e nesse ambiente destaca-se o papel do professor.
No combate ao bullying o professor deve estimular os alunos a se respeitarem. Para tanto, pode utilizar
diversas metodologias, tais como: palestras, que podem inclusive, ser realizadas por pessoas convidadas
de outro ambiente diferente do escolar, como por exemplo: Psicólogos, líderes religiosos, conselheiros
tutelares e outros. O professor pode ainda desenvolver dinâmicas e brincadeiras fundamentadas em
valores éticos e morais. Isso significa que entre os agentes educativos que atuam na escola, o professor
ocupa papel privilegiado no combate ao bullying, pois é ele que está mais próximo dos alunos,
compartilhando tanto o espaço físico da sala de aula, como a particularidades que vão se explicitando na
convivência cotidiana.
12. Referências
AZEVEDO, Carolina Valença et. al. Cyberbullying – agressão digital na rede: por quais ‘orkunstâncias’
andam a amorosidade e o respeito na educação. Poíesis Pedagógica, v. 9, n. 2, ago/dez, 2011.
CRUZ, Ana Catarina Calixto da. O cyberbullying no contexto português. Lisboa – Portugal: Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa. Dissertação de Mestrado, 2011.
FANTE, Cléo. Bullying no ambiente escolar. 2010. Disponível em: <http://stiloweb.net.br>. Acesso em:
25 nov. 2017.
FISCHER, Rosa Maria (coord). Pesquisa: bullying escolar no Brasil – relatório final. São Paulo – SP:
Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor – CEATS - Fundação Instituto
de Administração – FIA, 2010.
PEREIRA, Sônia Maria de Souza. Bullying e suas implicações no ambiente escolar. São Paulo: Paulus,
2009.
SÓ, Sheila Lucas. Bullying nas escolas: uma proposta de intervenção. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br>. Acesso em: 25 nov.
2017.
13. O papel do professor diante do Bullying por Weslaine Oliveira Cunha está licenciado com uma
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