O documento discute diferentes cosmologias de sociedades indígenas, camponesas e urbanas contemporâneas. Apresenta como essas sociedades concebem a relação entre sociedade e natureza, destacando que para os índios Xikrin a sociedade faz parte da natureza. Também aborda a campesinidade como uma ordem moral baseada na terra, família e trabalho.
1. Dialogando com as diferentes cosmologias:
o céu, a agricultura e a vida
Renata Menasche
2. 1. COSMOLOGIA: o que é? o que abarca?
2. SOCIEDADE E NATUREZA em diferentes
sociedades
3. CAMPESINIDADE
4. DIFERENTES COSMOLOGIAS
3. Cosmologia
Todos os povos desenvolvem teorias
para entender o mundo.
A cosmologia de cada sociedade
representa a ordenação do universo,
ordem esta que está vinculada a todos os
aspectos da vida societária.
(Giannini, 1992)
4. Cosmologia abarca:
as estruturas espácio-temporais da sociabilidade
a posição dos humanos na ordem dos seres vivos
as classificações étnicas e sociopolíticas
os dispositivos e condições de articulação entre o
socius e seu exterior
os idiomas simbólicos organizados em torno das
substâncias que comunicam o corpo e o mundo
a ideologia do parentesco, a etnopsicologia, a
concepção de pessoa, a escatologia, etc.
(Viveiros de Castro, 2000)
5. 1. COSMOLOGIA: o que é? o que abarca?
2. SOCIEDADE E NATUREZA em diferentes
sociedades
3. CAMPESINIDADE
4. DIFERENTES COSMOLOGIAS
6. Sociedade e Natureza
A prática social da natureza se articula
sobre a ideia que uma dada sociedade
faz de si própria,
sobre a ideia que ela faz do ambiente
que a circunda e
sobre a ideia que ela faz de sua
intervenção sobre o meio ambiente.
(Descola, 1986)
7. Sociedade e natureza entre os Xikrin
Sociedade indígena habitante das margens do rio
Cateté, no Pará
Os índios Xikrin definem espaços naturais distintos:
a terra (dividida em clareira e floresta), o céu, o
mundo aquático e o mundo subterrâneo.
Os espaços naturais são os diferentes domínios que
compõem o cosmos.
(Giannini, 1992)
8. Sociedade e natureza entre os Xikrin
Os nomes pessoais dos Xikrin colocam em relação
os humanos, os animais terrestres e os peixes,
estabelecendo-se assim um parentesco simbólico
entre os habitantes dos diferentes domínios.
É a interligação dos domínios, que tem por centro
domínios
os próprios Xikrin, que permite a construção de sua
sociedade.
[no caso dos Xikrin, a sociedade é parte da natureza]
(Giannini, 1992)
9. Sociedade e natureza nas sociedades urbanas contemporâneas
DEUS
fora do mundo
subordinação
separação
HOMEM
religião formal
NATUREZA
(E. Woortmann, 2011)
10. ade
ão
roc
id
sub
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o
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e
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DEUS
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r
Sociedade e natureza em grupos camponeses
reciprocidade
HOMEM
igualdade
NATUREZA
(criaturas de um mesmo Criador)
K. Woortmannn (2000) apud E. Woortmann (2011)
11. Práticas etno-ecológicas camponesas: resultantes de
um domínio cognitivo do meio ambiente
seca: não resultante de fenômeno
climático, mas castigo de Deus
para expulsar cobras da roça: rezador
“negociação” entre necessidades da
família e o que a “terra quer dar”
humanização da terra: “precisa
descansar”, necessita de “vitamina”
“beber água esquentada no sol faz
mal”
(E. Woortmann, 2011)
12. 1. COSMOLOGIA: o que é? o que abarca?
2. SOCIEDADE E NATUREZA em diferentes
sociedades
3. CAMPESINIDADE
4. DIFERENTES COSMOLOGIAS
13. Campesinidade
terra, família e trabalho: em interdependência
conformando uma ordem moral
presente em contextos camponeses, em diferentes
épocas e locais
mas presente
(intensidade)
em
maior
ou
menor
grau
campesinidade como qualidade
(K. Woortmann, 1990)
14.
15. 1. COSMOLOGIA: o que é? o que abarca?
2. SOCIEDADE E NATUREZA em diferentes
sociedades
3. CAMPESINIDADE
4. DIFERENTES COSMOLOGIAS
16. O ritual do corpo entre os Sonacirema
A crença fundamental subjacente a todo o sistema
parece ser a de que o corpo humano é feio, e que
sua tendência natural é a debilidade e a doença.
Encarcerado em tal corpo, a única esperança do
homem é evitar essas características, através do uso
de poderosas influências do ritual e da cerimônia.
Todo grupo doméstico possui um ou mais santuários
dedicados a tal propósito. Os indivíduos mais
poderosos dessa sociedade têm vários santuários
em sua casa...
(Miner, 1956)
17. O ritual do corpo entre os Sonacirema
Americanos
O ponto focal do santuário é uma caixa ou arca
embutida na parede. Nessa arca são guardados os
inúmeros feitiços e porções mágicas, sem os quais
nenhum nativo acredita que poderia viver.
Embaixo da caixa de mágica existe uma pequena
fonte. Todo dia, cada membro da família, em
sucessão, entra no santuário, curva a cabeça diante
da caixa de mágica, mistura diferentes tipos de água
sagrada na fonte e realiza um breve rito de ablução.
(Miner, 1956)
19. Referências
DESCOLA, Philippe. La nature domestique: symbolisme et praxis dans l’écologie
des Achuar. Paris: Éditions de la Maison des Sciences de l’Homme, 1986.
GIANNINI, Isabelle Vidal. Os índios e suas relações com a natureza. In: GRUPIONI
L. D. (Org.). Índios no Brasil. São Paulo: Secretaria Municipal da Cultura, 1992.
MINER, Horace. Body ritual among the Nacirema. American Anthropologist, n.58,
p.503-507, 1956.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O campo na selva, visto da praia. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, v.5, n.10, p.170-190, 1992.
WOORTMANN, Ellen F. Práticas eco-agrícolas tradicionais: ontem e hoje. Retratos
de Assentamento, Araraquara, v.14, n.2, p.15-32, 2011.
WOORTMANN, Klaas. Com parente não se neguceia: o campesinato como ordem
moral. Anuário Antropológico, Rio de Janeiro, n.87, 1990.
WOORTMANN, Klaas. O Selvagem na História: Heródoto e a questão do outro.
Revista de Antropologia, São Paulo, v.43, n.1, 2000.
20. Dialogando com as diferentes cosmologias:
o céu, a agricultura e a vida
Renata Menasche
renata.menasche@pq.cnpq.br