O presente texto enfoca as versões históricas em torno da temática “Cangaço”, ressaltando a dualidade herói/bandido atribuída aos cangaceiros. O texto serviu como ferramenta, junto as produções de slides para o desenvolvimento da oficina de cordéis e da oficina de paródias sobre a referida temática. O texto introdutório foi aplicado nas turmas do 9° Ano “B” do Ensino Fundamental II, no turno da manhã, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Senador Humberto Lucena, em 21 de setembro de 2017 e, na turma do 9º Ano “C” em 02 de outubro de 2017.
1. Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Centro de Educação (CEDUC)
Departamento de História
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID/CAPES
Escola Estadual de Ensino Fundamental Senador Humberto Lucena
Série: 9º Ano/A/B/Ensino Fundamental II
Data: 21/09/2017 Carga horária: 01 aula de 45 minutos
Professor Supervisor: Thiago Acácio Raposo
Bolsistas: Donizete Emanoel de Couto Rodrigues; Marília Cristina de Queiroz; Mylla
Christtie Montenegro Bezerra; Tissiane Emanuella Albuquerque Gomes; Valdeir Alves
dos Santos.
TEXTO INTRODUTÓRIO
O cangaço.
O semiárido brasileiro abrange a maior parte dos estados da região Nordeste e
caracteriza-se pelo baixo índice de chuvas, que quando ausentes por um longo período
provocam a seca. Distante dos centros urbanos e das ações do governo, no período
conhecido como Primeira República (1889-1930), o semiárido foi palco para atuação da
figura do “coronel”.
Nas cidades existiam empregos no comércio e nas instituições do governo,
enquanto no campo restava apenas trabalhar na agricultura. Os trabalhadores do campo
trabalhavam para enriquecer seus patrões, recebendo muito pouco em troca de seu árduo
trabalho, mal dando para alimentar a família. Diante dessa situação e da ausência do
Estado, os coronéis aproveitavam-se para realizar a troca de favores e ganhar a
subserviência do povo, tornando-se os chefes locais: os coronéis eram a “Lei”.
2. Esses líderes possuíam seus jagunços armados (uma espécie de “guarda-
costas”), para proteção pessoal e para cumprirem seus “mandos e desmandos”. Mas
alguns jagunços decidiram montar o seu próprio bando, com regras próprias, chefiadas
por um líder que respeitavam e a quem obedeciam, dando origem ao cangaço. A palavra
“cangaço” no século XIX referia-se aos bandoleiros (indivíduos que não param em
lugar nenhum) nordestinos que carregavam o rifle deitado sobre os ombros, lembrando
a canga, arreio de madeira que vai sobre o pescoço dos bois e o nome ficou: canga –
cangaço – cangaceiro.
Os sujeitos foram entrando para o cangaço pelos mais variados motivos:
vingança, ausência de perspectiva de vida e etc. Mas, teoricamente, como se voltaram
contra os coronéis, muitas pessoas consideraram e consideram os cangaceiros como os
defensores do povo das injustiças cometidas pelos coronéis. Porém, se para alguns, os
cangaceiros foram justiceiros e defensores dos mais humildes, para outros foram
verdadeiros bandidos. Os cangaceiros roubavam, torturavam, sequestravam e matavam.
Eles realmente enfrentaram muitos coronéis, mas também acobertavam e até defendiam
coronéis aliados, levando a crer que não se manifestaram contra a estrutura da sociedade
da época, nem contra o coronelismo, mas defendiam interesses próprios.
Um cangaceiro de destaque foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que em
alguns momentos também foi retratado como herói e em outros momentos foi colocado
como bandido. Lampião nasceu em Serra Talhada (Pernambucano), no ano de 1898,
era filho de um pequeno proprietário de terra, sabia ler e era um artesão habilidoso em
couro. Depois de anos de rixa com a família vizinha, a qual foi acusada de roubar
animais da propriedade do pai de Lampião, ele e mais dois irmãos passaram a matar
gado do inimigo e a assaltar. Com a polícia os perseguindo, o pai de Lampião acabou
sendo morto quando fugia e Lampião jurou vingança, passando a integrar o grupo do
cangaceiro Sinhô Pereira (cangaceiro de Serra Talhada – PE) aos 24 anos, o qual ao
deixar o cangaço em 1922 entregou o comando de seu bando a Lampião.
Para sobreviver no semiárido os cangaceiros necessitavam usar trajes
apropriados para resistir aos garranchos, carrapichos e espinhos da caatinga. A
vestimenta os diferenciava de bandidos comuns e conferiu-lhes uma marca visual
definida, era um figurino eficiente e de estilo. Fugiam com facilidade dos cercos
policiais, deslocando-se quase sempre a pé por conhecerem bem os terrenos sem
estradas e difíceis de serem percorridos até mesmo por animais de montaria, além disso,
eram ajudados por pessoas aliadas.
3. Outras circunstâncias ajudaram na notoriedade dada aos cangaceiros,
representada, principalmente, pela figura de Lampião. Comenta-se que uma forma de
Lampião e seus cangaceiros esconderem seus rastros era andar em fila indiana, todos
pisando na mesma pegada e o último de costas apagando-as com plantas. Também
usavam alpercatas com saltos para frente, e não para trás, como usualmente, para a
pegada apontar para o lado oposto. Ao invadirem uma cidade, evitavam logo os pedidos
de socorro cortando o fio do telégrafo e tomando o posto telefônico. Quando um
integrante do grupo morria, seu apelido era adotado por um novato, como os nomes
eram imortais, parecia que os cangaceiros eram invencíveis, pois nunca morriam. Os
cães que acompanhavam o bando de Lampião funcionavam como guardas e o
acampamento cercado com fios ligados a sinos serviam como alarme.
A saga do cangaço, presente no imaginário social, foi divulgada por meio de
folhetos de cordel, xilogravuras, folclore, romances, música, teatro, cinema, quadrinhos,
games, dentre outras produções, as quais alimentaram e alimentam a dualidade
herói/bandido atribuída aos cangaceiros, idolatrados ou temidos no auge do cangaço e
até hoje admirados ou rechaçados.
Referências
ALMEIDA, Erivelton Nunes de. A evolução da criminalidade no semiárido nordestino:
do cangaço ao crime organizado. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA
DIVERSIDADE DO SEMIÁRIDO, 1., 2016, Campina Grande. Anais... Campina
Grande: Realize, 2016. p. 1-9, v. 1. Disponível em:
<https://editorarealize.com.br/revistas/conidis/trabalhos/TRABALHO_EV064_MD1_S
A12_ID1714_09102016105810.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2017.
FTD sistema de ensino. SIM: português, matemática, ciências, história, geografia. 9º
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SALVARI, Fábio. Diálogos da História: Ensino Fundamental – 9º ano. Recife:
Construir, 1998.
VAZ, Valéria. Ser Protagonista: História, 3º ano: Ensino Médio. São Paulo: Edições
SM, 2013.