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O CANGAÇO Foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
O cangaço surgiu e desenvolveu-se na região semi-árida do nordeste brasileiro, no império da caatinga, nome que significa "mata branca". Não é uma área pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
Na caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho Chico, tão conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem durante a época da estiagem, quando os únicos a não sofrer são os coronéis, muitos deles transformados, atualmente, em políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os hábitos, e continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito possível da situação.
Nos leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a 1940, os sertanejos cavavam cacimbas, procurando o pouco de água que ainda restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas de se conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até obter um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os cangaceiros utilizavam-se muito desta última forma de conseguir "água".
No sertão, o coronel (latifundiário) é quem decide sobre homens e coisas. É chefe, juiz, delegado. Suas vontades são sentença. Sem perigo de sanções, usam a violência para aumentar seu domínio. Seu instrumento é o janguço, protegido e protetor.
A origem do Cangaço é o latifúndio, isto é bastante óbvio, e o Cangaço é uma latente no Brasil, no Nordeste, da Bahia pra cima, desde os tempos da colônia, quando a terra foi dividida em sesmarias e foi doada para senhores de terra com grandes latifúndios.
A necessidade de manter a posse da terra, de ter a terra, fez com que esses donos de terra mantivessem exércitos para lutar contra os índios, lutar contra os pobres, os posseiros, e depois também houve a necessidade de manter esses exércitos, grupos de capangas, de bandidos, etc... para manter a própria mão-de-obra, ou seja, para manter o escravo, prisioneiro, para evitar ou lutar contra a rebeldia do negro escravo.
Dentro desse processo de polícia particular de bandoleirismo do dono da terra, para manter a posse da terra e o domínio sobre a mão-de-obra, sobre o trabalhador, a primeira figura que emerge, que já é o cangaceiro surgindo, é o Capitão do Mato, que é o sujeito que vai caçar o trabalhador no mato quando ele foge – daí o seu nome – ou que mantém a ordem na senzala e dentro das roças.
A outra origem do Cangaço é o sistema que impera ainda hoje no Nordeste, na zona rural, de semi-escravidão. O trabalhador rural no Nordeste geralmente é um semi-escravo, o nome, inclusive, que se dá a ele é agregado, ou seja, ele é uma pessoa que se agrega à propriedade, é uma parte da propriedade e é também posse do dono da terra. Geralmente, ele não tem salário, é permitido que ele fique ali pela terra, e o dono da terra, o latifundiário, dá alguma coisa mínima daquilo que ele produz em troca de seu serviço. Um sistema de semi-escravidão gera miséria, gera uma série de injustiças sociais que explodem em revoltas pessoais e uma dessas revoltas dá origem ao cangaceiro; isto quanto às origens.
Quanto às causas do Cangaço, uma delas é a manutenção da propriedade privada. Era preciso, como antigamente, os exércitos particulares dos senhores de engenho, ou dos grandes donos de sesmarias do século XVIII até 1930, grupos de bandoleiros garantiam a posse de terra. A terra no Nordeste só recentemente começa a ser cercada, antes, ela não era. As divisas eram mais ou menos vagas. O que marcava bem a divisa da terra era o poder de violência do senhor; de ele dizer: "Essa terra é minha, aqui ninguém passa, nessa terra é o meu gado que vive." Para ter essa força de manter a propriedade privada, ele precisava de grupos armados, grupos de capangas que de vez em quando se transformavam em cangaceiros ou vice-versa.
Uma das causas também do Cangaço era a necessidade do dono da terra no Nordeste controlar as populações rurais, vivendo numa intensa miséria. Era de se esperar, como aconteceram em várias ocasiões, que o sertanejo se revoltasse e quisesse mudar sua situação pelas armas. Os grupos de cangaceiros, como vários outros de repressão no Nordeste, foram estimulados e pagos por grandes senhores de terra para manter a população rural num regime de terror, num regime até de apavoramento, de letargia, sabendo que se ele se rebelasse, o cangaceiro vinha e o liquidava.
O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os "políticos", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo.
E existem os efeitos do cangaceirismo. O primeiro deles é a violência desmedida que imperava no sertão. Um dos efeitos mais dramáticos e mais terríveis que podemos ver no Cangaço é o desvio do potencial revolucionário do povo. Aquela latente energia revolucionária que existia no Nordeste era desviada para o Cangaço. Ao invés de revoltar revolucionariamente, de tomar consciência política, o sertanejo quando se rebelava ao extremo, entrava para o Cangaço, ou ao contrário, era vítima do Cangaço. Um dos sintomas desses efeitos que se vê hoje é a alienação e o mito do cangaceiro. Nós ainda mantemos o mito de que o cangaceiro é um herói social, que lutava pela justiça, que roubava dos ricos para dar aos pobres – a situação não é bem essa. Foi por isso que eu disse que ia entrar aqui como um "estraga festa". Parece que eu estou usando uma linguagem bastante policial. Não se trata disso, trata-se de colocar as coisas certinhas.
Na verdade, o Cangaço é um sintoma da luta de classe que se processava no Nordeste. Só que o cangaceiro não tinha consciência social e o Cangaço acabava sendo simplesmente uma reação à miséria que não se resolvia de forma racional; se resolvia pela violência. Para entendermos bem tudo isso, é preciso acompanhar como atuavam os cangaceiros, e, principalmente, o grupo de Lampião, de quem se tem mais informação.
Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de 1870. E o último foi de " Corisco " (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.
Jesuíno Brilhante Jesuíno Alves de Melo Calado, depois chamado Jesuíno Brilhante, foi o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin Hood, adorado pela população pobre, defensor dos fracos, dos anciões oprimidos, das moças ultrajadas, das crianças agredidas.   Nasceu em Tuiuiú, Patu, Rio Grande do Norte, em 1844 e morreu lutando em Santo Antônio, Águas do Riacho dos Porcos, Brejo da Cruz, Paraíba, em fins de 1879. Sepultaram-no no mato, no lugar “Palha”. Seu crânio, exumado pelo seu amigo Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro, esteve longamente na Escola Normal de Mossoró e foi presenteado no Rio de Janeiro ao Prof. Dr. Juliano Moreira.
Uma rixa de sua família com a família dos Limões, em Patu, valentões protegidos pelos políticos, tornou-o de pacato agricultor em chefe de bando invencível em 1871. Ficaram famosos os assaltos à cadeia de Pombal (PE) para libertar seu irmão Lucas (1874) e, no ano de 1876, à cidade do Martins (RN). Cercados pela polícia local, Jesuíno e seus dez companheiros abriram passagem através das casas, rompendo as paredes, cantando a cantiga “Curujinha” e desapareceram. Ia sempre, disfarçado, às cidades maiores, hospedando-se em residências amigas, adquirindo munição e víveres. Durante a “Seca dos dois sete” (1877) arrebatava os víveres dos comboios oficiais para distribuí-los com os famintos. Nunca exigiu dinheiro ou matou para roubar.  Sua popularidade prestigiosa perdura na memória do sertão do Oeste norte-rio-grandense e fronteira paraibana com admiração e louvor inalteráveis.   Rodolfo Teófilo estudou-o no seu romance  Os Brilhantes e Gustavo Barroso , num ensaio no  Heróis e Bandidos ; Rodrigues de Carvalho publicou o “A.B.C. de Jesuíno Brilhante” no Cancioneiro do Norte.   Luís da Câmara Cascudo,  Flor de Romances Trágicos , com algumas pesquisas em cartórios e reminiscências familiares, 111-128, Rio de Janeiro, 1966).
O cangaceiro mais famoso foi, Virgulino Ferreira da Silva, o " Lampião ", denominado o "Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de  20  e  30  em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro.
Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes.
Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino. Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.
Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira.
A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou: "Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada." e arregalando os olhos: - “Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração Por ele”.
Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de meu sertão sorridente ! Brincava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.
A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco Anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna. À influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora - a "Mulher Rendeira" a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia rendas e bicos de fino lavor.
A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas. No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola, que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas.
Seu aprendizado com foi os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes. Ainda menino já trabalhava, carregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade. Mais tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente Virgulino foi também artesão em trabalhos de couro, e exímio tocador de sanfona Pé de bode e feirante. Antes de se tornar cangaceiro, ganhava a vida, juntamente com seu pai e os irmãos mais velhos, Antônio e Livino, como almocreve, tangendo tropa de burros e conduzindo mercadorias de Pernambuco para Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os irmãos mais moços Chamavam-se João e Ezequiel este o último a ingressar no cangaço, em 1927.
Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Método Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei. Sabe-se que votaram três vezes: em 1915, 1916 e 1919. A vida amorosa dos três irmãos era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares.
Até entrar para o cangaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira aonde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa seria sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança.
FAMÍLIA DE LAMPIÃO: Pai - José Ferreira da Silva Mãe - Maria Lopes Irmão João Ferreira -Nunca participou das lutas de Lampião. Criou seu irmão Ezequiel e todas as irmãs.  Levino Ferreira - Foi o primeiro irmão de Virgulino morto pela polícia. Antônio Ferreira - Era o irmão mais velho. Morreu num acidente, quando brincava com seu rifle. Este caiu no chão e disparou um tiro que lhe atingiu o peito. História estranha, mas verdadeira. Ezequiel Ferreira ”pente fino”- Era o caçula da família. Passou seis anos no cangaço e era exímio atirador. Foi ferido durante um tiroteio na fazenda Capoeira do Touro, na Bahia. Dizem que foi o próprio Lampião que, após despedir-se do irmão, deu-lhe o tiro de misericórdia. Irmãs: As irmãs Maria, Amália, Angélica e Virtuosa Ferreira foram criadas longe da vida do cangaço. Todos os irmãos que participaram do bando de Virgulino morreram nas lutas contra a polícia.
A ENTRADA NO CANGAÇO : Os dados históricos com que se preocupa em recompor à entrada de Virgulino no cangaço, são fragmentários, confusos e, geralmente, contraditórios, contudo todos concordam que o causador da questão foi uma família vizinha aos Ferreira, era a família de José Saturnino. Saturnino dois anos mais velho que Virgulino possuía uma fazenda vizinha a de Virgulino. Para a sociedade local estava um passo acima dos Ferreira, devido aos seus laços de parentesco com famílias de prestigio. Sua mulher pertencia a família dos Nogueira, que se consideravam da elite local, e seu pai era um importante fazendeiro, que tinha um grupo de homens armados. Seu tio Casimiro Honório, era um chefe de cangaceiros conhecidos, que serviu a poderosa família dos Carvalho em suas muitas lutas rancorosa e sangrenta contra os Pereira. Além disso, era considerado o chefe da família. Os Ferreira, em comparação era relativamente humilde.
A inimizade entre os Ferreira e os Carvalho começou em 1916, quando Virgulino tinha 19 anos. As causas foram invasão de propriedade e pretensos roubos de animais e chocalhos. Segundo os Ferreira um dos moradores de Saturnino estava roubando suas cabras, deram queixa e o chefe de policia, que era tio de Virgulino, começou a investigação acompanhado por Livino e Virgulino, foi até a casa do morador e declarou que os couros encontrados tinha a marca dos Ferreira.
Saturnino achou que a vinda dos Ferreira e seu parente chefe de policia as suas terras, assim como as acusações, eram um insulto, e declarou que seu morador seria protegido, também acusou os filhos dos Ferreira de maltratar seus animais e roubar seus chocalhos, e avisou-os para ficarem longe de suas terras.
A má vontade entre as duas famílias degenerou em violência. Em 1916, num dos primeiros dias de Dezembro, Virgulino e Levino, depois de recolherem o gado, passaram por um campo onde alguns homens de Saturnino estavam trabalhando, e foram alertados que não deveriam passar por aquela terra e responderam que passariam por onde quisessem e avisou a Saturnino que não se metesse, o que resultou em um dos homens de Saturnino disparando dois tiros. No dia seguinte, se reuniram Virgulino, Levino, e Antônio juntamente com um dos moradores, com o intuito de novamente recolher o gado, ao passarem perto da casa dos Saturnino ouve um grande tiroteio resultando que Antônio foi ferido na coxa.
José Ferreira, o pai, resolveu tomar uma atitude para resolver a situação e juntamente com chefes locais e influentes, procurou entrar em contato com José Saturnino e seus parentes, esperando assim acabar com a violência. No acordo ficou o pai de Virgulino levou a pior foi obrigado a vender a fazenda e se mudar para outro lugar perto da vila de Nazaré, na comarca de floresta, e estavam proibidos de retornar a antiga fazenda, José Saturnino e seus parentes próximos ficaram proibidos de irem a Nazaré.
Feita a mudança os Ferreira se estabeleceram numa fazenda conhecida como Poço do Negro. Mas este acordo não durou muito tempo, alguns meses depois da mudança quando Virgulino e Manoel Lopez (um tio que vivia com os Ferreira), decidiram ir a feira semanal em Nazaré. Na vila Virgulino e seu tio conseguiram ver Saturnino e Nogueira, que foram ate lá para cobrar o pagamento de uma divida de uma venda de um cavalo. Virgulino se exaltou e queria atacá-los no meio da rua, sendo acalmado pelo seu tio que sugeriu que fossem atocaiados, e ao anoitecer eles foram atocaiados mais ninguém saiu ferido.
No dia seguinte Saturnino e aproximadamente quinze homens atacaram A fazenda Poço do Negro, e não surpreenderam Virgulino e seu tio Manoel, que já esperavam pelo ataque, estavam sozinhos, pois o velho José Ferreira estava viajando fazendo seus carretos e a outra parte da família foram visitar uns parentes ao norte. Após este incidente ficou provado o risco que todos os Ferreira estavam expostos e a partir desse dia todos os rapazes dos Ferreira passaram a andar armados e a adquirirem a reputação de cangaceiros, começaram a usar as roupas que caracterizavam o bandido profissional: chapéu com a aba virada na frente, lenços vistosos ao redor do pescoço, e cinturões com cartucheiras.
Sebastião Pereira, um cangaceiro que era bastante conhecido pelos irmãos Ferreira e foi quem lhes serviu de modelo. Era depois de Antônio Silvino o cangaceiro mais famoso dos Sertões. Era natural de São Francisco, situada perto da fazenda dos Ferreira, Passagem das Pedras, e além disto, era mais ou menos da mesma idade dos filhos dos Ferreira. Acompanhado de um grande bando, estava desde 1916 agindo na região onde os Ferreira moravam, e Antônio Matildes (um tio dos irmãos Ferreira) era quem os protegia. E os Nogueira e Saturnino, faziam parte da família dos Carvalho, que eram os principais inimigos dos Pereiras. A atitude de sempre estar metidos em briga Virgulino e seus irmãos começaram a perturbar a paz dos habitantes de Nazaré que eram dominados pelas famílias ligadas por parentesco ou casamento a Saturnino e aos Nogueira.
A atitude de sempre estar metidos em briga Virgulino e seus irmãos começaram a perturbar a paz dos habitantes de Nazaré que eram dominados pelas famílias ligadas por parentesco ou casamento a Saturnino e aos Nogueira. As primeiras dificuldades com os irmãos Ferreira foi devido ao costume de não portar armas nos povoados, ato muito comum, onde se deixavam as armas na casa de amigos ou estabelecimentos comerciais, numa visita a Nazaré, Antônio, Virgulino e Leviano se recusaram a seguir este costume, pois alegaram que suas vidas corriam risco, isto ocasionou uma troca de ameaças entre eles e os principais habitantes de Nazaré. Declarando que os Ferreira estavam a paz da comunidade e prejudicando o comércio as famílias de prestigio do povoado conseguiram designar um policial do estado.
Lampião teve uma vida difícil. Seu pai foi morto quando Virgulino ainda era adolescente, numa busca policial, pelo alagoano José Lucena Maranhão, quando o destacamento procurava Virgulino, Levino e Antônio, os três irmãos já envolvidos com crimes. A ação policial desastrada o levou definitivamente a assumir a atitude de bandido, e por volta de 1916 se juntou a um bando de cangaceiros chefiados por um primo seu, Sebastião Pereira, vulgo "Sinhô Pereira". Já em 1919 liderava o grupo, e sua fama corria o país inteiro. Era o personagem preferido de literatura de cordel, onde era mostrado como um grande "herói", infalível e indomável. Relatos de suas façanhas contra as polícias chegavam aos ouvidos dos políticos, que patrocinaram uma caçada para persegui-lo e matá-lo.
Vários coronéis (coiteiros) do sertão ofereciam armas, munição e abrigo em suas terras ao cangaceiro em troca de ajuda para sua segurança e na luta contra inimigos, assim como participação no butim dos saques. Lampião se tornou uma "lenda" depois de morto. Desenvolveu-se, depois da sua morte, a falsa noção de que ele era uma espécie de revolucionário marxista (documentos da III Internacional à época falam dos cangaceiros como "partisans", ou seja, guerrilheiros), que combatia as injustiças sociais no sertão, e que tirava dos ricos para dar aos pobres .
Na verdade ele parece ter sido apenas um bandido comum, extremamente cruel e sanguinário, capaz das piores atrocidades contra as populações rurais no nordeste, e que sempre viveu em conluio com latifundiários. Extremamente vaidoso, gostava de perfumes franceses, roupas com enfeites e chapéus enormes adornados com moedas de prata, e confeccionava suas próprias alpercatas, bornais e cartucheiras, feitos de couro.
Lampião era um assassino frio. Mau com os fracos e mais terrível ainda com os poderosos. Lampião era exímio com a faca e não se importava de ver as suas vítimas sangrar agonizando até a morte. Não se importava com o sofrimento alheio ao testemunhar mães verem a morte de seus filhos, maridos de esposas e vice-versa. Matou com igual crueldade mulheres, crianças indefesas, mulheres grávidas e até mesmo velhos. Lampião especializou-se em alguns tipos de tortura como a decepação de membros e olhos.
Famoso ficou o caso de uma mulher que lhe entregara os anéis afirmando "vão-se os anéis e ficam os dedos" no que Lampião respondeu "pois vão-se os dedos também" e mandou decepar-lhe a mão. Praticou também estupros coletivos (num deles, mais de 25 homens de seu grupo barbarizaram uma indefesa mulher antes de mata-la). Uma de suas execuções favoritas era cortar a pessoa com a faca da clavícula ao alto do pescoço. Lampião também costumava empalar algumas de suas vítimas. Essas terríveis formas de matar eram usadas indiscriminadamente, tanto para com inimigos legítimos e poderosos como para pessoas inocentes que em alguma coisa desagradacem ao gênio vaidoso de Virgulino.
Apesar de suas atrocidades, era religioso e trazia sempre no bornal um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Conta-se, aliás, que em 1926 teria recebido a patente de capitão da Guarda Nacional pelas mãos do Padre Cícero a fim de combater a Coluna Prestes que, naqueles dias agitados, passava pelo território cearense - um mito que parece ter como objetivo realçar o prestígio de Lampião ao associá-lo ao maior taumaturgo nordestino. Nesta passagem por Juazeiro do Norte, Lampião deu uma entrevista para o médico de Crato, Dr Octacílio Macêdo.
LAMPIÃO, A ENTREVISTA - Que idade tem? - Vinte e sete anos. - Há quanto tempo está nesta vida? - Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor Pereira. - Não pretende abandonar a profissão?        Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo. - Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"? Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.   - E depois, que profissão adotará ? Talvez a de negociante.  Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias? - Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
MARIA BONITA Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita. Em suas andanças e fugas, foi para o Ra-so da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos  .
MORTE Em 28 de julho de 1938, no município de Poço Redondo, Sergipe, na fazenda Angico, Lampião foi morto por um grupamento da Polícia Militar alagoana, as chamados volantes, chefiado pelo tenente João Bezerra, juntamente com dez de seus cangaceiros, entre os quais se encontrava sua companheira, Maria Bonita, Luís Pedro, este o seu cangaçeiro mais fiel, além de Mergulhão, Elétrico, Quinta-Feira, Caixa de Fósforo, Adília, Cajarana e Diferente. Foram todos decapitados e suas cabeças, devidamente etiquetadas, levadas como comprovante de suas mortes, foram expostas nas escadarias da igreja matriz de Santana do Ipanema. De lá foram conduzidas a Maceió e depois para Salvador. Foram mantidas, até a década de 1970, como "objetos de pesquisa científica" no Instituto Médico Legal de Salvador (Instituto Nina Rodrigues). Nina Rodrigues era fiel seguidor das idéias de médico legista forense italiano Cesare Lombroso segundo a qual a fisionomia tem uma correspondência direta com a tendência ao banditismo. Nisa esperava encontrar nas amostras colhidas do bando de Lampião a comprovação da tese lombrosiana.
CORISCO Uma semana depois do massacre de Angicos, o cangaceiro Corisco, o "Diabo Louro", que havia se separado de Lampião, constituindo um bando à parte, desfechou ataques fulminantes sobre cidades à margem do Rio São Francisco como vingança pela morte de seu amigo. Enviou algumas cabeças cortadas ao prefeito do povoado de Piranhas, com um bilhete: "Se o negócio é de cabeças, vou mandar em quantidade". Corisco foi morto em julho de 1940.
O final do cangaço ocorreu em 1938, quando o bando de Lampião foi massacrado, às margem do Rio São Francisco, em Angicos, Alagoas. Corisco, o Diabo Louro, ainda sobreviveu até 1940, mas sem quase nada fazer para cumprir a promessa de "vingar a morte de Lampião".
O cangaço teve o seu fim a partir da decisão do Presidente da República, o Ditador Getúlio Vargas, de eliminar todos e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem. No dia 28 de julho de 1938 na localidade de Angicos, no estado de Sergipe, Lampião foi vítima de uma emboscada onde foi morto junto com sua mulher, Maria Bonita e mais nove cangaceiros. Esta data veio a marcar o final do cangaço pois a partir da repercussão da morte de Lampião os chefes dos outros bandos existentes no nordeste brasileiro vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.
1   Chapéu -  inspirado no modelo francês adotado pelo imperador Napoleão Bonaparte, de quem Lampião leu a biografia. 2 Lenços -  de tafetá francês ou seda pura inglesa; geralmente estampados e coloridos, quebravam a monotonia do tom ocre da roupa. 3 Brincos -  ao contrário de outros sertanejos, os cangaceiros usavam brincos e outras jóias. 4 Casaco -  desenhado e costurado em algodão ou couro por Lampião, que carregava uma máquina de costura Singer para todos os seus acampamentos; tem também inspirações medievais. 5 Perfume -  os   cangaceiros costumavam ser reconhecidos pelo cheiro excessivo de perfume, inclusive pelas volantes; Lampião preferia o "Fleur d'Amour", considerado um dos melhores perfumes franceses entre os anos 20 e 40. 6 Calça -  o   modelo mais usado era com culote e   cintura bem alta; usavam até três no inverno devido ao frio à noite. 7 Cabelo  - longo. Lampião deixou de cortar os cabelos como promessa, após a morte do irmão, sendo seguido pelos outros cangaceiros; às vezes, eles penduravam anéis no cabelo, depois de lotados todos os dedos das mãos. 8 Arma  - como outros adereços, era cravejada de moedas de ouro, influência da marchetaria árabe no sertão nordestino; segundo o historiador Gilberto Freyre, os árabes são uma "eminência parda" na cultura nordestina. 9 Alpargatas -  enfeitadas com desenhos costurados; tinham uma lingueta para proteger os   dedos 10 Saia -  sempre acima do joelho, desrespeitando a convenção da saia rendada até o tornozelo. 11 Anéis  - mulheres e homens usavam até três anéis por dedo. 12 Alpargatas  - desenhadas e confeccionadas em couro por Dadá, mulher de Corisco, estilista do grupo. 13 Colares  - também usados em abundância.

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O Cangaceiro mais famoso: Lampião

  • 1. O CANGAÇO Foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
  • 2. O cangaço surgiu e desenvolveu-se na região semi-árida do nordeste brasileiro, no império da caatinga, nome que significa "mata branca". Não é uma área pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
  • 3. Na caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho Chico, tão conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem durante a época da estiagem, quando os únicos a não sofrer são os coronéis, muitos deles transformados, atualmente, em políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os hábitos, e continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito possível da situação.
  • 4. Nos leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a 1940, os sertanejos cavavam cacimbas, procurando o pouco de água que ainda restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas de se conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até obter um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os cangaceiros utilizavam-se muito desta última forma de conseguir "água".
  • 5. No sertão, o coronel (latifundiário) é quem decide sobre homens e coisas. É chefe, juiz, delegado. Suas vontades são sentença. Sem perigo de sanções, usam a violência para aumentar seu domínio. Seu instrumento é o janguço, protegido e protetor.
  • 6. A origem do Cangaço é o latifúndio, isto é bastante óbvio, e o Cangaço é uma latente no Brasil, no Nordeste, da Bahia pra cima, desde os tempos da colônia, quando a terra foi dividida em sesmarias e foi doada para senhores de terra com grandes latifúndios.
  • 7. A necessidade de manter a posse da terra, de ter a terra, fez com que esses donos de terra mantivessem exércitos para lutar contra os índios, lutar contra os pobres, os posseiros, e depois também houve a necessidade de manter esses exércitos, grupos de capangas, de bandidos, etc... para manter a própria mão-de-obra, ou seja, para manter o escravo, prisioneiro, para evitar ou lutar contra a rebeldia do negro escravo.
  • 8. Dentro desse processo de polícia particular de bandoleirismo do dono da terra, para manter a posse da terra e o domínio sobre a mão-de-obra, sobre o trabalhador, a primeira figura que emerge, que já é o cangaceiro surgindo, é o Capitão do Mato, que é o sujeito que vai caçar o trabalhador no mato quando ele foge – daí o seu nome – ou que mantém a ordem na senzala e dentro das roças.
  • 9. A outra origem do Cangaço é o sistema que impera ainda hoje no Nordeste, na zona rural, de semi-escravidão. O trabalhador rural no Nordeste geralmente é um semi-escravo, o nome, inclusive, que se dá a ele é agregado, ou seja, ele é uma pessoa que se agrega à propriedade, é uma parte da propriedade e é também posse do dono da terra. Geralmente, ele não tem salário, é permitido que ele fique ali pela terra, e o dono da terra, o latifundiário, dá alguma coisa mínima daquilo que ele produz em troca de seu serviço. Um sistema de semi-escravidão gera miséria, gera uma série de injustiças sociais que explodem em revoltas pessoais e uma dessas revoltas dá origem ao cangaceiro; isto quanto às origens.
  • 10. Quanto às causas do Cangaço, uma delas é a manutenção da propriedade privada. Era preciso, como antigamente, os exércitos particulares dos senhores de engenho, ou dos grandes donos de sesmarias do século XVIII até 1930, grupos de bandoleiros garantiam a posse de terra. A terra no Nordeste só recentemente começa a ser cercada, antes, ela não era. As divisas eram mais ou menos vagas. O que marcava bem a divisa da terra era o poder de violência do senhor; de ele dizer: "Essa terra é minha, aqui ninguém passa, nessa terra é o meu gado que vive." Para ter essa força de manter a propriedade privada, ele precisava de grupos armados, grupos de capangas que de vez em quando se transformavam em cangaceiros ou vice-versa.
  • 11. Uma das causas também do Cangaço era a necessidade do dono da terra no Nordeste controlar as populações rurais, vivendo numa intensa miséria. Era de se esperar, como aconteceram em várias ocasiões, que o sertanejo se revoltasse e quisesse mudar sua situação pelas armas. Os grupos de cangaceiros, como vários outros de repressão no Nordeste, foram estimulados e pagos por grandes senhores de terra para manter a população rural num regime de terror, num regime até de apavoramento, de letargia, sabendo que se ele se rebelasse, o cangaceiro vinha e o liquidava.
  • 12. O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os "políticos", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo.
  • 13. E existem os efeitos do cangaceirismo. O primeiro deles é a violência desmedida que imperava no sertão. Um dos efeitos mais dramáticos e mais terríveis que podemos ver no Cangaço é o desvio do potencial revolucionário do povo. Aquela latente energia revolucionária que existia no Nordeste era desviada para o Cangaço. Ao invés de revoltar revolucionariamente, de tomar consciência política, o sertanejo quando se rebelava ao extremo, entrava para o Cangaço, ou ao contrário, era vítima do Cangaço. Um dos sintomas desses efeitos que se vê hoje é a alienação e o mito do cangaceiro. Nós ainda mantemos o mito de que o cangaceiro é um herói social, que lutava pela justiça, que roubava dos ricos para dar aos pobres – a situação não é bem essa. Foi por isso que eu disse que ia entrar aqui como um "estraga festa". Parece que eu estou usando uma linguagem bastante policial. Não se trata disso, trata-se de colocar as coisas certinhas.
  • 14. Na verdade, o Cangaço é um sintoma da luta de classe que se processava no Nordeste. Só que o cangaceiro não tinha consciência social e o Cangaço acabava sendo simplesmente uma reação à miséria que não se resolvia de forma racional; se resolvia pela violência. Para entendermos bem tudo isso, é preciso acompanhar como atuavam os cangaceiros, e, principalmente, o grupo de Lampião, de quem se tem mais informação.
  • 15. Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
  • 16. O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de 1870. E o último foi de " Corisco " (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.
  • 17. Jesuíno Brilhante Jesuíno Alves de Melo Calado, depois chamado Jesuíno Brilhante, foi o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin Hood, adorado pela população pobre, defensor dos fracos, dos anciões oprimidos, das moças ultrajadas, das crianças agredidas. Nasceu em Tuiuiú, Patu, Rio Grande do Norte, em 1844 e morreu lutando em Santo Antônio, Águas do Riacho dos Porcos, Brejo da Cruz, Paraíba, em fins de 1879. Sepultaram-no no mato, no lugar “Palha”. Seu crânio, exumado pelo seu amigo Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro, esteve longamente na Escola Normal de Mossoró e foi presenteado no Rio de Janeiro ao Prof. Dr. Juliano Moreira.
  • 18. Uma rixa de sua família com a família dos Limões, em Patu, valentões protegidos pelos políticos, tornou-o de pacato agricultor em chefe de bando invencível em 1871. Ficaram famosos os assaltos à cadeia de Pombal (PE) para libertar seu irmão Lucas (1874) e, no ano de 1876, à cidade do Martins (RN). Cercados pela polícia local, Jesuíno e seus dez companheiros abriram passagem através das casas, rompendo as paredes, cantando a cantiga “Curujinha” e desapareceram. Ia sempre, disfarçado, às cidades maiores, hospedando-se em residências amigas, adquirindo munição e víveres. Durante a “Seca dos dois sete” (1877) arrebatava os víveres dos comboios oficiais para distribuí-los com os famintos. Nunca exigiu dinheiro ou matou para roubar.  Sua popularidade prestigiosa perdura na memória do sertão do Oeste norte-rio-grandense e fronteira paraibana com admiração e louvor inalteráveis. Rodolfo Teófilo estudou-o no seu romance Os Brilhantes e Gustavo Barroso , num ensaio no Heróis e Bandidos ; Rodrigues de Carvalho publicou o “A.B.C. de Jesuíno Brilhante” no Cancioneiro do Norte. Luís da Câmara Cascudo, Flor de Romances Trágicos , com algumas pesquisas em cartórios e reminiscências familiares, 111-128, Rio de Janeiro, 1966).
  • 19. O cangaceiro mais famoso foi, Virgulino Ferreira da Silva, o " Lampião ", denominado o "Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro.
  • 20. Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes.
  • 21. Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino. Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.
  • 22. Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira.
  • 23. A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou: "Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada." e arregalando os olhos: - “Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração Por ele”.
  • 24. Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de meu sertão sorridente ! Brincava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.
  • 25. A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco Anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna. À influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora - a "Mulher Rendeira" a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia rendas e bicos de fino lavor.
  • 26. A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas. No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola, que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas.
  • 27. Seu aprendizado com foi os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes. Ainda menino já trabalhava, carregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade. Mais tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente Virgulino foi também artesão em trabalhos de couro, e exímio tocador de sanfona Pé de bode e feirante. Antes de se tornar cangaceiro, ganhava a vida, juntamente com seu pai e os irmãos mais velhos, Antônio e Livino, como almocreve, tangendo tropa de burros e conduzindo mercadorias de Pernambuco para Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os irmãos mais moços Chamavam-se João e Ezequiel este o último a ingressar no cangaço, em 1927.
  • 28. Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Método Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei. Sabe-se que votaram três vezes: em 1915, 1916 e 1919. A vida amorosa dos três irmãos era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares.
  • 29. Até entrar para o cangaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira aonde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa seria sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança.
  • 30. FAMÍLIA DE LAMPIÃO: Pai - José Ferreira da Silva Mãe - Maria Lopes Irmão João Ferreira -Nunca participou das lutas de Lampião. Criou seu irmão Ezequiel e todas as irmãs. Levino Ferreira - Foi o primeiro irmão de Virgulino morto pela polícia. Antônio Ferreira - Era o irmão mais velho. Morreu num acidente, quando brincava com seu rifle. Este caiu no chão e disparou um tiro que lhe atingiu o peito. História estranha, mas verdadeira. Ezequiel Ferreira ”pente fino”- Era o caçula da família. Passou seis anos no cangaço e era exímio atirador. Foi ferido durante um tiroteio na fazenda Capoeira do Touro, na Bahia. Dizem que foi o próprio Lampião que, após despedir-se do irmão, deu-lhe o tiro de misericórdia. Irmãs: As irmãs Maria, Amália, Angélica e Virtuosa Ferreira foram criadas longe da vida do cangaço. Todos os irmãos que participaram do bando de Virgulino morreram nas lutas contra a polícia.
  • 31. A ENTRADA NO CANGAÇO : Os dados históricos com que se preocupa em recompor à entrada de Virgulino no cangaço, são fragmentários, confusos e, geralmente, contraditórios, contudo todos concordam que o causador da questão foi uma família vizinha aos Ferreira, era a família de José Saturnino. Saturnino dois anos mais velho que Virgulino possuía uma fazenda vizinha a de Virgulino. Para a sociedade local estava um passo acima dos Ferreira, devido aos seus laços de parentesco com famílias de prestigio. Sua mulher pertencia a família dos Nogueira, que se consideravam da elite local, e seu pai era um importante fazendeiro, que tinha um grupo de homens armados. Seu tio Casimiro Honório, era um chefe de cangaceiros conhecidos, que serviu a poderosa família dos Carvalho em suas muitas lutas rancorosa e sangrenta contra os Pereira. Além disso, era considerado o chefe da família. Os Ferreira, em comparação era relativamente humilde.
  • 32. A inimizade entre os Ferreira e os Carvalho começou em 1916, quando Virgulino tinha 19 anos. As causas foram invasão de propriedade e pretensos roubos de animais e chocalhos. Segundo os Ferreira um dos moradores de Saturnino estava roubando suas cabras, deram queixa e o chefe de policia, que era tio de Virgulino, começou a investigação acompanhado por Livino e Virgulino, foi até a casa do morador e declarou que os couros encontrados tinha a marca dos Ferreira.
  • 33. Saturnino achou que a vinda dos Ferreira e seu parente chefe de policia as suas terras, assim como as acusações, eram um insulto, e declarou que seu morador seria protegido, também acusou os filhos dos Ferreira de maltratar seus animais e roubar seus chocalhos, e avisou-os para ficarem longe de suas terras.
  • 34. A má vontade entre as duas famílias degenerou em violência. Em 1916, num dos primeiros dias de Dezembro, Virgulino e Levino, depois de recolherem o gado, passaram por um campo onde alguns homens de Saturnino estavam trabalhando, e foram alertados que não deveriam passar por aquela terra e responderam que passariam por onde quisessem e avisou a Saturnino que não se metesse, o que resultou em um dos homens de Saturnino disparando dois tiros. No dia seguinte, se reuniram Virgulino, Levino, e Antônio juntamente com um dos moradores, com o intuito de novamente recolher o gado, ao passarem perto da casa dos Saturnino ouve um grande tiroteio resultando que Antônio foi ferido na coxa.
  • 35. José Ferreira, o pai, resolveu tomar uma atitude para resolver a situação e juntamente com chefes locais e influentes, procurou entrar em contato com José Saturnino e seus parentes, esperando assim acabar com a violência. No acordo ficou o pai de Virgulino levou a pior foi obrigado a vender a fazenda e se mudar para outro lugar perto da vila de Nazaré, na comarca de floresta, e estavam proibidos de retornar a antiga fazenda, José Saturnino e seus parentes próximos ficaram proibidos de irem a Nazaré.
  • 36. Feita a mudança os Ferreira se estabeleceram numa fazenda conhecida como Poço do Negro. Mas este acordo não durou muito tempo, alguns meses depois da mudança quando Virgulino e Manoel Lopez (um tio que vivia com os Ferreira), decidiram ir a feira semanal em Nazaré. Na vila Virgulino e seu tio conseguiram ver Saturnino e Nogueira, que foram ate lá para cobrar o pagamento de uma divida de uma venda de um cavalo. Virgulino se exaltou e queria atacá-los no meio da rua, sendo acalmado pelo seu tio que sugeriu que fossem atocaiados, e ao anoitecer eles foram atocaiados mais ninguém saiu ferido.
  • 37. No dia seguinte Saturnino e aproximadamente quinze homens atacaram A fazenda Poço do Negro, e não surpreenderam Virgulino e seu tio Manoel, que já esperavam pelo ataque, estavam sozinhos, pois o velho José Ferreira estava viajando fazendo seus carretos e a outra parte da família foram visitar uns parentes ao norte. Após este incidente ficou provado o risco que todos os Ferreira estavam expostos e a partir desse dia todos os rapazes dos Ferreira passaram a andar armados e a adquirirem a reputação de cangaceiros, começaram a usar as roupas que caracterizavam o bandido profissional: chapéu com a aba virada na frente, lenços vistosos ao redor do pescoço, e cinturões com cartucheiras.
  • 38. Sebastião Pereira, um cangaceiro que era bastante conhecido pelos irmãos Ferreira e foi quem lhes serviu de modelo. Era depois de Antônio Silvino o cangaceiro mais famoso dos Sertões. Era natural de São Francisco, situada perto da fazenda dos Ferreira, Passagem das Pedras, e além disto, era mais ou menos da mesma idade dos filhos dos Ferreira. Acompanhado de um grande bando, estava desde 1916 agindo na região onde os Ferreira moravam, e Antônio Matildes (um tio dos irmãos Ferreira) era quem os protegia. E os Nogueira e Saturnino, faziam parte da família dos Carvalho, que eram os principais inimigos dos Pereiras. A atitude de sempre estar metidos em briga Virgulino e seus irmãos começaram a perturbar a paz dos habitantes de Nazaré que eram dominados pelas famílias ligadas por parentesco ou casamento a Saturnino e aos Nogueira.
  • 39. A atitude de sempre estar metidos em briga Virgulino e seus irmãos começaram a perturbar a paz dos habitantes de Nazaré que eram dominados pelas famílias ligadas por parentesco ou casamento a Saturnino e aos Nogueira. As primeiras dificuldades com os irmãos Ferreira foi devido ao costume de não portar armas nos povoados, ato muito comum, onde se deixavam as armas na casa de amigos ou estabelecimentos comerciais, numa visita a Nazaré, Antônio, Virgulino e Leviano se recusaram a seguir este costume, pois alegaram que suas vidas corriam risco, isto ocasionou uma troca de ameaças entre eles e os principais habitantes de Nazaré. Declarando que os Ferreira estavam a paz da comunidade e prejudicando o comércio as famílias de prestigio do povoado conseguiram designar um policial do estado.
  • 40. Lampião teve uma vida difícil. Seu pai foi morto quando Virgulino ainda era adolescente, numa busca policial, pelo alagoano José Lucena Maranhão, quando o destacamento procurava Virgulino, Levino e Antônio, os três irmãos já envolvidos com crimes. A ação policial desastrada o levou definitivamente a assumir a atitude de bandido, e por volta de 1916 se juntou a um bando de cangaceiros chefiados por um primo seu, Sebastião Pereira, vulgo "Sinhô Pereira". Já em 1919 liderava o grupo, e sua fama corria o país inteiro. Era o personagem preferido de literatura de cordel, onde era mostrado como um grande "herói", infalível e indomável. Relatos de suas façanhas contra as polícias chegavam aos ouvidos dos políticos, que patrocinaram uma caçada para persegui-lo e matá-lo.
  • 41. Vários coronéis (coiteiros) do sertão ofereciam armas, munição e abrigo em suas terras ao cangaceiro em troca de ajuda para sua segurança e na luta contra inimigos, assim como participação no butim dos saques. Lampião se tornou uma "lenda" depois de morto. Desenvolveu-se, depois da sua morte, a falsa noção de que ele era uma espécie de revolucionário marxista (documentos da III Internacional à época falam dos cangaceiros como "partisans", ou seja, guerrilheiros), que combatia as injustiças sociais no sertão, e que tirava dos ricos para dar aos pobres .
  • 42. Na verdade ele parece ter sido apenas um bandido comum, extremamente cruel e sanguinário, capaz das piores atrocidades contra as populações rurais no nordeste, e que sempre viveu em conluio com latifundiários. Extremamente vaidoso, gostava de perfumes franceses, roupas com enfeites e chapéus enormes adornados com moedas de prata, e confeccionava suas próprias alpercatas, bornais e cartucheiras, feitos de couro.
  • 43. Lampião era um assassino frio. Mau com os fracos e mais terrível ainda com os poderosos. Lampião era exímio com a faca e não se importava de ver as suas vítimas sangrar agonizando até a morte. Não se importava com o sofrimento alheio ao testemunhar mães verem a morte de seus filhos, maridos de esposas e vice-versa. Matou com igual crueldade mulheres, crianças indefesas, mulheres grávidas e até mesmo velhos. Lampião especializou-se em alguns tipos de tortura como a decepação de membros e olhos.
  • 44. Famoso ficou o caso de uma mulher que lhe entregara os anéis afirmando "vão-se os anéis e ficam os dedos" no que Lampião respondeu "pois vão-se os dedos também" e mandou decepar-lhe a mão. Praticou também estupros coletivos (num deles, mais de 25 homens de seu grupo barbarizaram uma indefesa mulher antes de mata-la). Uma de suas execuções favoritas era cortar a pessoa com a faca da clavícula ao alto do pescoço. Lampião também costumava empalar algumas de suas vítimas. Essas terríveis formas de matar eram usadas indiscriminadamente, tanto para com inimigos legítimos e poderosos como para pessoas inocentes que em alguma coisa desagradacem ao gênio vaidoso de Virgulino.
  • 45. Apesar de suas atrocidades, era religioso e trazia sempre no bornal um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Conta-se, aliás, que em 1926 teria recebido a patente de capitão da Guarda Nacional pelas mãos do Padre Cícero a fim de combater a Coluna Prestes que, naqueles dias agitados, passava pelo território cearense - um mito que parece ter como objetivo realçar o prestígio de Lampião ao associá-lo ao maior taumaturgo nordestino. Nesta passagem por Juazeiro do Norte, Lampião deu uma entrevista para o médico de Crato, Dr Octacílio Macêdo.
  • 46. LAMPIÃO, A ENTREVISTA - Que idade tem? - Vinte e sete anos. - Há quanto tempo está nesta vida? - Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor Pereira. - Não pretende abandonar a profissão?       Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo. - Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"? Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.   - E depois, que profissão adotará ? Talvez a de negociante. Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias? - Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
  • 47. MARIA BONITA Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita. Em suas andanças e fugas, foi para o Ra-so da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos .
  • 48. MORTE Em 28 de julho de 1938, no município de Poço Redondo, Sergipe, na fazenda Angico, Lampião foi morto por um grupamento da Polícia Militar alagoana, as chamados volantes, chefiado pelo tenente João Bezerra, juntamente com dez de seus cangaceiros, entre os quais se encontrava sua companheira, Maria Bonita, Luís Pedro, este o seu cangaçeiro mais fiel, além de Mergulhão, Elétrico, Quinta-Feira, Caixa de Fósforo, Adília, Cajarana e Diferente. Foram todos decapitados e suas cabeças, devidamente etiquetadas, levadas como comprovante de suas mortes, foram expostas nas escadarias da igreja matriz de Santana do Ipanema. De lá foram conduzidas a Maceió e depois para Salvador. Foram mantidas, até a década de 1970, como "objetos de pesquisa científica" no Instituto Médico Legal de Salvador (Instituto Nina Rodrigues). Nina Rodrigues era fiel seguidor das idéias de médico legista forense italiano Cesare Lombroso segundo a qual a fisionomia tem uma correspondência direta com a tendência ao banditismo. Nisa esperava encontrar nas amostras colhidas do bando de Lampião a comprovação da tese lombrosiana.
  • 49. CORISCO Uma semana depois do massacre de Angicos, o cangaceiro Corisco, o "Diabo Louro", que havia se separado de Lampião, constituindo um bando à parte, desfechou ataques fulminantes sobre cidades à margem do Rio São Francisco como vingança pela morte de seu amigo. Enviou algumas cabeças cortadas ao prefeito do povoado de Piranhas, com um bilhete: "Se o negócio é de cabeças, vou mandar em quantidade". Corisco foi morto em julho de 1940.
  • 50. O final do cangaço ocorreu em 1938, quando o bando de Lampião foi massacrado, às margem do Rio São Francisco, em Angicos, Alagoas. Corisco, o Diabo Louro, ainda sobreviveu até 1940, mas sem quase nada fazer para cumprir a promessa de "vingar a morte de Lampião".
  • 51. O cangaço teve o seu fim a partir da decisão do Presidente da República, o Ditador Getúlio Vargas, de eliminar todos e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem. No dia 28 de julho de 1938 na localidade de Angicos, no estado de Sergipe, Lampião foi vítima de uma emboscada onde foi morto junto com sua mulher, Maria Bonita e mais nove cangaceiros. Esta data veio a marcar o final do cangaço pois a partir da repercussão da morte de Lampião os chefes dos outros bandos existentes no nordeste brasileiro vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.
  • 52. 1 Chapéu - inspirado no modelo francês adotado pelo imperador Napoleão Bonaparte, de quem Lampião leu a biografia. 2 Lenços - de tafetá francês ou seda pura inglesa; geralmente estampados e coloridos, quebravam a monotonia do tom ocre da roupa. 3 Brincos - ao contrário de outros sertanejos, os cangaceiros usavam brincos e outras jóias. 4 Casaco - desenhado e costurado em algodão ou couro por Lampião, que carregava uma máquina de costura Singer para todos os seus acampamentos; tem também inspirações medievais. 5 Perfume - os cangaceiros costumavam ser reconhecidos pelo cheiro excessivo de perfume, inclusive pelas volantes; Lampião preferia o "Fleur d'Amour", considerado um dos melhores perfumes franceses entre os anos 20 e 40. 6 Calça - o modelo mais usado era com culote e cintura bem alta; usavam até três no inverno devido ao frio à noite. 7 Cabelo - longo. Lampião deixou de cortar os cabelos como promessa, após a morte do irmão, sendo seguido pelos outros cangaceiros; às vezes, eles penduravam anéis no cabelo, depois de lotados todos os dedos das mãos. 8 Arma - como outros adereços, era cravejada de moedas de ouro, influência da marchetaria árabe no sertão nordestino; segundo o historiador Gilberto Freyre, os árabes são uma "eminência parda" na cultura nordestina. 9 Alpargatas - enfeitadas com desenhos costurados; tinham uma lingueta para proteger os dedos 10 Saia - sempre acima do joelho, desrespeitando a convenção da saia rendada até o tornozelo. 11 Anéis - mulheres e homens usavam até três anéis por dedo. 12 Alpargatas - desenhadas e confeccionadas em couro por Dadá, mulher de Corisco, estilista do grupo. 13 Colares - também usados em abundância.