SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
livro_estranha_bahia.indb 1 27/11/2015 22:39:45
livro_estranha_bahia.indb 2 27/11/2015 22:39:49
livro_estranha_bahia.indb 3 27/11/2015 22:39:51
4
h
w
D
Ricardo Santos é um soteropolitano que não gosta muito de tomar
sol. Adora confundir a cabeça das pessoas com suas mentiras.
Curte ficção científica, fantasia e terror porque são os sonhos e os
pesadelos que o mantêm acordado. Em 2008, publicou o livro de
viagens Homem com Mochila. Participou da antologia de contos de
terror The King, em homenagem a Stephen King (Editora Multifoco,
2013). Em 2014, participou da antologia de poesias e contos do 1º
Concurso Literário do Servidor Público, promovido pelo Governo
do Estado da Bahia. Em 2015, lançou Um Jardim de Maravilhas e
Pesadelos, seu primeiro romance. Blog: ricardoescreve.wordpress.
com.
RICARDO SANTOSRICARDO SANTOS
livro_estranha_bahia.indb 4 27/11/2015 22:39:54
h
5w
Início da gravação 8-B, 23 de outubro de 20... 22:19
gente ficou de se encontrar na Avenida Sete, na Praça
da Piedade. Era um dia quente dos infernos. Eu rezava
pro infeliz do Lupo não se atrasar demais. Eu corria
contra o relógio.
Gostodeserpontualemmeuscompromissos.Opessoal
do DP diz que essa é mais uma das minhas esquisitices.
Falam coisas sobre mim, na minha cara. Mas as ofensas de verdade
só pelas minhas costas. Fico sabendo de algo, mais cedo ou mais
tarde. Carlão é o único que fala o que realmente pensa, olhando no
meu olho. Ele me odeia. Qualquer dia desses, ele pode armar uma
pro meu lado. Talvez até armar uma treta fortíssima e me dar um
tiro na nuca... Que porra fiz ao cara? Não faço ideia, sério...
Senti sede.
Fui até um carrinho de água de coco, perto do gradil que cerca
a Praça.
“O que vai ser, chefe?”, disse o vendedor. Um sujeito franzino,
com uma expressão esperta, mas cauteloso.
“Um copinho bem gelado.”
Ele tinha sacado que eu era polícia?
Eu não usava óculos escuros. Vestia uma camisa de flanela
folgada e jeans. Minha arma estava escondida na cintura.
Não costumo passar pela região a pé.
O vendedor me entregou um copo plástico gelado.
O rosto dele me pareceu familiar. Pensando bem, será eu já
tinha prendido aquele infeliz? Ele tinha cara de ladrãozinho.
Uma garota de traços orientais, talvez coreana, talvez chinesa,
passou por mim, me encarou. Ela vestia roupas coloridas e curtas,
seu cabelo também era colorido. Parecia uma bonequinha de
marmanjo, daquelas que os caras pagam não sei quantas prestações
para adquirir as esposas mais obedientes e taradas do mercado...
Seus olhos eram púrpura. Ela era um eladiano. E com orgulho. Alien
Power!
Ela não usava lentes de contato... Ou seria mais um daqueles
idiotas que imitam os transparentes, quero dizer os eladianos,
usando lentes púrpura?
Eu ainda não tinha bebido uma gota da minha água de coco.
Virei o copo de vez.
A
livro_estranha_bahia.indb 5 27/11/2015 22:39:57
livro_estranha_bahia.indb 6 27/11/2015 22:39:59
livro_estranha_bahia.indb 7 27/11/2015 22:40:02
8
h
w
D
Isabelle Neves nasceu em Salvador, mas hoje mora em uma
cidadezinha do interior da Bahia, onde divide seu tempo entre os
estudos, a música e a escrita. Começou a escrever ficção aos seis
anos e possui uma pilha de manuscritos em casa, entre eles o
primeiro livro de uma quadrilogia fantástica (Anjos da Escuridão).
Está com um projeto de uma história dramática, cuja ambientação
é feita no Brasil entre as décadas de 50 e 80, denominada Canção
de Morte de Lorenzo. Além da prosa, aventura-se a rabiscar alguns
poemas e algumas estrofes musicais e pretende, em um futuro
próximo, publicar um livro ilustrado de poesias.
ISABELLE NEVESISABELLE NEVES
livro_estranha_bahia.indb 8 27/11/2015 22:40:04
h
9w
o chão, marcas da Guerra. Valas abertas abrigavam
ossos de jagunços, fiéis e animais, todos aglomerados,
empilhados uns em cima dos outros. Era possível
ver projéteis e cartuchos utilizados pelos soldados.
Bentinho distinguia as trincheiras por onde passava
e brincava de ser guerreiro, com sua arma de fogo
imaginária, atirando nos demônios da República, como
seu avô costumava chamar.
O garoto chegou às margens do açude, molhou os pés sujos
na água barrenta e caminhou em direção às ruínas da Igreja,
praticamente debaixo d’água. Para Bentinho, que aprendera a
nadar logo cedo, o trajeto fora fácil, embora o nível do reservatório
estivesse baixo. Escalando os destroços com destreza, já que era
bastante magro, ele sentou na pedra mais alta, observando a
paisagem árida. Os cabelos negros raramente balançavam com a
brisa quente. Os olhos castanho-escuros brilhavam. Bento tinha
ouvido seu avô contar que aquele fora um campo de batalha, onde
pessoas mataram umas às outras por ideais mal-interpretados.
O garoto imaginou as pessoas correndo, as casas queimando, as
mulheres gritando e os soldados rindo. Ele imitou os sons que as
armas faziam quando o gatilho era acionado e o grito do fiel seguidor
de Antônio Conselheiro que acabara de ser baleado. Apontou os
polegares e os indicadores para o céu, gesticulando o gatilho, e riu
abertamente.
	 Naquele dia, enquanto se divertia com sua imaginação fértil,
assustou-se ao perceber um vulto na água. A princípio, pensou que
pudesse haver uma carniça por perto e urubus estavam rondando
a área. A figura sumia e aparecia esporadicamente, ora mais perto,
ora mais longe de Bento. O garoto começou a se assustar, podia
sentir seu coração jovem bater mais rápido e arregalou bem os
olhos quando o vulto finalmente parou de se mexer. Estava rente às
águas, como se flutuasse. Trazia um cajado à mão, que não servia
de apoio, pois não havia onde se escorar. Estava coberto dos pés à
cabeça por um manto negro, mas transparente o bastante para que
Bentinho pudesse ver seus ossos, sem pele ou músculos. O rosto da
criatura estava escondido pela sombra do capuz, então aos poucos
foiserevelando.Ocrânioexpostotraziarachadurasprofundas.Onde
deveriam existir olhos, havia sangue, cuja cor vibrante manchava os
tons amarelados dos ossos da face. Mexeu a mandíbula devagar. As
frias palavras naquele dia quente ecoaram medonhas, como se a
voz estivesse dentro da cabeça de Bentinho.
N
livro_estranha_bahia.indb 9 27/11/2015 22:40:07

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,
C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,
C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,Eneida da Rosa
 
Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013
Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013
Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013elianegeraldo
 
Aula de Português - Língua – Literatura – Produção de Texto
Aula de Português - Língua – Literatura – Produção de TextoAula de Português - Língua – Literatura – Produção de Texto
Aula de Português - Língua – Literatura – Produção de TextoEditora Moderna
 
Olhos d'água autora-resumo-análise
Olhos d'água   autora-resumo-análiseOlhos d'água   autora-resumo-análise
Olhos d'água autora-resumo-análiseJosi Motta
 
TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.
TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.
TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.Tissiane Gomes
 
O cavaleiro sem cabeça rodrigo
O cavaleiro sem cabeça   rodrigoO cavaleiro sem cabeça   rodrigo
O cavaleiro sem cabeça rodrigofantas45
 
As mulheres da minha geracao som
As mulheres da minha geracao somAs mulheres da minha geracao som
As mulheres da minha geracao somRogerio Oliveira
 
Artur azevedo assunto para um conto
Artur azevedo   assunto para um contoArtur azevedo   assunto para um conto
Artur azevedo assunto para um contoTulipa Zoá
 
Realismo no texto "A Cartomante"
Realismo no texto "A Cartomante"Realismo no texto "A Cartomante"
Realismo no texto "A Cartomante"Yana Sofia
 
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...Josi Motta
 
O gato-malhado-e-a-andorinha-sinha
O gato-malhado-e-a-andorinha-sinhaO gato-malhado-e-a-andorinha-sinha
O gato-malhado-e-a-andorinha-sinhaanarsantos8
 

Mais procurados (20)

C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,
C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,
C:\Fakepath\Alguns Apontamentos Sobre A Narrativa A Cartomante,
 
Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013
Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013
Memorias de um sargento de milicias 3ºANO - ENSINO MÉDIO - 2013
 
O realismo
O realismoO realismo
O realismo
 
Aula de Português - Língua – Literatura – Produção de Texto
Aula de Português - Língua – Literatura – Produção de TextoAula de Português - Língua – Literatura – Produção de Texto
Aula de Português - Língua – Literatura – Produção de Texto
 
Olhos d'água autora-resumo-análise
Olhos d'água   autora-resumo-análiseOlhos d'água   autora-resumo-análise
Olhos d'água autora-resumo-análise
 
Anaisnin deltadevenus
Anaisnin deltadevenusAnaisnin deltadevenus
Anaisnin deltadevenus
 
TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.
TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.
TEXTO INTRODUTÓRIO – O CANGAÇO.
 
O cavaleiro sem cabeça rodrigo
O cavaleiro sem cabeça   rodrigoO cavaleiro sem cabeça   rodrigo
O cavaleiro sem cabeça rodrigo
 
Last PP - Julha
Last PP - JulhaLast PP - Julha
Last PP - Julha
 
Rei Arthur
Rei ArthurRei Arthur
Rei Arthur
 
Clarice lispector
Clarice lispector Clarice lispector
Clarice lispector
 
As mulheres da minha geracao som
As mulheres da minha geracao somAs mulheres da minha geracao som
As mulheres da minha geracao som
 
Artur azevedo assunto para um conto
Artur azevedo   assunto para um contoArtur azevedo   assunto para um conto
Artur azevedo assunto para um conto
 
Realismo no texto "A Cartomante"
Realismo no texto "A Cartomante"Realismo no texto "A Cartomante"
Realismo no texto "A Cartomante"
 
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...Além do ponto e outros contos   novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
Além do ponto e outros contos novo - completo - inclusão de sob o céu de sa...
 
A tribuna alma
A tribuna almaA tribuna alma
A tribuna alma
 
A cartomante
A cartomanteA cartomante
A cartomante
 
A cartomante
A cartomanteA cartomante
A cartomante
 
Lacos de-familia
Lacos de-familiaLacos de-familia
Lacos de-familia
 
O gato-malhado-e-a-andorinha-sinha
O gato-malhado-e-a-andorinha-sinhaO gato-malhado-e-a-andorinha-sinha
O gato-malhado-e-a-andorinha-sinha
 

Destaque

J Feliciano - Project Management
J Feliciano - Project ManagementJ Feliciano - Project Management
J Feliciano - Project ManagementJason A Feliciano
 
Artigo_Coaching_na_Educação
Artigo_Coaching_na_EducaçãoArtigo_Coaching_na_Educação
Artigo_Coaching_na_EducaçãoTeresa P
 
As 3 atitudes essenciais para aprender inglês
As 3 atitudes essenciais para aprender inglêsAs 3 atitudes essenciais para aprender inglês
As 3 atitudes essenciais para aprender inglêsJonatas Lacerda
 
Manejo de word evelyn cisneros
Manejo de word evelyn cisnerosManejo de word evelyn cisneros
Manejo de word evelyn cisnerosevelyncisneros01
 
Relações sustentáveis.mov
Relações sustentáveis.movRelações sustentáveis.mov
Relações sustentáveis.mov123456luiza
 
Slide final sonhos 2015
Slide final   sonhos 2015Slide final   sonhos 2015
Slide final sonhos 2015Sonhos71a
 
Programa da área vocacional comércio
Programa da área vocacional comércioPrograma da área vocacional comércio
Programa da área vocacional comércioleocoelho69
 
Atari breakout o jogo de steve jobs que fez história
Atari breakout o jogo de steve jobs que fez históriaAtari breakout o jogo de steve jobs que fez história
Atari breakout o jogo de steve jobs que fez históriaSeuGame
 
Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering
Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering
Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering Krum Aleksiev
 
Affiche Eindeloos 2013_def
Affiche Eindeloos 2013_defAffiche Eindeloos 2013_def
Affiche Eindeloos 2013_defJohan Verheij
 
Slide final - Sonhos 2015
Slide final - Sonhos 2015Slide final - Sonhos 2015
Slide final - Sonhos 2015Sonhos71a
 
Material de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas Gerais
Material de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas GeraisMaterial de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas Gerais
Material de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas GeraisGPPlab
 
Mohamed Nageh Ibrahim Abdallah
Mohamed Nageh Ibrahim AbdallahMohamed Nageh Ibrahim Abdallah
Mohamed Nageh Ibrahim AbdallahMohamed Nageh
 

Destaque (20)

J Feliciano - Project Management
J Feliciano - Project ManagementJ Feliciano - Project Management
J Feliciano - Project Management
 
Carros recuperados
Carros recuperadosCarros recuperados
Carros recuperados
 
Artigo_Coaching_na_Educação
Artigo_Coaching_na_EducaçãoArtigo_Coaching_na_Educação
Artigo_Coaching_na_Educação
 
As 3 atitudes essenciais para aprender inglês
As 3 atitudes essenciais para aprender inglêsAs 3 atitudes essenciais para aprender inglês
As 3 atitudes essenciais para aprender inglês
 
MPalmomo_SanJoseGroup
MPalmomo_SanJoseGroupMPalmomo_SanJoseGroup
MPalmomo_SanJoseGroup
 
Manejo de word evelyn cisneros
Manejo de word evelyn cisnerosManejo de word evelyn cisneros
Manejo de word evelyn cisneros
 
Relações sustentáveis.mov
Relações sustentáveis.movRelações sustentáveis.mov
Relações sustentáveis.mov
 
Slide final sonhos 2015
Slide final   sonhos 2015Slide final   sonhos 2015
Slide final sonhos 2015
 
Programa da área vocacional comércio
Programa da área vocacional comércioPrograma da área vocacional comércio
Programa da área vocacional comércio
 
Atari breakout o jogo de steve jobs que fez história
Atari breakout o jogo de steve jobs que fez históriaAtari breakout o jogo de steve jobs que fez história
Atari breakout o jogo de steve jobs que fez história
 
Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering
Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering
Krum Aleksiev-Diploma of mechanical engineering
 
Affiche Eindeloos 2013_def
Affiche Eindeloos 2013_defAffiche Eindeloos 2013_def
Affiche Eindeloos 2013_def
 
Jogos olímpicos
Jogos olímpicosJogos olímpicos
Jogos olímpicos
 
QR Code
QR CodeQR Code
QR Code
 
Informática Educacional
Informática EducacionalInformática Educacional
Informática Educacional
 
Slide final - Sonhos 2015
Slide final - Sonhos 2015Slide final - Sonhos 2015
Slide final - Sonhos 2015
 
Address - Recommendation
Address - RecommendationAddress - Recommendation
Address - Recommendation
 
Material de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas Gerais
Material de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas GeraisMaterial de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas Gerais
Material de Apoio | Acodo de Resultados no Governo do Estado de Minas Gerais
 
College
CollegeCollege
College
 
Mohamed Nageh Ibrahim Abdallah
Mohamed Nageh Ibrahim AbdallahMohamed Nageh Ibrahim Abdallah
Mohamed Nageh Ibrahim Abdallah
 

Semelhante a Livro estranha bahia_apresentação

18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]
18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]
18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]Tatiane Pechiori
 
CONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORROR
CONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORRORCONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORROR
CONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORRORRogério S. de Farias
 
Especificidade do Texto Literário
Especificidade do Texto LiterárioEspecificidade do Texto Literário
Especificidade do Texto LiterárioJoselaine
 
2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945) 2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945) Andriane Cursino
 
Escritores de Quinta
Escritores de QuintaEscritores de Quinta
Escritores de QuintaBruno Cobbi
 
Crônicas para jovens, Clarice Lispector.pptx
Crônicas para jovens,  Clarice Lispector.pptxCrônicas para jovens,  Clarice Lispector.pptx
Crônicas para jovens, Clarice Lispector.pptxCrisBiagio
 
Aula 16 machado de assis
Aula 16   machado de assisAula 16   machado de assis
Aula 16 machado de assisJonatas Carlos
 
Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)
Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)
Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)Julia Nogueira
 
À ESPERA NO CENTEIO, Jerome David Salinger
À ESPERA NO CENTEIO, Jerome David SalingerÀ ESPERA NO CENTEIO, Jerome David Salinger
À ESPERA NO CENTEIO, Jerome David SalingerCarolina Sousa
 
Aula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adcias
Aula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adciasAula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adcias
Aula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adciasMaria das Dores Justo
 
Manuel da cachaca contos & casos de boteco
Manuel da cachaca contos & casos de botecoManuel da cachaca contos & casos de boteco
Manuel da cachaca contos & casos de botecoJader Moreira Almeida
 
Resumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonso
Resumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonsoResumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonso
Resumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonsoDiógenes de Oliveira
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesTânia Sampaio
 

Semelhante a Livro estranha bahia_apresentação (20)

Til jose de alencar
Til jose de alencarTil jose de alencar
Til jose de alencar
 
18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]
18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]
18012180 negrinha-resumo-dos-contos[1]
 
CONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORROR
CONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORRORCONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORROR
CONTOS SOMBRIOS DE NATAL_LIVRO ANTIGO COM HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE HORROR
 
Especificidade do Texto Literário
Especificidade do Texto LiterárioEspecificidade do Texto Literário
Especificidade do Texto Literário
 
Agualusa 2
Agualusa 2Agualusa 2
Agualusa 2
 
2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945) 2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945)
 
A crônica
A crônicaA crônica
A crônica
 
Lit rubem fonseca
Lit rubem fonsecaLit rubem fonseca
Lit rubem fonseca
 
Escritores de Quinta
Escritores de QuintaEscritores de Quinta
Escritores de Quinta
 
Crônicas para jovens, Clarice Lispector.pptx
Crônicas para jovens,  Clarice Lispector.pptxCrônicas para jovens,  Clarice Lispector.pptx
Crônicas para jovens, Clarice Lispector.pptx
 
Aula 16 machado de assis
Aula 16   machado de assisAula 16   machado de assis
Aula 16 machado de assis
 
Sugestão de Leitura 2010
Sugestão de Leitura 2010Sugestão de Leitura 2010
Sugestão de Leitura 2010
 
Dalton trevisan
Dalton trevisanDalton trevisan
Dalton trevisan
 
Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)
Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)
Produção de-texto-9º-ano-narrativa (1)
 
À ESPERA NO CENTEIO, Jerome David Salinger
À ESPERA NO CENTEIO, Jerome David SalingerÀ ESPERA NO CENTEIO, Jerome David Salinger
À ESPERA NO CENTEIO, Jerome David Salinger
 
Aula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adcias
Aula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adciasAula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adcias
Aula memc3b3rias-de-um-sargento-de-milc3adcias
 
Manuel da cachaca contos & casos de boteco
Manuel da cachaca contos & casos de botecoManuel da cachaca contos & casos de boteco
Manuel da cachaca contos & casos de boteco
 
Resumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonso
Resumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonsoResumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonso
Resumo de O carteiro e o poeta - Orientação prof. DiAfonso
 
Literaturaparaaescola 111120211206-phpapp01
Literaturaparaaescola 111120211206-phpapp01Literaturaparaaescola 111120211206-phpapp01
Literaturaparaaescola 111120211206-phpapp01
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
 

Livro estranha bahia_apresentação

  • 4. 4 h w D Ricardo Santos é um soteropolitano que não gosta muito de tomar sol. Adora confundir a cabeça das pessoas com suas mentiras. Curte ficção científica, fantasia e terror porque são os sonhos e os pesadelos que o mantêm acordado. Em 2008, publicou o livro de viagens Homem com Mochila. Participou da antologia de contos de terror The King, em homenagem a Stephen King (Editora Multifoco, 2013). Em 2014, participou da antologia de poesias e contos do 1º Concurso Literário do Servidor Público, promovido pelo Governo do Estado da Bahia. Em 2015, lançou Um Jardim de Maravilhas e Pesadelos, seu primeiro romance. Blog: ricardoescreve.wordpress. com. RICARDO SANTOSRICARDO SANTOS livro_estranha_bahia.indb 4 27/11/2015 22:39:54
  • 5. h 5w Início da gravação 8-B, 23 de outubro de 20... 22:19 gente ficou de se encontrar na Avenida Sete, na Praça da Piedade. Era um dia quente dos infernos. Eu rezava pro infeliz do Lupo não se atrasar demais. Eu corria contra o relógio. Gostodeserpontualemmeuscompromissos.Opessoal do DP diz que essa é mais uma das minhas esquisitices. Falam coisas sobre mim, na minha cara. Mas as ofensas de verdade só pelas minhas costas. Fico sabendo de algo, mais cedo ou mais tarde. Carlão é o único que fala o que realmente pensa, olhando no meu olho. Ele me odeia. Qualquer dia desses, ele pode armar uma pro meu lado. Talvez até armar uma treta fortíssima e me dar um tiro na nuca... Que porra fiz ao cara? Não faço ideia, sério... Senti sede. Fui até um carrinho de água de coco, perto do gradil que cerca a Praça. “O que vai ser, chefe?”, disse o vendedor. Um sujeito franzino, com uma expressão esperta, mas cauteloso. “Um copinho bem gelado.” Ele tinha sacado que eu era polícia? Eu não usava óculos escuros. Vestia uma camisa de flanela folgada e jeans. Minha arma estava escondida na cintura. Não costumo passar pela região a pé. O vendedor me entregou um copo plástico gelado. O rosto dele me pareceu familiar. Pensando bem, será eu já tinha prendido aquele infeliz? Ele tinha cara de ladrãozinho. Uma garota de traços orientais, talvez coreana, talvez chinesa, passou por mim, me encarou. Ela vestia roupas coloridas e curtas, seu cabelo também era colorido. Parecia uma bonequinha de marmanjo, daquelas que os caras pagam não sei quantas prestações para adquirir as esposas mais obedientes e taradas do mercado... Seus olhos eram púrpura. Ela era um eladiano. E com orgulho. Alien Power! Ela não usava lentes de contato... Ou seria mais um daqueles idiotas que imitam os transparentes, quero dizer os eladianos, usando lentes púrpura? Eu ainda não tinha bebido uma gota da minha água de coco. Virei o copo de vez. A livro_estranha_bahia.indb 5 27/11/2015 22:39:57
  • 8. 8 h w D Isabelle Neves nasceu em Salvador, mas hoje mora em uma cidadezinha do interior da Bahia, onde divide seu tempo entre os estudos, a música e a escrita. Começou a escrever ficção aos seis anos e possui uma pilha de manuscritos em casa, entre eles o primeiro livro de uma quadrilogia fantástica (Anjos da Escuridão). Está com um projeto de uma história dramática, cuja ambientação é feita no Brasil entre as décadas de 50 e 80, denominada Canção de Morte de Lorenzo. Além da prosa, aventura-se a rabiscar alguns poemas e algumas estrofes musicais e pretende, em um futuro próximo, publicar um livro ilustrado de poesias. ISABELLE NEVESISABELLE NEVES livro_estranha_bahia.indb 8 27/11/2015 22:40:04
  • 9. h 9w o chão, marcas da Guerra. Valas abertas abrigavam ossos de jagunços, fiéis e animais, todos aglomerados, empilhados uns em cima dos outros. Era possível ver projéteis e cartuchos utilizados pelos soldados. Bentinho distinguia as trincheiras por onde passava e brincava de ser guerreiro, com sua arma de fogo imaginária, atirando nos demônios da República, como seu avô costumava chamar. O garoto chegou às margens do açude, molhou os pés sujos na água barrenta e caminhou em direção às ruínas da Igreja, praticamente debaixo d’água. Para Bentinho, que aprendera a nadar logo cedo, o trajeto fora fácil, embora o nível do reservatório estivesse baixo. Escalando os destroços com destreza, já que era bastante magro, ele sentou na pedra mais alta, observando a paisagem árida. Os cabelos negros raramente balançavam com a brisa quente. Os olhos castanho-escuros brilhavam. Bento tinha ouvido seu avô contar que aquele fora um campo de batalha, onde pessoas mataram umas às outras por ideais mal-interpretados. O garoto imaginou as pessoas correndo, as casas queimando, as mulheres gritando e os soldados rindo. Ele imitou os sons que as armas faziam quando o gatilho era acionado e o grito do fiel seguidor de Antônio Conselheiro que acabara de ser baleado. Apontou os polegares e os indicadores para o céu, gesticulando o gatilho, e riu abertamente. Naquele dia, enquanto se divertia com sua imaginação fértil, assustou-se ao perceber um vulto na água. A princípio, pensou que pudesse haver uma carniça por perto e urubus estavam rondando a área. A figura sumia e aparecia esporadicamente, ora mais perto, ora mais longe de Bento. O garoto começou a se assustar, podia sentir seu coração jovem bater mais rápido e arregalou bem os olhos quando o vulto finalmente parou de se mexer. Estava rente às águas, como se flutuasse. Trazia um cajado à mão, que não servia de apoio, pois não havia onde se escorar. Estava coberto dos pés à cabeça por um manto negro, mas transparente o bastante para que Bentinho pudesse ver seus ossos, sem pele ou músculos. O rosto da criatura estava escondido pela sombra do capuz, então aos poucos foiserevelando.Ocrânioexpostotraziarachadurasprofundas.Onde deveriam existir olhos, havia sangue, cuja cor vibrante manchava os tons amarelados dos ossos da face. Mexeu a mandíbula devagar. As frias palavras naquele dia quente ecoaram medonhas, como se a voz estivesse dentro da cabeça de Bentinho. N livro_estranha_bahia.indb 9 27/11/2015 22:40:07