O documento descreve as manifestações teatrais anteriores a Gil Vicente no contexto português, incluindo mistérios, milagres e moralidades. Também discute as peças de Gil Vicente, classificando-as em três grupos principais e descrevendo brevemente a Farsa de Inês Pereira.
2. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
MANIFESTAÇÕES TEATRAIS ANTERIORES A GIL VICENTE
MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS
• Mistérios: dramatização de cenas da vida de Cristo.
• Milagres: representação da vida de santos e os seus milagres.
• Moralidades: representações em que as personagens são a personificação de
virtudes e vícios com uma finalidade didática (alegoria).
3. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
MANIFESTAÇÕES TEATRAIS ANTERIORES A GIL VICENTE
MANIFESTAÇÕES PROFANAS
• Arremedilhos: imitações burlescas de pessoas ou acontecimentos.
• Entremezes: pequenas representações com cantos e danças.
• Momos: representações cujas personagens são seres humanos e entidades
fantásticas.
4. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
MANIFESTAÇÕES TEATRAIS VICENTINAS
A classificação das peças teatrais vicentinas é difícil, porque, em cada peça, estão
presentes estruturas diversificadas.
Três grandes grupos:
• Autos pastoris;
• Autos de moralidade (Ex.: Auto da Feira);
• Farsas (Ex.: Farsa de Inês Pereira).
5. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
ÉPOCA
• O reinado faustoso de D. Manuel.
• A descoberta da costa africana.
• A chegada da Vasco da Gama à Índia.
• Lisboa: centro de convergência das especiarias vindas do Oriente.
• A construção dos Jerónimos.
• A inquisição e a perseguição aos cristãos novos.
6. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
GIL VICENTE
• Gil Vicente foi um perspicaz observador do seu tempo, recorrendo à sua
veia satírica.
• Gil Vicente critica a sociedade parasitária, de gente que desprezava o
trabalho para viver de expedientes fáceis, ludibriando os outros e usando
muitas vezes da tirania e da corrupção.
• Critica igualmente a hipocrisia generalizada, o contraste entre o ser e o
parecer, o adultério, as mulheres caprichosas ou levianas, as alcoviteiras.
• O dramaturgo critica, também, os escudeiros pobres e presunçosos; o
clero corrupto e a própria Igreja e, ainda, os excessos cometidos pelos
que iam à Índia em busca de riqueza.
“Ridendo castigat mores” – Pelo riso se castigam (corrigem) os costumes.
7. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
GIL VICENTE, ESCRITOR DE TRANSIÇÃO
CARACTERÍSTICAS MEDIEVAIS
• Linguagem popular e arcaica.
• Utilização de personagens populares com os seus costumes e linguagem
próprios.
• Sintaxe pouco elaborada.
• Uso predominante da redondilha maior (7 sílabas métricas).
• Valorização do espírito de cruzada.
• Personagens sem grande densidade psicológica.
• Personagens-tipo.
8. GIL VICENTE | CONTEXTUALIZAÇÃO
GIL VICENTE, ESCRITOR DE TRANSIÇÃO
CARACTERÍSTICAS CLÁSSICAS/RENASCENTISTAS
• Sátira aos costumes com princípios moralizadores.
• Presença de um certo nacionalismo.
• Mecenatismo.
• Crítica religiosa (influência das ideias de Erasmo), sobretudo ao clero, pelos seus
excessos, mas também à questão das indulgências.
• Sensibilidade relativamente à compreensão dos problemas sociais - reação ao
evidente materialismo da época.
• Presença de algumas referências mitológicas e clássicas.
• Formalmente: tentativa de divisão em quadros e existência de prólogo em
algumas peças (Auto da Feira, por exemplo).
9. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
FARSA DE INÊS PEREIRA
10. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
TÓPICOS DE CONTEÚDO:
• Caracterização das personagens.
• Relações entre as personagens.
• A representação do quotidiano.
• A dimensão satírica.
• Linguagem, estilo e estrutura.
11. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
RELAÇÕES ENTRE PERSONAGENS
MÃE
Inês solteira (recusa Pero Marques)
Inês casada (com o Escudeiro)
Inês viúva (do Escudeiro)
Inês casada (com Pero Marques)
Lianor Vaz
Judeus e o moço
Lianor Vaz
12. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
AS PERSONAGENS
A Mãe é prudente, conselheira, confidente, atenta à
realidade e um pouco interesseira.
• Manifesta a sua discordância em relação ao casamento
com o Escudeiro.
• Aceita a decisão da filha. Esta aprenderá às suas custas.
13. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
AS PERSONAGENS
Inês é uma rapariga solteira preguiçosa, alegre e sonhadora.
• Para ela, o casamento representa a liberdade.
• Inês julga os pretendentes pela aparência, mas a vida
irá mostrar-lhe que a aparência pode ser enganadora.
• Inês vai tornar-se uma mulher desiludida e calculista.
14. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
AS PERSONAGENS
Pero Marques é uma personagem rústica, ridicularizada e rejeitada por Inês.
• Oriundo de um espaço rural, cai no ridículo pela forma como fala e como se
comporta.
• É uma personagem cómica (cómico de caráter ou de personagem).
• Representa, na peça, o papel de “asno”.
15. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
AS PERSONAGENS
O Escudeiro é interesseiro, dissimulado e astuto.
• É um homem fraco que apenas se mostra cruel com Inês.
• A elegância e a “cultura” do Escudeiro contrastam com a simplicidade e
ignorância de Pero Marques.
• Representa, na peça, o papel de “cavalo”.
16. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
AS PERSONAGENS
Lianor Vaz é a alcoviteira, adjuvante de Pero Marques.
• Traz a sua carta a apresentação a Inês. Revela grande experiência de vida e
capacidade de persuasão.
Judeus casamenteiros (Latão e Vidal).
• Empenham-se em encarecer os méritos do escudeiro, a troco de compensação
material.
• Aparentemente bajuladores, criticam com subtileza Inês e o Escudeiro.
17. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
AS PERSONAGENS
O Ermitão é um antigo pretendente de Inês e é personagem necessária à
concretização da liberdade e vingança de Inês.
18. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
TIPOS DE CÓMICO
• Cómico de personagem – Pero Marques
• Cómico de situação – encontro de Pero Marques com Inês e a cena final
• Cómico de linguagem – a linguagem de Pero Marques e as falas dos Judeus
casamenteiros
19. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
FARSA VICENTINA
• Põe em cena o triângulo amoroso, desenvolve a ideia de um provérbio;
• As personagens são oriundas da vida quotidiana rural e citadina e agem segundo
um esquema repetitivo, próximo da caricatura.
A farsa ilustra uma situação.
20. GIL VICENTE | FARSA DE INÊS PEREIRA
DIMENSÃO CRÍTICA
• A farsa é um divertimento sério, orientado por uma intenção moral;
• é preciso fazer rir para instruir, respeitar a família e o trabalho;
• tem um caráter edificante: Inês casa com um homem da sua condição;
A farsa partilha com a moralidade o tema da repreensão e do desconcerto.