1. É tempo de dizer bem dos professores
Afonso Mendonça Reis
23/3/2017
Os professores estão hoje desmotivados. Este problema diz respeito a todos, pois os
professores têm o futuro dos nossos jovens e, por isso, o futuro da nossa sociedade nas
mãos.
Precisamos de uma educação forte, as oportunidades da 4.a revolução industrial
estão a deixar milhões para trás, a desigualdade de rendimento aumenta em
Portugal e pelo mundo fora e o populismo ameaça os valores basilares da
democracia. Jimmy Wales, fundador da Wikipédia, quando confrontado com o
fenómeno Trump, respondeu prontamente que uma competência essencial nos dias
de hoje é saber identificar falácias e argumentos dúbios.
Thomas Friedman, jornalista do New York Times, ilustra como a “era da
aceleração”, a velocidade de transformação num ritmo alucinante de hoje, exige
uma educação que capacite e que crie autonomia. Primeiro, a AT&T, uma empresa
líder de telecomunicações nos Estados Unidos, criou um novo “contrato social” com
os seus colaboradores assente na aprendizagem ao longo da vida. Quem quiser
manter os seus empregos, e ambicionar empregos para a vida, terá de fazer mini-
cursos financiados para actualizar as suas competências. Quem quiser um emprego
para a vida, terá de aprender toda a vida. Segundo, a Internet, ambiente onde
estamos todos em contacto sem filtros ou moderação, dá ao cidadão comum um
poder de criação e destruição sem precedentes.
Este ambiente sem moderação cria a necessidade de ensinar às crianças e jovens o
pensamento crítico, aliado a valores e ética, para se tornarem em cidadãos digitais
conscientes e agentes de mudança positiva. Não existem fórmulas mágicas nem
atalhos para estas questões, precisamos de uma educação robusta. Mesmo na 4.a
revolução industrial, qualquer que seja o modelo de ensino, e melhor ou pior que
seja, serão sempre os professores a dar corpo à educação, dia a dia, aluno a aluno.
E qual é o impacto dos professores na educação e nos alunos? É sabido que o que
melhor explica o desempenho escolar dos alunos é o seu contexto socioeconómico,
que tem sido medido através do nível de educação dos seus pais. Mas, no sistema de
ensino, os professores são o factor que maior impacto tem no desempenho escolar
dos alunos, isto quer seja segundo o estudo PISA da OCDE ou segundo o estudo
Atlas da Educação, realizado pela Universidade Nova. Um ponto importante é que
se o aluno não tem um estatuto socioeconómico alto, este aluno dependerá dos seus
professores para atingir todo o seu potencial de sucesso escolar.
Os professores precisam e merecem inspiração. Ser professor é extremamente
desafiante e fazer esse reconhecimento é essencial para valorizar o trabalho
2. realizado e, consequentemente, contribuir para a sua motivação e melhoria. Um
aluno do 10º ano dizia, ao participar na campanha “Inspira o teu Professor”, em
que alunos criam conteúdos para inspirar professores, que ele nunca poderia ser
professor, porque apesar de ele aluno estar sempre a falhar, os seus professores
nunca desistiam dele, e isso exigia uma força que ele pensava não ter em si.
Para além da resiliência, um professor, primeiro tem de se actualizar
constantemente, quer sobre as suas disciplinas quer sobre os interesses dos seus
alunos, pois na era da aceleração o ritmo de mudança é exponencial e, na mesma
velocidade que esta mudança ocorre, mudam os seus alunos. Segundo, cada aluno é
único e traz consigo o seu contexto familiar e social. Quem ensina, ensina um aluno
no seu todo, sendo necessário adaptar a linguagem utilizada, conteúdos aplicados e
planos de aprendizagem desenvolvidos. Terceiro, ensinar implica um grande
envolvimento emocional com os alunos, o que tanto é uma fonte de inspiração
como de frustração. Fazer um bom trabalho em todas estas frentes requer um
elevado nível de motivação e investimento pessoal, que começa com empenho e
convicção mas que, para continuar ao longo da carreira docente, pede o
reconhecimento e o encorajamento que os alunos, os pais e os outros professores
podem dar.
A evidência é clara, no sistema de ensino são os professores quem têm maior
impacto no desempenho escolar dos alunos, são eles que garantem a agilidade do
sistema e todo o potencial da educação.
Temos de saber agradecer e encorajar os bons exemplos e inspirar todos a querer
melhorar. Esta poderia ser uma citação de qualquer guru da gestão ou CEO
carismático pois estudos em comportamento organizacional sugerem que atitudes e
emoções mais positivas levam a melhores níveis de desempenho. Quando dizemos
que a maioria dos professores dá aulas porque não arranjou outro emprego,
estamos a fazer um mau serviço à educação. Estamos simplesmente a encorajar à
mediocridade, pois dizemos que, faça o que fizer, não reconhecemos mérito no
trabalho do professor. Também não quer dizer que todos os professores sejam
perfeitos, que é fácil de imaginar que não.
No entanto, quando pais e alunos valorizam o trabalho dos professores, nasce uma
clara afirmação do impacto que o professor tem na sociedade e da responsabilidade
que tem na formação de gerações futuras. E é neste clima de colaboração
construtiva e alinhada entre pais e professores que os alunos tiram o maior proveito
da sua educação. Em alemão existem duas palavras diferentes para
educação, Bildung é a educação que recebemos na escola, e Erziehung a educação
que recebemos em casa dos nossos encarregados de educação. Irina Bokova,
secretária geral da UNESCO, no Global Education and Skills Forum de 2017
lembrou-nos que a educação tem um papel preponderante no contrato social
europeu, e que a educação da escola, ministrada pelos professores, detém o papel
principal. É tempo de aprender a elogiar os professores, porque eles têm o nosso
futuro nas mãos!