1. COMPORTAMENTO O
60 • REVISTA O GLOBO • 4 DE DEZEMBRO DE 2011 •
pierdeipanema.com.br
a O fotógrafo Frederico Mendes, es- Pêra encarnava Carmen Miranda em
pécie de cronista da época e res- “A pequena notável”. A tropicalíssima
ponsável por alguns dos melhores fla- Carmen, musa inspiradora daquele Ve-
grantes daquele verão, explica: rão das Dunas, seria também enredo
— As dunas eram um reflexo direto do Império Serrano, campeão do car-
do Tropicalismo. Da música ao jeito de naval de 1972. A escola apresentava
as pessoas se vestirem, tudo levava ao um samba que, pela primeira vez,
movimento. Um dia eu estava no alto ousava misturar gírias à rigidez típica
das dunas quando vi a garota passando dos carnavais da época: “Que grilo é
lá embaixo sem a parte de cima do esse?/ Vou embarcar nessa onda/ É o
biquíni. Era o primeiro topless de Ipa- Império Serrano que canta, dando uma
nema. Corri em casa, lá em Copa- de Carmen Miranda”.
cabana, peguei minha câmera e voltei — As dunas funcionavam como uma
para fotografá-la. O incrível é que as fronteira demarcada. A repressão não
pessoas em volta nem ligavam... ia até lá. Desconfio que até incentivava
Talvez não ligassem porque ainda aquilo, porque, no fundo, gostava que
estivessem sob o efeito da visão de as pessoas tivessem optado pelo des-
Gal Costa em Ana Maria Magalhães completamente bunde e não pela luta armada — es-
dois momentos: nua em “Como era gostoso o meu pecula Fernando Fedoca Lima, de 56
no alto, cabeluda francês”, a incursão de Nelson Pereira anos, surfista da época e autor de boa
e descabelada; dos Santos no antropofágico mundo parte das fotos que ilustram esta re-
acima, estilo dos índios brasileiros. No filme, lan- portagem. — Mas, no geral, tudo o que
garota de çado em janeiro, Ana Maria contra- se produzia lá repercutia do lado de
ipanema, com cenava com Arduíno Colassanti, pes- fora: moda, música, comportamento. A
faixa na cabeça. cado dos mares do Arpoador para as cultura do Rio de Janeiro não foi mais a
Sempre com a telas. Se “Como era gostoso o meu mesma depois daqueles verões.
amiga Wilma Dias francês” era o assunto nas rodas das Um retrato desse tempo provavel-
Dunas, “A 300 km por hora”, com mente estará nos cinemas a partir de
Roberto Carlos, levava uma multidão 2013, com o longa “Píer de Ipanema —
ao Super Bruni 70, na Visconde de 1972”. É um filme de ficção que re-
Pirajá. O Rei cortava um dobrado para monta às histórias em torno das areias
vencer o vilão interpretado por um de Ipanema. O produtor paulista Gui-
cabeludo Raul Cortez. lherme Keller chegou a pensar em
GALERIA Veja mais fotos do No teatro, “Hoje é dia de rock” (be- fazer um documentário, mas percebeu
verão de 1972 em Ipanema bê?) prosseguia com a carreira de que, na boa, aquele mundo doido pa-
oglobo.com.br/rio sucesso e, no Night and Day, Marília recia mesmo coisa de ficção. Ele conta