1. Product: OGlobo PubDate: 09-04-2012 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_G User: Schinaid Time: 04-08-2012 19:55 Color: K
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Segunda-feira, 9 de abril de 2012 OPINIÃO • 7
O GLOBO
Regras PAULO GUEDES
essenciais
SÉRGIO SALOMÃO
O pacote e a dúvida
O A
encontro da presidente ameaça da desindustrialização emprego, e os trabalhadores mais alizados. E os encargos sociais e tra-
Dilma Rousseff recente- disparou um novo pacote em idosos que se desatualizaram. balhistas eliminaram os benefícios da
mente com vários em- defesa dos setores mais atingi- Apesar desse esforço defensivo em mão de obra barata.
presários mostrou a dis-
posição do governo de atuar em dos pela concorrência dos im- meio à guerra mundial por empregos, Há também o risco de uma gradual per-
sintonia com a iniciativa priva- portados. O governo aprofundou sua deflagrada pela grande crise contem- da de credibilidade da política macroe-
da na busca de um caminho pa- estratégia de desoneração da folha porânea, estamos ainda longe das po- conômica. O afrouxamento simultâneo
ra respaldar a continuidade do líticas públicas que assegurem a cria- das políticas monetária e fiscal em 2008-
de pagamento em indústrias conven-
crescimento econômico e a
competitividade dos diferentes cionais, como têxtil e vestuário, cou- ção de empregos e o aumento da pro- 2009 foi uma fulminante e bem-sucedida
elos da cadeia produtiva nacio- ro e calçados, hotéis, móveis, plásti- dutividade do trabalhador brasileiro resposta à grande recessão global. O
nal. Nada mais oportuno, já que, cos, material elétrico, autopeças, ôni- e da competitividade de nossa indús- Brasil escapou de um buraco negro da
embora o Brasil tenha se torna-
do a 6+ maior economia do mun-
bus, naval e aeronáutica. tria. O regime fiscal expansionista há produção e do emprego, crescendo 7%
do, o país ainda cresce a taxas Os excessivos encargos trabalhis- décadas trouxe uma trajetória de ju- em 2010, coincidentemente um ano de
inferiores à média do G20. tas e previdenciários são armas de ros explosivos e câmbio sobrevalori- eleições presidenciais. Mas, em 2011, ti-
Ao se tornar um player global destruição em massa de empregos zado. O manicômio tributário aumen- vemos forte desaceleração econômica,
ao longo dos últimos anos, o pa-
ís foi naturalmente levado a nacionais. São 50 milhões de brasilei- tou a taxa de mortalidade das peque- crescendo apenas 2,7%.
olhar com mais afinco para vari- ros sem carteira assinada, condena- nas e médias empresas. A insuficiên- Estamos mais uma vez baixando os
áveis capazes de influenciar, dos à baixa produtividade dos merca- cia de investimentos públicos e a re- juros e os impostos simultaneamente
positiva ou negativamente, sua dos informais. Esses encargos são, na gulamentação inadequada tornaram em 2012. É uma resposta legítima ao
capacidade de aumentar a com-
petitividade e de se manter tan- verdade, impostos sobre o uso da deficientes nossa infraestrutura e a lo- estado anêmico da economia? Ou
to como protagonista econômi- mão de obra, atingindo principalmen- gística das cadeias produtivas indus- apenas manifestação dos lamentá-
co quanto ativo interlocutor po- te os trabalhadores menos qualifica- triais. As fontes de capital de risco e a veis ciclos políticos, oportunísticas
lítico em um mundo de inces- qualificação do capital humano são in- manipulações macroeconômicas pré-
santes transformações. O co-
dos, os jovens sem experiência de tra-
mércio internacional, no qual o balho, ainda em busca do primeiro satisfatórias para setores mais especi- eleitorais?
Brasil tem apresentado atuação
marcante, merece mais do que Alvim
Sem ilusões
nunca reflexão em toda a sua
complexidade.
Nesse contexto, não há como
com o Irã
deixar de destacar a atividade
portuária que evolui a cada dia.
Saíram de circulação antigos
guindastes que foram substituí-
dos por equipamentos moder-
nos e especializados. Mas é im- LEO VINOVEZKY
prescindível garantir seguran-
F
ça jurídica através do respeito az vinte anos: na manhã de 17 de mar-
ao marco regulatório existente. ço de 1992, uma explosão ensurdece-
É preciso também continuar dora na Rua Arroyo, onde ficava a
investindo em tecnologia e na Embaixada de Israel em Buenos Ai-
adoção de novas práticas, in- res, exterminou a vida de 29 pessoas e dei-
clusive voltadas à sustentabili- xou 242 feridos, entre diplomatas israelen-
dade. Os terminais de contêine- ses, pacientes de um hospital geriátrico e al-
res de uso público, segmento guns pedestres. Colegas como o ministro-
composto por diferentes em- conselheiro David Ben Rafael, a esposa do
presas que já investiram inten- cônsul e mãe de cinco filhos, Eliora Carmon,
sivamente para oferecer aos a secretária do embaixador, Mirta Saientz, o
usuários bons níveis de produ- sacerdote Juan Carlos Brumana e o tran-
tividade, estão fazendo a sua seunte Miguel Lancieri. Uma rua, um bairro
parte. Em 15 anos de privatiza- e uma cidade certamente muito apreciados
ção foi investido 1,9 bilhão e fo- pelos brasileiros. Quanto aos nossos cole-
ram criados mais de 10 mil em- gas que foram mortos, temos muito o que
pregos diretos. A busca perma- aprender com eles: devemos lembrar que
nente por eficiência e melhores sua profissão era, principalmente, incenti-
práticas se traduz ainda no pla- var o diálogo entre os países. Que ironia!
nejamento para que os termi- Por vários motivos, pessoais e profissio-
nais reduzam a emissão de ga- nais, me sinto muito próximo a este trágico
ses. Treinamento de pessoal e evento.
gestão de processos, iniciativas Por mais de duas décadas nós assistimos
Admirável Brasil novo
já adotadas, visam à prevenção à contínua atividade terrorista disseminada
dos impactos ambientais e soci- no mundo, principalmente pelo Irã e seus
ais inerentes às operações por- parceiros. A Corte Suprema de Justiça da Ar-
tuárias. gentina, que assumiu o caso judicial sobre o
A adoção do contêiner no co- atentado na embaixada, conhece bem o gru-
mércio global já se configurou RAUL VELLOSO las. Com margens apertadas, a in- trava uma guerra inglória contra as po Jihad Islâmica, considerado terrorista pe-
como um formato de logística dústria sofre mais. forças naturais dos mercados e o los governos dos Estados Unidos, Reino Uni-
O
multimodal que otimiza custos alarde sobre a perda de es- Em segundo, porque os preços modelo de crescimento dos gastos do, Japão, Austrália, Israel e União Europeia.
e aproveita recursos de forma paço da indústria de trans- das nossas commodities de expor- correntes. Nesse sentido, o governo A Justiça da Argentina, igualmente, conhece
eficiente, com evidente resulta- formação no PIB brasileiro tação dispararam, beneficiando di- vive uma difícil contradição. Quer bem o Irã e o Hezbollah por terem participa-
do na melhoria organizacional e existe exatamente porque retamente um setor que não é a in- ajudar a indústria, para o que lança ção no atentado à Amia (Associação Mutual
inegáveis benefícios para im- ninguém gosta de incorrer em per- dústria. Em breve, com o pré-sal, se- medidas pontuais, mas gostaria de Israelita Argentina), em 1994, e pediu a cap-
portadores, exportadores e das. remos campeões também em petró- poder viabilizar maior crescimento tura internacional de vários funcionários ira-
consumidores. Hoje, 70% da A indústria de transformação está leo de alta profundidade, e exporta- global do PIB, o que exige maior vo- nianos como, por exemplo, um de seus mi-
carga geral no mundo já são perdendo participação, mas não dores dessa commodity tecnologi- lume de poupança de fora, a fim de nistros, o da Defesa, Ahmad Wahidi, que é
transportados em contêiner. tanto quanto a estatística sugere. camente sofisticada. complementar a reduzida geração acusado e procurado internacionalmente,
No ano passado, foram movi- Sabe-se que os preços da indústria Em terceiro, porque a China, es- de poupança interna que o seu mo- embora muitos não saibam disso.
mentados no Brasil 5,2 milhões têm caído em relação aos demais, banjando poupança, vem imple- delo ocasiona. O presidente Mahmoud Ahmadinejad se-
de contêineres, o que significa especialmente ao setor de serviços mentando há trinta anos — ou mais O conflito está em que não há co- gue determinado a varrer Israel do mapa e
um aumento de 9% em compara- — onde a escassez de oferta produz — um modelo econômico baseado mo trazer essa poupança sem ter continua desenvolvendo armas nucleares e
ção ao ano anterior. forte subida de preços. Assim, se na inundação de produtos industri- um déficit de igual valor na conta patrocinando ataques terroristas, como os
A conjuntura mundial inspira deflacionássemos os valores origi- alizados baratos no mundo ociden- corrente do Balanço de Pagamen- ocorridos recentemente contra diplomatas
cuidados. Entretanto, os inves- nais pelos índices setoriais de pre- tal. E, por último, porque o Brasil se tos, o que requer maior apreciação israelenses na Índia, na Tailândia, na Geór-
timentos dos terminais de con- ço, a queda de participação física tornou mais atrativo aos capitais cambial, maiores importações e, no gia e no Azerbaijão. Que atos de coragem,
têineres de uso público atingi- seria menor. externos por seus méritos (controle fim, maiores déficits externos. não é verdade? Além disso, embaixadores
rão 3,8 bilhões até 2015, utiliza- Não se trata, portanto, de dizer da dívida pública e estabilidade po- Não é por outro motivo que, nos do Irã na América Latina dizem em entrevis-
dos em obras civis (aumento de que a indústria acabou, mas que o lítica), por seus deméritos (uma das governos Lula (até 2008), a taxa de tas que o país está disposto a destruir Isra-
berços de atracação e de pátio Brasil, a exemplo de outros países, maiores taxas de juros reais do investimento aumentou cerca de el. É lamentável, mas deve ser dito: geral-
para armazenagem) e na conti- está passando por uma transforma- mundo), e pelo demérito dos outros cinco pontos de porcentagem do mente, ninguém os coloca em seus devidos
nuação da aquisição de equipa- ção estrutural em favor dos demais (crise mundial). PIB, enquanto o déficit externo lugares.
mentos e da especialização de setores. Esse é o ponto. O paradig- Vê-se que, enquanto a indústria (poupança externa) aumentava na Não queremos imaginar o que seria se o
mão de obra. Assim como o con- ma em vigor no passado já mudou perde, outros setores ganham. Bas- mesma magnitude. Com o país im- Irã tivesse plena capacidade nuclear.
têiner foi adotado para otimizar ou está em processo de mudança. É ta lembrar o sucesso do pré-sal. pedido de importar serviços, e sen- Não devemos deixar-nos iludir. Uma das
os processos logísticos, em es- de se esperar que, diante da perda, Agora, não se trata mais do petróleo do campeão de competitividade em melhores formas para isto é apoiar somen-
pecial a atividade portuária, a os representantes da indústria ten- de águas rasas, mas do óleo extraí- commodities, a indústria acaba sen- te iniciativas democráticas e de liberdade.
implementação de práticas sus- dam a mostrar indignação, especial- do de águas profundas com sofisti- do o primo pobre que precisa não Negócios com ditaduras se pagam caro, en-
tentáveis aliada a expressivos mente contra o tsunami cambial — cada tecnologia made in Brazil. crescer para tudo o mais funcionar. quanto aqueles que sofrem são o povo.
investimentos em infraestrutu- um inimigo externo recente —, e Além do mais, a indústria brasilei- Estamos — ou não — num admirá- Nos últimos dias, seja na Praça Embaixa-
ra é o segredo para chegarmos que o governo se sinta premido a ra padece do pecado de ter sido vel mundo novo? da de Israel, em Buenos Aires, também co-
ainda mais longe e contribuir implementar medidas de alívio. montada especialmente para aten- Com tantos desafios, é fundamental nhecida como a Praça da Memória, assim
para que se concretizem as pre- A indústria made in Brazil perde der ao mercado interno, na ideia de criar condições para a indústria se como em outros pontos da cidade, milha-
visões de analistas, que enxer- espaço basicamente por quatro mo- que o sistema original de proteção tornar mais competitiva de forma res de pessoas, aquelas que creem na de-
gam o Brasil como a quarta mai- tivos. Primeiro, porque poupamos duraria para sempre. Só que o mun- sustentável. Sem uma estratégia se- mocracia e na liberdade, se reuniram para
or economia do mundo em 2050. pouco (especialmente no setor pú- do resolveu reduzir as barreiras, e o melhante à que colocou a Embraer no lembrar os homens e mulheres que foram
Mas nenhum país avança e ga- blico), ou seja, mesmo arrecadando Brasil não teve escolha: integrou-se brilhante patamar em que está, e da- covardemente assassinados sem explica-
nha competitividade no impro- muito, adotamos um modelo de for- mais aos mercados mundiais, des- da a oferta mundial excedente de pro- ção. Um festival de música com a presença
viso. Regras regulatórias está- te expansão dos gastos correntes. vendando uma pletora de “carro- dutos industrializados do momento, de renomados artistas argentinos transfor-
veis permitem planejamento, Por isso, o setor público investe ças”. é de se tentar outros caminhos. Nesse mou-se em um dos eixos centrais, prestan-
razão pela qual, são fundamen- pouco, criando gargalos e altos cus- Tudo isso empurra o Brasil para a contexto, o principal andaime que da- do uma emocionante homenagem. Pensei
tais. tos na infraestrutura de transpor- apreciação real da taxa de câmbio, rá sustentação à indústria é a concen- comigo mesmo que não poderia ser diferen-
tes. Há o fato de que o governo desa- o que vem ocorrendo há muito, e só tração de investimentos em infraes- te. Uma conhecida canção, símbolo da li-
SÉRGIO SALOMÃO é presidente da prendeu a planejar e gerir in- não se dá em maior intensidade por- trutura, especialmente de transpor- berdade na Argentina, diz: “Cantamos por-
Associação Brasileira dos Terminais versões, e também um viés ideológi- que o Banco Central compra todos tes, onde a carência é maior. Assim, que os sobreviventes e nossos mortos que-
de Contêineres de Uso Público. co anti-investimento privado de os dólares que consegue, ainda que estaremos pavimentando de forma rem que cantemos.”
qualidade na infraestrutura. O Cus- essa compra seja financiada inter- mais sólida o caminho para o novo
O GLOBO NA INTERNET to Brasil é gigantesco, tanto por is- namente a juros estratosféricos. mundo que se ergue. LEO VINOVEZKY é conselheiro político e
OPINIÃO Leia mais artigos so, como porque há burocracia ex- Sem preparo para enfrentar essa encarregado de negócios da Embaixada de
oglobo.com.br/opinião cessiva, corrupção e outras maze- avalanche de mudanças, a indústria RAUL VELLOSO é economista. Israel no Brasil.