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Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012                                                                                                                                                            OPINIÃO        •   7
                                                                                             O GLOBO

Grande
chance na                                                                                                LUIZ GARCIA
Rio+20                                                                                                   Falar e ouvir

                                                O
SUZANA KAHN RIBEIRO E WALTER                             jornal de domingo identificou                ros responsáveis. Ou alguém conhece                não basta. Um deles, Canagé Vilhena,
FIGUEIREDO DE SIMONI
                                                         um possível responsável — en-                uma forma mais eficaz de impedir que               reclama contra a inexistência de puni-



E
                                                         tre, com certeza, uns tantos ou-             uma situação de perigo venha a se tor-             ções em alguns casos, como acidentes
        stamos em um momento im-
        portante de redefinição dos ru-                  tros, desconhecidos ou sim-                  nar mais perigosa? O presidente do                 nos bondinhos de Santa Teresa, no ano
        mos da economia global. A cri-          plesmente não citados — por acidentes                 Crea, Agostinho Guerreiro, afirma que o            passado, que causaram seis mortes.
        se dos mercados financeiros, a          aparentemente espontâneos em prédi-                   órgão está, como ele diz, apertando o                Os atuais dirigentes do Crea afirmam
vulnerabilidade da economia de di-              os do Rio de Janeiro. Seria ele o Conse-              cerco desde 2006 — e, graças a isso, “os           que, mesmo não sendo legalmente obri-
versos países e uma série de proble-
mas ambientais indicam uma realida-             lho Regional de Engenharia e Agrono-                  profissionais estão mais conscientes”.             gados a isso, cumprem o que definem,
de clara: existe um problema com o              mia.                                                    Pode ser. O arquiteto Canagé Vilhena,            corretamente, como um dever ético: in-
atual modelo de desenvolvimento.                  É uma autarquia federal que inspecio-               que já presidiu o Crea, acusa o conselho           formar à prefeitura e ao Ministério Pú-
Esta constatação não é nova, mas ho-            na construções. No ano passado, os fis-               de falta de energia na investigação de             blico nos níveis estadual e federal so-
je temos uma confluência de fatores
que apontam para a consolidação de
                                                cais do Crea visitaram quase 30 mil                   uma série de acidentes. O que contri-              bre qualquer irregularidade que desco-
novos caminhos para o desenvolvi-               obras no estado e descobriram erros,                  buiria para agravar o problema. Os nú-             brem. Mas os dois órgãos públicos ne-
mento.                                          de diferentes níveis de gravidade, em                 meros alimentam a discussão: no ano                gam que recebam essas notificações.
   A teoria econômica tem como obje-            perto de cinco mil deles. Ninguém pre-                passado, por exemplo,os fiscais visita-              Pelo visto e pelo dito — e tendo como
tivo definir a alocação de recursos fi-         cisa ser engenheiro para concluir que é
nitos dentro da nossa sociedade. A
                                                                                                      ram quase 30 mil obras no estado, e                princípio que em nenhuma das institui-
escassez, como conceito central de              erro que não acaba mais. Pior, foi um                 descobriram coisas erradas em perto                ções envolvidas existe má-fé ou incom-
toda a teoria econômica de Smith a              crescimento de 26% em relação ao ano                  de cinco mil delas. Mas nenhum enge-               petência em nível alarmante — há na
Keynes, é fundamental para o debate             anterior. Ou seja, um problema grave                  nheiro teve seu registro cassado ou                área um sério problema de comunica-
dos novos rumos da economia glo-                que está ficando cada dia mais sério.                 suspenso.                                          ção e informação. O qual tem o Rio co-
bal. Esta economia visando a um
crescimento infinito opera dentro de              No entanto, isso não provocou o que                   O Crea prefere limitar os castigos a             mo maior vítima. Parece ser urgente al-
um sistema que não precifica corre-             seria óbvio: um aumento equivalente                   advertências reservadas. Alguns arqui-             guma iniciativa que leve uns a falarem
tamente suas escassezes. Quando as              no número de punições dos engenhei-                   tetos afirmam publicamente que isso                mais alto e outros a ouvirem melhor.
fundações da economia tradicional
foram criadas, não existia uma per-
cepção clara dos limites dos nossos


                                           A hipocrisia dos “sudestinos”                                                                                                  Tesouros em
ecossistemas. Na era da economia de
Adam Smith e David Ricardo, as limi-
tações vistas eram mais tangíveis e
óbvias, relacionadas ao consumo de
minerais, terra fértil, madeira e ou-                                                                                                                        Cavalcante
                                                                                                                                                                          desperdício
tros recursos naturais. Hoje, porém,       GLAUCIO SOARES
pressões criadas pelo nosso modelo                                                                                                                                        LÚCIA MOTTA E MARCELO CHIMENTO




                                           R
de consumo se tornam cada vez mais                 eunir governadores, políticos,



                                                                                                                                                                          I
evidentes, trazendo à tona realida-                polícias e pesquisadores do                                                                                                magine que você tem um bilhete pre-
des não reconhecidas no século XVI-                Sudeste pode ser o primeiro                                                                                                 miado na Mega-Sena e esquece de
II. A ciência evoluiu para melhor en-              passo para a formação de uma                                                                                                retirar o valor. Parece estranho, mas
tender as pressões humanas nos sis-        identidade regional. O crime não é                                                                                                  os jornais noticiaram recentemente
temas naturais e seus limites, mas a       mais um fenômeno estritamente es-                                                                                              que, em 2010, R$ 169 milhões foram es-
teoria econômica, os mercados finan-       tadual: se regionaliza e se nacionali-                                                                                         quecidos por ganhadores de prêmios
ceiros e até mesmo a nossa própria         za. Além dos seus objetivos imedia-                                                                                            em loterias federais. Ainda mais sur-
percepção ainda não acompanharam           tos na luta contra o crime e a violên-                                                                                         preendente é que, no mundo da inova-
tal evolução.                              cia, também pode ser um passo es-                                                                                              ção, aconteça algo comparável: muitos
   Hoje, estamos às vésperas da reali-     tratégico na política brasileira a fim                                                                                         brasileiros produzem soluções inovado-
zação da Rio+20, 40 anos após a pri-       de defender os interesses da região.                                                                                           ras que poderiam ser licenciadas e ren-
meira conferência de meio ambiente         Na trama complexa da política regio-                                                                                           der milhões, mas perdem esta chance
de Estocolmo. Esta é uma reunião           nal, o Sudeste e o Centro-Oeste lutam                                                                                          porque não pediram a patente.
que possui um potencial de mudança         contra uma ausência de identidade                                                                                                Ninguém duvida do potencial da ci-
global, pois podemos ver sinais de         regional. Não há sudestinos... É cada                                                                                          ência brasileira, mas não faltam
uma verdadeira integração de objeti-       estado por si e ninguém por todos. E                                                                                           exemplos para mostrar que nem sem-
vos ambientais e sociais no processo       contribui para a debilidade de cada                                                                                            pre o conhecimento nacional se
de tomada de decisão tanto nas esfe-       estado. Vejam o comportamento de                                                                                               transforma em riqueza para o país.
ras públicas quanto privadas. Pode-        tantos políticos de outros estados                                                                                             Um caso clássico é o do captopril,
se dizer que a Rio+20 não será uma         em relação ao pré-sal.                                                                                                         medicamento anti-hipertensivo de-
reunião sobre o meio ambiente, e sim          Mas há nordestinos, nortistas e su-                                                                                         senvolvido a partir do veneno da jara-
sobre um desenvolvimento mais in-          listas e essas identidades contam —         rivalidades entre cariocas, mineiros ões pobres pelas ricas, tão “a gusto”         raca. O princípio ativo da droga foi
clusivo, eficiente e de baixo carbono.     e muito — seja na retórica política         e paulistas são divertidas no campo dos ricos das regiões pobres, tem al-          descoberto por um pesquisador bra-
Esta é uma oportunidade única para         que, dentro e fora do Congresso, in-        de futebol, mas na política têm um gumas facetas que me incomodam.                 sileiro. Porém, a patente ficou com
concepção de ferramentas que cria-         flui na distribuição dos recursos pú-       efeito negativo. Historicamente, a lo- Primeiro, faltam dados que demons-          um laboratório americano.
rão uma nova economia, em que cada         blicos, inclusive por recursos desti-       calização estrutural variou pouco em trem que essa exploração existe; se-            O que se fala aqui não é em falta de
ator, público, privado, financeiro ou      nados a combater o crime, seja na ati-      São Paulo e Minas, mas o Estado do gundo, exime a elite política do Nor-           inovação, mas sim na inexistência de
do terceiro setor, terá um papel fun-      vidade política que assegura que es-        Rio de Janeiro, que vivia parcialmen- deste e do Norte de qualquer respon-         uma cultura consolidada para prote-
damental no nascimento desse novo          ses fundos realmente sejam usados e         te na sombra do Distrito Federal, de- sabilidade, histórica e atual, pelos         ção dos resultados de pesquisa. É cla-
paradigma.                                 não contingenciados.                        pois Estado da Guanabara, foi esvazi- problemas da região e seus estados.          ro que o país precisa investir mais em
   Dentro desta realidade, é funda-           Políticos e a sociedade construí-        ado com a transferência da capital, e Exemplificando: a miséria do Mara-           inovação, mas é igualmente impor-
mental que o Estado retome seu pa-         ram uma fortíssima identidade nor-          o Espírito Santo tinha e tem pouca ex- nhão se deve mais à exploração por          tante que avance na proteção do que
pel de indutor e regulador do desen-       destina, uma forte identidade nortis-       pressão demográfica e política.         São Paulo ou a décadas de corrupção        os brasileiros já possuem nas mãos
volvimento, favorecendo a adoção           ta e uma identidade sulista. A cons-          Porém, a despeito do crescimento e inépcias da sua elite? Se a ambos,            — o tal “bilhete premiado”.
de práticas econômicas e processos         trução dessas regiões como blocos           demográfico (em boa parte absor- em que proporção? Terceiro, as pes-                 Neste sentido, o Instituto Nacional
produtivos inovadores, calcado no          que constituem o edifício político foi      vendo o excedente de outras regi- soas (da elite e do povo também)                 da Propriedade Industrial (Inpi) vem
uso racional e na proteção dos recur-      importante na luta por recursos. A          ões) e econômico, a participação do têm ou não alguma responsabilidade             trabalhando em parceria com diver-
sos naturais e na incorporação de          identidade criou uma ideologia da ex-       Sudeste no Legislativo, particular- pelas decisões que tomam ou dei-               sos setores do Governo, da indústria
classes sociais excluídas à economia,      ploração entre regiões. A relevância        mente no Senado Federal, decresceu xam de tomar, independentemente                 e das instituições de ensino e pesqui-
por meio do acesso ao emprego, ao          dessa identidade e dessa ideologia          através do tempo. Esse enfraqueci- da região em que vivem? Quarto, os              sa para estimular a busca não só por
trabalho decente e à renda.                transparece nos discursos no Sena-          mento não promoveu                                    recursos desviados no        patentes, mas também por marcas,
   A criação de um ambiente institu-       do Federal: através de pesquisa no Si-      uma união regional, não                               Sudeste e do Sul vão         desenhos industriais e outros ativos
cional seguro, com regulamenta-            con (Sistema de Informações do Con-         houve a criação e o cres-                             beneficiar os necessi-       de propriedade intelectual. Neles, re-
ções claras e novas ferramentas que        gresso Nacional) localizei 3.780 dis-       cimento da identidade         Alguns políticos tados das regiões mais              side a chance de crescer no mercado,
permitam o direcionamento de flu-          cursos nos quais se mencionava a Re-        regional “sudestina”: a                               pobres, ou a burocra-        consolidar uma empresa e vencer os
xos de capitais, sinaliza para onde        gião Nordeste, outros 1.469 nos quais       região continua vivendo            falam da           cia dessas regiões, ou a     concorrentes. Não é à toa que gigan-
deve ir o investimento. Limites le-        se mencionava a Região Norte, segui-        o isolacionismo e a                                   burocracia federal, ou       tes como Samsung e Apple investem
gais para emissão de poluentes são         dos por 964 discursos nos quais a Re-       pseudoautossuficiên-         “exploração” do a elite eregiões — e em
                                                                                                                                                       a classe média     pesadamente em patentes, gerando
o exemplo clássico disso, mas tam-         gião Sul era mencionada, e pela Cen-        cia, para enfrentar es-                               dessas                       até disputas judiciais entre eles.
bém se inclui a criação de mecanis-        tro-Oeste, com 637. Na retaguarda,          sas perdas. Os estados         Nordeste mas           que proporções? Quid           O Brasil, ao contrário das empresas
mos financeiros que permitam o di-         absolutamente distanciada dos de-           do Sudeste viviam e vi-                               bono? Finalmente, os         citadas acima, ainda não despertou
recionamento de fluxos financeiros         mais, a Região Sudeste, com 270 men-        vem a ilusão do passa-        são insensíveis pobres das regiões ri-               para o potencial de valor da proprie-
para a proteção de ecossistemas, o         ções. Para cada menção ao Sudeste,          do. Cada estado do Su-                                cas, abandonados nes-        dade intelectual embutida em seus
aumento de eficiência de recursos e        há 14 ao Nordeste. Se levarmos a po-        deste defendia seus in-            à miséria          se debate, merecem al-       serviços e produtos. Estamos apenas
o próprio pagamento por serviços           pulação em conta, e computarmos as          teresses e nenhum de-                                 gum apoio?                   engatinhando em registro de softwa-
ecossistêmicos para aqueles que o          taxas per capita, as desigualdades          fendia os interesses da                                 Há uma hipocrisia          re (mal chegamos a 1300 por ano),
protegem. Dentre novos mecanis-            são gigantescas.                            região.                                               que deve ser desmas-         nossos genuínos produtos regionais
mos disponíveis para a integração             Essas identidades regionais e cole-        Essa fraqueza teve e tem um preço. carada. Alguns dos atores políticos           ainda não possuem um selo de dife-
do modelo econômico com políticas          tivas não são, apenas, figuras de retó-     A legislação federal relega a região que brandem a bandeira da explora-            renciação — indicação de procedên-
ambientais, se destacam a constru-         rica. Elas são instrumentos de mobili-      Sudeste à irrelevância enquanto regi- ção do Nordeste e do Norte pelo Sul e        cia —, não temos uma tradição de re-
ção de novos ativos ambientais e a         zação política dentro e fora do Con-        ão. Apenas 1% da legislação mencio- pelo Sudeste são riquíssimos e in-             gistro de desenhos industriais mes-
criação de mecanismos de mercado.          gresso, na luta por recursos públi-         na a região, em contraste com 60% de sensíveis à miséria do próprio povo.          mo tendo uma indústria de moda ca-
O mais conhecido destes é o Merca-         cos. Inicialmente, era uma estratégia       referências à região nordeste. Ao fi- É insultante ouvir esse discurso de          da vez mais relevante e sermos reco-
do de Carbono. Outras questões am-         necessária: um representante de Ala-        car fora da retórica política e do ima- vítima por parte de políticos latifun-     nhecidamente criativos em design.
bientais podem ser tratadas dentro         goas ou de Sergipe teria mais chance        ginário nacional, o Sudeste como re- diários, que possuem nababescas                 Em evento recente na UFRJ, com alu-
de tais mecanismos.                        de obter recursos para seu estado se        gião ficou fora da legislação. Não há casas de praia, cujos familiares cons-       nos da pós-graduação em biotecnologia
   A crise global e o momento político     alinhavasse seu discurso e seu pedi-        como legislar sobre uma região que tantemente viajam ao exterior e são             vegetal, especialistas do Inpi identifica-
representado pela Rio+20 nos apre-         do em nome do Nordeste. Porém, fa-          não existe, nem como beneficiá-la.      todos insensíveis à miséria que os         ram pelo menos seis projetos que pode-
sentam uma oportunidade única. Po-         zer reivindicações estaduais em no-           Por que essa união é necessária? cerca. Esse discurso se choca com a             riam gerar patentes. Isso pode se tradu-
deremos redefinir o modelo de de-          me do Nordeste era mais do que sim-         Porque os recursos são escassos. mais-valia que extraem dos peões                  zir em recursos para estimular a pesqui-
senvolvimento em que, ao contrário         ples retórica: era e é estratégia políti-   Porque o setor público brasileiro es- que trabalham para eles.                     sa na universidade, a geração de outras
do que a economia tradicional fre-         ca. Durante mais de um século, foi          tá falido, financeira e moralmente.       Os "sudestinos" devem se unir para       patentes e, assim, se cria um círculo vir-
quentemente indica, a natureza não         sendo alinhavada uma estratégia de          Legisla em benefício próprio. A imen- obter recursos federais, que estão           tuoso. É uma das estratégias para que o
é grátis.                                  barganha regional. Hoje, ela é fortís-      sa burocracia federal deixa para a minguando, para combater a pobreza              Brasil avance na busca por patentes e
                                           sima. Durante parte desse período, o        disputa as migalhas, o que sobra. e a violência, para reduzir a desigual-          encontre tesouros tão valiosos quanto
SUZANA KAHN RIBEIRO é subsecretária        Rio de Janeiro, antiga capital, São         Nessa disputa, os estados, individu- dade, e os brasileiros devem se unir          os que já foram desperdiçados.
de Economia Verde da Secretaria de Esta-   Paulo, nova e crescente potência            almente, têm pouca força, mesmo os para garantir que os recursos públi-
do do Ambiente do Rio                      econômica, e Minas Gerais, estado in-       estados fortes. O “estado” brasileiro cos cheguem às mãos dos mais ne-             LÚCIA MOTTA E MARCELO CHIMENT
                                           tegrante obrigatório de qualquer po-        tem impostos suecos e benefícios cessitados e não desapareçam pelos                são jornalistas.
WALTER FIGUEIREDO DE SIMONI é supe-        lítica nacional, seguiam caminhos in-       africanos. Consome o que extrai da ralos do estado.                                     O GLOBO NA INTERNET
rintendente de Economia Verde da Secre-    dividualizados, com frequência inde-        população.                                                                              OPINIÃO Leia mais artigos
taria.                                     pendentes, às vezes antagônicos. As           O discurso da exploração das regi- GLAUCIO SOARES é sociólogo                        oglobo.com.br/opinião

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  • 1. h Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012 OPINIÃO • 7 O GLOBO Grande chance na LUIZ GARCIA Rio+20 Falar e ouvir O SUZANA KAHN RIBEIRO E WALTER jornal de domingo identificou ros responsáveis. Ou alguém conhece não basta. Um deles, Canagé Vilhena, FIGUEIREDO DE SIMONI um possível responsável — en- uma forma mais eficaz de impedir que reclama contra a inexistência de puni- E tre, com certeza, uns tantos ou- uma situação de perigo venha a se tor- ções em alguns casos, como acidentes stamos em um momento im- portante de redefinição dos ru- tros, desconhecidos ou sim- nar mais perigosa? O presidente do nos bondinhos de Santa Teresa, no ano mos da economia global. A cri- plesmente não citados — por acidentes Crea, Agostinho Guerreiro, afirma que o passado, que causaram seis mortes. se dos mercados financeiros, a aparentemente espontâneos em prédi- órgão está, como ele diz, apertando o Os atuais dirigentes do Crea afirmam vulnerabilidade da economia de di- os do Rio de Janeiro. Seria ele o Conse- cerco desde 2006 — e, graças a isso, “os que, mesmo não sendo legalmente obri- versos países e uma série de proble- mas ambientais indicam uma realida- lho Regional de Engenharia e Agrono- profissionais estão mais conscientes”. gados a isso, cumprem o que definem, de clara: existe um problema com o mia. Pode ser. O arquiteto Canagé Vilhena, corretamente, como um dever ético: in- atual modelo de desenvolvimento. É uma autarquia federal que inspecio- que já presidiu o Crea, acusa o conselho formar à prefeitura e ao Ministério Pú- Esta constatação não é nova, mas ho- na construções. No ano passado, os fis- de falta de energia na investigação de blico nos níveis estadual e federal so- je temos uma confluência de fatores que apontam para a consolidação de cais do Crea visitaram quase 30 mil uma série de acidentes. O que contri- bre qualquer irregularidade que desco- novos caminhos para o desenvolvi- obras no estado e descobriram erros, buiria para agravar o problema. Os nú- brem. Mas os dois órgãos públicos ne- mento. de diferentes níveis de gravidade, em meros alimentam a discussão: no ano gam que recebam essas notificações. A teoria econômica tem como obje- perto de cinco mil deles. Ninguém pre- passado, por exemplo,os fiscais visita- Pelo visto e pelo dito — e tendo como tivo definir a alocação de recursos fi- cisa ser engenheiro para concluir que é nitos dentro da nossa sociedade. A ram quase 30 mil obras no estado, e princípio que em nenhuma das institui- escassez, como conceito central de erro que não acaba mais. Pior, foi um descobriram coisas erradas em perto ções envolvidas existe má-fé ou incom- toda a teoria econômica de Smith a crescimento de 26% em relação ao ano de cinco mil delas. Mas nenhum enge- petência em nível alarmante — há na Keynes, é fundamental para o debate anterior. Ou seja, um problema grave nheiro teve seu registro cassado ou área um sério problema de comunica- dos novos rumos da economia glo- que está ficando cada dia mais sério. suspenso. ção e informação. O qual tem o Rio co- bal. Esta economia visando a um crescimento infinito opera dentro de No entanto, isso não provocou o que O Crea prefere limitar os castigos a mo maior vítima. Parece ser urgente al- um sistema que não precifica corre- seria óbvio: um aumento equivalente advertências reservadas. Alguns arqui- guma iniciativa que leve uns a falarem tamente suas escassezes. Quando as no número de punições dos engenhei- tetos afirmam publicamente que isso mais alto e outros a ouvirem melhor. fundações da economia tradicional foram criadas, não existia uma per- cepção clara dos limites dos nossos A hipocrisia dos “sudestinos” Tesouros em ecossistemas. Na era da economia de Adam Smith e David Ricardo, as limi- tações vistas eram mais tangíveis e óbvias, relacionadas ao consumo de minerais, terra fértil, madeira e ou- Cavalcante desperdício tros recursos naturais. Hoje, porém, GLAUCIO SOARES pressões criadas pelo nosso modelo LÚCIA MOTTA E MARCELO CHIMENTO R de consumo se tornam cada vez mais eunir governadores, políticos, I evidentes, trazendo à tona realida- polícias e pesquisadores do magine que você tem um bilhete pre- des não reconhecidas no século XVI- Sudeste pode ser o primeiro miado na Mega-Sena e esquece de II. A ciência evoluiu para melhor en- passo para a formação de uma retirar o valor. Parece estranho, mas tender as pressões humanas nos sis- identidade regional. O crime não é os jornais noticiaram recentemente temas naturais e seus limites, mas a mais um fenômeno estritamente es- que, em 2010, R$ 169 milhões foram es- teoria econômica, os mercados finan- tadual: se regionaliza e se nacionali- quecidos por ganhadores de prêmios ceiros e até mesmo a nossa própria za. Além dos seus objetivos imedia- em loterias federais. Ainda mais sur- percepção ainda não acompanharam tos na luta contra o crime e a violên- preendente é que, no mundo da inova- tal evolução. cia, também pode ser um passo es- ção, aconteça algo comparável: muitos Hoje, estamos às vésperas da reali- tratégico na política brasileira a fim brasileiros produzem soluções inovado- zação da Rio+20, 40 anos após a pri- de defender os interesses da região. ras que poderiam ser licenciadas e ren- meira conferência de meio ambiente Na trama complexa da política regio- der milhões, mas perdem esta chance de Estocolmo. Esta é uma reunião nal, o Sudeste e o Centro-Oeste lutam porque não pediram a patente. que possui um potencial de mudança contra uma ausência de identidade Ninguém duvida do potencial da ci- global, pois podemos ver sinais de regional. Não há sudestinos... É cada ência brasileira, mas não faltam uma verdadeira integração de objeti- estado por si e ninguém por todos. E exemplos para mostrar que nem sem- vos ambientais e sociais no processo contribui para a debilidade de cada pre o conhecimento nacional se de tomada de decisão tanto nas esfe- estado. Vejam o comportamento de transforma em riqueza para o país. ras públicas quanto privadas. Pode- tantos políticos de outros estados Um caso clássico é o do captopril, se dizer que a Rio+20 não será uma em relação ao pré-sal. medicamento anti-hipertensivo de- reunião sobre o meio ambiente, e sim Mas há nordestinos, nortistas e su- senvolvido a partir do veneno da jara- sobre um desenvolvimento mais in- listas e essas identidades contam — rivalidades entre cariocas, mineiros ões pobres pelas ricas, tão “a gusto” raca. O princípio ativo da droga foi clusivo, eficiente e de baixo carbono. e muito — seja na retórica política e paulistas são divertidas no campo dos ricos das regiões pobres, tem al- descoberto por um pesquisador bra- Esta é uma oportunidade única para que, dentro e fora do Congresso, in- de futebol, mas na política têm um gumas facetas que me incomodam. sileiro. Porém, a patente ficou com concepção de ferramentas que cria- flui na distribuição dos recursos pú- efeito negativo. Historicamente, a lo- Primeiro, faltam dados que demons- um laboratório americano. rão uma nova economia, em que cada blicos, inclusive por recursos desti- calização estrutural variou pouco em trem que essa exploração existe; se- O que se fala aqui não é em falta de ator, público, privado, financeiro ou nados a combater o crime, seja na ati- São Paulo e Minas, mas o Estado do gundo, exime a elite política do Nor- inovação, mas sim na inexistência de do terceiro setor, terá um papel fun- vidade política que assegura que es- Rio de Janeiro, que vivia parcialmen- deste e do Norte de qualquer respon- uma cultura consolidada para prote- damental no nascimento desse novo ses fundos realmente sejam usados e te na sombra do Distrito Federal, de- sabilidade, histórica e atual, pelos ção dos resultados de pesquisa. É cla- paradigma. não contingenciados. pois Estado da Guanabara, foi esvazi- problemas da região e seus estados. ro que o país precisa investir mais em Dentro desta realidade, é funda- Políticos e a sociedade construí- ado com a transferência da capital, e Exemplificando: a miséria do Mara- inovação, mas é igualmente impor- mental que o Estado retome seu pa- ram uma fortíssima identidade nor- o Espírito Santo tinha e tem pouca ex- nhão se deve mais à exploração por tante que avance na proteção do que pel de indutor e regulador do desen- destina, uma forte identidade nortis- pressão demográfica e política. São Paulo ou a décadas de corrupção os brasileiros já possuem nas mãos volvimento, favorecendo a adoção ta e uma identidade sulista. A cons- Porém, a despeito do crescimento e inépcias da sua elite? Se a ambos, — o tal “bilhete premiado”. de práticas econômicas e processos trução dessas regiões como blocos demográfico (em boa parte absor- em que proporção? Terceiro, as pes- Neste sentido, o Instituto Nacional produtivos inovadores, calcado no que constituem o edifício político foi vendo o excedente de outras regi- soas (da elite e do povo também) da Propriedade Industrial (Inpi) vem uso racional e na proteção dos recur- importante na luta por recursos. A ões) e econômico, a participação do têm ou não alguma responsabilidade trabalhando em parceria com diver- sos naturais e na incorporação de identidade criou uma ideologia da ex- Sudeste no Legislativo, particular- pelas decisões que tomam ou dei- sos setores do Governo, da indústria classes sociais excluídas à economia, ploração entre regiões. A relevância mente no Senado Federal, decresceu xam de tomar, independentemente e das instituições de ensino e pesqui- por meio do acesso ao emprego, ao dessa identidade e dessa ideologia através do tempo. Esse enfraqueci- da região em que vivem? Quarto, os sa para estimular a busca não só por trabalho decente e à renda. transparece nos discursos no Sena- mento não promoveu recursos desviados no patentes, mas também por marcas, A criação de um ambiente institu- do Federal: através de pesquisa no Si- uma união regional, não Sudeste e do Sul vão desenhos industriais e outros ativos cional seguro, com regulamenta- con (Sistema de Informações do Con- houve a criação e o cres- beneficiar os necessi- de propriedade intelectual. Neles, re- ções claras e novas ferramentas que gresso Nacional) localizei 3.780 dis- cimento da identidade Alguns políticos tados das regiões mais side a chance de crescer no mercado, permitam o direcionamento de flu- cursos nos quais se mencionava a Re- regional “sudestina”: a pobres, ou a burocra- consolidar uma empresa e vencer os xos de capitais, sinaliza para onde gião Nordeste, outros 1.469 nos quais região continua vivendo falam da cia dessas regiões, ou a concorrentes. Não é à toa que gigan- deve ir o investimento. Limites le- se mencionava a Região Norte, segui- o isolacionismo e a burocracia federal, ou tes como Samsung e Apple investem gais para emissão de poluentes são dos por 964 discursos nos quais a Re- pseudoautossuficiên- “exploração” do a elite eregiões — e em a classe média pesadamente em patentes, gerando o exemplo clássico disso, mas tam- gião Sul era mencionada, e pela Cen- cia, para enfrentar es- dessas até disputas judiciais entre eles. bém se inclui a criação de mecanis- tro-Oeste, com 637. Na retaguarda, sas perdas. Os estados Nordeste mas que proporções? Quid O Brasil, ao contrário das empresas mos financeiros que permitam o di- absolutamente distanciada dos de- do Sudeste viviam e vi- bono? Finalmente, os citadas acima, ainda não despertou recionamento de fluxos financeiros mais, a Região Sudeste, com 270 men- vem a ilusão do passa- são insensíveis pobres das regiões ri- para o potencial de valor da proprie- para a proteção de ecossistemas, o ções. Para cada menção ao Sudeste, do. Cada estado do Su- cas, abandonados nes- dade intelectual embutida em seus aumento de eficiência de recursos e há 14 ao Nordeste. Se levarmos a po- deste defendia seus in- à miséria se debate, merecem al- serviços e produtos. Estamos apenas o próprio pagamento por serviços pulação em conta, e computarmos as teresses e nenhum de- gum apoio? engatinhando em registro de softwa- ecossistêmicos para aqueles que o taxas per capita, as desigualdades fendia os interesses da Há uma hipocrisia re (mal chegamos a 1300 por ano), protegem. Dentre novos mecanis- são gigantescas. região. que deve ser desmas- nossos genuínos produtos regionais mos disponíveis para a integração Essas identidades regionais e cole- Essa fraqueza teve e tem um preço. carada. Alguns dos atores políticos ainda não possuem um selo de dife- do modelo econômico com políticas tivas não são, apenas, figuras de retó- A legislação federal relega a região que brandem a bandeira da explora- renciação — indicação de procedên- ambientais, se destacam a constru- rica. Elas são instrumentos de mobili- Sudeste à irrelevância enquanto regi- ção do Nordeste e do Norte pelo Sul e cia —, não temos uma tradição de re- ção de novos ativos ambientais e a zação política dentro e fora do Con- ão. Apenas 1% da legislação mencio- pelo Sudeste são riquíssimos e in- gistro de desenhos industriais mes- criação de mecanismos de mercado. gresso, na luta por recursos públi- na a região, em contraste com 60% de sensíveis à miséria do próprio povo. mo tendo uma indústria de moda ca- O mais conhecido destes é o Merca- cos. Inicialmente, era uma estratégia referências à região nordeste. Ao fi- É insultante ouvir esse discurso de da vez mais relevante e sermos reco- do de Carbono. Outras questões am- necessária: um representante de Ala- car fora da retórica política e do ima- vítima por parte de políticos latifun- nhecidamente criativos em design. bientais podem ser tratadas dentro goas ou de Sergipe teria mais chance ginário nacional, o Sudeste como re- diários, que possuem nababescas Em evento recente na UFRJ, com alu- de tais mecanismos. de obter recursos para seu estado se gião ficou fora da legislação. Não há casas de praia, cujos familiares cons- nos da pós-graduação em biotecnologia A crise global e o momento político alinhavasse seu discurso e seu pedi- como legislar sobre uma região que tantemente viajam ao exterior e são vegetal, especialistas do Inpi identifica- representado pela Rio+20 nos apre- do em nome do Nordeste. Porém, fa- não existe, nem como beneficiá-la. todos insensíveis à miséria que os ram pelo menos seis projetos que pode- sentam uma oportunidade única. Po- zer reivindicações estaduais em no- Por que essa união é necessária? cerca. Esse discurso se choca com a riam gerar patentes. Isso pode se tradu- deremos redefinir o modelo de de- me do Nordeste era mais do que sim- Porque os recursos são escassos. mais-valia que extraem dos peões zir em recursos para estimular a pesqui- senvolvimento em que, ao contrário ples retórica: era e é estratégia políti- Porque o setor público brasileiro es- que trabalham para eles. sa na universidade, a geração de outras do que a economia tradicional fre- ca. Durante mais de um século, foi tá falido, financeira e moralmente. Os "sudestinos" devem se unir para patentes e, assim, se cria um círculo vir- quentemente indica, a natureza não sendo alinhavada uma estratégia de Legisla em benefício próprio. A imen- obter recursos federais, que estão tuoso. É uma das estratégias para que o é grátis. barganha regional. Hoje, ela é fortís- sa burocracia federal deixa para a minguando, para combater a pobreza Brasil avance na busca por patentes e sima. Durante parte desse período, o disputa as migalhas, o que sobra. e a violência, para reduzir a desigual- encontre tesouros tão valiosos quanto SUZANA KAHN RIBEIRO é subsecretária Rio de Janeiro, antiga capital, São Nessa disputa, os estados, individu- dade, e os brasileiros devem se unir os que já foram desperdiçados. de Economia Verde da Secretaria de Esta- Paulo, nova e crescente potência almente, têm pouca força, mesmo os para garantir que os recursos públi- do do Ambiente do Rio econômica, e Minas Gerais, estado in- estados fortes. O “estado” brasileiro cos cheguem às mãos dos mais ne- LÚCIA MOTTA E MARCELO CHIMENT tegrante obrigatório de qualquer po- tem impostos suecos e benefícios cessitados e não desapareçam pelos são jornalistas. WALTER FIGUEIREDO DE SIMONI é supe- lítica nacional, seguiam caminhos in- africanos. Consome o que extrai da ralos do estado. O GLOBO NA INTERNET rintendente de Economia Verde da Secre- dividualizados, com frequência inde- população. OPINIÃO Leia mais artigos taria. pendentes, às vezes antagônicos. As O discurso da exploração das regi- GLAUCIO SOARES é sociólogo oglobo.com.br/opinião