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Transtornos
psicopatológicos
na infância e
na adolescência
772t	 Transtornos psicopatológicos na infância e na adolescência
		 / organizado por Luciana Tisser. – Novo Hamburgo :
		 Sinopsys, 2018.
		 318p. ; 16x23cm.
		 ISBN 978-85-9501-044-4
		 1. Psicologia – Transtornos – Infância – Adolescência.
	 I. Título.
				 CDU 159.9-053.2/.6
Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023
2AQUEL×ARBOZA×,HULLIER
3$86$12
27,',$12
2EFLEXOES×PARA×PAIS
×EDUCADORES×E×TERAPEUTAS
^
2018
Transtornos
psicopatológicos
na infância e
na adolescência
Luciana Tisser
e colaboradores
© Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2018
Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adoslecência
Luciana Tisser e colaboradores
Capa: Guilherme Webster
Editoração: Formato Artes Gráficas
Assistente editorial: Jade Arbo
Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto
Todos os direitos reservados à
Sinopsys Editora
Fone: (51) 3066-3690
E-mail: atendimento@sinopsyseditora.com.br
Site: www.sinopsyseditora.com.br
Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de
viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.
Mario Quintana
Dedico este livro a todas as crianças e adolescentes,
e a todos meus pequenos grandes pacientes.
Agradeço a todos colegas coautores deste importante livro e à
Editora Sinopsys, que permitiu e oportunizou o nascimento desta obra.
Autores
Luciana Tisser (org.). Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia e em Gru-
poterapia. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde – Neurociências pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente
no Curso de Psicologia da Uniritter. Docente no Curso Psico­
terapias Cogni-
tivas e no Curso de Especialização em Psicoterapias Cog­
nitivas na Infância e
Adolescência do InTCC/RS. Coordenadora da Es­
pecialização em Neurop-
sicologia do InTCC/RS. Sócia diretora do Ins­
tituto de Neuropsicologia.
Allana Almeida Moraes. Psicóloga pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (Unisinos). Especialização em Psicoterapia Cognitivo-Comportamen-
tal pela WP – Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental. Mestre
em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUCRS).
Beatriz Lobo. Psicóloga pela PUCRS. Mestre em Psicologia – Cognição
Humana pela PUCRS.
Breno Irigoyen de Freitas. Psicólogo pela PUCRS. Especialista em Tera-
pias Cognitivo-Comportamentais na Infância e Adolescência. Mestre em
vi Autores
Psicologia Clínica pela PUCRS. Possui formação profissional do modelo de
Prevenção de Recaída Baseada em Mindfulness (MBRP Brasil).
Bruna Velasco Velazquez. Graduação em Medicina pela Universidade Lu-
terana do Brasil (Ulbra). Residência Médica em Psiquiatria pela Universi-
dade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Residência
Médica em Psiquiatria da Infância e Adolescência pelo Hospital de Clínicas
de Porto Alegre (HCPA). Especialização em andamento em Psicoterapia de
Orientação Analítica (CELG).
Cristiane Flôres Bortoncello. Psicóloga,Terapeuta certificada pela FBTC.
Membro fundadora e presidente da Associação de Terapias Cognitivas do
Rio Grande do Sul (ATC-RS) gestão (2016-2019). Mestre em psiquiatria
(UFRGS). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (INFA-
PA). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental na infância e
adolescência (InTCC). Formação em Terapia de Casal (InTCC). For-
mação em Terapia do Esquema (WP). Treinamento intensivo em Tera-
pia Comportamental Dialética (The Linehan Institute, Behavioral Tech).
Professora de Pós-graduação no IWP e no InTCC. Psicóloga dos grupos
de tratamento para o TOC do Hospital de Clínicas de Porto Alegre de
2007 a 2014.
Danielle Irigoyen da Costa. Psicóloga. Formação em Neuropsicologia e
Neuropsicologia Infantil pelo Hospital São Lucas da Pontifícia Universida-
de Católica do Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS). Mestrado e Doutorado
pelo Programa de Pós-Graduação (PPG) em Medicina e Ciências da Saúde
da PUCRS/Neurociências e Pós-doutorado pela Fundação Universitária de
Cardiologia/Instituto de Cardiologia do RS (FUC/IC-RS). Professora Ad-
junta dos cursos de Psicologia e Medicina da PUCRS e do PPG da Fundação
Universitária de Cardiologia/Instituto de Cardiologia do RS. Pesquisadora
do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (INSCER), colaboradora do
laboratório de Hipertensão Experimental do Instituto do Coração do Hos-
pital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do Núcleo de Estudo
e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE – PUCRS).
Autores vii
Dayane Santos Martins. Graduanda de Psicologia do 9º semestre do Cen-
tro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Estagiária da Unidade de De-
sintoxicação do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Bolsista de Iniciação Cien-
tífica do grupo de Psiquiatria Molecular do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (HCPA). 
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares. Professora Titular, colaboradora Sê-
nior do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicolo­
gia da
Universidade de São Paulo (USP).
Fernanda Cerutti. Psicóloga pela URI/FW. Especialista em Psicoterapia
pelo IAFEC. Mestre e Doutoranda em Psicologia Clínica pela PUCRS.
Integrante do Grupo de Pesquisa “Avaliação e Intervenção no Ciclo Vi-
tal” – PUCRS.
Fernanda Figueiró. Pedagoga. Orientadora educacional e psicopedagoga
especialista em neuropsicopedagogia e desenvolvimento humano.
Fernanda Valle Krieger. Psiquiatra da Infância e Adolescência. Mestre em
Psiquiatria pela UFRGS. Doutora em Psiquiatria pela USP.
Francine Guimarães Gonçalves. Psicóloga pela PUC-RS. Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria na FAMED/UFRGS. Especia-
lista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto da Família de
Porto Alegre (INFAPA). Professora nos cursos de especialização em Terapia
Cognitivo-Comportamental na IWP. Professora e Supervisora no Instituto
Fernando Pessoa (IFP). Atualmente é 1ª secretária da Associação de Terapias
Cognitivas do Rio Grande do Sul (ATC-RS).
Gledis Lisiane Motta. Graduada em Medicina pela Universidade Federal
de Pelotas. Mestre em Ciências Médicas: Psiquiatria pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul (2014). Atualmente é médica psiquiatra da Pre-
feitura Municipal de Porto Alegre, preceptora da residência em Psiquiatria
no Hospital Presidente Vargas e pesquisadora do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Psiquia-
tra da Infância e Adolescência
viii Autores
Igor Lins Lemos. Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comporta-
mento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em
Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Per-
nambuco (UPE). Terapeuta Cognitivo certificado pela Federação Brasileira
de Terapias Cognitivas (FBTC). Psicólogo clínico, palestrante, pesquisador
e colunista da Revista Psique CV (Ciberpsicologia).
Irani Iracema de Lima Argimon. Psicóloga. Especialista em Avaliação Psi-
cológica e Dependência Química. Mestre em Educação. Doutora em Psi-
cologia. Docente Titular do Programa de Graduação e Pós-Gradua­
ção em
Psicologia – PUCRS. Pesquisadora Produtividade do CNPq.
Jéssica de Assis Silva. Psicóloga pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP).
Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP.
Josemar Marchezan. Graduação em Medicina pela Universidade Federal
de Santa Maria. Residência Médica em Pediatria e Neurologia Infantil rea-
lizadas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre – UFRGS. Especialista em
Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria – Associação Médica Brasi-
leira e Especialista em Neurologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pe-
diatria / Academia Brasileira de Neurologia – Associação Médica Brasileira.
Possui Capacitação em Eletroencefalografia e Epilepsia realizada no HCPA.
Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFRGS, com ênfase
em Autismo. Professor de Semiologia Pediátrica e de Pediatria do Curso de
Medicina da Univates (Lajeado/RS). Doutorando em Saúde da Criança e
do Adolescente – UFRGS, com ênfase em Autismo.
Juliana Braga Gomes. Psicóloga e Pedagoga pela PUCRS. Especialista em
Terapia Cognitivo-Comportamental pelo INFAPA. Mestre em Ciências
Médicas: Psiquiatria pela UFRGS. Doutora em Psiquiatria e Ciências do
Comportamento pela UFRGS.
Kamila Castro Grokoski. Graduada em Nutrição pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre pelo Programa de Pós-Gra-
Autores ix
duação em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFRGS. Doutoranda
pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente
(UFRGS).
Luciana Nagalli Gropo. Psicoterapeuta cognitivo-comportamental. Mestre
em Hebiatria – FOP/UPE. Terapeuta Certificada pela FBTC. Psicóloga do
Centro de Tratamento de TOC – C-TOC do Hospital Universitário Osval-
do Cruz da Universidade Estadual de Pernambuco.
Marcelly Filipetto. Psicóloga. Pós-Graduanda em Terapia Cognitivo-Com-
portamental. Primeira Tesoureira da ATC-RS.
Mariana Batista Lima. Fonoaudióloga pelo IPA. Especialização em Neu-
ropsicologia pela UFRGS. Mestre em Psicologia com ênfase em Cognição
Humana pela PUCRS. Especializanda em Gestão Escolar na UNINTER.
Marta Carvalho. Graduada em Medicina pela UFCSPA. Residente em Psi-
quiatria Infantil no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, For-
taleza.
Natália Coimbra Ribeiro. Graduanda de Psicologia na UniRitter. Bolsista
de Iniciação Científica PROBIC/FAPERGS no Grupo de pesquisa “Rela-
ções Interpessoais e Violência: contextos clínicos, sociais, educativos e vir-
tuais” da PUCRS.
Neusa Aita Agne. Médica pela UFSM. Especialista em Psiquiatria pela
UFSCPA e em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela UFSCPA. Mes-
tranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (UFCSPA).
Formação em andamento em Terapia Cognitivo-Comportamental na In-
fância e Adolescência (InTCC).
Patrícia Bombassaro. Psicóloga graduada pela Universidade Feevale em
2011. Possui aperfeiçoamento em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental
pelo Instituto WP Psicoterapia Cognitivo e  Pós-Graduada em Neuropsico-
logia pela Projecto Soluções em Psicologia. Atua como psicóloga clínica e
neuropsicóloga. 
Raquel Barboza Lhullier.  Psicóloga. Terapeuta Cognitivo Comportamen-
tal da Infância e Adolescência. Coordenadora local dos cursos do InTcc em
Pelotas e professora convidada nos cursos de Especialização em TCC da In-
fância e Adolescência (InTcc). Coordenadora do programa TRI Preventivo
na cidade de Pelotas/RS. (Instituto TRI de Educação Socioemocional). Au-
tora dos livros: Pausa no Cotidiano- reflexões para pais educadores e terapeutas.
Coautora nos livros: E agora? Como falar que alguém da família adoeceu e O
nascimento do amor.
Renata Klein Zancan. Psicóloga pela UNIJUI-RS. Doutoranda em Psi-
cologia Clínica no Grupo de Avaliação e Pesquisa em Terapia Cogniti-
vo e Comportamental do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
PUCRS. Mestre em Psicologia Clínica pela Unisinos. Pós-Graduada em
Psicologia em Saúde Mental e Coletiva pelo ICPG-SC. Cofundadora da
Equipe Gentilmente.
Rodrigo Giacobo Serra. Psicólogo. Mestre em Psicopatologia Infanto-
juvenil e em Pesquisa na área de Psicologia Clínica pela Universidade Au-
tónoma de Barcelona – Espanha. Doutor em Psicologia pela Universidade
Autónoma de Barcelona. Pós-doutorado em Educação na Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Professor do curso
de Especialização em Terapias Cognitivo-Comportamentais na Infância e
Adolescência no Instituto de Terapias Cognitivo-Comportamentais (In-
TCC) em Porto Alegre e em diversos estados do Brasil. Professor do curso
de Psicologia na Feevale, Novo Hamburgo. Professor convidado do Mes-
trado em Psicopatologia na Infância e Adolescência na Universidade Au-
tónoma de Barcelona. Pesquisador na área dos Transtornos de Ansiedade
na infância.
Rudimar dos Santos Riesgo. Médico Neuropediatra. Doutor em Pediatria
(UFRGS). Professor de Medicina da UFRGS. Chefe da Neuropediatria do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (UFRGS).
Teresa Helena Schoen. Psicóloga pela Universidade de Brasília. Pedagoga
pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal. Mestre em Ciên-
xvi Autores
Autores xvii
cias Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo. Doutora
em Ciências Pela Universidade Federal de São Paulo.
Valéria de Oliveira Thiers. Psicóloga pela Universidade de São Paulo. Mes-
tre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Doutora
em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Professora Ad-
junta da PUCRS.
Vanessa Schmitz Bulcão. Relações Públicas. Especialista em Marketing e
Direção de empresas (ISTE-Portugal). Graduanda em Psicologia pela Uni-
ritter e estagiária do Núcleo de Neurociências da Uniritter
Vanessa Ceré Furtado. Fonoaudióloga pela Rede Metodista IPA. Espe-
cialista em Atendimento Clínico ênfase em Fonoaudiologia pela UFRGS.
Formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath. Especializanda em Neu-
ropsicologia no InTCC.
Virgínia de Oliveira Rosa. Médica Psiquiatra Adulto, Infância e Adolescên-
cia. Graduada em Medicina pela UFRGS. Residência médica em Psiquiatria
pela UFCSPA. Residência médica em Psiquiatra Infantil pelo Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Pós-graduanda (Doutorado) no Programa
de Pós Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento UFRGS.
Sumário
Apresentação...........................................................................................	 13	
1	 Anamnese Infantil e do Adolescente..................................................	 23
	 Beatriz Lobo e Luciana Tisser
2	 Deficiência Intelectual.
......................................................................	 35
	 Dayane Santos Martins, Vanessa Schmitz Bulcão e Luciana Tisser
3	 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
.............................	 57
	 Luciana Tisser, Natália Coimbra Ribeiro e Patrícia Bombassaro
4	 Transtorno do Espectro Autista ........................................................	 75
	 Josemar Marchezan, Kamila Castro Grokoski
	 e Rudimar dos Santos Riesgo
5	 Transtorno de Aprendizagem.
............................................................	 97
	 Fernanda Figueiró, Danielle Irigoyen da Costa,
	 Valéria de Oliveira Thiers e Luciana Tisser
6	 Transtornos Alimentares.
...................................................................	 111
	 Breno Irigoyen de Freitas, Luciana Tisser e Renata Klein Zancan
7	 Transtorno de Ansiedade...................................................................	 127
	 Raquel Barboza Lhullier e Rodrigo Giacobo Serra
8	 Transtorno Obsessivo-Compulsivo....................................................	 169
	 Cristiane Flôres Bortoncello, Luciana Nagalli Gropo,
	 Francine Guimarães Gonçalves, Marcelly Filipetto e Juliana Braga Gomes
9	 Depressão.
.........................................................................................	 201
	 Neusa Aita Agne, Bruna Velasco Velazquez, Marta Carvalho,
	 Gledis Lisiane Motta e Virgínia de Oliveira Rosa
10	 Transtornos de Eliminação: enurese e encoprese................................	 225
	 Edwiges Ferreira de Matos Silvares, Jéssica de Assis Silva
	 e Teresa Helena Schoen
11	Transtornos da Comunicação............................................................	 249
	 Mariana Batista Lima e Vanessa Furtado
12	 Transtornos Disruptivos do Controle do Impulso e da Conduta.......	 269
	 Fernanda Valle Krieger
13	Uso e Abuso de Substâncias Psicoativas.............................................	 289
	 Irani Iracema de Lima Argimon, Fernanda Cerutti
	 e Allana Almeida Moraes
14	Transtorno do Jogo pela Internet.
......................................................	 309
	 Igor Lins Lemos
xx Sumário
Apresentação
Luciana Tisser
Transtornos psicopatológicos na infância e na adolescência é uma obra
que contou com esforço conjunto de pesquisadores e clínicos da área da
saúde mental. Escrito há muitas mãos, este livro pretende ser um guia te-
órico para pensar diretrizes diagnósticas das psicopatologias contemporâ-
neas. Consiste, em uma atualização teórica dos transtornos mentais mais
prevalentes na infância e na adolescência, de acordo com as diretrizes do
Manual estatístico de transtornos mentais – DSM-5.
A clínica da infância e da adolescência possui suas peculiaridades
por acompanhar pessoas em desenvolvimento, cujos desfechos depende-
rão da precisão diagnóstica e diagnósticos precoces, do bom entendimen-
to dos sintomas e evolução dos mesmos. Tais fatores são fundamentais
para um melhor prognóstico e entendimento dos casos.
	 Diante deste cenário, foi convocada uma equipe multidisciplinar
de psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e fonoaudiólogos dedicada
à infância e à adolescência. Os quatorze capítulos desta obra contem-
plam temas como entrevista na infância e na adolescência, transtornos
de neurodesenvolvimento, como os transtornos disruptivos do controle
do impulso e da conduta, transtornos de eliminação e transtornos de
22 Apresentação
comunicação, que são amplamente explanados em todas suas peculiari-
dades, evidenciando comorbidades, diagnósticos diferenciais e evoluções
dos quadros.
O livro também aborda questões por demais debatidas na adoles-
cência, mas sempre sob nova roupagem e atualização, como transtornos
alimentares e uso e abuso de substâncias psicoativas.
Como não poderíamos deixar de incluir um tema que tem ocupa-
do reflexões de diversos clínicos, pais e professores, o capítulo destinado
ao transtorno do jogo pela internet convida o leitor a se atualizar e a
prevenir tais comportamentos excessivos.
Desejo a todos uma boa leitura!
INTRODUÇÃO
A entrevista de anamnese é a coleta de informações aprofundadas
sobre o avaliando, com foco principal em aspectos históricos, desenvol-
vimentais e nos motivos que levam a criança ou adolescente ao trata-
mento, sendo essa etapa fundamental para o planejamento do trata-
mento que se inicia (Silva  Bandeira, 2016). A anamnese faz parte das
entrevistas iniciais, recomendando-se que ela seja realizada nos primei-
ros encontros com os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente.
É nesse primeiro contato que as primeiras hipóteses, levantadas no mo-
mento do encaminhamento, são confirmadas ou refutadas (Serafini, 2016).
Nesse sentido, o vínculo estabelecido nos primeiros contatos tem um
importante papel, uma vez que é fundamental estabelecer uma relação
colaborativa, empática e de confiança para que os temas de interesse
(muitas vezes bastante delicados) para o andamento da avaliação ou psi-
coterapia possam emergir (Serafini, 2016).
Etimologicamente falando, anamnese é uma palavra de origem
grega composta por aná, que significa o ato de trazer é mente, lembrar,
e pela raiz mnesis, que significa recordar, fazer lembrar (Soares et al.,
Anamnese Infantil e do Adolescente
Beatriz Lobo e Luciana Tisser
1
24 Anamnese Infantil e do Adolescente
2014). Assim, anamnese significa trazer à consciência os fatos relaciona-
dos à queixa e à história do avaliando (Silva  Bandeira, 2016). O ob-
jetivo primordial é o levantamento detalhado da história de desenvolvi-
mento de uma pessoa, principalmente na infância (Tavares, 2000). A
anamnese busca, portanto, estabelecer relações entre a história de vida
do paciente e a queixa ou motivo de busca apresentado (Tavares, 2000;
Silva  Bandeira, 2016). Enquanto técnica de entrevista, a anamnese
pode ser realizada de forma cronológica, para uma compreensão global
da vida do paciente, levando em consideração o objetivo da anamnese,
o motivo da busca de atendimento e a demanda em questão.
Ao tratar-se de crianças e adolescentes, é crucial realizar as entrevis-
tas levando-se em consideração seu contexto temporal e ambiental. Bron-
fenbrenner (1992) propõe, através de sua teoria sobre a ecologia do de-
senvolvimento humano, que uma pessoa não existe sem o seu contexto. A
pessoa, com seus fatores biológicos e genéticos, encontra-se em um con-
texto, que é caracterizado por eventos e condições que podem influenciar
ou ser influenciados pela criança, ou seja, a pessoa em desenvolvimento.
O ambiente ecológico, nesse sentido, é concebido por ele como um con-
junto de estruturas concêntricas, a exemplo das bonecas russas, que se en-
caixam umas dentro das outras. O contexto pode ser classificado através
de quatro subsistemas socialmente organizados: Microssistema, Mesossis-
tema, Exossistema e Macrossistema. O microssistema é composto pelas
relações iniciais como escola, família, amigos e é através do microssistema
que as estruturas de níveis mais distantes alcançam a criança em desenvol-
vimento. Em um segundo nível, o mesossistema compreende a interação
entre os microssistemas onde a criança em desenvolvimento se insere,
como por exemplo a interação entre a família e a escola. Essas interações
podem ser promotoras ou inibidoras do desenvolvimento de uma pessoa.
Um olhar mais atento para o mesossitema pode, por exemplo, revelar um
desempenho satisfatório em um microssistema e em outro microssistema
apresentar dificuldade, como uma criança que realiza satisfatoriamente ta-
refas escolares em casa, mas na escola apresenta dificuldades em realizar a
mesma tarefa (Benetti, 2013).
Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 25
O exossistema, por sua vez, abrange sistemas em que a criança
não está diretamente inserida, mas que a afeta mesmo indiretamente,
como o trabalho dos pais. O ambiente de trabalho interfere no compor-
tamento parental. Um exemplo é o caso de pais que têm um dia estres-
sante no ambiente de trabalho e ficam menos disponíveis a dar um cui-
dado de qualidade para seu filho. Por último, o macrossistema é com-
posto por todos os sistemas anteriores de uma forma ampla. É nele que
estão contidos os valores, crenças, sistemas sociais, políticos e econômi-
co, estilo de vida, cultura e costumes. Todos os sistemas sofrem a influ-
ência do tempo, como eventos históricos e mudanças econômicas. O
desenvolvimento humano é, nesse espectro, interativo e contextualiza-
do; é como a relação entre os pais e o bebê: a criança afeta a vida dos
pais e os sentimentos dos pais afetam a criança (Benetti, 2013).
Para realizar uma avaliação eficaz e eficiente acerca da saúde men-
tal de uma criança, é crucial considerar (1) fatores contextuais, incluindo
os ambientes de cuidado em casa e em outros ambientes, como a escola,
influências dos cuidadores no funcionamento socioemocional, mudan-
ças na estrutura familiar, estressores, fatores socioculturais; (2) o funcio­
namento em domínios desenvolvimentais, como linguagem, cognição,
funcionamento sensorial, de adaptação e saúde; (3) adequar para os ob-
Macrossistema
Valores, Costumes, Cultura
Mesossistema
Escola, creche, parentes,
amigos, igreja
Microssistema
Indivíduo e família Prefeitura
Família
Valores
sociais
Instituições
políticas e
sociais
Amigos
dos pais
Trabalho
dos pais
Governo
Federal
Igreja
Escola
Criança
MACROSSISTEMA
CROnoSSISTEMA
exOSSISTEMA
mesOSSISTEMA
MICROSSISTEMA
Eventos ambientais e as transições: guerras, ciclos econômicos,
divórcio, nascimento, entrada na escola, morte, etc.
26 Anamnese Infantil e do Adolescente
jetivos da avaliação; (4) fazer uso de instrumentos e ferramentas válidas,
fidedignas e adaptadas quanto a aspectos desenvolvimentais e culturais;
e (5) utilizar uma abordagem de interpretação que considere a criança
como um todo e em relação com fatores desenvolvimentais e contextuais,
realizando a avaliação em com atividades e settings adequados aos está-
gios desenvolvimentais (Briggs-Gowan, 2016).
Atualmente é consenso entre clínicos e pesquisadores que crianças
com menos de dois anos podem apresentar sofrimento clínico significa-
tivo nas esferas sociais, emocionais e comportamentais, bem como de-
senvolver psicopatologias. O sofrimento clínico na infância apresenta-se
entre 7 e 26%, dados que podem ser ainda maiores em crianças expos-
tas a situações de vulnerabilidade social. Há evidências de que, em algu-
mas crianças, os problemas socioemocionais e comportamentais apre-
sentados nessa fase podem ser persistentes e predizer funcionamento
empobrecido em idades posteriores, contrariando a ideia de que proble-
mas apresentados por crianças pequenas são apenas uma “fase”. Nesse
sentido, crianças pequenas podem apresentar um amplo espectro de di-
ficuldades como ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperativida-
de de comportamentos disruptivos, que podem se agravar e se tornar
persistentes nos anos posteriores (Briggs-Gowan, 2016).
As entrevistas de anamnese devem contemplar, nesse sentido, as-
pectos de vulnerabilidade e fatores de risco, bem como fatores proteção
e resiliência, que se inter-relacionam de maneira dinâmica e contínua
(Petersen, 2011).
INFORMAÇÕES A SEREM COLETADAS NA ANAMNESE
A anamnese é, geralmente, a primeira entrevista de um processo
de avaliação psicológica ou de um tratamento psicoterápico com crian-
ças e adolescente. Nesse sentido, é recomendado que a entrevista inicial
com crianças e adolescentes seja realizada com os pais ou cuidadores
responsáveis pela criança. É importante lembrar que, quando se trata
Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 27
de entrevistas iniciais, as informações são coletadas desde o primeiro
contato com o paciente, que muito frequentemente é realizado através
não apenas de ligações telefônicas, mas também de plataformas como
Whatsapp, Facebook, e-mail, entre outros. Independentemente da via
de comunicação, é no contato inicial que as primeiras hipóteses são
formuladas. A origem do encaminhamento é uma informação muito
importante a ser obtida nesse contato inicial, uma vez que a mesma
pode dizer muito a respeito do paciente que nos procura. Ainda nesse
contato primário, é importante saber a idade do paciente, investigar de
forma breve a demanda para o atendimento, observar qual dos respon-
sáveis realizou o primeiro contato, observar o tom de voz, aspectos não
verbais, instruir quem deverá comparecer à primeira consulta: via de
regra, apenas os pais ou responsáveis, sem a criança. No caso de adoles-
centes, pode ser solicitado que compareçam à primeira sessão junta-
mente com os pais ou responsáveis. Nesses casos, a anamnese poderá
ser realizada em parte com o próprio adolescente em conjunto com os
pais/responsáveis.
No início da entrevista de anamnese, é crucial estabelecer o rapport,
apresentar-se, explicar brevemente o objetivo da consulta, buscar tran-
quilizar e reduzir a ansiedade inerente aos primeiros contatos com o psi-
cólogo/terapeuta. Pode-se iniciar essa entrevista com pais ou responsá-
veis questionando o motivo de busca e como percebem as queixas rela-
tivas a seu filho ou sua filha (Serafini, 2016).
Na anamnese com crianças e adolescentes, a investigação da his-
tória pré e perinatal e a compreensão dos aspectos desenvolvimentais
infantis são centrais para a compreensão do caso (Silva  Bandeira,
2016). Uma história clínica bem-estruturada deve conter dados de
identificação da criança e dos pais, o motivo da consulta, a caracteriza-
ção das relações familiares, os eventos de vida significativos, como mor-
tes, separações, mudanças de casa, de escola, institucionalização; vivên-
cia de situações traumáticas como violência, acidentes, testemunho de
violência doméstica, maus-tratos (abuso sexual, abuso emocional, abuso
físico e negligência); atividades realizadas em família, dificuldades dos
28 Anamnese Infantil e do Adolescente
pais nas práticas educativas, dados da gestação, parto e dados desenvol-
vimentais (Petersen, 2011).
Quanto à história pré e perinatal, é de suma importância compre-
ender o contexto em que a criança foi concebida, como era a relação
dos pais, como a notícia da gestação foi recebida, a forma como a famí-
lia como um todo lidou com a chegada da criança. Os aspectos físicos e
emocionais da mãe durante a gestação, presença de tentativas de aborto,
uso de substâncias lícitas e ilícitas, medicações, situações estressoras, as-
sim como possíveis intercorrências (como quedas, acidentes e eventos
significativos) na gestação devem ser investigados.
É importante registrar como foi o parto, o índice Apgar no primei-
ro e no quinto minuto de vida da criança, assim como informações acerca
do período de amamentação e desmame, alimentação, qualidade do sono
e apego no primeiro ano de vida. O apego pode ser avaliado por questões
como o tempo que a mãe pode ficar com a criança, período de retorno ao
trabalho, quem cuidava da criança quando a mãe não estava presente,
pessoas referências para a criança, quem a criança recorria em situações de
dor ou doença (Silva  Bandeira, 2016). Sabe-se que os estilos de apego
formados nessa etapa inicial da vida são cruciais para o desenvolvimento
posterior da criança, afetando os estilos de apego e esquemas de relaciona-
mento interpessoal na vida adulta (Bowlby, 1978).
Os marcos desenvolvimentais devem ser explorados principal-
mente quanto à capacidades de linguagem, comunicação, aspectos mo-
tores, cognitivos, emocionais, comportamentais e adaptativos. Quanto
à linguagem, é preciso questionar quando a criança começou a apresen-
tar interesses por sons, quando começou a compreender as primeiras
palavras, quando começou a balbuciar, quando foram as suas primeiras
palavras, qualidade da fala e da comunicação. As capacidades motoras
podem ser avaliadas de acordo com a idade em que a criança teve aqui-
sições como sentar-se sozinha, engatinhar, ficar em pé, caminhar, correr,
escalar obstáculos, manipular objetos. A idade em que a criança iniciou
o controle esfincteriano diurno e noturno, o processo de desfralde e rea-
ções da criança nessa etapa. As habilidades cognitivas podem ser avalia-
Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 29
das por meio de questões como a capacidade da criança de aprender
coisas novas, qualidade das brincadeiras, capacidade simbólica, dificul-
dades no dia a dia, desempenho escolar (Silva  Bandeira, 2016).
É importante compreender como a criança se relaciona com outras
crianças e adolescentes, como se relaciona com irmãos, quais brincadeiras
escolhe, se costuma brigar, se prefere brincar com crianças mais novas ou
crianças mais velhas, se tem dificuldade para fazer amigos, se prefere brin-
car sozinha, quem são os amigos da criança. Atividades de lazer, esportes,
grupos que a criança frequenta ou frequentou, além de mudanças na mo-
tivação ou interesse em realizar atividades da rotina. As capacidades adap-
tativas podem ser investigadas através do nível de autonomia e dependên-
cia que a criança apresenta em realizar atividades diárias (como vestir-se
sozinho, escovar os dentes, comer, pedir ajuda). Quando a criança não
apresenta capacidades esperadas para a sua faixa etária, é preciso que o clí-
nico investigue se isso ocorre por dificuldades desenvolvimentais da pró-
pria criança ou se está mais relacionado a questões ambientais, como su-
perproteção dos pais, por exemplo. É importante ainda ficar atento a si-
nais como chupar dedos, tiques, roer unhas, enurese, encoprese, explosões
de raiva, medos excessivos, masturbação, pesadelos, terror noturno, cruel-
dade com animais, entre outros (Silva  Bandeira, 2016).
Questionar aos pais sobre um dia na rotina da criança pode trazer
informações muito úteis. Através desses dados, é possível compreender
quem são os cuidadores que mais acompanham o dia a dia da criança,
como se dá os momentos de alimentação, quais são os pontos críticos
das atividades diárias, quem a leva e busca na escola, que horários reali-
za atividades escolares, que horário e com quem dorme, se é uma crian-
ça supervisionada ou se é deixada sozinha inadequadamente. Perguntar
aos pais sobre as qualidades de seu filho resulta na compreensão sobre
como os pais veem aquela criança ou adolescente e como lidam com as
dificuldades trazidas até o momento da entrevista. Alguns pais têm difi-
culdades em relatar aspectos positivos de seus filhos, principalmente
porque estão buscando auxílio psicológico justamente para lidar com os
aspectos problemáticos e difíceis.
30 Anamnese Infantil e do Adolescente
ESPECIFICIDADES COM ADOLESCENTES
No caso de adolescentes, a entrevista de anamnese pode ser reali-
zada com o próprio jovem, com os pais, ou com ambos, em momentos
diferentes. Quando feita com os pais, a anamnese de adolescentes deve
ser complementada e discutida com o jovem (Silva  Bandeira, 2016).
Os adolescentes já apresentam habilidades e competências para falar so-
bre si mesmos, sobre as dificuldades e os problemas que os levam à bus-
ca de atendimento, mas, por outro lado, fatores como a motivação para
o atendimento, dificuldades interpessoais, uso de substâncias, e até ca-
racterísticas de personalidade irão influenciar na qualidade das informa-
ções. Ainda, comparar o que foi trazido pelos pais e o que foi trazido
pelo adolescente pode ser muito rico, pois as informações podem ser
complementares, mas em muitos momentos podem ser contraditórias.
Cabe ao clínico realizar a compreensão e o significado de possíveis con-
flitos nas informações colhidas, buscando entender o que isso reflete a
respeito do jovem que busca atendimento e de sua família.
No caso de adolescentes, o psicólogo precisa ser cuidadoso no que
tange ao acesso de informações dos pais, para que possa haver uma rela-
ção de confiança e respeito aos aspectos sigilosos, sempre lembrando
que, se o adolescente encontra-se em alguma situação de risco para si ou
para outros, isso precisa ser conversado e levado aos pais, de forma ho-
nesta e clara, sempre conversando e acordando com o jovem, para que o
vínculo de confiança se mantenha.
FONTES COMPLEMENTARES DE INFORMAÇÃO
A entrevista de anamnese requer a coleta do maior número de in-
formações possíveis, o que significa que devemos acessar outras fontes de
informação, além dos pais e da criança. Os pais podem não ter conheci-
mento de comportamentos internalizantes de seus filhos, por exemplo, fi-
cando mais atentos a problemas externalizantes e comportamentais. Sabe-
Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 31
se que as crianças tendem a relatar com maior acurácia sintomas interna-
lizantes, como sintomas depressivos, ansiosos, medos, sintomas traumáti-
cos, enquanto que os pais relatam com maior eficácia problemas externa-
lizantes e comportamentais (Stanger  Lewis, 1993, Madigan et al.,
2016). Enquanto algumas informações serão confirmadas no relato obti-
do a partir das diferentes fontes, outras poderão ser contraditórias, neces-
sitando maiores esclarecimentos (Cunha, 2005; Wechsler, Nakano, Nu-
nes,  Minervino, 2010). As fontes complementares de informação in-
cluem outros profissionais que acompanham a criança, como pediatras,
psiquiatras, neurologistas, professores, psicopedagagos, fonoaudiólogos,
assim como exames médicos, registros e boletins escolares, documentos
de avaliações posteriores, carteira de vacinação, entre outros.
Quadro 1.1. Informações a serem coletadas na entrevista de anamnese com crian-
ças e adolescentes
Motivo de busca
Circunstâncias que precedem a busca de atendimento
Tempo de duração do problema atual
Problemas apresentados (descrição, frequência, gravidade, início, curso, tratamentos prévios, tentativas
de resolução, fatores desencadeadores, mantenedores, agravantes)
Discordâncias entre os informantes
Situação e contexto atual
Condição socioeconômica da família, cuidadores
Rede de apoio social
Situação laboral e ocupacional dos cuidadores
Dinâmica familiar (genograma, principais relações, engajamento e disposição da família para o tratamen-
to, questões religiosas, legais, luto)
Estressores situacionais de cada um ou do casal (ex: questões financeiras, laborais)
Problemas individuais, conjugais (manejo e expressão dos problemas, envolvimento, culpabilização da
criança)
Histórico
Histórico psiquiátrico familiar
Aspectos gerais dos pais/cuidadores
Histórico conjugal
Histórico médico, psiquiátrico, neurológico, psicológico
Dados desenvolvimentais
Gestação, abortos uso de medicações, álcool, drogas, contexto em que a criança foi concebida e nasceu,
parto, peso, Apgar
Desenvolvimento psicomotor
continua
32 Anamnese Infantil e do Adolescente
Bowlby, J. (1978). Attachment theory and
its therapeutic implications. Adolescent psy­
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Cunha, J. A. (2000). Psicodiagnóstico-V.
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Madigan, S., Brumariu, L. E., Villani, V.,
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Representational and questionnaire measures
of attachment: A meta-analysis of relations
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cial de crianças: A dimensão bioecoló-
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Silva, M. A.  Bandeira, D. R. (2016) A
entrevista de anamnese.
Quadro 1.1. Continuação
Dados desenvolvimentais
Desmame
Controle esfincteriano
Dificuldades de visão, audição, fala
Hospitalizações
Medicações
Hábitos de sono, hora do banho
Alimentação
Relação dos cuidadores primários nos primeiros anos de vida
Eventos importantes
Separações, mudanças, trocas de escola, institucionalização
Situações traumáticas
Maus-tratos: abuso físico, emocional, testemunho de violência doméstica negligência, abuso sexual
Práticas educativas e disciplinares, regras, limites (clareza, rigidez, obediência, quais punições emprega-
das, concordância entre cuidadores)
Um dia na rotina, interesses da criança, brincadeiras
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  • 2. 772t Transtornos psicopatológicos na infância e na adolescência / organizado por Luciana Tisser. – Novo Hamburgo : Sinopsys, 2018. 318p. ; 16x23cm. ISBN 978-85-9501-044-4 1. Psicologia – Transtornos – Infância – Adolescência. I. Título. CDU 159.9-053.2/.6 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023
  • 5. © Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2018 Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adoslecência Luciana Tisser e colaboradores Capa: Guilherme Webster Editoração: Formato Artes Gráficas Assistente editorial: Jade Arbo Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto Todos os direitos reservados à Sinopsys Editora Fone: (51) 3066-3690 E-mail: atendimento@sinopsyseditora.com.br Site: www.sinopsyseditora.com.br
  • 6. Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves. Mario Quintana
  • 7.
  • 8. Dedico este livro a todas as crianças e adolescentes, e a todos meus pequenos grandes pacientes.
  • 9.
  • 10. Agradeço a todos colegas coautores deste importante livro e à Editora Sinopsys, que permitiu e oportunizou o nascimento desta obra.
  • 11.
  • 12. Autores Luciana Tisser (org.). Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia e em Gru- poterapia. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde – Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente no Curso de Psicologia da Uniritter. Docente no Curso Psico­ terapias Cogni- tivas e no Curso de Especialização em Psicoterapias Cog­ nitivas na Infância e Adolescência do InTCC/RS. Coordenadora da Es­ pecialização em Neurop- sicologia do InTCC/RS. Sócia diretora do Ins­ tituto de Neuropsicologia. Allana Almeida Moraes. Psicóloga pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Especialização em Psicoterapia Cognitivo-Comportamen- tal pela WP – Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental. Mestre em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Beatriz Lobo. Psicóloga pela PUCRS. Mestre em Psicologia – Cognição Humana pela PUCRS. Breno Irigoyen de Freitas. Psicólogo pela PUCRS. Especialista em Tera- pias Cognitivo-Comportamentais na Infância e Adolescência. Mestre em
  • 13. vi Autores Psicologia Clínica pela PUCRS. Possui formação profissional do modelo de Prevenção de Recaída Baseada em Mindfulness (MBRP Brasil). Bruna Velasco Velazquez. Graduação em Medicina pela Universidade Lu- terana do Brasil (Ulbra). Residência Médica em Psiquiatria pela Universi- dade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Residência Médica em Psiquiatria da Infância e Adolescência pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Especialização em andamento em Psicoterapia de Orientação Analítica (CELG). Cristiane Flôres Bortoncello. Psicóloga,Terapeuta certificada pela FBTC. Membro fundadora e presidente da Associação de Terapias Cognitivas do Rio Grande do Sul (ATC-RS) gestão (2016-2019). Mestre em psiquiatria (UFRGS). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (INFA- PA). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental na infância e adolescência (InTCC). Formação em Terapia de Casal (InTCC). For- mação em Terapia do Esquema (WP). Treinamento intensivo em Tera- pia Comportamental Dialética (The Linehan Institute, Behavioral Tech). Professora de Pós-graduação no IWP e no InTCC. Psicóloga dos grupos de tratamento para o TOC do Hospital de Clínicas de Porto Alegre de 2007 a 2014. Danielle Irigoyen da Costa. Psicóloga. Formação em Neuropsicologia e Neuropsicologia Infantil pelo Hospital São Lucas da Pontifícia Universida- de Católica do Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS). Mestrado e Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação (PPG) em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS/Neurociências e Pós-doutorado pela Fundação Universitária de Cardiologia/Instituto de Cardiologia do RS (FUC/IC-RS). Professora Ad- junta dos cursos de Psicologia e Medicina da PUCRS e do PPG da Fundação Universitária de Cardiologia/Instituto de Cardiologia do RS. Pesquisadora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (INSCER), colaboradora do laboratório de Hipertensão Experimental do Instituto do Coração do Hos- pital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE – PUCRS).
  • 14. Autores vii Dayane Santos Martins. Graduanda de Psicologia do 9º semestre do Cen- tro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Estagiária da Unidade de De- sintoxicação do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Bolsista de Iniciação Cien- tífica do grupo de Psiquiatria Molecular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).  Edwiges Ferreira de Mattos Silvares. Professora Titular, colaboradora Sê- nior do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicolo­ gia da Universidade de São Paulo (USP). Fernanda Cerutti. Psicóloga pela URI/FW. Especialista em Psicoterapia pelo IAFEC. Mestre e Doutoranda em Psicologia Clínica pela PUCRS. Integrante do Grupo de Pesquisa “Avaliação e Intervenção no Ciclo Vi- tal” – PUCRS. Fernanda Figueiró. Pedagoga. Orientadora educacional e psicopedagoga especialista em neuropsicopedagogia e desenvolvimento humano. Fernanda Valle Krieger. Psiquiatra da Infância e Adolescência. Mestre em Psiquiatria pela UFRGS. Doutora em Psiquiatria pela USP. Francine Guimarães Gonçalves. Psicóloga pela PUC-RS. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria na FAMED/UFRGS. Especia- lista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto da Família de Porto Alegre (INFAPA). Professora nos cursos de especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental na IWP. Professora e Supervisora no Instituto Fernando Pessoa (IFP). Atualmente é 1ª secretária da Associação de Terapias Cognitivas do Rio Grande do Sul (ATC-RS). Gledis Lisiane Motta. Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Pelotas. Mestre em Ciências Médicas: Psiquiatria pela Universidade Fe- deral do Rio Grande do Sul (2014). Atualmente é médica psiquiatra da Pre- feitura Municipal de Porto Alegre, preceptora da residência em Psiquiatria no Hospital Presidente Vargas e pesquisadora do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Psiquia- tra da Infância e Adolescência
  • 15. viii Autores Igor Lins Lemos. Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comporta- mento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Per- nambuco (UPE). Terapeuta Cognitivo certificado pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Psicólogo clínico, palestrante, pesquisador e colunista da Revista Psique CV (Ciberpsicologia). Irani Iracema de Lima Argimon. Psicóloga. Especialista em Avaliação Psi- cológica e Dependência Química. Mestre em Educação. Doutora em Psi- cologia. Docente Titular do Programa de Graduação e Pós-Gradua­ ção em Psicologia – PUCRS. Pesquisadora Produtividade do CNPq. Jéssica de Assis Silva. Psicóloga pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP. Josemar Marchezan. Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria. Residência Médica em Pediatria e Neurologia Infantil rea- lizadas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre – UFRGS. Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria – Associação Médica Brasi- leira e Especialista em Neurologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pe- diatria / Academia Brasileira de Neurologia – Associação Médica Brasileira. Possui Capacitação em Eletroencefalografia e Epilepsia realizada no HCPA. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFRGS, com ênfase em Autismo. Professor de Semiologia Pediátrica e de Pediatria do Curso de Medicina da Univates (Lajeado/RS). Doutorando em Saúde da Criança e do Adolescente – UFRGS, com ênfase em Autismo. Juliana Braga Gomes. Psicóloga e Pedagoga pela PUCRS. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo INFAPA. Mestre em Ciências Médicas: Psiquiatria pela UFRGS. Doutora em Psiquiatria e Ciências do Comportamento pela UFRGS. Kamila Castro Grokoski. Graduada em Nutrição pela Universidade Fe- deral do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre pelo Programa de Pós-Gra-
  • 16. Autores ix duação em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFRGS. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente (UFRGS). Luciana Nagalli Gropo. Psicoterapeuta cognitivo-comportamental. Mestre em Hebiatria – FOP/UPE. Terapeuta Certificada pela FBTC. Psicóloga do Centro de Tratamento de TOC – C-TOC do Hospital Universitário Osval- do Cruz da Universidade Estadual de Pernambuco. Marcelly Filipetto. Psicóloga. Pós-Graduanda em Terapia Cognitivo-Com- portamental. Primeira Tesoureira da ATC-RS. Mariana Batista Lima. Fonoaudióloga pelo IPA. Especialização em Neu- ropsicologia pela UFRGS. Mestre em Psicologia com ênfase em Cognição Humana pela PUCRS. Especializanda em Gestão Escolar na UNINTER. Marta Carvalho. Graduada em Medicina pela UFCSPA. Residente em Psi- quiatria Infantil no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, For- taleza. Natália Coimbra Ribeiro. Graduanda de Psicologia na UniRitter. Bolsista de Iniciação Científica PROBIC/FAPERGS no Grupo de pesquisa “Rela- ções Interpessoais e Violência: contextos clínicos, sociais, educativos e vir- tuais” da PUCRS. Neusa Aita Agne. Médica pela UFSM. Especialista em Psiquiatria pela UFSCPA e em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela UFSCPA. Mes- tranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (UFCSPA). Formação em andamento em Terapia Cognitivo-Comportamental na In- fância e Adolescência (InTCC). Patrícia Bombassaro. Psicóloga graduada pela Universidade Feevale em 2011. Possui aperfeiçoamento em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto WP Psicoterapia Cognitivo e  Pós-Graduada em Neuropsico- logia pela Projecto Soluções em Psicologia. Atua como psicóloga clínica e neuropsicóloga. 
  • 17. Raquel Barboza Lhullier.  Psicóloga. Terapeuta Cognitivo Comportamen- tal da Infância e Adolescência. Coordenadora local dos cursos do InTcc em Pelotas e professora convidada nos cursos de Especialização em TCC da In- fância e Adolescência (InTcc). Coordenadora do programa TRI Preventivo na cidade de Pelotas/RS. (Instituto TRI de Educação Socioemocional). Au- tora dos livros: Pausa no Cotidiano- reflexões para pais educadores e terapeutas. Coautora nos livros: E agora? Como falar que alguém da família adoeceu e O nascimento do amor. Renata Klein Zancan. Psicóloga pela UNIJUI-RS. Doutoranda em Psi- cologia Clínica no Grupo de Avaliação e Pesquisa em Terapia Cogniti- vo e Comportamental do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS. Mestre em Psicologia Clínica pela Unisinos. Pós-Graduada em Psicologia em Saúde Mental e Coletiva pelo ICPG-SC. Cofundadora da Equipe Gentilmente. Rodrigo Giacobo Serra. Psicólogo. Mestre em Psicopatologia Infanto- juvenil e em Pesquisa na área de Psicologia Clínica pela Universidade Au- tónoma de Barcelona – Espanha. Doutor em Psicologia pela Universidade Autónoma de Barcelona. Pós-doutorado em Educação na Pontifícia Uni- versidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Professor do curso de Especialização em Terapias Cognitivo-Comportamentais na Infância e Adolescência no Instituto de Terapias Cognitivo-Comportamentais (In- TCC) em Porto Alegre e em diversos estados do Brasil. Professor do curso de Psicologia na Feevale, Novo Hamburgo. Professor convidado do Mes- trado em Psicopatologia na Infância e Adolescência na Universidade Au- tónoma de Barcelona. Pesquisador na área dos Transtornos de Ansiedade na infância. Rudimar dos Santos Riesgo. Médico Neuropediatra. Doutor em Pediatria (UFRGS). Professor de Medicina da UFRGS. Chefe da Neuropediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (UFRGS). Teresa Helena Schoen. Psicóloga pela Universidade de Brasília. Pedagoga pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal. Mestre em Ciên- xvi Autores
  • 18. Autores xvii cias Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo. Doutora em Ciências Pela Universidade Federal de São Paulo. Valéria de Oliveira Thiers. Psicóloga pela Universidade de São Paulo. Mes- tre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Doutora em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Professora Ad- junta da PUCRS. Vanessa Schmitz Bulcão. Relações Públicas. Especialista em Marketing e Direção de empresas (ISTE-Portugal). Graduanda em Psicologia pela Uni- ritter e estagiária do Núcleo de Neurociências da Uniritter Vanessa Ceré Furtado. Fonoaudióloga pela Rede Metodista IPA. Espe- cialista em Atendimento Clínico ênfase em Fonoaudiologia pela UFRGS. Formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath. Especializanda em Neu- ropsicologia no InTCC. Virgínia de Oliveira Rosa. Médica Psiquiatra Adulto, Infância e Adolescên- cia. Graduada em Medicina pela UFRGS. Residência médica em Psiquiatria pela UFCSPA. Residência médica em Psiquiatra Infantil pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Pós-graduanda (Doutorado) no Programa de Pós Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento UFRGS.
  • 19.
  • 20. Sumário Apresentação........................................................................................... 13 1 Anamnese Infantil e do Adolescente.................................................. 23 Beatriz Lobo e Luciana Tisser 2 Deficiência Intelectual. ...................................................................... 35 Dayane Santos Martins, Vanessa Schmitz Bulcão e Luciana Tisser 3 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. ............................. 57 Luciana Tisser, Natália Coimbra Ribeiro e Patrícia Bombassaro 4 Transtorno do Espectro Autista ........................................................ 75 Josemar Marchezan, Kamila Castro Grokoski e Rudimar dos Santos Riesgo 5 Transtorno de Aprendizagem. ............................................................ 97 Fernanda Figueiró, Danielle Irigoyen da Costa, Valéria de Oliveira Thiers e Luciana Tisser 6 Transtornos Alimentares. ................................................................... 111 Breno Irigoyen de Freitas, Luciana Tisser e Renata Klein Zancan 7 Transtorno de Ansiedade................................................................... 127 Raquel Barboza Lhullier e Rodrigo Giacobo Serra
  • 21. 8 Transtorno Obsessivo-Compulsivo.................................................... 169 Cristiane Flôres Bortoncello, Luciana Nagalli Gropo, Francine Guimarães Gonçalves, Marcelly Filipetto e Juliana Braga Gomes 9 Depressão. ......................................................................................... 201 Neusa Aita Agne, Bruna Velasco Velazquez, Marta Carvalho, Gledis Lisiane Motta e Virgínia de Oliveira Rosa 10 Transtornos de Eliminação: enurese e encoprese................................ 225 Edwiges Ferreira de Matos Silvares, Jéssica de Assis Silva e Teresa Helena Schoen 11 Transtornos da Comunicação............................................................ 249 Mariana Batista Lima e Vanessa Furtado 12 Transtornos Disruptivos do Controle do Impulso e da Conduta....... 269 Fernanda Valle Krieger 13 Uso e Abuso de Substâncias Psicoativas............................................. 289 Irani Iracema de Lima Argimon, Fernanda Cerutti e Allana Almeida Moraes 14 Transtorno do Jogo pela Internet. ...................................................... 309 Igor Lins Lemos xx Sumário
  • 22. Apresentação Luciana Tisser Transtornos psicopatológicos na infância e na adolescência é uma obra que contou com esforço conjunto de pesquisadores e clínicos da área da saúde mental. Escrito há muitas mãos, este livro pretende ser um guia te- órico para pensar diretrizes diagnósticas das psicopatologias contemporâ- neas. Consiste, em uma atualização teórica dos transtornos mentais mais prevalentes na infância e na adolescência, de acordo com as diretrizes do Manual estatístico de transtornos mentais – DSM-5. A clínica da infância e da adolescência possui suas peculiaridades por acompanhar pessoas em desenvolvimento, cujos desfechos depende- rão da precisão diagnóstica e diagnósticos precoces, do bom entendimen- to dos sintomas e evolução dos mesmos. Tais fatores são fundamentais para um melhor prognóstico e entendimento dos casos. Diante deste cenário, foi convocada uma equipe multidisciplinar de psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e fonoaudiólogos dedicada à infância e à adolescência. Os quatorze capítulos desta obra contem- plam temas como entrevista na infância e na adolescência, transtornos de neurodesenvolvimento, como os transtornos disruptivos do controle do impulso e da conduta, transtornos de eliminação e transtornos de
  • 23. 22 Apresentação comunicação, que são amplamente explanados em todas suas peculiari- dades, evidenciando comorbidades, diagnósticos diferenciais e evoluções dos quadros. O livro também aborda questões por demais debatidas na adoles- cência, mas sempre sob nova roupagem e atualização, como transtornos alimentares e uso e abuso de substâncias psicoativas. Como não poderíamos deixar de incluir um tema que tem ocupa- do reflexões de diversos clínicos, pais e professores, o capítulo destinado ao transtorno do jogo pela internet convida o leitor a se atualizar e a prevenir tais comportamentos excessivos. Desejo a todos uma boa leitura!
  • 24. INTRODUÇÃO A entrevista de anamnese é a coleta de informações aprofundadas sobre o avaliando, com foco principal em aspectos históricos, desenvol- vimentais e nos motivos que levam a criança ou adolescente ao trata- mento, sendo essa etapa fundamental para o planejamento do trata- mento que se inicia (Silva Bandeira, 2016). A anamnese faz parte das entrevistas iniciais, recomendando-se que ela seja realizada nos primei- ros encontros com os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente. É nesse primeiro contato que as primeiras hipóteses, levantadas no mo- mento do encaminhamento, são confirmadas ou refutadas (Serafini, 2016). Nesse sentido, o vínculo estabelecido nos primeiros contatos tem um importante papel, uma vez que é fundamental estabelecer uma relação colaborativa, empática e de confiança para que os temas de interesse (muitas vezes bastante delicados) para o andamento da avaliação ou psi- coterapia possam emergir (Serafini, 2016). Etimologicamente falando, anamnese é uma palavra de origem grega composta por aná, que significa o ato de trazer é mente, lembrar, e pela raiz mnesis, que significa recordar, fazer lembrar (Soares et al., Anamnese Infantil e do Adolescente Beatriz Lobo e Luciana Tisser 1
  • 25. 24 Anamnese Infantil e do Adolescente 2014). Assim, anamnese significa trazer à consciência os fatos relaciona- dos à queixa e à história do avaliando (Silva Bandeira, 2016). O ob- jetivo primordial é o levantamento detalhado da história de desenvolvi- mento de uma pessoa, principalmente na infância (Tavares, 2000). A anamnese busca, portanto, estabelecer relações entre a história de vida do paciente e a queixa ou motivo de busca apresentado (Tavares, 2000; Silva Bandeira, 2016). Enquanto técnica de entrevista, a anamnese pode ser realizada de forma cronológica, para uma compreensão global da vida do paciente, levando em consideração o objetivo da anamnese, o motivo da busca de atendimento e a demanda em questão. Ao tratar-se de crianças e adolescentes, é crucial realizar as entrevis- tas levando-se em consideração seu contexto temporal e ambiental. Bron- fenbrenner (1992) propõe, através de sua teoria sobre a ecologia do de- senvolvimento humano, que uma pessoa não existe sem o seu contexto. A pessoa, com seus fatores biológicos e genéticos, encontra-se em um con- texto, que é caracterizado por eventos e condições que podem influenciar ou ser influenciados pela criança, ou seja, a pessoa em desenvolvimento. O ambiente ecológico, nesse sentido, é concebido por ele como um con- junto de estruturas concêntricas, a exemplo das bonecas russas, que se en- caixam umas dentro das outras. O contexto pode ser classificado através de quatro subsistemas socialmente organizados: Microssistema, Mesossis- tema, Exossistema e Macrossistema. O microssistema é composto pelas relações iniciais como escola, família, amigos e é através do microssistema que as estruturas de níveis mais distantes alcançam a criança em desenvol- vimento. Em um segundo nível, o mesossistema compreende a interação entre os microssistemas onde a criança em desenvolvimento se insere, como por exemplo a interação entre a família e a escola. Essas interações podem ser promotoras ou inibidoras do desenvolvimento de uma pessoa. Um olhar mais atento para o mesossitema pode, por exemplo, revelar um desempenho satisfatório em um microssistema e em outro microssistema apresentar dificuldade, como uma criança que realiza satisfatoriamente ta- refas escolares em casa, mas na escola apresenta dificuldades em realizar a mesma tarefa (Benetti, 2013).
  • 26. Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 25 O exossistema, por sua vez, abrange sistemas em que a criança não está diretamente inserida, mas que a afeta mesmo indiretamente, como o trabalho dos pais. O ambiente de trabalho interfere no compor- tamento parental. Um exemplo é o caso de pais que têm um dia estres- sante no ambiente de trabalho e ficam menos disponíveis a dar um cui- dado de qualidade para seu filho. Por último, o macrossistema é com- posto por todos os sistemas anteriores de uma forma ampla. É nele que estão contidos os valores, crenças, sistemas sociais, políticos e econômi- co, estilo de vida, cultura e costumes. Todos os sistemas sofrem a influ- ência do tempo, como eventos históricos e mudanças econômicas. O desenvolvimento humano é, nesse espectro, interativo e contextualiza- do; é como a relação entre os pais e o bebê: a criança afeta a vida dos pais e os sentimentos dos pais afetam a criança (Benetti, 2013). Para realizar uma avaliação eficaz e eficiente acerca da saúde men- tal de uma criança, é crucial considerar (1) fatores contextuais, incluindo os ambientes de cuidado em casa e em outros ambientes, como a escola, influências dos cuidadores no funcionamento socioemocional, mudan- ças na estrutura familiar, estressores, fatores socioculturais; (2) o funcio­ namento em domínios desenvolvimentais, como linguagem, cognição, funcionamento sensorial, de adaptação e saúde; (3) adequar para os ob- Macrossistema Valores, Costumes, Cultura Mesossistema Escola, creche, parentes, amigos, igreja Microssistema Indivíduo e família Prefeitura Família Valores sociais Instituições políticas e sociais Amigos dos pais Trabalho dos pais Governo Federal Igreja Escola Criança MACROSSISTEMA CROnoSSISTEMA exOSSISTEMA mesOSSISTEMA MICROSSISTEMA Eventos ambientais e as transições: guerras, ciclos econômicos, divórcio, nascimento, entrada na escola, morte, etc.
  • 27. 26 Anamnese Infantil e do Adolescente jetivos da avaliação; (4) fazer uso de instrumentos e ferramentas válidas, fidedignas e adaptadas quanto a aspectos desenvolvimentais e culturais; e (5) utilizar uma abordagem de interpretação que considere a criança como um todo e em relação com fatores desenvolvimentais e contextuais, realizando a avaliação em com atividades e settings adequados aos está- gios desenvolvimentais (Briggs-Gowan, 2016). Atualmente é consenso entre clínicos e pesquisadores que crianças com menos de dois anos podem apresentar sofrimento clínico significa- tivo nas esferas sociais, emocionais e comportamentais, bem como de- senvolver psicopatologias. O sofrimento clínico na infância apresenta-se entre 7 e 26%, dados que podem ser ainda maiores em crianças expos- tas a situações de vulnerabilidade social. Há evidências de que, em algu- mas crianças, os problemas socioemocionais e comportamentais apre- sentados nessa fase podem ser persistentes e predizer funcionamento empobrecido em idades posteriores, contrariando a ideia de que proble- mas apresentados por crianças pequenas são apenas uma “fase”. Nesse sentido, crianças pequenas podem apresentar um amplo espectro de di- ficuldades como ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperativida- de de comportamentos disruptivos, que podem se agravar e se tornar persistentes nos anos posteriores (Briggs-Gowan, 2016). As entrevistas de anamnese devem contemplar, nesse sentido, as- pectos de vulnerabilidade e fatores de risco, bem como fatores proteção e resiliência, que se inter-relacionam de maneira dinâmica e contínua (Petersen, 2011). INFORMAÇÕES A SEREM COLETADAS NA ANAMNESE A anamnese é, geralmente, a primeira entrevista de um processo de avaliação psicológica ou de um tratamento psicoterápico com crian- ças e adolescente. Nesse sentido, é recomendado que a entrevista inicial com crianças e adolescentes seja realizada com os pais ou cuidadores responsáveis pela criança. É importante lembrar que, quando se trata
  • 28. Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 27 de entrevistas iniciais, as informações são coletadas desde o primeiro contato com o paciente, que muito frequentemente é realizado através não apenas de ligações telefônicas, mas também de plataformas como Whatsapp, Facebook, e-mail, entre outros. Independentemente da via de comunicação, é no contato inicial que as primeiras hipóteses são formuladas. A origem do encaminhamento é uma informação muito importante a ser obtida nesse contato inicial, uma vez que a mesma pode dizer muito a respeito do paciente que nos procura. Ainda nesse contato primário, é importante saber a idade do paciente, investigar de forma breve a demanda para o atendimento, observar qual dos respon- sáveis realizou o primeiro contato, observar o tom de voz, aspectos não verbais, instruir quem deverá comparecer à primeira consulta: via de regra, apenas os pais ou responsáveis, sem a criança. No caso de adoles- centes, pode ser solicitado que compareçam à primeira sessão junta- mente com os pais ou responsáveis. Nesses casos, a anamnese poderá ser realizada em parte com o próprio adolescente em conjunto com os pais/responsáveis. No início da entrevista de anamnese, é crucial estabelecer o rapport, apresentar-se, explicar brevemente o objetivo da consulta, buscar tran- quilizar e reduzir a ansiedade inerente aos primeiros contatos com o psi- cólogo/terapeuta. Pode-se iniciar essa entrevista com pais ou responsá- veis questionando o motivo de busca e como percebem as queixas rela- tivas a seu filho ou sua filha (Serafini, 2016). Na anamnese com crianças e adolescentes, a investigação da his- tória pré e perinatal e a compreensão dos aspectos desenvolvimentais infantis são centrais para a compreensão do caso (Silva Bandeira, 2016). Uma história clínica bem-estruturada deve conter dados de identificação da criança e dos pais, o motivo da consulta, a caracteriza- ção das relações familiares, os eventos de vida significativos, como mor- tes, separações, mudanças de casa, de escola, institucionalização; vivên- cia de situações traumáticas como violência, acidentes, testemunho de violência doméstica, maus-tratos (abuso sexual, abuso emocional, abuso físico e negligência); atividades realizadas em família, dificuldades dos
  • 29. 28 Anamnese Infantil e do Adolescente pais nas práticas educativas, dados da gestação, parto e dados desenvol- vimentais (Petersen, 2011). Quanto à história pré e perinatal, é de suma importância compre- ender o contexto em que a criança foi concebida, como era a relação dos pais, como a notícia da gestação foi recebida, a forma como a famí- lia como um todo lidou com a chegada da criança. Os aspectos físicos e emocionais da mãe durante a gestação, presença de tentativas de aborto, uso de substâncias lícitas e ilícitas, medicações, situações estressoras, as- sim como possíveis intercorrências (como quedas, acidentes e eventos significativos) na gestação devem ser investigados. É importante registrar como foi o parto, o índice Apgar no primei- ro e no quinto minuto de vida da criança, assim como informações acerca do período de amamentação e desmame, alimentação, qualidade do sono e apego no primeiro ano de vida. O apego pode ser avaliado por questões como o tempo que a mãe pode ficar com a criança, período de retorno ao trabalho, quem cuidava da criança quando a mãe não estava presente, pessoas referências para a criança, quem a criança recorria em situações de dor ou doença (Silva Bandeira, 2016). Sabe-se que os estilos de apego formados nessa etapa inicial da vida são cruciais para o desenvolvimento posterior da criança, afetando os estilos de apego e esquemas de relaciona- mento interpessoal na vida adulta (Bowlby, 1978). Os marcos desenvolvimentais devem ser explorados principal- mente quanto à capacidades de linguagem, comunicação, aspectos mo- tores, cognitivos, emocionais, comportamentais e adaptativos. Quanto à linguagem, é preciso questionar quando a criança começou a apresen- tar interesses por sons, quando começou a compreender as primeiras palavras, quando começou a balbuciar, quando foram as suas primeiras palavras, qualidade da fala e da comunicação. As capacidades motoras podem ser avaliadas de acordo com a idade em que a criança teve aqui- sições como sentar-se sozinha, engatinhar, ficar em pé, caminhar, correr, escalar obstáculos, manipular objetos. A idade em que a criança iniciou o controle esfincteriano diurno e noturno, o processo de desfralde e rea- ções da criança nessa etapa. As habilidades cognitivas podem ser avalia-
  • 30. Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 29 das por meio de questões como a capacidade da criança de aprender coisas novas, qualidade das brincadeiras, capacidade simbólica, dificul- dades no dia a dia, desempenho escolar (Silva Bandeira, 2016). É importante compreender como a criança se relaciona com outras crianças e adolescentes, como se relaciona com irmãos, quais brincadeiras escolhe, se costuma brigar, se prefere brincar com crianças mais novas ou crianças mais velhas, se tem dificuldade para fazer amigos, se prefere brin- car sozinha, quem são os amigos da criança. Atividades de lazer, esportes, grupos que a criança frequenta ou frequentou, além de mudanças na mo- tivação ou interesse em realizar atividades da rotina. As capacidades adap- tativas podem ser investigadas através do nível de autonomia e dependên- cia que a criança apresenta em realizar atividades diárias (como vestir-se sozinho, escovar os dentes, comer, pedir ajuda). Quando a criança não apresenta capacidades esperadas para a sua faixa etária, é preciso que o clí- nico investigue se isso ocorre por dificuldades desenvolvimentais da pró- pria criança ou se está mais relacionado a questões ambientais, como su- perproteção dos pais, por exemplo. É importante ainda ficar atento a si- nais como chupar dedos, tiques, roer unhas, enurese, encoprese, explosões de raiva, medos excessivos, masturbação, pesadelos, terror noturno, cruel- dade com animais, entre outros (Silva Bandeira, 2016). Questionar aos pais sobre um dia na rotina da criança pode trazer informações muito úteis. Através desses dados, é possível compreender quem são os cuidadores que mais acompanham o dia a dia da criança, como se dá os momentos de alimentação, quais são os pontos críticos das atividades diárias, quem a leva e busca na escola, que horários reali- za atividades escolares, que horário e com quem dorme, se é uma crian- ça supervisionada ou se é deixada sozinha inadequadamente. Perguntar aos pais sobre as qualidades de seu filho resulta na compreensão sobre como os pais veem aquela criança ou adolescente e como lidam com as dificuldades trazidas até o momento da entrevista. Alguns pais têm difi- culdades em relatar aspectos positivos de seus filhos, principalmente porque estão buscando auxílio psicológico justamente para lidar com os aspectos problemáticos e difíceis.
  • 31. 30 Anamnese Infantil e do Adolescente ESPECIFICIDADES COM ADOLESCENTES No caso de adolescentes, a entrevista de anamnese pode ser reali- zada com o próprio jovem, com os pais, ou com ambos, em momentos diferentes. Quando feita com os pais, a anamnese de adolescentes deve ser complementada e discutida com o jovem (Silva Bandeira, 2016). Os adolescentes já apresentam habilidades e competências para falar so- bre si mesmos, sobre as dificuldades e os problemas que os levam à bus- ca de atendimento, mas, por outro lado, fatores como a motivação para o atendimento, dificuldades interpessoais, uso de substâncias, e até ca- racterísticas de personalidade irão influenciar na qualidade das informa- ções. Ainda, comparar o que foi trazido pelos pais e o que foi trazido pelo adolescente pode ser muito rico, pois as informações podem ser complementares, mas em muitos momentos podem ser contraditórias. Cabe ao clínico realizar a compreensão e o significado de possíveis con- flitos nas informações colhidas, buscando entender o que isso reflete a respeito do jovem que busca atendimento e de sua família. No caso de adolescentes, o psicólogo precisa ser cuidadoso no que tange ao acesso de informações dos pais, para que possa haver uma rela- ção de confiança e respeito aos aspectos sigilosos, sempre lembrando que, se o adolescente encontra-se em alguma situação de risco para si ou para outros, isso precisa ser conversado e levado aos pais, de forma ho- nesta e clara, sempre conversando e acordando com o jovem, para que o vínculo de confiança se mantenha. FONTES COMPLEMENTARES DE INFORMAÇÃO A entrevista de anamnese requer a coleta do maior número de in- formações possíveis, o que significa que devemos acessar outras fontes de informação, além dos pais e da criança. Os pais podem não ter conheci- mento de comportamentos internalizantes de seus filhos, por exemplo, fi- cando mais atentos a problemas externalizantes e comportamentais. Sabe-
  • 32. Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 31 se que as crianças tendem a relatar com maior acurácia sintomas interna- lizantes, como sintomas depressivos, ansiosos, medos, sintomas traumáti- cos, enquanto que os pais relatam com maior eficácia problemas externa- lizantes e comportamentais (Stanger Lewis, 1993, Madigan et al., 2016). Enquanto algumas informações serão confirmadas no relato obti- do a partir das diferentes fontes, outras poderão ser contraditórias, neces- sitando maiores esclarecimentos (Cunha, 2005; Wechsler, Nakano, Nu- nes, Minervino, 2010). As fontes complementares de informação in- cluem outros profissionais que acompanham a criança, como pediatras, psiquiatras, neurologistas, professores, psicopedagagos, fonoaudiólogos, assim como exames médicos, registros e boletins escolares, documentos de avaliações posteriores, carteira de vacinação, entre outros. Quadro 1.1. Informações a serem coletadas na entrevista de anamnese com crian- ças e adolescentes Motivo de busca Circunstâncias que precedem a busca de atendimento Tempo de duração do problema atual Problemas apresentados (descrição, frequência, gravidade, início, curso, tratamentos prévios, tentativas de resolução, fatores desencadeadores, mantenedores, agravantes) Discordâncias entre os informantes Situação e contexto atual Condição socioeconômica da família, cuidadores Rede de apoio social Situação laboral e ocupacional dos cuidadores Dinâmica familiar (genograma, principais relações, engajamento e disposição da família para o tratamen- to, questões religiosas, legais, luto) Estressores situacionais de cada um ou do casal (ex: questões financeiras, laborais) Problemas individuais, conjugais (manejo e expressão dos problemas, envolvimento, culpabilização da criança) Histórico Histórico psiquiátrico familiar Aspectos gerais dos pais/cuidadores Histórico conjugal Histórico médico, psiquiátrico, neurológico, psicológico Dados desenvolvimentais Gestação, abortos uso de medicações, álcool, drogas, contexto em que a criança foi concebida e nasceu, parto, peso, Apgar Desenvolvimento psicomotor continua
  • 33. 32 Anamnese Infantil e do Adolescente Bowlby, J. (1978). Attachment theory and its therapeutic implications. Adolescent psy­ chiatry. 6, 5-33. Briggs-Gowan, M., Godoy, L., Herberle, A., Carter, S. A. (2016). Assessment of psycopatology in young children. In D. Cicchetti (Org). Developmental psy­ chopathology, developmental neuroscience (v. 2). John Wiley Sons. Bronfenbrenner, U. (1992). Six theories of child development: Revised formulations and current issues. London: Jessica Kin- gsley Publishers. Collodel-Benetti, I., Vieira, M. L., Cre- paldi, M. A., Ribeiro-Schneider, D. (2013). Fundamentos de la teoría bioe- cológica de Urie Bronfenbrenner. Pen­ sando Psicología, 9(16), 89-99. Cunha, J. A. (2000). Psicodiagnóstico-V. Porto Alegre: Artmed. Madigan, S., Brumariu, L. E., Villani, V., Atkinson, L., Lyons-Ruth, K. (2016). Representational and questionnaire measures of attachment: A meta-analysis of relations to child internalizing and externalizing problems. Petersen, C. S. (2012). Avaliação ini- cial de crianças: A dimensão bioecoló- gica do desenvolvimento humano. In C. S. Petersen R. Wainer. Terapias cognitivo-comportamentais para crianças e adolescentes: Ciência e arte. Porto Ale- gre: Artmed. Serafini, A. J. (2016). Entrevista psicoló- gica no psicodiagnóstico. In C. S. Hutz, D. R. Bandeira, C. M. Trentini, J. S. Krug (Orgs). Psicodiagnóstico. Porto Ale- gre: Artmed. Silva, M. A. Bandeira, D. R. (2016) A entrevista de anamnese. Quadro 1.1. Continuação Dados desenvolvimentais Desmame Controle esfincteriano Dificuldades de visão, audição, fala Hospitalizações Medicações Hábitos de sono, hora do banho Alimentação Relação dos cuidadores primários nos primeiros anos de vida Eventos importantes Separações, mudanças, trocas de escola, institucionalização Situações traumáticas Maus-tratos: abuso físico, emocional, testemunho de violência doméstica negligência, abuso sexual Práticas educativas e disciplinares, regras, limites (clareza, rigidez, obediência, quais punições emprega- das, concordância entre cuidadores) Um dia na rotina, interesses da criança, brincadeiras REFERÊNCIAS
  • 34. Transtornos Psicopatológicos na Infância e na Adolescência 33 In C. S. Hutz, D. R. Bandeira, C. M. Trentini, J. S. Krug (Orgs). Psicodiag­ nóstico. Porto Alegre: Artmed. Stanger, C. Lewis, M. (1993). Agree- ment among parents, teachers, and chil- dren on internalizing and externalizing behavior problems. Journal of Clinical Child Psychology, 22(1), 107-116. Soares, M. O. M., Higa, E. D. F. R., Pas- sos, A. H. R., Ikuno, M. R. M., Bonifá- cio, L. A., Mestieri, C. D. P., Ismael, R. K. (2014). Reflexões contemporâneas sobre anamnese na visão do estudante de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, 38(3), 314-322. Tavares, M. (2002). A entrevista clínica. InJ. A. Cunha. Psicodiagnóstico – V. Por- to Alegre: Artmed. Wechsler, S. M., Nakano, T. C., Nunes, M. F. O., Minervino, C. A. S. M. (2010). Avaliação Cognitiva de crianças e jovens: aspectos multidimensionais. Avan­ ços em Avaliação Psicológica e Neuropsico­ lógica de Crianças e Adolescentes, 31-68.