O documento descreve o caso de Anna O., uma mulher de 21 anos que desenvolveu vários sintomas físicos e mentais após cuidar de seu pai que morreu de tuberculose. Seu médico, Breuer, diagnosticou como histeria e desenvolveu uma terapia hipnótica onde Anna descrevia fantasias e sentimentos ligados aos sintomas, levando ao desaparecimento destes. Breuer concluiu que recriar a memória do incidente que provocou o sintoma induzia uma catarse emocional e cura.
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Caso 1 de Anna O
1. Alunas: Ana Luiza, Ana Rúbia, Daniela, Gilciene, Letícia, Maiele, Rosângela
Caso 1 – Srtª Anna O (Breuer)
Anna O. era uma mulher de 21 anos, portadora de uma hereditariedade
neuropática moderadamente grave, visto que algumas psicoses já haviam
ocorrido entre seus parentes mais distantes. Seus pais eram normais nesse
aspecto. A própria paciente fora saudável até então, e não havia mostrado
nenhum sinal de neurose durante seu período de crescimento. Era dotada de
grande inteligência e aprendia as coisas com impressionante rapidez e intuição
aguçada. Possuía um intelecto poderoso. Ana tinha grandes dotes poéticos e
imaginativos. Um de seus traços de caráter essências eram a generosidade e
solidariedade.
Ana adoeceu enquanto cuidava de seu pai, que depois morreu vítima de
um abscesso tubercular. Sua doença começou com uma tosse intensa. Em
seguida ela desenvolveu vários outros sintomas físicos, como sérios distúrbios
da visão, da audição e da fala, impossibilidade de ingerir alimentos, paralisia de
três extremidades com contrações e anestesias, bem como lapsos de
consciência e alucinações. Breuer diagnosticou a doença de Anna O. como um
caso de histeria, e elaborou, gradualmente, uma terapia que acreditava ser
efetiva na dissolução daqueles sintomas.
Ela manifestava dois estados distintos de consciência: em um deles, era
uma mulher jovem relativamente normal; no outro, era uma pessoa problemática
e teimosa. Breuer observou que a alternância entre as duas personalidades
distintas parecia ser induzida por alguma forma de auto-hipnose, e ele foi capaz
de causar a transição de uma para outra personalidade, colocando Anna O. em
um estado hipnótico.
Breuer sabia que Anna fora muito apegada ao pai e cuidara dele junto
com a mãe enquanto ele estava em seu leito de morte. Durante seus estados de
consciência alterada, Anna podia recordar fantasias nítidas e sentimentos
poderosos que ela experimentara enquanto seu pai estava morrendo.
Breuer ficou admirado ao observar que à recordação de sua paciente de
circunstâncias carregadas de afeto, durante as quais seus sintomas haviam
aparecido levaram esses mesmos sintomas a desaparecer. A própria paciente
descreveu o tratamento como uma “limpeza de chaminé” e como sua “cura pela
fala”. Ela ficou tão entusiasmada que continuou a discutir um sintoma após o
2. outro. Por exemplo, ela lembrava estar sentada ao lado do pai enquanto a mãe
estava ausente e ter uma fantasia ou devaneio sobre uma cobra. Em sua visão,
a cobra estava prestes a picar seu pai. Ela tentou afugentar a cobra, mas seu
braço ficara dormente em decorrência de ter ficado dobrado sobre o encosto de
sua cadeira. A paralisia permaneceu até que ela fosse capaz de recordar a cena
sob hipnose e recuperar o uso do braço.
Em determinado período de sua doença, durante algumas semanas, Anna
O. recusava-se a beber água, e saciava sua sede com frutas. Certa noite,
durante um estado de hipnose autoinduzida, ela descreveu uma cena em que
ficara enojada ao ver um cachorro bebendo água de um copo. Logo depois,
pediu água e, então, acordou de sua hipnose com um copo nos lábios.
Em seu relato de caso, Breuer tratou o episódio narrado por Anna O.
durante o transe hipnótico, como o relato verdadeiro do incidente responsável
por sua aversão a beber. E disse ter concluído que a maneira de curar um
sintoma particular de “histeria” era recriando a memória do incidente que o havia
provocado originalmente, desencadeando assim uma catarse emocional e
induzindo o paciente a expressar todo sentimento associado ao fato.
O desaparecimento repentino de um dos vários sintomas de Anna O.
forneceu, assim, a base do que Breuer chamou posteriormente de “procedimento
técnico terapêutico”.