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ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO EXÉRCITO
MANUAL DE NATAÇÃO PARA OS CURSOS DE INSTRUTOR E MONITOR DE EDUCAÇÃO
FÍSICA DA EsEFEx
AUTORES:
Cap QMB FRANCISCO NILTON DE SOUZA JÚNIOR
Cap Inf NILTON GOMES ROLIM FILHO
Cap Inf OSVALDO NOGUTI FILHO
Cap Eng MARTON DANIEL GRALA
2º Sgt Art JOSEMIR SOUZA REBOUÇAS DA COSTA
2º Sgt Inf ALEXANDRE CRISTIAN DOS SANTOS NASCIMENTO
3º Sgt Inf ALFREDO DIAS DE OLIVEIRA JÚNIOR
25
ÍNDICE
Capítulo I – HISTÓRICO DA NATAÇÃO........................................................................página 2
Capítulo II – APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO............................................................página 10
Capítulo III – MECÂNICA DOS ESTILOS.....................................................................página 24
Capítulo IV – NADO CRAWL........................................................................................página 39
Capítulo V – NADO PEITO............................................................................................página 50
Capítulo VI – NADO COSTAS.......................................................................................página 61
Capítulo VII – NADO BORBOLETA..............................................................................página 72
Capítulo VIII – SAÍDAS, VIRADAS E CHEGADAS......................................................página 83
Capítulo IX - SALVAMENTO.........................................................................................página 88
Capítulo X – NATAÇÃO UTILITÁRIA...........................................................................página 92
Capítulo XI – TREINAMENTO DE NATAÇÃO..............................................................página 93
Capítulo XII – REGRAS DA FINA...............................................................................página 101
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................página 102
26
CAPÍTULO I
HISTÓRICO DA NATAÇÃO
1. DESENVOLVIMENTO DA NATAÇÃO NA SOCIEDADE HUMANA
a. A Natação nas Sociedades Primitivas e Escravistas
A ação de autopropulsão e autosustentação no meio líquido, que o homem aprendeu por instinto
ou observando os animais, e que ao longo dos séculos foi aperfeiçoando, é o exercício físico mais
completo e das mais remotas manifestações de motricidade humana.
O homem primitivo usava a natação como uma atividade útil e necessária as suas tribos que
viviam próximas a rios, lagos e mares, fazendo da caça e da pesca coletiva suas principais fontes de
subsistência. Nadar e mergulhar eram atividades vitais, praticadas constantemente, por serem usadas
na busca de alimentos, bem como na superação de obstáculos aquáticos em caso de guerras. Por outro
lado a natação tornou-se uma prática popular devido ao aspecto saudável e higiênico do banho.
Desenhos e pinturas descobertos em cavernas assírias e egípcias comprovam o quanto a
natação era difundida. Diversas formas de braçadas alternadas predominam nas representações
desses tempos. Arqueólogos descobriram em Manhenjodara, Índia, piscinas aquecidas com mais 5.000
anos. Documentos encontrados nas pirâmides egípcias referem-se ao orgulho dos nobres, há 3.000
anos, quando seus filhos aprendiam a nadar junto com os filhos dos faraós que tinham seus próprios
professores. Os egípcios perpetuaram a natação em estátuas, como a encontrada em escavações no
Cairo, representando uma nadadora.
Na Grécia, a natação e o banho eram passatempos populares praticados pela aristocracia e
homens livres. A piscina de natação era parte integrante de um ginásio, instituição educacional pública
dos gregos livres. A natação era um componente importante na educação dos filhos dos ricos, bem
como no condicionamento físico dos jovens militares. PLATÃO, grande filósofo grego, afirmava que o
homem que não sabia nadar não era educado e que a natação personificava o equilíbrio entre o corpo e
o espírito.
As competições de natação constituíam-se mais em uma exceção do que em uma regra e não
eram incluídas nos Jogos Olímpicos. Supõe-se que isto ocorria por não haver água nas vizinhanças do
sítio onde se celebravam os jogos. Já nos Jogos Ístmicos, realizados em homenagem a Poseidom,
deus dos mares, eram disputadas provas de natação.
HOMERO nas páginas de “Ilíada” e “Odisséia”, refere-se freqüentemente às grandes festas
natatórias dos gregos. As lendas de Ulisses e Leandro que atravessavam a nado o Helesponto (hoje
Estreito de Dardanelos) para encontrarem-se com a amada, bem o comprovam.
Em Roma, o passatempo preferido era o banho. Os romanos construíram inúmeras piscinas,
muitas delas de águas tépidas, as quais davam o nome de termas. Eram tão freqüentadas que
tornavam-se pontos de reuniões sociais. As termas tinham capacidade para centenas de banhistas,
seus recintos salientavam-se pelo luxo das construções, que eram verdadeiras obras de escultura e
pintura.
Para os romanos, o hábito de nadar e banhar-se também fazia parte da educação dos jovens e
da preparação física dos militares, o que pode ser provado pela existência da Escola de Natação do
Exército, às margens do Rio Tigre.
Para as tribos germânicas que habitavam a Europa no norte, centro e leste, no início da era
cristã, a natação também tinha um valor prático. Tanto os homens quanto as mulheres sabiam nadar. A
julgar pelos mitos e sagas acredita-se que existiam competições.
Na Ásia e América, nadar e mergulhar eram atividades também praticadas. No Japão, existiam
excelentes nadadores e mergulhadores que iam a consideráveis profundidades, principalmente, em
busca de pérolas. Na China, realizavam-se festas nas quais havia demonstrações públicas de natação
para a corte. Chichas, índios colombianos, usavam a natação em suas práticas religiosas.
b. A Natação na Sociedade Feudal
Os cavaleiros, burgueses e camponeses praticavam diversos tipos de exercícios físicos, dentre
eles a natação. Os camponeses a praticavam como um exercício popular, enquanto os burgueses
gostavam mais de banhos. Entre os cavaleiros, a natação era considerada como uma parte importante
do sistema de exercícios conhecido como “as sete agilidades”.
Com a crescente exploração dos camponeses e classes baixas urbanas, os tempos livres destes
ficaram cada vez menores, tornando-se quase impossível a prática de exercícios físicos. A situação se
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agravou quando os exercícios físicos, em geral, foram proibidos pelos eclesiásticos. Foi então, a idade
negra da educação física, onde prevalecia o culto da alma, e o mérito ou mesmo tolerância da cultura
do corpo eram condenados. A natação e o banho foram poderosamente combatidos porque eram
associados ao desnudo do corpo.
A imoralidade começou a inserir-se nos estabelecimentos de banho que eram abertos somente
às classes mais favorecidas da população. Assim, tais locais caíram em desgraça e foram fechados. Os
banhos e a natação deixaram de ser praticados e castigavam-se os que contrariavam a proibição.
c. A Natação na Era do Renascimento
Na renascença, no fim do século XV e início do século XVI, ressurge o interesse pela natação.
Os primeiros passos foram tímidos, limitando-se à publicação de estudos feitos por homens de
projeção.
“Colymbetes”, primeiro manual de natação, foi publicado em 1513 pelo humanista NICOLAUS
WYNMANN. Seu objetivo era renovar o ensino e a aprendizagem da natação para reduzir o perigo de
afogamentos. Continha idéias básicas sobre as técnicas e métodos de ensino da natação, em geral, e
da braçada do nado peito, em particular. Mas o livro não teve a distribuição que merecia devido às
condições sociais que prevaleciam na época, bem como ao objetivo a que se propunha o autor.
Foi na Inglaterra, durante o Iluminismo, no final do século XVI, que houve uma difusão mais
acentuada da natação como medida de treinamento para adquirir preparo físico. LOCKE, BASEDOW e
SALZMANN foram os principais incentivadores deste movimento.
Os trabalhadores das salinas de Halle, na Alemanha, contribuíram grandemente para o
desenvolvimento da natação nesse período. Quando ficavam desempregados, eles trabalhavam como
pescadores e barqueiros e, em conseqüência do seu contínuo contato com a água, desenvolveram o
gosto pela natação. Levavam seus filhos para nadar no Rio Saale assim que completavam três anos.
Esses mineiros influenciaram mais a prática da natação, por outros setores da população, do que os
teóricos humanistas.
A abertura dos primeiros banhos públicos em Paris, Europa Central e Ocidental datam deste
período e conforme foi se desenvolvendo o modo de vida capitalista, a humanidade estimulada por
pesquisadores, educadores e médicos, começou a dar mais atenção para educação física dos jovens
da classe média.
A natação, que tinha sido praticada clandestinamente durante muito tempo, foi novamente
reconhecida com um excelente método de treinamento físico e seu ensino foi novamente introduzido
nas instituições educacionais.
As atividades de GUTS MUTHS tiveram uma influência positiva no desenvolvimento da natação
no final do século XVIII. Ao analisar de forma criativa as experiências dos trabalhadores das salinas de
Halle, ele encontrou um sistema de instrução de natação. Deste modo, GUTS MUTHS passou da teoria
para a prática, ensinando e difundido a prática da natação a ponto de organizar as primeiras
competições. Estas eram parecidas com as provas de pentatlo militar de hoje, com obstáculos e
mergulhos, no sentido de salientar o aspecto utilizado. GUTS MUTHS desejava ver a natação
converter-se em componente fundamental da educação.
2. DESENVOLVIMENTO DA NATAÇÃO COMO DESPORTO
O desenvolvimento da natação como desporto está intimamente ligado ao desenvolvimento dos
meios de produção. A Inglaterra, país mais desenvolvido industrialmente no século XIX, posicionou-se
na vanguarda no que diz respeito à prática dos desportos modernos.
Em meados daquele século, foram criados em Londres clubes desportivos de remo e natação.
Data de 1855 a fundação do Clube de Natação da Universidade de Cambridge e de 1869, a Associação
de Natação Amadora da Inglaterra.
Em 1896, ressurgem os Jogos Olímpicos, por obra do BARÃO DE COUBERTIN, com a disputa
de provas de natação. Nestes jogos, realizados em Atenas, ocorreram apenas quatro provas, todas no
mar e com chegada na praia, a dos 100 e a dos 1200 metros nado livre, vencidas pelo húngaro
ALFRED HAJOS, a dos 500 metros livre, vencida pelo austríaco PAUL NEWMAN e a prova de 100
metros para marinheiros vencida pelo grego IOANNIS MALOKINIS. As provas tinham início quando os
competidores pulavam de um barco em direção à praia.
Nos jogos de Paris, em 1900, as provas foram disputadas em uma piscina flutuante de 100
metros, montada nas águas do Rio Sena, sendo todas a favor da corrente. Houve provas de 200 e 1000
metros livre, de 200 metros costas, de 200 metros com obstáculos (redes de pescar), de nado
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submerso e de 200 metros livre por equipes. Foi disputada também a prova de 4000 metros, vencida
pelo inglês JOHN ARTHUR JARVIS com o surpreendente tempo de 58’24’’.
Em 1904, foram disputadas em um pequeno lago de formas irregulares, construído em Saint
Louis, as provas de 100, 200, 400 e 1500 metros livre, 100 metros costas e uma prova de 880 jardas de
nado livre. A partida era dada em uma prancha flutuante. Em 1908, nos jogos de Londres, as provas de
natação passaram a ser disputadas em uma piscina de 100 metros de comprimento.
Com a finalidade de unificar as regras e criar um foro para reuniões internacionais, líderes das
oito nações que mais se destacavam nas competições do desporto (Alemanha, Bélgica, Dinamarca,
Finlândia, França, Grã-Bretanha, Hungria e Suécia) encontraram-se, em 19 de julho de 1908, no Hotel
Manchester, em Londres, por ocasião dos jogos olímpicos e resolveram criar a Federação Internacional
de Natação Amadora (FINA).
A prioridade das discussões era clara: padronizar as regras da natação, manter um controle
atualizado dos recordes mundiais, garantir a direção e arbitragem imparcial das competições olímpicas
e divulgar o desporto pelo mundo. Atualmente a FINA tem mais de cem organizações nacionais filiadas
e suas principais tarefas são:
- organizar e controlar as competições internacionais de natação, polo aquático, nado
sincronizado e saltos ornamentais;
- manter uma lista de recordes mundiais e continentais;
- estabelecer estatutos e regras uniformes de competição.
Em 1912, pela primeira vez, foram disputadas provas femininas, com a australiana F. DURAK
vencendo a prova dos 100 metros livre e a equipe da Grã-Bretanha alcançando o triunfo nos 4 X 100
metros livre.
A humanidade foi então adquirindo um interesse progressivo pelos desportos e muitos jovens
inclinaram-se pela natação que tornou-se muito popular pois proporcionava grande prazer com pouco
gasto.
Nos Jogos Olímpicos, atualmente, em cada bateria, competem na piscina, no máximo oito
nadadores. Nas provas de 50, 100 e 200 metros, são disputadas baterias preliminares, semifinais e final
e nas provas de 400, 800 e 1500 metros são disputadas somente as preliminares, sendo classificados
para a final os competidores com os oito melhores tempos. A natação olímpica segue um programa com
32 provas, que são as seguintes:
• 1. 100m costas masculino
• 2. 100m costas feminino
• 3. 100m peito feminino
• 4. 100m peito masculino
• 5. 100m borboleta masculino
• 6. 100m borboleta feminino
• 7. 100m livre feminino
• 8. 100m livre masculino
• 9. 1500m livre masculino
• 10. 200m costas masculino
• 11. 200m costas feminino
• 12. 200m peito feminino
• 13. 200m peito masculino
• 14. 200m borboleta masculino
• 15. 200m borboleta feminino
• 16. 200m livre feminino
• 17. 200m livre masculino
• 18. 200m medley masculino
• 19. 200m medley feminino
• 20. 400m livre feminino
• 21. 400m livre masculino
• 22. 400m medley masculino
• 23. 400m medley feminino
• 24. 4x100m livre masculino
• 25. 4x100m livre feminino
• 26. 4x100m medley masculino
• 27. 4x100m medley feminino
• 28. 4x200m livre feminino
• 29. 4x200m livre masculino
• 30. 50m livre masculino
• 31. 50m livre feminino
• 32. 800m livre feminino
3 - DESENVOLVIMENTO DOS NADOS
Existem documentos escritos e outras formas de arte que demonstram que estilos muito
parecidos com as atuais técnicas de natação eram usados na antigüidade. Na “Odisséia”, de HOMERO,
há a descrição de uma técnica muito parecida com a atual braçada de peito. Os nados crawl e costas,
também são descritos em algumas crônicas do passado.
O desenvolvimento dos nados e suas técnicas foi totalmente prejudicado durante a Idade Média,
quando prevalecia o culto à alma.
Foi durante o renascimento que ressurgiu o interesse pela natação. Supõe-se que os
movimentos descritos no livro “Colymbetes” são imitações dos realizados por uma rã na água e
semelhantes ao nado peito.
Nas escolas de natação existentes à beira de rios e lagoas, ensinava-se o que hoje é chamado
nado peito. Naturalmente, este modo era empregado nas provas. No afã de aumentarem a velocidade,
os nadadores inclinavam-se para um dos lados, realizando a braçada de peito de lado (side-stroke). A
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próxima modificação foi a retirada do braço superior em sua recuperação para diminuir a resistência da
água, formando o “over-arm-side-stroke”. Em ambos o movimento das pernas era a tesourada.
Em 1893, J. ARTHUR TRUDGEON, oficial da Marinha Inglesa, levou para toda Europa uma
nova técnica de natação utilizada por nativos da América do Sul, na qual os braços realizavam
movimentos alternados por sobre a superfície enquanto o movimento de pernas continuava sendo a
tesourada.
No início do século XX, este estilo evoluiu quando o australiano FREDERICK CAVILL, por
acaso, notou que, com as pernas amarradas nadava-se melhor que fazendo o uso da tesourada. Ao
mesmo tempo, outro australiano, ALLEC WICKHAM, copiou um movimento alternado de pernas de
nativos do Sri Lanka e, em 1906, lançou no Festival de Natação de Hamburgo, o crawl australiano, um
nado de braçada alternada coordenado com um movimento de pernas que agitavam-se fora d’água de
forma alternada.
Além do crawl australiano, há o americano, criado em 1912 por DUKE KAHANAMOKU. Neste
nado, a pernada alternada é realizada com ambos os pés submersos. Essa técnica tem sobrevivido até
hoje.
O nado de costas tem se desenvolvido desde o século XVIII. GUTS MUTHS o ensinou junto com
o nado peito durante seus mais de 30 anos de ensino da natação. Os movimentos de pernas eram
simultâneos e assemelhavam-se aos usados no nado peito. A braçada era simultânea, os braços eram
sacados pelos lados fora d’água e lançados vigorosamente por sobre os ombros. Segundo foi-se
conhecendo o nado crawl em princípios do século XX, o nado costas foi evoluindo para o crawl de
costas.
O americano HEBNER foi quem utilizou esta técnica pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos de
Estocolmo, em 1912. A partir daí, o crawl de costas foi sendo mais utilizado em competições e suas
características básicas permanecem inalteradas desde então.
O nado borboleta começou a se desenvolver na década de 30, idealizado pelo norte-americano
HENRY MEYERS, nadador de peito, que buscava novas formas de obter melhores resultados. Os
nadadores de peito da época começaram a mover os braços além dos quadris para em seguida lançá-
los por cima d’água em direção à parede, imediatamente antes de fazer a virada ou a chegada. Esta
série de movimentos recebeu o nome de borboleta que somente era nadada em distâncias curtas,
principalmente no começo e final das provas de peito.
A evolução dos métodos de treinamento capacitou os atletas a nadarem maiores distâncias
utilizando a braçada borboleta nas provas de nado peito, correndo o risco do nado peito, mais lento,
desaparecer. JACK SIEG, nadador americano, introduziu um movimento de pernas no qual os dois pés
batiam simultaneamente acima e abaixo, como um movimento de golfinho. Ao coordenarem o
movimento de golfinho com a braçada da borboleta, criou-se o nado borboleta. Em 1953, a FINA criou
provas para o nado borboleta, separando-o do nado peito.
Os esforços para aumentar a velocidade do nado peito não pararam por aí. Os japoneses
propagaram um estilo no qual submergiam por uma distância considerável durante as provas de nado
peito. Depois de submergir, o nadador empurrava os braços além dos quadris, recupera-os próximos ao
corpo e os estendia à frente. A ação das pernas permanecia inalterada, o que veio modificar a braçada
ortodoxa. A partir de maio de 1957, a FINA proibiu a imersão prolongada e introduziu regras mais
rígidas para o nado peito. A braçada além dos quadris, conhecida atualmente como “filipina”, só pode
ser realizada após a saída e a cada virada. A cabeça deve ferir a superfície a cada braçada.
A cada ano, surgem inovações nos detalhes dos estilos de natação, que contribuem para a
melhoria das marcas e evolução do desporto. Os grandes centros de treinamento da Austrália e dos
Estados Unidos contam com uma jóia da tecnologia: o sistema de análise de biomecânica. São
câmeras adaptadas a processadores, que mapeiam os trabalhos de pernas e braços dos nadadores e
ajudam a aprimorar braçadas e pernadas. Hoje, os melhores atletas de nado crawl iniciam a braçada
mergulhando a mão para frente e depois realizando a “remada”. Antes, o braço batia na superfície da
água.
4. A NATAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, a natação é uma prática anterior à própria descoberta do País. Como em todo o
mundo, as necessidades de seus habitantes primitivos, na luta pela sobrevivência, na caça e na pesca
fizeram desenvolver uma rudimentar natação, que era bastante praticada nos rios, lagoas e costa
litorânea.
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Decorreram quatro séculos até que a natação começasse a se organizar como esporte.
Somente em 1898, após a fundação dos primeiros clubes, foi promovido o primeiro Campeonato
Brasileiro de Natação, constituído de uma única prova de 1500 metros. Esta prova foi disputada com
regularidade até 1912 por iniciativa do Clube de Natação e Regatas do Rio de Janeiro e realizada no
trecho compreendido entre a Fortaleza de Villegaignon e a praia de Santa Luzia.
Em 1901, a Federação Brasileira de Sociedades de Remo, criada pelos clubes Botafogo,
Gragoatá, Flamengo e Icaraí; promoveu a sua primeira competição, agora na Enseada de Botafogo com
chegada em frente ao Pavilhão do Mourisco. O nadador ABRÃO SALITURI venceu a prova de 1500
metros nado livre. Na ocasião foram disputadas as provas de 100 metros para estreantes, 600 metros
para seniors e 200 metros para juniors.
Desde 1908, quando ABRÃO SALITURI venceu as provas de 100 e 500 metros em Montevidéu,
o Brasil ocupa lugar de relevo na natação sul-americana.
A partir de 1916, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) passou a patrocinar os
campeonatos brasileiros.
A primeira piscina de competição inaugurada no Brasil foi a do Fluminense Futebol Clube, em
1919. Quatro anos mais tarde surgiram as da Associação Atlética São Paulo e do Clube Atlético
Paulistano. Antes disso, os cariocas nadavam na Enseada de Botafogo e os paulistas no Rio Tietê.
Em 1924, é organizada a primeira travessia de São Paulo a nado no Rio Tietê, numa distância
de 7.200 m. Nessas travessias o número de participantes sempre foi muito elevado.
A primeira participação brasileira em desportos aquáticos em jogos olímpicos ocorreu em 1920,
quando ADOLFO WELLISH conquistou o 8º lugar na prova de mergulho simples (saltos ornamentais) e
a equipe de pólo-aquático conquistou a 6ª colocação. Na natação, o primeiro resultado de vulto foi o 7º
lugar na prova de 4 X 200 metros livre, nos jogos olímpicos de 1932, conquistado por MANOEL
LOURENÇO SILVA, ISAAC DOS SANTOS MORAES, MANOEL ROCHA VILAR e BENEVENUTO
MARTINS NUNES.
O nome da paulistana MARIA EMMA HULDA LENK ZIGLER, filha de alemães imigrantes, está
definitivamente colado à história da natação, sendo a primeira mulher da América do Sul a participar
dos jogos, em 1932. Ela é responsável pela introdução do nado borboleta feminino, nos jogos de 1936,
ousando adotar o estilo numa competição de peito. Foi eliminada nos 100 metros livre e de costas e não
passou da semifinal dos 200 metros peito, mas seu exemplo perpetuou-se nos jogos seguintes. A
nadadora estava em excelente forma para disputar uma medalha de ouro em 1940, em Tóquio, mas a
eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, cancelou a competição e interrompeu o seu sonho.
Nos jogos de 1936, PIEDADE COUTINHO AZEVEDO acabou a prova de 400 metros livre em 5º
lugar. Em 1948, houve uma grande participação brasileira nas finais da natação, WILLY OTTO
JORDAN foi o 6º colocado nos 200 metros peito, PIEDADE COUTINHO AZEVEDO foi a 6ª nos 400
metros livre, a equipe composta por ELEONORA SCHMITT, MARIA LEÃO DA COSTA, TALITA DE
ALENCAR RODRIGUES e PIEDADE COUTINHO AZEVEDO foi 6ª colocada nos 4 X 100 metros livre e
a equipe composta por SÉRGIO ALENCAR RODRIGUES, WILLY OTTO JORDAN, ROLF KASTENER
EGON e ARM BOGOSSIAN foi 8º colocada nos 4 X 200 metros livre.
O primeiro nadador medalhista olímpico do Brasil foi TETSUO OKAMOTO, conquistando o
bronze nos jogos de 1952, em Helsinque, na prova dos 1500 m, êxito repetido por MANUEL DOS
SANTOS, nos Jogos de 1960, em Roma, ao ganhar também a medalha de bronze nos 100 metros livre.
MANOEL DOS SANTOS projetaria ainda mais o Brasil, estabelecendo o recorde mundial dos 100
metros livre em 1961, com o tempo de 53,6 segundos, marca que perduraria por três anos.
Em 1958, a natação de águas abertas desponta com ABÍLIO COUTO. Após algumas tentativas
frustradas no ano anterior, ABÍLIO voltava à Inglaterra para ser o primeiro brasileiro a atravessar a nado
o Canal da Mancha, tornando-se um dos primeiros mitos da natação brasileira. A fama de ABÍLIO
COUTO viria a crescer ainda mais no ano seguinte, quando nadou de Dover, na Inglaterra, a Wissant,
na França, realizando sua segunda travessia na prova mais importante da modalidade. E não foi só
isso, ABÍLIO fez o tempo de 12h49’ tornando-se então o recordista mundial da travessia do Canal da
Mancha, no sentido Inglaterra-França. Após 14 dias de bater o recorde mundial, ele retornou para o
Canal para realizar sua última travessia, e a fez. Mas vale lembrar que essa travessia era a prova do
Campeonato Mundial de Natação em Águas Abertas, e ABÍLIO, ainda amador, não só entrou na
competição como também venceu todos os profissionais, tornando-se, no mesmo ano, recordista
mundial e campeão mundial do Canal da Mancha. Em 1979, a nadadora brasileira KAY FRANCIS,
então com 16 anos, tornou-se a primeira nadadora sul americana a conseguir tal façanha.
Nos jogos de 1968, JOSÉ SYLVIO FIOLO foi o 4º colocado nos 100 metros peito. Em 1972,
FIOLO foi o 6º colocado na mesma prova e 5º colocado na prova de 4 X 100 metros medley, juntamente
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com RÔMULO DUNCAN ARANTES, SÉRGIO WAISMANN e JOSÉ ROBERTO DINIZ ARANHA. Nos
mesmos Jogos, a equipe brasileira de 4 X 100 metros livre composta por RUY AQUINO OLIVEIRA,
PAULO ZANETTI, PAULO BERCSKEHAZY e JOSÉ ROBERTO DINIZ ARANHA conquistou o 4º lugar.
DJAN MADRUGA GARRIDO foi um atleta fora dos padrões sul-americanos. Participou dos jogos
de 1976, obtendo o 4º lugar nas provas de 400 e 1500 metros livre e, nos jogos de 1980 obteve a
consagração plena nas piscinas, conquistando o 4º lugar nos 400 metros livre, o 5º lugar nos 400
metros medley e a medalha de bronze no revezamento 4x200m junto com CIRO MARQUES
DELGADO, MARCUS LABORNE MATTIOLI e JORGE LUIZ FERNANDES. Em 1980, foi relevante
também o 8º lugar na prova de 4 X 100 metros medley conquistado por RÔMULO DUNCAN ARANTES,
SÉRGIO PINTO RIBEIRO, CLÁUDIO MAMEDE KASTENER e JORGE LUIZ FERNANDES.
RICARDO PRADO teve sua primeira participação em Moscou e, em 1982, estabeleceu o
recorde mundial na prova dos 400 metros medley, em Guaiaquil, Equador. Em Los Angeles, chegou
como um dos favoritos da sua especialidade, mas acabou ganhando a medalha de prata, com o
canadense ALEX BAUMANN batendo o recorde mundial da prova. Teve também um excelente
resultado na prova de 200 metros costas, na qual foi 4º lugar. Los Angeles foi sua última participação
em jogos olímpicos, pois abandonou as competições muito precocemente.
Em Seul, tem sua primeira participação olímpica ROGÉRIO ROMERO que, em seus cinco jogos
olímpicos disputados teve como melhores resultados o 8º lugar em 1988 e o 7º lugar em 2000 na prova
dos 200 metros costas. Em 1992, GUSTAVO BORGES, o maior nadador olímpico brasileiro de todos os
tempos, ganhou a medalha de prata na prova de 100 metros livre, foi 6º lugar nos 4 X 100 metros livre
juntamente com JOSÉ CARLOS SOUZA JÚNIOR, EMMANUEL NASCIMENTO e CRISTIANO
MICHELENA e foi 7º lugar nos 4 X 200 metros com EMMANUEL NASCIMENTO, CRISTIANO
MICHELENA e TEÓFILO FERREIRA.
Em 1996, nos jogos de Atlanta, O Brasil teve a sua melhor participação na história olímpica da
natação, com GUSTAVO BORGES alcançando a prata nos 200 metros livre e o bronze nos 100 metros
livre e FERNANDO SCHERER ganhando o bronze nos 50 metros livre. Além destes resultados, são
importantes o 5º lugar de FERNANDO SCHERER nos 100 metros livre e o 4º lugar da equipe composta
por FERNANDO SCHERER, GUSTAVO BORGES, ALEXANDRE MASSURA e ANDRÉ CORDEIRO
nos 4 X 100 metros livre.
Em 2000, o Brasil conquistou a medalha de bronze na prova dos 4 X 100 metros livre com o
tempo de 3’17”40, sendo a equipe composta por FERNANDO SCHERER, GUSTAVO BORGES,
CARLOS JAYME e EDVALDO VALÉRIO SILVA FILHO. Uma grande promessa, THIAGO PEREIRA,
que figurava como o 3º e 10º colocado no ranking da FINA para as provas de 200 e 400 metros medley
respectivamente, não subiu ao pódium. Nesta ocasião, GUSTAVO BORGES, tornou-se o único
brasileiro a conquistar quatro medalhas olímpicas.
Nos Jogos Olímpicos de 2004, Atenas – Grécia, a equipe brasileira não conquistou nenhuma
medalha, terminando na 21ª colocação. Thiago Pereira, após conquistar o título mundial nos 200 metros
medley, em piscina curta, foi a Atenas com grande expectativa de medalha, contudo, foi apenas finalista
nesta prova, obtendo o 5º lugar. Cabe merecido destaque à equipe feminina, que através de uma
renovação fez surgir nomes como Joana Maranhão e Flávia Delaroli, que chegaram, respectivamente,
às finais dos 400 metros medley e 50 metros livres. A equipe feminina também conseguiu participar da
final do revezamento 4 x 100 metros livre.
A partir de 2004, com o declínio e fim das carreiras de Gustavo Borges, Fernando Scherer e
Rogério Romero, a natação brasileira passou a depositar sua confiança em uma nova geração.
Em 2007, nos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007, foi superada a melhor campanha brasileira
em Jogos Pan-Americanos, que havia ocorrido em Santo Domingo – 2003 (21 medalhas, sendo 03 de
ouro, 06 de prata e 12 de bronze). Neste Pan, realizado na cidade do Rio de Janeiro, o Brasil
conquistou 27 medalhas (12 de ouro, seis de prata e nove de bronze). O nadador Thiago Pereira, a
grande estrela dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, conquistou seis medalhas de ouro, sendo o
recorde de medalhas de um atleta brasileiro em um único Pan.
Segundo a avaliação do Presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos,
Coaracy Nunes, o grande legado foi a evolução técnica alcançada pela nova geração, onde foram
batidos todos os recordes Pan-Americanos e Sul-Americanos, trazendo desta forma maiores
esperanças olímpicas para 2008.
A natação em Pequim-2008 foi palco para o mundo assistir ao fenômeno Michael Phelps, que se
tornou o maior atleta olímpico de todos os tempos ao ganhar oito medalhas de ouro em uma única
Olimpíada. Porém para o Brasil, uma medalha já foi suficiente para fazer história. Na memória dos
brasileiros, antes de Phelps, os Jogos Olímpicos na China vão fazer lembrar de César Cielo. Com uma
32
vitória nos 50 m livre, ao nadar em 21s30, apenas dois centésimos acima do recorde mundial, ele se
tornou o primeiro medalhista de ouro do Brasil nas piscinas. Cielo ainda trouxe na bagagem uma
medalha de bronze nos 100 m livre.
No ano de 2003, em São Paulo, Cielo passou a treinar com o ídolo que, anos mais tarde,
superaria: Gustavo Borges. "O Gustavo é muito atencioso e perfeccionista, ajudou a melhorar minha
técnica." Foi o veterano que levou o jovem nadador para Auburn, a universidade em que Cielo se
consagrou como um dos maiores velocistas do circuito universitário norte-americano.
De Auburn veio outra peça chave na conquista inédita da natação do Brasil em Pequim-2008: o
australiano Brett Hawke. Técnico na universidade, ele se integrou à comissão técnica da equipe
brasileira a pedido de Cielo, para manter o programa de treinos que o brasileiro fazia nos EUA. Ex-
nadador olímpico, Hawke foi sexto em Atenas-2004.
O país ainda teve mais uma marca histórica na natação para guardar nesta edição dos Jogos
Olímpicos. Ana Marcela, que terminou em quinto lugar na classificação da maratona aquática, igualou a
melhor posição de uma brasileira em todas as Olimpíadas já disputadas (Joanna Maranhão foi quinta
nos 400 m medley em Atenas-2004). Thiago Pereira, que era esperança depois das medalhas nos
Jogos Pan-Americanos, teve como melhor resultado o quarto lugar na final dos 200 m medley.
No Campeonato Mundial de Roma 2009, levou o revezamento 4x100m livres do Brasil ao 4º
lugar, junto com Nicolas Oliveira, Guilherme Roth e Fernando Silva. Nesta prova, César Cielo abriu com
o tempo de 47s09, ficando a 0,04s do recorde mundial de Eamon Sullivan, obtendo o 2º melhor tempo
da história dos 100m. livres. Na final dos 100 metros livres, Cielo conquistou o ouro vencendo o
campeão olímpico Alain Bernard e batendo o recorde mundial da prova com 46s91, entrando no seleto
panteão dos nadadores que obtiveram em suas carreiras ouro olímpico, ouro no mundial e recordes
mundiais. Na final dos 50 metros livres, Cielo venceu o recordista mundial Frederick Bousquet e
conquistou o ouro com 21s08, batendo o recorde da competição e o sul-americano. O brasileiro entrou
para a história da natação, sendo o terceiro atleta a conquistar o ouro nos 50 m livre nos Jogos
Olímpicos e no Mundial de forma consecutiva. Somente o russo Alexander Popov e o americano
Anthony Ervin haviam conseguido esta marca. E, finalizando, nos 4x100 metros medley, numa disputa
onde os 4 primeiros da prova bateram o recorde mundial dos EUA de Pequim 2008, levou o Brasil ao 4º
lugar, junto com Guilherme Guido, Henrique Barbosa e Gabriel Mangabeira, muito próximo das
medalhas de bronze e prata da prova. Suas duas medalhas de ouro no mundial levaram o Brasil ao
melhor desempenho na história dos campeonatos mundiais de esportes aquáticos.
Cielo tornou-se o sexto brasileiro a conquistar um recorde mundial em piscina longa na natação,
após Maria Lenk, Manuel dos Santos, José Sylvio Fiolo, Ricardo Prado e Felipe França.
Em dezembro de 2009, ao participar do Open em São Paulo (última prova oficial com uso dos
supermaiôs tecnológicos no Brasil), Cielo bateu o recorde mundial dos 50 metros livres na final, com o
tempo de 20s91.
No Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta de 2010, Cielo, junto com Nicholas
Santos, Marcelo Chierighini e Nicolas Oliveira, ganhou o bronze na prova dos 4x100 metros livres com o
tempo de 3m05s74, recorde sul-americano, deixando pra trás a equipe dos EUA. Na prova dos 50
metros livres, Cielo ganhou o ouro com o tempo de 20s51, recorde do continente americano e do
campeonato, ficando a apenas 0,21s do recorde mundial de Roland Schoeman (Schoeman bateu o
recorde mundial com um supertraje tecnológico, em 2009, quando ele ainda era permitido, ao passo
que Cielo fez esta marca sem uso de supertraje). Nos 100 metros livres, Cielo também obteve o ouro
com o tempo de 45s74, recorde Sul-Americano e do campeonato. Com isso, Cielo, aos 23 anos de
idade, conseguiu unificar os títulos mundiais das duas provas em piscina longa e curta, e se tornou o
primeiro brasileiro a obter medalha de ouro nas 5 competições mais fortes da natação das quais um
brasileiro pode participar (Olimpíadas, Mundiais de piscina longa e curta, Pan-Pacífico e Pan-
Americano). Para completar sua participação no Mundial, Cielo liderou a equipe do 4x100 metros
medley à conquista do bronze. Juntamente com Guilherme Guido, Felipe França e Kaio Márcio de
Almeida, bateram o recorde sul-americano com o tempo de 3m23s12.
No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2011, realizado em Xangai, China, Cielo
ganhou o ouro na prova dos 50 metros borboleta com o tempo de 23s10. Na prova dos 100 metros
livres, Cielo fez 48s01, melhor tempo de sua vida sem o uso de supertrajes tecnológicos, mas acabou
na 4ª posição, a 1 centésimo do bronze e a 6 centésimos da prata. O vencedor da prova foi James
Magnussen, que havia surpreendido ao fazer 47s49 na abertura dos 4x100m livres alguns dias antes.
No dia 30 de julho, Cielo se tornou bicampeão mundial dos 50 metros livres ao vencer a final com o
tempo de 21s52.
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5 – TECNOLOGIA NA NATAÇÃO
“Eu devo admitir que eu tremi de medo ao pensar no que aconteceria se eu tivesse câimbras na
água gelada, então minha vontade de viver superou totalmente o meu desejo de vencer”. Esta foi a
reação de ALFRED HAJOS quando chegou na praia após vencer a prova de 1200 metros de natação
nos jogos de Atenas em 1896. A prova foi disputada na Baía de Zea, os nove nadadores foram
transportados de barco e largaram sozinhos em direção à costa com a água a uma temperatura de 13º
Celsius.
A natação olímpica percorreu um longo e tortuoso caminho até chegar às piscinas de 50 metros
com temperatura controlada, raias antiondas, vestuário de última geração e cronometragem eletrônica,
atingindo o status de um dos eventos de maior glamour e que atrai mais atenção do público mundial.
Nos Jogos Olímpicos de Sydney, conhecidos como os jogos da tecnologia, fabricantes de maiôs
buscaram inspiração no fundo do mar para tornar os nadadores mais velozes. O tubarão, maior inimigo
dos surfistas, tornou-se o maior aliado dos nadadores olímpicos, já que a textura de sua pele passou a
ser copiada por fabricantes de roupas esportivas que acreditaram ter encontrado o modelo ideal de
vestuário. Aderentes e com pequenos orifícios para facilitar a passagem da água pelo corpo, os trajes
teoricamente podiam melhorar em até 3% o rendimento do atleta, isto é, quase um segundo e meio
numa prova de 100 metros livre. Um exagero, mas o equipamento tinha potencial para decidir paradas
importantes de centésimos de segundo.
Na piscina de Sydney, projetada para facilitar o desempenho, brilharam estrelas que aceleraram
a entrada do desporto no novo século. Tais jogos ficarão na História como os jogos da natação, sendo
estabelecidos 13 recordes mundiais e 24 olímpicos, volume de proezas só inferior ao registrado em
Montreal, com espantosos 21 recordes mundiais e 31 olímpicos, mas num período em que o doping
grassava, sobretudo entre as mulheres dos países de regime comunista.
Considerada a mais fantástica de todos os tempos, na piscina de Sydney, grandes atletas
encontraram as condições ideais para melhoria de suas marcas. A água transbordava em canaletas
laterais e voltava pelo fundo, evitando marolas. A água, sem cloro, purificada por ozônio, era mantida
entre 26 e 27º Celsius, o recomendado pela Federação Internacional de Natação. A profundidade (2,20
metros) também era a ideal e as raias, de plástico especial, foram desenhadas para amortecer ainda
mais as ondas. Mergulhadores faziam a manutenção de frestas e azulejos.
Em 2004, o Centro Aquático estava localizado no Complexo Olímpico Esportivo de Atenas, onde
foram realizadas as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas 2004. O local recebeu
competições de Natação, Pólo-Aquático, Nado Sincronizado e Saltos Ornamentais, em três piscinas,
duas ao ar livre com arquibancada para 11 mil e seis mil pessoas. A interna para cinco mil
espectadores. As provas de Natação e as partidas de Pólo-Aquático realizaram-se nas piscinas
externas e as de Nado Sincronizado, Pólo- Aquático e Saltos Ornamentais, na interna.
A tecnologia está intimamente ligada à melhoria das marcas e resultados obtidos pelos atletas
profissionais. Entre as inúmeras inovações colocadas em prática nos últimos anos, uma das mais
importantes foi o surgimento de novos maiôs para a natação.
Imagine que em 1900 os maiôs utilizados pelos nadadores pesavam cinco quilos. Foi a Speedo
que fabricou os primeiros maiôs de seda, mudando completamente o conceito da natação. Na década
de 50, a empresa volta a inovar e fabrica o primeiro maiô de nylon lycra.
A nova guinada para a natação de competição aconteceu nas Olimpíadas de Barcelona (1992),
quando a Speedo mudou o conceito dos maiôs, acabando com o conceito de que quanto menos roupa,
melhores resultados seriam alcançados.
O modelo revolucionário chamava-se S 2000 e caracterizava-se por ser feito de microfibra e
elastano, cobrindo mais o corpo. Passados quatro anos, nas Olimpíadas de Atlanta (1996) é lançado o
maiô Aquablade. O modelo representava uma novidade, apresentando menor resistência na água, se
comparado à pele humana.
Após quatro anos de trabalho, que contou com o apoio do Museu de Ciências Naturais de
Londres, equipes formadas por técnicos especializados em várias áreas e um grupo de elite de
nadadores, todos campeões olímpicos e mundiais, desenvolveram um novo maiô para competição.
A missão principal era fabricar um produto mais rápido e melhor. O foco foi tomado a partir da
observação da natureza. Os estudos direcionaram-se para o tubarão, que é a criatura mais rápida na
34
água. Chegou à piscina o Fast Skin. O conceito do novo maiô foi totalmente aprovado pela Federação
Internacional de Natação (FINA), em novembro de 1999.
Imediatamente os resultados começaram a surgir. Nas Olimpíadas de Sydney (2000), 13 dos 5
recordes mundiais foram quebrados por nadadores que utilizavam o Fast Skin, além de 83% do total de
medalhas das provas terem sido conquistados por quem usava este maiô.
O sucesso foi repetido novamente no Campeonato Mundial de Natação de 2001, em Furuoka -
Japão - quando 87% das medalhas foram conquistadas pelos nadadores que usavam o Fast Skin.
Apesar de todo o sucesso do Fast Skin, a Speedo desenvolveu um produto sucessor, que foi
lançado próximo da Olimpíada de 2004, em Atenas. Foi o ultratecnológico LZR Racer, da Speedo. A
roupa foi desenvolvida com ajuda da Nasa, a agência espacial americana. O resultado foi um maiô
muito leve e sem costuras, apenas com um zíper nas costas. O maiô agia como um teflon, repelindo
água e reduzindo as vibrações musculares, mantendo a forma hidrodinâmica. Além disso, painéis de
poliuretano foram colocados em lugares estratégicos para diminuir o atrito entre a água e o corpo.
Entre os destaques dos maiôs tecnológicos, está o X-Glide, da marca alemã Arena. Cesar Cielo
utilizou no Mundial de Natação de Roma (2009). Foi desenvolvida em tecido compósito formado por três
camadas: a interna, permite liberdade de movimentos e compressão dos músculo, garantindo alta
performance. A camada intermediária, de liga metálica de titanium, garantindo estabilidade da
temperatura do corpo do atleta, e a membrana exterior totalmente impermeável, reduzindo o atrito da
água com o tecido
As roupas tecnológicas foram usadas em larga escala nos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008.
Em 2010, a Federação Internacional de Natação (FINA) tomou uma decisão muito importante
para a modalidade: os maiôs tecnológicos foram banidos das piscinas. A FINA colocou como regra o
uso de materiais têxteis, tendo forma, flutuabilidade e grossuras determinados: quanto ao tamanho,
para os homens, não podem passar da cintura, e nem dos joelhos, ou seja, de maiô passou para
bermuda. O nível de flutuação também mudou para no máximo 0,5 Newton, e a espessura, de 1mm
para no máximo 0,8mm. Zíperes e mecanismo de fechamento também foram vetados. A partir da
decisão, só o tradicional maiô para mulheres, com tecidos “normais” sem acabamentos impermeáveis,
foram permitidos.
6 – GRANDES ATLETAS
Grandes atletas contribuíram de maneira significativa para o desenvolvimento e evolução da
natação. De nada valeriam os progressos tecnológicos se não surgissem o que, comumente, se chama
de heróis olímpicos. Entre tantos, alguns podem ser destacados, como HAJOS, WEISSMULLER,
SCHOLLANDER, SHANE GOULD, SPITZ, SALNIKOV, GROSS, JANET EVANS, BIONDI, POPOV,
THORPE, HOOGENBAND e MICHAEL PHELPS.
ALFRED HAJOS tinha 13 anos quando se sentiu motivado a se tornar um bom nadador, depois
que seu pai se afogou no Rio Danúbio. HAJOS venceu as provas de 100 e 1200 metros livres, no
mesmo dia, nos jogos de 1896, sagrando-se o primeiro campeão da natação olímpica.
JOHNNY WEISSMULLER, norte-americano reconhecido, ainda hoje, como o melhor Tarzan do
cinema, escreveu seu nome na história esportiva como o primeiro homem a nadar os 100 metros em
menos de um minuto. Participou dos jogos de 1924 e 1928 e abandonou as piscinas com quatro
medalhas de ouro olímpicas. Em 12 anos nas piscinas, estabeleceu 67 recordes mundiais e é
considerado, o melhor nadador da primeira metade do século.
DONALD DON SCHOLLANDER foi um dos grandes nadadores do nado livre da história. Aos 18
anos, nos jogos de 1964, foi o primeiro nadador da história olímpica a conquistar quatro medalhas de
ouro nos mesmos jogos. SCHOLLANDER foi o primeiro homem da história a nadar os 200 metros
abaixo dos 2 minutos.
SHANE GOULD, da Austrália, foi um fenomenal talento da natação, vencendo, com apenas 15
anos, em 1972, as provas de 200 e 400 metros livre e 200 metros medley, além de ganhar a prata nos
800 metros livre e o bronze nos 100 metros livre. Retirou-se precocemente em 1973, com apenas 16
anos, tornando-se uma das maiores lendas olímpicas.
MARK ANDREW SPITZ disputou os jogos de 1968 e 1972. Os jogos de 1972 foram os jogos de
Spitz, que ganhou sete medalhas de ouro (atleta com maior número de medalhas de ouro numa mesma
edição) e bateu recorde em todas as provas que disputou. Venceu os 100 e 200 metros borboleta, 100,
200, 4 X 100 e 4 X 200 metros livre e 4 X 100 metros medley.
VLADIMIR SALNIKOV, nadador russo de provas longas, participou dos jogos de Montreal
(1976), ganhou três medalhas de ouro em Moscou (1980), nas provas de 400, 1500 e 4 X 200 metros
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livre, baixando pela primeira vez na história a barreira dos 15 minutos nos 1500 metros (14’58’’27). Não
pôde participar de Los Angeles por causa do boicote e, em Seul, chegou completamente desacreditado,
com 28 anos, e um péssimo retrospecto. Chegou à final dos 1500 metros livre e, na final, na marca dos
625 metros, assumiu a liderança para não perder mais. Foi o mais velho campeão olímpico dos últimos
56 anos.
Medindo 2,01 m de altura e 2,11 m de envergadura, MICHAEL GROSS ficou conhecido como o
albatroz. Representou a Alemanha Ocidental em 1984 e 1988. Em Los Angeles ganhou o ouro nos 200
metros livre e 100 metros borboleta (em ambas, bateu recorde mundial) e prata nos 200 metros
borboleta e 4 X 200 metros livre. Em 1988, venceu a prova de 200 metros borboleta e ganhou o bronze
nos 4 X 200 metros livre.
JANET EVANS é maior nadadora de longa distância de todos os tempos. Sua primeira
participação olímpica foi em 1988, onde venceu os 400 e 800 metros livre e 400 metros medley. Em
1992, defendeu o título dos 800 metros livre com sucesso e chegou em segundo lugar nos 400 metros
livre. Em Atlanta, teve participação discreta, mas suas marcas mundiais nas provas de 400 e 800
metros livre perduraram de 1988 a 1999.
MATTHEW NICHOLAS BIONDI é considerado o melhor nadador de crawl de todos os tempos.
Nos jogos de 1984, ganhou o ouro nos 4 X 100 metros livre como terceiro membro da equipe recordista
mundial. Em Seul, ganhou sete medalhas, cinco de ouro (50, 100, 4 X 100 e 4 X 200 metros livre e 4 X
100 metros medley), uma de prata (100 metros borboleta) e uma de bronze (200 metros livre). Em 1992
ganhou o ouro nos 4 X 100 metros livre e a prata nos 50 metros livre.
O russo ALEXANDER POPOV dominou as provas curtas dos anos noventa. Em 1992, venceu
as competições de 50 e 100 metros livre e, em 1996, venceu as mesmas provas. Sua última
participação foi em Sydney, onde conquistou a prata nos 100 metros livre.
Em 2000, IAN THORPE, adolescente de 17 anos, ganhou medalha de ouro nos 400 metros livre
e nas provas de revezamento 4 x 100 e 4 x 200 metros livre, mas foi surpreendido na prova de 200
metros livre. Na raia ao seu lado, um nadador holandês, PIETER VAN DEN HOOGENBAND, tranqüilo e
suficientemente veloz para vencer o invencível THORPE e estabelecer nova marca mundial para a
prova (1’45’’35). O holandês derrotou também POPOV nos 100 metros livre e baixou, pela primeira vez
na história a marca dos 48 segundos da prova, nas semifinais (47’’84), roubando completamente o
show dos jogos. Nas provas femininas o grande destaque foi a holandesa Inge de Bruinj que conquistou
medalhas de ouro e três recordes mundiais nas provas de 100 metros borboleta, 50 e 100 metros crawl.
O nadador Eric Moussambani, da Guine Equatoriana, na África, emocionava Sydney e tornou-se
um símbolo dos Jogos Olímpicos. O atleta de 22 anos, participou da 1ª eliminatória, além de
Moussambani estavam o nigeriano Karim Bare e Farkwood Oripov, do Tadjiquistão. Os dois queimaram
a largada e foram desclassificados. Sozinho na piscina, Moussambani, demonstrou a habilidade de
quem aprendeu a nadar em janeiro de 2000, sendo sua primeira vez em uma piscina de 50 metros. A
cada braçada os espectadores não paravam de aplaudir. Quando saiu da piscina exausto ao completar
a prova com o tempo de 1’52”72, foi tratado pelo público como um verdadeiro campeão.
Em 2004, MICHAEL FRED PHELPS II, estabeleceu o recorde de conquistar 08 medalhas
olímpicas, sendo seis de ouro. As provas disputas foram os 200 metros livre, 100 metros borboleta, 200
metros borboleta, 200 metros medley, 400 metros medley, revezamento 4 x 100 metros livre, 4 x 200
metros livre e o 4 x 100 metros medley. Nas prova de 4 x 100 metros livre e na prova de 200 metros
livre conquistou o bronze. Em 16 de agosto de 2004, foi realizada a prova do século os 200 metros livre,
onde o australiano IAN THORPE, o holandês PIETER VAN DEN HOOGENBAND e o fenômeno
MICHAEL PHELPS conquistaram o ouro, prata e bronze respectivamente.
Quando as provas de natação das Olimpíadas de Pequim terminaram, os Estados Unidos
somavam apenas 16 ouros no quadro de medalhas. Destes, 12 vinham da modalidade, sendo oito, de
Michael Phelps. O desempenho dos EUA na piscina do Cubo D'Água foi impressionante. Das 32
medalhas de ouro em disputa, os nadadores da terra do Tio Sam conquistaram 37% delas, sem contar
as nove de prata e dez de bronze, somando 31 pódios no total. Em segundo lugar veio a Austrália, com
apenas seis ouros e 20 medalhas no total. "É um orgulho fazer parte dessa equipe. Esse é o time mais
unido com o qual já nadei", declarou Phelps, após conquistar sua oitava medalha de ouro nos Jogos e
quebrar a marca de Mark Spitz, dono de sete títulos olímpicos em Munique-1972.
Antes, o fenômemo já tinha quebrado a marca de mais ouros em mais de uma edição dos Jogos
- ele fechou sua campanha na China com 14 no total. Além disso, se tornou o nadador com mais
recordes mundiais da história, com 25 marcas individuais quebradas.
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A norte-americana Dara Torres, por exemplo, conquistou três medalhas aos 41 anos, 24 anos
depois de sua primeira vez em um pódio olímpico. Ela era 25 anos mais velha do que a mais jovem
medalhista, Cate Campbell, da Austrália.
Já o australiano Eamon Sullivan e a norte-americana Katie Hoff deixam a China como os
grandes perdedores dos Jogos Olímpicos. Sullivan chegou em Pequim como o nadador mais rápido do
planeta, mas saiu dos Jogos sem nenhuma medalha de ouro - ao menos seus recordes mundiais dos
100 m e os 50 m livre ficaram intactos. Ele foi superado na final dos 100 m pelo francês Alain Bernard e
na dos 50 m por César Cielo. Já Hoff chegou aos Jogos como o similar feminino de Michael Phelps.
Nadou em seis eventos e conquistou três medalhas, nenhuma delas de ouro.
7. QUESTIONÁRIO
1) Descreva como surgiu a natação no Brasil e sua evolução até os dias de hoje.
2) Cite três personalidades que se destacaram na natação brasileira com seus respectivos feitos.
3) Descreva como ocorreu a evolução dos nados e o desenvolvimento da natação como desporto.
4) Quais os órgãos que regulam a natação em âmbito internacional, nacional e estadual?
5) Quais as provas que constam, atualmente, no programa da competição de natação dos jogos
olímpicos (masculinas e femininas)?
6) Cite três atletas que se destacaram na natação mundial com seus respectivos feitos.
7) Explique qual a causa do bom desempenho das equipes de natação dos Estados Unidos e Austrália
em Jogos Olímpicos.
37
CAPÍTULO II
APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO
1. GENERALIDADES
O desenvolvimento de um País está intimamente ligado à educação do seu povo, e não se pode
esquecer que a educação física e a prática dos desportos são comprovadamente importantes para
consecução deste objetivo.
Segundo a FINA, natação é a ação de autopropulsão e auto-sustentação na água que o homem
aprendeu por instinto ou observando os animais. Natação pode ser definida como o ato ou efeito de
nadar. Nadar, por sua vez, significa uma sucessão de movimentos conscientes ou não, realizados pelo
indivíduo ou animal, que lhe permitirá deslocar-se ou manter-se sobre ou sob o meio líquido, apoiando-
se exclusivamente neste.
Após pesquisas realizadas, onde foram consultados psicólogos, sociólogos,
fisioterapeutas, professores de educação física e médicos; foi a atividade aquática que obteve
maior grau de avaliação em relação às demais, ao somarem os valores atribuídos às
qualidades aprimoradas e desenvolvidas em cada desporto. Sendo a natação um esporte
completo, deve-se dar oportunidade a todos de praticá-la, principalmente às crianças.
2. ASPECTOS DA NATAÇÃO
a. Aspecto Desportivo
A natação é uma atividade física agradável, por meio da qual se pode adquirir boa coordenação
de movimentos e desenvolver as grandes funções orgânicas. Apresenta a grande vantagem de poder
ser praticada em qualquer idade. Não apresenta limite de idade para a sua aprendizagem, sendo
portanto, uma atividade ideal para crianças, jovens e idosos; homens ou mulheres.
Sendo um desporto individual, torna o seu praticante capaz de agir por si; concorrendo para
aprimorar a sua personalidade. A força de vontade, persistência, resistência ao esforço e o espírito
esportivo são constantemente postos à prova, possibilitando ao nadador uma formação moral elevada.
b. Aspecto Utilitário
Sob este aspecto, a natação torna-se das mais importantes dentre as atividades físicas. O
homem, por um atavismo milenar, está adaptado à terra, o mesmo não acontecendo em relação à água,
necessitando por isso de uma aprendizagem orientada para sobreviver no meio aquático.
Um indivíduo que sabe nadar tem consigo um seguro de vida que, em determinadas situações,
lhe valerá a própria existência e, às vezes, garantirá a vida de outros que não tiveram a oportunidade de
aprender a nadar.
As últimas guerras vieram demonstrar plenamente a eficiência da natação no preparo de ações
militares. Várias operações de embarque, desembarque, torpedeamentos, travessia de rios, retirada de
minas aquáticas e outras exigiram combatentes com conhecimentos efetivos de natação.
c. Aspecto Terapêutico
A prática da natação constitui-se num poderoso e insubstituível processo terapêutico. Sendo um
desporto popular e benéfico, serve de tratamento para muitos e variados casos; tais como deformações
vertebrais, atrofias, entorses, fraturas, poliomielite, asma, incapacidades respiratórias, cardiopatias,
agressividade e inibição.
A natação possui a grande vantagem de não obrigar o participante a suportar seu próprio peso.
A natação é, portanto, particularmente útil para pessoas com lesões físicas; dando-lhes uma
oportunidade única de exercitarem o corpo. Os cegos, surdos e amputados podem nadar.
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d. Aspecto Recreativo
A natação representa numerosas vantagens como desporto de prazer. As pessoas, em busca de
lazer, se deslocam às praias, rios e piscinas como simples forma de ocupação de tempos livres.
Os movimentos na água, a sensação de propulsão, assim como a de poder deslizar ou
mergulhar são muito agradáveis. Existem, por outro lado, muitos jogos que podem ser realizados dentro
d’água. A natação serve para abrir a porta para uma vasta gama de desportos como polo aquático,
pesca submarina, vela, surf, saltos ornamentais, etc. Assim, sabendo-se nadar, pode-se aproveitar as
horas ociosas com diversas atividades aquáticas tão importantes para o equilíbrio físico-emocional.
e. Aspecto Psíquico
JEAN PIAGET diz que é através da motricidade que a criança desenvolve o seu poder
intelectual (criatividade). A natação oferece esta oportunidade antes mesmo da criança saber andar. A
atividade aquática proporciona às crianças vivências enriquecedoras capazes de promover, por sua
atmosfera, riqueza e diversidade, estímulos à curiosidade e à atividade. O autocontrole emocional
adquirido pela criança, leva-a à autoconfiança e à plena realização do seu campo psíquico.
3. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS
Sendo a natação um desporto praticado em um meio diferente daquele no qual normalmente o
homem vive, torna-se necessário lembrar algumas características específicas que apresenta e que,
certamente, serão de grande utilidade quando da iniciação dos alunos na prática desse desporto.
a. Força Ascensional ou Empuxo
É a força que age de baixo para cima contra um corpo mergulhado num líquido. Quanto maior o
volume e menor o peso (menor densidade), maior é o empuxo. Um objeto somente flutuará num fluído
se sua densidade for menor que a densidade do fluído.
Quando a pessoa inspira profundamente, aumenta o volume do seu corpo, sua densidade
diminui , fazendo com que ela flutue.
b. Resistência da Água
A sensação no meio líquido é a resistência da água que inibe a marcha, trava movimentos
rápidos e exige dispêndio de força maior, assim como a sensação de água entrando no nariz, boca e
ouvidos que requer uma adaptação.
c. Influência Térmica
Na água, a perda de calor geralmente é maior que em terra pois normalmente a temperatura da
água é inferior à temperatura ambiental.
A permanência na água sem qualquer perigo ou inconveniente depende de vários fatores:
temperatura da água, resistência do indivíduo, grau de treinamento, hábitos, entre outros.
Um meio seguro e prático de se saber quando é chegado o momento da saída d’água é indicado
pelos primeiros calafrios.
d. Pressão da Água
A pressão que a água exerce sobre o tórax submerso oscila entre 8 e 12 kg. Tendo que realizar
um trabalho intenso, sofrendo esta pressão constante, os músculos respiratórios adquirem um
desenvolvimento excepcional.
4. FATORES QUE INFLUEM NA APRENDIZAGEM
Muitos são os fatores que influem na aprendizagem da natação e, por este motivo, algumas
pessoas sentem mais dificuldades que outras durante a aprendizagem. Os principais fatores que
influem na aprendizagem são os seguintes:
a. Sexo
Com a relação às crianças, as meninas, em geral, têm maior desenvolvimento físico-mental em
relação aos meninos da mesma idade, o que leva a um comportamento mais disciplinado e a uma maior
concentração, facilitando uma maior atenção e entendimento dos ensinamentos ministrados.
Com relação aos adultos, o homem tem, em geral, maior força muscular e disposição para
enfrentar o cansaço advindo dos exercícios praticados, obtendo melhores resultados.
39
b. Idade
Com o passar dos anos, as dificuldades aumentam devido ao aparecimento das fobias, a
escassez de tempo para freqüentar as aulas e o natural envelhecimento do organismo.
c. Flutuabilidade
É um fator de grande importância para a natação. Um nadador flutua mais facilmente que outro
devido principalmente à sua menor densidade corpórea (pesos dos ossos e tônus muscular). Um tônus
muscular muito rígido contribui para uma maior densidade do corpo e uma menor flutuabilidade.
d. Sistema Nervoso
As pessoas muito sensíveis ou nervosas, em contato com o meio líquido, podem apresentar falta
de concentração e descontrole do sistema emocional, prejudicando o seu rendimento no aprendizado.
e. Vontade do Instruendo
É um fator muito importante e dele dependerá o êxito do aprendizado. Antes de tudo, o aluno
precisa querer aprender a nadar.
f. Assiduidade
Os alunos mais assíduos, em geral, obtém resultados melhores com menos tempo de aula, pois
não interrompem a seqüência didática.
g. Estilo Inicial
A aprendizagem deve ser realmente iniciada pelo nado crawl. Além da didática de ensino ser
mais bem estruturada, todos os demais nados tornar-se-ão mais fáceis de serem aprendidos
posteriormente. Porém, se algum aprendiz desenvolver inicialmente outro nado, é preciso encorajá-lo
nesta aquisição. Deve-se valorizar as descobertas felizes desde que não sejam contrárias ao progresso.
h. Freqüência das Aulas
O ensino é mais produtivo em aulas diárias do que alternadas.
i. Temperatura da Água
Quanto mais fria for a água, menor será a duração de permanência na mesma e menor o
progresso do aluno. Água muito quente também prejudica o rendimento, pois provoca um relaxamento
excessivo no instruendo.
j. Capacidade Técnica do Instrutor
É um fator de grande importância. Para organizar o ensino o professor precisa dominar o
conteúdo a ser ensinado, conhecer as aptidões dos alunos, saber formular objetivos e dominar os
métodos e meios de ensino.
5. A DIDÁTICA DA NATAÇÃO
a. Motivação
Estudos realizados revelam que a capacidade de retenção aumenta com o interesse pela
atividade.
A apresentação de metas mantém a motivação até que elas sejam atingidas ou consideradas
não essenciais. É, pois, conveniente definir-se o nível de exigência de acordo com as características
iniciais dos alunos. Sempre que um aluno atinge a meta estabelecida, outra lhe deve ser apontada,
estimulando-o ao aperfeiçoamento.
Uma técnica de motivar bastante útil é proporcionar ao principiante a oportunidade de
demonstrar perante os colegas a sua evolução. O importante é prever desde do início um conjunto de
metas convenientemente hierarquizadas, correspondendo cada uma delas a um determinado estágio de
aprendizagem. Deste modo, o estabelecimento de níveis ou graus com dificuldades progressivas deve
ser determinado, inclusive para as crianças menores, como o exemplo:
1º Grau - as rãs > 2º Grau - os peixinhos > 3º Grau - os golfinhos
Este processo, entre outras, apresenta as seguintes vantagens:
- Mantém o aluno sempre motivado pelo estímulo de subir de grau.
- Permite respeitar as diferentes capacidades individuais, facilitando o estabelecimento
de tarefas diferenciadas pelo professor.
40
b. Número de Alunos por Sessão e Tempo de Aula
O número ideal é difícil de se decidir, tendo-se que levar diversos fatores em consideração. Para
iniciantes e não nadadores, quanto menor o número, melhor. Como regra geral, o número máximo de
não nadadores é em torno de 12. Tal fato deve-se a especificidade desta modalidade e pelos perigos
que pode provocar um número excessivo de alunos por sessão.
O tempo de aula depende da temperatura da água, da temperatura ambiente e das tarefas a
cumprir na sessão que são conseqüentes do nível de aprendizagem do aluno.
A temperatura da água entre 25º e 27º Celsius permite, mesmo para crianças entre quatro e seis
anos, uma sessão de 45 minutos.
c. Meios Auxiliares de Instrução
Alguns exemplos são pranchas de isopor, pés-de-pato, óculos de natação, corpos flutuantes e
pequenas pedras pintadas com cores vivas.
Um quadro de escrever é útil para transmitir informações e atividades a serem realizadas.
Quadros que mostram atividades diversas, como salvamento, manobras de primeiros socorros e
seqüência dos diversos movimentos dos nados são muito esclarecedores e podem ajudar o professor a
explicar certas atividades.
No ensino de salvamento e primeiros socorros, bonecos que reagem à compressão e à
insuflação são excelentes para retratar a função do coração e dos pulmões durante uma situação de
emergência.
Filmes e slides são muito atraentes para os jovens iniciantes.
As raias são importantes para dividir a piscina de aprendizagem.
Varas longas e curtas podem ser usadas tanto para propósitos de ensino como para segurança.
Alguns cuidados deverão ser tomados quando da utilização destes meios de modo a serem
atingidos os objetivos. Assim o material deve ser apropriado à idade e capacidade dos alunos e aos
objetivos da sessão, além de previsto com antecedência. Deve ser estimulada a conservação do
material pelos alunos e mantido o espírito de novidade (a distribuição do diferente material ao longo do
curso de uma forma equilibrada estabelece uma motivação favorável ao desempenho das tarefas da
sessão).
d. Higiene
A higiene na piscina é importante e difícil de controlar. O professor deve instruir os alunos a
respeito da higiene na piscina e determinar o padrão que deseja que seja mantido pela turma. Os
principais aspectos da higiene a serem abordados são: uso do banheiro, dos lava-pés e duchas antes
de ir para piscina, utilização de trajes de banho limpos, enxugamento e agasalhamento do praticante
após a aula, lavagem e colocação dos trajes de banho para secar, uso de toucas de natação
(principalmente para alunos de cabelos grandes), proibição, no recinto da piscina, do uso de calçados
que venham de fora e proibição da prática n’água em casos de erupção de pele, micoses, verrugas,
ferida supurando, pé-de-atleta, tosses, resfriados, dias de maior fluxo menstrual, crise de bronquite e de
asma, etc.
e. Segurança
Ao professor cabe a responsabilidade da segurança dos alunos. Ele deve estar atento aos
perigos da piscina e ser capaz de enfrentar as situações que possam ocorrer. Através de quadros que
ilustrem os comportamentos certos e errados na piscina ou através de uma explanação durante a
primeira aula pode-se transmitir, satisfatoriamente, as informações relativas à segurança do aluno que
precisam ser incutidas nele para sua própria proteção. Assim, o professor deve:
- Mostrar ao aluno as extremidades rasa e funda da piscina.
- Proibir brincadeiras de fazer-se de afogado, empurrar ou afundar alguém.
- Ser capaz de retirar um afogado d’água e realizar eficientemente as técnicas de salvamento
que se fizerem necessárias.
- Ser o primeiro a chegar e o último a sair do local da aula, bem como não deixar a turma
desacompanhada mesmo que seja por um breve momento.
- Determinar aos alunos que não brinquem de correr na área em torno da piscina, principalmente
se esta for escorregadia.
- Deixar os alunos entrarem na piscina somente mediante ordem, inclusive os atrasados e
aqueles que pedirem para ir ao banheiro.
41
- Solicitar que os alunos retirem objetos pessoais (relógio, pulseiras, etc) antes de entrarem na
água, não chupem balas ou masquem chicletes enquanto nadam, não comam pelo menos por uma
hora antes de nadar e verifiquem se a área de saltos está livre quando se lançarem nela.
f. Unidade de Ensino
Todo ensino deve ser organizado partindo do simples para o complexo, do conhecido para o
desconhecido. É inconveniente começar uma aula com exercícios difíceis e ocupar o resto do tempo
com exercícios fáceis. O trabalho deve ser progressivo, isto é, o aumento das dificuldades dos vários
exercícios deve ser gradual.
Uma etapa mal assimilada provoca, normalmente, um atraso na aprendizagem. Deste modo, os
esforços exigidos deverão estar de acordo com a capacidade dos alunos.
Para um curto processamento do movimento, as distâncias a serem cumpridas devem ser curtas
e repetidas com intervalo entre elas. Estas pausas destinam-se a permitir uma recuperação após o
esforço exigido e realizar breves explicações sobre o movimento.
g. Técnica de Ensino
O professor precisa desenvolver uma técnica de ensino boa e segura. Alguns
pontos importantes para o sucesso são:
g.1. Estabelecer uma boa relação aluno/professor. A aula deve ser viva e participada. O
professor deve encorajar, elogiar, repreender gentilmente, brincar amavelmente e ser firme em suas
decisões, mas não muito exigente para não provocar rebeldia nos alunos.
g.2. Posição de ensino. A colocação do professor deve ser na borda da piscina ou em qualquer
outro local elevado, onde possa exercer vigilância sobre todos os alunos e estes possam ver seus
movimentos e ouvi-lo claramente. Quando o professor dirige-se aos alunos, ele mantém-se em pé e
permanece olhando-os enquanto fala. É importante também, demonstrar corretamente a execução de
um exercício ou nado.
g.3. Explicar as instruções. Ao se dirigir aos alunos, o professor deve falar lenta e claramente,
usando palavras e frases adequadas ao nível deles. Cada instrução específica deve ser curta e
simples; é inútil lançar-lhes muitas informações de uma só vez. Instruções na forma negativa tais como
“não faça assim” ou “não faça isto” devem ser evitadas.
g.4. Valorizar os jogos. Todas as crianças adoram jogar. Através de jogos e artifícios, o
professor conduz os alunos aos objetivos pretendidos. Os jogos devem ser graduados de acordo com
idade e a capacidade dos alunos e sempre supervisionados.
g.5. Fazer o planejamento das atividades. O planejamento é uma etapa importante a ser
elaborada pelo professor, por permitir a sistematização e controle do trabalho a efetuar ou já efetuado,
estimular a participação dos alunos ao serem estabelecidas metas, estabelecer condições que
propiciem a avaliação contínua do trabalho, tanto para o professor como para os alunos, e tornar o
trabalho mais eficaz e econômico.
O planejamento deve atender a três aspectos essenciais:
- A quem se aplica (a idade e o grau de aprendizagem dos alunos).
- Onde se aplica (o local, piscina rasa ou funda, mar ou rio, etc).
- Como se aplica (hierarquização dos conteúdos programados de uma forma consciente e
conseqüente).
g.6. Fazer um plano de aula básico. Abaixo, um exemplo de plano de aula básico.
g.6.1. Atividade Introdutória. O professor fará uma breve explanação que deve ser vista por
todos, ser clara e sugestiva para poder ser entendida e motivadora e informar o que se pretende que os
alunos façam no final da aula (objetivo da aula).
Após, o professor dará a ginástica, a fim de aquecer os músculos e preparar o
organismo para o trabalho a ser realizado, desenvolver a mobilidade articular, proporcionar o
relaxamento físico e mental indispensáveis à execução dos trabalhos na água e educar os
músculos quanto aos movimentos corretos e a sua coordenação para prepará-los para os
trabalhos na água.
Esta ginástica pode ser dividida em dois tipos de exercícios diferentes quanto à finalidade
própria. São eles:
- Exercícios educativos ou específicos (Fig 2-1): servem para corrigir e aperfeiçoar os detalhes
da execução dos movimentos característicos dos diversos nados. Exemplos:
- Rotação dos braços para frente ou para trás, alternadamente ou simultaneamente.
- Rotação dos braços para frente, com o tronco flexionado (braçada no nado crawl).
42
- Mãos nos joelhos, rotação da cabeça para os lados (respiração no nado crawl).
- Com o tronco flexionado, braço direito (esquerdo) estendido à frente e o esquerdo (direito) à
trás, realizar a respiração lateral (respiração no nado crawl).
- Coordenar a respiração com o movimento de rotação dos braços (braçada e respiração no
nado crawl).
- Batida de pernas tipo crawl em decúbito ventral ou dorsal.
- Exercícios de flexibilidade (Fig 2-2 e 2-3): servem de aquecimento. Propõem-se a alongar a
musculatura em geral e facilitar os movimentos das articulações corpóreas. Exemplos:
Os exercícios que irão compor a sessão deverão ser criteriosamente escolhidos pelo instrutor,
tendo em vista o objetivo a ser alcançado. Em estágios menos avançados da aprendizagem, deve-se
dar ênfase nos exercícios educativos. Nos dias frios, deve-se intensificar a quantidade e a cadência dos
exercícios, bem como diminui-los nos dias quentes.
g.6.2. Recapitulação da aula anterior. É importante aproveitar-se das aquisições feitas na etapa
anterior.
Fig 2-1. Exercícios educativos ou específicos.
g.6.3. Atividade principal. Baseada no objetivo da aula. Esta deve compreender o máximo de
tempo possível. Os exercícios devem ser demonstrados em “câmara lenta” e, logo após, a um ritmo
normal.
g.6.4. Tempo livre supervisionado. A aula termina com um pequeno tempo livre no qual os
alunos podem fazer o que quiserem. É necessário um controle rigoroso para evitar atividades perigosas.
g.7. Agrupar os alunos por nível técnico. O número de grupos dependerá da capacidade
técnica e do número de alunos.
43
g.8. Realizar aulas de avaliação. É importante avaliar-se as habilidades que tenham sido
ensinadas. Uma boa organização é essencial durante essas sessões e é desejável que haja
assistência.
Fig 2-2. Exercícios de flexibilidade.
44
Fig 2-3. Exercícios de flexibilidade
6. FASES DA APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO
Esta etapa compreende o período que se inicia no momento em que o aluno parte do zero e
termina quando ele já desenvolve satisfatoriamente as três progressões clássicas: flutuação, respiração
e propulsão.
Quando se pode dizer que o aluno sabe nadar?
- Quando existe uma completa familiarização com a água.
- Quando ele sabe respirar corretamente.
- Quando percorre uma distância mínima.
- Quando sabe mergulhar.
Pedagogicamente, é necessário que o aluno vença o medo da água e busque a coordenação
dos movimentos. Pode-se, portanto, dividir a moderna pedagogia da natação em unidades que
representam as cinco etapas que o aluno deve superar para alcançar seus objetivos: a familiarização
com o meio aquático, a flutuação, a respiração, a propulsão e o mergulho elementar.
a. Familiarização com o meio aquático
Na aprendizagem, é fundamental que o aluno se familiarize e tenha confiança com água.
O primeiro objetivo a ser atingido é a eliminação da rigidez muscular produzida, quase sempre,
pelo medo da água. O segundo, e mais importante, é o ensino da correta mecânica respiratória. Ambos
podem ser conseguidos através de exercício e jogos que proporcionam confiança na água.
A motivação é o motor do ensino. Deve-se lembrar que as experiências desagradáveis podem
atrapalhar o aprendizado e é necessário que a prática seja amena e divertida.
O ensino atual da natação deve considerar todos os componentes sensoriais e motores do
aluno. É necessário, então, que ocorra dentro da água, com a principal preocupação de oferecer
segurança ao aluno, para que este não tenha uma impressão desagradável diante dessa nova situação.
Esta segurança traz confiança para que se possa seguir com o processo de aprendizagem.
A idade ideal para a aprendizagem da natação é de quatro a cinco anos, uma vez que nessa
faixa etária as crianças normalmente já desenvolvem uma hidrofobia considerável.
Exemplos de exercícios de familiarização com a água:
Exercício Descrição Objetivo
1 Descer lentamente a escada da piscina. Contato gradual com a água, evitando
sobressaltos.
45
2 Deslocar-se segurando a borda.
Acostumar-se com a água, mover-se dentro
dela e perceber que a água é um elemento de
sustentação, ajuda e apoio.
3 Caminhar pela piscina. Idem exercício 2.
.
4 O carrossel (jogo). Idem exercício 2.
5 Molhar o rosto. Acostumar o aluno com a sensação do rosto
molhado.
6 Submergir mantendo o ar nos pulmões. Idem exercício 5.
7 Com a cabeça dentro da água, contar os
dedos abertos do colega ou do professor.
Imergir e abrir os olhos dentro da água.
8 Passar por debaixo das pernas do
companheiro.
Idem exercício 7.
9 Apanhar um objeto no fundo. Idem exercício 7.
10 Submergir para não ser tocado pela bola
em um círculo (jogo).
Imersão rápida.
11 Dois a dois, um tenta molhar o rosto do
outro.
Idem exercício 10.
12 Jogo de pólo. Naturalidade na água.
13 Conduzir a bola com a cabeça.
Imersão. Obs: Podem ser feitas corridas para
ver quem chega primeiro em um lugar
determinado.
14 Dois ou mais grupos. Passar a bola para o
colega por debaixo das pernas (jogo).
Idem exercício 13.
15 Em grupos de dois ou em fila. Saltar sobre
o colega.
Idem exercício 14.
b. Flutuação
O trabalho específico da flutuação objetiva ajustar o aluno de forma natural e cômoda na posição
horizontal que ele deve manter na água para ensino dos estilos. As posições ventral e dorsal devem ser
hidrodinâmicas, ou seja, devem oferecer o menor grau de resistência possível ao avanço sobre a
superfície da água. A posição dos braços, pernas e cabeça é particularmente importante na realização
do deslizamento mais efetivo sobre a água. A flutuação ventral será mais hidrodinâmica com os braços
estendidos no prolongamento do corpo e o rosto submerso do que se a cabeça estiver fora da água.
Daí a importância de se atingir o objetivo prévio da imersão, antes de passar para o trabalho de
flutuação.
A flutuação depende de vários fatores, dentre eles:
- Força de empuxo. É a resultante das forças verticais para cima que a água exerce sobre um
corpo.
- Peso específico de cada nadador. Um corpo flutuará somente se o peso do corpo for menor ou
igual ao peso de um volume igual de água. As mulheres, de modo geral, flutuam melhor que os
homens, pois têm menor peso específico, devido à maior quantidade de tecido adiposo e à menor
quantidade de músculos.
- Volume de ar nos pulmões. Tem um efeito pronunciado na capacidade do indivíduo de flutuar.
Se uma pessoa inspira profundamente, ela aumenta consideravelmente o volume de ar nos pulmões, o
volume do tórax como o volume do seu corpo todo. O aumento no peso corporal que acompanha esse
aumento de volume é desprezível, portanto o efeito total dessa inspiração forçada gera uma redução
substancial no peso específico do corpo. A possibilidade de a pessoa ser capaz de flutuar é, portanto,
aumentada. A prática de exercícios de flutuação exige condições psíquicas especiais.
Exemplos de exercícios de flutuação:
Exercício Descrição Objetivo
1
Com o flutuador no peito ou nos braços, sustentar-
se com as mãos agarradas na borda da piscina.
Soltar uma mão e depois as duas.
Flutuação ventral e aquisição de
confiança com os flutuadores.
2
Na posição vertical, fazer uma grande inspiração e
levantar várias vezes os pés para trás, tentando
elevá-los até a superfície.
Flutuação ventral.
46
3
Dois a dois, um puxa o colega, que procura manter
o rosto submerso durante o maior tempo possível,
enquanto fica em decúbito ventral.
Idem exercício 2.
4
Com a prancha e o flutuador na cintura, empurrar a
parede com as pernas e estender-se na horizontal
com a cabeça fora da água e depois dentro.
Flutuação, deslizamento ventral e
busca de posições hidrodinâmicas.
5
Agachado sobre a escada, empurrar e estender-se
horizontalmente com as mãos e os braços
estendidos adiante.
Idem exercício 4.
6 O túnel: o aluno tenta passar por debaixo das
pernas afastadas dos colegas, que estão em fila.
Deslizamento ventral, profundo e
prolongado.
7
Tentar tocar os pés com as mãos, submergindo a
cabeça na água, sem tirar os pés do fundo da
piscina
Sentir o empuxo da água para cima.
8 A medusa: depois de uma inspiração profunda,
agrupar-se segurando os joelhos com as mãos.
Observar que o corpo flutua na água
com ar nos pulmões.
9 Na posição de medusa, estender-se
horizontalmente e voltar à posição inicial.
Equilíbrio na água e flutuação ventral.
10
Agachado com as pranchas nas mãos, deixar-se
cair para trás, elevando os quadris até atingir a
prancha.
Flutuação dorsal.
11
Com uma mão na borda e a outra segurando a
prancha, empurrar a parede com as pernas,
mantendo a cabeça baixa em prolongamento com o
corpo e a prancha sobre a barriga.
Idem exercício 11.
12
Com as mãos agarradas à borda, empurrar a
parede e endireitar o tronco, com os braços
separados do corpo.
Flutuação dorsal e busca do
deslizamento mais prolongado sobre
a superfície.
13 O mesmo exercício anterior, só que saindo da
posição vertical.
Flutuação vertical.
14
Da posição de flutuação ventral passar para a
flutuação dorsal, girando o tronco, virar para a
posição ventral e retornar para a posição vertical.
Flutuação dorsal e ventral e equilíbrio
do corpo na água.
c. Respiração
É a fase mais importante da aprendizagem. Enquanto o iniciante não conseguir respirar com
desembaraço, ele terá dificuldade para coordenar os movimentos, bem como manter-se e locomover-se
dentro da água.
A educação respiratória tem por objetivo dominar os movimentos respiratórios correspondentes
ao estilo. Por isto, são executados exercícios fora da água que visam a ensinar a correta mecânica da
respiração ao aluno.
A fase de inspiração deve ser curta e bucal e a fase de expiração deve ser feita com a cabeça
submersa. A expulsão do ar deve ser feita lentamente, pela boca ou pelo nariz.
Exemplos de exercícios de respiração frontal:
Exercício Descrição Objetivo
1 Soprar uma bola de pingue-pongue. Noção de expiração.
2 Soprar a água que está nas mãos em forma de concha. Idem exercício 1.
3 Soprar com a boca dentro da água. Idem exercício 1.
4 Segurar na borda, respirar pela boca e afundar o rosto soltando o ar
pela boca e pelo nariz.
Expiração aquática.
5 De pé, dentro da piscina, inspirar e soltar o ar dentro da água,
agachando-se.
Expiração aquática e
expiração completa.
6 Segurar a borda com o tronco flexionado para frente, ou de pé, no fundo,
levantar a cabeça para inspirar e mergulhar o rosto para expirar.
Expiração completa.
47
Exemplos de exercícios de respiração lateral:
Exercício Descrição Objetivo
1 Idem exercício 6 de respiração frontal, só que girando a cabeça para o
lado para inspirar e mergulhando o rosto para expirar.
Cadência
respiratória.
2 De costas na borda, mãos agarradas na calha, pegar o ar de um lado e
girar a cabeça colocando o rosto na água para soltar o ar dentro dela.
Idem exercício 1
3
Com as mãos na borda em decúbito ventral, braços estendidos e com
um pull boy nas pernas. O aluno inspira durante 2 segundos para um
lado e expira dentro da água por 6 segundos.
Idem exercício 1.
4 Segurando a prancha e em deslizamento, realizar o exercício 1 Idem exercício 1.
Exemplos de exercícios de respiração bilateral:
Exercício Descrição Objetivo
1 De pé, o aluno faz a inspiração de um lado, coloca a cabeça dentro
da água, expirando, conta mentalmente até 3 e executa a inspiração
do outro lado.
Cadência
respiratória.
2 Idem exercício 1, preso ao quebra ondas pelas mãos, batendo as
pernas.
Idem exercício 1
3 Idem exercício 1, só que puxado por um companheiro. Idem exercício 1
d. Propulsão
A propulsão implica a adaptação humana ao meio aquático de maneira completa. É a
capacidade que tem o corpo de se locomover dentro da água com os próprios recursos e depende do
trabalho conjunto de pernas e braços.
Existem três fases da propulsão na aprendizagem: noção de propulsão ou propulsão básica,
propulsão de pernas e propulsão de braços.
Exemplos de exercícios de propulsão básica:
Exercício Descrição
1
O escorregador. Desafie: “Vamos ver quem é capaz de ir mais longe!” Todos os alunos,
com uma perna no fundo da piscina e outra apoiada na parede da mesma, braços
estendidos para frente, impulsionam-se com a maior força possível, forçando a perna na
parede e deixando seu corpo deslizar dentro da água, até parar e ficar em pé. Será
vencedor o aluno que atingir a maior distância.
2
O torpedo. Um aluno fica estendido na superfície da água, enquanto outro segura o
companheiro, impulsionando-o para frente, com braços e pernas estendidos, como se fosse
um torpedo. Será vencedora a dupla que alcançar a maior distância.
3 O salto do canguru. O aluno apoia-se com os pés no fundo, salta, deixa o corpo cair e
deslizar. Quando começa a perder o impulso, dá novo salto, e assim sucessivamente.
Exemplos de exercícios de propulsão de pernas:
Exercício Descrição
1
Visualização fora da água. Na borda da piscina ou em qualquer outro lugar julgado
conveniente, o professor mostra aos alunos como deve ser realizado o movimento de
pernas, enfatizando que parte da articulação coxofemoral e que os pés devem estar soltos.
Convém destacar que o movimento de pernas dentro da água é solto e há uma ligeira flexão
dos joelhos, em virtude do líquido, porém, se o aluno fizer uma pequena flexão, ele irá
adicionar esta flexão à natural executada, tornando-a exagerada, razão pela qual
recomenda-se pernas estendidas, pois a flexão natural será executada.
2 Braços presos ao quebra-ondas, batimento de pernas com correção, até que tenha
conseguido o exercício desejado.
3 No quebra-ondas, batimento de pernas com respiração frontal.
4 No quebra-ondas, batimento de pernas com respiração lateral.
5 No quebra-ondas, batimento de pernas com respiração bilateral.
6 Puxado por um companheiro, batimento de pernas com respiração frontal.
7 Puxado por um companheiro, batimento de pernas com respiração lateral.
8 Puxado por um companheiro, batimento de pernas com respiração bilateral.
48
9 Segurando na borda inferior da prancha que está sendo puxada por um companheiro,
executar a respiração frontal.
10 Idem anterior, com respiração lateral e bilateral.
11 Batimento de pernas, segurando na prancha na borda inferior, no meio e na borda superior
desta.
12 Idem anterior, só que com respiração frontal, lateral e bilateral.
13 Competição de batida de pernas com prancha.
Exemplos de exercícios de propulsão de braços:
Exercício Descrição
1 Visualização fora da água, com explicação da trajetória do braço e correção.
2
Visualização dentro da água. De pé, sentindo a resistência da água, olhar a trajetória do
braço dentro e fora da água. Obs: Neste aprendizado, deve-se enfatizar os dedos apontados
para baixo, cotovelo mais alto que a mão, costa da mão apontada para frente.
3 De pé, executar o movimento de um braço, com respiração, depois o outro, depois ambos,
progredindo andando na água.
4 Batimento de pernas. Segurando a prancha pelo meio, executar o movimento de um braço,
com respiração, colocando-o sobre a prancha a cada respiração.
5
Batimento de pernas. Segurando a prancha pelo meio, executar o movimento alternado de
braços, ficando um sobre a prancha, enquanto o outro dá a braçada. A inspiração é
executada durante o movimento do outro braço, e a expiração é executada dentro da água,
no movimento do braço oposto à inspiração. Em cada movimento um dos braços é colocado
sobre a prancha. Assim, imitamos o nado completo.
6 Nado completo em pequenas distâncias.
e. Mergulho elementar
Trata-se da entrada na água de diversas maneiras.
Exemplos de exercícios de mergulhos:
Exercício Descrição
1 Entrada na água por meio de um salto, entrando na posição de pé (primeiro os pés), sem
impulso.
2
Entrada na água de pé, através de saltos, com impulsos de pequenas distâncias e depois de
maiores. Pode-se aproveitar a forma de desafio: “Vamos ver quem é capaz de saltar mais
longe!”
3
Entrada de cabeça na água, partindo da posição deitada em uma prancha ou escorregador.
Convém enfatizar o seguinte: braços no prolongamento do corpo, queixo colado ao peito,
não devendo ser erguido no momento de entrada na água. Para melhor execução, os olhos
devem estar fechados enquanto se escorrega pela tábua.
4
Mergulho de cabeça, partindo da posição sentada. Na borda da piscina, pés no quebra-
ondas, o aluno procura colar o queixo no peito, estender os braços e, com pés forçando o
quebra-ondas, ir elevando os quadris de modo a que fiquem mais elevados ou ao nível da
cabeça. Nesse ponto a inclinação do corpo faz com que o aluno entre na água, procurando
chegar o mais perto possível dela com a cabeça, sendo auxiliado pelo professor. Após vários
exercícios, pedir ao aluno para impulsionar no final do salto.
5
Mergulho, partindo da posição ajoelhada, sentado nos calcanhares, braços estendidos, queixo colado
ao peito. Ir abaixando a cabeça, procurando aproximá-la da água, com elevação dos quadris, até a
inclinação completa, quando iniciará sua queda para a água. Nesse momento, o professor dá um
ligeiro toque nos pés do aluno, elevando-o e evitando sua batida na borda da piscina.
6
Partindo da posição ajoelhada, não sentado nos calcanhares e, portanto, em plano mais
elevado, fazer o aluno ir procurando a água com a cabeça e elevando os quadris, até
alcançar a inclinação que o leve a cair na água. Aqui o professor também deve auxiliar o
aluno, para sua total segurança, elevando suas pernas.
7
Partindo da posição ajoelhada sobre uma perna, estando a outra apoiada no quebra-ondas,
braços estendidos e queixo colado ao queixo, elevar os quadris e procurar aproximar a
cabeça da água, até alcançar a inclinação total.
8
Mergulho de cabeça, partindo da posição de pé, sem auxílio. De pé, braços em extensão, queixo colado ao peito,
pernas semiflexionadas, o aluno procura estende-las, ao mesmo tempo que eleva os quadris, executando o
mergulho e procurando progredir debaixo da água, com movimentos de braços e pernas.
49
9
Mergulho de cabeça com impulsão, correndo. Inicialmente a pequenas distâncias, depois a
maiores, à medida que for adquirindo confiança. O aluno executa o mergulho procurando
progredir o máximo que puder debaixo da água, com movimentos de braços e pernas.
7. NATAÇÃO PARA BEBES (ATÉ TRÊS ANOS)
A natação para bebês nasceu nos Estados Unidos, devido à grande quantidade de piscinas
domésticas e dos perigos apresentados pela curiosidade própria dos bebês nas suas proximidades.
Assim, a possibilidade de preparar as crianças o mais cedo possível foi vislumbrada para diminuir o
grande número de acidentes.
Ela realiza-se num âmbito pré-escolar, numa idade que as crianças não podem ser ensinadas
em grupos por professores. Nesta idade, as crianças precisam do pai e da mãe como pessoas que
entendem sua linguagem e que vão lhes ensinar, através desta linguagem familiar, a transição de um
ambiente conhecido para um ambiente desconhecido que é a piscina.
A aprendizagem da natação nesta idade visa a:
- Promover o desenvolvimento físico e intelectual do bebê. A maioria dos bebês passam a maior
parte do tempo deitados ou sentados no berço ou no carrinho, de forma passiva. Na água, o bebê
realiza movimentos que não teria condições de realizar sob a força da gravidade. Hoje, sabe-se que o
desenvolvimento intelectual da criança é produto do desenvolvimento motor.
- Desenvolver a capacidade de auto-salvamento, isto é, fazer com que o bebê tenha condições
de se manter na superfície ou através de movimentos instintivos chegar à borda da piscina ou em
qualquer outro apoio.
- Proporcionar uma maior resistência ao resfriado e uma saúde mais estável.
- Utilizar suas faculdades pré-existentes de apnéia.
- Reforçar o relacionamento entre pai e filho. Normalmente a mãe passa mais tempo com o filho.
Neste caso o pai leva o bebê para a natação ou acompanha-o com a mãe.
O método requer que os pais sejam os monitores dos professores de natação. Deste modo, os
pais recebem instruções dos professores antes de entrarem na água com o bebê. É essencial que a
mãe e/ou o pai entrem na água.
É importante que os pais mantenham-se descontraídos, relaxados e tranqüilos, uma vez que o
comportamento dos bebês é conduzido por sensações agradáveis e desagradáveis. Deve-se procurar
sempre criar condições agradáveis. O contato corporal, o abraço terno da mãe ou do pai, após uma
situação desagradável é a fonte de segurança e de sucesso do método.
Os primeiros estímulos podem ser realizados em casa durante os banhos do bebê, a partir do
momento em que o médico liberar a criança após a queda do umbigo. Estes banhos devem ser
realizados na banheira de casa e são importantes para que os pais treinem como pegar a criança.
Com o decorrer do tempo, a temperatura da água dos banhos deve ser diminuída
gradativamente de 36º Celsius, a fim de preparar o bebê para temperatura da água da piscina, que
deve ter um teor de cloro baixo.
As crianças com menos de quatro meses podem ser alimentadas a qualquer hora, já as com
mais de quatro meses devem ser alimentadas no mínimo uma hora antes da aula. A freqüência ideal
são três aulas por semana com a duração de 20 minutos.
Os exercícios mais utilizados são:
- Mergulho. No máximo três em cada aula. Antes de mergulhar a criança, o pai
molha sua nuca, depois a cabeça toda e sopra seu rosto, como formas de aviso. No começo,
os pais afundam com a criança colada ao corpo, depois podem fazê-lo segurando-a pelas
axilas.
- Soprar Bolhas. O pai ou a mãe sopra o rosto da criança para que ela sinta a corrente de ar e
logo após faz o barulho das bolhas na água.
- Flutuar. Os cuidados são maiores com bebês menores de um ano. Estes flutuam melhor de
costas. Assim, o pai segura-o em decúbito dorsal, com uma das mãos segurando a cabeça e com rosto
próximo ao do bebê conversa com ele.
- Torpedo. O pai segura a criança em forma de sanduíche e, após mergulhá-la, empurra para a
mãe que deve estar bem próxima. A distância entre o pai e mãe vai aumentando aos poucos para que a
criança comece a realizar movimentos de pernas e braços com intuito de emergir os orifícios
respiratórios. Mais tarde, basta conduzi-la para a borda ou qualquer outro apoio da piscina até que a
criança os prefira ou sinta segurança neles.
- Saltar. Bebês maiores de um ano já saltam para seus pais da borda da piscina.
50
Na natação para bebês alguns cuidados fazem-se necessários:
- Após a aula deve-se secar bem os ouvidos, com cuidado pela fragilidade.
- Quando tirar o bebê d’água, o pai deve agasalhá-lo imediatamente. Em piscinas aquecidas
cobertas deve-se aguardar um tempo antes de sair do recinto com o bebê.
- Deve-se tomar cuidado para que o bebê não engula muita água na piscina.
8. TRABALHO PROPOSTO
O senhor, possuidor do Curso de Educação Física do Exército, foi designado pelo comandante
de sua OM, para ensinar natação a um grupo de militares que não sabem nadar corretamente. Diante
desta situação o senhor irá se preparar para o cumprimento desta missão, onde ensinará desde o início
até as técnicas dos nados. Para avaliar sua preparação, responda as seguintes questões abaixo:
1. Descreva os aspectos da natação exemplificando-os com situações práticas.
2. Explique a influência das características específicas da água utilizando exemplos práticos.
3.Descreva os fatores que serão observados para a melhor aprendizagem de um aluno.
4. Explique os aspectos da didática da natação, abordando com um enfoque prático e citando exemplos
se possível.
5. Descreva as fases da aprendizagem da natação, abordando seus objetivos e exemplificando
com exercícios.
51
CAPÍTULO III
1. CARACTERÍSTICAS DO FLUXO DA ÁGUA
Fig 3-1. Turbulência causada pelo corpo do nadador movimentando-se em correntes laminares.
a. Fluxo Laminar e Turbulento
A água é constituída por moléculas de hidrogênio e oxigênio que tendem a flutuar em
correntes regulares e contínuas até que encontram algum objeto sólido que interrompa seu movimento.
Essas correntes são compactadas umas sobre as outras, surgindo, assim, a expressão fluxo laminar.
Diz-se que a água torna-se turbulenta quando esse fluxo contínuo é interrompido. As moléculas de água
separam-se de suas correntes laminares, repicando umas nas outras em direções aleatórias. As
moléculas de água que se tornam turbulentas irão invadir outras correntes laminares, causando um
padrão sempre freqüente de turbulência, que é visível na superfície como borbulhas.
O fluxo laminar é o que oferece a menor resistência associada ao seu movimento porque as
moléculas estão se deslocando em uma mesma direção e em velocidade constante. Por outro lado, o
fluxo turbulento oferece ao movimento uma resistência muito maior porque suas moléculas movem-se
de uma forma circular e rápida.
A figura 3-1 ilustra os fluxos laminar e turbulento. As correntes laminares estão representadas
pelas linhas retas e as turbulentas por moléculas circulares. A água turbulenta à frente e aos lados do
nadador aumentará a pressão nessas áreas, com relação à pressão por trás de seu corpo, onde o fluxo
ainda não preencheu o espaço criado. Isso está indicado pelo sinal + para a alta pressão à frente do
nadador e pelo sinal – que significa baixa pressão atrás dele. Esse diferencial de pressão irá reduzir a
velocidade de progressão do nadador.
A resistência enfrentada pelo nadador é diretamente proporcional à quantidade de turbulência
por ele criada. A água será levemente turbulenta quando apenas algumas correntes laminares tiverem
sido conturbadas. O diferencial de pressão e, portanto, o efeito retardador, serão consideravelmente
maiores quando ocorre grande turbulência.
2. TIPOS DE RESISTÊNCIA HIDRODINÂMICA
MECÂNICA DOS ESTILOS
52
RESISTÊNCIA
HIDRODINÂMICA
Resistência
de Forma
Resistência
de Atrito
Resistência
de Ondas
Os especialistas definem três tipos de resistência hidrodinâmica que atuam sobre os corpos em
suspensão num fluído, que são resistência de forma, de ondas e de atrito.
Fig 3-2. Boas e más posições do corpo quanto ao alinhamento horizontal.
32
Fig 3-3. Efeitos de excessivos movimentos laterais do corpo na resistência no nado crawl.
Fig 3-4. Efeitos de excessivos movimentos laterais do corpo na resistência no nado costas.
a. Resistência de Forma
É a resistência maior, causada pelo mau alinhamento horizontal e lateral. Recebe este nome
porque é causada pelas formas que o corpo do nadador toma ao se mover pela água.
a.1. Alinhamento horizontal. A redução da resistência de forma depende da
permanência mais horizontal possível, sem que ocorra uma diminuição na força propulsora. Os
nadadores devem estabelecer um meio termo, para que dêem pernadas suficientemente profundas
para a propulsão do corpo, mas não tão profundas a ponto de aumentar desnecessariamente a área por
ele ocupada. A figura 3-2 contrasta o bom e o mau alinhamentos horizontais para três dos quatro estilos
de competição. Os nadadores da esquerda ilustram um bom alinhamento e os da direita um mau
alinhamento.
a.2. Alinhamento lateral. Movimentos laterais excessivos do corpo aumentam a
resistência. O alinhamento lateral só pode ser desfeito nos nados crawl e costas, nos quais os
movimentos alternados dos braços e das pernas têm o potencial de deslocar o corpo dentro d’água de
uma forma serpenteante.
A figura 3-3 mostra uma vista superior de praticantes do nado crawl com bom e mau
alinhamento lateral. A nadadora da esquerda está com bom alinhamento e a nadadora da esquerda
está oscilando o corpo excessivamente de um lado para outro. Isto faz com que a segunda ocupe um
espaço maior na água em comparação com a primeira e os movimentos do seu corpo fazem com que
empurre água para frente aumentando a resistência. Efeitos similares estão representados na figura 3-
4, porém, em relação a praticantes do nado costas.
b. Resistência de Ondas
A resistência de ondas é causada pela turbulência na superfície da água. Quando os
movimentos de um nadador aumentam o tamanho das ondas, a turbulência maior cria uma área de alta
pressão à frente do nadador, uma “muralha d’água” que retarda o movimento de avanço.
As causas mais comuns da resistência de ondas, além de raias mal projetadas e inadequadas
para provas de natação, são as entradas do braço na água com violência e os movimentos laterais e
verticais excessivos do corpo.
c. Resistência de Atrito
O atrito entre o corpo do nadador e as moléculas de água que entram em contato com ele
interrompe o fluxo laminar destas moléculas. Como resultado, elas se chocam com outras moléculas
atrás delas e adjacentes a elas, aumentando a resistência hidrodinâmica e retardando o movimento de
avanço. Por isto, os nadadores adotam o hábito de raspar os pelos do corpo antes de provas
importantes. Além disso, eles usam trajes que aderem à pele sem deixar espaços ou dobras que
prendam a água. Alguns nadadores cobrem o corpo com óleo e outras substâncias que reduzem o atrito
entre a pele e a água.
A experiência parece indicar que estes procedimentos têm um efeito benéfico sobre o
desempenho. Mas, CLARYS, em 1979, declarou que a resistência do atrito sobre o corpo do nadador
em movimento é insignificante. Suas pesquisas indicam que os nadadores, mesmo na posição mais
hidrodinâmica, geram tanta resistência das ondas e de forma que é impossível manter o fluxo laminar
da água ao redor de seus corpos. Em outras palavras, a turbulência causada pela resistência de ondas
e de forma já é tão grande, que qualquer aumento na resistência devido ao atrito da pele seria
insignificante.
3. PROPULSÃO NA NATAÇÃO
As primeiras tentativas de descrever os movimentos propulsores dos nadadores de competição
comparavam os braços desses atletas a remos ou rodas de pás. Os nadadores eram ensinados a
manter os braços esticados, movendo-os num padrão semicircular como uma roda de pás, durante a
fase propulsora de suas braçadas (Fig 3-5).
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  • 1. 24 ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO EXÉRCITO MANUAL DE NATAÇÃO PARA OS CURSOS DE INSTRUTOR E MONITOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA EsEFEx AUTORES: Cap QMB FRANCISCO NILTON DE SOUZA JÚNIOR Cap Inf NILTON GOMES ROLIM FILHO Cap Inf OSVALDO NOGUTI FILHO Cap Eng MARTON DANIEL GRALA 2º Sgt Art JOSEMIR SOUZA REBOUÇAS DA COSTA 2º Sgt Inf ALEXANDRE CRISTIAN DOS SANTOS NASCIMENTO 3º Sgt Inf ALFREDO DIAS DE OLIVEIRA JÚNIOR
  • 2. 25 ÍNDICE Capítulo I – HISTÓRICO DA NATAÇÃO........................................................................página 2 Capítulo II – APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO............................................................página 10 Capítulo III – MECÂNICA DOS ESTILOS.....................................................................página 24 Capítulo IV – NADO CRAWL........................................................................................página 39 Capítulo V – NADO PEITO............................................................................................página 50 Capítulo VI – NADO COSTAS.......................................................................................página 61 Capítulo VII – NADO BORBOLETA..............................................................................página 72 Capítulo VIII – SAÍDAS, VIRADAS E CHEGADAS......................................................página 83 Capítulo IX - SALVAMENTO.........................................................................................página 88 Capítulo X – NATAÇÃO UTILITÁRIA...........................................................................página 92 Capítulo XI – TREINAMENTO DE NATAÇÃO..............................................................página 93 Capítulo XII – REGRAS DA FINA...............................................................................página 101 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................página 102
  • 3. 26 CAPÍTULO I HISTÓRICO DA NATAÇÃO 1. DESENVOLVIMENTO DA NATAÇÃO NA SOCIEDADE HUMANA a. A Natação nas Sociedades Primitivas e Escravistas A ação de autopropulsão e autosustentação no meio líquido, que o homem aprendeu por instinto ou observando os animais, e que ao longo dos séculos foi aperfeiçoando, é o exercício físico mais completo e das mais remotas manifestações de motricidade humana. O homem primitivo usava a natação como uma atividade útil e necessária as suas tribos que viviam próximas a rios, lagos e mares, fazendo da caça e da pesca coletiva suas principais fontes de subsistência. Nadar e mergulhar eram atividades vitais, praticadas constantemente, por serem usadas na busca de alimentos, bem como na superação de obstáculos aquáticos em caso de guerras. Por outro lado a natação tornou-se uma prática popular devido ao aspecto saudável e higiênico do banho. Desenhos e pinturas descobertos em cavernas assírias e egípcias comprovam o quanto a natação era difundida. Diversas formas de braçadas alternadas predominam nas representações desses tempos. Arqueólogos descobriram em Manhenjodara, Índia, piscinas aquecidas com mais 5.000 anos. Documentos encontrados nas pirâmides egípcias referem-se ao orgulho dos nobres, há 3.000 anos, quando seus filhos aprendiam a nadar junto com os filhos dos faraós que tinham seus próprios professores. Os egípcios perpetuaram a natação em estátuas, como a encontrada em escavações no Cairo, representando uma nadadora. Na Grécia, a natação e o banho eram passatempos populares praticados pela aristocracia e homens livres. A piscina de natação era parte integrante de um ginásio, instituição educacional pública dos gregos livres. A natação era um componente importante na educação dos filhos dos ricos, bem como no condicionamento físico dos jovens militares. PLATÃO, grande filósofo grego, afirmava que o homem que não sabia nadar não era educado e que a natação personificava o equilíbrio entre o corpo e o espírito. As competições de natação constituíam-se mais em uma exceção do que em uma regra e não eram incluídas nos Jogos Olímpicos. Supõe-se que isto ocorria por não haver água nas vizinhanças do sítio onde se celebravam os jogos. Já nos Jogos Ístmicos, realizados em homenagem a Poseidom, deus dos mares, eram disputadas provas de natação. HOMERO nas páginas de “Ilíada” e “Odisséia”, refere-se freqüentemente às grandes festas natatórias dos gregos. As lendas de Ulisses e Leandro que atravessavam a nado o Helesponto (hoje Estreito de Dardanelos) para encontrarem-se com a amada, bem o comprovam. Em Roma, o passatempo preferido era o banho. Os romanos construíram inúmeras piscinas, muitas delas de águas tépidas, as quais davam o nome de termas. Eram tão freqüentadas que tornavam-se pontos de reuniões sociais. As termas tinham capacidade para centenas de banhistas, seus recintos salientavam-se pelo luxo das construções, que eram verdadeiras obras de escultura e pintura. Para os romanos, o hábito de nadar e banhar-se também fazia parte da educação dos jovens e da preparação física dos militares, o que pode ser provado pela existência da Escola de Natação do Exército, às margens do Rio Tigre. Para as tribos germânicas que habitavam a Europa no norte, centro e leste, no início da era cristã, a natação também tinha um valor prático. Tanto os homens quanto as mulheres sabiam nadar. A julgar pelos mitos e sagas acredita-se que existiam competições. Na Ásia e América, nadar e mergulhar eram atividades também praticadas. No Japão, existiam excelentes nadadores e mergulhadores que iam a consideráveis profundidades, principalmente, em busca de pérolas. Na China, realizavam-se festas nas quais havia demonstrações públicas de natação para a corte. Chichas, índios colombianos, usavam a natação em suas práticas religiosas. b. A Natação na Sociedade Feudal Os cavaleiros, burgueses e camponeses praticavam diversos tipos de exercícios físicos, dentre eles a natação. Os camponeses a praticavam como um exercício popular, enquanto os burgueses gostavam mais de banhos. Entre os cavaleiros, a natação era considerada como uma parte importante do sistema de exercícios conhecido como “as sete agilidades”. Com a crescente exploração dos camponeses e classes baixas urbanas, os tempos livres destes ficaram cada vez menores, tornando-se quase impossível a prática de exercícios físicos. A situação se
  • 4. 27 agravou quando os exercícios físicos, em geral, foram proibidos pelos eclesiásticos. Foi então, a idade negra da educação física, onde prevalecia o culto da alma, e o mérito ou mesmo tolerância da cultura do corpo eram condenados. A natação e o banho foram poderosamente combatidos porque eram associados ao desnudo do corpo. A imoralidade começou a inserir-se nos estabelecimentos de banho que eram abertos somente às classes mais favorecidas da população. Assim, tais locais caíram em desgraça e foram fechados. Os banhos e a natação deixaram de ser praticados e castigavam-se os que contrariavam a proibição. c. A Natação na Era do Renascimento Na renascença, no fim do século XV e início do século XVI, ressurge o interesse pela natação. Os primeiros passos foram tímidos, limitando-se à publicação de estudos feitos por homens de projeção. “Colymbetes”, primeiro manual de natação, foi publicado em 1513 pelo humanista NICOLAUS WYNMANN. Seu objetivo era renovar o ensino e a aprendizagem da natação para reduzir o perigo de afogamentos. Continha idéias básicas sobre as técnicas e métodos de ensino da natação, em geral, e da braçada do nado peito, em particular. Mas o livro não teve a distribuição que merecia devido às condições sociais que prevaleciam na época, bem como ao objetivo a que se propunha o autor. Foi na Inglaterra, durante o Iluminismo, no final do século XVI, que houve uma difusão mais acentuada da natação como medida de treinamento para adquirir preparo físico. LOCKE, BASEDOW e SALZMANN foram os principais incentivadores deste movimento. Os trabalhadores das salinas de Halle, na Alemanha, contribuíram grandemente para o desenvolvimento da natação nesse período. Quando ficavam desempregados, eles trabalhavam como pescadores e barqueiros e, em conseqüência do seu contínuo contato com a água, desenvolveram o gosto pela natação. Levavam seus filhos para nadar no Rio Saale assim que completavam três anos. Esses mineiros influenciaram mais a prática da natação, por outros setores da população, do que os teóricos humanistas. A abertura dos primeiros banhos públicos em Paris, Europa Central e Ocidental datam deste período e conforme foi se desenvolvendo o modo de vida capitalista, a humanidade estimulada por pesquisadores, educadores e médicos, começou a dar mais atenção para educação física dos jovens da classe média. A natação, que tinha sido praticada clandestinamente durante muito tempo, foi novamente reconhecida com um excelente método de treinamento físico e seu ensino foi novamente introduzido nas instituições educacionais. As atividades de GUTS MUTHS tiveram uma influência positiva no desenvolvimento da natação no final do século XVIII. Ao analisar de forma criativa as experiências dos trabalhadores das salinas de Halle, ele encontrou um sistema de instrução de natação. Deste modo, GUTS MUTHS passou da teoria para a prática, ensinando e difundido a prática da natação a ponto de organizar as primeiras competições. Estas eram parecidas com as provas de pentatlo militar de hoje, com obstáculos e mergulhos, no sentido de salientar o aspecto utilizado. GUTS MUTHS desejava ver a natação converter-se em componente fundamental da educação. 2. DESENVOLVIMENTO DA NATAÇÃO COMO DESPORTO O desenvolvimento da natação como desporto está intimamente ligado ao desenvolvimento dos meios de produção. A Inglaterra, país mais desenvolvido industrialmente no século XIX, posicionou-se na vanguarda no que diz respeito à prática dos desportos modernos. Em meados daquele século, foram criados em Londres clubes desportivos de remo e natação. Data de 1855 a fundação do Clube de Natação da Universidade de Cambridge e de 1869, a Associação de Natação Amadora da Inglaterra. Em 1896, ressurgem os Jogos Olímpicos, por obra do BARÃO DE COUBERTIN, com a disputa de provas de natação. Nestes jogos, realizados em Atenas, ocorreram apenas quatro provas, todas no mar e com chegada na praia, a dos 100 e a dos 1200 metros nado livre, vencidas pelo húngaro ALFRED HAJOS, a dos 500 metros livre, vencida pelo austríaco PAUL NEWMAN e a prova de 100 metros para marinheiros vencida pelo grego IOANNIS MALOKINIS. As provas tinham início quando os competidores pulavam de um barco em direção à praia. Nos jogos de Paris, em 1900, as provas foram disputadas em uma piscina flutuante de 100 metros, montada nas águas do Rio Sena, sendo todas a favor da corrente. Houve provas de 200 e 1000 metros livre, de 200 metros costas, de 200 metros com obstáculos (redes de pescar), de nado
  • 5. 28 submerso e de 200 metros livre por equipes. Foi disputada também a prova de 4000 metros, vencida pelo inglês JOHN ARTHUR JARVIS com o surpreendente tempo de 58’24’’. Em 1904, foram disputadas em um pequeno lago de formas irregulares, construído em Saint Louis, as provas de 100, 200, 400 e 1500 metros livre, 100 metros costas e uma prova de 880 jardas de nado livre. A partida era dada em uma prancha flutuante. Em 1908, nos jogos de Londres, as provas de natação passaram a ser disputadas em uma piscina de 100 metros de comprimento. Com a finalidade de unificar as regras e criar um foro para reuniões internacionais, líderes das oito nações que mais se destacavam nas competições do desporto (Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Hungria e Suécia) encontraram-se, em 19 de julho de 1908, no Hotel Manchester, em Londres, por ocasião dos jogos olímpicos e resolveram criar a Federação Internacional de Natação Amadora (FINA). A prioridade das discussões era clara: padronizar as regras da natação, manter um controle atualizado dos recordes mundiais, garantir a direção e arbitragem imparcial das competições olímpicas e divulgar o desporto pelo mundo. Atualmente a FINA tem mais de cem organizações nacionais filiadas e suas principais tarefas são: - organizar e controlar as competições internacionais de natação, polo aquático, nado sincronizado e saltos ornamentais; - manter uma lista de recordes mundiais e continentais; - estabelecer estatutos e regras uniformes de competição. Em 1912, pela primeira vez, foram disputadas provas femininas, com a australiana F. DURAK vencendo a prova dos 100 metros livre e a equipe da Grã-Bretanha alcançando o triunfo nos 4 X 100 metros livre. A humanidade foi então adquirindo um interesse progressivo pelos desportos e muitos jovens inclinaram-se pela natação que tornou-se muito popular pois proporcionava grande prazer com pouco gasto. Nos Jogos Olímpicos, atualmente, em cada bateria, competem na piscina, no máximo oito nadadores. Nas provas de 50, 100 e 200 metros, são disputadas baterias preliminares, semifinais e final e nas provas de 400, 800 e 1500 metros são disputadas somente as preliminares, sendo classificados para a final os competidores com os oito melhores tempos. A natação olímpica segue um programa com 32 provas, que são as seguintes: • 1. 100m costas masculino • 2. 100m costas feminino • 3. 100m peito feminino • 4. 100m peito masculino • 5. 100m borboleta masculino • 6. 100m borboleta feminino • 7. 100m livre feminino • 8. 100m livre masculino • 9. 1500m livre masculino • 10. 200m costas masculino • 11. 200m costas feminino • 12. 200m peito feminino • 13. 200m peito masculino • 14. 200m borboleta masculino • 15. 200m borboleta feminino • 16. 200m livre feminino • 17. 200m livre masculino • 18. 200m medley masculino • 19. 200m medley feminino • 20. 400m livre feminino • 21. 400m livre masculino • 22. 400m medley masculino • 23. 400m medley feminino • 24. 4x100m livre masculino • 25. 4x100m livre feminino • 26. 4x100m medley masculino • 27. 4x100m medley feminino • 28. 4x200m livre feminino • 29. 4x200m livre masculino • 30. 50m livre masculino • 31. 50m livre feminino • 32. 800m livre feminino 3 - DESENVOLVIMENTO DOS NADOS Existem documentos escritos e outras formas de arte que demonstram que estilos muito parecidos com as atuais técnicas de natação eram usados na antigüidade. Na “Odisséia”, de HOMERO, há a descrição de uma técnica muito parecida com a atual braçada de peito. Os nados crawl e costas, também são descritos em algumas crônicas do passado. O desenvolvimento dos nados e suas técnicas foi totalmente prejudicado durante a Idade Média, quando prevalecia o culto à alma. Foi durante o renascimento que ressurgiu o interesse pela natação. Supõe-se que os movimentos descritos no livro “Colymbetes” são imitações dos realizados por uma rã na água e semelhantes ao nado peito. Nas escolas de natação existentes à beira de rios e lagoas, ensinava-se o que hoje é chamado nado peito. Naturalmente, este modo era empregado nas provas. No afã de aumentarem a velocidade, os nadadores inclinavam-se para um dos lados, realizando a braçada de peito de lado (side-stroke). A
  • 6. 29 próxima modificação foi a retirada do braço superior em sua recuperação para diminuir a resistência da água, formando o “over-arm-side-stroke”. Em ambos o movimento das pernas era a tesourada. Em 1893, J. ARTHUR TRUDGEON, oficial da Marinha Inglesa, levou para toda Europa uma nova técnica de natação utilizada por nativos da América do Sul, na qual os braços realizavam movimentos alternados por sobre a superfície enquanto o movimento de pernas continuava sendo a tesourada. No início do século XX, este estilo evoluiu quando o australiano FREDERICK CAVILL, por acaso, notou que, com as pernas amarradas nadava-se melhor que fazendo o uso da tesourada. Ao mesmo tempo, outro australiano, ALLEC WICKHAM, copiou um movimento alternado de pernas de nativos do Sri Lanka e, em 1906, lançou no Festival de Natação de Hamburgo, o crawl australiano, um nado de braçada alternada coordenado com um movimento de pernas que agitavam-se fora d’água de forma alternada. Além do crawl australiano, há o americano, criado em 1912 por DUKE KAHANAMOKU. Neste nado, a pernada alternada é realizada com ambos os pés submersos. Essa técnica tem sobrevivido até hoje. O nado de costas tem se desenvolvido desde o século XVIII. GUTS MUTHS o ensinou junto com o nado peito durante seus mais de 30 anos de ensino da natação. Os movimentos de pernas eram simultâneos e assemelhavam-se aos usados no nado peito. A braçada era simultânea, os braços eram sacados pelos lados fora d’água e lançados vigorosamente por sobre os ombros. Segundo foi-se conhecendo o nado crawl em princípios do século XX, o nado costas foi evoluindo para o crawl de costas. O americano HEBNER foi quem utilizou esta técnica pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912. A partir daí, o crawl de costas foi sendo mais utilizado em competições e suas características básicas permanecem inalteradas desde então. O nado borboleta começou a se desenvolver na década de 30, idealizado pelo norte-americano HENRY MEYERS, nadador de peito, que buscava novas formas de obter melhores resultados. Os nadadores de peito da época começaram a mover os braços além dos quadris para em seguida lançá- los por cima d’água em direção à parede, imediatamente antes de fazer a virada ou a chegada. Esta série de movimentos recebeu o nome de borboleta que somente era nadada em distâncias curtas, principalmente no começo e final das provas de peito. A evolução dos métodos de treinamento capacitou os atletas a nadarem maiores distâncias utilizando a braçada borboleta nas provas de nado peito, correndo o risco do nado peito, mais lento, desaparecer. JACK SIEG, nadador americano, introduziu um movimento de pernas no qual os dois pés batiam simultaneamente acima e abaixo, como um movimento de golfinho. Ao coordenarem o movimento de golfinho com a braçada da borboleta, criou-se o nado borboleta. Em 1953, a FINA criou provas para o nado borboleta, separando-o do nado peito. Os esforços para aumentar a velocidade do nado peito não pararam por aí. Os japoneses propagaram um estilo no qual submergiam por uma distância considerável durante as provas de nado peito. Depois de submergir, o nadador empurrava os braços além dos quadris, recupera-os próximos ao corpo e os estendia à frente. A ação das pernas permanecia inalterada, o que veio modificar a braçada ortodoxa. A partir de maio de 1957, a FINA proibiu a imersão prolongada e introduziu regras mais rígidas para o nado peito. A braçada além dos quadris, conhecida atualmente como “filipina”, só pode ser realizada após a saída e a cada virada. A cabeça deve ferir a superfície a cada braçada. A cada ano, surgem inovações nos detalhes dos estilos de natação, que contribuem para a melhoria das marcas e evolução do desporto. Os grandes centros de treinamento da Austrália e dos Estados Unidos contam com uma jóia da tecnologia: o sistema de análise de biomecânica. São câmeras adaptadas a processadores, que mapeiam os trabalhos de pernas e braços dos nadadores e ajudam a aprimorar braçadas e pernadas. Hoje, os melhores atletas de nado crawl iniciam a braçada mergulhando a mão para frente e depois realizando a “remada”. Antes, o braço batia na superfície da água. 4. A NATAÇÃO NO BRASIL No Brasil, a natação é uma prática anterior à própria descoberta do País. Como em todo o mundo, as necessidades de seus habitantes primitivos, na luta pela sobrevivência, na caça e na pesca fizeram desenvolver uma rudimentar natação, que era bastante praticada nos rios, lagoas e costa litorânea.
  • 7. 30 Decorreram quatro séculos até que a natação começasse a se organizar como esporte. Somente em 1898, após a fundação dos primeiros clubes, foi promovido o primeiro Campeonato Brasileiro de Natação, constituído de uma única prova de 1500 metros. Esta prova foi disputada com regularidade até 1912 por iniciativa do Clube de Natação e Regatas do Rio de Janeiro e realizada no trecho compreendido entre a Fortaleza de Villegaignon e a praia de Santa Luzia. Em 1901, a Federação Brasileira de Sociedades de Remo, criada pelos clubes Botafogo, Gragoatá, Flamengo e Icaraí; promoveu a sua primeira competição, agora na Enseada de Botafogo com chegada em frente ao Pavilhão do Mourisco. O nadador ABRÃO SALITURI venceu a prova de 1500 metros nado livre. Na ocasião foram disputadas as provas de 100 metros para estreantes, 600 metros para seniors e 200 metros para juniors. Desde 1908, quando ABRÃO SALITURI venceu as provas de 100 e 500 metros em Montevidéu, o Brasil ocupa lugar de relevo na natação sul-americana. A partir de 1916, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) passou a patrocinar os campeonatos brasileiros. A primeira piscina de competição inaugurada no Brasil foi a do Fluminense Futebol Clube, em 1919. Quatro anos mais tarde surgiram as da Associação Atlética São Paulo e do Clube Atlético Paulistano. Antes disso, os cariocas nadavam na Enseada de Botafogo e os paulistas no Rio Tietê. Em 1924, é organizada a primeira travessia de São Paulo a nado no Rio Tietê, numa distância de 7.200 m. Nessas travessias o número de participantes sempre foi muito elevado. A primeira participação brasileira em desportos aquáticos em jogos olímpicos ocorreu em 1920, quando ADOLFO WELLISH conquistou o 8º lugar na prova de mergulho simples (saltos ornamentais) e a equipe de pólo-aquático conquistou a 6ª colocação. Na natação, o primeiro resultado de vulto foi o 7º lugar na prova de 4 X 200 metros livre, nos jogos olímpicos de 1932, conquistado por MANOEL LOURENÇO SILVA, ISAAC DOS SANTOS MORAES, MANOEL ROCHA VILAR e BENEVENUTO MARTINS NUNES. O nome da paulistana MARIA EMMA HULDA LENK ZIGLER, filha de alemães imigrantes, está definitivamente colado à história da natação, sendo a primeira mulher da América do Sul a participar dos jogos, em 1932. Ela é responsável pela introdução do nado borboleta feminino, nos jogos de 1936, ousando adotar o estilo numa competição de peito. Foi eliminada nos 100 metros livre e de costas e não passou da semifinal dos 200 metros peito, mas seu exemplo perpetuou-se nos jogos seguintes. A nadadora estava em excelente forma para disputar uma medalha de ouro em 1940, em Tóquio, mas a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, cancelou a competição e interrompeu o seu sonho. Nos jogos de 1936, PIEDADE COUTINHO AZEVEDO acabou a prova de 400 metros livre em 5º lugar. Em 1948, houve uma grande participação brasileira nas finais da natação, WILLY OTTO JORDAN foi o 6º colocado nos 200 metros peito, PIEDADE COUTINHO AZEVEDO foi a 6ª nos 400 metros livre, a equipe composta por ELEONORA SCHMITT, MARIA LEÃO DA COSTA, TALITA DE ALENCAR RODRIGUES e PIEDADE COUTINHO AZEVEDO foi 6ª colocada nos 4 X 100 metros livre e a equipe composta por SÉRGIO ALENCAR RODRIGUES, WILLY OTTO JORDAN, ROLF KASTENER EGON e ARM BOGOSSIAN foi 8º colocada nos 4 X 200 metros livre. O primeiro nadador medalhista olímpico do Brasil foi TETSUO OKAMOTO, conquistando o bronze nos jogos de 1952, em Helsinque, na prova dos 1500 m, êxito repetido por MANUEL DOS SANTOS, nos Jogos de 1960, em Roma, ao ganhar também a medalha de bronze nos 100 metros livre. MANOEL DOS SANTOS projetaria ainda mais o Brasil, estabelecendo o recorde mundial dos 100 metros livre em 1961, com o tempo de 53,6 segundos, marca que perduraria por três anos. Em 1958, a natação de águas abertas desponta com ABÍLIO COUTO. Após algumas tentativas frustradas no ano anterior, ABÍLIO voltava à Inglaterra para ser o primeiro brasileiro a atravessar a nado o Canal da Mancha, tornando-se um dos primeiros mitos da natação brasileira. A fama de ABÍLIO COUTO viria a crescer ainda mais no ano seguinte, quando nadou de Dover, na Inglaterra, a Wissant, na França, realizando sua segunda travessia na prova mais importante da modalidade. E não foi só isso, ABÍLIO fez o tempo de 12h49’ tornando-se então o recordista mundial da travessia do Canal da Mancha, no sentido Inglaterra-França. Após 14 dias de bater o recorde mundial, ele retornou para o Canal para realizar sua última travessia, e a fez. Mas vale lembrar que essa travessia era a prova do Campeonato Mundial de Natação em Águas Abertas, e ABÍLIO, ainda amador, não só entrou na competição como também venceu todos os profissionais, tornando-se, no mesmo ano, recordista mundial e campeão mundial do Canal da Mancha. Em 1979, a nadadora brasileira KAY FRANCIS, então com 16 anos, tornou-se a primeira nadadora sul americana a conseguir tal façanha. Nos jogos de 1968, JOSÉ SYLVIO FIOLO foi o 4º colocado nos 100 metros peito. Em 1972, FIOLO foi o 6º colocado na mesma prova e 5º colocado na prova de 4 X 100 metros medley, juntamente
  • 8. 31 com RÔMULO DUNCAN ARANTES, SÉRGIO WAISMANN e JOSÉ ROBERTO DINIZ ARANHA. Nos mesmos Jogos, a equipe brasileira de 4 X 100 metros livre composta por RUY AQUINO OLIVEIRA, PAULO ZANETTI, PAULO BERCSKEHAZY e JOSÉ ROBERTO DINIZ ARANHA conquistou o 4º lugar. DJAN MADRUGA GARRIDO foi um atleta fora dos padrões sul-americanos. Participou dos jogos de 1976, obtendo o 4º lugar nas provas de 400 e 1500 metros livre e, nos jogos de 1980 obteve a consagração plena nas piscinas, conquistando o 4º lugar nos 400 metros livre, o 5º lugar nos 400 metros medley e a medalha de bronze no revezamento 4x200m junto com CIRO MARQUES DELGADO, MARCUS LABORNE MATTIOLI e JORGE LUIZ FERNANDES. Em 1980, foi relevante também o 8º lugar na prova de 4 X 100 metros medley conquistado por RÔMULO DUNCAN ARANTES, SÉRGIO PINTO RIBEIRO, CLÁUDIO MAMEDE KASTENER e JORGE LUIZ FERNANDES. RICARDO PRADO teve sua primeira participação em Moscou e, em 1982, estabeleceu o recorde mundial na prova dos 400 metros medley, em Guaiaquil, Equador. Em Los Angeles, chegou como um dos favoritos da sua especialidade, mas acabou ganhando a medalha de prata, com o canadense ALEX BAUMANN batendo o recorde mundial da prova. Teve também um excelente resultado na prova de 200 metros costas, na qual foi 4º lugar. Los Angeles foi sua última participação em jogos olímpicos, pois abandonou as competições muito precocemente. Em Seul, tem sua primeira participação olímpica ROGÉRIO ROMERO que, em seus cinco jogos olímpicos disputados teve como melhores resultados o 8º lugar em 1988 e o 7º lugar em 2000 na prova dos 200 metros costas. Em 1992, GUSTAVO BORGES, o maior nadador olímpico brasileiro de todos os tempos, ganhou a medalha de prata na prova de 100 metros livre, foi 6º lugar nos 4 X 100 metros livre juntamente com JOSÉ CARLOS SOUZA JÚNIOR, EMMANUEL NASCIMENTO e CRISTIANO MICHELENA e foi 7º lugar nos 4 X 200 metros com EMMANUEL NASCIMENTO, CRISTIANO MICHELENA e TEÓFILO FERREIRA. Em 1996, nos jogos de Atlanta, O Brasil teve a sua melhor participação na história olímpica da natação, com GUSTAVO BORGES alcançando a prata nos 200 metros livre e o bronze nos 100 metros livre e FERNANDO SCHERER ganhando o bronze nos 50 metros livre. Além destes resultados, são importantes o 5º lugar de FERNANDO SCHERER nos 100 metros livre e o 4º lugar da equipe composta por FERNANDO SCHERER, GUSTAVO BORGES, ALEXANDRE MASSURA e ANDRÉ CORDEIRO nos 4 X 100 metros livre. Em 2000, o Brasil conquistou a medalha de bronze na prova dos 4 X 100 metros livre com o tempo de 3’17”40, sendo a equipe composta por FERNANDO SCHERER, GUSTAVO BORGES, CARLOS JAYME e EDVALDO VALÉRIO SILVA FILHO. Uma grande promessa, THIAGO PEREIRA, que figurava como o 3º e 10º colocado no ranking da FINA para as provas de 200 e 400 metros medley respectivamente, não subiu ao pódium. Nesta ocasião, GUSTAVO BORGES, tornou-se o único brasileiro a conquistar quatro medalhas olímpicas. Nos Jogos Olímpicos de 2004, Atenas – Grécia, a equipe brasileira não conquistou nenhuma medalha, terminando na 21ª colocação. Thiago Pereira, após conquistar o título mundial nos 200 metros medley, em piscina curta, foi a Atenas com grande expectativa de medalha, contudo, foi apenas finalista nesta prova, obtendo o 5º lugar. Cabe merecido destaque à equipe feminina, que através de uma renovação fez surgir nomes como Joana Maranhão e Flávia Delaroli, que chegaram, respectivamente, às finais dos 400 metros medley e 50 metros livres. A equipe feminina também conseguiu participar da final do revezamento 4 x 100 metros livre. A partir de 2004, com o declínio e fim das carreiras de Gustavo Borges, Fernando Scherer e Rogério Romero, a natação brasileira passou a depositar sua confiança em uma nova geração. Em 2007, nos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007, foi superada a melhor campanha brasileira em Jogos Pan-Americanos, que havia ocorrido em Santo Domingo – 2003 (21 medalhas, sendo 03 de ouro, 06 de prata e 12 de bronze). Neste Pan, realizado na cidade do Rio de Janeiro, o Brasil conquistou 27 medalhas (12 de ouro, seis de prata e nove de bronze). O nadador Thiago Pereira, a grande estrela dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, conquistou seis medalhas de ouro, sendo o recorde de medalhas de um atleta brasileiro em um único Pan. Segundo a avaliação do Presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes, o grande legado foi a evolução técnica alcançada pela nova geração, onde foram batidos todos os recordes Pan-Americanos e Sul-Americanos, trazendo desta forma maiores esperanças olímpicas para 2008. A natação em Pequim-2008 foi palco para o mundo assistir ao fenômeno Michael Phelps, que se tornou o maior atleta olímpico de todos os tempos ao ganhar oito medalhas de ouro em uma única Olimpíada. Porém para o Brasil, uma medalha já foi suficiente para fazer história. Na memória dos brasileiros, antes de Phelps, os Jogos Olímpicos na China vão fazer lembrar de César Cielo. Com uma
  • 9. 32 vitória nos 50 m livre, ao nadar em 21s30, apenas dois centésimos acima do recorde mundial, ele se tornou o primeiro medalhista de ouro do Brasil nas piscinas. Cielo ainda trouxe na bagagem uma medalha de bronze nos 100 m livre. No ano de 2003, em São Paulo, Cielo passou a treinar com o ídolo que, anos mais tarde, superaria: Gustavo Borges. "O Gustavo é muito atencioso e perfeccionista, ajudou a melhorar minha técnica." Foi o veterano que levou o jovem nadador para Auburn, a universidade em que Cielo se consagrou como um dos maiores velocistas do circuito universitário norte-americano. De Auburn veio outra peça chave na conquista inédita da natação do Brasil em Pequim-2008: o australiano Brett Hawke. Técnico na universidade, ele se integrou à comissão técnica da equipe brasileira a pedido de Cielo, para manter o programa de treinos que o brasileiro fazia nos EUA. Ex- nadador olímpico, Hawke foi sexto em Atenas-2004. O país ainda teve mais uma marca histórica na natação para guardar nesta edição dos Jogos Olímpicos. Ana Marcela, que terminou em quinto lugar na classificação da maratona aquática, igualou a melhor posição de uma brasileira em todas as Olimpíadas já disputadas (Joanna Maranhão foi quinta nos 400 m medley em Atenas-2004). Thiago Pereira, que era esperança depois das medalhas nos Jogos Pan-Americanos, teve como melhor resultado o quarto lugar na final dos 200 m medley. No Campeonato Mundial de Roma 2009, levou o revezamento 4x100m livres do Brasil ao 4º lugar, junto com Nicolas Oliveira, Guilherme Roth e Fernando Silva. Nesta prova, César Cielo abriu com o tempo de 47s09, ficando a 0,04s do recorde mundial de Eamon Sullivan, obtendo o 2º melhor tempo da história dos 100m. livres. Na final dos 100 metros livres, Cielo conquistou o ouro vencendo o campeão olímpico Alain Bernard e batendo o recorde mundial da prova com 46s91, entrando no seleto panteão dos nadadores que obtiveram em suas carreiras ouro olímpico, ouro no mundial e recordes mundiais. Na final dos 50 metros livres, Cielo venceu o recordista mundial Frederick Bousquet e conquistou o ouro com 21s08, batendo o recorde da competição e o sul-americano. O brasileiro entrou para a história da natação, sendo o terceiro atleta a conquistar o ouro nos 50 m livre nos Jogos Olímpicos e no Mundial de forma consecutiva. Somente o russo Alexander Popov e o americano Anthony Ervin haviam conseguido esta marca. E, finalizando, nos 4x100 metros medley, numa disputa onde os 4 primeiros da prova bateram o recorde mundial dos EUA de Pequim 2008, levou o Brasil ao 4º lugar, junto com Guilherme Guido, Henrique Barbosa e Gabriel Mangabeira, muito próximo das medalhas de bronze e prata da prova. Suas duas medalhas de ouro no mundial levaram o Brasil ao melhor desempenho na história dos campeonatos mundiais de esportes aquáticos. Cielo tornou-se o sexto brasileiro a conquistar um recorde mundial em piscina longa na natação, após Maria Lenk, Manuel dos Santos, José Sylvio Fiolo, Ricardo Prado e Felipe França. Em dezembro de 2009, ao participar do Open em São Paulo (última prova oficial com uso dos supermaiôs tecnológicos no Brasil), Cielo bateu o recorde mundial dos 50 metros livres na final, com o tempo de 20s91. No Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta de 2010, Cielo, junto com Nicholas Santos, Marcelo Chierighini e Nicolas Oliveira, ganhou o bronze na prova dos 4x100 metros livres com o tempo de 3m05s74, recorde sul-americano, deixando pra trás a equipe dos EUA. Na prova dos 50 metros livres, Cielo ganhou o ouro com o tempo de 20s51, recorde do continente americano e do campeonato, ficando a apenas 0,21s do recorde mundial de Roland Schoeman (Schoeman bateu o recorde mundial com um supertraje tecnológico, em 2009, quando ele ainda era permitido, ao passo que Cielo fez esta marca sem uso de supertraje). Nos 100 metros livres, Cielo também obteve o ouro com o tempo de 45s74, recorde Sul-Americano e do campeonato. Com isso, Cielo, aos 23 anos de idade, conseguiu unificar os títulos mundiais das duas provas em piscina longa e curta, e se tornou o primeiro brasileiro a obter medalha de ouro nas 5 competições mais fortes da natação das quais um brasileiro pode participar (Olimpíadas, Mundiais de piscina longa e curta, Pan-Pacífico e Pan- Americano). Para completar sua participação no Mundial, Cielo liderou a equipe do 4x100 metros medley à conquista do bronze. Juntamente com Guilherme Guido, Felipe França e Kaio Márcio de Almeida, bateram o recorde sul-americano com o tempo de 3m23s12. No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2011, realizado em Xangai, China, Cielo ganhou o ouro na prova dos 50 metros borboleta com o tempo de 23s10. Na prova dos 100 metros livres, Cielo fez 48s01, melhor tempo de sua vida sem o uso de supertrajes tecnológicos, mas acabou na 4ª posição, a 1 centésimo do bronze e a 6 centésimos da prata. O vencedor da prova foi James Magnussen, que havia surpreendido ao fazer 47s49 na abertura dos 4x100m livres alguns dias antes. No dia 30 de julho, Cielo se tornou bicampeão mundial dos 50 metros livres ao vencer a final com o tempo de 21s52.
  • 10. 33 5 – TECNOLOGIA NA NATAÇÃO “Eu devo admitir que eu tremi de medo ao pensar no que aconteceria se eu tivesse câimbras na água gelada, então minha vontade de viver superou totalmente o meu desejo de vencer”. Esta foi a reação de ALFRED HAJOS quando chegou na praia após vencer a prova de 1200 metros de natação nos jogos de Atenas em 1896. A prova foi disputada na Baía de Zea, os nove nadadores foram transportados de barco e largaram sozinhos em direção à costa com a água a uma temperatura de 13º Celsius. A natação olímpica percorreu um longo e tortuoso caminho até chegar às piscinas de 50 metros com temperatura controlada, raias antiondas, vestuário de última geração e cronometragem eletrônica, atingindo o status de um dos eventos de maior glamour e que atrai mais atenção do público mundial. Nos Jogos Olímpicos de Sydney, conhecidos como os jogos da tecnologia, fabricantes de maiôs buscaram inspiração no fundo do mar para tornar os nadadores mais velozes. O tubarão, maior inimigo dos surfistas, tornou-se o maior aliado dos nadadores olímpicos, já que a textura de sua pele passou a ser copiada por fabricantes de roupas esportivas que acreditaram ter encontrado o modelo ideal de vestuário. Aderentes e com pequenos orifícios para facilitar a passagem da água pelo corpo, os trajes teoricamente podiam melhorar em até 3% o rendimento do atleta, isto é, quase um segundo e meio numa prova de 100 metros livre. Um exagero, mas o equipamento tinha potencial para decidir paradas importantes de centésimos de segundo. Na piscina de Sydney, projetada para facilitar o desempenho, brilharam estrelas que aceleraram a entrada do desporto no novo século. Tais jogos ficarão na História como os jogos da natação, sendo estabelecidos 13 recordes mundiais e 24 olímpicos, volume de proezas só inferior ao registrado em Montreal, com espantosos 21 recordes mundiais e 31 olímpicos, mas num período em que o doping grassava, sobretudo entre as mulheres dos países de regime comunista. Considerada a mais fantástica de todos os tempos, na piscina de Sydney, grandes atletas encontraram as condições ideais para melhoria de suas marcas. A água transbordava em canaletas laterais e voltava pelo fundo, evitando marolas. A água, sem cloro, purificada por ozônio, era mantida entre 26 e 27º Celsius, o recomendado pela Federação Internacional de Natação. A profundidade (2,20 metros) também era a ideal e as raias, de plástico especial, foram desenhadas para amortecer ainda mais as ondas. Mergulhadores faziam a manutenção de frestas e azulejos. Em 2004, o Centro Aquático estava localizado no Complexo Olímpico Esportivo de Atenas, onde foram realizadas as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas 2004. O local recebeu competições de Natação, Pólo-Aquático, Nado Sincronizado e Saltos Ornamentais, em três piscinas, duas ao ar livre com arquibancada para 11 mil e seis mil pessoas. A interna para cinco mil espectadores. As provas de Natação e as partidas de Pólo-Aquático realizaram-se nas piscinas externas e as de Nado Sincronizado, Pólo- Aquático e Saltos Ornamentais, na interna. A tecnologia está intimamente ligada à melhoria das marcas e resultados obtidos pelos atletas profissionais. Entre as inúmeras inovações colocadas em prática nos últimos anos, uma das mais importantes foi o surgimento de novos maiôs para a natação. Imagine que em 1900 os maiôs utilizados pelos nadadores pesavam cinco quilos. Foi a Speedo que fabricou os primeiros maiôs de seda, mudando completamente o conceito da natação. Na década de 50, a empresa volta a inovar e fabrica o primeiro maiô de nylon lycra. A nova guinada para a natação de competição aconteceu nas Olimpíadas de Barcelona (1992), quando a Speedo mudou o conceito dos maiôs, acabando com o conceito de que quanto menos roupa, melhores resultados seriam alcançados. O modelo revolucionário chamava-se S 2000 e caracterizava-se por ser feito de microfibra e elastano, cobrindo mais o corpo. Passados quatro anos, nas Olimpíadas de Atlanta (1996) é lançado o maiô Aquablade. O modelo representava uma novidade, apresentando menor resistência na água, se comparado à pele humana. Após quatro anos de trabalho, que contou com o apoio do Museu de Ciências Naturais de Londres, equipes formadas por técnicos especializados em várias áreas e um grupo de elite de nadadores, todos campeões olímpicos e mundiais, desenvolveram um novo maiô para competição. A missão principal era fabricar um produto mais rápido e melhor. O foco foi tomado a partir da observação da natureza. Os estudos direcionaram-se para o tubarão, que é a criatura mais rápida na
  • 11. 34 água. Chegou à piscina o Fast Skin. O conceito do novo maiô foi totalmente aprovado pela Federação Internacional de Natação (FINA), em novembro de 1999. Imediatamente os resultados começaram a surgir. Nas Olimpíadas de Sydney (2000), 13 dos 5 recordes mundiais foram quebrados por nadadores que utilizavam o Fast Skin, além de 83% do total de medalhas das provas terem sido conquistados por quem usava este maiô. O sucesso foi repetido novamente no Campeonato Mundial de Natação de 2001, em Furuoka - Japão - quando 87% das medalhas foram conquistadas pelos nadadores que usavam o Fast Skin. Apesar de todo o sucesso do Fast Skin, a Speedo desenvolveu um produto sucessor, que foi lançado próximo da Olimpíada de 2004, em Atenas. Foi o ultratecnológico LZR Racer, da Speedo. A roupa foi desenvolvida com ajuda da Nasa, a agência espacial americana. O resultado foi um maiô muito leve e sem costuras, apenas com um zíper nas costas. O maiô agia como um teflon, repelindo água e reduzindo as vibrações musculares, mantendo a forma hidrodinâmica. Além disso, painéis de poliuretano foram colocados em lugares estratégicos para diminuir o atrito entre a água e o corpo. Entre os destaques dos maiôs tecnológicos, está o X-Glide, da marca alemã Arena. Cesar Cielo utilizou no Mundial de Natação de Roma (2009). Foi desenvolvida em tecido compósito formado por três camadas: a interna, permite liberdade de movimentos e compressão dos músculo, garantindo alta performance. A camada intermediária, de liga metálica de titanium, garantindo estabilidade da temperatura do corpo do atleta, e a membrana exterior totalmente impermeável, reduzindo o atrito da água com o tecido As roupas tecnológicas foram usadas em larga escala nos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. Em 2010, a Federação Internacional de Natação (FINA) tomou uma decisão muito importante para a modalidade: os maiôs tecnológicos foram banidos das piscinas. A FINA colocou como regra o uso de materiais têxteis, tendo forma, flutuabilidade e grossuras determinados: quanto ao tamanho, para os homens, não podem passar da cintura, e nem dos joelhos, ou seja, de maiô passou para bermuda. O nível de flutuação também mudou para no máximo 0,5 Newton, e a espessura, de 1mm para no máximo 0,8mm. Zíperes e mecanismo de fechamento também foram vetados. A partir da decisão, só o tradicional maiô para mulheres, com tecidos “normais” sem acabamentos impermeáveis, foram permitidos. 6 – GRANDES ATLETAS Grandes atletas contribuíram de maneira significativa para o desenvolvimento e evolução da natação. De nada valeriam os progressos tecnológicos se não surgissem o que, comumente, se chama de heróis olímpicos. Entre tantos, alguns podem ser destacados, como HAJOS, WEISSMULLER, SCHOLLANDER, SHANE GOULD, SPITZ, SALNIKOV, GROSS, JANET EVANS, BIONDI, POPOV, THORPE, HOOGENBAND e MICHAEL PHELPS. ALFRED HAJOS tinha 13 anos quando se sentiu motivado a se tornar um bom nadador, depois que seu pai se afogou no Rio Danúbio. HAJOS venceu as provas de 100 e 1200 metros livres, no mesmo dia, nos jogos de 1896, sagrando-se o primeiro campeão da natação olímpica. JOHNNY WEISSMULLER, norte-americano reconhecido, ainda hoje, como o melhor Tarzan do cinema, escreveu seu nome na história esportiva como o primeiro homem a nadar os 100 metros em menos de um minuto. Participou dos jogos de 1924 e 1928 e abandonou as piscinas com quatro medalhas de ouro olímpicas. Em 12 anos nas piscinas, estabeleceu 67 recordes mundiais e é considerado, o melhor nadador da primeira metade do século. DONALD DON SCHOLLANDER foi um dos grandes nadadores do nado livre da história. Aos 18 anos, nos jogos de 1964, foi o primeiro nadador da história olímpica a conquistar quatro medalhas de ouro nos mesmos jogos. SCHOLLANDER foi o primeiro homem da história a nadar os 200 metros abaixo dos 2 minutos. SHANE GOULD, da Austrália, foi um fenomenal talento da natação, vencendo, com apenas 15 anos, em 1972, as provas de 200 e 400 metros livre e 200 metros medley, além de ganhar a prata nos 800 metros livre e o bronze nos 100 metros livre. Retirou-se precocemente em 1973, com apenas 16 anos, tornando-se uma das maiores lendas olímpicas. MARK ANDREW SPITZ disputou os jogos de 1968 e 1972. Os jogos de 1972 foram os jogos de Spitz, que ganhou sete medalhas de ouro (atleta com maior número de medalhas de ouro numa mesma edição) e bateu recorde em todas as provas que disputou. Venceu os 100 e 200 metros borboleta, 100, 200, 4 X 100 e 4 X 200 metros livre e 4 X 100 metros medley. VLADIMIR SALNIKOV, nadador russo de provas longas, participou dos jogos de Montreal (1976), ganhou três medalhas de ouro em Moscou (1980), nas provas de 400, 1500 e 4 X 200 metros
  • 12. 35 livre, baixando pela primeira vez na história a barreira dos 15 minutos nos 1500 metros (14’58’’27). Não pôde participar de Los Angeles por causa do boicote e, em Seul, chegou completamente desacreditado, com 28 anos, e um péssimo retrospecto. Chegou à final dos 1500 metros livre e, na final, na marca dos 625 metros, assumiu a liderança para não perder mais. Foi o mais velho campeão olímpico dos últimos 56 anos. Medindo 2,01 m de altura e 2,11 m de envergadura, MICHAEL GROSS ficou conhecido como o albatroz. Representou a Alemanha Ocidental em 1984 e 1988. Em Los Angeles ganhou o ouro nos 200 metros livre e 100 metros borboleta (em ambas, bateu recorde mundial) e prata nos 200 metros borboleta e 4 X 200 metros livre. Em 1988, venceu a prova de 200 metros borboleta e ganhou o bronze nos 4 X 200 metros livre. JANET EVANS é maior nadadora de longa distância de todos os tempos. Sua primeira participação olímpica foi em 1988, onde venceu os 400 e 800 metros livre e 400 metros medley. Em 1992, defendeu o título dos 800 metros livre com sucesso e chegou em segundo lugar nos 400 metros livre. Em Atlanta, teve participação discreta, mas suas marcas mundiais nas provas de 400 e 800 metros livre perduraram de 1988 a 1999. MATTHEW NICHOLAS BIONDI é considerado o melhor nadador de crawl de todos os tempos. Nos jogos de 1984, ganhou o ouro nos 4 X 100 metros livre como terceiro membro da equipe recordista mundial. Em Seul, ganhou sete medalhas, cinco de ouro (50, 100, 4 X 100 e 4 X 200 metros livre e 4 X 100 metros medley), uma de prata (100 metros borboleta) e uma de bronze (200 metros livre). Em 1992 ganhou o ouro nos 4 X 100 metros livre e a prata nos 50 metros livre. O russo ALEXANDER POPOV dominou as provas curtas dos anos noventa. Em 1992, venceu as competições de 50 e 100 metros livre e, em 1996, venceu as mesmas provas. Sua última participação foi em Sydney, onde conquistou a prata nos 100 metros livre. Em 2000, IAN THORPE, adolescente de 17 anos, ganhou medalha de ouro nos 400 metros livre e nas provas de revezamento 4 x 100 e 4 x 200 metros livre, mas foi surpreendido na prova de 200 metros livre. Na raia ao seu lado, um nadador holandês, PIETER VAN DEN HOOGENBAND, tranqüilo e suficientemente veloz para vencer o invencível THORPE e estabelecer nova marca mundial para a prova (1’45’’35). O holandês derrotou também POPOV nos 100 metros livre e baixou, pela primeira vez na história a marca dos 48 segundos da prova, nas semifinais (47’’84), roubando completamente o show dos jogos. Nas provas femininas o grande destaque foi a holandesa Inge de Bruinj que conquistou medalhas de ouro e três recordes mundiais nas provas de 100 metros borboleta, 50 e 100 metros crawl. O nadador Eric Moussambani, da Guine Equatoriana, na África, emocionava Sydney e tornou-se um símbolo dos Jogos Olímpicos. O atleta de 22 anos, participou da 1ª eliminatória, além de Moussambani estavam o nigeriano Karim Bare e Farkwood Oripov, do Tadjiquistão. Os dois queimaram a largada e foram desclassificados. Sozinho na piscina, Moussambani, demonstrou a habilidade de quem aprendeu a nadar em janeiro de 2000, sendo sua primeira vez em uma piscina de 50 metros. A cada braçada os espectadores não paravam de aplaudir. Quando saiu da piscina exausto ao completar a prova com o tempo de 1’52”72, foi tratado pelo público como um verdadeiro campeão. Em 2004, MICHAEL FRED PHELPS II, estabeleceu o recorde de conquistar 08 medalhas olímpicas, sendo seis de ouro. As provas disputas foram os 200 metros livre, 100 metros borboleta, 200 metros borboleta, 200 metros medley, 400 metros medley, revezamento 4 x 100 metros livre, 4 x 200 metros livre e o 4 x 100 metros medley. Nas prova de 4 x 100 metros livre e na prova de 200 metros livre conquistou o bronze. Em 16 de agosto de 2004, foi realizada a prova do século os 200 metros livre, onde o australiano IAN THORPE, o holandês PIETER VAN DEN HOOGENBAND e o fenômeno MICHAEL PHELPS conquistaram o ouro, prata e bronze respectivamente. Quando as provas de natação das Olimpíadas de Pequim terminaram, os Estados Unidos somavam apenas 16 ouros no quadro de medalhas. Destes, 12 vinham da modalidade, sendo oito, de Michael Phelps. O desempenho dos EUA na piscina do Cubo D'Água foi impressionante. Das 32 medalhas de ouro em disputa, os nadadores da terra do Tio Sam conquistaram 37% delas, sem contar as nove de prata e dez de bronze, somando 31 pódios no total. Em segundo lugar veio a Austrália, com apenas seis ouros e 20 medalhas no total. "É um orgulho fazer parte dessa equipe. Esse é o time mais unido com o qual já nadei", declarou Phelps, após conquistar sua oitava medalha de ouro nos Jogos e quebrar a marca de Mark Spitz, dono de sete títulos olímpicos em Munique-1972. Antes, o fenômemo já tinha quebrado a marca de mais ouros em mais de uma edição dos Jogos - ele fechou sua campanha na China com 14 no total. Além disso, se tornou o nadador com mais recordes mundiais da história, com 25 marcas individuais quebradas.
  • 13. 36 A norte-americana Dara Torres, por exemplo, conquistou três medalhas aos 41 anos, 24 anos depois de sua primeira vez em um pódio olímpico. Ela era 25 anos mais velha do que a mais jovem medalhista, Cate Campbell, da Austrália. Já o australiano Eamon Sullivan e a norte-americana Katie Hoff deixam a China como os grandes perdedores dos Jogos Olímpicos. Sullivan chegou em Pequim como o nadador mais rápido do planeta, mas saiu dos Jogos sem nenhuma medalha de ouro - ao menos seus recordes mundiais dos 100 m e os 50 m livre ficaram intactos. Ele foi superado na final dos 100 m pelo francês Alain Bernard e na dos 50 m por César Cielo. Já Hoff chegou aos Jogos como o similar feminino de Michael Phelps. Nadou em seis eventos e conquistou três medalhas, nenhuma delas de ouro. 7. QUESTIONÁRIO 1) Descreva como surgiu a natação no Brasil e sua evolução até os dias de hoje. 2) Cite três personalidades que se destacaram na natação brasileira com seus respectivos feitos. 3) Descreva como ocorreu a evolução dos nados e o desenvolvimento da natação como desporto. 4) Quais os órgãos que regulam a natação em âmbito internacional, nacional e estadual? 5) Quais as provas que constam, atualmente, no programa da competição de natação dos jogos olímpicos (masculinas e femininas)? 6) Cite três atletas que se destacaram na natação mundial com seus respectivos feitos. 7) Explique qual a causa do bom desempenho das equipes de natação dos Estados Unidos e Austrália em Jogos Olímpicos.
  • 14. 37 CAPÍTULO II APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO 1. GENERALIDADES O desenvolvimento de um País está intimamente ligado à educação do seu povo, e não se pode esquecer que a educação física e a prática dos desportos são comprovadamente importantes para consecução deste objetivo. Segundo a FINA, natação é a ação de autopropulsão e auto-sustentação na água que o homem aprendeu por instinto ou observando os animais. Natação pode ser definida como o ato ou efeito de nadar. Nadar, por sua vez, significa uma sucessão de movimentos conscientes ou não, realizados pelo indivíduo ou animal, que lhe permitirá deslocar-se ou manter-se sobre ou sob o meio líquido, apoiando- se exclusivamente neste. Após pesquisas realizadas, onde foram consultados psicólogos, sociólogos, fisioterapeutas, professores de educação física e médicos; foi a atividade aquática que obteve maior grau de avaliação em relação às demais, ao somarem os valores atribuídos às qualidades aprimoradas e desenvolvidas em cada desporto. Sendo a natação um esporte completo, deve-se dar oportunidade a todos de praticá-la, principalmente às crianças. 2. ASPECTOS DA NATAÇÃO a. Aspecto Desportivo A natação é uma atividade física agradável, por meio da qual se pode adquirir boa coordenação de movimentos e desenvolver as grandes funções orgânicas. Apresenta a grande vantagem de poder ser praticada em qualquer idade. Não apresenta limite de idade para a sua aprendizagem, sendo portanto, uma atividade ideal para crianças, jovens e idosos; homens ou mulheres. Sendo um desporto individual, torna o seu praticante capaz de agir por si; concorrendo para aprimorar a sua personalidade. A força de vontade, persistência, resistência ao esforço e o espírito esportivo são constantemente postos à prova, possibilitando ao nadador uma formação moral elevada. b. Aspecto Utilitário Sob este aspecto, a natação torna-se das mais importantes dentre as atividades físicas. O homem, por um atavismo milenar, está adaptado à terra, o mesmo não acontecendo em relação à água, necessitando por isso de uma aprendizagem orientada para sobreviver no meio aquático. Um indivíduo que sabe nadar tem consigo um seguro de vida que, em determinadas situações, lhe valerá a própria existência e, às vezes, garantirá a vida de outros que não tiveram a oportunidade de aprender a nadar. As últimas guerras vieram demonstrar plenamente a eficiência da natação no preparo de ações militares. Várias operações de embarque, desembarque, torpedeamentos, travessia de rios, retirada de minas aquáticas e outras exigiram combatentes com conhecimentos efetivos de natação. c. Aspecto Terapêutico A prática da natação constitui-se num poderoso e insubstituível processo terapêutico. Sendo um desporto popular e benéfico, serve de tratamento para muitos e variados casos; tais como deformações vertebrais, atrofias, entorses, fraturas, poliomielite, asma, incapacidades respiratórias, cardiopatias, agressividade e inibição. A natação possui a grande vantagem de não obrigar o participante a suportar seu próprio peso. A natação é, portanto, particularmente útil para pessoas com lesões físicas; dando-lhes uma oportunidade única de exercitarem o corpo. Os cegos, surdos e amputados podem nadar.
  • 15. 38 d. Aspecto Recreativo A natação representa numerosas vantagens como desporto de prazer. As pessoas, em busca de lazer, se deslocam às praias, rios e piscinas como simples forma de ocupação de tempos livres. Os movimentos na água, a sensação de propulsão, assim como a de poder deslizar ou mergulhar são muito agradáveis. Existem, por outro lado, muitos jogos que podem ser realizados dentro d’água. A natação serve para abrir a porta para uma vasta gama de desportos como polo aquático, pesca submarina, vela, surf, saltos ornamentais, etc. Assim, sabendo-se nadar, pode-se aproveitar as horas ociosas com diversas atividades aquáticas tão importantes para o equilíbrio físico-emocional. e. Aspecto Psíquico JEAN PIAGET diz que é através da motricidade que a criança desenvolve o seu poder intelectual (criatividade). A natação oferece esta oportunidade antes mesmo da criança saber andar. A atividade aquática proporciona às crianças vivências enriquecedoras capazes de promover, por sua atmosfera, riqueza e diversidade, estímulos à curiosidade e à atividade. O autocontrole emocional adquirido pela criança, leva-a à autoconfiança e à plena realização do seu campo psíquico. 3. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS Sendo a natação um desporto praticado em um meio diferente daquele no qual normalmente o homem vive, torna-se necessário lembrar algumas características específicas que apresenta e que, certamente, serão de grande utilidade quando da iniciação dos alunos na prática desse desporto. a. Força Ascensional ou Empuxo É a força que age de baixo para cima contra um corpo mergulhado num líquido. Quanto maior o volume e menor o peso (menor densidade), maior é o empuxo. Um objeto somente flutuará num fluído se sua densidade for menor que a densidade do fluído. Quando a pessoa inspira profundamente, aumenta o volume do seu corpo, sua densidade diminui , fazendo com que ela flutue. b. Resistência da Água A sensação no meio líquido é a resistência da água que inibe a marcha, trava movimentos rápidos e exige dispêndio de força maior, assim como a sensação de água entrando no nariz, boca e ouvidos que requer uma adaptação. c. Influência Térmica Na água, a perda de calor geralmente é maior que em terra pois normalmente a temperatura da água é inferior à temperatura ambiental. A permanência na água sem qualquer perigo ou inconveniente depende de vários fatores: temperatura da água, resistência do indivíduo, grau de treinamento, hábitos, entre outros. Um meio seguro e prático de se saber quando é chegado o momento da saída d’água é indicado pelos primeiros calafrios. d. Pressão da Água A pressão que a água exerce sobre o tórax submerso oscila entre 8 e 12 kg. Tendo que realizar um trabalho intenso, sofrendo esta pressão constante, os músculos respiratórios adquirem um desenvolvimento excepcional. 4. FATORES QUE INFLUEM NA APRENDIZAGEM Muitos são os fatores que influem na aprendizagem da natação e, por este motivo, algumas pessoas sentem mais dificuldades que outras durante a aprendizagem. Os principais fatores que influem na aprendizagem são os seguintes: a. Sexo Com a relação às crianças, as meninas, em geral, têm maior desenvolvimento físico-mental em relação aos meninos da mesma idade, o que leva a um comportamento mais disciplinado e a uma maior concentração, facilitando uma maior atenção e entendimento dos ensinamentos ministrados. Com relação aos adultos, o homem tem, em geral, maior força muscular e disposição para enfrentar o cansaço advindo dos exercícios praticados, obtendo melhores resultados.
  • 16. 39 b. Idade Com o passar dos anos, as dificuldades aumentam devido ao aparecimento das fobias, a escassez de tempo para freqüentar as aulas e o natural envelhecimento do organismo. c. Flutuabilidade É um fator de grande importância para a natação. Um nadador flutua mais facilmente que outro devido principalmente à sua menor densidade corpórea (pesos dos ossos e tônus muscular). Um tônus muscular muito rígido contribui para uma maior densidade do corpo e uma menor flutuabilidade. d. Sistema Nervoso As pessoas muito sensíveis ou nervosas, em contato com o meio líquido, podem apresentar falta de concentração e descontrole do sistema emocional, prejudicando o seu rendimento no aprendizado. e. Vontade do Instruendo É um fator muito importante e dele dependerá o êxito do aprendizado. Antes de tudo, o aluno precisa querer aprender a nadar. f. Assiduidade Os alunos mais assíduos, em geral, obtém resultados melhores com menos tempo de aula, pois não interrompem a seqüência didática. g. Estilo Inicial A aprendizagem deve ser realmente iniciada pelo nado crawl. Além da didática de ensino ser mais bem estruturada, todos os demais nados tornar-se-ão mais fáceis de serem aprendidos posteriormente. Porém, se algum aprendiz desenvolver inicialmente outro nado, é preciso encorajá-lo nesta aquisição. Deve-se valorizar as descobertas felizes desde que não sejam contrárias ao progresso. h. Freqüência das Aulas O ensino é mais produtivo em aulas diárias do que alternadas. i. Temperatura da Água Quanto mais fria for a água, menor será a duração de permanência na mesma e menor o progresso do aluno. Água muito quente também prejudica o rendimento, pois provoca um relaxamento excessivo no instruendo. j. Capacidade Técnica do Instrutor É um fator de grande importância. Para organizar o ensino o professor precisa dominar o conteúdo a ser ensinado, conhecer as aptidões dos alunos, saber formular objetivos e dominar os métodos e meios de ensino. 5. A DIDÁTICA DA NATAÇÃO a. Motivação Estudos realizados revelam que a capacidade de retenção aumenta com o interesse pela atividade. A apresentação de metas mantém a motivação até que elas sejam atingidas ou consideradas não essenciais. É, pois, conveniente definir-se o nível de exigência de acordo com as características iniciais dos alunos. Sempre que um aluno atinge a meta estabelecida, outra lhe deve ser apontada, estimulando-o ao aperfeiçoamento. Uma técnica de motivar bastante útil é proporcionar ao principiante a oportunidade de demonstrar perante os colegas a sua evolução. O importante é prever desde do início um conjunto de metas convenientemente hierarquizadas, correspondendo cada uma delas a um determinado estágio de aprendizagem. Deste modo, o estabelecimento de níveis ou graus com dificuldades progressivas deve ser determinado, inclusive para as crianças menores, como o exemplo: 1º Grau - as rãs > 2º Grau - os peixinhos > 3º Grau - os golfinhos Este processo, entre outras, apresenta as seguintes vantagens: - Mantém o aluno sempre motivado pelo estímulo de subir de grau. - Permite respeitar as diferentes capacidades individuais, facilitando o estabelecimento de tarefas diferenciadas pelo professor.
  • 17. 40 b. Número de Alunos por Sessão e Tempo de Aula O número ideal é difícil de se decidir, tendo-se que levar diversos fatores em consideração. Para iniciantes e não nadadores, quanto menor o número, melhor. Como regra geral, o número máximo de não nadadores é em torno de 12. Tal fato deve-se a especificidade desta modalidade e pelos perigos que pode provocar um número excessivo de alunos por sessão. O tempo de aula depende da temperatura da água, da temperatura ambiente e das tarefas a cumprir na sessão que são conseqüentes do nível de aprendizagem do aluno. A temperatura da água entre 25º e 27º Celsius permite, mesmo para crianças entre quatro e seis anos, uma sessão de 45 minutos. c. Meios Auxiliares de Instrução Alguns exemplos são pranchas de isopor, pés-de-pato, óculos de natação, corpos flutuantes e pequenas pedras pintadas com cores vivas. Um quadro de escrever é útil para transmitir informações e atividades a serem realizadas. Quadros que mostram atividades diversas, como salvamento, manobras de primeiros socorros e seqüência dos diversos movimentos dos nados são muito esclarecedores e podem ajudar o professor a explicar certas atividades. No ensino de salvamento e primeiros socorros, bonecos que reagem à compressão e à insuflação são excelentes para retratar a função do coração e dos pulmões durante uma situação de emergência. Filmes e slides são muito atraentes para os jovens iniciantes. As raias são importantes para dividir a piscina de aprendizagem. Varas longas e curtas podem ser usadas tanto para propósitos de ensino como para segurança. Alguns cuidados deverão ser tomados quando da utilização destes meios de modo a serem atingidos os objetivos. Assim o material deve ser apropriado à idade e capacidade dos alunos e aos objetivos da sessão, além de previsto com antecedência. Deve ser estimulada a conservação do material pelos alunos e mantido o espírito de novidade (a distribuição do diferente material ao longo do curso de uma forma equilibrada estabelece uma motivação favorável ao desempenho das tarefas da sessão). d. Higiene A higiene na piscina é importante e difícil de controlar. O professor deve instruir os alunos a respeito da higiene na piscina e determinar o padrão que deseja que seja mantido pela turma. Os principais aspectos da higiene a serem abordados são: uso do banheiro, dos lava-pés e duchas antes de ir para piscina, utilização de trajes de banho limpos, enxugamento e agasalhamento do praticante após a aula, lavagem e colocação dos trajes de banho para secar, uso de toucas de natação (principalmente para alunos de cabelos grandes), proibição, no recinto da piscina, do uso de calçados que venham de fora e proibição da prática n’água em casos de erupção de pele, micoses, verrugas, ferida supurando, pé-de-atleta, tosses, resfriados, dias de maior fluxo menstrual, crise de bronquite e de asma, etc. e. Segurança Ao professor cabe a responsabilidade da segurança dos alunos. Ele deve estar atento aos perigos da piscina e ser capaz de enfrentar as situações que possam ocorrer. Através de quadros que ilustrem os comportamentos certos e errados na piscina ou através de uma explanação durante a primeira aula pode-se transmitir, satisfatoriamente, as informações relativas à segurança do aluno que precisam ser incutidas nele para sua própria proteção. Assim, o professor deve: - Mostrar ao aluno as extremidades rasa e funda da piscina. - Proibir brincadeiras de fazer-se de afogado, empurrar ou afundar alguém. - Ser capaz de retirar um afogado d’água e realizar eficientemente as técnicas de salvamento que se fizerem necessárias. - Ser o primeiro a chegar e o último a sair do local da aula, bem como não deixar a turma desacompanhada mesmo que seja por um breve momento. - Determinar aos alunos que não brinquem de correr na área em torno da piscina, principalmente se esta for escorregadia. - Deixar os alunos entrarem na piscina somente mediante ordem, inclusive os atrasados e aqueles que pedirem para ir ao banheiro.
  • 18. 41 - Solicitar que os alunos retirem objetos pessoais (relógio, pulseiras, etc) antes de entrarem na água, não chupem balas ou masquem chicletes enquanto nadam, não comam pelo menos por uma hora antes de nadar e verifiquem se a área de saltos está livre quando se lançarem nela. f. Unidade de Ensino Todo ensino deve ser organizado partindo do simples para o complexo, do conhecido para o desconhecido. É inconveniente começar uma aula com exercícios difíceis e ocupar o resto do tempo com exercícios fáceis. O trabalho deve ser progressivo, isto é, o aumento das dificuldades dos vários exercícios deve ser gradual. Uma etapa mal assimilada provoca, normalmente, um atraso na aprendizagem. Deste modo, os esforços exigidos deverão estar de acordo com a capacidade dos alunos. Para um curto processamento do movimento, as distâncias a serem cumpridas devem ser curtas e repetidas com intervalo entre elas. Estas pausas destinam-se a permitir uma recuperação após o esforço exigido e realizar breves explicações sobre o movimento. g. Técnica de Ensino O professor precisa desenvolver uma técnica de ensino boa e segura. Alguns pontos importantes para o sucesso são: g.1. Estabelecer uma boa relação aluno/professor. A aula deve ser viva e participada. O professor deve encorajar, elogiar, repreender gentilmente, brincar amavelmente e ser firme em suas decisões, mas não muito exigente para não provocar rebeldia nos alunos. g.2. Posição de ensino. A colocação do professor deve ser na borda da piscina ou em qualquer outro local elevado, onde possa exercer vigilância sobre todos os alunos e estes possam ver seus movimentos e ouvi-lo claramente. Quando o professor dirige-se aos alunos, ele mantém-se em pé e permanece olhando-os enquanto fala. É importante também, demonstrar corretamente a execução de um exercício ou nado. g.3. Explicar as instruções. Ao se dirigir aos alunos, o professor deve falar lenta e claramente, usando palavras e frases adequadas ao nível deles. Cada instrução específica deve ser curta e simples; é inútil lançar-lhes muitas informações de uma só vez. Instruções na forma negativa tais como “não faça assim” ou “não faça isto” devem ser evitadas. g.4. Valorizar os jogos. Todas as crianças adoram jogar. Através de jogos e artifícios, o professor conduz os alunos aos objetivos pretendidos. Os jogos devem ser graduados de acordo com idade e a capacidade dos alunos e sempre supervisionados. g.5. Fazer o planejamento das atividades. O planejamento é uma etapa importante a ser elaborada pelo professor, por permitir a sistematização e controle do trabalho a efetuar ou já efetuado, estimular a participação dos alunos ao serem estabelecidas metas, estabelecer condições que propiciem a avaliação contínua do trabalho, tanto para o professor como para os alunos, e tornar o trabalho mais eficaz e econômico. O planejamento deve atender a três aspectos essenciais: - A quem se aplica (a idade e o grau de aprendizagem dos alunos). - Onde se aplica (o local, piscina rasa ou funda, mar ou rio, etc). - Como se aplica (hierarquização dos conteúdos programados de uma forma consciente e conseqüente). g.6. Fazer um plano de aula básico. Abaixo, um exemplo de plano de aula básico. g.6.1. Atividade Introdutória. O professor fará uma breve explanação que deve ser vista por todos, ser clara e sugestiva para poder ser entendida e motivadora e informar o que se pretende que os alunos façam no final da aula (objetivo da aula). Após, o professor dará a ginástica, a fim de aquecer os músculos e preparar o organismo para o trabalho a ser realizado, desenvolver a mobilidade articular, proporcionar o relaxamento físico e mental indispensáveis à execução dos trabalhos na água e educar os músculos quanto aos movimentos corretos e a sua coordenação para prepará-los para os trabalhos na água. Esta ginástica pode ser dividida em dois tipos de exercícios diferentes quanto à finalidade própria. São eles: - Exercícios educativos ou específicos (Fig 2-1): servem para corrigir e aperfeiçoar os detalhes da execução dos movimentos característicos dos diversos nados. Exemplos: - Rotação dos braços para frente ou para trás, alternadamente ou simultaneamente. - Rotação dos braços para frente, com o tronco flexionado (braçada no nado crawl).
  • 19. 42 - Mãos nos joelhos, rotação da cabeça para os lados (respiração no nado crawl). - Com o tronco flexionado, braço direito (esquerdo) estendido à frente e o esquerdo (direito) à trás, realizar a respiração lateral (respiração no nado crawl). - Coordenar a respiração com o movimento de rotação dos braços (braçada e respiração no nado crawl). - Batida de pernas tipo crawl em decúbito ventral ou dorsal. - Exercícios de flexibilidade (Fig 2-2 e 2-3): servem de aquecimento. Propõem-se a alongar a musculatura em geral e facilitar os movimentos das articulações corpóreas. Exemplos: Os exercícios que irão compor a sessão deverão ser criteriosamente escolhidos pelo instrutor, tendo em vista o objetivo a ser alcançado. Em estágios menos avançados da aprendizagem, deve-se dar ênfase nos exercícios educativos. Nos dias frios, deve-se intensificar a quantidade e a cadência dos exercícios, bem como diminui-los nos dias quentes. g.6.2. Recapitulação da aula anterior. É importante aproveitar-se das aquisições feitas na etapa anterior. Fig 2-1. Exercícios educativos ou específicos. g.6.3. Atividade principal. Baseada no objetivo da aula. Esta deve compreender o máximo de tempo possível. Os exercícios devem ser demonstrados em “câmara lenta” e, logo após, a um ritmo normal. g.6.4. Tempo livre supervisionado. A aula termina com um pequeno tempo livre no qual os alunos podem fazer o que quiserem. É necessário um controle rigoroso para evitar atividades perigosas. g.7. Agrupar os alunos por nível técnico. O número de grupos dependerá da capacidade técnica e do número de alunos.
  • 20. 43 g.8. Realizar aulas de avaliação. É importante avaliar-se as habilidades que tenham sido ensinadas. Uma boa organização é essencial durante essas sessões e é desejável que haja assistência. Fig 2-2. Exercícios de flexibilidade.
  • 21. 44 Fig 2-3. Exercícios de flexibilidade 6. FASES DA APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO Esta etapa compreende o período que se inicia no momento em que o aluno parte do zero e termina quando ele já desenvolve satisfatoriamente as três progressões clássicas: flutuação, respiração e propulsão. Quando se pode dizer que o aluno sabe nadar? - Quando existe uma completa familiarização com a água. - Quando ele sabe respirar corretamente. - Quando percorre uma distância mínima. - Quando sabe mergulhar. Pedagogicamente, é necessário que o aluno vença o medo da água e busque a coordenação dos movimentos. Pode-se, portanto, dividir a moderna pedagogia da natação em unidades que representam as cinco etapas que o aluno deve superar para alcançar seus objetivos: a familiarização com o meio aquático, a flutuação, a respiração, a propulsão e o mergulho elementar. a. Familiarização com o meio aquático Na aprendizagem, é fundamental que o aluno se familiarize e tenha confiança com água. O primeiro objetivo a ser atingido é a eliminação da rigidez muscular produzida, quase sempre, pelo medo da água. O segundo, e mais importante, é o ensino da correta mecânica respiratória. Ambos podem ser conseguidos através de exercício e jogos que proporcionam confiança na água. A motivação é o motor do ensino. Deve-se lembrar que as experiências desagradáveis podem atrapalhar o aprendizado e é necessário que a prática seja amena e divertida. O ensino atual da natação deve considerar todos os componentes sensoriais e motores do aluno. É necessário, então, que ocorra dentro da água, com a principal preocupação de oferecer segurança ao aluno, para que este não tenha uma impressão desagradável diante dessa nova situação. Esta segurança traz confiança para que se possa seguir com o processo de aprendizagem. A idade ideal para a aprendizagem da natação é de quatro a cinco anos, uma vez que nessa faixa etária as crianças normalmente já desenvolvem uma hidrofobia considerável. Exemplos de exercícios de familiarização com a água: Exercício Descrição Objetivo 1 Descer lentamente a escada da piscina. Contato gradual com a água, evitando sobressaltos.
  • 22. 45 2 Deslocar-se segurando a borda. Acostumar-se com a água, mover-se dentro dela e perceber que a água é um elemento de sustentação, ajuda e apoio. 3 Caminhar pela piscina. Idem exercício 2. . 4 O carrossel (jogo). Idem exercício 2. 5 Molhar o rosto. Acostumar o aluno com a sensação do rosto molhado. 6 Submergir mantendo o ar nos pulmões. Idem exercício 5. 7 Com a cabeça dentro da água, contar os dedos abertos do colega ou do professor. Imergir e abrir os olhos dentro da água. 8 Passar por debaixo das pernas do companheiro. Idem exercício 7. 9 Apanhar um objeto no fundo. Idem exercício 7. 10 Submergir para não ser tocado pela bola em um círculo (jogo). Imersão rápida. 11 Dois a dois, um tenta molhar o rosto do outro. Idem exercício 10. 12 Jogo de pólo. Naturalidade na água. 13 Conduzir a bola com a cabeça. Imersão. Obs: Podem ser feitas corridas para ver quem chega primeiro em um lugar determinado. 14 Dois ou mais grupos. Passar a bola para o colega por debaixo das pernas (jogo). Idem exercício 13. 15 Em grupos de dois ou em fila. Saltar sobre o colega. Idem exercício 14. b. Flutuação O trabalho específico da flutuação objetiva ajustar o aluno de forma natural e cômoda na posição horizontal que ele deve manter na água para ensino dos estilos. As posições ventral e dorsal devem ser hidrodinâmicas, ou seja, devem oferecer o menor grau de resistência possível ao avanço sobre a superfície da água. A posição dos braços, pernas e cabeça é particularmente importante na realização do deslizamento mais efetivo sobre a água. A flutuação ventral será mais hidrodinâmica com os braços estendidos no prolongamento do corpo e o rosto submerso do que se a cabeça estiver fora da água. Daí a importância de se atingir o objetivo prévio da imersão, antes de passar para o trabalho de flutuação. A flutuação depende de vários fatores, dentre eles: - Força de empuxo. É a resultante das forças verticais para cima que a água exerce sobre um corpo. - Peso específico de cada nadador. Um corpo flutuará somente se o peso do corpo for menor ou igual ao peso de um volume igual de água. As mulheres, de modo geral, flutuam melhor que os homens, pois têm menor peso específico, devido à maior quantidade de tecido adiposo e à menor quantidade de músculos. - Volume de ar nos pulmões. Tem um efeito pronunciado na capacidade do indivíduo de flutuar. Se uma pessoa inspira profundamente, ela aumenta consideravelmente o volume de ar nos pulmões, o volume do tórax como o volume do seu corpo todo. O aumento no peso corporal que acompanha esse aumento de volume é desprezível, portanto o efeito total dessa inspiração forçada gera uma redução substancial no peso específico do corpo. A possibilidade de a pessoa ser capaz de flutuar é, portanto, aumentada. A prática de exercícios de flutuação exige condições psíquicas especiais. Exemplos de exercícios de flutuação: Exercício Descrição Objetivo 1 Com o flutuador no peito ou nos braços, sustentar- se com as mãos agarradas na borda da piscina. Soltar uma mão e depois as duas. Flutuação ventral e aquisição de confiança com os flutuadores. 2 Na posição vertical, fazer uma grande inspiração e levantar várias vezes os pés para trás, tentando elevá-los até a superfície. Flutuação ventral.
  • 23. 46 3 Dois a dois, um puxa o colega, que procura manter o rosto submerso durante o maior tempo possível, enquanto fica em decúbito ventral. Idem exercício 2. 4 Com a prancha e o flutuador na cintura, empurrar a parede com as pernas e estender-se na horizontal com a cabeça fora da água e depois dentro. Flutuação, deslizamento ventral e busca de posições hidrodinâmicas. 5 Agachado sobre a escada, empurrar e estender-se horizontalmente com as mãos e os braços estendidos adiante. Idem exercício 4. 6 O túnel: o aluno tenta passar por debaixo das pernas afastadas dos colegas, que estão em fila. Deslizamento ventral, profundo e prolongado. 7 Tentar tocar os pés com as mãos, submergindo a cabeça na água, sem tirar os pés do fundo da piscina Sentir o empuxo da água para cima. 8 A medusa: depois de uma inspiração profunda, agrupar-se segurando os joelhos com as mãos. Observar que o corpo flutua na água com ar nos pulmões. 9 Na posição de medusa, estender-se horizontalmente e voltar à posição inicial. Equilíbrio na água e flutuação ventral. 10 Agachado com as pranchas nas mãos, deixar-se cair para trás, elevando os quadris até atingir a prancha. Flutuação dorsal. 11 Com uma mão na borda e a outra segurando a prancha, empurrar a parede com as pernas, mantendo a cabeça baixa em prolongamento com o corpo e a prancha sobre a barriga. Idem exercício 11. 12 Com as mãos agarradas à borda, empurrar a parede e endireitar o tronco, com os braços separados do corpo. Flutuação dorsal e busca do deslizamento mais prolongado sobre a superfície. 13 O mesmo exercício anterior, só que saindo da posição vertical. Flutuação vertical. 14 Da posição de flutuação ventral passar para a flutuação dorsal, girando o tronco, virar para a posição ventral e retornar para a posição vertical. Flutuação dorsal e ventral e equilíbrio do corpo na água. c. Respiração É a fase mais importante da aprendizagem. Enquanto o iniciante não conseguir respirar com desembaraço, ele terá dificuldade para coordenar os movimentos, bem como manter-se e locomover-se dentro da água. A educação respiratória tem por objetivo dominar os movimentos respiratórios correspondentes ao estilo. Por isto, são executados exercícios fora da água que visam a ensinar a correta mecânica da respiração ao aluno. A fase de inspiração deve ser curta e bucal e a fase de expiração deve ser feita com a cabeça submersa. A expulsão do ar deve ser feita lentamente, pela boca ou pelo nariz. Exemplos de exercícios de respiração frontal: Exercício Descrição Objetivo 1 Soprar uma bola de pingue-pongue. Noção de expiração. 2 Soprar a água que está nas mãos em forma de concha. Idem exercício 1. 3 Soprar com a boca dentro da água. Idem exercício 1. 4 Segurar na borda, respirar pela boca e afundar o rosto soltando o ar pela boca e pelo nariz. Expiração aquática. 5 De pé, dentro da piscina, inspirar e soltar o ar dentro da água, agachando-se. Expiração aquática e expiração completa. 6 Segurar a borda com o tronco flexionado para frente, ou de pé, no fundo, levantar a cabeça para inspirar e mergulhar o rosto para expirar. Expiração completa.
  • 24. 47 Exemplos de exercícios de respiração lateral: Exercício Descrição Objetivo 1 Idem exercício 6 de respiração frontal, só que girando a cabeça para o lado para inspirar e mergulhando o rosto para expirar. Cadência respiratória. 2 De costas na borda, mãos agarradas na calha, pegar o ar de um lado e girar a cabeça colocando o rosto na água para soltar o ar dentro dela. Idem exercício 1 3 Com as mãos na borda em decúbito ventral, braços estendidos e com um pull boy nas pernas. O aluno inspira durante 2 segundos para um lado e expira dentro da água por 6 segundos. Idem exercício 1. 4 Segurando a prancha e em deslizamento, realizar o exercício 1 Idem exercício 1. Exemplos de exercícios de respiração bilateral: Exercício Descrição Objetivo 1 De pé, o aluno faz a inspiração de um lado, coloca a cabeça dentro da água, expirando, conta mentalmente até 3 e executa a inspiração do outro lado. Cadência respiratória. 2 Idem exercício 1, preso ao quebra ondas pelas mãos, batendo as pernas. Idem exercício 1 3 Idem exercício 1, só que puxado por um companheiro. Idem exercício 1 d. Propulsão A propulsão implica a adaptação humana ao meio aquático de maneira completa. É a capacidade que tem o corpo de se locomover dentro da água com os próprios recursos e depende do trabalho conjunto de pernas e braços. Existem três fases da propulsão na aprendizagem: noção de propulsão ou propulsão básica, propulsão de pernas e propulsão de braços. Exemplos de exercícios de propulsão básica: Exercício Descrição 1 O escorregador. Desafie: “Vamos ver quem é capaz de ir mais longe!” Todos os alunos, com uma perna no fundo da piscina e outra apoiada na parede da mesma, braços estendidos para frente, impulsionam-se com a maior força possível, forçando a perna na parede e deixando seu corpo deslizar dentro da água, até parar e ficar em pé. Será vencedor o aluno que atingir a maior distância. 2 O torpedo. Um aluno fica estendido na superfície da água, enquanto outro segura o companheiro, impulsionando-o para frente, com braços e pernas estendidos, como se fosse um torpedo. Será vencedora a dupla que alcançar a maior distância. 3 O salto do canguru. O aluno apoia-se com os pés no fundo, salta, deixa o corpo cair e deslizar. Quando começa a perder o impulso, dá novo salto, e assim sucessivamente. Exemplos de exercícios de propulsão de pernas: Exercício Descrição 1 Visualização fora da água. Na borda da piscina ou em qualquer outro lugar julgado conveniente, o professor mostra aos alunos como deve ser realizado o movimento de pernas, enfatizando que parte da articulação coxofemoral e que os pés devem estar soltos. Convém destacar que o movimento de pernas dentro da água é solto e há uma ligeira flexão dos joelhos, em virtude do líquido, porém, se o aluno fizer uma pequena flexão, ele irá adicionar esta flexão à natural executada, tornando-a exagerada, razão pela qual recomenda-se pernas estendidas, pois a flexão natural será executada. 2 Braços presos ao quebra-ondas, batimento de pernas com correção, até que tenha conseguido o exercício desejado. 3 No quebra-ondas, batimento de pernas com respiração frontal. 4 No quebra-ondas, batimento de pernas com respiração lateral. 5 No quebra-ondas, batimento de pernas com respiração bilateral. 6 Puxado por um companheiro, batimento de pernas com respiração frontal. 7 Puxado por um companheiro, batimento de pernas com respiração lateral. 8 Puxado por um companheiro, batimento de pernas com respiração bilateral.
  • 25. 48 9 Segurando na borda inferior da prancha que está sendo puxada por um companheiro, executar a respiração frontal. 10 Idem anterior, com respiração lateral e bilateral. 11 Batimento de pernas, segurando na prancha na borda inferior, no meio e na borda superior desta. 12 Idem anterior, só que com respiração frontal, lateral e bilateral. 13 Competição de batida de pernas com prancha. Exemplos de exercícios de propulsão de braços: Exercício Descrição 1 Visualização fora da água, com explicação da trajetória do braço e correção. 2 Visualização dentro da água. De pé, sentindo a resistência da água, olhar a trajetória do braço dentro e fora da água. Obs: Neste aprendizado, deve-se enfatizar os dedos apontados para baixo, cotovelo mais alto que a mão, costa da mão apontada para frente. 3 De pé, executar o movimento de um braço, com respiração, depois o outro, depois ambos, progredindo andando na água. 4 Batimento de pernas. Segurando a prancha pelo meio, executar o movimento de um braço, com respiração, colocando-o sobre a prancha a cada respiração. 5 Batimento de pernas. Segurando a prancha pelo meio, executar o movimento alternado de braços, ficando um sobre a prancha, enquanto o outro dá a braçada. A inspiração é executada durante o movimento do outro braço, e a expiração é executada dentro da água, no movimento do braço oposto à inspiração. Em cada movimento um dos braços é colocado sobre a prancha. Assim, imitamos o nado completo. 6 Nado completo em pequenas distâncias. e. Mergulho elementar Trata-se da entrada na água de diversas maneiras. Exemplos de exercícios de mergulhos: Exercício Descrição 1 Entrada na água por meio de um salto, entrando na posição de pé (primeiro os pés), sem impulso. 2 Entrada na água de pé, através de saltos, com impulsos de pequenas distâncias e depois de maiores. Pode-se aproveitar a forma de desafio: “Vamos ver quem é capaz de saltar mais longe!” 3 Entrada de cabeça na água, partindo da posição deitada em uma prancha ou escorregador. Convém enfatizar o seguinte: braços no prolongamento do corpo, queixo colado ao peito, não devendo ser erguido no momento de entrada na água. Para melhor execução, os olhos devem estar fechados enquanto se escorrega pela tábua. 4 Mergulho de cabeça, partindo da posição sentada. Na borda da piscina, pés no quebra- ondas, o aluno procura colar o queixo no peito, estender os braços e, com pés forçando o quebra-ondas, ir elevando os quadris de modo a que fiquem mais elevados ou ao nível da cabeça. Nesse ponto a inclinação do corpo faz com que o aluno entre na água, procurando chegar o mais perto possível dela com a cabeça, sendo auxiliado pelo professor. Após vários exercícios, pedir ao aluno para impulsionar no final do salto. 5 Mergulho, partindo da posição ajoelhada, sentado nos calcanhares, braços estendidos, queixo colado ao peito. Ir abaixando a cabeça, procurando aproximá-la da água, com elevação dos quadris, até a inclinação completa, quando iniciará sua queda para a água. Nesse momento, o professor dá um ligeiro toque nos pés do aluno, elevando-o e evitando sua batida na borda da piscina. 6 Partindo da posição ajoelhada, não sentado nos calcanhares e, portanto, em plano mais elevado, fazer o aluno ir procurando a água com a cabeça e elevando os quadris, até alcançar a inclinação que o leve a cair na água. Aqui o professor também deve auxiliar o aluno, para sua total segurança, elevando suas pernas. 7 Partindo da posição ajoelhada sobre uma perna, estando a outra apoiada no quebra-ondas, braços estendidos e queixo colado ao queixo, elevar os quadris e procurar aproximar a cabeça da água, até alcançar a inclinação total. 8 Mergulho de cabeça, partindo da posição de pé, sem auxílio. De pé, braços em extensão, queixo colado ao peito, pernas semiflexionadas, o aluno procura estende-las, ao mesmo tempo que eleva os quadris, executando o mergulho e procurando progredir debaixo da água, com movimentos de braços e pernas.
  • 26. 49 9 Mergulho de cabeça com impulsão, correndo. Inicialmente a pequenas distâncias, depois a maiores, à medida que for adquirindo confiança. O aluno executa o mergulho procurando progredir o máximo que puder debaixo da água, com movimentos de braços e pernas. 7. NATAÇÃO PARA BEBES (ATÉ TRÊS ANOS) A natação para bebês nasceu nos Estados Unidos, devido à grande quantidade de piscinas domésticas e dos perigos apresentados pela curiosidade própria dos bebês nas suas proximidades. Assim, a possibilidade de preparar as crianças o mais cedo possível foi vislumbrada para diminuir o grande número de acidentes. Ela realiza-se num âmbito pré-escolar, numa idade que as crianças não podem ser ensinadas em grupos por professores. Nesta idade, as crianças precisam do pai e da mãe como pessoas que entendem sua linguagem e que vão lhes ensinar, através desta linguagem familiar, a transição de um ambiente conhecido para um ambiente desconhecido que é a piscina. A aprendizagem da natação nesta idade visa a: - Promover o desenvolvimento físico e intelectual do bebê. A maioria dos bebês passam a maior parte do tempo deitados ou sentados no berço ou no carrinho, de forma passiva. Na água, o bebê realiza movimentos que não teria condições de realizar sob a força da gravidade. Hoje, sabe-se que o desenvolvimento intelectual da criança é produto do desenvolvimento motor. - Desenvolver a capacidade de auto-salvamento, isto é, fazer com que o bebê tenha condições de se manter na superfície ou através de movimentos instintivos chegar à borda da piscina ou em qualquer outro apoio. - Proporcionar uma maior resistência ao resfriado e uma saúde mais estável. - Utilizar suas faculdades pré-existentes de apnéia. - Reforçar o relacionamento entre pai e filho. Normalmente a mãe passa mais tempo com o filho. Neste caso o pai leva o bebê para a natação ou acompanha-o com a mãe. O método requer que os pais sejam os monitores dos professores de natação. Deste modo, os pais recebem instruções dos professores antes de entrarem na água com o bebê. É essencial que a mãe e/ou o pai entrem na água. É importante que os pais mantenham-se descontraídos, relaxados e tranqüilos, uma vez que o comportamento dos bebês é conduzido por sensações agradáveis e desagradáveis. Deve-se procurar sempre criar condições agradáveis. O contato corporal, o abraço terno da mãe ou do pai, após uma situação desagradável é a fonte de segurança e de sucesso do método. Os primeiros estímulos podem ser realizados em casa durante os banhos do bebê, a partir do momento em que o médico liberar a criança após a queda do umbigo. Estes banhos devem ser realizados na banheira de casa e são importantes para que os pais treinem como pegar a criança. Com o decorrer do tempo, a temperatura da água dos banhos deve ser diminuída gradativamente de 36º Celsius, a fim de preparar o bebê para temperatura da água da piscina, que deve ter um teor de cloro baixo. As crianças com menos de quatro meses podem ser alimentadas a qualquer hora, já as com mais de quatro meses devem ser alimentadas no mínimo uma hora antes da aula. A freqüência ideal são três aulas por semana com a duração de 20 minutos. Os exercícios mais utilizados são: - Mergulho. No máximo três em cada aula. Antes de mergulhar a criança, o pai molha sua nuca, depois a cabeça toda e sopra seu rosto, como formas de aviso. No começo, os pais afundam com a criança colada ao corpo, depois podem fazê-lo segurando-a pelas axilas. - Soprar Bolhas. O pai ou a mãe sopra o rosto da criança para que ela sinta a corrente de ar e logo após faz o barulho das bolhas na água. - Flutuar. Os cuidados são maiores com bebês menores de um ano. Estes flutuam melhor de costas. Assim, o pai segura-o em decúbito dorsal, com uma das mãos segurando a cabeça e com rosto próximo ao do bebê conversa com ele. - Torpedo. O pai segura a criança em forma de sanduíche e, após mergulhá-la, empurra para a mãe que deve estar bem próxima. A distância entre o pai e mãe vai aumentando aos poucos para que a criança comece a realizar movimentos de pernas e braços com intuito de emergir os orifícios respiratórios. Mais tarde, basta conduzi-la para a borda ou qualquer outro apoio da piscina até que a criança os prefira ou sinta segurança neles. - Saltar. Bebês maiores de um ano já saltam para seus pais da borda da piscina.
  • 27. 50 Na natação para bebês alguns cuidados fazem-se necessários: - Após a aula deve-se secar bem os ouvidos, com cuidado pela fragilidade. - Quando tirar o bebê d’água, o pai deve agasalhá-lo imediatamente. Em piscinas aquecidas cobertas deve-se aguardar um tempo antes de sair do recinto com o bebê. - Deve-se tomar cuidado para que o bebê não engula muita água na piscina. 8. TRABALHO PROPOSTO O senhor, possuidor do Curso de Educação Física do Exército, foi designado pelo comandante de sua OM, para ensinar natação a um grupo de militares que não sabem nadar corretamente. Diante desta situação o senhor irá se preparar para o cumprimento desta missão, onde ensinará desde o início até as técnicas dos nados. Para avaliar sua preparação, responda as seguintes questões abaixo: 1. Descreva os aspectos da natação exemplificando-os com situações práticas. 2. Explique a influência das características específicas da água utilizando exemplos práticos. 3.Descreva os fatores que serão observados para a melhor aprendizagem de um aluno. 4. Explique os aspectos da didática da natação, abordando com um enfoque prático e citando exemplos se possível. 5. Descreva as fases da aprendizagem da natação, abordando seus objetivos e exemplificando com exercícios.
  • 28. 51 CAPÍTULO III 1. CARACTERÍSTICAS DO FLUXO DA ÁGUA Fig 3-1. Turbulência causada pelo corpo do nadador movimentando-se em correntes laminares. a. Fluxo Laminar e Turbulento A água é constituída por moléculas de hidrogênio e oxigênio que tendem a flutuar em correntes regulares e contínuas até que encontram algum objeto sólido que interrompa seu movimento. Essas correntes são compactadas umas sobre as outras, surgindo, assim, a expressão fluxo laminar. Diz-se que a água torna-se turbulenta quando esse fluxo contínuo é interrompido. As moléculas de água separam-se de suas correntes laminares, repicando umas nas outras em direções aleatórias. As moléculas de água que se tornam turbulentas irão invadir outras correntes laminares, causando um padrão sempre freqüente de turbulência, que é visível na superfície como borbulhas. O fluxo laminar é o que oferece a menor resistência associada ao seu movimento porque as moléculas estão se deslocando em uma mesma direção e em velocidade constante. Por outro lado, o fluxo turbulento oferece ao movimento uma resistência muito maior porque suas moléculas movem-se de uma forma circular e rápida. A figura 3-1 ilustra os fluxos laminar e turbulento. As correntes laminares estão representadas pelas linhas retas e as turbulentas por moléculas circulares. A água turbulenta à frente e aos lados do nadador aumentará a pressão nessas áreas, com relação à pressão por trás de seu corpo, onde o fluxo ainda não preencheu o espaço criado. Isso está indicado pelo sinal + para a alta pressão à frente do nadador e pelo sinal – que significa baixa pressão atrás dele. Esse diferencial de pressão irá reduzir a velocidade de progressão do nadador. A resistência enfrentada pelo nadador é diretamente proporcional à quantidade de turbulência por ele criada. A água será levemente turbulenta quando apenas algumas correntes laminares tiverem sido conturbadas. O diferencial de pressão e, portanto, o efeito retardador, serão consideravelmente maiores quando ocorre grande turbulência. 2. TIPOS DE RESISTÊNCIA HIDRODINÂMICA MECÂNICA DOS ESTILOS
  • 29. 52 RESISTÊNCIA HIDRODINÂMICA Resistência de Forma Resistência de Atrito Resistência de Ondas Os especialistas definem três tipos de resistência hidrodinâmica que atuam sobre os corpos em suspensão num fluído, que são resistência de forma, de ondas e de atrito. Fig 3-2. Boas e más posições do corpo quanto ao alinhamento horizontal.
  • 30. 32 Fig 3-3. Efeitos de excessivos movimentos laterais do corpo na resistência no nado crawl.
  • 31. Fig 3-4. Efeitos de excessivos movimentos laterais do corpo na resistência no nado costas. a. Resistência de Forma É a resistência maior, causada pelo mau alinhamento horizontal e lateral. Recebe este nome porque é causada pelas formas que o corpo do nadador toma ao se mover pela água. a.1. Alinhamento horizontal. A redução da resistência de forma depende da permanência mais horizontal possível, sem que ocorra uma diminuição na força propulsora. Os nadadores devem estabelecer um meio termo, para que dêem pernadas suficientemente profundas para a propulsão do corpo, mas não tão profundas a ponto de aumentar desnecessariamente a área por ele ocupada. A figura 3-2 contrasta o bom e o mau alinhamentos horizontais para três dos quatro estilos de competição. Os nadadores da esquerda ilustram um bom alinhamento e os da direita um mau alinhamento. a.2. Alinhamento lateral. Movimentos laterais excessivos do corpo aumentam a resistência. O alinhamento lateral só pode ser desfeito nos nados crawl e costas, nos quais os movimentos alternados dos braços e das pernas têm o potencial de deslocar o corpo dentro d’água de uma forma serpenteante. A figura 3-3 mostra uma vista superior de praticantes do nado crawl com bom e mau alinhamento lateral. A nadadora da esquerda está com bom alinhamento e a nadadora da esquerda está oscilando o corpo excessivamente de um lado para outro. Isto faz com que a segunda ocupe um espaço maior na água em comparação com a primeira e os movimentos do seu corpo fazem com que empurre água para frente aumentando a resistência. Efeitos similares estão representados na figura 3- 4, porém, em relação a praticantes do nado costas. b. Resistência de Ondas A resistência de ondas é causada pela turbulência na superfície da água. Quando os movimentos de um nadador aumentam o tamanho das ondas, a turbulência maior cria uma área de alta pressão à frente do nadador, uma “muralha d’água” que retarda o movimento de avanço. As causas mais comuns da resistência de ondas, além de raias mal projetadas e inadequadas para provas de natação, são as entradas do braço na água com violência e os movimentos laterais e verticais excessivos do corpo. c. Resistência de Atrito O atrito entre o corpo do nadador e as moléculas de água que entram em contato com ele interrompe o fluxo laminar destas moléculas. Como resultado, elas se chocam com outras moléculas atrás delas e adjacentes a elas, aumentando a resistência hidrodinâmica e retardando o movimento de avanço. Por isto, os nadadores adotam o hábito de raspar os pelos do corpo antes de provas importantes. Além disso, eles usam trajes que aderem à pele sem deixar espaços ou dobras que prendam a água. Alguns nadadores cobrem o corpo com óleo e outras substâncias que reduzem o atrito entre a pele e a água. A experiência parece indicar que estes procedimentos têm um efeito benéfico sobre o desempenho. Mas, CLARYS, em 1979, declarou que a resistência do atrito sobre o corpo do nadador em movimento é insignificante. Suas pesquisas indicam que os nadadores, mesmo na posição mais hidrodinâmica, geram tanta resistência das ondas e de forma que é impossível manter o fluxo laminar da água ao redor de seus corpos. Em outras palavras, a turbulência causada pela resistência de ondas e de forma já é tão grande, que qualquer aumento na resistência devido ao atrito da pele seria insignificante. 3. PROPULSÃO NA NATAÇÃO As primeiras tentativas de descrever os movimentos propulsores dos nadadores de competição comparavam os braços desses atletas a remos ou rodas de pás. Os nadadores eram ensinados a manter os braços esticados, movendo-os num padrão semicircular como uma roda de pás, durante a fase propulsora de suas braçadas (Fig 3-5).