O documento descreve os principais estilos literários do Parnasianismo no século XIX, incluindo seu foco na forma e precisão, objetividade e temas clássicos. Dois poemas exemplificam essas características através de descrições detalhadas da natureza e objetos como uma nuvem e vasos grego e chinês.
4. NO MUNDO:
• Liberalismo.
• Ascenção da burguesia: acentuado progresso
político, social e econômico.
• Domínio de uma filosofia de base individualista.
• Aperfeiçoamento da imprensa: transformação
do livro em produto de consumo.
5. NO BRASIL:
• Período das Regências;
• Segundo Império;
• Guerra do Paraguai;
• Lutas abolicionistas;
• Momento de definição da nacionalidade;
• Rio de Janeiro transforma-se na capital
artística do país.
6. CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS E FORMAIS:
Forte oposição à tradição clássica.
Defesa da liberdade de criação: valorização da originalidade e
não da imitação.
Busca de uma linguagem nova: metafórica, musical, colorida
e menos formal.
Mistura de gêneros e espécies e consolidação de novas
espécies (dramas e romance).
Individualismo: visão egocêntrica da vida.
Sentimento de desadaptação à realidade: conflito entre o
“eu” e o mundo.
7. Gerações Poéticas
1ª Geração:
- Nacionalista;
- Indianista;
- Religiosa;
- Mulher idealizada
2ª Geração: Byronismo
- Mal do Século;
- Ultrarromantismo;
- Escapismo;
- Mulher idealizada
3ª Geração:
- Condoreirismo;
- Abolicionismo;
- Engajamento social;
- Mulher erotizada
8. AS GERAÇÕES POÉTICAS:
1. PRIMEIRA GERAÇÃO:
• Bucolismo;
• Nacionalismo ufanista;
• Indianismo;
• A evasão do tempo e espaço,
• Individualismo, o sofrimento amoroso, a exaltação da
liberdade, a expressão de estados de alma, emoções e
sentimentalismo.
• O sentimentalismo e a religiosidade são outras
características presentes.
9. AS GERAÇÕES POÉTICAS:
SEGUNDA GERAÇÃO:
• O profundo subjetivismo;
• O egocentrismo, o individualismo;
• A evasão na morte,
• O saudosismo (lamentação);
• O pessimismo,
• O sentimento de angústia,
• O sofrimento amoroso,
• O escapismo;
• O spleen
10. AS GERAÇÕES POÉTICAS:
TERCEIRA GERAÇÃO:
• O erotismo;
• A mulher vista com virtudes e pecados;
• O abolicionismo;
• A visão ampla e conhecimento sobre todas as
coisas;
• A realidade social e a negação do amor platônico,
com a mulher podendo ser tocada e amada.
11. A PROSA ROMÂNTICA:
Desenvolvimento da Imprensa;
Predileção pela PROSA;
Romances de Folhetim.
12. O Romantismo
A prosa romântica:
- Idealização do AMOR
e da MULHER;
- Maniqueísmo;
- Trama Romântica;
- Ufanismo;
- Bucolismo
13. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS
ROMANCES ROMÂNTICOS:
Maniqueísmo;
Trama Romântica;
Visão IDEALIZADA de mundo;
Sentimentalismo;
Final (Feliz ou Trágico);
Ufanismo.
14. CLASSIFICAÇÃO DOS ROMANCES ROMÂNTICOS:
1. ROMANCES INDIANISTAS:
• Índio: herói brasileiro;
• Natureza idealizada;
• Descrição dos costumes e cultura indígenas.
• Nacionalismo ufânico.
EX.: IRACEMA,
O GUARANI,
UBIRAJARA
JOSÉ DE ALENCAR
15. CLASSIFICAÇÃO DOS ROMANCES ROMÂNTICOS:
2. ROMANCES HISTÓRICOS:
• Mesclam ficção com realidade;
• Ficcionalizam costumes de uma época passada;
EX.: As Minas de Prata e A Guerra dos Mascates.
16. CLASSIFICAÇÃO DOS ROMANCES ROMÂNTICOS:
3. ROMANCES URBANOS:
• Crítica aos costumes, mostrando a sociedade e os
interesses da época;
• Histórias narradas na capital;
• Realização amorosa (casamento).
Ex.: Lucíola (José de Alencar), A moreninha (Joaquim
Manuel de Almeida)
17. ATENÇÃO!!!!
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel
Antônio de Almeida, que surge trazendo à tona os
costumes da periferia, vai na contramão do retrato de
costumes da alta sociedade e apresenta como
protagonista um malandro, algo raro neste tipo de
romance.
18. CLASSIFICAÇÃO DOS ROMANCES ROMÂNTICOS:
4. ROMANCES REGIONALISTAS:
• Passados em ambiente rural, mostrando costumes,
valores e cultura típica de uma região;
• Voltam-se para regiões diferentes do Brasil, trazendo à
tona sua diversidade;
Ex.: : Inocência, de Visconde de Taunay; O Gaúcho, de
José de Alencar; O seminarista, de Bernardo Guimarães
20. REALISMO
NO MUNDO:
Socialismo científico (Marx e Engels);
Segunda Revolução Industrial;
Lutas proletárias;
Progresso da Biologia e das ciências Físico-químicas;
Correntes Filosóficas: Positivismo (Augusto Conte),
Evolucionismo (Charles Darwin). Determinismo (Taine)
e Materialismo.
21. Eça de Queirós:
O Realismo-Naturalismo
em Portugal
• Prosa realista e naturalista em Portugal;
• Crítica à vida burguesa e à falência das
instituições sociais do país;
• Utilização de ironia;
• Composição de personagens caricatas.
22. As personagens de Eça
de Queirós
• Primo Basílio (1878)
• Romance de tese – cunho
determinista;
• Questionamento da Instituição
Casamento;
• Críticas à educação romântica;
• Tendências naturalistas (cenas de
sexo);
• Estilo que mescla vocabulário
grosseiro com observações refinadas.
23. REALISMO
NO BRASIL:
Ciclo do café;
Abolição (1888);
Proclamação da República (1889);
Desenvolvimento da imprensa;
Urbanização.
24. REALISMO NATURALISMO:
- Análise das patologias
sociais;
- O homem em seu
estado NATURAL;
- Estética do feio;
- Zoomorfismo;
- Determinismo;
- Romances-tese.
26. REALISMO PSICOLÓGICO:
- Análise das contradições e dualidades
humanas;
- Crítica à fragilidade dos valores
sociais;
- Elegância no estilo;
- Humor sutil
- Metalinguagem;
- Digressão;
- Diálogo com o leitor.
MACHADO DE ASSIS
27. PERSONAGENS DO REALISMO PSICOLÓGICO:
- Não há maniqueísmo;
- Representam as contradições do
ser humano;
- Personagens complexas;
- Apresentam traços psicológicos.
31. Características gerais
• Preciosismo: focaliza-se o detalhe; cada objeto deve singularizar-se, daí as
palavras raras e rimas ricas.
• Objetividade e impessoalidade: O poeta apresenta o fato, a personagem, as
coisas como são e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua
maneira pessoal de ver, sentir e pensar. Esta posição combate o exagerado
subjetivismo romântico.
• Arte Pela Arte: A poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de
compromisso, e se justifica por sua beleza. Faz referências ao prosaico, e o
texto mostra interesse a coisas pertinentes a todos.
32. • Estética/Culto à forma: Como os poemas não assumem nenhum tipo de compromisso, a estética é muito valorizada.
O poeta parnasiano busca a perfeição formal a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal.
Aspectos importantes para essa estética perfeita são:
• Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe gramatical. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes
de quatro versos, porém também muito usada as rimas interpoladas.
• Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos, composição dividida em duas estrofes de quatro
versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a "chave" do texto no último verso.
• Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente com dez
(decassílabos) ou doze sílabas(versos alexandrinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar uma simetria
constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis
sílabas, etc.
• Descritivismo: Grande parte da poesia parnasiana é baseada em objetos inertes, sempre optando pelos que exigem
uma descrição bem detalhada como "A Estátua", "Vaso Chinês" e "Vaso Grego" de Alberto de Oliveira.
33. • Temática Greco-Romana - A estética é muito valorizada no Parnasianismo, mas mesmo assim, o texto precisa de um
conteúdo. A temática abordada pelos parnasianos recupera temas da antiguidade clássica, características de sua história
e sua mitologia. É bem comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e
até mesmo objetos.
• Uso de figuras de linguagem: Preferência pelo hipérbato, recurso que estiliza ainda mais os textos parnasianos
contribuindo para o objetivo das obras.
• Cavalgamento ou encadeamento sintático: Ocorre quando o verso termina quanto à métrica (pois chegou na décima
sílaba), mas não terminou quanto à ideia, quanto ao conteúdo, que se encerra no verso de baixo. O verso depende do
contexto para ser entendido. Tática para priorizar a métrica e o conjunto de rimas. Como exemplo, este verso de Olavo
Bilac:
Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada e triste.
E triste e fatigado eu vinha.
34. A tríade parnasiana
Foto: da esquerda para a direita
Alberto de Oliveira – Versos e rimas (1895)
Raimundo Correia – Sinfonias (1883), Poesias
(1898)
Olavo Bilac – Poesias (1888), Tratado de
versificação (1910)
35. A Nuvem
Sulcas o ar de um rastro perfumoso
Que os nervos me alvoroça e tantaliza,
Quando o teu corpo musical desliza
Ao hino do teu passo harmonioso.
A pressão do teu lábio saboroso
Verte-me na alma um vinho que eletriza,
Que os músculos me embebe, e os nectariza,
E afrouxa-os, num delíquio langoroso.
E quando junto a mim passas, criança,
Revolta a crespa, luxuosa trança,
Na espádua arfando em túrbidos
negrumes,
Naufraga-me a razão em sombra densa,
Como se houvera sobre mim suspensa
Uma nuvem de cálidos perfumes!
(Teófilo Dias)
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada ...
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada ...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Raimundo Correa)
36. Vaso grego
Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
.
Depois. Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-
a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
.
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
Vaso chinês
.
Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio
Entre um leque e o começo de um bordado.
.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
.
Mas, talvez por contraste à desventura —
Quem o sabe? — de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa
(Alberto de Oliveira)
37. Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo. [...]
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor. [...]
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel. [...]
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito: [...]
Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma! [...]
(Olavo Bilac)
Profissão de Fé
38. Via Láctea
XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no
entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em
pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
(Olavo Bilac)
Súplica
Falava o sol. Dizia:
“Acorda! Que alegria
Pelos ridentes céus se espalha agora!
Foge a neblina fria...
Pede-te a luz do dia,
Pedem-te as chamas e o sorrir da aurora!”
Dizia o rio, cheio
De amor, abrindo o seio:
“Quero abraçar-te as formas primorosas!
Vem tu, que embalde veio
O sol: somente anseio
Por teu corpo, formosa entre as formosas!
Quero-te inteiramente
Nua! quero, tremente,
Cingir de beijos tuas róseas pomas,
Cobrir teu corpo ardente,
E na água transparente
Guardar teus vivos, sensuais aromas!” [...]
Tudo a exigia... Entanto,
Alguém, oculto a um canto
Do jardim, a chorar, dizia: “Ó bela!
Já te não peço tanto:
Secara-se o meu pranto
Se visse a tua sombra na janela!” (Olavo Bilac)
42. Contexto Histórico
• 1881, França: consequências da Revolução Francesa
• Influência do misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes,
pensamento e religiões orientais – poetas procuram refletir em suas
produções a atmosfera presente nas viagens a que se dedicavam.
• “Decadentismo" - clara alusão à decadência dos valores estéticos então
vigentes (realismo e suas correntes) e a uma certa afetação que neles
deixava a sua marca.
• Em 1886, um manifesto trouxe a denominação que viria marcar
definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.
43. Características Gerais
• Subjetivismo:
Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão
mais geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e, sim, está
focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia
que se opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém,
mais do que voltar-se para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do
"eu" e buscam o inconsciente, o sonho.
44. • Musicalidade:
A musicalidade é uma das características mais destacadas da
estética simbolista, segundo o ensinamento de um dos mestres
do simbolismo francês, Paul Verlaine, "De la musique avant toute
chose..." (" A música antes de mais nada...")
Para conseguir aproximação da poesia com a música, os
simbolistas lançaram mão de alguns recursos, como por exemplo
a aliteração, que consiste na repetição sistemática de um
mesmo fonema consonantal, e a assonância, caracterizada pela
repetição de fonemas vocálicos.
45. • Transcendentalismo
Um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir através das palavras
sem nomear objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário
e na fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição
e não da razão ou da lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. O
fato de preferirem as palavras névoa, neblina, e palavras do gênero, transmite
a ideia de uma obsessão pelo branco (outra característica do simbolismo)
como podemos observar no poema de Cruz e Sousa:
"Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó
Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras..." [...]
46. Temas:
• Os temas são místicos, espirituais, ocultos.
• Abusa-se da sinestesia, sensação produzida pela
interpenetração de órgãos sensoriais: "cheiro doce" ou "grito
vermelho", das aliterações e das assonâncias, tornando os
textos poéticos simbolistas profundamente musicais.
• É uma arte não para se entender, mas para se sentir.
“Vozes veladas, veludosas vozes”
47. As flores do mal (1857)
Charles Baudelaire, 1863 (por Étienne Carjat)
Tristezas da lua
Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;
Como uma bela, entre coxins e devaneios,
Que afaga com a mão discreta e vaporosa,
Antes de adormecer, o contorno dos seios.
No dorso de cetim das tenras avalanchas,
Morrendo, ela se entrega a longos estertores,
E os olhos vai pousando sobre as níveas manchas
Que no azul desabrocham como estranhas flores.
Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,
Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer,
Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,
No côncavo das mãos toma essa gota rala,
De irisados reflexos como um grão de opala,
E bem longe do sol a acolhe no seu peito.
(Charles Baudelaire)
48. Missal (1893)
Dolências
Tu, na emoção desse encanto doloroso e
acerbo da Arte, te sentirás, um dia, velho, fatigado, como
um peregrino que percorreu ansiosamente todas as vias-
sacras torturantes e perigosas.
Essa maravilhosa seiva de pensamentos,
toda essa púrpura espiritual, as vivas forças impetuosas
do teu sangue, agindo poderosamente no cérebro, irão
aos poucos, momento a momento, desaparecendo, num
brilho esmaecido, vago, o brilho branco e virgem das
estrelas glaciais.
A tu’alma será condenada à solidão e silêncio
, como certas formosuras claustrais de monjas que
brumalmente aparecem por entre as celas, deixando no
espírito de quem as vê, quase que o mistério de um
religioso esplendor…
E, já assim emudecido e gelado para as
nobres sensações do Amor, ficarás então como se
estivesses morto – sem cabelos, sem dentes, sem nariz,
sem olhos – sem nenhumas dessas expressões físicas
que tornam os seres humanos harmoniosamente
perfeitos. [...]
(Cruz e Sousa)
49. Violões que choram...
Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.
Noites de além, remotas, que eu recordo,
noites de solidão, noites remotas
que nos azuis das Fantasias bordo,
vou constelando de visões ignotas. [...]
E sons soturnos, suspiradas mágoas,
mágoas amargas e melancolias,
no sussurro monótono das águas,
noturnamente, entre ramagens frias.
Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
(Cruz e Sousa)
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras [...]
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes... [...]
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
(Cruz e Sousa)
Broquéis (1893)
50. O assinalado
Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco...
Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!
(Cruz e Sousa)
Assim seja!
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do dever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
Traia, sequer, o teu sentir latente.
Morre com a alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um gládio soberbo e refulgente.
Vai abrindo sacrário por sacrário
Do teu Sonho no templo imaginário,
Na hora glacial da negra Morte imensa...
Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que desce
Desdenhando de toda a Recompensa!
(Cruz e Sousa)
51. A Cabeça de Corvo
Na mesa, quando em meio à noite lenta
Escrevo antes que o sono me adormeça,
Tenho o negro tinteiro que a cabeça
De um corvo representa.
A contemplá-lo mudamente fico
E numa dor atroz mais me concentro:
E entreabrindo-lhe o grande e fino bico,
Meto-lhe a pena pela goela a dentro.
E solitariamente, pouco a pouco,
Do bojo tiro a pena, rasa em tinta...
E a minha mão, que treme toda, pinta
Versos próprios de um louco.
E o aberto olhar vidrado da funesta
Ave que representa o meu tinteiro,
Vai-me seguindo a mão, que corre lesta.
Toda a tremer pelo papel inteiro.
Dizem-me todos que atirar eu devo
Trevas em fora este agoirento corvo,
Pois dele sangra o desespero torvo
Destes versos que escrevo.
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimaraens
52. O IMPRESSIONISMO:
ENTRE O SIMBOLISMO E O PRÉ-MODERNISMO
O impressionismo foi um movimento artístico (artes plásticas e música) que
surgiu na França no final do século XIX. Este movimento é considerado o marco
inicial da arte moderna e equivale aos valores do simbolismo na Literatura. O
nome “impressionismo” deriva de uma obra de Monet chamada Impressão,
nascer do Sol (1872).
Características do impressionismo nas artes plásticas:
- Ênfase nos temas da natureza, principalmente de paisagens;
- Uso de técnicas de pintura que valorizam a ação da luz natural (pintura de
ambientes externos);
- Valorização da decomposição das cores (cores misturadas na paleta);
- Pinceladas soltas buscando os movimentos da cena retratada;
- Uso de efeitos de sombras coloridas e luminosas.
53. Vocês conhecem nossas redes sociais?
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www.minasdaredacao.com.br
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