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A mentira do opressor
“
Preciso manter a promessa de não fazer um discurso sobre o
colonialismo. Mas vou expressar
, com palavras simples, qual é minha
objeção fundamental ao domínio colonial.
A meu ver
, é um grave crime qualquer pessoa se impor a outra,
apropriar
-se de sua terra e de sua história, e ainda agravar esse crime
com a alegação de que a vítima é uma espécie de tutelado ou menor
de idade que necessita de proteção. É uma mentira total e deliberada.
Parece que até o agressor sabe disso, e é por essa razão que ele às vezes
procura camuflar seu banditismo com essa hipocrisia tão descarada.
No fim do século XIX, o rei Leopoldo da Bélgica, cujas atividades no
Congo mostram bem o porquê da triste fama do colonialismo, ainda foi
capaz de pronunciar estas palavras com a cara mais séria do mundo:
‘Apraz-me pensar que nossos enviados, quase todos voluntários
vindos das fileiras do Exército belga, têm sempre em mente a forte
noção da carreira que escolheram e são animados pelo mais puro
sentimento de patriotismo; sem poupar seu próprio sangue, pouparão
ainda mais o sangue dos nativos, que neles verão os protetores todo-
-poderosos de suas vidas e de seus bens, professores benevolentes
de quem eles tanto necessitam’.
”
ACHEBE, Chinua. A educação de uma criança sob o protetorado britânico
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 17.
Congoleses aprisionados por colonizadores belgas, n o Es tado Ind epend ente
do Congo, at ual República Democrática do Congo. Foto d e c. 1900.
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Conversando sobre
1. Que críticas Chinua Achebe
faz ao neocolonialismo? Você
concorda com ele? Por quê?
2 . Achebe af irma: “Parece que
até o agressor sabe disso,
e é por essa ra zão que ele
à s vezes procura camuf lar
seu banditismo com essa
hipocrisia tão descarada”
. De
que maneira o discur so do rei
Leopoldo, da Bélgica, citado
por Achebe, exemplif ica essa
af irmação?
3. De que forma o domínio e a
opressão de uma pessoa, de
um grupo, de uma ins tituição
etc. sobre o outro se expressa
nos dia s atuais?
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Achebe presenciou as mudanças políticas, econômicas, culturais e sociais ocorridas na Nigéria durante o domínio colonial britânico. Em seu livro
A educação
de uma criança sob o protetorado britânico
, do qual foi extraído o trecho apresentado nesta abertura, ele trata desse conturbado e violento período da história
de seu país, além de fazer uma crítica ao neocolonialismo europeu.
Recomendamos iniciar os estudos deste ca
p í t u l o p e l a l e i t u r a d o t e x t o e , e m s e g u i d a ,
passar para a análise da imagem. O escritor
n i g e r i a n o C h i n u a A c h e b e é c o n s i d e r a d o u m
dos principais romancistas da literatura africana.
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A “issão” o o aco
De 1870 até o início do século XX, a econ omia euro peia passou por grand e expansão.
Ocorreu nesse período o que alguns h is toriadores consid eram a Segunda Revolução
Indus trial. Ela se caracterizou por avanços n o processo d e indus trialização, como a uti-
lização d e n ovas fontes d e energia – petróleo e eletricidad e –, que possibilitaram trans-
formações importantes na econ omia capitalis ta. Nesse período também hou ve grand e
d esenvolvimento dos meios d e transporte e expansão dos meios d e comunicação, além
da formação do capitalismo financeiro e dos oligo pólios
Acompanhando esse processo d e expansão econômica, a burguesia das grand es po-
tências voltou-se para a exploração d e territórios fora d e suas fronteiras nacionais, dando
início ao neocolonialismo ou imperialismo. Ela buscava n ovos mercados consumidores
e áreas para inves tir o capital exced ente na Euro pa e acolher o excesso d emográfico do
continente. O imperialismo significou a dominação d e grand es porções da Ásia e da África
pelas potências mais indus trializadas da Euro pa.
Setores da burguesia argumentavam que a expansão colonial era necessária para
garantir o crescimento indus trial e evitar convulsões sociais na Euro pa. Além dos argu-
mentos políticos e econômicos, as potências ocid entais utilizaram id eologias racis tas para
jus tificar suas inves tidas sobre a África e a Ásia.
Essas id eologias d eram origem ao darwinismo social. Seus id ealizadores alegavam que
a teoria da evolução das espécies d e Charles Darwin pod eria ser aplicada à sociedad e. Com
base nessa id eia, o domínio dos brancos passou a ser jus tificado pela lei d e seleção nat ural
das espécies, uma vez que eles pertenceriam a uma espécie mais evoluída. Então, difundiu-se
a visão d e que a expansão imperialis ta seria uma missão civilizadora d e uma raça superior,
a branca, representada pelos euro peus e pelos n orte-american os.
A “missão” dos povos ocid entais incluía a tare fa d e levar a tecn ologia e a cult ura cris tã
para áreas ond e a po pulação nativa “jamais” as alcançaria sozinha. Essa visão racis ta, que
se pro pagou n o século XIX, incentivou e legitimou a violência contra os povos colonizados.
Oligo pólio: sit uação
em que um número
limitado d e empresas
domina o mercado
d e d eterminado
ramo d e produção
indus trial ou d e
serviços, reduzindo
dras ticamente a
concorrência.
O fardo do homem branco (apologia a Kipling)
, charge d e F. Victor Gillam publicada na revis ta n orte-americana
Judge, em 1
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d e a bril d e 18 99. Biblioteca e Museu Billy Ireland Cartoon. Universidad e Es tadual d e Oh io.
Columbus, Es tados Unidos.
De que forma pod emos relacionar essa charge ao darwinismo social?
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À direita está a personagem T io
Sam, um dos símbolos nacionais
dos Estados Unidos, e, à sua fren
te, um senhor com trajes típicos de
um lorde inglês. Ambos carregam
g r a n d e s c e s t o s c o m p e s s o a s
dentro, cuja origem está escrita
em suas roupas ou adereços. T
anto
o Tio Sam quanto o lorde inglês
escalam uma montanha de pedras,
nas quais podemos ler palavras re
lacionadas à ideia de “atraso” como
ignorância, crueldade, canibalismo
e escravidão. No topo da montanha
há uma estátua iluminada, sobre a
qual podemos ler a palavra “civili
zação”. O próprio nome da charge
é u m a re f e rê n c i a a o p o e m a O
fardo do homem branco
, de 1899,
no qual o autor Rudyard Kipling
justifica a política expansionista
dizendo que os países “desenvol
vidos” tinham a missão de levar os
valores da civilização para os povos
“atrasados”. A ideia da existência
de povos superiores está direta
mente relacionada às teorias do
darwinismo social.
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ALEMÃO
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DO SUL
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ZANZIBAR
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Itália (IT
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Bélgica (BEL)
Portugal (POR)
Espanha (ESP)
Domínio conjunto
anglo-egípcio
Territórios não
colonizados
A L i b é r i a e a
E t i ó p i a f o r a m o s
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can os não coloniza-
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tado uma política
d e e n v i o , a o p a í s
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-escravos e negros
nascidos livres na
América do Norte.
Já a Etiópia chegou
a t e r s e u t e r r i t ó -
rio invadido pelos
italian os por volta
d e 1880, mas con-
seguiu expulsá-los
por ter um número
d e soldados muito
superior ao do país
invasor.
O caso da Libéria
e da Etiópia
Plh  Ác
Até o início do século XIX, os redutos euro peus exis tentes na África resumiam-se
às regiões litorâneas d e Angola, Moçambique e Guiné, ocupadas por Port ugal d esd e
o século XVI, e ao Ca bo, área ao sul colonizada pelos holand eses e transferida para a
Grã-Bretanha d epois do Congresso d e Viena (1814-1815).
Os franceses foram os mais ativos na conquis ta militar africana. No plan o político,
pretendiam recuperar o pres tígio internacional da França, a balado pelas d errotas napoleô-
nicas. Já n o plan o econômico, tinham o objetivo d e assegurar grand es lucros aos grupos
privados do país.
A Grã-Bretanha reiniciou sua inves tida n o continente african o em 1875, ao comprar
do vice-rei do Egito, Ismael Pacha, ações da Companh ia do Canal d e Suez. O canal era
uma via marítima es tratégica que ligava comercial mente a Euro pa, a Península Arábica e
a Índia. Com o endividamento do govern o egípcio, sobret udo por causa dos inves timentos
na cons trução do canal, os britânicos passaram a intervir na região. Em 1914, o Egito d ei-
xou d e ser uma província otomana, tornando-se oficial mente um protetorado britânico.
A Bélgica d eu início à exploração da bacia do Rio Congo, em 1876, por meio da Associação
Internacional Africana, empresa do rei belga Leo poldo II. An os mais tard e, ele fez da região
seu domínio pessoal. Após massacrar milhares d e congoleses mediante um truculento regime
d e tra balho, que incluía mutilações e assassinatos, o monarca foi obrigado pela comunidad e
internacional a a bandonar a possessão, que em 1908 foi assumida pelo Es tado belga.
A Alemanha e a Itália, unificadas somente na segunda metad e do século XIX, entraram
mais tard e na corrida imperialis ta. Entre 1884 e 1885 ocorreu, por iniciativa d e Otto von
Bismarck, a Conferência d e Berlim, com o objetivo d e disciplinar e d e finir a repartição
“amigável” da África para evitar uma guerra entre as potências imperialis tas. Os partici-
pantes da conferência es ta beleceram um acordo por meio do qual, a partir daquela data,
qualquer anexação do território african o d everia ser comunicada imediatamente às outras
potências, seguindo-se a ocupação e fetiva para garantir a posse.
O oío sgo  Ác (1885-1913)
Fonte: HERNAND EZ, Leila Leite. A África na
sala d e aula: visita à h is tória contemporânea.
São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 68.
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instituições financeiras.
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Debelado: vencido
por meio da força,
d errotado, extinto.
Aicaos coa o ipiaiso
A conquis ta euro peia na África foi marcada pela violência e pelo racismo, ins tit uí-
dos, por exemplo, na d esapro priação d e terras, na cobrança d e impos tos, em formas d e
tra balho compulsório e n o d esrespeito às tradições locais. Diante disso, muitos povos
african os resis tiram à dominação es trangeira, dando origem a prolongados conflitos.
À exceção dos ocorridos na Libéria e na Etiópia, todos esses movimentos d e resis tência
foram violentamente d ebelados pelas potências ocid entais.
Na região do Alto Senegal, na África Ocid ental Francesa, es tourou a Rebelião d e
Mamadou Lamine, entre 18 98 e 1901. O movimento girou em torn o da crença d e que
os muçul man os não pod eriam ser governados por não islâmicos. Assim, lid erados por
Mamadou Lamine, os rebeld es atacaram obras d e cons trução, em que havia tra balho
forçado, e formaram guerrilhas, promovendo pilhagens nas áreas d e grand e presença
francesa. Mamadou, porém, foi capt urado e executado, e o movimento perd eu força.
Na Cos ta do Ouro (at ual Gana), entre 18 90 e 1900, eclodiu uma revolta contra o
domínio britânico, que ficou conhecida como Rebelião Ashanti. O principal motivo para
o levante foi a d eposição d e líd eres tradicionais por parte das autoridad es britânicas
e a n omeação d e outros governantes para subs tit uí-los. Para os ashanti, essa atit ud e
significou a violação d e sua tradição religiosa e cult ural, pois os líd eres locais eram
consid erados sagrados.
Em 1900, d epois d e sangrentas batalhas, diversos generais e a rainha Nana Yaa Asan-
tewaa, uma das líd eres do movimento, foram presos e d eportados, dando fim à resis tência
ashanti na região.
Outra revolta importante foi a d e Maji-Maji, na África Oriental Alemã (at ual Tanzâ-
nia), que durou d e 1905 a 1907. A origem da revolta es tá na d esapro priação das terras
dos autóctones, n os maus-tratos e na imposição, pelos alemães, d e altos impos tos e d e
tra balhos forçados nas plantações d e algodão da região. Sob a lid erança d e Kinjikitile,
cerca d e vinte grupos étnicos diferentes uniram-se n o combate aos invasores alemães.
Tambores d e guerra utilizados pelos
ashanti, na Cos ta do Ouro, at ual Gana.
Foto d e c. 1910.
“
Para ressaltar e dar concretude à
unidade das várias etnias, Kinjikitile
promoveu a construção de um enorme
altar ao qual chamou ‘a casa de Deus’
e nele passou a preparar o Maji, isto
é, uma água tida como medicinal e
sagrada com poder de tornar todos
os africanos que a bebessem invulne-
ráveis à artilharia europeia.
”
HERNANDEZ, Leila Leite. Movimentos
de resistência na África. Revista de História,
n. 141, 1999, p. 145. Disponível em
<www
.revistas.usp.br/revhistoria/article/
view/18887/20950>. Acesso em 26 fev
. 2016.
K i n j i k i t i l e f o i e n f o r c a d o e m 1 9 0 5 .
O movimento, porém, não perd eu força e
aca bou sendo lid erado pelo pai d e Kinjikitile.
A resis tência durou até 1907, quando foi
reprimida pelas autoridad es alemãs.
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TRÓPICO DE CÂNCER
EQUADOR
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
0º
120º L
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
ÍNDICO
RÚSSIA
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(P
ARTE EUROPEIA)
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COREIA
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JAP
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SÍRIA AFEGANIST
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SUMA
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A U S T R Á L I A
ARÁBIA
FORMOSA
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FILIPINAS (dominado pelos EUA em 1898)
N D A S H O L A N D E S A
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A ZELÂNDIA
CEILÃO
MANCHÚRIA
SACALINA
PÉRSIA
TIBETE
BIRMÂNIA
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Hong Kong
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Wai-Hai-Wei
(GB)
Porto Artur
(JAP)
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TIMOR
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(GB)
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(GB)
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Novas Hébridas
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Nova Caledônia
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(FRA)
Pondicherry
(FRA)
Karikal
(FRA)
Mahé
(FRA)
Damão
(POR)
Diu
(POR)
Grã-Bretanha (GB)
França (FRA)
Alemanha (ALE)
Holanda (HOL)
Portugal (POR)
Japão (JAP)
Potências dominadoras
expasão cooia a Ásia
Entre 1830 e 1880, as potências euro peias e o Japão d esenvolveram políticas imperia-
lis tas na Ásia. A presença euro peia n o continente, porém, não era n ovidad e, pois as riquezas
da Ásia fascinavam os ocid entais d esd e a época medieval. No período do expansionismo
mercantilis ta, os euro peus es ta beleceram algumas colônias n o continente asiático: Por-
t ugal colonizou Macau (Ch ina), Timor (Indonésia), Goa, Damão e Diu (Índia); a Espanha
es teve presente nas Filipinas entre 1571 e 18 98; a Holanda es ta beleceu colônias em Java
(Indonésia) e Sumatra, entre outras ilhas. No início do século XIX, a permanência d essas
colônias tes temunhava a primeira onda d e expansão euro peia na Ásia, bem anterior ao
avanço imperialis ta.
Íia so oíio iâico
Desd e o século XVIII, a Índia, terra das especiarias que pro porcionaram muitas riquezas
aos port ugueses e espanhóis durante as grand es viagens marítimas, era mercado essencial
para os tecidos d e algodão e as exportações das manufat uras britânicas.
Entre 17 84 e 1858, a quase totalidad e do território es teve submetida à Companh ia das
Índias Orientais britânica, que controlava a região por meio d e alianças com os príncipes
locais. A companh ia praticava o comércio, coletava impos tos e comandava tro pas d e sol-
dados nativos, conhecidos como cipaios. A partir d e 1848, medidas econômicas adotadas
pelos britânicos como a cobrança d e um impos to individual em dinheiro e a redução das
tarifas alfand egárias para as importações, a balaram os cos t umes locais e liquidaram a
indús tria artesanal têxtil indiana, incapaz d e concorrer com os produtos britânicos.
A reação veio com a grand e Revolta dos Cipaios. A rebelião, que ocorreu entre 1857
e 1859, aliou soldados muçul man os, h indus e príncipes contra a dominação britânica.
O movimento foi duramente reprimido e serviu d e pretexto para que a Grã-Bretanha
controlasse politicamente o sub continente. Em 1876, a Índia passou a integrar o Império
Britânico, e a rainha Vitória recebeu o tít ulo d e imperatriz da Índia.
Fonte: PARKER, Geoffrey.
Atlas Verbo d e h is tória univer sal
Lisboa: V
erbo, 1997. p. 113.
Ativis tas do movimento
d e resis tência contra
o colonialismo francês
presos durante a
Campanha em Tonkin
(1883-1886), organizada
pela França com o
objetivo d e es ta belecer
um protetorado em
Tonkin, na Indoch ina
(at uais Vietnã, Laos e
Camboja). Foto d e 1887.
O ipiaiso a Ásia (séco XIX)
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Ipéio o So nasc: o Japão
No início da década d e 1850, o sis tema d e govern o japonês, o xogunato, foi a balado
pelas potências ocid entais. Lid eradas pelos Es tados Unidos, elas pressionaram e exigiram
a a bert ura dos portos japoneses.
Reagindo à inves tida ocid ental, em 1860 os japoneses começaram a enviar jovens à
Euro pa e aos Es tados Unidos para cursar universidad es d e ciência e tecn ologia mod ernas.
Com o conhecimento técnico adquirido n o Ocid ente, os japoneses impulsionaram seu
processo d e indus trialização.
Paralelamente, o Japão passou a rees trut urar seu Exército e sua Marinha. Em
1868, com apoio do Exército, o gover n o fo i res taura d o em n ome d o i mpera dor
Mutsuh ito Mei ji, que iniciou uma série d e re formas com o objetivo d e mod ernizar o país.
O pod er dos grand es senhores d e terras foi subs tit uído por um sis tema d e pre feit uras
controladas por uma burocracia central. Tais re formas tornaram-se conhecidas como
Revolução Mei ji
Essa revolução transformou o Japão em exemplo d e indus trialização n o Oriente.
A mod ernização econômica foi obtida graças aos inves timentos na agricult ura e na edu-
cação, ao aperfeiçoamento da indús tria metalúrgica, à ampliação da red e d e transportes,
sobret udo com a cons trução d e ferrovias, e à consolidação dos bancos, responsáveis por
um ambiente financeiro e ficiente. Uma re forma tributária garantiu boas fontes d e renda
ao govern o, que inves tiu cerca d e um terço d e seu orçamento n o comércio e na indús tria,
além d e subsidiar a cons trução naval.
“
As autoridades [japonesas] argumentavam que a riqueza e o poder do país
como um todo seriam prejudicados se as pessoas comuns fossem iletradas. Em
1940 [...] 99% da população já estava alfabetizada, em contraste com os números
de 1873, quando as cifras chegavam a 39,9% para os homens e apenas 15,2% para
as mulheres. [...] As escolas serviram igualmente à promoção da disciplina [...] e
da subserviência ao imperador
. [...] fomentaram a identidade nacional japonesa,
minando provincianismos e antigas distinções sociais: a educação deveria quali-
ficar os cidadãos sem distinção de nível social.
”
SAKURAI, Célia. Os japoneses. São Paulo:
Contexto, 2007. p. 142-143. (Coleção Povos e civilizações)
Nas últimas décadas do século XIX, o país já participava da corrida imperialis ta ao lado
das potências ocid entais. A vitória na guerra contra a Ch ina entre 18 94 e 18 95 garantiu
ao Japão a influência sobre a Coreia e a conquis ta da Ilha d e Taiwan.
Xogunato: sis tema
d e govern o japonês
que perdurou entre
os séculos XII e XIX,
cujo líd er máximo, o
xogum, concentrava
os pod eres políticos
e militares. Durante
o xogunato, o
imperador foi uma
figura simbólica n o
Japão.
Gravura (século XIX)
que representa o
imperador Mutsuh ito
Mei ji retornando ao seu
palácio, em Tóquio.
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A qa o agão: a Cia
A Ch ina representava um atraente mercado consumidor e fornecedor d e produtos
cobiçados pelos ocid entais, como a seda, o chá, a porcelana e artigos d e luxo. No entanto,
o comércio na região era raro e difícil, até porque os ch ineses não gos tavam d e es ta belecer
relações com os povos ocid entais.
No início do século XIX, a sit uação mudou. Comerciantes britânicos d escobriram um pro-
duto cujo consumo podia ser incentivado entre os ch ineses: o ópio. Em represália, o govern o
ch inês proibiu o comércio legal d e ópio e combateu o contra bando com severas penas. A
tensão cresceu quando as autoridad es confiscaram uma carga britânica e jogaram-na ao mar
.
Alegando prejuízos à pro priedad e privada, o govern o britânico iniciou uma série d e
retaliações, que terminaram em conflitos conhecidos como Guerras do Ópio (1839-1842
e 185 6-1860). Na Primeira Guerra do Ópio os ch ineses foram d errotados pelos britânicos
e, na segunda, por uma aliança anglo-francesa. O resultado d essas guerras foi a assinat ura
d e tratados que bene ficiavam os interesses euro peus. Pelo Tratado d e Nanquim (1842),
a Ch ina foi obrigada a a brir cinco d e seus portos ao livre-comércio e entregar a Ilha d e
Hong Kong aos britânicos. Pelo Tratado d e Tientsin (1858), os ch ineses admitiram a
livre importação do ópio, a briram d ez n ovos portos ao comércio euro peu e permitiram a
at uação d e missionários cris tãos n o país, entre outras concessões.
Em 1844, os franceses obtiveram importantes concessões comerciais na Ch ina e privi-
légios para seus cidadãos. Em 1860, foi reconhecida a soberania da Rússia sobre territórios
siberian os, que eram disputados pela Ch ina. O Japão entrou tard e na corrida, mas venceu
os ch ineses na guerra d e 18 94-18 95 e conseguiu o controle d e portos, além d e anexar e
ocupar porções do território ch inês.
A sisêcia os oxs
Entre 1900 e 1901, organizou-se um movimento contra a dominação ocid ental na
Ch ina, que ficou conhecido como Rebelião dos Boxers. Nacionalis tas ch ineses insatisfeitos
com a presença es trangeira n o país d eram início a uma série d e atentados, que aca baram
gerando uma guerra contra o govern o. Um Exército internacional compos to d e euro peus,
n orte-american os e japoneses sufocou a rebelião. Os ch ineses foram cond enados a pagar
uma ind enização e a permitir a presença d e tro pas es trangeiras em seu território.
Ópio: subs tância
extraída da papoula
(planta do gênero
Papaver). Inicial mente
usado como
analgésico e sonífero,
o ópio passou, com
o tempo, a ser usado
como narcótico.
Soldados boxers em
treinamento na Ch ina.
Foto d e 1900. Os boxers
recrutaram muitos
camponeses pobres. Eles
acreditavam que, para
d errotar os es trangeiros,
era necessário utilizar as
artes marciais e armas
tradicionais ch inesas.
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55 dias em
Pequim
Direção: Nicho-
l a s R a y . E U A ,
1963. 154 min
O filme se pas-
sa em P
equim, na
China, em 1900, e
narra a história d e
um grupo d e es-
trangeiros que fica
preso na Cidad e
Proibida, cercada
pelos boxer
s. Esses
estrangeiros espe-
ram a ajuda de um
marinheiro norte-
-american o e do
embaixador britâ-
nico, enquanto os
b o x e rs re c e b e m
auxílio da impe-
ratriz Tzu Hsi e do
Exército imperial.
Você vai gosa
 assisi
A Ilha de Hong Kong foi devolvida à China somente em 1997, como uma Região de Administração Especial, ou seja, o governo local possui alguma
autonomia, mas não em questões de política externa e de defesa, assuntos aos quais se subordina ao governo de Pequim.
N o f i n a l d o l i v ro , n a s e ç ã o
T
écnicas de trabalho, há orien
tações para análise de filmes.
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Texto complementar
“
[…] da montagem e afirmação do colonialismo
eur
opeu, houve uma migração da imagem do africa-
no confundido anteriormente com o escravo para o
r
efor
ço do estigma do selvagem, primitivo e infantil.
T
odos esses elementos seriam selos antagônicos às
imagens divulgadas sobre os europeus, associadas
ao progresso tecnológico, à crença de que suas ci-
vilizações seriam superiores, ou ainda à divulgada
teoria de que as mentes e estruturas eur
opeias eram
as mais complexas do orbe. T
achados de preguiço-
sos e inábeis ao trabalho sofisticado, os africanos
deveriam ser disciplinados e ensinados pelos servi-
ços braçais, mesmo que compulsórios. […]
Aos preconceitos anteriores articulam-se, no
século XIX, as crenças científicas, oriundas das
concepções do evolucionismo social e do deter
-
minismo racial, que alocaram os africanos nos
últimos degraus da evolução das ‘raças’ humanas.
Infantis, primitivos, tribais, incapazes de aprender
ou evoluir
, os africanos deveriam receber
, por
-
tanto, a benfazeja ajuda europeia por meio das
intervenções imperialistas no continente.
[…] os textos de Richard Burton são bastante
conhecidos e se tornam reveladores das influên-
cias das teorias científicas no já embaçado olhar
europeu sobre as sociedades e regiões da África.
Em suas expedições sobre o continente […], na se-
gunda metade do século XIX, o aventureiro relata
suas impressões sobre algumas populações afri-
canas. […] Para Burton os homens do continente
teriam uma mente rudimentar e seriam figuras
decadentes, incapazes para o desenvolvimento
tecnológico ou humano.
‘O estudo da psicologia na África oriental é o
estudo da mente do homem rudimentar [...]. Ele
pareceria mais uma degenerescência do homem
civilizado do que um selvagem [...] não fosse sua
incapacidade para o aperfeiçoamento [...].’
O viajante, algumas vezes, também demonstrou
sentir certo incômodo com a pretensa preguiça
dos africanos, além de menosprezar as línguas
faladas por aquelas sociedades, percebidas como
dialetos inferiores ou expressões animalescas.
‘Na estrada uma multidão de preguiçosos [...] se-
guiu a caravana por horas; isto é um espetáculo ver
-
dadeiramente ofensivo [...]; essas figuras gr
osseiras
[...] e seus gritos lembravam uivos de bestas mais
do que qualquer esforço de articulação humana.’
África deturpada
Os relatos de viajantes e exploradores europeus sobre a África e os africanos,
ao longo do século XIX e no começo do século XX, revelam o racismo e as intenções
imperialistas das potências ocidentais da época.
trAbAlhO
,
te
CnOl
OGIA e
Cul
turA
Super s tições
sobre a
África (c. 18 90),
ilus tração
inglesa publicada
pela His torical
Publish ing
Company.
Sendo um dos criadores da London Anthropo-
logical Society
, ele estava embebido das teorias
deterministas do período, acreditando que os
africanos eram entre os grupos humanos uns dos
mais inferiores.
‘O negro puro se coloca na família humana abai-
xo das duas grandes raças, árabe e ariana […] e o
negro, coletivamente, não progredirá além de um
determinado ponto, que não merecerá considera-
ção; mentalmente ele permanecerá uma criança.’
”
OLIV
A, Anderson Ribeiro. Os africanos entre representações:
viagens reveladoras, olhares imprecisos e a invenção da
África no imaginário Ocidental. Em T
empo de Histórias,
PPG-HIS/UnB, n. 9. Brasília, 2005. p. 102-105. Disponível em
<www
.gestaoesaude.unb.br/index.php/emtempos/article/
viewFile/2646/2195>. Acesso em 26 fev
. 2016.
Compreendendo o texto
1. Identifique, nos relatos de Richard Bur
-
ton, ideias das teorias pseudocientíficas,
como o darwinismo social e o evolucio-
nismo social, que vigoraram na Europa
ao longo do século XIX.
2. Descreva a imagem. Como ela está rela-
cionada ao texto? Justifique.
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Explorando o conhecimento
1. Identifique os fatores responsá
veis pelo início do
neocolonialismo ou imperialismo na África e na
Ásia a partir da segunda metade do século XIX.
2. O Japão, durante a Era Meiji, investiu em edu-
cação como uma forma de promover a moder
-
nização econômica do país. Explique como a
educação foi importante para o projeto de na-
ção do governo imperial japonês.
Pensando cr it icamente
3. Leia a seguir o depoimento de Cardew
, gover
-
nador britânico de Serra Leoa, em fins do sécu-
lo XIX.
“
O indígena começa a compreender a força
que representa, ao ver a importância que o
branco dá aos produtos do seu país e ao seu tra-
balho, de modo que o branco não poderá mais,
no futuro, aproveitar
-se tanto como antes da sua
simplicidade e da sua ignorância no mundo.
”
LANGLEY
, J. A. The last stand in W
est Africa:
resistance to British rule in W
est Africa, 1879-1939. In:
BOAHEN, Albert Adu (Ed.). História geral da África:
África sob dominação colonial, 1880-1935. 3. ed. São
Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2011. p. 159-161. v
. 7.
O texto se refere aos:
a) indígenas, que ajudaram os europeus a do-
minar a África.
b) movimentos de resistência africanos contra
o colonialismo na África.
c) Maji-Maji, que derrotaram o colonizador eu-
ropeu na África Oriental Alemã.
d) ashanti, que organizaram um levante contra
as autoridades britânicas.
4. Leia um trecho da narrativa literária escrita por
Joseph Conrad, em 1902, sobre o empreendi-
mento imperial na região do Congo, na África.
“
Um apito soou à minha direita e os negros
começaram a correr
. [...] Eles estavam construin-
do uma ferrovia. [...] Seis negros marchavam em
fila, subindo laboriosamente a trilha. Caminha-
vam er
etos e pausadamente, equilibrando no alto
da cabeça pequenos cestos cheios de terra [...].
T
rapos negros estavam atados à volta de seus
quadris, e suas pontas curtas balançavam-se
de um lado para o outro às suas costas, como
caudas. Suas costelas eram claramente visíveis
e suas juntas lembravam nós feitos numa corda.
[...] Eles passaram a trinta centímetros de mim
sem sequer me olharem, com essa indiferença
mortal e profunda que tem o selvagem infeliz.
Atrás dessa matéria bruta caminhava um dos que
haviam sido resgatados à barbárie – produto das
novas forças em ação – com ar desalentado e um
rifle na mão. […] ao ver um homem branco pela
frente levou a arma ao ombro animadamente.
”
CONRAD, Joseph. O coração das trevas. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1984. p. 23-24.
a) No texto de Joseph Conrad, como os negros e o
trabalho que eles desen
volviam foram carac-
terizados? A quem essa atividade interessa
va?
b) A transformação e a assimilação dos povos
nativos foram processos desencadeados
pelo imperialismo. Justifique essa afirmação
com um trecho retirado do texto.
c) De que forma esse trecho explicita a ideia,
veiculada na época, de superioridade dos
brancos em relação a outros povos, nesse
caso os africanos?
5. Observe a charge a seguir para responder às
questões.
Uma pequena fes ta do chá (1858), charge britânica
sobre a Segunda Guerra do Ópio.
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a) Descreva a charge. Que países foram repre-
sentados nela?
b) Que relação pode ser estabelecida entre essa
charge e as Guerras do Ópio?
c) As Guerras do Ópio e a consequente presen-
ça estrangeira na China contribuíram para a
organização de um movimento de resistência
no país. Que movimento foi esse? Explique-o.
Invest igando
6. Conforme você estudou, durante a Segunda
Revolução Industrial, a partir da segunda me-
tade do século XIX, a economia europeia ex-
pandiu-se. Junte-se a um colega, pesquisem
informações sobre essa segunda fase da indus-
trialização na Europa (inovações técnicas, pa-
íses envolvidos, fontes de energia, burguesia,
capitalismo financeiro etc.) e redijam um texto
sobre o tema.
At iv ida des
rgis as sposas  s cao.
V
ale lembrar aos alunos que na seção T
écnicas de trabalho, no final do livro, há
orientações para a realização de pesquisa.
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Decif rando o Enem rgis a sposa  s cao.
(ENEM-MEC/2009)
“
A formação dos Estados foi certamente distin-
ta na Europa, na América Latina, na África e na
Ásia. Os Estados atuais, em especial na América
Latina – onde as instituições das populações locais
existentes à época da conquista ou foram elimina-
das, como no caso do México e do Peru, ou eram
frágeis, como no caso do Brasil –, são o resultado,
em geral, da evolução do transplante de institui-
ções europeias feito pelas metrópoles para suas
colônias. Na África, as colônias tiveram fronteiras
arbitrariamente traçadas, separando etnias, idio-
mas e tradições, que, mais tarde, sobreviveram
ao processo de descolonização, dando razão para
conflitos que, muitas vezes, têm sua verdadeira
origem em disputas pela exploração de recur-
sos naturais. Na Ásia, a colonização europeia se
fez de forma mais indireta e encontrou sistemas
políticos e administrativos mais sofisticados, aos
quais se superpôs. Hoje, aquelas formas anterio-
res de organização, ou pelo menos seu espírito,
sobrevivem nas organizações políticas do Estado
asiático.
”
GUIMARÃES, S. P
. Nação, nacionalismo, Estado.
Estudos A
v
ançados, n. 62, v
. 22, jan./abr
. 2008.
São Paulo: Edusp. (Adaptado)
Relacionando as informações ao contexto histó-
rico e geográfico por elas evocado, identifique a
opção correta acerca do processo de formação
socioeconômica dos continentes mencionados
no texto.
a) Devido à falta de recursos naturais a serem
explorados no Brasil, conflitos étnicos e cul-
turais como os ocorridos na África estive-
ram ausentes no período da independência
e formação do Estado brasileiro.
b) A maior distinção entre os processos histó-
rico-formativos dos continentes citados é a
que se estabelece entre colonizador e coloni-
zado, ou seja, entre a Europa e os demais.
c) À época das conquistas, a América Latina, a
África e a Ásia tinham sistemas políticos e
administrativos muito mais sofisticados que
aqueles que lhes foram impostos pelo colo-
nizador
.
d) Comparadas ao México e ao Peru, as institui-
ções brasileiras, por terem sido eliminadas à
época da conquista, sofreram mais influência
dos modelos institucionais europeus.
e) O modelo histórico da formação do Estado
asiático equipara-se ao brasileiro, pois em
ambos se manteve o espírito das formas de
organização anteriores à conquista.
Analisando
O texto aborda a formação dos Estados nacio-
nais nas áreas de colonização europeia. Após a
emancipação, nas ex-colônias americanas cons-
truíram-se Estados com base nos modelos euro-
peus. Na África, os novos Estados independentes
reuniram diferentes etnias em um mesmo terri-
tório, o que originou muitos conflitos. As antigas
civilizações asiáticas apresentavam sofisticados
sistemas políticos, incorporados pela adminis-
tração colonial europeia, que sobreviveram em
vários aspectos. V
ocê deverá escolher a alternati-
va que apresenta uma informação correta sobre
a história da América, da Ásia e da África. V
amos
analisar as cinco.
• Alternativa a: O Brasil apresenta fartura de re-
cursos naturais; os conflitos ocorridos na épo-
ca de sua independência foram diferentes da-
queles ocorridos na África.
• Alternativa b: Os distintos processos de for
-
mação dos Estados nacionais na América, na
África e na Ásia relacionam-se às diferenças
na colonização de cada um deles.
• Alternativa c: Os povos colonizados pelos eu-
ropeus apresentavam diferentes sistemas po-
líticos: organização tribal (em parte da Amé-
rica e em várias sociedades africanas), reinos
e cidades-Estado (na África e na Ásia) ou im-
périos (na China e na América – os impérios
Asteca e Inca).
• Alternativa d: O México, o Peru e o Brasil, após
conquistarem a independência, constituíram
instituições com base no modelo europeu.
• Alternativa e: O Estado nacional brasileiro que
se formou após a independência seguiu os
moldes europeus.
Agora é com você!
Qual é a alternativa correta?
No dia do exame
Esteja descansado! P
ara isso, durma bem
na véspera da prova: não estude até tarde
e procure relaxar
.
A alternativa correta é a letra b
Na questão selecionada é avaliado, prioritariamente, o Eixo cognitivo I da matriz de referências do Enem (dominar linguagens). O aluno deverá ter conhecimentos
sobre a colonização europeia e identificar e resolver o problema proposto pelo enunciado, o que avaliam, respectivamente, osEixos cognitivos II (compreender
fenômenos) e III (enfrentar situaçõesproblema). Quanto às habilidades, a questão pode ser associada a H7 (iden
tificar os significados históricogeográficos das relações de poder entre as nações) e a H9 (comparar o significado
históricogeográfico das organizações políticas e socioeco
nômicas em escala local, regional e mundial).
Comentários adicionais sobre esta seção encontramse no Suplemento para o professor
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Conversando sobre
1. Como o poeta Olavo Bilac descreve a modernização da cidade do Rio de Janeiro?
2. Que contradição há entre a foto e o te x to, ambos datados da Pr imeira República?
3. Esse tipo de contradição ainda exis te atualmente? Jus tif ique.
Picaretas regeneradoras
“
No aluir das paredes, no ruir das pedras, no esfarelar do barro, havia um longo
gemido. Era o gemido soturno e lamentoso do passado, do atraso, do opróbrio.
A cidade colonial, imunda, retrógrada, emperrada nas suas velhas tradições,
estava soluçando no soluçar daqueles apodrecidos materiais que desabavam.
Mas o hino claro das picaretas abafava esse protesto impotente. Com que alegria
cantavam elas – as picaretas regeneradoras! E como as almas dos que ali estavam
compreendiam bem o que elas diziam, no seu clamor incessante e rítmico,
celebrando a vitória da higiene, do bom gosto e da arte.
”
Olavo Bilac [jan. 1904]. In: SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão:
tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 2. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 44.
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Favela Morro do Pinto
(191 2) n o Rio d e
Janeiro. Fotografia d e
Augus to Malta. Arquivo
Geral da Cidad e do
Rio d e Janeiro (RJ).
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A n t e s d e i n i c i a r o t r a b a l h o
com esta abertura, explique
aos alunos que “Primeira Re-
pública” ou “República V
elha”
são expressões utilizadas na
historiografia para designar a
primeira fase da república no
B r a s i l , q u e s e e s t e n d e u d e
1889 a 1930.
Sugerimos começar pelo tex-
to, seguido da discussão da
primeira questão, para depois
realizar a análise da imagem e
debater as demais perguntas.
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Prro po da rpúblca
Por meio d e um golpe lid erado pelos militares, a república brasileira foi proclamada
pelo marechal Deodoro da Fonseca em 15 d e n ovembro d e 188 9. Nesse primeiro momento,
apesar das divergências que exis tiam entre os diversos partidários do republicanismo, os
representantes do Exército contaram com o apoio d e grand e parte da elite cafeicultora do
oes te paulis ta – para a qual o império representava um entrave à mod ernização econômica
e à d esejada auton omia para adminis trar a província d e acordo com seus interesses. Os
militares também conquis taram a simpatia d e setores da incipiente classe média, ansiosa
por ampliar sua participação política na sociedad e.
A transição para a república foi feita sem grand es conflitos, alterações socioeconômicas
ou participação po pular. O Brasil continuou a ser um país agroexportador, sem contem-
plar os interesses dos que d e fendiam um projeto d e ampla indus trialização. A república
brasileira também não incorporou em seu projeto político as classes men os favorecidas
da po pulação, o que gerou d escontentamentos n os grupos que d esejavam modificações
profundas. Dessa forma, o mod elo d e república que se ins talou n o país não representava
o pensamento d e todos os que haviam se engajado em sua d e fesa d esd e o império.
Ainda assim, a proclamação da república inaugurou uma n ova ord em política n o
país. O centralismo, predominante durante o império, foi subs tit uído pelo fed eralismo,
d e fendido principal mente pelas elites do oes te paulis ta e d e Minas Gerais.
Os dois govern os iniciais do Brasil foram cons tit uídos por militares: os marechais
Deodoro da Fonseca e Florian o Peixoto. Esse período da Primeira República, sob o comando
do Exército, ficou conhecido como República da Espada (188 9-18 94).
Até que fossem realizadas eleições e o país tivesse uma n ova Cons tit uição, o mare-
chal Deodoro da Fonseca lid erou um Govern o Provisório (188 9-18 91). Ele dissolveu as
assembleias provinciais e as câmaras municipais, d emitiu os presid entes das províncias
e indicou n ovos dirigentes para elas. Uma elite civil (ligada aos grand es pro prietários) e
militar (principal mente do Exército) assumiu o aparelho adminis trativo, e os municípios
tornaram-se peças fundamentais n o cenário político nacional em d ecorrência da auto-
n omia que adquiriram com o fed eralismo.
As negociações políticas durante a Primeira República
envolveram os vários partidos republican os d e expressão
regional ou es tadual, como o Mineiro (fundado em 1871), o
Paulis ta (1873) e o Fluminense (1888). Dentre esses partidos,
d es tacou-se o Partido Republican o Paulis ta (PRP), elemento
fundamental nas articulações políticas do período. O PRP
representava o centro econômico mais importante do Brasil
naquele momento: o oes te paulis ta cafeicultor. Apoiado por
Minas Gerais, o partido forneceu vários presid entes ao país,
conseguindo manter a hegemonia paulis ta praticamente
sem o posição até 1930.
“Monarquia: – Não é por falar mal, mas, com franqueza...
eu esperava outra coisa. República: – Eu também.”
Charge d e K. Lixto publicada na revis ta Fon-Fon, em 1909.
Fundação Biblioteca Nacional, Rio d e Janeiro (RJ).
Que personagem representa a monarquia? E a república?
O que a charge revela sobre a república brasileira?
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Essa charge, criada vinte anos após a proclamação da república, apresenta a monarquia
como uma mulher idosa, antiquada e mal-arrumada (características atribuídas ao siste-
ma político ultrapassado) e a república como uma jovem elegante e refinada (aspectos
relacionados à modernidade e à sofisticação). O diálogo entre as duas evidencia que a
proclamação da república não efetivou no país as mudanças desejadas pela maioria da
população. Com base na charge, pode-se discutir o fato de que a república brasileira
não resultou de um processo com participação popular
, mas de uma nova acomodação
de forças entre os grupos dominantes (cafeicultores e militares), o que descontentou os
setores que lutaram por transformações profundas na política e na sociedade brasileiras.
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Crise econômica
A s re fo r m a s p o l í t i c o - a d m i n i s t ra t i v a s d o E s t a d o b ra s i l e i ro fo ra m s e g u i d a s d e
medidas econômicas necessárias ao funcionamento da república. Uma das primeiras
d ecisões tomadas pelo então minis tro da Fazenda, Rui Barbosa, em 18 90, foi a ado-
ção d e uma re forma financeira a fim d e incentivar a criação d e empresas indus triais
e comerciais n o país.
Rui Barbosa acreditava que o melhor es tímulo à indus trialização seria a ampliação
da oferta d e crédito. Para isso, ele permitiu que alguns bancos privados emitissem
papel-moeda. Esse dinheiro seria empres tado aos empreend edores, o que, na visão
do minis tro, movimentaria a econ omia brasileira. Entretanto, a facilidad e d e cré-
dito favoreceu a criação d e numerosas empresas “fantasmas” – que só exis tiam n o
papel –, cujas ações eram negociadas na Bolsa d e Valores e se valorizavam sem fisca-
lização do govern o.
Assim, centenas d e pessoas passaram a aplicar suas reservas na Bolsa d e V
alores,
adquirindo ações baratas para pos terior revenda. Esse clima d e especulação diante da
a bundância d e negócios e empresas ficou conhecido como Encilhamento – o termo é
uma alusão ao ato d e encilhar, ou seja, colocar os arreios em um cavalo, preparando-o
para entrar na pis ta d e corrida.
A especulação era favorecida pela grand e quantidad e d e dinheiro circulando n o país:
em 18 90, o total era d e 206 mil contos d e réis; n o an o seguinte, es tavam em circulação
5 61 mil contos d e réis. Os falsos empreend edores, que captavam emprés timos sem jamais
inves tir em um negócio, tiveram altos lucros.
Além d e contribuir para a especulação, a política econômica d e Barbosa provocou o
aumento da inflação, por causa da circulação d e dinheiro em volume muito superior ao
da produção e da circulação d e bens disponíveis para o consumidor. O resultado foi uma
grave crise: os preços subiram, a moeda perd eu valor, as importações cresceram, empresas
e bancos faliram e os cofres públicos ficaram vazios.
Especulação:
o peração financeira
o port unis ta por meio
da qual se aproveitam
as flut uações do
mercado para obter
lucros elevados.
E a febre continua d esesperadamente
, charge d e Pereira Neto sobre o Encilhamento, publicada na
Revis ta Illus trada (18 90). Fundação Biblioteca Nacional, Rio d e Janeiro (RJ).
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Prra Coção rpblcaa
No final d e 18 90, Deodoro da Fonseca convocou eleições para a As-
sembleia Cons tit uinte, que n o início d e 18 91 promulgou a Cons tit uição
republicana do Brasil. A Carta re fletiu a hegemonia dos d e fensores do
liberalismo d e influência n orte-americana. V
eja, a seguir, alguns d e seus
pontos significativos:
• O país tornouse uma república federativa, os Estados Unidos do Brasil
• As antigas províncias passaram à condição d e es tados com auton o
mia para promulgar as próprias cons tit uições, contrair emprés timos
n o exterior, arrecadar impos tos e eleger seus presid entes d e es tado
(cargo semelhante ao dos at uais governadores), ficando, n o entanto,
sujeitas à intervenção fed eral em caso d e invasão es trangeira ou da
ocorrência d e movimentos com tendências separatis tas.
• O presid ente da república, os presid entes d e es tado e os membros
do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) passaram
a ser eleitos por voto direto, es tando excluídos do direito ao voto
analfa betos, mendigos, soldados e men ores d e 21 an os. Apesar d e
a Cons tit uição não apresentar res trição ao voto feminin o, a maioria
dos cons tit uintes foi contra a aprovação d e uma emenda específica
que garantisse esse direito às mulheres; logo, manteve-se a tradição,
e as mulheres ficaram excluídas das eleições.
Detalhe d e Ato d e assinat ura do Projeto
da Primeira Cons tit uição d e 18 91 (18 91),
pint ura d e Gus tavo Has toy. Museu do
Senado, Brasília (DF). Na imagem, o
marechal Deodoro recebe do menin o
Mário Hermes da Fonseca a pena d e ouro
oferecida pelos minis tros para a assinat ura
do projeto da primeira Cons tit uição
republicana do país.
• O presid ente da república, além d e che fe d e govern o, torn ouse che fe da fed eração,
eleito para um mandato d e quatro an os, sem direito à reeleição.
• A igualdad e d e todos perante a lei, a liberdad e e a segurança individual e, principal mente,
a garantia d e plen os direitos à pro priedad e foram reconhecidas.
• A Igreja separouse do Es tado, ou seja, d eixou d e exis tir uma religião oficial n o Brasil.
• Instituíramse o registro de nascimento, o registro de casamento civil e o atestado de óbito.
Após a promulgação da Cons tit uição, os congressis tas escolheram o n ovo presi-
d ente do país. Como a Cons tit uição não exigia o regis tro vinculado dos candidatos a
presid ente e a vice-presid ente, o cargo d e presid ente da república foi ocupado pelo
marechal Deodoro da Fonseca e o d e vice-presid ente ficou nas mãos do marechal Flo-
rian o Peixoto, candidatos por chapas diferentes.
Por causa da pressão dos militares sobre os d eputados, Deodoro aca bou eleito com
uma pequena vantagem em relação ao seu o ponente, Prud ente d e Moraes, candidato
representante dos cafeicultores.
Govro cocoal d Dodoro
O fracasso da política econômica d e Rui Barbosa, somado à n omeação d e minis tros
conservadores, como o barão d e Lucena, antigo monarquis ta que ocupou o cargo d e minis tro
da Fazenda, d esgas tou a autoridad e d e Deodoro da Fonseca. O presid ente passou a sofrer
forte o posição do Congresso e enfrentou uma grave crise política. A tensão cresceu em
3 d e n ovembro d e 18 91, quando o govern o fechou o Congresso por meio d e um d ecreto,
anunciando a convocação d e n ovas eleições e d e uma revisão cons tit ucional.
A resis tência ao autoritarismo do Govern o Federal foi organizada por políticos d e São
Paulo, Minas Gerais, Rio d e Janeiro, Pernambuco e Pará, com o apoio da Marinha e d e setores
do Exército. Paralelamente a essa movimentação, os ferroviários d e flagraram uma greve
na Es trada d e Ferro Central do Brasil, o que trouxe sérios prejuízos para o a bas tecimento
da capital fed eral. Doente e receando uma guerra civil, Deodoro da Fonseca renunciou em
2 3 d e n ovembro d e 18 91.
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Govro d Florao Pxoo
Com a renúncia d e Deodoro da Fonseca, Florian o Peixoto assumiu a presidência do
país. Para conseguir o apoio po pular, ele d etermin ou a redução dos preços dos aluguéis
das casas dos o perários, isentou a carne d e impos tos para baratear o cus to do produto e
ins tit uiu o controle dos preços dos gêneros d e primeira necessidad e. Além disso, o ma-
rechal tomou iniciativas para combater os e feitos do Encilhamento, como os incentivos
à indus trialização e a fiscalização dos gas tos públicos. Porém, essas medidas não foram
suficientes para evitar uma forte o posição civil e militar, que d eu origem a movimentos
rebeld es, como a Revolução Fed eralis ta e a Revolta da Armada. O rigor d e Florian o Peixoto
na repressão aos dois movimentos valeu-lhe o apelido “Marechal d e Ferro”.
Rvolção Fdrala
Entre 18 93 e 18 95, o Rio Grand e do Sul foi cenário dos combates da Revolução Fed e-
ralis ta. O movimento foi travado entre os partidários d e dois oligarcas gaúchos: Gaspar
Silveira Martins, que lid erava os fed eralis tas (maragatos), e o positivis ta Júlio d e Cas ti-
lhos, que comandava os republican os (pica-paus). Os fed eralis tas queriam a ins talação
d e um regime parlamentaris ta n os mold es do que exis tiu n o Segundo Reinado. Já os
republican os d e fendiam um presid encialismo forte, centralizador, n o es tilo do govern o
d e Florian o Peixoto.
O confronto ultrapassou as fronteiras gaúchas, es tend endo-se a Santa Catarina, ao
Paraná e até ao Uruguai. Embora Florian o tenha enviado tro pas fed erais aos es tados
sulis tas, somente em 18 95, n o govern o d e Prud ente d e Moraes, foi assinado um acordo
d e paz na região.
Rvola da Arada
Em agos to d e 18 93, os oficiais da Marinha que es tavam insatisfeitos com o domínio
do Exército na política do país iniciaram, n o Rio d e Janeiro, um movimento rebeld e que
ficou conhecido como Revolta da Armada. Participaram do movimento basicamente
elementos dos setores médios e dos grupos oligárquicos.
No dia 13 d e setembro, navios da armada começaram a bombard ear a cidad e do
Rio d e Janeiro. Contando com o apoio da presidência do es tado d e São Paulo e a ad esão
po pular, o govern o tratou d e reprimir a revolta. Os rebeld es a briram n ovas frentes d e
batalha n o sul do país, mas não resis tiram à contraofensiva governamental. Em março d e
18 94, a rebelião es tava vencida e, pela força, a república consolidava-se.
Trincheira na Rua Sete
d e Setembro, Bagé (R S).
Foto d e 18 93. Museu Dom
Diogo d e Souza, Bagé
(R S). Durante a Revolução
Fed eralis ta, a cidad e foi
assediada por maragatos
e resis tiu ao cerco
fed eralis ta.
Durante a Revo-
lução Fed eralis ta, o
termo “maragato”,
utilizado para d e-
signar os fed eralis-
tas, re feria-se aos
mercenários espa-
nhóis oriundos d e
Maragateria. Ele foi
usado porque havia
n a s f i l e i r a s fe d e -
ralis tas uruguaios
d escend entes d es-
ses espanhóis que
a p o i a v a m G a s p a r
Silveira Martins. Já
o termo “pica-pau”
fazia re ferência ao
e m b l e m a b r a n c o
dos chapéus utili-
zados pelos republi-
canos, que lembrava
o to pete da ave.
Maragatos e
pica-paus
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República das Oligarquias
Enquanto o Exército esmagava os focos d e d escontentamento armado, os grupos oli
gárquicos, principal mente o cafeeiro, preparavamse para assumir o controle da república.
No processo d e sucessão presid encial, o grupo mais bene ficiado foi o paulis ta, que
apoiou Florian o Peixoto e, nas eleições d e 1
o
d e março d e 18 94, elegeu Prud ente d e Mo
raes, ligado ao PRP. Assim, o pod er político passou a ser controlado pelas elites agrárias,
n otadamente d e Minas Gerais e São Paulo. Esse período ficou conhecido como República
Oligárquica.
Para permanecer n o pod er, as elites rurais criaram ins trumentos d e controle po
lítico, como a política dos governadores, cons tit uída n o govern o d e Campos Sales
(18 981902). Esse ins trumento político era um acordo firmado entre o presid ente da
república e os presid entes d e es tado (at uais governadores), para que es tes apoiassem
candidatos ao Congresso – senadores e d eputados – fiéis ao Govern o Fed eral. Em troca,
o Pod er Executivo não interferiria nas eleições es taduais, garantindo a permanência dos
mesmos grupos n o pod er.
Para via bilizar a política dos governadores, o Govern o Fed eral criou a Comissão d e
V
erificação d e Pod eres. Os cinco parlamentares que compunham essa comissão tinham
o pod er d e diplomar os candidatos que interessavam ao Govern o Fed eral e “d egolar” os
o positores, ou seja, impedir que eles tomassem posse. Um artifício usual mente utilizado
para impedir a posse d e parlamentares da o posição era acusálos d e cometer irregulari
dad es durante a campanha eleitoral, algo corriqueiro em um período em que fraud es e
outras ilegalidad es d e finiam as eleições. Consequentemente, a maioria dos d eputados e
senadores que assumiam seus cargos era conivente com a política do Govern o Fed eral.
Esses mecanismos facilitaram o predomínio político dos dois es tados mais fortes na
época: Minas Gerais e São Paulo. Além d e econ omicamente dominantes, garantiam maior
número d e cad eiras n o Congresso Nacional. Durante grand e parte da república, paulis tas
e mineiros revezaramse na presidência do país. Essa alternância d e pod er foi chamada
d e política do café com leite
Coronelismo
Criado n o período regencial, o tít ulo d e co
ronel era n ormal mente concedido aos grand es
fazend eiros que patrocinavam a Guarda Nacional.
Com a proclamação da república e o fim da Guar
da Nacional, os coronéis mantiveram o pres tígio e
o respeito que haviam conquis tado. Procuravam
preservar a prática da troca d e favores e, d essa
forma, mantinham sob sua “proteção” uma série
d e afilhados, em troca d e obediência.
Os coronéis exerciam influência política na
vizinhança d e suas pro priedad es rurais – áreas
consid eradas currais eleitorais. No período d e
eleição, as pessoas que d ependiam dos favores
dos coronéis eram coagidas a votar n os candidatos
apoiados por eles. Essa prática ficou conhecida
como voto d e ca bres to. A coerção era facili
tada pelo sis tema eleitoral em vigor, que não
es ta belecia a obrigatoriedad e do voto secreto.
O coronelismo facilitou a corrupção e o uso d e
cargos públicos para obter privilégios privados.
Charge d e J. César sobre a venda d e votos n o Brasil, 20 10.
Que relação pod e ser es ta belecida entre essa charge
e as práticas eleitorais na Primeira República?
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A charge trata da compra e venda de votos. Ela pode ser relacionada ao curral eleitoral ou ao voto de cabresto durante a Primeira República, pelos quais
os coronéis, por meio da coerção e da troca de favores, faziam com que os eleitores, principalmente os que viviam em sua zona de influência, votassem
nos candidatos apoiados por eles.
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T rabalhando com fontes
O chefe político e seu eleitor
O texto a seguir foi extraído d e uma crônica do jornalis ta e escritor Lima Barreto,
publicada na revis ta semanal O Malho, n o Rio d e Janeiro, em 1
o
d e a bril d e 1919.
“
– Seu doutor
, eu vim incomodá-lo; mas pre-
cisava muito ficar bem com minha consciência.
– Que há?
– Eu não voto no doutor Rui.
– Como você vai votar no Epitácio?
– Nem num nem noutro.
– V
ocê está ficando indisciplinado; não é mais
o correligionário disciplinado de antigamente.
Que diabo foi isso?
– Eu não tenho sido companheiro para você?
– Sim senhor
. Devo ao doutor todos os obsé-
quios desta vida, pelo que lhe sou muito agrade-
cido. Foi o doutor que, abaixo de Deus, salvou
a Marocas, minha mulher
, sem cobrar nada...
Quando foi o enterro do meu filho Dodoca, o
doutor me ajudou muito...
– Isso tudo não vem ao caso. Falemos...
– Não; vem sim, doutor! Quero que o senhor
não pense que sou mal-agradecido. Se estou em-
pregado, devo ao doutor e...
– Se você continuasse no partido, podia subir
ou nós arranjávamos uma equiparação ou mesmo
um aumento de vencimentos; mas...
– Continuo no partido, doutor
...
– Como? V
ocê não vota conosco...
– Mas não voto no outro. [...]
– V
ocê não pensava assim – não é?
– É verdade; mas, de uns tempos a esta parte,
dei em pensar
.
– Faz mal. O partido... [...]
– V
oto no senhor
, para presidente da república.
– É voto perdido...
– Não tem nada; mas voto de acordo com o que
penso. Parece que sigo o que está no manifesto
assinado pelo senhor e outros. ‘Guiados pela
nossa consciência e obedecendo o dever de todo
republicano de consultá-la’...
– Chega, Felício.
– Não é isso?
– É, mas você deve concordar que um eleitor
arregimentado tem de obedecer ao chefe.
– Sei, mas isto é quando se trata de um depu-
tado ou senador
, mas para presidente, que tem
todos os trunfos na mão, a coisa é outra. É o que
penso. Demais...
– V
ocê está com teorias estranhas, subversi-
vas...
– Não tenho teoria alguma, doutor
. Consultei
a minha consciência e a minha gratidão, e voto
no senhor
.
– Mas... já sou deputado.
– Que tem? Sobe mais um posto, ganha mais...
– Não preciso, já ganho na clínica muito.
– Com o lugar de deputado? Então pra que quis
ir para a Câmara?
– Para nada.
– Doutor
, eu decididamente não compreendo
nada disto. Essa política é mesmo igual aos mis-
térios dos padres... Passe bem.
”
O chefe político e o seu eleitor
. In: BARRETO, Afonso
Henriques de Lima. Vida urbana. Disponível em
<www
.dominiopublico.gov
.br/download/texto/bn000161.
pdf>. Acesso em 19 jan. 2016.
COneCt
AnDO COm A
LínGuA PORtuGuesA
e A sOCiOLOGiA
Rgr a rpoa   cadro.
Questões
1. Identifique o tipo de documento, seu autor
, o
lugar e a época em que foi produzido.
2. Identifique e descreva as personagens do
diálogo e o tema da conversa. Que tipo de
relação existe entre elas?
3. O diálogo, ficcional, pode ser relacionado à
vida política brasileira na Primeira República?
Justifique.
4. Qual teria sido a intenção do autor ao escre-
ver essa crônica? Indique os trechos do texto
que justifiquem sua resposta.
5. A prática política ironizada na crônica é co-
nhecida como “clientelismo”. Esse tipo de
prática continua a ocorrer na vida política
brasileira? Qual é sua posição a respeito do
assunto?
Lima Barreto atuou em jornais diários e em revistas semanais cariocas, nos quais publicou contos e crônicas, que, posteriormente, foram reunidos em coletâneas.
A crônica “O chefe político e seu eleitor” integra o volume Vida urbana, publicado postumamente.
Comentários adicionais sobre esta seção encontram-se no Suplemento para o professor
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Praza do or práro
Na Primeira República, o es tímulo às atividad es agroex-
portadoras es teve entre as prioridad es do Govern o Fed eral. O
café representou o principal produto d e exportação. No início
do século XX, as plantações d e café já haviam se expandido
para além d e São Paulo e Rio d e Janeiro e chegado ao Paraná
e a Minas Gerais.
A produção cafeeira bene ficiou-se da a bert ura d e linhas
d e crédito, dos preços favoráveis n o mercado internacional e
do grand e contingente d e imigrantes euro peus, empregados
como mão d e obra n os cafezais. Eles entraram n o país entre o
final do século XIX e o início do século XX e foram tra balhar,
principal mente, nas plantações d e café d e São Paulo, Minas
Gerais e Rio d e Janeiro. Com o tempo, muitos imigrantes
seguiram para as cidad es em busca d e melhores condições
d e vida e tra balho.
No início do século XX, os produtores d e café enfren-
taram momentos d e crise d ecorrentes da superprodução.
Para evitar prejuízos aos cafeicultores, o Govern o Fed eral
firmou, em 1906, na cidad e paulis ta d e Taubaté, um acordo
com os presid entes dos es tados d e São Paulo, Minas Gerais e
Rio d e Janeiro. O Convênio d e T
aubaté d etermin ou que os
govern os dos três es tados comprariam os es toques d e café
por um preço fixado com antecedência, recorrendo para isso
a emprés timos d e bancos internacionais, além d e aprovar
medidas para d eses timular o plantio d e n ovos cafezais.
“
Decretou-se uma lei proibindo plantações [de café] novas. […] Era indispen-
sável reduzir a oferta aos termos da procura, isto é, retirar do mercado o número
de sacas suficiente para que o que ficasse para o consumo pudesse obter um
preço compensador
. Só pode tentar uma operação desse gênero quem dispõe
do privilégio de produção. Ora, nós temos quase esse monopólio, visto que para
a produção mundial de 16 milhões de sacas nós concorremos com doze. E como
além disso o sistema de produção nos outros países é mais caro do que o nos-
so, qualquer elevação que possamos obter no preço do café não os estimularia
a desenvolver as suas plantações. […] Sendo assim, por que não havemos de
regular o seu comércio e impor o seu preço?
”
A questão do café. O Malho, ano V
, n. 181, 3 mar
. 1906.
Disponível em <www
.casaruibarbosa.gov
.br/omalho/
revista.asp?rev=181&ano=1906>. Acesso em 20 jan. 2016.
Além do café, o Brasil exportava borracha, cacau e cana-d e-açúcar. Desd e os tempos
do império, o látex era extraído d e seringueiras espalhadas pela Flores ta Amazônica. No
início do século XX, o crescimento da indús tria automobilís tica resultou na elevação
do preço da borracha n o mercado extern o e n o aumento da exploração d e borracha na
Amazônia. Porém, poucos an os d epois, a produção brasileira entrou em d eclínio em razão
da concorrência dos seringais cultivados na Ásia pelos britânicos.
Encontrado em várias partes da América, incluindo a Amazônia, o cacau ocupou igual-
mente posição d e d es taque na pauta d e exportações brasileiras. No fim do império, a região
do sul da Bah ia se transformou na principal produtora do fruto n o país. A cana-d e-açúcar,
por sua vez, cultivada n o Brasil d esd e os tempos coloniais, teve alguns momentos d e
expansão durante a Primeira República, principal mente n os an os 1920. Entretanto, a ex-
pansão do açúcar d e beterra ba na Euro pa contribuiu para a queda nas exportações e n os
preços do açúcar brasileiro, direcionando sua produção para o mercado intern o.
“Tibiriçá: – V
ocês es tão
aqui para entoar comigo
o coro do quero-quero!
Sim, porque eu quero
valorizar o café! Quero
o emprés timo d e 180
mil contos! Quero pôr
em prática a id eia do
candidato Rodrigues!”
Capa da revis ta
O Malho, publicada em
março d e 1906.
Casa d e Rui Barbosa,
Rio d e Janeiro (RJ).
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Desenvolvimento industrial
Em d ecorrência da es trut ura econômica do país, predominante-
mente agrícola d esd e os tempos coloniais, nas primeiras quatro décadas
da Primeira República a indús tria brasileira es teve relegada a segundo
plan o. Entretanto, a acumulação d e capitais aca bou contribuindo para a
expansão da atividad e indus trial.
O dinheiro necessário às ins talações indus triais provinha d e inves tido-
res brasileiros, principal mente cafeicultores, d e imigrantes enriquecidos e
do capital financeiro internacional. À medida que aumentava o número d e
empresas, cresciam a oferta d e tra balho, a po pulação urbana, o comércio
e a pres tação d e serviços.
Operárias em fábrica da
Indús tria d e Seda Nacional
(c. 1920). Campinas (SP).
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Crescimento indus trial
(São Paulo e Rio d e Janeiro)
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o perários
SP RJ SP RJ
1907 326 662 24.186 3 4.850
1920 4.145 1.542 83.998 5 6.517
1929 6.923 1.937 148.376 93.525
Os es ta belecimentos indus triais es tavam concentrados principal mente n o
Rio d e Janeiro e em São Paulo. Pod e-se afirmar que, em São Paulo, o capital
indus trial d erivou-se do capital cafeeiro: as crises periódicas d e superprodução
d e café a briram caminho para o d eslocamento d e capitais para outras áreas d e
inves timento, como a indus trial. Já n o Rio d e Janeiro ocorreu a transformação do
capital mercantil em capital indus trial. A indús tria têxtil, por exemplo, origin ou-
-se, em grand e parte, do comércio d e tecidos.
O tamanho das fábricas variava d e pequenas oficinas a indús trias que
reuniam centenas d e o perários. Os inves timentos concentravam-se em in-
dús trias d e bens d e consumo – setores têxtil, d e alimentos, d e bebidas, d e
calçados, d e chapéus e d e fumo –, que tinham cus tos iniciais relativamente
baixos e não d emandavam tecn ologia sofis ticada.
Mulheres e crianças formavam um segmento importante da mão d e obra
empregada nas fábricas e, em geral, recebiam salários mais baixos para tare fas
similares àquelas exercidas pelos homens adultos. Em 1890, 15% dos trabalhadores
empregados nas indús trias paulis tas eram crianças ou adolescentes. Em 1919, esse
número subiu para 37% apenas n o setor têxtil.
As condições d e tra balho eram precárias: a jornada variava entre 10 e 1 2
horas diárias e os o perários eram cons tantemente punidos com multas ou agres-
sões físicas. Não havia legislação tra balh is ta que garantisse aos tra balhadores
d escanso semanal, férias ou licenças remuneradas.
Fonte: SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e
origens da indús tria n o Brasil. São Paulo:
Alfa-Ômega, 1976. p. 79.
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Vis ta da Avenida Afonso Pena (c. 1910-1930), em Belo Horizonte
(MG). Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte (MG).
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Entre o final do século XIX e o início do XX, cidad es brasileiras, como Rio d e Janeiro e
São Paulo, passaram por um processo d e mod ernização, inspirado nas re formas ocorridas
em Paris entre 1853 e 1870. A urbanização da capital francesa, com seus bulevares – ruas
largas repletas d e cafés e butiques –, servia d e mod elo para outras cidad es do mundo. O
contras te entre o cenário luxuoso d e Paris e as vielas es treitas, sujas, sem saneamento
e iluminação do Rio d e Janeiro era evid ente. Apesar disso, homens d e negócios, grand es
pro prietários, altos funcionários e políticos influentes, acompanhados d e suas famílias,
exibiam hábitos e moda euro peus. Esse comportamento, que se manifes tava d esd e os
últimos an os do império, acent uou-se durante a fase republicana.
Como resultado do esforço mod ernizador empreendido pelos govern os, hou ve a
criação d e n ovos bairros, a expansão d e serviços d e esgoto, água canalizada e transporte
coletivo nas principais cidad es do Brasil.
No centro do Rio d e Janeiro, por exemplo, áreas ocupadas d esord enadamente foram
d esapro priadas e ha bitações coletivas, d emolidas, para dar espaço às avenidas e aos n o-
vos es ta belecimentos. Havia, entre as elites e os governantes, um esforço para eliminar
t udo o que representasse entrave ao progresso e fugisse dos padrões d e beleza e h igiene.
Muitas pessoas d esalojadas durante as re formas a brigaram-se nas nascentes vilas
o perárias, sit uadas n os subúrbios da cidad e. Outras se transferiram para as encos tas dos
morros e para a beira dos rios, em locais d esvalorizados. Os antigos e d ecad entes casebres
d eram lugar a imponentes edificações e a ruas largas, pro pícias para a circulação dos bon-
d es elétricos, n o fim do século XIX, e para o incipiente fluxo d e automóveis, introduzidos
n o início do século XX, nas grand es cidad es brasileiras.
No Rio d e Janeiro foi inaugurada, em 1905, a Avenida Central (at ual Avenida Rio
Branco), planejada para melhorar a acessibilidad e ao porto da capital fed eral. Na cidad e
d e São Paulo, por sua vez, foram feitos grand es projetos arquitetônicos, lid erados pelo
arquiteto Ramos d e Azevedo. Também data d essa época a ocupação mais e fetiva da
Avenida Paulis ta. Em Minas Gerais, um projeto urbanís tico d eu origem à cidad e d e Belo
Horizonte, cons truída para ser a n ova capital do es tado.
As principais cidad es brasileiras tornaram-se locais d e intensa circulação d e pessoas,
id eias e mercadorias – es tas expos tas em profusão nas vitrinas das lojas. Os artigos d e
luxo consid erados da “última moda” chegavam da Euro pa aos portos do Rio d e Janeiro e
d e São Paulo e impulsionavam as vendas. Nesse período, eram importados roupas, móveis,
livros, objetos d e d ecoração etc.
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A re forma mo-
dernizante da cidade
do Rio d e Janeiro
foi promovida pelo
pre feito Francisco
Pereira Passos. Para
cons truir grand es
a v e n i d a s e e d i f í -
cios ao es tilo das
cidad es euro peias,
o pre feito mandou
d e r r u b a r m u i t o s
cortiços, casebres e
outras cons truções
po pulares. Essa me-
dida ficou conhe-
cida como “bota-
-a baixo”.
“Bota-a baixo”
A população da então capital
federal quase triplicou entre
1900 e 1920, chegando a mais
de 1,4 milhão de habitantes.
No mesmo período, São Paulo
passou de 240 mil para 889
mil, e Porto Alegre, de 74 mil
para 256 mil habitantes. As
cidades brasileiras tinham uma
composição social bastante
diversificada: operários, bur
-
guesia industrial, mercantil e
financeira, camadas médias
(professores, médicos, advo-
gados, engenheiros etc.), fun-
cionários públicos, intelectuais,
setores populares e segmentos
marginalizados, como o dos
moradores de rua.
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Durante a Primeira República, organizou-se uma série d e movimentos sociais que
re fletiam a frus tração d e grand e parte da sociedad e com a política implementada pelas
elites brasileiras. Por meio d esses movimentos, camponeses, o perários, marinheiros e
pobres em geral expressavam suas reivindicações, n ormal mente associadas às precárias
condições d e vida e d e tra balho.
movo rra
Nas três primeiras décadas da república, o Brasil era um país tipicamente agrário.
Calcula-se que cerca d e 70% da po pulação ha bitava o campo nesse período. A maioria
dos tra balhadores rurais não era pro prietária da terra ou vivia da pequena lavoura d e
subsis tência, sem acesso à assis tência médica e à educação. Esse cenário d esfavorável
contribuiu d e forma significativa para a eclosão d e agitações sociais na zona rural.
Aôo Colhro  o r ajo d Cado
O beato Antônio Vicente Mend es Maciel, mais conhecido como Antônio Conse-
lheiro, nasceu em Quixeramobim, n o Ceará, em 1830. Conselheiro foi comerciante,
caixeiro e escrivão. Abandonado pela esposa, d ecidiu sair pelo sertão como pregador.
Em meados d e 1874, já caminhava pelo interior acompanhado d e alguns fiéis e, n os d ez
an os seguintes, percorreu os sertões do Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bah ia cons truindo
e re formando capelas, igrejas e cemitérios.
Em 18 93, Conselheiro e seus seguidores fixaram-se n os arredores da Fazenda Canudos,
próxima ao Rio V
aza-Barris, n o interior da Bah ia. Nesse lugar, fundaram o arraial d e Belo
Monte. Formado por casas cons truídas em regime d e mutirão, em que os moradores
dividiam os frutos do tra balho na terra e amparavam idosos e doentes, o povoado atraiu
muita gente. Es tima-se que a po pulação do núcleo chegou a atingir 30 mil pessoas. Mo-
vidas por forte mis ticismo, essas pessoas acreditavam que Conselheiro era um enviado
divin o que lhes traria paz, fart ura e felicidad e.
A comunidad e d e Canudos praticava a agricult ura, o artesanato e a criação d e ani-
mais. O exced ente da produção era vendido n os municípios vizinhos. No arraial havia
duas escolas, lojas, oficinas e diversas moradias. A adminis tração era da competência d e
Conselheiro e d e doze che fes, que cuidavam das finanças, das cons truções, dos regis tros
d e nascimento, entre outras atividad es. Não havia polícia nem impos tos.
Painel representando
Antônio Conselheiro n o
Parque Es tadual d e Canudos
(BA). Foto d e 20 1 2.
Es tát ua d e Antônio
Conselheiro, na
Bah ia, produzida por
W
eliton Luiz. Ela foi
concluída em 1997,
n o centenário da
d es truição do arraial
d e Canudos.
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Grra d Cado (1896
1897)
Aos olhos dos fazend eiros, do govern o e do clero, a comunidad e d e Canudos era uma
ameaça. Os fazend eiros temiam perd er mão d e obra, o govern o não aceitava a auton omia
d e Canudos e a Igreja ressentiase da lid erança espirit ual d e Conselheiro. Assim, entre
18 96 e 18 97, quatro expedições foram organizadas pelos govern os es tadual e fed eral e
enviadas à região para prend er Antônio Conselheiro e dissolver a comunidad e d e Canudos.
As três primeiras tentativas falharam, pois os sertanejos mos traram grand e resis tência e
ha bilidad e militar, d ebelando as tro pas com ataques inesperados.
A repercussão da terceira d errota foi en orme, e não tardou para que imprensa e políticos
atribuíssem a Antônio Conselheiro a intenção d e res taurar a monarquia, representando
uma ameaça d e fato à república. Foi nesse clima d e franca hos tilidad e que, em 18 97, o
Govern o Fed eral organizou uma n ova expedição para d es truir o arraial. Cerca d e 7 mil
soldados com 18 canhões inves tiram contra Canudos. Os combates iniciaram-se em junho,
e, em out ubro, quando ocorreu a ofensiva final contra Canudos, praticamente toda a po-
pulação local havia sido exterminada. Os poucos sobreviventes foram feitos prisioneiros.
Em 18 97, o engenheiro e escritor Euclid es da Cunha foi enviado à região pelo jornal
O Es tado d e S.Paulo para cobrir os acontecimentos na região. Com base nessa experiência,
ele escreveu a obra Os sertões, publicada em 1902. Leia, a seguir, uma parte da d escrição
do povoado feita pelo autor:
“
O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas. A edificação rudi-
mentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia [...].
O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia
velho. Visto de longe, [...] tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo
houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto. Não se dis-
tinguiam as ruas.
Campanário: torre da
igreja ond e ficam os
sin os.
Genuflexo: ajoelhado.
Ora, por estas veredas, [...] chegavam sucessi-
vas caravanas de fiéis. Vinham de todos os pon-
tos, carregando os haveres todos; e, transpondo
as últimas voltas do caminho, quando divisavam
o campanário humilde da antiga capela, caíam
genuflexos sobre o chão aspérrimo. [...]
Nada queriam desta vida. Por isto a proprie-
dade tornou-se-lhes uma forma exagerada de
coletivismo [...]: apropriação pessoal apenas
de objetos móveis e das casas, comunidade ab-
soluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e
dos escassos produtos das culturas, cujos donos
recebiam exígua quota-parte, revertendo o resto
para a companhia. Os recém-vindos entregavam
ao Conselheiro noventa e nove por cento do
que traziam, incluindo os santos destinados ao
santuário comum. Reputavam-se felizes com a
migalha restante.
”
CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de
Canudos. São Paulo: Ateliê Editorial/Imprensa
Oficial do Estado/Arquivo do Estado, 2001. p. 291-299.
(Coleção Clássicos comentados I)
Igreja d e Santo Antônio, n o arraial d e Belo Monte (18 97).
Canudos (BA). Fotografia d e Flávio d e Barros.
Museu da República, Rio d e Janeiro (RJ).
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Guerra do Contestado (1912-
1916)
Localizada entre Santa Catarina e Paraná, a região do Contes tado, n o início da república,
a brigava uma vas ta flores ta d e araucárias e campos nat urais, além d e extensa plantação d e
erva-mate. A região, disputada pelos dois es tados, passou a atrair a atenção d e fazend eiros,
especuladores e companh ias mad eireiras, interessados em aumentar suas pro priedad es
e em explorar mad eira. Com isso, os posseiros locais passaram a ser expulsos das terras.
A sit uação agravou-se com a cons trução d e um trecho da Es trada d e Ferro São
Paulo-Rio Grand e do Sul. No final da obra, grand e parte dos tra balhadores contratados
pretendia permanecer na região. Cont udo, os especuladores e as companh ias mad eireiras
exigiram a saída imediata d eles, impedindo-os d e ocupar os trechos próximos à ferrovia.
O aumento do número d e tra balhadores sem terra criou um clima pro pício a agitações
e conflitos. Foi nesse contexto que se d es tacou a figura d e Miguel Lucena Boavent ura,
ex-soldado do Exército que se fazia chamar d e “monge” José Maria. Beato e curand eiro,
José Maria fundou, n o centro-sul d e Santa Catarina, uma comunidad e religiosa semelhante a
Canudos, à qual d eu o n ome d e Monarquia Celes te
. Nela, ele ajudava os ca boclos, pregava
uma sociedade igualitária e resistia contra aqueles que pretendiam expulsar a população local.
Com medo d e que a comunidad e se fortalecesse e uma revolta como a d e Canudos
explodisse, o govern o local d ecidiu atacar o povoado. Os primeiros choques armados entre
a milícia celes te dos ca boclos e a força enviada pelo govern o – formada por jagunços con-
tratados por empresas, policiais e soldados do Exército – ocorreram em 191 2. A irmandad e
ca bocla resis tiu até 1916, quando o general Setembrin o d e Carvalho, à frente d e 7 mil
soldados e com o apoio da artilharia e da aviação, forçou os sobreviventes a se rend erem.
Cangaço
O movimento conhecido como cangaço teve início n o
final do século XIX, n o sertão n ord es tin o, es tend endo-se
até meados da década d e 1940. Os cangaceiros integravam
grupos armados que sobreviviam por meio d e saques e pilha-
gens. Os primeiros bandos d e cangaceiros eram contratados
por coronéis para d e fend er seus interesses. Agiam muitas
vezes em conflitos que envolviam brigas entre famílias ou
entre as oligarquias locais.
No final do século XIX, formaram-se os bandos d e
cangaceiros ind epend entes, que não se subordinavam a
che fes locais. Eles eram perseguidos pelas “patrulhas volan-
tes” das polícias es taduais, que agiam com brutalidad e. O
bando mais conhecido foi o d e Virgulin o Ferreira da Silva,
o Lampião. Ele, sua companheira, Maria Bonita, e outros
cangaceiros morreram numa emboscada em 1938, n o
interior d e Sergipe.
O cangaço perd eu força na década seguinte, quando o
Govern o Fed eral organizou a repressão com mais e ficiência.
Além disso, o crescimento das indús trias n o Sud es te passou
a atrair os sertanejos, que foram para a região, d eixando d e
ver n o cangaço um meio d e sobrevivência.
Alguns h is toriadores acreditam que o cangaço foi uma
forma d e resis tência diante dos problemas sociais e políti-
cos exis tentes n o sertão n ord es tin o, como a fome, a seca
e o pod er dos coronéis. Para outros, porém, os cangaceiros
eram crimin osos e não se preocupavam em transformar a
realidad e local.
Lampião e Maria Bonita (1936). Foto d e Benjamin Abrahão,
publicada na Revis ta Illus trada.
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Menin os do Con-
tes tado
h t t p : / / t o p i c o s .
es tadao.com.br/
contes tado
Nessa página
do site do jornal O
Estado de S. Paulo
é apr
esentada uma
matéria especial
sobre a Guerra do
Contes tado, com
d epoimentos d e
sobreviventes, fo-
tografias, textos e
muito mais.
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de navegar
Os jagunços eram homens de confiança dos coronéis, muitas vezes criminosos contratados para trabalhar como guardacostas e para executar serviços ilegais.
Durante a Guerra do Contestado, os jagunços foram aliados do governo, contratados para lutar contra os caboclos revoltosos e fazer o “serviço sujo” (assassinatos,
intimidações etc.) que o Exército oficial não executava.
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O d esenvolvimento indus trial foi acompanhado pelo processo d e crescimento das ci-
dad es, principal mente n o Sul e n o Sud es te do Brasil, que se expandiram sem planejamento
e sem políticas públicas d e saúd e e ha bitação. Além disso, a mod ernização ocorrida n os
grand es centros urban os entre o fim do século XIX e o início do XX não bene ficiou todas as
regiões e camadas sociais da mesma maneira. Muitos indivíduos pobres viram-se d esalojados
d e suas ha bitações, pressionados pelo d esemprego, pelas péssimas condições d e vida e pelos
baixos salários. Esse contexto pro piciou a formação d e uma série d e revoltas urbanas n o país.
Rvola da Vaca (1904)
Durante a presidência d e Rodrigues Alves (1902-1906), o saneamento e a mod ernização
do Rio d e Janeiro tornaram-se prioridad es. Nessa época, os serviços públicos urban os eram
precários. A falta d e tratamento d e água e esgoto, por exemplo, agravava as péssimas
condições d e h igiene, contribuindo para a disseminação d e doenças e epid emias.
Com o objetivo d e mod ernizar a cidad e e melhorar a imagem da capital fed eral n o
exterior, foram d errubados casebres e cortiços para a brir avenidas, expulsando parte da
po pulação, que se mudou para os morros. Além disso, praças, cemitérios e canais d e dre-
nagem foram re formados e visitas domiciliares d e agentes sanitaris tas foram ins tit uídas
para remover t udo o que fosse consid erado prejudicial à h igiene e à saúd e.
A tare fa d e combater as epid emias foi entregue ao médico sanitaris ta Oswaldo Cruz,
que adotou uma série d e medidas d e h igiene pública para combater a febre amarela, a
pes te bubônica e a varíola. Em 1904, a aprovação do projeto d e vacinação obrigatória
contra a varíola para os brasileiros com mais d e seis meses d e idad e foi o es to pim para a
eclosão, em n ovembro daquele an o, d e uma rebelião po pular que ficou conhecida como
Revolta da V
acina. Durante mais d e uma semana, a po pulação organizou barricadas,
d es truiu trilhos e bond es e entrou em conflito com a polícia. Depois d e retomar o controle
da cidad e, o govern o não apenas prend eu, como também d eportou muitos rebeld es.
De acordo com a análise d e alguns h is toriadores, a forma como a vacinação foi reali-
zada, com brigadas sanitárias que invadiam residências e forçavam a aplicação da vacina,
e a falta d e iniciativa do govern o em esclarecer para a po pulação a importância d esse tipo
d e medida preventiva foram fatores essenciais para a eclosão da revolta.
Charge que satiriza a
obrigatoriedad e da vacina
contra a varíola (1904). Casa
d e Oswaldo Cruz/Fiocruz,
Rio d e Janeiro (RJ).
Explique a o pinião expressa
na charge sobre as medidas
do govern o relacionadas
à vacinação obrigatória
contra a varíola.
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Nessa charge é representado um
“ e s p e t o h u m a n o ” f e i t o c o m d o i s
homens e duas mulheres. T
odos eles
estão sangrando. Na parte inferior
esquerda da charge, está escrito: “O
espeto obrigatório”. Ao representar
a vacina como um espeto que faz
sangrar
, pode-se dizer que o autor
dessa charge faz uma crítica à atitu-
de do Governo Federal de obrigar a
população a tomar a vacina contra
a varíola, sem conscientizá-la sobre
o funcionamento e o benefício do
m e d i c a m e n t o p a r a a s a ú d e d a s
pessoas.
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Rvola da Chbaa (1910)
No início do século XX, n o Brasil, os marinheiros d e baixa patente recebiam parcos
soldos, submetiam-se a uma exaus tiva jornada d e tra balho, eram mal alimentados e rece-
biam cas tigos corporais por d esobediência ao regulamento da Marinha – uma penalidad e
que tinha sido a bolida d esd e a proclamação da república, mas, na prática, continuava a
vigorar na frota d e guerra do país.
Os marinheiros eram, na maioria, negros e mes tiços, geral mente recrutados à força
e pressionados pela família a ingressar nas Forças Armadas. O govern o incentivava esse
tipo d e atit ud e oferecendo o pagamento d e prêmios à família ou aos responsáveis pelos
fut uros marinheiros. Havia também gratificações àqueles que se voluntariassem a ingressar
na Marinha, mas esses casos eram muito raros.
Diante d essa sit uação, em 1910, os marinheiros dos encouraçados Minas Gerais,
São Paulo, Bah ia e Deodoro, n o Rio d e Janeiro – lid erados pelo gaúcho João Cândido
Felisberto, mais conhecido como “Al mirante Negro” –, revoltaram-se. O es to pim da
revolta foi a punição do marinheiro Marcelin o, que recebeu 250 ch ibatadas na frente
d e seus colegas porque se envolveu em uma briga com um ca bo da Marinha.
Na época, o escritor Oswald d e Andrad e relatou o início da revolta:
“
E vi imediatamente na baía, frente a mim, navios de guerra, todos de aço,
que se dirigiam em fila para a saída do porto. Reconheci o encouraçado Mi-
nas Gerais que abria a marcha. Seguiam-no o São Paulo e mais outro. E todos
ostentavam, numa verga do mastro dianteiro, uma pequenina bandeira trian-
gular vermelha. Eu estava diante da revolução. [...] de repente vi acender
-se um
ponto no costado do Minas e um estrondo ecoou perto de mim, acordando a
cidade. Novo ponto de fogo, novo estrondo. […] Meus olhos faziam linha reta
com a boca de fogo que atirava. [...] Era contra a chibata e a carne podre que se
levantavam os soldados do mar
.
”
Revolta da Chibata: Oswald de Andrade descreve a rebelião dos marinheiros e
descreve seu desfecho. Projeto Memória. Disponível em
<www
.projetomemoria.art.br/RuiBarbosa/glossario/r/revolta-chibata.htm>.
Acesso em 21 jan. 2016.
Reivindicando o fim dos cas tigos corporais, o direito a folgas semanais e melhores
soldos, os marinheiros revoltosos enviaram um telegrama ao então presid ente da repú-
blica, Hermes da Fonseca (1910-1914), comunicando a d ecisão d e bombard ear a cidad e
do Rio d e Janeiro caso suas solicitações não fossem atendidas.
Encouraçado: navio
d e guerra d e grand e
porte protegido por
forte couraça.
V
erga: vara que
atravessa o mas tro,
ond e se prend e a vela.
Marinheiros que participaram da Revolta
da Ch ibata a bordo do navio Bah ia
(1910). Rio d e Janeiro (RJ).
Fotografia d e Augus to Malta.
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A revolta recebeu o apoio d e d epu-
tados da o posição, que pressionaram o
Govern o Fed eral a ced er às exigências dos
marinheiros. O Congresso votou o fim dos
cas tigos corporais na Marinha e anis tiou os
participantes da revolta. Entretanto, após a
rebelião, o govern o d escumpriu o acordo
d e anis tia e passou a perseguir e prend er os
marujos. O líd er João Cândido, por exem-
plo, foi julgado em 191 2 e in ocentado, mas
aca bou expulso da Marinha.
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A Cons tit uição d e 18 91 d eu pouca atenção às ques tões sociais. Por isso, as relações
d e tra balho nas cidad es brasileiras eram d e finidas pela emergente burguesia indus trial,
mercantil e financeira. Com o objetivo d e reivindicar melhores salários, redução da jor-
nada d e tra balho, assis tência ao tra balhador doente ou acid entado e regulamentação do
tra balho feminin o e infantil, os tra balhadores fundaram as ligas o perárias e as sociedad es
d e resis tência. Mais tard e, organizaram sindicatos, primeiramente por ofício e d epois por
atividad e econômica, que at uavam por meio d e greves e manifes tações.
O anarquismo foi a mais importante id eologia seguida por parte do movimento
o perário n o Brasil do início da república. Além d e fundar ligas d e resis tência e sindicatos,
os militantes anarquis tas organizavam greves para reivindicar conquis tas econômicas
imediatas, o reconhecimento dos direitos tra balh is tas e sindicais e a criação d e uma
legislação previd enciária. A greve também servia como um importante ins trumento para
fortalecer a solidariedad e entre os tra balhadores.
A maior mobilização do proletariado brasileiro n o período ocorreu durante a greve geral
d e julho d e 1917, iniciada na cidad e d e São Paulo, com repercussões n o res tante do país.
Dela participaram o perários das indús trias têxtil e alimentícia, gráficos e ferroviários. Em São
Paulo, os grevis tas reagiram à repressão das forças policiais. Durante o conflito, foi morto
o operário anarquis ta José Martinez, d e origem espanhola, cujo enterro paralisou a cidad e.
O movimento termin ou com um acordo d e aumento salarial e a promessa do aten-
dimento a outras reivindicações dos tra balhadores. As paralisações organizadas pelos
anarquis tas es tend eram-se até 1919, em São Paulo e em outros es tados.
Na década d e 1920, a influência do anarquismo n o movimento o perário brasileiro
entrou em re fluxo. A vitória da Revolução d e Out ubro e a cons tit uição do primeiro Es tado
socialis ta da h is tória na Rússia impulsionaram a formação d e partidos comunis tas em
todo o mundo. No Brasil, em 1922, foi fundado o Partido Comunis ta do Brasil (PCB),
que logo influenciou o o perariado e conquis tou filiados em todo o país.
A emancipação feminina
Muitas mulheres participaram ativamente do movimento o perário n o início da república,
não apenas para lutar por direitos tra balh is tas, mas também para reivindicar a ind epen-
dência feminina e a igualdad e d e direitos entre homens e mulheres. Nos jornais libertários,
eram comuns artigos que criticavam a sit uação das mulheres brasileiras d e todas as classes
sociais em uma sociedad e dominada pelo pod er masculin o. Nesses artigos, reivindicava-se
principal mente o acesso das mulheres à educação formal, pois se acreditava que essa era
a principal arma da luta feminina para mudar sua realidad e.
Em 1922, foi organizada a Primeira Conferência para
o Progresso Feminin o, na cidad e do Rio d e Janeiro, ond e
foram discutidos diversos temas relacionados às lutas
das mulheres, como o tra balho feminin o nas fábricas, a
ins trução das mulheres e a proteção das grávidas. Com
o tempo, o discurso pela emancipação feminina assumiu
n ovas frentes, reivindicando também o direito da mulher
d e votar e ser votada, por exemplo.
Primeira Conferência para o Progresso Feminin o, realizada na
cidad e do Rio d e Janeiro, em 1922. Arquivo Nacional, Rio d e
Janeiro (RJ). Ao centro, pod emos ver a jornalis ta n orte-americana
Carrie Chapman Catt e a bióloga brasileira Bertha Lutz, figuras
importantes do feminismo.
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O Partido Socialista Brasileiro
foi fundado em 1902 com um
programa marxista. Nas suas
lutas no Brasil, os socialistas
daquela época defendiam a
melhoria dos salários dos tra-
balhadores e a necessidade de
promover mudanças sociais.
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  • 1. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 8 A mentira do opressor “ Preciso manter a promessa de não fazer um discurso sobre o colonialismo. Mas vou expressar , com palavras simples, qual é minha objeção fundamental ao domínio colonial. A meu ver , é um grave crime qualquer pessoa se impor a outra, apropriar -se de sua terra e de sua história, e ainda agravar esse crime com a alegação de que a vítima é uma espécie de tutelado ou menor de idade que necessita de proteção. É uma mentira total e deliberada. Parece que até o agressor sabe disso, e é por essa razão que ele às vezes procura camuflar seu banditismo com essa hipocrisia tão descarada. No fim do século XIX, o rei Leopoldo da Bélgica, cujas atividades no Congo mostram bem o porquê da triste fama do colonialismo, ainda foi capaz de pronunciar estas palavras com a cara mais séria do mundo: ‘Apraz-me pensar que nossos enviados, quase todos voluntários vindos das fileiras do Exército belga, têm sempre em mente a forte noção da carreira que escolheram e são animados pelo mais puro sentimento de patriotismo; sem poupar seu próprio sangue, pouparão ainda mais o sangue dos nativos, que neles verão os protetores todo- -poderosos de suas vidas e de seus bens, professores benevolentes de quem eles tanto necessitam’. ” ACHEBE, Chinua. A educação de uma criança sob o protetorado britânico São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 17. Congoleses aprisionados por colonizadores belgas, n o Es tado Ind epend ente do Congo, at ual República Democrática do Congo. Foto d e c. 1900. A p i c / G e t t y m A G e s Conversando sobre 1. Que críticas Chinua Achebe faz ao neocolonialismo? Você concorda com ele? Por quê? 2 . Achebe af irma: “Parece que até o agressor sabe disso, e é por essa ra zão que ele à s vezes procura camuf lar seu banditismo com essa hipocrisia tão descarada” . De que maneira o discur so do rei Leopoldo, da Bélgica, citado por Achebe, exemplif ica essa af irmação? 3. De que forma o domínio e a opressão de uma pessoa, de um grupo, de uma ins tituição etc. sobre o outro se expressa nos dia s atuais? 1 Ipiaiso a Áica  a Ásia C a p í t u l o Achebe presenciou as mudanças políticas, econômicas, culturais e sociais ocorridas na Nigéria durante o domínio colonial britânico. Em seu livro A educação de uma criança sob o protetorado britânico , do qual foi extraído o trecho apresentado nesta abertura, ele trata desse conturbado e violento período da história de seu país, além de fazer uma crítica ao neocolonialismo europeu. Recomendamos iniciar os estudos deste ca p í t u l o p e l a l e i t u r a d o t e x t o e , e m s e g u i d a , passar para a análise da imagem. O escritor n i g e r i a n o C h i n u a A c h e b e é c o n s i d e r a d o u m dos principais romancistas da literatura africana. 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 8 5/18/16 9:51 AM
  • 2. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 9 A “issão” o o aco De 1870 até o início do século XX, a econ omia euro peia passou por grand e expansão. Ocorreu nesse período o que alguns h is toriadores consid eram a Segunda Revolução Indus trial. Ela se caracterizou por avanços n o processo d e indus trialização, como a uti- lização d e n ovas fontes d e energia – petróleo e eletricidad e –, que possibilitaram trans- formações importantes na econ omia capitalis ta. Nesse período também hou ve grand e d esenvolvimento dos meios d e transporte e expansão dos meios d e comunicação, além da formação do capitalismo financeiro e dos oligo pólios Acompanhando esse processo d e expansão econômica, a burguesia das grand es po- tências voltou-se para a exploração d e territórios fora d e suas fronteiras nacionais, dando início ao neocolonialismo ou imperialismo. Ela buscava n ovos mercados consumidores e áreas para inves tir o capital exced ente na Euro pa e acolher o excesso d emográfico do continente. O imperialismo significou a dominação d e grand es porções da Ásia e da África pelas potências mais indus trializadas da Euro pa. Setores da burguesia argumentavam que a expansão colonial era necessária para garantir o crescimento indus trial e evitar convulsões sociais na Euro pa. Além dos argu- mentos políticos e econômicos, as potências ocid entais utilizaram id eologias racis tas para jus tificar suas inves tidas sobre a África e a Ásia. Essas id eologias d eram origem ao darwinismo social. Seus id ealizadores alegavam que a teoria da evolução das espécies d e Charles Darwin pod eria ser aplicada à sociedad e. Com base nessa id eia, o domínio dos brancos passou a ser jus tificado pela lei d e seleção nat ural das espécies, uma vez que eles pertenceriam a uma espécie mais evoluída. Então, difundiu-se a visão d e que a expansão imperialis ta seria uma missão civilizadora d e uma raça superior, a branca, representada pelos euro peus e pelos n orte-american os. A “missão” dos povos ocid entais incluía a tare fa d e levar a tecn ologia e a cult ura cris tã para áreas ond e a po pulação nativa “jamais” as alcançaria sozinha. Essa visão racis ta, que se pro pagou n o século XIX, incentivou e legitimou a violência contra os povos colonizados. Oligo pólio: sit uação em que um número limitado d e empresas domina o mercado d e d eterminado ramo d e produção indus trial ou d e serviços, reduzindo dras ticamente a concorrência. O fardo do homem branco (apologia a Kipling) , charge d e F. Victor Gillam publicada na revis ta n orte-americana Judge, em 1 o d e a bril d e 18 99. Biblioteca e Museu Billy Ireland Cartoon. Universidad e Es tadual d e Oh io. Columbus, Es tados Unidos. De que forma pod emos relacionar essa charge ao darwinismo social? b i b l i o t e c A e m u s e u b i l l y i r e l A n d c A r t o o n . u n i v e r s i d A d e e s t A d u A l d e o h i o , c o l u m b u s À direita está a personagem T io Sam, um dos símbolos nacionais dos Estados Unidos, e, à sua fren te, um senhor com trajes típicos de um lorde inglês. Ambos carregam g r a n d e s c e s t o s c o m p e s s o a s dentro, cuja origem está escrita em suas roupas ou adereços. T anto o Tio Sam quanto o lorde inglês escalam uma montanha de pedras, nas quais podemos ler palavras re lacionadas à ideia de “atraso” como ignorância, crueldade, canibalismo e escravidão. No topo da montanha há uma estátua iluminada, sobre a qual podemos ler a palavra “civili zação”. O próprio nome da charge é u m a re f e rê n c i a a o p o e m a O fardo do homem branco , de 1899, no qual o autor Rudyard Kipling justifica a política expansionista dizendo que os países “desenvol vidos” tinham a missão de levar os valores da civilização para os povos “atrasados”. A ideia da existência de povos superiores está direta mente relacionada às teorias do darwinismo social. 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 9 5/18/16 9:51 AM
  • 3. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 10 CABINDA (POR) EQUADOR 0° 0° TRÓ P CO DE CAP R CÓR N O TRÓP CO DE CÂN CER M E R D A N O D E G R E E N W C H LÍBIA EGITO SUDÃO ANGLO-EGÍPCIO ERITREIA SOMÁLIA IT ALIANA ÁFRICA ORIENT AL ALEMÃ MADAGASCAR ÁFRICA ORIENT AL BRIT ÂNICA ETIÓPIA CONGO BELGA UNIÃO DA ÁFRICA DO SUL SUAZILÂNDIA BASUTOLÂNDIA M O Ç A M I Q E ANGOLA SUDOESTE AFRICANO ALEMÃO RODÉSIA DO SUL RODÉSIA DO NORTE NIASSALÂNDIA BECHUANALÂNDIA SOMÁLIA BRIT ÂNICA SOMÁLIA FRANCESA Á F R I C A E Q F R A N C E S A M E D I TE RRÂNE O MAR TUNÍSIA ARGÉLIA MARROCOS MARROCOS ESP ANHOL SAARA ESP ANHOL COST A DO OURO CAMARÕES FERNANDO PÓ (Bioko) (GB) NIGÉRIA TOGO ÁFRICA OCIDENT AL FRANCESA GÂMBIA GUINÉ PORTUGUESA SERRA LEOA LIBÉRIA OCEANO ÍNDICO OCEANO A TLÂNTICO M A V M GUINÉ ESP ANHOLA ZANZIBAR (GB) Grã-Bretanha (GB) França (FRA) Alemanha (ALE) Itália (IT A) Bélgica (BEL) Portugal (POR) Espanha (ESP) Domínio conjunto anglo-egípcio Territórios não colonizados A L i b é r i a e a E t i ó p i a f o r a m o s únicos países afri- can os não coloniza- dos pelos euro peus n o s é c u l o X I X . A Libéria tinha rela- ções próximas com os Es tados Unidos, que haviam implan- tado uma política d e e n v i o , a o p a í s a f r i c a n o , d e e x - -escravos e negros nascidos livres na América do Norte. Já a Etiópia chegou a t e r s e u t e r r i t ó - rio invadido pelos italian os por volta d e 1880, mas con- seguiu expulsá-los por ter um número d e soldados muito superior ao do país invasor. O caso da Libéria e da Etiópia Plh  Ác Até o início do século XIX, os redutos euro peus exis tentes na África resumiam-se às regiões litorâneas d e Angola, Moçambique e Guiné, ocupadas por Port ugal d esd e o século XVI, e ao Ca bo, área ao sul colonizada pelos holand eses e transferida para a Grã-Bretanha d epois do Congresso d e Viena (1814-1815). Os franceses foram os mais ativos na conquis ta militar africana. No plan o político, pretendiam recuperar o pres tígio internacional da França, a balado pelas d errotas napoleô- nicas. Já n o plan o econômico, tinham o objetivo d e assegurar grand es lucros aos grupos privados do país. A Grã-Bretanha reiniciou sua inves tida n o continente african o em 1875, ao comprar do vice-rei do Egito, Ismael Pacha, ações da Companh ia do Canal d e Suez. O canal era uma via marítima es tratégica que ligava comercial mente a Euro pa, a Península Arábica e a Índia. Com o endividamento do govern o egípcio, sobret udo por causa dos inves timentos na cons trução do canal, os britânicos passaram a intervir na região. Em 1914, o Egito d ei- xou d e ser uma província otomana, tornando-se oficial mente um protetorado britânico. A Bélgica d eu início à exploração da bacia do Rio Congo, em 1876, por meio da Associação Internacional Africana, empresa do rei belga Leo poldo II. An os mais tard e, ele fez da região seu domínio pessoal. Após massacrar milhares d e congoleses mediante um truculento regime d e tra balho, que incluía mutilações e assassinatos, o monarca foi obrigado pela comunidad e internacional a a bandonar a possessão, que em 1908 foi assumida pelo Es tado belga. A Alemanha e a Itália, unificadas somente na segunda metad e do século XIX, entraram mais tard e na corrida imperialis ta. Entre 1884 e 1885 ocorreu, por iniciativa d e Otto von Bismarck, a Conferência d e Berlim, com o objetivo d e disciplinar e d e finir a repartição “amigável” da África para evitar uma guerra entre as potências imperialis tas. Os partici- pantes da conferência es ta beleceram um acordo por meio do qual, a partir daquela data, qualquer anexação do território african o d everia ser comunicada imediatamente às outras potências, seguindo-se a ocupação e fetiva para garantir a posse. O oío sgo  Ác (1885-1913) Fonte: HERNAND EZ, Leila Leite. A África na sala d e aula: visita à h is tória contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 68. a n d e r s o n d e a n d r a d e p i m e n t e l 850 km COneCt andO COm a GeOGrafia Protetorado é um território ou país que, apesar de manter se c o m o E s t a d o i n d e p e n d e n  t e , t e m s u a p o l í t i c a e x t e r n a controlada por outro. Em al g u n s c a s o s , e s s e c o n t r o l e estendese ao governo, bem como ao Poder Judiciário e às instituições financeiras. 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 10 5/30/16 11:36 AM
  • 4. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 11 G r e n v i l l e c o l l i n s p o s t c A r d c o l l e c t i o n / m A r y e v A n s / d i o m e d i A Debelado: vencido por meio da força, d errotado, extinto. Aicaos coa o ipiaiso A conquis ta euro peia na África foi marcada pela violência e pelo racismo, ins tit uí- dos, por exemplo, na d esapro priação d e terras, na cobrança d e impos tos, em formas d e tra balho compulsório e n o d esrespeito às tradições locais. Diante disso, muitos povos african os resis tiram à dominação es trangeira, dando origem a prolongados conflitos. À exceção dos ocorridos na Libéria e na Etiópia, todos esses movimentos d e resis tência foram violentamente d ebelados pelas potências ocid entais. Na região do Alto Senegal, na África Ocid ental Francesa, es tourou a Rebelião d e Mamadou Lamine, entre 18 98 e 1901. O movimento girou em torn o da crença d e que os muçul man os não pod eriam ser governados por não islâmicos. Assim, lid erados por Mamadou Lamine, os rebeld es atacaram obras d e cons trução, em que havia tra balho forçado, e formaram guerrilhas, promovendo pilhagens nas áreas d e grand e presença francesa. Mamadou, porém, foi capt urado e executado, e o movimento perd eu força. Na Cos ta do Ouro (at ual Gana), entre 18 90 e 1900, eclodiu uma revolta contra o domínio britânico, que ficou conhecida como Rebelião Ashanti. O principal motivo para o levante foi a d eposição d e líd eres tradicionais por parte das autoridad es britânicas e a n omeação d e outros governantes para subs tit uí-los. Para os ashanti, essa atit ud e significou a violação d e sua tradição religiosa e cult ural, pois os líd eres locais eram consid erados sagrados. Em 1900, d epois d e sangrentas batalhas, diversos generais e a rainha Nana Yaa Asan- tewaa, uma das líd eres do movimento, foram presos e d eportados, dando fim à resis tência ashanti na região. Outra revolta importante foi a d e Maji-Maji, na África Oriental Alemã (at ual Tanzâ- nia), que durou d e 1905 a 1907. A origem da revolta es tá na d esapro priação das terras dos autóctones, n os maus-tratos e na imposição, pelos alemães, d e altos impos tos e d e tra balhos forçados nas plantações d e algodão da região. Sob a lid erança d e Kinjikitile, cerca d e vinte grupos étnicos diferentes uniram-se n o combate aos invasores alemães. Tambores d e guerra utilizados pelos ashanti, na Cos ta do Ouro, at ual Gana. Foto d e c. 1910. “ Para ressaltar e dar concretude à unidade das várias etnias, Kinjikitile promoveu a construção de um enorme altar ao qual chamou ‘a casa de Deus’ e nele passou a preparar o Maji, isto é, uma água tida como medicinal e sagrada com poder de tornar todos os africanos que a bebessem invulne- ráveis à artilharia europeia. ” HERNANDEZ, Leila Leite. Movimentos de resistência na África. Revista de História, n. 141, 1999, p. 145. Disponível em <www .revistas.usp.br/revhistoria/article/ view/18887/20950>. Acesso em 26 fev . 2016. K i n j i k i t i l e f o i e n f o r c a d o e m 1 9 0 5 . O movimento, porém, não perd eu força e aca bou sendo lid erado pelo pai d e Kinjikitile. A resis tência durou até 1907, quando foi reprimida pelas autoridad es alemãs. 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 11 5/18/16 9:51 AM
  • 5. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 12 TRÓPICO DE CÂNCER EQUADOR TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO 0º 120º L OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICO RÚSSIA RÚSSIA (P ARTE EUROPEIA) Á S I A MONGÓLIA TURQUIA TURQUEST ÃO COREIA CHINA JAP ÃO SÍRIA AFEGANIST ÃO SUMA TRA A U S T R Á L I A ARÁBIA FORMOSA ÍNDIA FILIPINAS (dominado pelos EUA em 1898) N D A S H O L A N D E S A S NOV A ZELÂNDIA CEILÃO MANCHÚRIA SACALINA PÉRSIA TIBETE BIRMÂNIA SIÃO INDOCHINA O C E A N I A Hong Kong (GB) Macau Kiaut-Cheu (ALE) Wai-Hai-Wei (GB) Porto Artur (JAP) Kuang-T cheu (FRA) GOA (POR) SARAWAK BORNÉU JA V A TIMOR Is. Salomão (GB) Is. Gilbert (GB) Is. Fiji (GB) Célebes Novas Hébridas (FRA-GB) Nova Caledônia (FRA) T ASMÂNIA N O V A G U IN É MAR DA CHINA Áden (GB) Socotora (GB) Y anaon (FRA) Pondicherry (FRA) Karikal (FRA) Mahé (FRA) Damão (POR) Diu (POR) Grã-Bretanha (GB) França (FRA) Alemanha (ALE) Holanda (HOL) Portugal (POR) Japão (JAP) Potências dominadoras expasão cooia a Ásia Entre 1830 e 1880, as potências euro peias e o Japão d esenvolveram políticas imperia- lis tas na Ásia. A presença euro peia n o continente, porém, não era n ovidad e, pois as riquezas da Ásia fascinavam os ocid entais d esd e a época medieval. No período do expansionismo mercantilis ta, os euro peus es ta beleceram algumas colônias n o continente asiático: Por- t ugal colonizou Macau (Ch ina), Timor (Indonésia), Goa, Damão e Diu (Índia); a Espanha es teve presente nas Filipinas entre 1571 e 18 98; a Holanda es ta beleceu colônias em Java (Indonésia) e Sumatra, entre outras ilhas. No início do século XIX, a permanência d essas colônias tes temunhava a primeira onda d e expansão euro peia na Ásia, bem anterior ao avanço imperialis ta. Íia so oíio iâico Desd e o século XVIII, a Índia, terra das especiarias que pro porcionaram muitas riquezas aos port ugueses e espanhóis durante as grand es viagens marítimas, era mercado essencial para os tecidos d e algodão e as exportações das manufat uras britânicas. Entre 17 84 e 1858, a quase totalidad e do território es teve submetida à Companh ia das Índias Orientais britânica, que controlava a região por meio d e alianças com os príncipes locais. A companh ia praticava o comércio, coletava impos tos e comandava tro pas d e sol- dados nativos, conhecidos como cipaios. A partir d e 1848, medidas econômicas adotadas pelos britânicos como a cobrança d e um impos to individual em dinheiro e a redução das tarifas alfand egárias para as importações, a balaram os cos t umes locais e liquidaram a indús tria artesanal têxtil indiana, incapaz d e concorrer com os produtos britânicos. A reação veio com a grand e Revolta dos Cipaios. A rebelião, que ocorreu entre 1857 e 1859, aliou soldados muçul man os, h indus e príncipes contra a dominação britânica. O movimento foi duramente reprimido e serviu d e pretexto para que a Grã-Bretanha controlasse politicamente o sub continente. Em 1876, a Índia passou a integrar o Império Britânico, e a rainha Vitória recebeu o tít ulo d e imperatriz da Índia. Fonte: PARKER, Geoffrey. Atlas Verbo d e h is tória univer sal Lisboa: V erbo, 1997. p. 113. Ativis tas do movimento d e resis tência contra o colonialismo francês presos durante a Campanha em Tonkin (1883-1886), organizada pela França com o objetivo d e es ta belecer um protetorado em Tonkin, na Indoch ina (at uais Vietnã, Laos e Camboja). Foto d e 1887. O ipiaiso a Ásia (séco XIX) p i c t u r e s f r o m h i s t o r y / b r i d G e m A n m A G e s / K e y s t o n e b r A s i l A n d e r s o n d e A n d r A d e p i m e n t e l 1.420 km 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 12 5/18/16 9:51 AM
  • 6. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 13 Ipéio o So nasc: o Japão No início da década d e 1850, o sis tema d e govern o japonês, o xogunato, foi a balado pelas potências ocid entais. Lid eradas pelos Es tados Unidos, elas pressionaram e exigiram a a bert ura dos portos japoneses. Reagindo à inves tida ocid ental, em 1860 os japoneses começaram a enviar jovens à Euro pa e aos Es tados Unidos para cursar universidad es d e ciência e tecn ologia mod ernas. Com o conhecimento técnico adquirido n o Ocid ente, os japoneses impulsionaram seu processo d e indus trialização. Paralelamente, o Japão passou a rees trut urar seu Exército e sua Marinha. Em 1868, com apoio do Exército, o gover n o fo i res taura d o em n ome d o i mpera dor Mutsuh ito Mei ji, que iniciou uma série d e re formas com o objetivo d e mod ernizar o país. O pod er dos grand es senhores d e terras foi subs tit uído por um sis tema d e pre feit uras controladas por uma burocracia central. Tais re formas tornaram-se conhecidas como Revolução Mei ji Essa revolução transformou o Japão em exemplo d e indus trialização n o Oriente. A mod ernização econômica foi obtida graças aos inves timentos na agricult ura e na edu- cação, ao aperfeiçoamento da indús tria metalúrgica, à ampliação da red e d e transportes, sobret udo com a cons trução d e ferrovias, e à consolidação dos bancos, responsáveis por um ambiente financeiro e ficiente. Uma re forma tributária garantiu boas fontes d e renda ao govern o, que inves tiu cerca d e um terço d e seu orçamento n o comércio e na indús tria, além d e subsidiar a cons trução naval. “ As autoridades [japonesas] argumentavam que a riqueza e o poder do país como um todo seriam prejudicados se as pessoas comuns fossem iletradas. Em 1940 [...] 99% da população já estava alfabetizada, em contraste com os números de 1873, quando as cifras chegavam a 39,9% para os homens e apenas 15,2% para as mulheres. [...] As escolas serviram igualmente à promoção da disciplina [...] e da subserviência ao imperador . [...] fomentaram a identidade nacional japonesa, minando provincianismos e antigas distinções sociais: a educação deveria quali- ficar os cidadãos sem distinção de nível social. ” SAKURAI, Célia. Os japoneses. São Paulo: Contexto, 2007. p. 142-143. (Coleção Povos e civilizações) Nas últimas décadas do século XIX, o país já participava da corrida imperialis ta ao lado das potências ocid entais. A vitória na guerra contra a Ch ina entre 18 94 e 18 95 garantiu ao Japão a influência sobre a Coreia e a conquis ta da Ilha d e Taiwan. Xogunato: sis tema d e govern o japonês que perdurou entre os séculos XII e XIX, cujo líd er máximo, o xogum, concentrava os pod eres políticos e militares. Durante o xogunato, o imperador foi uma figura simbólica n o Japão. Gravura (século XIX) que representa o imperador Mutsuh ito Mei ji retornando ao seu palácio, em Tóquio. A r c h i v e s c h A r m e t / b r i d G e m A n m A G e s / K e y s t o n e b r A s i l - c o l e ç ã o p A r t i c u l A r 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 13 5/18/16 9:51 AM
  • 7. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 14 A qa o agão: a Cia A Ch ina representava um atraente mercado consumidor e fornecedor d e produtos cobiçados pelos ocid entais, como a seda, o chá, a porcelana e artigos d e luxo. No entanto, o comércio na região era raro e difícil, até porque os ch ineses não gos tavam d e es ta belecer relações com os povos ocid entais. No início do século XIX, a sit uação mudou. Comerciantes britânicos d escobriram um pro- duto cujo consumo podia ser incentivado entre os ch ineses: o ópio. Em represália, o govern o ch inês proibiu o comércio legal d e ópio e combateu o contra bando com severas penas. A tensão cresceu quando as autoridad es confiscaram uma carga britânica e jogaram-na ao mar . Alegando prejuízos à pro priedad e privada, o govern o britânico iniciou uma série d e retaliações, que terminaram em conflitos conhecidos como Guerras do Ópio (1839-1842 e 185 6-1860). Na Primeira Guerra do Ópio os ch ineses foram d errotados pelos britânicos e, na segunda, por uma aliança anglo-francesa. O resultado d essas guerras foi a assinat ura d e tratados que bene ficiavam os interesses euro peus. Pelo Tratado d e Nanquim (1842), a Ch ina foi obrigada a a brir cinco d e seus portos ao livre-comércio e entregar a Ilha d e Hong Kong aos britânicos. Pelo Tratado d e Tientsin (1858), os ch ineses admitiram a livre importação do ópio, a briram d ez n ovos portos ao comércio euro peu e permitiram a at uação d e missionários cris tãos n o país, entre outras concessões. Em 1844, os franceses obtiveram importantes concessões comerciais na Ch ina e privi- légios para seus cidadãos. Em 1860, foi reconhecida a soberania da Rússia sobre territórios siberian os, que eram disputados pela Ch ina. O Japão entrou tard e na corrida, mas venceu os ch ineses na guerra d e 18 94-18 95 e conseguiu o controle d e portos, além d e anexar e ocupar porções do território ch inês. A sisêcia os oxs Entre 1900 e 1901, organizou-se um movimento contra a dominação ocid ental na Ch ina, que ficou conhecido como Rebelião dos Boxers. Nacionalis tas ch ineses insatisfeitos com a presença es trangeira n o país d eram início a uma série d e atentados, que aca baram gerando uma guerra contra o govern o. Um Exército internacional compos to d e euro peus, n orte-american os e japoneses sufocou a rebelião. Os ch ineses foram cond enados a pagar uma ind enização e a permitir a presença d e tro pas es trangeiras em seu território. Ópio: subs tância extraída da papoula (planta do gênero Papaver). Inicial mente usado como analgésico e sonífero, o ópio passou, com o tempo, a ser usado como narcótico. Soldados boxers em treinamento na Ch ina. Foto d e 1900. Os boxers recrutaram muitos camponeses pobres. Eles acreditavam que, para d errotar os es trangeiros, era necessário utilizar as artes marciais e armas tradicionais ch inesas. p e t e r n e w A r K m i l i t A r y p i c t u r e s / b r i d G e m A n m A G e s / K e y s t o n e b r A s i l - c o l e ç ã o p A r t i c u l A r 55 dias em Pequim Direção: Nicho- l a s R a y . E U A , 1963. 154 min O filme se pas- sa em P equim, na China, em 1900, e narra a história d e um grupo d e es- trangeiros que fica preso na Cidad e Proibida, cercada pelos boxer s. Esses estrangeiros espe- ram a ajuda de um marinheiro norte- -american o e do embaixador britâ- nico, enquanto os b o x e rs re c e b e m auxílio da impe- ratriz Tzu Hsi e do Exército imperial. Você vai gosa  assisi A Ilha de Hong Kong foi devolvida à China somente em 1997, como uma Região de Administração Especial, ou seja, o governo local possui alguma autonomia, mas não em questões de política externa e de defesa, assuntos aos quais se subordina ao governo de Pequim. N o f i n a l d o l i v ro , n a s e ç ã o T écnicas de trabalho, há orien tações para análise de filmes. 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 14 5/18/16 9:51 AM
  • 8. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 15 Texto complementar “ […] da montagem e afirmação do colonialismo eur opeu, houve uma migração da imagem do africa- no confundido anteriormente com o escravo para o r efor ço do estigma do selvagem, primitivo e infantil. T odos esses elementos seriam selos antagônicos às imagens divulgadas sobre os europeus, associadas ao progresso tecnológico, à crença de que suas ci- vilizações seriam superiores, ou ainda à divulgada teoria de que as mentes e estruturas eur opeias eram as mais complexas do orbe. T achados de preguiço- sos e inábeis ao trabalho sofisticado, os africanos deveriam ser disciplinados e ensinados pelos servi- ços braçais, mesmo que compulsórios. […] Aos preconceitos anteriores articulam-se, no século XIX, as crenças científicas, oriundas das concepções do evolucionismo social e do deter - minismo racial, que alocaram os africanos nos últimos degraus da evolução das ‘raças’ humanas. Infantis, primitivos, tribais, incapazes de aprender ou evoluir , os africanos deveriam receber , por - tanto, a benfazeja ajuda europeia por meio das intervenções imperialistas no continente. […] os textos de Richard Burton são bastante conhecidos e se tornam reveladores das influên- cias das teorias científicas no já embaçado olhar europeu sobre as sociedades e regiões da África. Em suas expedições sobre o continente […], na se- gunda metade do século XIX, o aventureiro relata suas impressões sobre algumas populações afri- canas. […] Para Burton os homens do continente teriam uma mente rudimentar e seriam figuras decadentes, incapazes para o desenvolvimento tecnológico ou humano. ‘O estudo da psicologia na África oriental é o estudo da mente do homem rudimentar [...]. Ele pareceria mais uma degenerescência do homem civilizado do que um selvagem [...] não fosse sua incapacidade para o aperfeiçoamento [...].’ O viajante, algumas vezes, também demonstrou sentir certo incômodo com a pretensa preguiça dos africanos, além de menosprezar as línguas faladas por aquelas sociedades, percebidas como dialetos inferiores ou expressões animalescas. ‘Na estrada uma multidão de preguiçosos [...] se- guiu a caravana por horas; isto é um espetáculo ver - dadeiramente ofensivo [...]; essas figuras gr osseiras [...] e seus gritos lembravam uivos de bestas mais do que qualquer esforço de articulação humana.’ África deturpada Os relatos de viajantes e exploradores europeus sobre a África e os africanos, ao longo do século XIX e no começo do século XX, revelam o racismo e as intenções imperialistas das potências ocidentais da época. trAbAlhO , te CnOl OGIA e Cul turA Super s tições sobre a África (c. 18 90), ilus tração inglesa publicada pela His torical Publish ing Company. Sendo um dos criadores da London Anthropo- logical Society , ele estava embebido das teorias deterministas do período, acreditando que os africanos eram entre os grupos humanos uns dos mais inferiores. ‘O negro puro se coloca na família humana abai- xo das duas grandes raças, árabe e ariana […] e o negro, coletivamente, não progredirá além de um determinado ponto, que não merecerá considera- ção; mentalmente ele permanecerá uma criança.’ ” OLIV A, Anderson Ribeiro. Os africanos entre representações: viagens reveladoras, olhares imprecisos e a invenção da África no imaginário Ocidental. Em T empo de Histórias, PPG-HIS/UnB, n. 9. Brasília, 2005. p. 102-105. Disponível em <www .gestaoesaude.unb.br/index.php/emtempos/article/ viewFile/2646/2195>. Acesso em 26 fev . 2016. Compreendendo o texto 1. Identifique, nos relatos de Richard Bur - ton, ideias das teorias pseudocientíficas, como o darwinismo social e o evolucio- nismo social, que vigoraram na Europa ao longo do século XIX. 2. Descreva a imagem. Como ela está rela- cionada ao texto? Justifique. rgis as sposas  s cao. l o o K A n d l e A r n / b r i d G e m A n m A G e s / K e y s t o n e b r A s i l - c o l e ç ã o p A r t i c u l A r 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 15 5/18/16 9:51 AM
  • 9. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 16 Explorando o conhecimento 1. Identifique os fatores responsá veis pelo início do neocolonialismo ou imperialismo na África e na Ásia a partir da segunda metade do século XIX. 2. O Japão, durante a Era Meiji, investiu em edu- cação como uma forma de promover a moder - nização econômica do país. Explique como a educação foi importante para o projeto de na- ção do governo imperial japonês. Pensando cr it icamente 3. Leia a seguir o depoimento de Cardew , gover - nador britânico de Serra Leoa, em fins do sécu- lo XIX. “ O indígena começa a compreender a força que representa, ao ver a importância que o branco dá aos produtos do seu país e ao seu tra- balho, de modo que o branco não poderá mais, no futuro, aproveitar -se tanto como antes da sua simplicidade e da sua ignorância no mundo. ” LANGLEY , J. A. The last stand in W est Africa: resistance to British rule in W est Africa, 1879-1939. In: BOAHEN, Albert Adu (Ed.). História geral da África: África sob dominação colonial, 1880-1935. 3. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2011. p. 159-161. v . 7. O texto se refere aos: a) indígenas, que ajudaram os europeus a do- minar a África. b) movimentos de resistência africanos contra o colonialismo na África. c) Maji-Maji, que derrotaram o colonizador eu- ropeu na África Oriental Alemã. d) ashanti, que organizaram um levante contra as autoridades britânicas. 4. Leia um trecho da narrativa literária escrita por Joseph Conrad, em 1902, sobre o empreendi- mento imperial na região do Congo, na África. “ Um apito soou à minha direita e os negros começaram a correr . [...] Eles estavam construin- do uma ferrovia. [...] Seis negros marchavam em fila, subindo laboriosamente a trilha. Caminha- vam er etos e pausadamente, equilibrando no alto da cabeça pequenos cestos cheios de terra [...]. T rapos negros estavam atados à volta de seus quadris, e suas pontas curtas balançavam-se de um lado para o outro às suas costas, como caudas. Suas costelas eram claramente visíveis e suas juntas lembravam nós feitos numa corda. [...] Eles passaram a trinta centímetros de mim sem sequer me olharem, com essa indiferença mortal e profunda que tem o selvagem infeliz. Atrás dessa matéria bruta caminhava um dos que haviam sido resgatados à barbárie – produto das novas forças em ação – com ar desalentado e um rifle na mão. […] ao ver um homem branco pela frente levou a arma ao ombro animadamente. ” CONRAD, Joseph. O coração das trevas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984. p. 23-24. a) No texto de Joseph Conrad, como os negros e o trabalho que eles desen volviam foram carac- terizados? A quem essa atividade interessa va? b) A transformação e a assimilação dos povos nativos foram processos desencadeados pelo imperialismo. Justifique essa afirmação com um trecho retirado do texto. c) De que forma esse trecho explicita a ideia, veiculada na época, de superioridade dos brancos em relação a outros povos, nesse caso os africanos? 5. Observe a charge a seguir para responder às questões. Uma pequena fes ta do chá (1858), charge britânica sobre a Segunda Guerra do Ópio. t h e c A r t o o n c o l l e c t o r / p r i n t c o l l e c t o r / G e t t y m A G e s a) Descreva a charge. Que países foram repre- sentados nela? b) Que relação pode ser estabelecida entre essa charge e as Guerras do Ópio? c) As Guerras do Ópio e a consequente presen- ça estrangeira na China contribuíram para a organização de um movimento de resistência no país. Que movimento foi esse? Explique-o. Invest igando 6. Conforme você estudou, durante a Segunda Revolução Industrial, a partir da segunda me- tade do século XIX, a economia europeia ex- pandiu-se. Junte-se a um colega, pesquisem informações sobre essa segunda fase da indus- trialização na Europa (inovações técnicas, pa- íses envolvidos, fontes de energia, burguesia, capitalismo financeiro etc.) e redijam um texto sobre o tema. At iv ida des rgis as sposas  s cao. V ale lembrar aos alunos que na seção T écnicas de trabalho, no final do livro, há orientações para a realização de pesquisa. 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 16 5/18/16 9:51 AM
  • 10. 17 R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . Decif rando o Enem rgis a sposa  s cao. (ENEM-MEC/2009) “ A formação dos Estados foi certamente distin- ta na Europa, na América Latina, na África e na Ásia. Os Estados atuais, em especial na América Latina – onde as instituições das populações locais existentes à época da conquista ou foram elimina- das, como no caso do México e do Peru, ou eram frágeis, como no caso do Brasil –, são o resultado, em geral, da evolução do transplante de institui- ções europeias feito pelas metrópoles para suas colônias. Na África, as colônias tiveram fronteiras arbitrariamente traçadas, separando etnias, idio- mas e tradições, que, mais tarde, sobreviveram ao processo de descolonização, dando razão para conflitos que, muitas vezes, têm sua verdadeira origem em disputas pela exploração de recur- sos naturais. Na Ásia, a colonização europeia se fez de forma mais indireta e encontrou sistemas políticos e administrativos mais sofisticados, aos quais se superpôs. Hoje, aquelas formas anterio- res de organização, ou pelo menos seu espírito, sobrevivem nas organizações políticas do Estado asiático. ” GUIMARÃES, S. P . Nação, nacionalismo, Estado. Estudos A v ançados, n. 62, v . 22, jan./abr . 2008. São Paulo: Edusp. (Adaptado) Relacionando as informações ao contexto histó- rico e geográfico por elas evocado, identifique a opção correta acerca do processo de formação socioeconômica dos continentes mencionados no texto. a) Devido à falta de recursos naturais a serem explorados no Brasil, conflitos étnicos e cul- turais como os ocorridos na África estive- ram ausentes no período da independência e formação do Estado brasileiro. b) A maior distinção entre os processos histó- rico-formativos dos continentes citados é a que se estabelece entre colonizador e coloni- zado, ou seja, entre a Europa e os demais. c) À época das conquistas, a América Latina, a África e a Ásia tinham sistemas políticos e administrativos muito mais sofisticados que aqueles que lhes foram impostos pelo colo- nizador . d) Comparadas ao México e ao Peru, as institui- ções brasileiras, por terem sido eliminadas à época da conquista, sofreram mais influência dos modelos institucionais europeus. e) O modelo histórico da formação do Estado asiático equipara-se ao brasileiro, pois em ambos se manteve o espírito das formas de organização anteriores à conquista. Analisando O texto aborda a formação dos Estados nacio- nais nas áreas de colonização europeia. Após a emancipação, nas ex-colônias americanas cons- truíram-se Estados com base nos modelos euro- peus. Na África, os novos Estados independentes reuniram diferentes etnias em um mesmo terri- tório, o que originou muitos conflitos. As antigas civilizações asiáticas apresentavam sofisticados sistemas políticos, incorporados pela adminis- tração colonial europeia, que sobreviveram em vários aspectos. V ocê deverá escolher a alternati- va que apresenta uma informação correta sobre a história da América, da Ásia e da África. V amos analisar as cinco. • Alternativa a: O Brasil apresenta fartura de re- cursos naturais; os conflitos ocorridos na épo- ca de sua independência foram diferentes da- queles ocorridos na África. • Alternativa b: Os distintos processos de for - mação dos Estados nacionais na América, na África e na Ásia relacionam-se às diferenças na colonização de cada um deles. • Alternativa c: Os povos colonizados pelos eu- ropeus apresentavam diferentes sistemas po- líticos: organização tribal (em parte da Amé- rica e em várias sociedades africanas), reinos e cidades-Estado (na África e na Ásia) ou im- périos (na China e na América – os impérios Asteca e Inca). • Alternativa d: O México, o Peru e o Brasil, após conquistarem a independência, constituíram instituições com base no modelo europeu. • Alternativa e: O Estado nacional brasileiro que se formou após a independência seguiu os moldes europeus. Agora é com você! Qual é a alternativa correta? No dia do exame Esteja descansado! P ara isso, durma bem na véspera da prova: não estude até tarde e procure relaxar . A alternativa correta é a letra b Na questão selecionada é avaliado, prioritariamente, o Eixo cognitivo I da matriz de referências do Enem (dominar linguagens). O aluno deverá ter conhecimentos sobre a colonização europeia e identificar e resolver o problema proposto pelo enunciado, o que avaliam, respectivamente, osEixos cognitivos II (compreender fenômenos) e III (enfrentar situaçõesproblema). Quanto às habilidades, a questão pode ser associada a H7 (iden tificar os significados históricogeográficos das relações de poder entre as nações) e a H9 (comparar o significado históricogeográfico das organizações políticas e socioeco nômicas em escala local, regional e mundial). Comentários adicionais sobre esta seção encontramse no Suplemento para o professor . 008-017-HC3-C01-G_BR.indd 17 5/18/16 9:51 AM
  • 11. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 18 Conversando sobre 1. Como o poeta Olavo Bilac descreve a modernização da cidade do Rio de Janeiro? 2. Que contradição há entre a foto e o te x to, ambos datados da Pr imeira República? 3. Esse tipo de contradição ainda exis te atualmente? Jus tif ique. Picaretas regeneradoras “ No aluir das paredes, no ruir das pedras, no esfarelar do barro, havia um longo gemido. Era o gemido soturno e lamentoso do passado, do atraso, do opróbrio. A cidade colonial, imunda, retrógrada, emperrada nas suas velhas tradições, estava soluçando no soluçar daqueles apodrecidos materiais que desabavam. Mas o hino claro das picaretas abafava esse protesto impotente. Com que alegria cantavam elas – as picaretas regeneradoras! E como as almas dos que ali estavam compreendiam bem o que elas diziam, no seu clamor incessante e rítmico, celebrando a vitória da higiene, do bom gosto e da arte. ” Olavo Bilac [jan. 1904]. In: SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 44. A u g u s t o M A l t A - A r q u i v o g e r A l d A C i d A d e d o r i o d e J A n e i r o - A g C r J , r i o d e J A n e i r o Favela Morro do Pinto (191 2) n o Rio d e Janeiro. Fotografia d e Augus to Malta. Arquivo Geral da Cidad e do Rio d e Janeiro (RJ). 2 Bral a Prra Rpúblca C a p í t u l o A n t e s d e i n i c i a r o t r a b a l h o com esta abertura, explique aos alunos que “Primeira Re- pública” ou “República V elha” são expressões utilizadas na historiografia para designar a primeira fase da república no B r a s i l , q u e s e e s t e n d e u d e 1889 a 1930. Sugerimos começar pelo tex- to, seguido da discussão da primeira questão, para depois realizar a análise da imagem e debater as demais perguntas. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 18 5/19/16 4:05 PM
  • 12. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . Prro po da rpúblca Por meio d e um golpe lid erado pelos militares, a república brasileira foi proclamada pelo marechal Deodoro da Fonseca em 15 d e n ovembro d e 188 9. Nesse primeiro momento, apesar das divergências que exis tiam entre os diversos partidários do republicanismo, os representantes do Exército contaram com o apoio d e grand e parte da elite cafeicultora do oes te paulis ta – para a qual o império representava um entrave à mod ernização econômica e à d esejada auton omia para adminis trar a província d e acordo com seus interesses. Os militares também conquis taram a simpatia d e setores da incipiente classe média, ansiosa por ampliar sua participação política na sociedad e. A transição para a república foi feita sem grand es conflitos, alterações socioeconômicas ou participação po pular. O Brasil continuou a ser um país agroexportador, sem contem- plar os interesses dos que d e fendiam um projeto d e ampla indus trialização. A república brasileira também não incorporou em seu projeto político as classes men os favorecidas da po pulação, o que gerou d escontentamentos n os grupos que d esejavam modificações profundas. Dessa forma, o mod elo d e república que se ins talou n o país não representava o pensamento d e todos os que haviam se engajado em sua d e fesa d esd e o império. Ainda assim, a proclamação da república inaugurou uma n ova ord em política n o país. O centralismo, predominante durante o império, foi subs tit uído pelo fed eralismo, d e fendido principal mente pelas elites do oes te paulis ta e d e Minas Gerais. Os dois govern os iniciais do Brasil foram cons tit uídos por militares: os marechais Deodoro da Fonseca e Florian o Peixoto. Esse período da Primeira República, sob o comando do Exército, ficou conhecido como República da Espada (188 9-18 94). Até que fossem realizadas eleições e o país tivesse uma n ova Cons tit uição, o mare- chal Deodoro da Fonseca lid erou um Govern o Provisório (188 9-18 91). Ele dissolveu as assembleias provinciais e as câmaras municipais, d emitiu os presid entes das províncias e indicou n ovos dirigentes para elas. Uma elite civil (ligada aos grand es pro prietários) e militar (principal mente do Exército) assumiu o aparelho adminis trativo, e os municípios tornaram-se peças fundamentais n o cenário político nacional em d ecorrência da auto- n omia que adquiriram com o fed eralismo. As negociações políticas durante a Primeira República envolveram os vários partidos republican os d e expressão regional ou es tadual, como o Mineiro (fundado em 1871), o Paulis ta (1873) e o Fluminense (1888). Dentre esses partidos, d es tacou-se o Partido Republican o Paulis ta (PRP), elemento fundamental nas articulações políticas do período. O PRP representava o centro econômico mais importante do Brasil naquele momento: o oes te paulis ta cafeicultor. Apoiado por Minas Gerais, o partido forneceu vários presid entes ao país, conseguindo manter a hegemonia paulis ta praticamente sem o posição até 1930. “Monarquia: – Não é por falar mal, mas, com franqueza... eu esperava outra coisa. República: – Eu também.” Charge d e K. Lixto publicada na revis ta Fon-Fon, em 1909. Fundação Biblioteca Nacional, Rio d e Janeiro (RJ). Que personagem representa a monarquia? E a república? O que a charge revela sobre a república brasileira? F u n d A ç ã o B i B l i o t e C A n A C i o n A l , r i o d e J A n e i r o 1 9 19 Essa charge, criada vinte anos após a proclamação da república, apresenta a monarquia como uma mulher idosa, antiquada e mal-arrumada (características atribuídas ao siste- ma político ultrapassado) e a república como uma jovem elegante e refinada (aspectos relacionados à modernidade e à sofisticação). O diálogo entre as duas evidencia que a proclamação da república não efetivou no país as mudanças desejadas pela maioria da população. Com base na charge, pode-se discutir o fato de que a república brasileira não resultou de um processo com participação popular , mas de uma nova acomodação de forças entre os grupos dominantes (cafeicultores e militares), o que descontentou os setores que lutaram por transformações profundas na política e na sociedade brasileiras. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 19 5/19/16 4:05 PM
  • 13. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 20 Crise econômica A s re fo r m a s p o l í t i c o - a d m i n i s t ra t i v a s d o E s t a d o b ra s i l e i ro fo ra m s e g u i d a s d e medidas econômicas necessárias ao funcionamento da república. Uma das primeiras d ecisões tomadas pelo então minis tro da Fazenda, Rui Barbosa, em 18 90, foi a ado- ção d e uma re forma financeira a fim d e incentivar a criação d e empresas indus triais e comerciais n o país. Rui Barbosa acreditava que o melhor es tímulo à indus trialização seria a ampliação da oferta d e crédito. Para isso, ele permitiu que alguns bancos privados emitissem papel-moeda. Esse dinheiro seria empres tado aos empreend edores, o que, na visão do minis tro, movimentaria a econ omia brasileira. Entretanto, a facilidad e d e cré- dito favoreceu a criação d e numerosas empresas “fantasmas” – que só exis tiam n o papel –, cujas ações eram negociadas na Bolsa d e Valores e se valorizavam sem fisca- lização do govern o. Assim, centenas d e pessoas passaram a aplicar suas reservas na Bolsa d e V alores, adquirindo ações baratas para pos terior revenda. Esse clima d e especulação diante da a bundância d e negócios e empresas ficou conhecido como Encilhamento – o termo é uma alusão ao ato d e encilhar, ou seja, colocar os arreios em um cavalo, preparando-o para entrar na pis ta d e corrida. A especulação era favorecida pela grand e quantidad e d e dinheiro circulando n o país: em 18 90, o total era d e 206 mil contos d e réis; n o an o seguinte, es tavam em circulação 5 61 mil contos d e réis. Os falsos empreend edores, que captavam emprés timos sem jamais inves tir em um negócio, tiveram altos lucros. Além d e contribuir para a especulação, a política econômica d e Barbosa provocou o aumento da inflação, por causa da circulação d e dinheiro em volume muito superior ao da produção e da circulação d e bens disponíveis para o consumidor. O resultado foi uma grave crise: os preços subiram, a moeda perd eu valor, as importações cresceram, empresas e bancos faliram e os cofres públicos ficaram vazios. Especulação: o peração financeira o port unis ta por meio da qual se aproveitam as flut uações do mercado para obter lucros elevados. E a febre continua d esesperadamente , charge d e Pereira Neto sobre o Encilhamento, publicada na Revis ta Illus trada (18 90). Fundação Biblioteca Nacional, Rio d e Janeiro (RJ). F U N D A Ç Ã O B I B L I O T E C A N A C I O N A L , R I O D E J A N E I R O 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 20 5/30/16 10:57 AM
  • 14. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 21 Prra Coção rpblcaa No final d e 18 90, Deodoro da Fonseca convocou eleições para a As- sembleia Cons tit uinte, que n o início d e 18 91 promulgou a Cons tit uição republicana do Brasil. A Carta re fletiu a hegemonia dos d e fensores do liberalismo d e influência n orte-americana. V eja, a seguir, alguns d e seus pontos significativos: • O país tornouse uma república federativa, os Estados Unidos do Brasil • As antigas províncias passaram à condição d e es tados com auton o mia para promulgar as próprias cons tit uições, contrair emprés timos n o exterior, arrecadar impos tos e eleger seus presid entes d e es tado (cargo semelhante ao dos at uais governadores), ficando, n o entanto, sujeitas à intervenção fed eral em caso d e invasão es trangeira ou da ocorrência d e movimentos com tendências separatis tas. • O presid ente da república, os presid entes d e es tado e os membros do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) passaram a ser eleitos por voto direto, es tando excluídos do direito ao voto analfa betos, mendigos, soldados e men ores d e 21 an os. Apesar d e a Cons tit uição não apresentar res trição ao voto feminin o, a maioria dos cons tit uintes foi contra a aprovação d e uma emenda específica que garantisse esse direito às mulheres; logo, manteve-se a tradição, e as mulheres ficaram excluídas das eleições. Detalhe d e Ato d e assinat ura do Projeto da Primeira Cons tit uição d e 18 91 (18 91), pint ura d e Gus tavo Has toy. Museu do Senado, Brasília (DF). Na imagem, o marechal Deodoro recebe do menin o Mário Hermes da Fonseca a pena d e ouro oferecida pelos minis tros para a assinat ura do projeto da primeira Cons tit uição republicana do país. • O presid ente da república, além d e che fe d e govern o, torn ouse che fe da fed eração, eleito para um mandato d e quatro an os, sem direito à reeleição. • A igualdad e d e todos perante a lei, a liberdad e e a segurança individual e, principal mente, a garantia d e plen os direitos à pro priedad e foram reconhecidas. • A Igreja separouse do Es tado, ou seja, d eixou d e exis tir uma religião oficial n o Brasil. • Instituíramse o registro de nascimento, o registro de casamento civil e o atestado de óbito. Após a promulgação da Cons tit uição, os congressis tas escolheram o n ovo presi- d ente do país. Como a Cons tit uição não exigia o regis tro vinculado dos candidatos a presid ente e a vice-presid ente, o cargo d e presid ente da república foi ocupado pelo marechal Deodoro da Fonseca e o d e vice-presid ente ficou nas mãos do marechal Flo- rian o Peixoto, candidatos por chapas diferentes. Por causa da pressão dos militares sobre os d eputados, Deodoro aca bou eleito com uma pequena vantagem em relação ao seu o ponente, Prud ente d e Moraes, candidato representante dos cafeicultores. Govro cocoal d Dodoro O fracasso da política econômica d e Rui Barbosa, somado à n omeação d e minis tros conservadores, como o barão d e Lucena, antigo monarquis ta que ocupou o cargo d e minis tro da Fazenda, d esgas tou a autoridad e d e Deodoro da Fonseca. O presid ente passou a sofrer forte o posição do Congresso e enfrentou uma grave crise política. A tensão cresceu em 3 d e n ovembro d e 18 91, quando o govern o fechou o Congresso por meio d e um d ecreto, anunciando a convocação d e n ovas eleições e d e uma revisão cons tit ucional. A resis tência ao autoritarismo do Govern o Federal foi organizada por políticos d e São Paulo, Minas Gerais, Rio d e Janeiro, Pernambuco e Pará, com o apoio da Marinha e d e setores do Exército. Paralelamente a essa movimentação, os ferroviários d e flagraram uma greve na Es trada d e Ferro Central do Brasil, o que trouxe sérios prejuízos para o a bas tecimento da capital fed eral. Doente e receando uma guerra civil, Deodoro da Fonseca renunciou em 2 3 d e n ovembro d e 18 91. g u s t A v o H A s t o y - M u s e u d o s e n A d o F e d e r A l , B r A s í l i A 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 21 5/19/16 4:05 PM
  • 15. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 22 Govro d Florao Pxoo Com a renúncia d e Deodoro da Fonseca, Florian o Peixoto assumiu a presidência do país. Para conseguir o apoio po pular, ele d etermin ou a redução dos preços dos aluguéis das casas dos o perários, isentou a carne d e impos tos para baratear o cus to do produto e ins tit uiu o controle dos preços dos gêneros d e primeira necessidad e. Além disso, o ma- rechal tomou iniciativas para combater os e feitos do Encilhamento, como os incentivos à indus trialização e a fiscalização dos gas tos públicos. Porém, essas medidas não foram suficientes para evitar uma forte o posição civil e militar, que d eu origem a movimentos rebeld es, como a Revolução Fed eralis ta e a Revolta da Armada. O rigor d e Florian o Peixoto na repressão aos dois movimentos valeu-lhe o apelido “Marechal d e Ferro”. Rvolção Fdrala Entre 18 93 e 18 95, o Rio Grand e do Sul foi cenário dos combates da Revolução Fed e- ralis ta. O movimento foi travado entre os partidários d e dois oligarcas gaúchos: Gaspar Silveira Martins, que lid erava os fed eralis tas (maragatos), e o positivis ta Júlio d e Cas ti- lhos, que comandava os republican os (pica-paus). Os fed eralis tas queriam a ins talação d e um regime parlamentaris ta n os mold es do que exis tiu n o Segundo Reinado. Já os republican os d e fendiam um presid encialismo forte, centralizador, n o es tilo do govern o d e Florian o Peixoto. O confronto ultrapassou as fronteiras gaúchas, es tend endo-se a Santa Catarina, ao Paraná e até ao Uruguai. Embora Florian o tenha enviado tro pas fed erais aos es tados sulis tas, somente em 18 95, n o govern o d e Prud ente d e Moraes, foi assinado um acordo d e paz na região. Rvola da Arada Em agos to d e 18 93, os oficiais da Marinha que es tavam insatisfeitos com o domínio do Exército na política do país iniciaram, n o Rio d e Janeiro, um movimento rebeld e que ficou conhecido como Revolta da Armada. Participaram do movimento basicamente elementos dos setores médios e dos grupos oligárquicos. No dia 13 d e setembro, navios da armada começaram a bombard ear a cidad e do Rio d e Janeiro. Contando com o apoio da presidência do es tado d e São Paulo e a ad esão po pular, o govern o tratou d e reprimir a revolta. Os rebeld es a briram n ovas frentes d e batalha n o sul do país, mas não resis tiram à contraofensiva governamental. Em março d e 18 94, a rebelião es tava vencida e, pela força, a república consolidava-se. Trincheira na Rua Sete d e Setembro, Bagé (R S). Foto d e 18 93. Museu Dom Diogo d e Souza, Bagé (R S). Durante a Revolução Fed eralis ta, a cidad e foi assediada por maragatos e resis tiu ao cerco fed eralis ta. Durante a Revo- lução Fed eralis ta, o termo “maragato”, utilizado para d e- signar os fed eralis- tas, re feria-se aos mercenários espa- nhóis oriundos d e Maragateria. Ele foi usado porque havia n a s f i l e i r a s fe d e - ralis tas uruguaios d escend entes d es- ses espanhóis que a p o i a v a m G a s p a r Silveira Martins. Já o termo “pica-pau” fazia re ferência ao e m b l e m a b r a n c o dos chapéus utili- zados pelos republi- canos, que lembrava o to pete da ave. Maragatos e pica-paus M u s e u d o M d i o g o d e s o u z A , B A g é 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 22 5/19/16 4:05 PM
  • 16. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 23 República das Oligarquias Enquanto o Exército esmagava os focos d e d escontentamento armado, os grupos oli gárquicos, principal mente o cafeeiro, preparavamse para assumir o controle da república. No processo d e sucessão presid encial, o grupo mais bene ficiado foi o paulis ta, que apoiou Florian o Peixoto e, nas eleições d e 1 o d e março d e 18 94, elegeu Prud ente d e Mo raes, ligado ao PRP. Assim, o pod er político passou a ser controlado pelas elites agrárias, n otadamente d e Minas Gerais e São Paulo. Esse período ficou conhecido como República Oligárquica. Para permanecer n o pod er, as elites rurais criaram ins trumentos d e controle po lítico, como a política dos governadores, cons tit uída n o govern o d e Campos Sales (18 981902). Esse ins trumento político era um acordo firmado entre o presid ente da república e os presid entes d e es tado (at uais governadores), para que es tes apoiassem candidatos ao Congresso – senadores e d eputados – fiéis ao Govern o Fed eral. Em troca, o Pod er Executivo não interferiria nas eleições es taduais, garantindo a permanência dos mesmos grupos n o pod er. Para via bilizar a política dos governadores, o Govern o Fed eral criou a Comissão d e V erificação d e Pod eres. Os cinco parlamentares que compunham essa comissão tinham o pod er d e diplomar os candidatos que interessavam ao Govern o Fed eral e “d egolar” os o positores, ou seja, impedir que eles tomassem posse. Um artifício usual mente utilizado para impedir a posse d e parlamentares da o posição era acusálos d e cometer irregulari dad es durante a campanha eleitoral, algo corriqueiro em um período em que fraud es e outras ilegalidad es d e finiam as eleições. Consequentemente, a maioria dos d eputados e senadores que assumiam seus cargos era conivente com a política do Govern o Fed eral. Esses mecanismos facilitaram o predomínio político dos dois es tados mais fortes na época: Minas Gerais e São Paulo. Além d e econ omicamente dominantes, garantiam maior número d e cad eiras n o Congresso Nacional. Durante grand e parte da república, paulis tas e mineiros revezaramse na presidência do país. Essa alternância d e pod er foi chamada d e política do café com leite Coronelismo Criado n o período regencial, o tít ulo d e co ronel era n ormal mente concedido aos grand es fazend eiros que patrocinavam a Guarda Nacional. Com a proclamação da república e o fim da Guar da Nacional, os coronéis mantiveram o pres tígio e o respeito que haviam conquis tado. Procuravam preservar a prática da troca d e favores e, d essa forma, mantinham sob sua “proteção” uma série d e afilhados, em troca d e obediência. Os coronéis exerciam influência política na vizinhança d e suas pro priedad es rurais – áreas consid eradas currais eleitorais. No período d e eleição, as pessoas que d ependiam dos favores dos coronéis eram coagidas a votar n os candidatos apoiados por eles. Essa prática ficou conhecida como voto d e ca bres to. A coerção era facili tada pelo sis tema eleitoral em vigor, que não es ta belecia a obrigatoriedad e do voto secreto. O coronelismo facilitou a corrupção e o uso d e cargos públicos para obter privilégios privados. Charge d e J. César sobre a venda d e votos n o Brasil, 20 10. Que relação pod e ser es ta belecida entre essa charge e as práticas eleitorais na Primeira República? J . C É s a r / D B / D . a P r e s s A charge trata da compra e venda de votos. Ela pode ser relacionada ao curral eleitoral ou ao voto de cabresto durante a Primeira República, pelos quais os coronéis, por meio da coerção e da troca de favores, faziam com que os eleitores, principalmente os que viviam em sua zona de influência, votassem nos candidatos apoiados por eles. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 23 5/30/16 10:59 AM
  • 17. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 2 4 T rabalhando com fontes O chefe político e seu eleitor O texto a seguir foi extraído d e uma crônica do jornalis ta e escritor Lima Barreto, publicada na revis ta semanal O Malho, n o Rio d e Janeiro, em 1 o d e a bril d e 1919. “ – Seu doutor , eu vim incomodá-lo; mas pre- cisava muito ficar bem com minha consciência. – Que há? – Eu não voto no doutor Rui. – Como você vai votar no Epitácio? – Nem num nem noutro. – V ocê está ficando indisciplinado; não é mais o correligionário disciplinado de antigamente. Que diabo foi isso? – Eu não tenho sido companheiro para você? – Sim senhor . Devo ao doutor todos os obsé- quios desta vida, pelo que lhe sou muito agrade- cido. Foi o doutor que, abaixo de Deus, salvou a Marocas, minha mulher , sem cobrar nada... Quando foi o enterro do meu filho Dodoca, o doutor me ajudou muito... – Isso tudo não vem ao caso. Falemos... – Não; vem sim, doutor! Quero que o senhor não pense que sou mal-agradecido. Se estou em- pregado, devo ao doutor e... – Se você continuasse no partido, podia subir ou nós arranjávamos uma equiparação ou mesmo um aumento de vencimentos; mas... – Continuo no partido, doutor ... – Como? V ocê não vota conosco... – Mas não voto no outro. [...] – V ocê não pensava assim – não é? – É verdade; mas, de uns tempos a esta parte, dei em pensar . – Faz mal. O partido... [...] – V oto no senhor , para presidente da república. – É voto perdido... – Não tem nada; mas voto de acordo com o que penso. Parece que sigo o que está no manifesto assinado pelo senhor e outros. ‘Guiados pela nossa consciência e obedecendo o dever de todo republicano de consultá-la’... – Chega, Felício. – Não é isso? – É, mas você deve concordar que um eleitor arregimentado tem de obedecer ao chefe. – Sei, mas isto é quando se trata de um depu- tado ou senador , mas para presidente, que tem todos os trunfos na mão, a coisa é outra. É o que penso. Demais... – V ocê está com teorias estranhas, subversi- vas... – Não tenho teoria alguma, doutor . Consultei a minha consciência e a minha gratidão, e voto no senhor . – Mas... já sou deputado. – Que tem? Sobe mais um posto, ganha mais... – Não preciso, já ganho na clínica muito. – Com o lugar de deputado? Então pra que quis ir para a Câmara? – Para nada. – Doutor , eu decididamente não compreendo nada disto. Essa política é mesmo igual aos mis- térios dos padres... Passe bem. ” O chefe político e o seu eleitor . In: BARRETO, Afonso Henriques de Lima. Vida urbana. Disponível em <www .dominiopublico.gov .br/download/texto/bn000161. pdf>. Acesso em 19 jan. 2016. COneCt AnDO COm A LínGuA PORtuGuesA e A sOCiOLOGiA Rgr a rpoa   cadro. Questões 1. Identifique o tipo de documento, seu autor , o lugar e a época em que foi produzido. 2. Identifique e descreva as personagens do diálogo e o tema da conversa. Que tipo de relação existe entre elas? 3. O diálogo, ficcional, pode ser relacionado à vida política brasileira na Primeira República? Justifique. 4. Qual teria sido a intenção do autor ao escre- ver essa crônica? Indique os trechos do texto que justifiquem sua resposta. 5. A prática política ironizada na crônica é co- nhecida como “clientelismo”. Esse tipo de prática continua a ocorrer na vida política brasileira? Qual é sua posição a respeito do assunto? Lima Barreto atuou em jornais diários e em revistas semanais cariocas, nos quais publicou contos e crônicas, que, posteriormente, foram reunidos em coletâneas. A crônica “O chefe político e seu eleitor” integra o volume Vida urbana, publicado postumamente. Comentários adicionais sobre esta seção encontram-se no Suplemento para o professor . 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 24 5/19/16 4:05 PM
  • 18. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 25 Praza do or práro Na Primeira República, o es tímulo às atividad es agroex- portadoras es teve entre as prioridad es do Govern o Fed eral. O café representou o principal produto d e exportação. No início do século XX, as plantações d e café já haviam se expandido para além d e São Paulo e Rio d e Janeiro e chegado ao Paraná e a Minas Gerais. A produção cafeeira bene ficiou-se da a bert ura d e linhas d e crédito, dos preços favoráveis n o mercado internacional e do grand e contingente d e imigrantes euro peus, empregados como mão d e obra n os cafezais. Eles entraram n o país entre o final do século XIX e o início do século XX e foram tra balhar, principal mente, nas plantações d e café d e São Paulo, Minas Gerais e Rio d e Janeiro. Com o tempo, muitos imigrantes seguiram para as cidad es em busca d e melhores condições d e vida e tra balho. No início do século XX, os produtores d e café enfren- taram momentos d e crise d ecorrentes da superprodução. Para evitar prejuízos aos cafeicultores, o Govern o Fed eral firmou, em 1906, na cidad e paulis ta d e Taubaté, um acordo com os presid entes dos es tados d e São Paulo, Minas Gerais e Rio d e Janeiro. O Convênio d e T aubaté d etermin ou que os govern os dos três es tados comprariam os es toques d e café por um preço fixado com antecedência, recorrendo para isso a emprés timos d e bancos internacionais, além d e aprovar medidas para d eses timular o plantio d e n ovos cafezais. “ Decretou-se uma lei proibindo plantações [de café] novas. […] Era indispen- sável reduzir a oferta aos termos da procura, isto é, retirar do mercado o número de sacas suficiente para que o que ficasse para o consumo pudesse obter um preço compensador . Só pode tentar uma operação desse gênero quem dispõe do privilégio de produção. Ora, nós temos quase esse monopólio, visto que para a produção mundial de 16 milhões de sacas nós concorremos com doze. E como além disso o sistema de produção nos outros países é mais caro do que o nos- so, qualquer elevação que possamos obter no preço do café não os estimularia a desenvolver as suas plantações. […] Sendo assim, por que não havemos de regular o seu comércio e impor o seu preço? ” A questão do café. O Malho, ano V , n. 181, 3 mar . 1906. Disponível em <www .casaruibarbosa.gov .br/omalho/ revista.asp?rev=181&ano=1906>. Acesso em 20 jan. 2016. Além do café, o Brasil exportava borracha, cacau e cana-d e-açúcar. Desd e os tempos do império, o látex era extraído d e seringueiras espalhadas pela Flores ta Amazônica. No início do século XX, o crescimento da indús tria automobilís tica resultou na elevação do preço da borracha n o mercado extern o e n o aumento da exploração d e borracha na Amazônia. Porém, poucos an os d epois, a produção brasileira entrou em d eclínio em razão da concorrência dos seringais cultivados na Ásia pelos britânicos. Encontrado em várias partes da América, incluindo a Amazônia, o cacau ocupou igual- mente posição d e d es taque na pauta d e exportações brasileiras. No fim do império, a região do sul da Bah ia se transformou na principal produtora do fruto n o país. A cana-d e-açúcar, por sua vez, cultivada n o Brasil d esd e os tempos coloniais, teve alguns momentos d e expansão durante a Primeira República, principal mente n os an os 1920. Entretanto, a ex- pansão do açúcar d e beterra ba na Euro pa contribuiu para a queda nas exportações e n os preços do açúcar brasileiro, direcionando sua produção para o mercado intern o. “Tibiriçá: – V ocês es tão aqui para entoar comigo o coro do quero-quero! Sim, porque eu quero valorizar o café! Quero o emprés timo d e 180 mil contos! Quero pôr em prática a id eia do candidato Rodrigues!” Capa da revis ta O Malho, publicada em março d e 1906. Casa d e Rui Barbosa, Rio d e Janeiro (RJ). C A s A d e r u i B A r B o s A r i o d e J A n e i r o 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 25 5/19/16 4:05 PM
  • 19. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 26 Desenvolvimento industrial Em d ecorrência da es trut ura econômica do país, predominante- mente agrícola d esd e os tempos coloniais, nas primeiras quatro décadas da Primeira República a indús tria brasileira es teve relegada a segundo plan o. Entretanto, a acumulação d e capitais aca bou contribuindo para a expansão da atividad e indus trial. O dinheiro necessário às ins talações indus triais provinha d e inves tido- res brasileiros, principal mente cafeicultores, d e imigrantes enriquecidos e do capital financeiro internacional. À medida que aumentava o número d e empresas, cresciam a oferta d e tra balho, a po pulação urbana, o comércio e a pres tação d e serviços. Operárias em fábrica da Indús tria d e Seda Nacional (c. 1920). Campinas (SP). C o l e ç ã o p a r t i C u l a r Crescimento indus trial (São Paulo e Rio d e Janeiro) N o d e empresas N o d e o perários SP RJ SP RJ 1907 326 662 24.186 3 4.850 1920 4.145 1.542 83.998 5 6.517 1929 6.923 1.937 148.376 93.525 Os es ta belecimentos indus triais es tavam concentrados principal mente n o Rio d e Janeiro e em São Paulo. Pod e-se afirmar que, em São Paulo, o capital indus trial d erivou-se do capital cafeeiro: as crises periódicas d e superprodução d e café a briram caminho para o d eslocamento d e capitais para outras áreas d e inves timento, como a indus trial. Já n o Rio d e Janeiro ocorreu a transformação do capital mercantil em capital indus trial. A indús tria têxtil, por exemplo, origin ou- -se, em grand e parte, do comércio d e tecidos. O tamanho das fábricas variava d e pequenas oficinas a indús trias que reuniam centenas d e o perários. Os inves timentos concentravam-se em in- dús trias d e bens d e consumo – setores têxtil, d e alimentos, d e bebidas, d e calçados, d e chapéus e d e fumo –, que tinham cus tos iniciais relativamente baixos e não d emandavam tecn ologia sofis ticada. Mulheres e crianças formavam um segmento importante da mão d e obra empregada nas fábricas e, em geral, recebiam salários mais baixos para tare fas similares àquelas exercidas pelos homens adultos. Em 1890, 15% dos trabalhadores empregados nas indús trias paulis tas eram crianças ou adolescentes. Em 1919, esse número subiu para 37% apenas n o setor têxtil. As condições d e tra balho eram precárias: a jornada variava entre 10 e 1 2 horas diárias e os o perários eram cons tantemente punidos com multas ou agres- sões físicas. Não havia legislação tra balh is ta que garantisse aos tra balhadores d escanso semanal, férias ou licenças remuneradas. Fonte: SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indús tria n o Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976. p. 79. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 26 5/25/16 11:43 AM
  • 20. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 27 Vis ta da Avenida Afonso Pena (c. 1910-1930), em Belo Horizonte (MG). Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte (MG). modrzação a cdad Entre o final do século XIX e o início do XX, cidad es brasileiras, como Rio d e Janeiro e São Paulo, passaram por um processo d e mod ernização, inspirado nas re formas ocorridas em Paris entre 1853 e 1870. A urbanização da capital francesa, com seus bulevares – ruas largas repletas d e cafés e butiques –, servia d e mod elo para outras cidad es do mundo. O contras te entre o cenário luxuoso d e Paris e as vielas es treitas, sujas, sem saneamento e iluminação do Rio d e Janeiro era evid ente. Apesar disso, homens d e negócios, grand es pro prietários, altos funcionários e políticos influentes, acompanhados d e suas famílias, exibiam hábitos e moda euro peus. Esse comportamento, que se manifes tava d esd e os últimos an os do império, acent uou-se durante a fase republicana. Como resultado do esforço mod ernizador empreendido pelos govern os, hou ve a criação d e n ovos bairros, a expansão d e serviços d e esgoto, água canalizada e transporte coletivo nas principais cidad es do Brasil. No centro do Rio d e Janeiro, por exemplo, áreas ocupadas d esord enadamente foram d esapro priadas e ha bitações coletivas, d emolidas, para dar espaço às avenidas e aos n o- vos es ta belecimentos. Havia, entre as elites e os governantes, um esforço para eliminar t udo o que representasse entrave ao progresso e fugisse dos padrões d e beleza e h igiene. Muitas pessoas d esalojadas durante as re formas a brigaram-se nas nascentes vilas o perárias, sit uadas n os subúrbios da cidad e. Outras se transferiram para as encos tas dos morros e para a beira dos rios, em locais d esvalorizados. Os antigos e d ecad entes casebres d eram lugar a imponentes edificações e a ruas largas, pro pícias para a circulação dos bon- d es elétricos, n o fim do século XIX, e para o incipiente fluxo d e automóveis, introduzidos n o início do século XX, nas grand es cidad es brasileiras. No Rio d e Janeiro foi inaugurada, em 1905, a Avenida Central (at ual Avenida Rio Branco), planejada para melhorar a acessibilidad e ao porto da capital fed eral. Na cidad e d e São Paulo, por sua vez, foram feitos grand es projetos arquitetônicos, lid erados pelo arquiteto Ramos d e Azevedo. Também data d essa época a ocupação mais e fetiva da Avenida Paulis ta. Em Minas Gerais, um projeto urbanís tico d eu origem à cidad e d e Belo Horizonte, cons truída para ser a n ova capital do es tado. As principais cidad es brasileiras tornaram-se locais d e intensa circulação d e pessoas, id eias e mercadorias – es tas expos tas em profusão nas vitrinas das lojas. Os artigos d e luxo consid erados da “última moda” chegavam da Euro pa aos portos do Rio d e Janeiro e d e São Paulo e impulsionavam as vendas. Nesse período, eram importados roupas, móveis, livros, objetos d e d ecoração etc. A r q u i v o P ú B l i C o M i n e i r o , B e l o H o r i z o n t e A re forma mo- dernizante da cidade do Rio d e Janeiro foi promovida pelo pre feito Francisco Pereira Passos. Para cons truir grand es a v e n i d a s e e d i f í - cios ao es tilo das cidad es euro peias, o pre feito mandou d e r r u b a r m u i t o s cortiços, casebres e outras cons truções po pulares. Essa me- dida ficou conhe- cida como “bota- -a baixo”. “Bota-a baixo” A população da então capital federal quase triplicou entre 1900 e 1920, chegando a mais de 1,4 milhão de habitantes. No mesmo período, São Paulo passou de 240 mil para 889 mil, e Porto Alegre, de 74 mil para 256 mil habitantes. As cidades brasileiras tinham uma composição social bastante diversificada: operários, bur - guesia industrial, mercantil e financeira, camadas médias (professores, médicos, advo- gados, engenheiros etc.), fun- cionários públicos, intelectuais, setores populares e segmentos marginalizados, como o dos moradores de rua. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 27 5/19/16 4:05 PM
  • 21. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 28 movo oca a Prra Rpúblca Durante a Primeira República, organizou-se uma série d e movimentos sociais que re fletiam a frus tração d e grand e parte da sociedad e com a política implementada pelas elites brasileiras. Por meio d esses movimentos, camponeses, o perários, marinheiros e pobres em geral expressavam suas reivindicações, n ormal mente associadas às precárias condições d e vida e d e tra balho. movo rra Nas três primeiras décadas da república, o Brasil era um país tipicamente agrário. Calcula-se que cerca d e 70% da po pulação ha bitava o campo nesse período. A maioria dos tra balhadores rurais não era pro prietária da terra ou vivia da pequena lavoura d e subsis tência, sem acesso à assis tência médica e à educação. Esse cenário d esfavorável contribuiu d e forma significativa para a eclosão d e agitações sociais na zona rural. Aôo Colhro  o r ajo d Cado O beato Antônio Vicente Mend es Maciel, mais conhecido como Antônio Conse- lheiro, nasceu em Quixeramobim, n o Ceará, em 1830. Conselheiro foi comerciante, caixeiro e escrivão. Abandonado pela esposa, d ecidiu sair pelo sertão como pregador. Em meados d e 1874, já caminhava pelo interior acompanhado d e alguns fiéis e, n os d ez an os seguintes, percorreu os sertões do Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bah ia cons truindo e re formando capelas, igrejas e cemitérios. Em 18 93, Conselheiro e seus seguidores fixaram-se n os arredores da Fazenda Canudos, próxima ao Rio V aza-Barris, n o interior da Bah ia. Nesse lugar, fundaram o arraial d e Belo Monte. Formado por casas cons truídas em regime d e mutirão, em que os moradores dividiam os frutos do tra balho na terra e amparavam idosos e doentes, o povoado atraiu muita gente. Es tima-se que a po pulação do núcleo chegou a atingir 30 mil pessoas. Mo- vidas por forte mis ticismo, essas pessoas acreditavam que Conselheiro era um enviado divin o que lhes traria paz, fart ura e felicidad e. A comunidad e d e Canudos praticava a agricult ura, o artesanato e a criação d e ani- mais. O exced ente da produção era vendido n os municípios vizinhos. No arraial havia duas escolas, lojas, oficinas e diversas moradias. A adminis tração era da competência d e Conselheiro e d e doze che fes, que cuidavam das finanças, das cons truções, dos regis tros d e nascimento, entre outras atividad es. Não havia polícia nem impos tos. Painel representando Antônio Conselheiro n o Parque Es tadual d e Canudos (BA). Foto d e 20 1 2. Es tát ua d e Antônio Conselheiro, na Bah ia, produzida por W eliton Luiz. Ela foi concluída em 1997, n o centenário da d es truição do arraial d e Canudos. M A r C o s s s A / A r g o s F o t o C l A u d e s A n t o s 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 28 5/19/16 4:05 PM
  • 22. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 29 Grra d Cado (1896 1897) Aos olhos dos fazend eiros, do govern o e do clero, a comunidad e d e Canudos era uma ameaça. Os fazend eiros temiam perd er mão d e obra, o govern o não aceitava a auton omia d e Canudos e a Igreja ressentiase da lid erança espirit ual d e Conselheiro. Assim, entre 18 96 e 18 97, quatro expedições foram organizadas pelos govern os es tadual e fed eral e enviadas à região para prend er Antônio Conselheiro e dissolver a comunidad e d e Canudos. As três primeiras tentativas falharam, pois os sertanejos mos traram grand e resis tência e ha bilidad e militar, d ebelando as tro pas com ataques inesperados. A repercussão da terceira d errota foi en orme, e não tardou para que imprensa e políticos atribuíssem a Antônio Conselheiro a intenção d e res taurar a monarquia, representando uma ameaça d e fato à república. Foi nesse clima d e franca hos tilidad e que, em 18 97, o Govern o Fed eral organizou uma n ova expedição para d es truir o arraial. Cerca d e 7 mil soldados com 18 canhões inves tiram contra Canudos. Os combates iniciaram-se em junho, e, em out ubro, quando ocorreu a ofensiva final contra Canudos, praticamente toda a po- pulação local havia sido exterminada. Os poucos sobreviventes foram feitos prisioneiros. Em 18 97, o engenheiro e escritor Euclid es da Cunha foi enviado à região pelo jornal O Es tado d e S.Paulo para cobrir os acontecimentos na região. Com base nessa experiência, ele escreveu a obra Os sertões, publicada em 1902. Leia, a seguir, uma parte da d escrição do povoado feita pelo autor: “ O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas. A edificação rudi- mentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia [...]. O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, [...] tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto. Não se dis- tinguiam as ruas. Campanário: torre da igreja ond e ficam os sin os. Genuflexo: ajoelhado. Ora, por estas veredas, [...] chegavam sucessi- vas caravanas de fiéis. Vinham de todos os pon- tos, carregando os haveres todos; e, transpondo as últimas voltas do caminho, quando divisavam o campanário humilde da antiga capela, caíam genuflexos sobre o chão aspérrimo. [...] Nada queriam desta vida. Por isto a proprie- dade tornou-se-lhes uma forma exagerada de coletivismo [...]: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade ab- soluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota-parte, revertendo o resto para a companhia. Os recém-vindos entregavam ao Conselheiro noventa e nove por cento do que traziam, incluindo os santos destinados ao santuário comum. Reputavam-se felizes com a migalha restante. ” CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. São Paulo: Ateliê Editorial/Imprensa Oficial do Estado/Arquivo do Estado, 2001. p. 291-299. (Coleção Clássicos comentados I) Igreja d e Santo Antônio, n o arraial d e Belo Monte (18 97). Canudos (BA). Fotografia d e Flávio d e Barros. Museu da República, Rio d e Janeiro (RJ). F l á v i o d e B A r r o s - M u s e u d A r e P ú B l i C A r i o d e J A n e i r o COneCt AnDO COm A LínGuA PORtuGuesA 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 29 5/19/16 4:05 PM
  • 23. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 30 Guerra do Contestado (1912- 1916) Localizada entre Santa Catarina e Paraná, a região do Contes tado, n o início da república, a brigava uma vas ta flores ta d e araucárias e campos nat urais, além d e extensa plantação d e erva-mate. A região, disputada pelos dois es tados, passou a atrair a atenção d e fazend eiros, especuladores e companh ias mad eireiras, interessados em aumentar suas pro priedad es e em explorar mad eira. Com isso, os posseiros locais passaram a ser expulsos das terras. A sit uação agravou-se com a cons trução d e um trecho da Es trada d e Ferro São Paulo-Rio Grand e do Sul. No final da obra, grand e parte dos tra balhadores contratados pretendia permanecer na região. Cont udo, os especuladores e as companh ias mad eireiras exigiram a saída imediata d eles, impedindo-os d e ocupar os trechos próximos à ferrovia. O aumento do número d e tra balhadores sem terra criou um clima pro pício a agitações e conflitos. Foi nesse contexto que se d es tacou a figura d e Miguel Lucena Boavent ura, ex-soldado do Exército que se fazia chamar d e “monge” José Maria. Beato e curand eiro, José Maria fundou, n o centro-sul d e Santa Catarina, uma comunidad e religiosa semelhante a Canudos, à qual d eu o n ome d e Monarquia Celes te . Nela, ele ajudava os ca boclos, pregava uma sociedade igualitária e resistia contra aqueles que pretendiam expulsar a população local. Com medo d e que a comunidad e se fortalecesse e uma revolta como a d e Canudos explodisse, o govern o local d ecidiu atacar o povoado. Os primeiros choques armados entre a milícia celes te dos ca boclos e a força enviada pelo govern o – formada por jagunços con- tratados por empresas, policiais e soldados do Exército – ocorreram em 191 2. A irmandad e ca bocla resis tiu até 1916, quando o general Setembrin o d e Carvalho, à frente d e 7 mil soldados e com o apoio da artilharia e da aviação, forçou os sobreviventes a se rend erem. Cangaço O movimento conhecido como cangaço teve início n o final do século XIX, n o sertão n ord es tin o, es tend endo-se até meados da década d e 1940. Os cangaceiros integravam grupos armados que sobreviviam por meio d e saques e pilha- gens. Os primeiros bandos d e cangaceiros eram contratados por coronéis para d e fend er seus interesses. Agiam muitas vezes em conflitos que envolviam brigas entre famílias ou entre as oligarquias locais. No final do século XIX, formaram-se os bandos d e cangaceiros ind epend entes, que não se subordinavam a che fes locais. Eles eram perseguidos pelas “patrulhas volan- tes” das polícias es taduais, que agiam com brutalidad e. O bando mais conhecido foi o d e Virgulin o Ferreira da Silva, o Lampião. Ele, sua companheira, Maria Bonita, e outros cangaceiros morreram numa emboscada em 1938, n o interior d e Sergipe. O cangaço perd eu força na década seguinte, quando o Govern o Fed eral organizou a repressão com mais e ficiência. Além disso, o crescimento das indús trias n o Sud es te passou a atrair os sertanejos, que foram para a região, d eixando d e ver n o cangaço um meio d e sobrevivência. Alguns h is toriadores acreditam que o cangaço foi uma forma d e resis tência diante dos problemas sociais e políti- cos exis tentes n o sertão n ord es tin o, como a fome, a seca e o pod er dos coronéis. Para outros, porém, os cangaceiros eram crimin osos e não se preocupavam em transformar a realidad e local. Lampião e Maria Bonita (1936). Foto d e Benjamin Abrahão, publicada na Revis ta Illus trada. C o l e ç ã o F r e d e r i C o P e r n a m b u C a n o d e m e l l o Menin os do Con- tes tado h t t p : / / t o p i c o s . es tadao.com.br/ contes tado Nessa página do site do jornal O Estado de S. Paulo é apr esentada uma matéria especial sobre a Guerra do Contes tado, com d epoimentos d e sobreviventes, fo- tografias, textos e muito mais. Você vai gostar de navegar Os jagunços eram homens de confiança dos coronéis, muitas vezes criminosos contratados para trabalhar como guardacostas e para executar serviços ilegais. Durante a Guerra do Contestado, os jagunços foram aliados do governo, contratados para lutar contra os caboclos revoltosos e fazer o “serviço sujo” (assassinatos, intimidações etc.) que o Exército oficial não executava. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 30 5/25/16 11:44 AM
  • 24. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 31 movo rbao O d esenvolvimento indus trial foi acompanhado pelo processo d e crescimento das ci- dad es, principal mente n o Sul e n o Sud es te do Brasil, que se expandiram sem planejamento e sem políticas públicas d e saúd e e ha bitação. Além disso, a mod ernização ocorrida n os grand es centros urban os entre o fim do século XIX e o início do XX não bene ficiou todas as regiões e camadas sociais da mesma maneira. Muitos indivíduos pobres viram-se d esalojados d e suas ha bitações, pressionados pelo d esemprego, pelas péssimas condições d e vida e pelos baixos salários. Esse contexto pro piciou a formação d e uma série d e revoltas urbanas n o país. Rvola da Vaca (1904) Durante a presidência d e Rodrigues Alves (1902-1906), o saneamento e a mod ernização do Rio d e Janeiro tornaram-se prioridad es. Nessa época, os serviços públicos urban os eram precários. A falta d e tratamento d e água e esgoto, por exemplo, agravava as péssimas condições d e h igiene, contribuindo para a disseminação d e doenças e epid emias. Com o objetivo d e mod ernizar a cidad e e melhorar a imagem da capital fed eral n o exterior, foram d errubados casebres e cortiços para a brir avenidas, expulsando parte da po pulação, que se mudou para os morros. Além disso, praças, cemitérios e canais d e dre- nagem foram re formados e visitas domiciliares d e agentes sanitaris tas foram ins tit uídas para remover t udo o que fosse consid erado prejudicial à h igiene e à saúd e. A tare fa d e combater as epid emias foi entregue ao médico sanitaris ta Oswaldo Cruz, que adotou uma série d e medidas d e h igiene pública para combater a febre amarela, a pes te bubônica e a varíola. Em 1904, a aprovação do projeto d e vacinação obrigatória contra a varíola para os brasileiros com mais d e seis meses d e idad e foi o es to pim para a eclosão, em n ovembro daquele an o, d e uma rebelião po pular que ficou conhecida como Revolta da V acina. Durante mais d e uma semana, a po pulação organizou barricadas, d es truiu trilhos e bond es e entrou em conflito com a polícia. Depois d e retomar o controle da cidad e, o govern o não apenas prend eu, como também d eportou muitos rebeld es. De acordo com a análise d e alguns h is toriadores, a forma como a vacinação foi reali- zada, com brigadas sanitárias que invadiam residências e forçavam a aplicação da vacina, e a falta d e iniciativa do govern o em esclarecer para a po pulação a importância d esse tipo d e medida preventiva foram fatores essenciais para a eclosão da revolta. Charge que satiriza a obrigatoriedad e da vacina contra a varíola (1904). Casa d e Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio d e Janeiro (RJ). Explique a o pinião expressa na charge sobre as medidas do govern o relacionadas à vacinação obrigatória contra a varíola. C A s A d e o s w A l d o C r u z / F i o C r u z , r i o d e J A n e i r o Nessa charge é representado um “ e s p e t o h u m a n o ” f e i t o c o m d o i s homens e duas mulheres. T odos eles estão sangrando. Na parte inferior esquerda da charge, está escrito: “O espeto obrigatório”. Ao representar a vacina como um espeto que faz sangrar , pode-se dizer que o autor dessa charge faz uma crítica à atitu- de do Governo Federal de obrigar a população a tomar a vacina contra a varíola, sem conscientizá-la sobre o funcionamento e o benefício do m e d i c a m e n t o p a r a a s a ú d e d a s pessoas. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 31 5/19/16 4:06 PM
  • 25. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 32 Rvola da Chbaa (1910) No início do século XX, n o Brasil, os marinheiros d e baixa patente recebiam parcos soldos, submetiam-se a uma exaus tiva jornada d e tra balho, eram mal alimentados e rece- biam cas tigos corporais por d esobediência ao regulamento da Marinha – uma penalidad e que tinha sido a bolida d esd e a proclamação da república, mas, na prática, continuava a vigorar na frota d e guerra do país. Os marinheiros eram, na maioria, negros e mes tiços, geral mente recrutados à força e pressionados pela família a ingressar nas Forças Armadas. O govern o incentivava esse tipo d e atit ud e oferecendo o pagamento d e prêmios à família ou aos responsáveis pelos fut uros marinheiros. Havia também gratificações àqueles que se voluntariassem a ingressar na Marinha, mas esses casos eram muito raros. Diante d essa sit uação, em 1910, os marinheiros dos encouraçados Minas Gerais, São Paulo, Bah ia e Deodoro, n o Rio d e Janeiro – lid erados pelo gaúcho João Cândido Felisberto, mais conhecido como “Al mirante Negro” –, revoltaram-se. O es to pim da revolta foi a punição do marinheiro Marcelin o, que recebeu 250 ch ibatadas na frente d e seus colegas porque se envolveu em uma briga com um ca bo da Marinha. Na época, o escritor Oswald d e Andrad e relatou o início da revolta: “ E vi imediatamente na baía, frente a mim, navios de guerra, todos de aço, que se dirigiam em fila para a saída do porto. Reconheci o encouraçado Mi- nas Gerais que abria a marcha. Seguiam-no o São Paulo e mais outro. E todos ostentavam, numa verga do mastro dianteiro, uma pequenina bandeira trian- gular vermelha. Eu estava diante da revolução. [...] de repente vi acender -se um ponto no costado do Minas e um estrondo ecoou perto de mim, acordando a cidade. Novo ponto de fogo, novo estrondo. […] Meus olhos faziam linha reta com a boca de fogo que atirava. [...] Era contra a chibata e a carne podre que se levantavam os soldados do mar . ” Revolta da Chibata: Oswald de Andrade descreve a rebelião dos marinheiros e descreve seu desfecho. Projeto Memória. Disponível em <www .projetomemoria.art.br/RuiBarbosa/glossario/r/revolta-chibata.htm>. Acesso em 21 jan. 2016. Reivindicando o fim dos cas tigos corporais, o direito a folgas semanais e melhores soldos, os marinheiros revoltosos enviaram um telegrama ao então presid ente da repú- blica, Hermes da Fonseca (1910-1914), comunicando a d ecisão d e bombard ear a cidad e do Rio d e Janeiro caso suas solicitações não fossem atendidas. Encouraçado: navio d e guerra d e grand e porte protegido por forte couraça. V erga: vara que atravessa o mas tro, ond e se prend e a vela. Marinheiros que participaram da Revolta da Ch ibata a bordo do navio Bah ia (1910). Rio d e Janeiro (RJ). Fotografia d e Augus to Malta. A u g u s t o M A l t A - C o l e ç ã o P A r t i C u l A r A revolta recebeu o apoio d e d epu- tados da o posição, que pressionaram o Govern o Fed eral a ced er às exigências dos marinheiros. O Congresso votou o fim dos cas tigos corporais na Marinha e anis tiou os participantes da revolta. Entretanto, após a rebelião, o govern o d escumpriu o acordo d e anis tia e passou a perseguir e prend er os marujos. O líd er João Cândido, por exem- plo, foi julgado em 191 2 e in ocentado, mas aca bou expulso da Marinha. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 32 5/19/16 4:06 PM
  • 26. R e p r o d u ç ã o p r o i b i d a . A r t . 1 8 4 d o C ó d i g o P e n a l e L e i 9 . 6 1 0 d e 1 9 d e f e v e r e i r o d e 1 9 9 8 . 33 movo opráro A Cons tit uição d e 18 91 d eu pouca atenção às ques tões sociais. Por isso, as relações d e tra balho nas cidad es brasileiras eram d e finidas pela emergente burguesia indus trial, mercantil e financeira. Com o objetivo d e reivindicar melhores salários, redução da jor- nada d e tra balho, assis tência ao tra balhador doente ou acid entado e regulamentação do tra balho feminin o e infantil, os tra balhadores fundaram as ligas o perárias e as sociedad es d e resis tência. Mais tard e, organizaram sindicatos, primeiramente por ofício e d epois por atividad e econômica, que at uavam por meio d e greves e manifes tações. O anarquismo foi a mais importante id eologia seguida por parte do movimento o perário n o Brasil do início da república. Além d e fundar ligas d e resis tência e sindicatos, os militantes anarquis tas organizavam greves para reivindicar conquis tas econômicas imediatas, o reconhecimento dos direitos tra balh is tas e sindicais e a criação d e uma legislação previd enciária. A greve também servia como um importante ins trumento para fortalecer a solidariedad e entre os tra balhadores. A maior mobilização do proletariado brasileiro n o período ocorreu durante a greve geral d e julho d e 1917, iniciada na cidad e d e São Paulo, com repercussões n o res tante do país. Dela participaram o perários das indús trias têxtil e alimentícia, gráficos e ferroviários. Em São Paulo, os grevis tas reagiram à repressão das forças policiais. Durante o conflito, foi morto o operário anarquis ta José Martinez, d e origem espanhola, cujo enterro paralisou a cidad e. O movimento termin ou com um acordo d e aumento salarial e a promessa do aten- dimento a outras reivindicações dos tra balhadores. As paralisações organizadas pelos anarquis tas es tend eram-se até 1919, em São Paulo e em outros es tados. Na década d e 1920, a influência do anarquismo n o movimento o perário brasileiro entrou em re fluxo. A vitória da Revolução d e Out ubro e a cons tit uição do primeiro Es tado socialis ta da h is tória na Rússia impulsionaram a formação d e partidos comunis tas em todo o mundo. No Brasil, em 1922, foi fundado o Partido Comunis ta do Brasil (PCB), que logo influenciou o o perariado e conquis tou filiados em todo o país. A emancipação feminina Muitas mulheres participaram ativamente do movimento o perário n o início da república, não apenas para lutar por direitos tra balh is tas, mas também para reivindicar a ind epen- dência feminina e a igualdad e d e direitos entre homens e mulheres. Nos jornais libertários, eram comuns artigos que criticavam a sit uação das mulheres brasileiras d e todas as classes sociais em uma sociedad e dominada pelo pod er masculin o. Nesses artigos, reivindicava-se principal mente o acesso das mulheres à educação formal, pois se acreditava que essa era a principal arma da luta feminina para mudar sua realidad e. Em 1922, foi organizada a Primeira Conferência para o Progresso Feminin o, na cidad e do Rio d e Janeiro, ond e foram discutidos diversos temas relacionados às lutas das mulheres, como o tra balho feminin o nas fábricas, a ins trução das mulheres e a proteção das grávidas. Com o tempo, o discurso pela emancipação feminina assumiu n ovas frentes, reivindicando também o direito da mulher d e votar e ser votada, por exemplo. Primeira Conferência para o Progresso Feminin o, realizada na cidad e do Rio d e Janeiro, em 1922. Arquivo Nacional, Rio d e Janeiro (RJ). Ao centro, pod emos ver a jornalis ta n orte-americana Carrie Chapman Catt e a bióloga brasileira Bertha Lutz, figuras importantes do feminismo. A r q u i v o n A C i o n A l , r i o d e J A n e i r o O Partido Socialista Brasileiro foi fundado em 1902 com um programa marxista. Nas suas lutas no Brasil, os socialistas daquela época defendiam a melhoria dos salários dos tra- balhadores e a necessidade de promover mudanças sociais. 018-39-HC3-C02-G_BR.indd 33 5/19/16 4:06 PM