O documento é um discurso da presidente recém-nomeada da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, agradecendo à comunidade da Fiocruz e à sociedade pelo apoio à democracia durante o processo eleitoral para a presidência da instituição. Ela destaca a importância da mobilização que resultou em sua nomeação após o processo não ter sido respeitado inicialmente, e diz que isso representou uma vitória da democracia na Fiocruz e no Brasil.
1. Ganhou a democracia na Fiocruz, ganhou a democracia na
sociedade brasileira
Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
(....)
Com a primeira estrofe de um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de
Andrade, dirijo-me a todos vocês que estiveram de mãos dadas comigo
durante a intensa jornada do processo eleitoral para Presidência da Fiocruz e
também a todos os trabalhadores que constroem no dia a dia a vida e a beleza
de nossa instituição, independentemente de sua opção durante a campanha.
Levo com seriedade e firmeza o lema da Fiocruz como construção de todos.
Ontem, dia 4 de janeiro de 2017, após intensa mobilização desde o anúncio em
28 de dezembro de 2016 de que não seria respeitado o processo democrático
da Fiocruz, finalmente foi publicada no Diário Oficial minha nomeação como
presidente da Fiocruz para conduzi-la durante os próximos quatro anos. Esta
segunda vitória da democracia da Fiocruz só foi possível graças à intensa
mobilização da comunidade Fiocruz e da sociedade como um todo.
A comunidade Fiocruz se mobilizou através dos seus trabalhadores, atuais
dirigentes e Conselho Superior. Foram fundamentais as reuniões espontâneas
e as redes de interações, bem como a mobilização dos dirigentes nas unidades
mediante seus conselhos deliberativos.
2. A sociedade, reconhecendo o valor desta instituição para a saúde, a ciência e a
tecnologia, apoiou a defesa da nomeação da primeira colocada, por entender
que este mecanismo é fundamental para o respeito à vontade da maioria, a
unidade institucional e a preservação da autonomia das instituições de ciência
e tecnologia e das universidades, onde vigora o processo de escolha através
de eleições.
O abaixo-assinado criado para defender que o presidente da República
respeitasse nossa democracia ganhou a adesão de quase 10 mil pessoas em
apenas quatro dias. Dezenas de sociedades científicas, dentro e fora do país,
defenderam a indicação da candidata mais votada. Houve intensa mobilização
de conselhos e gestores da área da saúde, associações comunitárias e
movimentos sociais, principalmente de Manguinhos, e representantes de um
amplo leque político envolvendo um movimento suprapartidário e
representantes de todos os setores da sociedade.
A todos e todas que se engajaram nesse movimento, nosso muito obrigado.
Ganhou a democracia na Fiocruz, ganhou a democracia na sociedade
brasileira.
Na terça-feira, participei de reunião na Casa Civil da Presidência da República,
com a participação dos ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Ricardo
Barros, da Saúde, acompanhado por seus secretários; Moreira Franco, da
Secretaria-Executiva do Programa de Parcerias de Investimentos da
Presidência; e o deputado Hugo Leal, coordenador da bancada do Rio de
Janeiro. O debate se deu em torno do papel da Fiocruz, seus resultados para
sociedade, orçamento e sistema de governança.
Reafirmei as ideias centrais apresentadas durante a campanha eleitoral e o
entendimento da condição da Fiocruz como instituição estratégica do Estado e
sua vinculação ao Ministério da Saúde, como elemento que a diferencia das
universidades, sem que se perca de vista a autonomia necessária a uma
instituição de ciência e tecnologia e de formulação de propostas de políticas
públicas.
Durante a discussão foi apresentada pelos ministros a proposta de
estabelecimento de uma conciliação na Fiocruz entre os apoiadores das duas
candidaturas. Em termos mais concretos a proposta se traduziu na
possibilidade de Tania Araújo-Jorge indicar nomes que pudessem resultar na
definição de dois vice-presidentes.
Soubemos conduzir este processo junto ao Governo com sabedoria, buscando
sempre garantir o princípio fundamental: garantir a unidade institucional. A
participação numa equipe de Presidência de pessoas que defenderam projetos
distintos e participaram de diferentes campanhas é uma prática que ocorre com
alguma frequência. O mais importante agora é que estejamos juntos e, a partir
3. do respeito às diferentes concepções e à diversidade de pensamento,
realizemos uma gestão participativa e de qualidade, e que honre a confiança
depositada em nós por todos os trabalhadores da Fiocruz e pela sociedade
brasileira.
Temos muito a comemorar, mas, principalmente, temos muito a construir.
Obrigado a todos e todas. Parabéns Fiocruz!
Nísia Trindade Lima
Presidente da Fiocruz