O Êxodo é o evento fundante da Bíblia, sem o qual não há aliança com Deus. Ele é permanentemente relido em momentos de crise para dar sentido à presença libertadora de Deus. Embora composto em etapas por diferentes tradições, o Pentateuco tem no Êxodo seu centro teológico, mostrando Deus agindo para libertar seu povo da opressão.
11. * Ex 1-15
- Centro teológico mais antigo e axial na Bíblia
(Gn 4,1-16; 6-9; 12,10-20; Ex 20,2; Lv 26,13; Dt 5,6; 6,21-23; 26,5b-10a; ...)
(Evento fundante, anterior à aliança do Sinai, que supõe o Êxodo.
É para a Bíblia como o pavio na vela ou o pau da barraca)
- Revela o nome ou a identidade de Deus, seu agir libertador (Ex 3,1ss; 6,2s)
- O Êxodo é o fundamento teológico do decálogo que regula as relações
humanas (Ex 20,2; Dt 5,6), do culto (Dt 26,1-11)
- Êxodo do Egito: modelo para os êxodos dos demais grupos que
participaram da formação de Israel tribal
- Objetivo: viver livre em terra repartida, cultuando Yahweh,
presença libertadora no meio do povo
- Guardiães da memória do Êxodo: sacerdotes levitas (tribalismo)
profetas e profetisas (monarquia)
13. 1 – Sinai da tradição
2 – Sinai histórico
1
2
3 – Evento junto ao mar (tradição)
4 – Evento junto ao mar (histórico)
3 4
14. ** Sinai/Horeb
- Centro narrativo/teológico para os sacerdotes do 2º templo, os editores finais do
Pentateuco no IV século a.C., tendo em vista a legitimação, em nome de
Moisés, de toda lei posterior a ele.
- Mudança de eixo: de Yahweh Emanuel, passa-se para o Deus glorioso,
santo, puro, inacessível.
- Em textos mais antigos, o povo tinha acesso a Deus como a um amigo.
Textos tardios afastam o povo: Compare Ex 24,9-11 e 33,9-11
(cf. Gn 3,8-9) com Ex 19,21; 33,20; 40,34-35; Nm 4,20).
- Reforço da doutrina da retribuição: bênção (riqueza, saúde, vida longa, muitos
filhos, honra) e maldição (pobreza, doença, morte pré-matura,
esterilidade/só filhas, desonra).
- Leis de impureza étnica (estrangeiros/listas genealógicas/circuncisão)
e ritual/cúltica/templo (alimentos, doenças de pele, mortos, fluxos de
sangue e de sêmen, profissões).
- Principais acréscimos: Ex 24,12-40,38; Lv (exceto 17-26 = época do exílio)
e Nm 1-10 (mais 15-19; 26-31; 33-36). Além disso, os sacerdotes fizeram a
edição final do Pentateuco.
16. *** Pentateuco
- A promessa de povo numeroso já foi realizada (Ex 1,7)
- No entanto, ainda falta libertar as terras das mãos dos reis cananeus,
a promessa/bênção ainda não se cumpriu (Situação dos judeus no
período persa, quando eram escravos em suas próprias terras
(Ne 9,36-37)
- O Pentateuco não termina com a libertação e partilha da terra,
pois essa é tarefa constante. Chama a um Êxodo permanente,
a atravessar outra vez as “águas libertadoras”.
18. **** Pentateuco
composição em etapas
- Repetições
- Histórias fundidas
- Diversidade de vocabulário
- Diversidade de estilo literário
- Anacronismos
- Diferenças e oposições
- Diferentes fontes teológicas
19. Repetições:
Narrativas da Criação (Gn 1,1-2,4a; 2,4b-3,24)
Descendências de Adão e Eva (4 e 5)
Narrativas sobre Hagar e seu filho (Gn 16; 21,8-21)
Mulheres no harém do rei (Gn 12,10-20; 20; 26)
Alianças de Deus com Abraão (15 e 17)
Narrativas da vocação de Moisés (Ex 3,1-4,17; 6,2-13)
Decálogos (Ex 20,2-17; Dt 5,6-21)
Festas (Ex 23; 34; Lv 23; Dt 16)
20. Histórias fundidas:
Dilúvio (Gn 6-9; compare 6,20 com 7,2
e 7,17 com 7,24)
Evento junto ao mar: Ex 14,21ab.26-27
24-25
21c-23.28ss
21. Diversidade de vocabulário:
- Nomes divinos
Yahweh (Gn 2,4; 16,3-14)
El (Gn 33,20; 35,7; 46,3; Nm 23,22; 24,8)
El Shaddai (Gn 17,1; 28,3; 49,25; Ex 6,3)
El dos hebreus (Ex 5,3; 3,18; 7,16)
Elohim/Elohê (Gn 1,1; 21,9-29; 31,53; Ex 6,3)
El Olam (Deus Eterno – Gn 21,33)
El Betel (Deus de Betel - Gn 31,13)
Elohê Abot (Deus dos pais - Gn 26,24; Ex 3,6)
El de Nacor, de Abraão, de Isaac e Jacó (Gn 31,53; Ex 3,6)
El Elyon (Deus Altíssimo – Gn 14,18-22)
Pahhad Isaac (Terror de Isaac – Gn 31,42.53)
Abbir Jacó (Poderoso de Jacó – Gn 49,24; Sl 132,2.5; Is 49,26; 60,16)
El Roí (Deus que vê - Gn 16,13)
El Berit (Deus da Aliança - Jz 8,33; 9,46)
- Montes:
Sinai (Ex 19,1; Nm 10,12)
Horeb (Ex 3,1; Dt)
- Nomes de pessoas
Sogro de Moisés (Raguel – Ex 2,18; Jetro – Ex 3,1; Hobab – Nm 10,29)
Esposa de Moisés (madianita/Séfora – Ex 2,15-21; quenita - Nm 10,29; Jz 1,16; 4,11;
22. Diversidade de estilo/gênero literário,
de linguagem:
Legal (Ex 20-23; Lv 11-16; 17-26)
Narrativas (Gn; Ex 1-19; Nm 11-36)
Prescrições rituais (Lv 1-7)
Exortações, oratória, retórica (Dt)
Novela (José – Gn 37; 39-50)
Sagas/lendas (Gn 3,13-14.16.17-19; 19,30-38; 32,32)
Hinos (Ex 15,1-21)
24. Diferenças e oposições:
Caos inicial nas narrativas da criação (Gn 1 e 2)
Homem-Mulher (Gn 1 e 2)
Um ou sete casais na arca (Gn 6,19-20 e 7,2)
Ismaelitas ou madianitas? (Gn 37,28.36; 39,1)
Maná: milagre ou fato natural? (Ex 16,14-35; Nm 11,6-9)
Arca: no centro ou fora do acampamento (Ex 33,7; Nm 2,2)
Nuvem, Arca ou Hobab? (Nm 9,17s; 10,29-32; 10,33)
Altar ou cidades de refúgio? (Ex 21,12s; Nm 35,9-24; Dt 19,1-3)
Festa das tendas: 7 ou 8 dias? (Lv 23,36; Dt 16,15)
25. Tradições/correntes/fontes/escolas
ou documentos teológicos
J. L. Sicre: O mais sensato seria terminar de vez com a hipótese dos quatro
documentos. Não há dois autores que coincidam na divisão dos textos
Javista 950 Monarquia Jerusalém Bênção Ex: Gn 2-4; 16
Eloísta 850 Israel Samaria Ciclo de Jacó; Êxodo/Moisés Ex: Gn 21,9-21
Deuteronomista 650 (Israel) Judá Jerusalém Um só Deus/povo/templo/lei Dt (+ OHD)
Sacerdotal (P) 550 Babilônia/Judá Jerusalém Leis de impureza étnica e cúltica... Gn 1; 17; Ex 25-40
26. O ÊXODO NA BÍBLIA
(Congresso Bíblico — Goiânia/GO — 2006)
27. O ÊXODO NA BÍBLIA (Congresso Bíblico — Goiânia/GO — 2006)
- O Êxodo é, na Bíblia, o que é o barbante na vela. Sem o pavio,
ela não ilumina. (Francisco Rodrigues Orofino)
- O Êxodo é o mito/relato fundante que é permanentemente
relido/atualizado em momentos de crise. (Orofino)
- Yahweh “Aquele que está”: a certeza da presença libertadora de Deus.
“Aquele que é”: da existência de Deus ninguém duvida.
A crise é se ele está! (Orofino)
- A profecia é memória do Êxodo como resistência diante da opressão
do reinado. (Orofino)
- A Aliança não é o centro da teologia bíblica. Sem Êxodo não há Aliança.
Esta supõe aquele. (Orofino)
- A violência de Yahweh na OHD não é só para legitimar teologicamente
a violência de Davi/Josias/Estado, mas é também a perspectiva
deuteronomista do monoteísmo javista que busca eliminar tudo o que
não adere a Yahweh. (Norman Gottwald)
28. O ÊXODO NA BÍBLIA (Congresso Bíblico — Goiânia/GO — 2006)
- A Bíblia tem sentido na medida em que enxergamos o que está por trás das palavras.
Ficar na letra não gera necessariamente vida. É o Espírito que dá vida (2Cor 3,6). É
como se simplesmente olhássemos para um violão. Seu valor somente é percebido
no momento em que vamos além do que os olhos veem, no momento em que
buscamos o seu significado, em que imaginamos a música que ele pode produzir.
(Jacil Rodrigues de Brito)
- A memória do Êxodo não é judaíta, mas é carregada por círculos levíticos e proféticos
em Israel. Somente com a reforma de Josias em 622 a.C. (2Rs 22-23; cf. 23,21-23),
quando se passou a celebrar a Páscoa em Jerusalém, é que o Êxodo foi incorporado
às tradições do Reino do Sul. (Milton Schwantes)
- As pragas no Êxodo:
O 1° sinal (Ex 7,9-13) é a derrota da “serpente” do faraó, isto é, do “poder político”
do império. A queda de braço entre os sacerdotes de Yahweh e os das divindades
do faraó é o reflexo do conflito social entre o povo hebreu e seus opressores. A
derrota das serpentes é como que uma celebração antecipada da vitória de Yahweh.
O sentido simbólico do último sinal, a morte dos primogênitos do Egito, “desde o
primogênito do faraó, herdeiro do trono” (Ex 11,5; 12,29), é o mesmo, isto é, o fim do
império, pois morto o sucessor do faraó não há quem possa suceder o rei no trono.
A vitória do povo hebreu é a vitória de Yahweh.
O penúltimo sinal, a praga da “escuridão” (Ex 10,21-29), também tem a ver com a
vitória sobre o faraó e seu Deus principal. Faraó quer dizer “filho de Rá”, o Deus sol.
(Schwantes).