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LIDERANÇA DO PT
(Seis meses de Governo Doria)
Marketing, politicagem e bots
Os seis meses de João Doria Junior na Prefeitura de São Paulo confirmaram e
aprofundaram os traços principais, realçados em nosso balanço de 100 dias, de um governo
que traz consideráveis riscos de retrocesso institucional e social. O desemprego na área
metropolitana atinge 2,1 milhões de pessoas, ou quase 20% da população economicamente
ativa. A renda das famílias se mantém estagnada, como consequência dos descalabros do
governo Temer, que mesmo ilegítimo e corrupto é abraçado sem pudor por João Doria e seu
patrono, o governador Geraldo Alckmin. As carências do povo se acentuam neste que é o
pior período recessivo em décadas e, no entanto, o que se observa é uma deliberada
retração de programas sociais e uma contração forçada do investimento público na cidade.
Doria vai bem no mundo virtual das redes sociais, mas seu governo vai mal no dia a dia real
da cidade, degradando os serviços.
A agenda do prefeito de São Paulo é um retrato das suas escolhas. E, também, de
suas pretensões políticas, em que a Prefeitura parece ser apenas um trampolim para sua
ambição de candidatar-se em 2018 a Presidente da República ou governador do Estado.
Levantamento da liderança do PT na Câmara Municipal constata que, de 1º de janeiro a 30
de junho, Doria fez:
 215 reuniões com empresários
 28 reuniões com cônsules e embaixadores
 15 viagens nacionais e internacionais, incluindo um frustrado beija-mão do
Papa Francisco
 2 intervenções nos Diretórios Nacional e Estadual do PSDB para defender que
o seu partido não saia do governo Temer
Seu cartão de visitas voltado para as redes sociais são os 25 mutirões de limpeza do
programa “Cidade Linda”, em que ele comparece ao local vestido de gari, participa da
limpeza por poucos minutos junto com algum secretário e agentes municipais, posa para
fotos e faz uma rápida intervenção a ser publicada em sua página no Facebook. O fôlego de
sua alardeada zeladoria pode ser medido pela impressionante reforma de 15 quilômetros de
calçada, até agora, numa cidade que possui 30 mil quilômetros de calçadas. As contenções
orçamentárias forçadas deixam à míngua subprefeituras. Com isso, as mais prosaicas
operações tapa-buracos, recolhimento de entulho nas ruas, limpeza de bueiros, poda de
árvores, capinagem e jardinagem não acontecem, ou se tornam muito deficientes,
especialmente nos bairros mais distantes do centro.
LIDERANÇA DO PT
Desfaz-se, pouco a pouco, o mito do gestor, construído por seu marketing de
pretenso administrador eficiente, vindo do empresário e não do “político profissional”.
Entretanto, ao pior estilo de politicagem que descontinua programas e políticas públicas que
atravessaram diferentes governos, Doria promoveu:
 cortes no programa Leve Leite, afetando 690 mil crianças acima de 7 anos de
idade
 cortes no transporte escolar gratuito (TEG), atingindo 80% das
disponibilidades em algumas áreas da cidade
 cortes nas verbas e reversão de editais destinados ao fomento de iniciativas
de Cultura nas periferias da cidade
 cortes anunciados em Unidades Básica de Saúde e AMAS
 fechamento de bibliotecas e salas de lazer em escolas municipais, para
instalação de improvisadas salas de aula
 descumprimento da promessa de zeragem da fila de espera por creches
 paralisia de hospitais e CEUs em fase final ou avançada de construção
Gestão eficiente ou velha politicagem?
Tradicionalmente, quase todo início de governo é marcado por contenção
orçamentária. Em especial quando o governo anterior deixa o novo governo sem caixa e com
uma elevada conta de restos a pagar. Ou, ainda, quando crises econômicas reduzem
drasticamente a arrecadação. Não foi o caso de Doria. Ele recebeu uma herança financeira
dadivosa de Fernando Haddad, com um caixa positivo de R$ 5,4 bilhões e restos a pagar
previsíveis. Tampouco sofreu com o descalabro das contas públicas com o qual se defrontam
Estados e municípios Brasil afora, sob impacto da queda de receitas. A arrecadação de São
Paulo se manteve estável no primeiro semestre, já absorvido nos meses anteriores o pior da
retração do mercado imobiliário e da crise econômica. Ainda assim, Doria impôs a penúria
ao investimento e à despesa públicos, temperada pela propaganda de seu programa de
desestatização que, num passe de mágica, vai inaugurar uma época de ouro de
investimentos privados na cidade.
A realidade se mostrou mais complexa do que os desejos do prefeito, inclusive no
tocante à rotina política normal de negociação com o Poder Legislativo.
Como mostrou o jornal Folha de S. Paulo em extensa reportagem no último dia 29 de
junho, sob o sugestivo título “Doria faz poupança para tocar obra em ano eleitoral”, o
prefeito revela que vem pautando a administração por um vôo rasante em direção a 2018.
Vencido o primeiro semestre, seu governo investiu apenas 6% dos R$ 5,6 bilhões previstos
no orçamento para este ano. Em lugar de aplicar o dinheiro para satisfazer necessidades da
população, Doria entesourou mais de R$ 13 bilhões, incluindo os R$ 5,4 bilhões deixados
pelo governo Haddad.
LIDERANÇA DO PT
A política de fazer caixa no primeiro semestre pode lhe dar fôlego para investir mais
na zeladoria da cidade nos próximos meses e concluir algumas obras importantes. Um
governo em São Paulo, certamente, não se sustenta por 4 anos apenas apoiado em ações de
marketing e factoides, mas talvez o conjunto de ações que faça seja suficiente para mantê-lo
em evidência até o início da campanha eleitoral do ano que vem.
Seu foco, como fica cada vez mais evidente, é a disputa majoritária de 2018. Por isso,
valeu-se de uma “entrada” forte na Prefeitura e de uma agenda intensa, além de forte
exposição midiática e factoides bem planejados. Também procurou dialogar com a base
social que dá a qualquer governo tucano em São Paulo um certo patamar de apoio. Explorou
intensamente a imagem criada nas eleições e, com isso, tenta manter sua popularidade em
patamares elevados, mesmo diante de uma rejeição crescente.
É de se ressaltar, porém, que o quadro social e político do País mudou bastante
desde a expressiva vitória eleitoral que os tucanos tiveram em São Paulo, no fim de 2016. O
desemprego só fez aumentar, os ataques do governo Temer aos direitos sociais ficaram
evidentes aos olhos da população, enquanto os tucanos se tornaram os maiores fiadores de
um governo marcado pela corrupção. O próprio presidente do PSDB, Aécio Neves, acabou
afastado de seu mandato pelo STF. E também vieram à tona denúncias contra outros líderes
do PSDB, incluindo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Já a avaliação positiva de
Lula e do PT voltou a crescer nas pesquisas.
Mesmo contando com uma extensa base política na Câmara Municipal, João Doria
enfrentou ruídos na negociação de seus projetos de lei. Não por culpa da oposição, que faz o
seu trabalho regular de fiscalização da administração. Mas por dificuldades na própria base
de vereadores do governo. Ela resistiu, ainda que por pouco tempo, ao pedido do prefeito
no sentido de que a Câmara desse a ele um cheque em branco para levar adiante o
programa de desestatização. Os PLs que enviou à Câmara, com um atraso de quase dois
meses, são genéricos e têm pouca transparência.
Não existem dados concretos sobre custos e benefícios dos projetos de
desestatização. Não informam se o governo usará dinheiro público ou não nas concessões.
Tampouco há uma regulação clara para a pós-desestatização. Em lugar de fixar metas,
compromissos e obrigações, de modo a garantir o controle de desempenho e a qualidade
dos serviços, Doria atribui aos privados a própria modelagem das concessões. Como se a
simples concorrência entre eles pudesse trazer a melhor solução.
Um exemplo é a concessão do Estádio do Pacaembu, para a qual o governo não
produziu nenhum estudo sério sobre onde se pretende chegar. A matemática financeira e a
sustentabilidade da futura concessão são depositadas em mãos dos privados que
participarão do certame. E assim também sucede com o projeto, bastante complexo, aliás,
para concessionar a gestão do bilhete único. Mesmo nas concessões mais simples, de
parques públicos, não há nada que indique a exigência de compromissos e metas.
LIDERANÇA DO PT
Vê-se, assim, repetir-se o padrão de desmonte da capacidade de planejamento do
Estado em outras experiências tucanas de maior envergadura, como a privatização do
sistema elétrico por FHC, na década de 90, a qual desaguou no dramático apagão de 2001.
Ou, ainda, o confuso padrão do governo Alckmin de concessão de linhas do metrô
paulistano, como no caso da linha amarela, marcada por erros e falhas gritantes de projeto,
além de disputas judiciais de R$ 500 milhões com o concessionário.
Essas questões continuarão presentes no segundo semestre, seja pelas audiências
públicas previstas para o fim de julho, seja pela necessidade de fiscalização dos leilões, de
modo a evitar que o patrimônio público seja dilapidado.
Riscos à democracia
O açodamento de marketing do prefeito produziu-lhe uma bicada ferina do ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso. Incomodado com o assanhamento eleitoral de
Doria, que vem sendo incentivado por uma parte do empresariado, de famosos e
subcelebridades para os quais ele pode ser o melhor nome para disputar a Presidência da
República em 2018, FHC disparou: “Por que o prefeito de São Paulo está fazendo algum
sucesso? Porque ele manipula isso aqui [o celular] o tempo inteiro. Ele mudou alguma coisa?
Eu não vi, mas isso aqui ele sabe fazer [comunicação]”.
As ineficiências recentes da máquina pública em geral, diante de uma população que
melhorou de vida com Lula e Dilma e tem demandas por maior qualidade de serviços,
abriram caminho para entronizar o discurso da gestão empresarial como forma de substituir
o “domínio da política”. Doria ocupou esse espaço, especialmente, porque entendeu melhor
do que outros o poder do uso das redes sociais na exploração do gap existente entre as
carências sociais e as falhas de governo; no caso, o nosso governo.
Tal combinação de carências e gaps já nos fora especialmente tóxica em junho de
2013, com Dilma e Haddad alinhados nos planos federal e municipal. Vivíamos o
espraiamento das redes sociais e a consolidação do celular como instrumento maior de
comunicação entre indivíduos e grupos sociais. O primeiro protagonismo do espalhamento
digital da “revolta contra tudo que está aí” veio, ironicamente, da nascente mídia alternativa
de esquerda. Entretanto, já despontaram ali hashtags como #Não vai ter Copa e outras.
Grupos políticos de direita, ainda discretos, e mídia, fortemente opositora de Lula e Dilma,
souberam captar a oportunidade e explorar tanto as emergentes redes sociais como as
mensagens na mídia convencional. Tal fenômeno já se manifestara, globalmente e sob
outras configurações, na chamada “Primavera árabe”. Com a instabilidade global motivada
pela crise financeira de 2008, mudaram-se os humores e a forma de manifestação dos
mesmos nos países ocidentais. A crise dos regimes democráticos e a emergência populista
de direita despontaram.
LIDERANÇA DO PT
Mas foi na campanha eleitoral de 2014 que aconteceu o teste de maior amplitude do
uso das redes sociais para o embate político, conforme mostra a pesquisa “Computational
Propaganda in Brazil: Social Bots during Elections” (Propaganda digital no Brasil: uso de
robôs nas redes sociais durante as eleições), da Universidade de Oxford. Nela, o pesquisador
relata que a campanha do PSDB aplicou R$ 10 milhões no emprego de robôs (bots), com
replicadores automáticos no Facebook, Twitter e WhatsApp.
“Esse gasto continuou após o término da campanha, para apoiar grupos que se
opunham à Presidente Rousseff no Facebook. Estima-se que 16 milhões de pessoas
passaram a seguir o Revoltados On Line e 4 milhões o Vem Pra Rua”, diz o texto. No total, as
mensagens de opositores eram seguidas por 80 milhões de pessoas, ante 22 milhões de
seguidores dos sites relacionados ao PT e à Presidência da República. Enquanto o
maquinário e os bots da campanha de Dilma foram desativados terminada a eleição, diz o
texto, “a campanha eleitoral online (do PSDB) nunca foi interrompida, e essas redes se
tornaram peças chave para gerar o apoio ao impeachment”.
O texto mostra, sinteticamente, a evolução no uso dirigido das redes sociais: “Em
2013, as hashtags revelavam o caráter desorganizado e multifacetado dos assuntos que
levaram as pessoas para as ruas. Em 2015, as linhas de força da batalha estavam bem
definidas, em parte pela ajuda de robôs, e essas tendências iriam ficar cada vez mais
definidas ao longo do ano.” O mesmo movimento prosseguiu no início de 2016, até o
impeachment. E, sob outra roupagem, se manifestou também nas eleições municipais.
Em São Paulo, o descasamento entre as ações do nosso governo em prol da redução
das desigualdades sociais, com investimentos públicos relevantes na periferia, e a percepção
da população quanto à agenda da modernidade urbana, deu a Doria a oportunidade de uma
vigorosa exploração nas redes sociais, complementada pelo implacável cerco da mídia
estabelecida. Os sites BuzzFeed e Tecmundo registraram, com exemplos documentados, o
uso de robôs pela campanha de Doria. Hoje, seria ingenuidade acreditar que as 2,6 milhões
de curtidas da página oficial de João Doria no Facebook, junto com os diversos perfis e sites
relacionados a ele, são alimentados por jovens abnegados e pagos pelo único bolso do rico
prefeito.
A imprensa tem documentado como agentes privados financiam, desde hoje, a
comunicação em rede social do presidente Donald Trump, com o horizonte da sua reeleição
em 2020. De igual modo, são repercutidos os embates dos apoiadores do Brexit (a retirada
britânica da UE) nas redes sociais. Em todos esses movimentos, os bots são peças-chave. E
serão cada vez mais, porque, em tecnologia, os recursos digitais evoluem em alta
velocidade. Portanto, não é e não será diferente por aqui.
LIDERANÇA DO PT
Doria é hoje a ponta mais visível e estruturada do iceberg. Conhecendo o pano de
fundo de crise econômica, desagregação social, abalo da confiança nas instituições e
espraiamento de ódio e notícias falsas dos tempos atuais, é possível ver claramente o
combustível digital que também alimenta de políticos como Jair Bolsonaro e outros. No
limite, o que os novos tempos trazem são ameaças incontáveis à democracia e à vida
civilizada. Se hoje vai se formando algum consenso de que não é mais possível conviver com
o financiamento privado de campanha, antes mesmo de ter resolvido esse problema, já
podemos estar diante de outro: uma nova deformação surgindo à margem da lei eleitoral,
baseada em financiamento ilegal por voluntários e candidatos ricos.
Se o PT não pode deixar de manejar, de forma profissional, o arsenal disponível nas
redes sociais, também não pode deixar de compreender e atuar institucionalmente na
contenção de tal fenômeno nos limites das regras democráticas. Ele é grande o suficiente
para, sem freios nem contrapesos, colocar em risco a própria democracia.
Antonio Donato Madormo – líder do PT na Câmara Municipal de São Paulo
Paulo Fiorilo – presidente do Diretório Municipal do PT de São Paulo

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Balanço Gestão
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Seis meses de governo municipal

  • 1. LIDERANÇA DO PT (Seis meses de Governo Doria) Marketing, politicagem e bots Os seis meses de João Doria Junior na Prefeitura de São Paulo confirmaram e aprofundaram os traços principais, realçados em nosso balanço de 100 dias, de um governo que traz consideráveis riscos de retrocesso institucional e social. O desemprego na área metropolitana atinge 2,1 milhões de pessoas, ou quase 20% da população economicamente ativa. A renda das famílias se mantém estagnada, como consequência dos descalabros do governo Temer, que mesmo ilegítimo e corrupto é abraçado sem pudor por João Doria e seu patrono, o governador Geraldo Alckmin. As carências do povo se acentuam neste que é o pior período recessivo em décadas e, no entanto, o que se observa é uma deliberada retração de programas sociais e uma contração forçada do investimento público na cidade. Doria vai bem no mundo virtual das redes sociais, mas seu governo vai mal no dia a dia real da cidade, degradando os serviços. A agenda do prefeito de São Paulo é um retrato das suas escolhas. E, também, de suas pretensões políticas, em que a Prefeitura parece ser apenas um trampolim para sua ambição de candidatar-se em 2018 a Presidente da República ou governador do Estado. Levantamento da liderança do PT na Câmara Municipal constata que, de 1º de janeiro a 30 de junho, Doria fez:  215 reuniões com empresários  28 reuniões com cônsules e embaixadores  15 viagens nacionais e internacionais, incluindo um frustrado beija-mão do Papa Francisco  2 intervenções nos Diretórios Nacional e Estadual do PSDB para defender que o seu partido não saia do governo Temer Seu cartão de visitas voltado para as redes sociais são os 25 mutirões de limpeza do programa “Cidade Linda”, em que ele comparece ao local vestido de gari, participa da limpeza por poucos minutos junto com algum secretário e agentes municipais, posa para fotos e faz uma rápida intervenção a ser publicada em sua página no Facebook. O fôlego de sua alardeada zeladoria pode ser medido pela impressionante reforma de 15 quilômetros de calçada, até agora, numa cidade que possui 30 mil quilômetros de calçadas. As contenções orçamentárias forçadas deixam à míngua subprefeituras. Com isso, as mais prosaicas operações tapa-buracos, recolhimento de entulho nas ruas, limpeza de bueiros, poda de árvores, capinagem e jardinagem não acontecem, ou se tornam muito deficientes, especialmente nos bairros mais distantes do centro.
  • 2. LIDERANÇA DO PT Desfaz-se, pouco a pouco, o mito do gestor, construído por seu marketing de pretenso administrador eficiente, vindo do empresário e não do “político profissional”. Entretanto, ao pior estilo de politicagem que descontinua programas e políticas públicas que atravessaram diferentes governos, Doria promoveu:  cortes no programa Leve Leite, afetando 690 mil crianças acima de 7 anos de idade  cortes no transporte escolar gratuito (TEG), atingindo 80% das disponibilidades em algumas áreas da cidade  cortes nas verbas e reversão de editais destinados ao fomento de iniciativas de Cultura nas periferias da cidade  cortes anunciados em Unidades Básica de Saúde e AMAS  fechamento de bibliotecas e salas de lazer em escolas municipais, para instalação de improvisadas salas de aula  descumprimento da promessa de zeragem da fila de espera por creches  paralisia de hospitais e CEUs em fase final ou avançada de construção Gestão eficiente ou velha politicagem? Tradicionalmente, quase todo início de governo é marcado por contenção orçamentária. Em especial quando o governo anterior deixa o novo governo sem caixa e com uma elevada conta de restos a pagar. Ou, ainda, quando crises econômicas reduzem drasticamente a arrecadação. Não foi o caso de Doria. Ele recebeu uma herança financeira dadivosa de Fernando Haddad, com um caixa positivo de R$ 5,4 bilhões e restos a pagar previsíveis. Tampouco sofreu com o descalabro das contas públicas com o qual se defrontam Estados e municípios Brasil afora, sob impacto da queda de receitas. A arrecadação de São Paulo se manteve estável no primeiro semestre, já absorvido nos meses anteriores o pior da retração do mercado imobiliário e da crise econômica. Ainda assim, Doria impôs a penúria ao investimento e à despesa públicos, temperada pela propaganda de seu programa de desestatização que, num passe de mágica, vai inaugurar uma época de ouro de investimentos privados na cidade. A realidade se mostrou mais complexa do que os desejos do prefeito, inclusive no tocante à rotina política normal de negociação com o Poder Legislativo. Como mostrou o jornal Folha de S. Paulo em extensa reportagem no último dia 29 de junho, sob o sugestivo título “Doria faz poupança para tocar obra em ano eleitoral”, o prefeito revela que vem pautando a administração por um vôo rasante em direção a 2018. Vencido o primeiro semestre, seu governo investiu apenas 6% dos R$ 5,6 bilhões previstos no orçamento para este ano. Em lugar de aplicar o dinheiro para satisfazer necessidades da população, Doria entesourou mais de R$ 13 bilhões, incluindo os R$ 5,4 bilhões deixados pelo governo Haddad.
  • 3. LIDERANÇA DO PT A política de fazer caixa no primeiro semestre pode lhe dar fôlego para investir mais na zeladoria da cidade nos próximos meses e concluir algumas obras importantes. Um governo em São Paulo, certamente, não se sustenta por 4 anos apenas apoiado em ações de marketing e factoides, mas talvez o conjunto de ações que faça seja suficiente para mantê-lo em evidência até o início da campanha eleitoral do ano que vem. Seu foco, como fica cada vez mais evidente, é a disputa majoritária de 2018. Por isso, valeu-se de uma “entrada” forte na Prefeitura e de uma agenda intensa, além de forte exposição midiática e factoides bem planejados. Também procurou dialogar com a base social que dá a qualquer governo tucano em São Paulo um certo patamar de apoio. Explorou intensamente a imagem criada nas eleições e, com isso, tenta manter sua popularidade em patamares elevados, mesmo diante de uma rejeição crescente. É de se ressaltar, porém, que o quadro social e político do País mudou bastante desde a expressiva vitória eleitoral que os tucanos tiveram em São Paulo, no fim de 2016. O desemprego só fez aumentar, os ataques do governo Temer aos direitos sociais ficaram evidentes aos olhos da população, enquanto os tucanos se tornaram os maiores fiadores de um governo marcado pela corrupção. O próprio presidente do PSDB, Aécio Neves, acabou afastado de seu mandato pelo STF. E também vieram à tona denúncias contra outros líderes do PSDB, incluindo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Já a avaliação positiva de Lula e do PT voltou a crescer nas pesquisas. Mesmo contando com uma extensa base política na Câmara Municipal, João Doria enfrentou ruídos na negociação de seus projetos de lei. Não por culpa da oposição, que faz o seu trabalho regular de fiscalização da administração. Mas por dificuldades na própria base de vereadores do governo. Ela resistiu, ainda que por pouco tempo, ao pedido do prefeito no sentido de que a Câmara desse a ele um cheque em branco para levar adiante o programa de desestatização. Os PLs que enviou à Câmara, com um atraso de quase dois meses, são genéricos e têm pouca transparência. Não existem dados concretos sobre custos e benefícios dos projetos de desestatização. Não informam se o governo usará dinheiro público ou não nas concessões. Tampouco há uma regulação clara para a pós-desestatização. Em lugar de fixar metas, compromissos e obrigações, de modo a garantir o controle de desempenho e a qualidade dos serviços, Doria atribui aos privados a própria modelagem das concessões. Como se a simples concorrência entre eles pudesse trazer a melhor solução. Um exemplo é a concessão do Estádio do Pacaembu, para a qual o governo não produziu nenhum estudo sério sobre onde se pretende chegar. A matemática financeira e a sustentabilidade da futura concessão são depositadas em mãos dos privados que participarão do certame. E assim também sucede com o projeto, bastante complexo, aliás, para concessionar a gestão do bilhete único. Mesmo nas concessões mais simples, de parques públicos, não há nada que indique a exigência de compromissos e metas.
  • 4. LIDERANÇA DO PT Vê-se, assim, repetir-se o padrão de desmonte da capacidade de planejamento do Estado em outras experiências tucanas de maior envergadura, como a privatização do sistema elétrico por FHC, na década de 90, a qual desaguou no dramático apagão de 2001. Ou, ainda, o confuso padrão do governo Alckmin de concessão de linhas do metrô paulistano, como no caso da linha amarela, marcada por erros e falhas gritantes de projeto, além de disputas judiciais de R$ 500 milhões com o concessionário. Essas questões continuarão presentes no segundo semestre, seja pelas audiências públicas previstas para o fim de julho, seja pela necessidade de fiscalização dos leilões, de modo a evitar que o patrimônio público seja dilapidado. Riscos à democracia O açodamento de marketing do prefeito produziu-lhe uma bicada ferina do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso. Incomodado com o assanhamento eleitoral de Doria, que vem sendo incentivado por uma parte do empresariado, de famosos e subcelebridades para os quais ele pode ser o melhor nome para disputar a Presidência da República em 2018, FHC disparou: “Por que o prefeito de São Paulo está fazendo algum sucesso? Porque ele manipula isso aqui [o celular] o tempo inteiro. Ele mudou alguma coisa? Eu não vi, mas isso aqui ele sabe fazer [comunicação]”. As ineficiências recentes da máquina pública em geral, diante de uma população que melhorou de vida com Lula e Dilma e tem demandas por maior qualidade de serviços, abriram caminho para entronizar o discurso da gestão empresarial como forma de substituir o “domínio da política”. Doria ocupou esse espaço, especialmente, porque entendeu melhor do que outros o poder do uso das redes sociais na exploração do gap existente entre as carências sociais e as falhas de governo; no caso, o nosso governo. Tal combinação de carências e gaps já nos fora especialmente tóxica em junho de 2013, com Dilma e Haddad alinhados nos planos federal e municipal. Vivíamos o espraiamento das redes sociais e a consolidação do celular como instrumento maior de comunicação entre indivíduos e grupos sociais. O primeiro protagonismo do espalhamento digital da “revolta contra tudo que está aí” veio, ironicamente, da nascente mídia alternativa de esquerda. Entretanto, já despontaram ali hashtags como #Não vai ter Copa e outras. Grupos políticos de direita, ainda discretos, e mídia, fortemente opositora de Lula e Dilma, souberam captar a oportunidade e explorar tanto as emergentes redes sociais como as mensagens na mídia convencional. Tal fenômeno já se manifestara, globalmente e sob outras configurações, na chamada “Primavera árabe”. Com a instabilidade global motivada pela crise financeira de 2008, mudaram-se os humores e a forma de manifestação dos mesmos nos países ocidentais. A crise dos regimes democráticos e a emergência populista de direita despontaram.
  • 5. LIDERANÇA DO PT Mas foi na campanha eleitoral de 2014 que aconteceu o teste de maior amplitude do uso das redes sociais para o embate político, conforme mostra a pesquisa “Computational Propaganda in Brazil: Social Bots during Elections” (Propaganda digital no Brasil: uso de robôs nas redes sociais durante as eleições), da Universidade de Oxford. Nela, o pesquisador relata que a campanha do PSDB aplicou R$ 10 milhões no emprego de robôs (bots), com replicadores automáticos no Facebook, Twitter e WhatsApp. “Esse gasto continuou após o término da campanha, para apoiar grupos que se opunham à Presidente Rousseff no Facebook. Estima-se que 16 milhões de pessoas passaram a seguir o Revoltados On Line e 4 milhões o Vem Pra Rua”, diz o texto. No total, as mensagens de opositores eram seguidas por 80 milhões de pessoas, ante 22 milhões de seguidores dos sites relacionados ao PT e à Presidência da República. Enquanto o maquinário e os bots da campanha de Dilma foram desativados terminada a eleição, diz o texto, “a campanha eleitoral online (do PSDB) nunca foi interrompida, e essas redes se tornaram peças chave para gerar o apoio ao impeachment”. O texto mostra, sinteticamente, a evolução no uso dirigido das redes sociais: “Em 2013, as hashtags revelavam o caráter desorganizado e multifacetado dos assuntos que levaram as pessoas para as ruas. Em 2015, as linhas de força da batalha estavam bem definidas, em parte pela ajuda de robôs, e essas tendências iriam ficar cada vez mais definidas ao longo do ano.” O mesmo movimento prosseguiu no início de 2016, até o impeachment. E, sob outra roupagem, se manifestou também nas eleições municipais. Em São Paulo, o descasamento entre as ações do nosso governo em prol da redução das desigualdades sociais, com investimentos públicos relevantes na periferia, e a percepção da população quanto à agenda da modernidade urbana, deu a Doria a oportunidade de uma vigorosa exploração nas redes sociais, complementada pelo implacável cerco da mídia estabelecida. Os sites BuzzFeed e Tecmundo registraram, com exemplos documentados, o uso de robôs pela campanha de Doria. Hoje, seria ingenuidade acreditar que as 2,6 milhões de curtidas da página oficial de João Doria no Facebook, junto com os diversos perfis e sites relacionados a ele, são alimentados por jovens abnegados e pagos pelo único bolso do rico prefeito. A imprensa tem documentado como agentes privados financiam, desde hoje, a comunicação em rede social do presidente Donald Trump, com o horizonte da sua reeleição em 2020. De igual modo, são repercutidos os embates dos apoiadores do Brexit (a retirada britânica da UE) nas redes sociais. Em todos esses movimentos, os bots são peças-chave. E serão cada vez mais, porque, em tecnologia, os recursos digitais evoluem em alta velocidade. Portanto, não é e não será diferente por aqui.
  • 6. LIDERANÇA DO PT Doria é hoje a ponta mais visível e estruturada do iceberg. Conhecendo o pano de fundo de crise econômica, desagregação social, abalo da confiança nas instituições e espraiamento de ódio e notícias falsas dos tempos atuais, é possível ver claramente o combustível digital que também alimenta de políticos como Jair Bolsonaro e outros. No limite, o que os novos tempos trazem são ameaças incontáveis à democracia e à vida civilizada. Se hoje vai se formando algum consenso de que não é mais possível conviver com o financiamento privado de campanha, antes mesmo de ter resolvido esse problema, já podemos estar diante de outro: uma nova deformação surgindo à margem da lei eleitoral, baseada em financiamento ilegal por voluntários e candidatos ricos. Se o PT não pode deixar de manejar, de forma profissional, o arsenal disponível nas redes sociais, também não pode deixar de compreender e atuar institucionalmente na contenção de tal fenômeno nos limites das regras democráticas. Ele é grande o suficiente para, sem freios nem contrapesos, colocar em risco a própria democracia. Antonio Donato Madormo – líder do PT na Câmara Municipal de São Paulo Paulo Fiorilo – presidente do Diretório Municipal do PT de São Paulo