1. O documento discute as crises econômica, política, de gestão, ética e moral que ameaçam o Brasil e propõe soluções. 2. Para a crise econômica, propõe substituir o modelo neoliberal por um desenvolvimentista com controle cambial e de capitais. 3. Para a crise política, defende uma nova Constituinte para substituir o presidencialismo por parlamentarismo e aumentar a participação popular.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Soluções para crises econômica, política, gestão e ética no Brasil
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AS SOLUÇÕES PARA AS CRISES QUE AMEAÇAM O FUTURO DO BRASIL
Fernando Alcoforado*
1) As crises que ameaçam o futuro do Brasil
O Brasil se defronta no momento atual com 4 tipos de crise: 1) gigantesca crise
econômica que ameaça a sobrevivência das famílias com a escalada da inflação e do
desemprego em massa, das empresas com o avanço da recessão rumo à depressão e do
próprio País com a estagnação econômica e endividamento público crescentes; 2)
profunda crise política que ameaça lançar o País no caos da ingovernabilidade total e da
violência e gerar retrocesso político-institucional para manter a ordem; 3) crise de
gestão elevada ao extremo graças à existência de governantes incompetentes que
contribuem para a ineficiência e ineficácia das ações do governo federal e demonstram
incapacidade para propor soluções para a crise atual e muito menos apontar novos
rumos para o País; e, 4) crise ética e moral em todas as instâncias do governo e no seio
da sociedade brasileira resultante da existência de corrupção sistêmica generalizada.
A gigantesca crise econômica em que se defronta o Brasil no momento resulta da
falência do modelo econômico neoliberal e antinacional. Este modelo faliu no Brasil
depois de provocar uma verdadeira devastação na economia brasileira de 1990 a 2014
configurada no crescimento econômico pífio, no descontrole da inflação nos últimos 4
anos, nos gargalos existentes na infraestrutura econômica e social, na
desindustrialização da economia brasileira, na explosão da dívida pública e na
desnacionalização da economia brasileira. Na tentativa de superar a crise econômica, o
governo Dilma Rousseff decidiu adotar uma política recessiva que já está se traduzindo
na estagnação da economia, no aumento da dívida pública, no desequilíbrio das contas
externas e também no desemprego em massa.
A crise política que abala o Brasil resulta da falência do modelo político aprovado na
Constituinte de 1988. A falência do modelo político do Brasil está configurada no fato
do presidencialismo em vigor ter fracassado totalmente e ser gerador de crises políticas
e institucionais, o sistema político do País estar contaminado pela corrupção, a
democracia representativa no Brasil manifestar sinais claros de esgotamento não apenas
pelos escândalos de corrupção nos poderes da República, mas, sobretudo, ao
desestimular a participação popular nas decisões do governo, reduzindo a atividade
política a meros processos eleitorais que se repetem periodicamente em que o povo
elege seus representantes os quais, com poucas exceções, após as eleições passam a
defender interesses de grupos econômicos em contraposição aos interesses daqueles que
os elegeram.
A crise de gestão no Brasil resulta da falência do modelo de administração pública
existente no Brasil. A falência do modelo de administração pública no Brasil se
configura no fato de não atender as crescentes necessidades do País, o Estado brasileiro
ser ineficiente e ineficaz devido, entre outros fatores, à falta de integração dos governos
federal, estadual e municipal na promoção do desenvolvimento nacional, regional e
local. Esta é uma das principais causas do descalabro administrativo do setor público no
Brasil gerador de desperdícios, atrasos na execução de obras e corrupção desenfreada. A
falta de integração das diversas instâncias do Estado brasileiro é, portanto, total, fazendo
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com que a ação do poder público se torne caótica no seu conjunto, gerando, em
consequência, deseconomias de toda ordem.
A crise ética e moral que se manifesta em todas as instâncias do governo e no seio da
sociedade brasileira é evidenciada pelos sucessivos escândalos de corrupção que ocorre
a cada dia que se passa e que se tornou endêmica em todo o País. O Brasil enfrenta um
processo de descalabro ético e moral no plano político-institucional nunca visto na
história do País. A crescente descrença da população com relação às instituições
políticas é uma grande marca de nosso tempo porque a maioria dos candidatos a cargos
eletivos no Brasil não é movida pelo interesse público, isto é, no sentido de promover
mudanças políticas, econômicas e sociais em benefício da população. A ocupação de
cargos eletivos no poder executivo e no parlamento passa a se constituir
fundamentalmente em um meio para grande parte dos eleitos prestarem serviços aos
financiadores de suas campanhas eleitorais, se enriquecerem e auferirem as mordomias
existentes. São situações inaceitáveis pela maioria da população brasileira.
Inaceitável é também a corrupção no Brasil que é sistêmica correspondendo ao uso do
aparelho do estado por funcionários do governo para fins privados ilegítimos. Outra
situação inaceitável consiste na malversação de recursos públicos no Brasil que se
manifesta nos gastos do governo federal com a excessiva quantidade de ministérios e
outros órgãos públicos muitos deles inúteis, o dispendioso regime bicameral (Câmara
dos Deputados e Senado), o excessivo número de cargos comissionados nos três
poderes da República, o superfaturamento em obras públicas e a execução de obras
faraônicas. O resultado da corrupção sistêmica e da malversação dos recursos públicos é
a elevação dos gastos públicos no Brasil que são excessivos porque oneram as famílias
e as empresas com o aumento dos tributos, além de contribuir para o aumento da dívida
pública.
2) As soluções para as crises econômica, política, de gestão, ética e moral do Brasil
2.1- Soluções para a crise econômica do Brasil
Para superar a crise econômica atual, urge a substituição do modelo neoliberal em vigor
por outro de caráter nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia
brasileira para promover o desenvolvimento do Brasil em novas bases e sustar a
estagnação econômica em curso. O modelo nacional desenvolvimentista de abertura
seletiva da economia brasileira deveria contemplar o seguinte: 1) Substituição do
câmbio flutuante em vigor pelo câmbio fixo para evitar a elevação vertiginosa do dólar
em curso; 2) Controle do fluxo de entrada e saída de capital, sobretudo do especulativo
para evitar a fuga de capitais; 3) Nacionalização dos bancos para garantir a liquidez aos
cidadãos e às empresas; 4) Importação seletiva de matérias-primas e produtos essenciais
do exterior para reduzir os dispêndios em divisas do País; 5) Reintrodução da reserva de
mercado em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; e, 6)
Reestatização de empresas estatais privatizadas consideradas estratégicas para o
desenvolvimento nacional. O projeto nacional desenvolvimentista permitiria fazer com
que o Brasil assumisse os rumos de seu destino, ao contrário do modelo neoliberal em
vigor que faz com que o futuro do País seja ditado pelas forças do mercado todas elas
comprometidas com o capital financeiro nacional e internacional.
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Esta ação deveria ser precedida das medidas descritas a seguir: 1) Renegociação com os
credores da dívida pública do país visando a redução dos encargos com o pagamento da
dívida pública com seu alongamento no tempo e também dos gastos públicos ao mínimo
necessário a fim de que o governo brasileiro disponha de poupança suficiente para
investir na expansão da economia brasileira evitando sua estagnação; 2) Renegociação
com os credores da dívida pública do país visando a redução dos encargos com seu
pagamento para 1/3 ou ¼ do orçamento do governo federal; e, 3) Redução drástica do
gasto público de custeio reduzindo o número de ministérios de 39 para 15 ou 20 e a
eliminação ou redução ao mínimo necessário dos cargos comissionados que são cerca
de 22 mil.
2.2- Soluções para a crise política do Brasil
Para superar a crise política atual, é preciso que o governo federal tenha sucesso no
exercício da Governança que está relacionada com sua capacidade financeira e
administrativa e a competência de seus gestores de praticar políticas públicas ou, em
outras palavras, a capacidade de exercitar seu papel abarcando a execução de políticas e
a eficácia para atingir os resultados de interesse da coletividade. Sem condições de
Governabilidade é impossível uma adequada Governança por parte do governo federal.
A crise de Governança no Brasil atual se materializa na prática com a vertiginosa queda
nos índices de confiança da população brasileira no governo Dilma Rousseff. No plano
federal, a desarticulação do governo com sua base de apoio no parlamento, o seu
desencontro com os movimentos sociais e os erros da política econômica que agravaram
ainda mais a crise que se abate sobre a economia brasileira complementam esse quadro
de um governo, como o de Dilma Rousseff, que não consegue operar com competência
uma ação política e administrativa com vistas a produzir resultados satisfatórios em
benefício da grande maioria da população.
Um fato é evidente: o Brasil, como organização econômica, política, administrativa e
social está em desintegração. Os sinais de desintegração são evidentes em todas as
partes do País seja no governo, na economia e na sociedade. Esta situação só chegará
ao fim com a existência no Brasil de um governo que seja capaz de unir a nação em
torno de um projeto comum de desenvolvimento econômico, político e social. Diante da
incapacidade do atual governo de solucionar a crise econômica, evitar o caos
econômico, político e social em curso que tende a se agravar, assegurar a
governabilidade política do País e unir a nação em torno de um projeto comum de
desenvolvimento, torna-se-á cada vez mais improvável a permanência de Dilma
Rouseff no poder.
Para assegurar a governabilidade, o substituto de Dilma Rousseff terá que convocar
uma nova Assembleia Nacional Constituinte para reordenar a vida nacional em novas
bases. A nova Constituinte deliberaria sobre a implantação de um novo sistema político
no Brasil que contemple a substituição do presidencialismo pelo parlamentarismo, a
institucionalização do controle social dos eleitos pelo povo que deveria dispor de
instrumentos para dar início a processos de cassação de mandatos quando houver o não
cumprimento de promessas de campanha eleitoral pelos candidatos e a participação da
população nas decisões do governo através de plebiscito e/ou referendo, entre outras
medidas.
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2.3- Soluções para a crise de gestão pública no Brasil
Para superar a crise de gestão pública no Brasil, é preciso realizar a reforma do Estado e
da Administração Pública a fim de que o Estado brasileiro realize com eficiência e
eficácia suas atribuições constitucionais e reduza os seus custos de operação para
minimizar a carga tributária sobre os contribuintes. Só assim será possível corrigir as
distorções atuais para eliminar os desperdícios e diminuir os gastos públicos para
reduzir a carga tributária em benefício de empresas e trabalhadores. A capacidade futura
do Estado brasileiro de investir na expansão da economia e implementar programas na
área social depende, em grande medida, da reestruturação administrativa que seja nele
processada. Grande parte da ineficiência e ineficácia do Estado no Brasil resulta da falta
de integração dos governos federal, estadual e municipal na promoção do
desenvolvimento nacional. Associe-se a este fato, a existência de estruturas
organizacionais inadequadas em cada um dos níveis federal, estadual e municipal que
inviabilizam o esforço integrativo nessas instâncias de governo.
O principal objetivo da reforma do Estado e da Administração Pública a ser processada
no Brasil seria a de fazer com o governo federal, governos estaduais e municipais
operem em rede, isto é de forma integrada. Neste sentido, a reforma do Estado e da
Administração Pública deve considerar que o presidente da República deveria elaborar
com a participação dos demais poderes da República, governos estaduais e municipais e
organismos da Sociedade Civil planos estratégicos de gestão que serviria de base para a
elaboração de planos operacionais nos níveis ministeriais, de empresas estatais, de
governo dos estados e de municípios para assegurar a compatibilização entre os
mesmos. O plano estratégico de gestão elaborado pelo presidente da República e os
planos operacionais nos níveis ministeriais, de empresas estatais, de governo dos
estados e de municípios deveriam gerar contratos de gestão com base nos quais seus
gestores se comprometeriam a cumprir os objetivos estabelecidos em cada plano. O
sucesso ou não no cumprimento dos contratos de gestão seria a base para manter ou
substituir os gestores de cargos públicos. A estrutura organizacional não seria fixa como
ocorre atualmente, mas delineada em função dos objetivos e estratégias estabelecidas
em cada plano estratégico e operaciona. Esta seria a forma de assegurar a integração
entre todos os órgãos públicos e garantir a democratização do planejamento com a
participação da Sociedade Civil.
2.4- Soluções para a crise ética e moral do Brasil
A finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por
construir as bases que vão guiar a conduta do cidadão por ensinar a melhor forma de
agir e de se comportar em sociedade. É importante destacar que Ética é um conjunto de
conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao longo da
história buscando estabelecer e explicar as regras morais de forma racional,
fundamentada cientificamente. Moral, por sua vez, é o conjunto de regras adquiridas
pela educação e pela tradição e aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada
cidadão. Essas regras orientam a conduta de cada indivíduo, norteando suas ações e os
seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.
O enfrentamento da crise ética e moral do Brasil a curto prazo requer os procedimentos
seguintes: 1) Convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva que
contribua para prevenir desvios éticos e morais de gestores públicos e sua punição
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exemplar; 2) Punição exemplar de todos os que atentam contra os princípios éticos e
morais; 3) Adoção de medidas imediatas que visem a transparência dos atos praticados
pelos gestores públicos; 4) Vigilância da Sociedade Civil Organizada no
acompanhamento da gestão do setor público; 5) Ação da mídia denunciando práticas
contrárias à ética e a moral no setor público e no seio da sociedade; e, 6) Combate à
criminalidade. A médio e longo prazo, é preciso haver: 1) gigantesco esforço no setor de
educação para preparar futuros cidadãos comprometidos com a ética e a moral; 2)
redução das desigualdades sociais; e, 3) continuidade do combate à criminalidade.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).