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Ministério do
Esporte
história do futebol
e Megaeventos
Curso de Capacitação
para o voluntariado
em Megaeventos
Universidade de Brasília – UnB
Faculdade de Educação Física
história do futebol
e Megaeventos
Curso de Capacitação
para o voluntariado
em Megaeventos
CARGA HORÁRIA: 20 horas/aula
AUTORES: Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende – Universidade de Brasília (UnB)
Luciano Silva – Universidade de Minas Gerais (UFGM)
Georgino Neto – Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
Universidade de Brasília
Março, 2014
Ministério do Esporte - Ministro do Esporte
José Aldo Rebelo Figueiredo
Secretário da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social
Ricardo Capelli
Gerente do Programa Brasil Voluntário
Sarah Carvalho
Universidade de Brasília - Reitor
Ivan Marques de Toledo Camargo
Vice-reitora
Sônia Nair Báo
Coordenação Geral do Projeto Desenvolvimento de Processos Inovadores Para Formulação de
Políticas Públicas de Voluntariado em Megaeventos
Thérèse Hofmann Gatti Rodrigues da Costa (Decana de Extensão da Universidade de Brasília)
Cecília Leite (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT)
Realização
Faculdade de Ciência da Informação (FCI-UnB), Faculdade de Educação Física (FEF-UnB), Centro de
Excelência em Turismo (CET-UnB), Instituto de Psicologia (IP-UnB), Instituto de Ciências Biológicas (ICB-UnB)
Instituto de Letras (LET-UnB).
Colaboração na Pesquisa
Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT),
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal
do Amazonas (UFAM), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Corpo de Bombeiros do Distrito
Federal (CBMDF), Centro de Produção Cultural e Educativa (UnBTV), Escola Nacional de Administração
Pública (ENAP), Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP), Childhood Brasil.
Customização do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle
Equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Organização
Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília – CEAD-UnB
Diretora
Wilsa Maria Ramos
Coordenadora da Unidade de Pedagogia
Simone Bordallo de Oliveira Escalante
Gestão Pedagógica do curso
Rute Nogueira de Morais Bicalho
Professor Colaborador
José Vieira de Sousa
Gerente do Núcleo de Tecnologia
Eduardo Diniz
Gestão Ambiente Virtual de Aprendizagem
Danilo Santana, Fabiano Rocha de Moraes
Núcleo de Tecnologia
João Paulo Andrade Lima, Wesley Gongora
Help Desk
Karla Almeida, Luana Messias
R467
História do Futebol e Megaeventos / Alexandre Luiz Gonçalves de
Rezende, Luciano Pereira da Silva, Georgino Jorge de Souza Neto. –
Brasília: Universidade de Brasília, Decanato de Extensão, CEAD, 2014.
(Curso de Capacitação para o Voluntariado em Megaeventos)
Disponível em: <ead.brasilvoluntario.gov.br>
Título da página da WEB (acesso em 10 mar. 2014).
ISSN:
I. Silva, Luciano Pereira da. II. Souza Neto, Georgino Jorge de.
III. Série.
CDU 338.48-61
Gerente do Núcleo de Produção de
Materiais Didáticos
Jitone Leônidas Soares
Revisão de texto
Letícia Barcelos de Oliveira
Marcela Margareth Passos da Silva
Natália Tissiani Calderon Ramos
Sílvia Urmila Almeida Santos
Ilustração
Tiago Botelho
Web Designer
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Designer Instrucional
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Diagramação
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Apoio à produção de vídeos e multimídia
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Designer gráfico e animador 2D
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Relatórios Estatísticos
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Todos direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que
não seja para venda ou qualquer fim comercial.
A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.
Sumário
Apresentação____________________________________________________ 5
Unidade 1
	 O Futebol como elemento da Cultura Brasileira_________________ 7
	 1.1 Futebol e identidade do ser brasileiro ________________________ 7
	 1.2 Características e diferenças básicas entre jogo e esporte________ 10
Unidade 2
	 Referências históricas do futebol no Brasil____________________ 15
	 2.1 Relatos históricos e difusão da prática do futebol no Brasil_______ 16
	 2.2 Estrutura organizacional do futebol________________________ 18
Unidade 3
	 Fair Play e manifestações esportivas________________________ 21
	3.1 Fair Play: significado e princípios_________________________ 21
	 3.2 Ameaças e responsabilidades implícitas ao Fair Play__________ 23
	 3.3 O torcer e suas manifestações___________________________ 25
	 3.4 O esporte e suas manifestações na legislação brasileira________ 26
Unidade 4
	 O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol________ 31
	 4.1 A IFAB e a evolução das regras do futebol____________________ 32
	 4.2 Copa do Mundo da FIFA: história e características_____________ 34
Textos Complementares__________________________________________ 45
Referências	_____________________________________________________ 54
5
Apresentação
Seja bem-vindo(a) ao Módulo História do Futebol e Megaeventos!
Nesse Módulo abordaremos alguns temas visando fornecer a você informações gerais
sobre o esporte e o futebol. A discussão desses temas é de grande importância porque con-
tribui para o seu crescimento pessoal e auxilia o voluntário esportivo em sua atuação durante
a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.
Para tanto, o conteúdo é abordado em quatro Unidades, como explicitado a seguir.
A Unidade 1 apresenta elementos que ajudam a compreender o futebol como um ele-
mento da cultura brasileira e suas repercussões sobre a identidade do povo brasileiro. Além
disso, analisa as características e diferenças básicas entre o jogo e o esporte.
A Unidade 2 discute referências importantes sobre a história e difusão do futebol no
Brasil e outros elementos que ajudam a compreender a estrutura organizacional desse es-
porte.
A Unidade 3 propõe uma reflexão sobre o Fair Play, destacando as responsabilidades
do jogador e das demais pessoas relacionadas com o esporte quanto à preservação da ética
do jogo limpo e leal. Reflete, ainda, sobre o significado de torcer e as manifestações do es-
porte na legislação brasileira.
A Unidade 4 trata da temática Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, na perspectiva de
ajudar você a conhecer a história e detalhes sobre a organização desse Megaevento como
um dos maiores acontecimentos esportivos do mundo.
Ao longo do texto, você encontrará ícones que sinalizam o destaque de informações
complementares importantes. Recomendamos essa leitura, pois será útil e lhe ajudará muito.
Ao final de cada Unidade de estudo, você poderá fixar o conteúdo e verificar sua
aprendizagem, por meio de questões apresentadas no “Teste seus Conhecimentos”.
Sucesso em seus estudos!
7
Unidade 1
O Futebol como elemento
da Cultura Brasileira
Iniciaremos o estudo deste Módulo discutindo sobre o papel que o futebol exerce na
cultura brasileira, visto ser ele a modalidade esportiva mais difundida no Brasil. Todos nós
sabemos o quanto esse esporte está presente no cotidiano do brasileiro.
1.1 Futebol e identidade do ser brasileiro
O futebol é um importante elemento da cultura nacional, sendo
vivenciado pelas pessoas de formas variadas. Para problematizá-lo
como manifestação cultural, refletiremos, neste tópico, sobre a dinâmi-
ca do esporte e do futebol na sociedade atual.
Perceber este esporte como elemento da cultura nacional sig-
nifica valorizá-lo, pois a cultura, uma das principais características hu-
manas, pode ser entendida como tudo o que o homem realiza. É aquilo
que é produzido pela humanidade, seja de ordem material ou imaterial
e que, em grande medida, é transmitido de geração a geração. Assim,
o futebol é fruto da ação humana, tendo significado para as pessoas e
compondo a herança cultural que influencia o comportamento delas.
Todos os países do mun-
do, raças, grupos huma-
nos, famílias, classes
profissionais, possuem
um patrimônio de tradi-
ções que se transmite
oralmente e é defendido
e conservado pelo cos-
tume. Esse patrimônio
é milenar e contempo-
râneo. Cresce com os
conhecimentos diários
desde que se integrem
nos hábitos grupais, do-
mésticos ou nacionais.
(CÂMARA CASCUDO,
1967, p. 9.).
Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira
8
Como elemento cultural, o futebol é plural, apresentando-se de formas variadas. Sobre
as diferentes formas do esporte se manifestar, um importante pesquisador do tema, Jorge
Bento, escreveu:
O desporto não existe mais no singular, mas sim no plural. É plural no que
se concerne a motivações, a intenções, a finalidades, a condições, a mo-
delos; é por isso desporto de rendimento, desporto de recreação e lazer,
desporto de reeducação e reabilitação, desporto referenciado a educação
(BENTO, 1993, p. 17).
A pluralidade de manifestações que o esporte pode ter leva-nos a enxergá-lo como um
fenômeno complexo, que não deve sofrer avaliações superficiais. Tal complexidade do fenô-
meno esportivo nos ajuda a desconfiar, por exemplo, daqueles que atribuem a ele virtudes
naturais como a crença de que o esporte é sempre positivo, gerando sempre bons efeitos.
Ao estudar as diversas manifestações do futebol como elemento que
contribui para compreender a identidade cultural do povo brasileiro,
você perceberá a relação desta temática com as discussões feitas
no Módulo Hospitalidade e Turismo. Isso pode ser feito quando
estudar, nesse Módulo, a relação existente entre turismo e diversidade
cultural.
Mesmo reconhecendo que o esporte pode apresentar muitos aspectos positivos, como
a prática de atividades físicas, a sociabilização e a aquisição de valores morais, não podemos
negar que ele também pode estar relacionado a questões negativas. Dentre estas, destacam-
se a violência, o consumo de substâncias ilegais e prejudiciais à saúde para obter melhor
desempenho e práticas ilegais de manipulação de resultados de campeonatos oficiais. Assim,
os efeitos do fenômeno esportivo não são únicos e estão diretamente relacionados aos usos
que as pessoas fazem dele. Veja como outro pesquisador do esporte aborda esta questão:
O desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si mesmo nem
socializante nem anti-socializante. É conforme: ele é aquilo que se fizer dele.
A prática do judô ou do rugbi pode formar tanto patifes como homens perfeitos
preocupados com o “fair-play” (PARLEBÁS, 1997, p. 12).
Outro equívoco frequentemente apontado por estudiosos é a defesa de que praticar
uma atividade esportiva (no caso, o futebol) é sempre melhor do que assistir. Tal visão
equivocada baseia-se na crença de que o expectador assume uma postura passiva diante
do fenômeno, sendo ele visto como um mero consumidor, enquanto o praticante adota uma
postura ativa.
Entretanto, em outra visão, atividade e passividade não estão necessariamente
relacionadas, respectivamente, a praticar e assistir. Conforme afirma Marcellino (1996), ser
ativo ou passivo em uma atividade depende do nível de consciência do que se está fazendo
e da postura crítica do indivíduo diante da atividade.
9
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
A apropriação dos elementos culturais atrelados ao universo do futebol
independe da prática e/ou do consumo, mas da capacidade crítica
que possuímos para praticar e/ou consumir o fenômeno. O acesso
qualificado às informações e o processo educativo/formativo das
pessoas podem colaborar para o fortalecimento de um olhar crítico
dos sujeitos sobre a compreensão das diversas vivências culturais
atreladas ao futebol.
Diante do que foi discutido, podemos entender que, como uma
das possíveis manifestações esportivas, o futebol é um fenômeno
complexo e plural que possui grande evidência na nossa sociedade.
Ele está diariamente na televisão, nos jornais, nas conversas infor-
mais, dentre outros.
Também é importante destacar que, apesar da proeminência do
futebol profissional, ele vai muito além do que é praticado em jogos
oficiais, dentro das “quatro linhas”, uma vez que as pessoas podem
se relacionar com o futebol de formas muito distintas. Vejamos como:
jogadores (profissionais ou não), torcedores, pesquisadores do tema
e outros profissionais que trabalham direta ou indiretamente com o
futebol, entre outros, são indivíduos diversos que têm o futebol inten-
samente presente em suas vidas, de forma peculiar.
A força que o futebol possui como elemento cultural faz com
que ele seja encarado por muitos como um elemento da identidade do
povo brasileiro. Identidade no sentido de algo que traz unidade, que
promove unificação por ideias comuns, no caso a paixão pelo futebol.
Nesta perspectiva, em certa medida, o futebol aproxima as pes-
soas. Isso fica evidente ao observarmos a aproximação entre pessoas
que torcem pelo mesmo time, que se encontram para praticar o futebol
como lazer (ação comumente denominada de “peladas”), ou que se
unem para torcer pela seleção brasileira em uma competição inter-
nacional (como a Copa do Mundo). Outro exemplo? O próprio fato de
você, como um grande número de pessoas, predispor-se a passar por
uma capacitação como esta na expectativa de ser convocado para
atuar como voluntário na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014!
À medida que o futebol aproxima as pessoas, ele ajuda a promover a interação e a
troca de experiências diversas. Dessa forma, pode fazer com que ocorra, por exemplo, a
integração entre diferentes gerações – idosos, adultos, jovens e crianças. É importante, no
entanto, que essa interação ocorra com respeito, responsabilidade e permeada por valores
que contribuam para dignificar as relações criadas pelas práticas esportivas. Este mesmo
cuidado deve ser tomado por ocasião da realização de Megaeventos dos quais participem
crianças e adolescentes.
Um curioso exemplo
da amplitude de possi-
bilidades de vivenciar
o futebol é a prática do
futebol virtual. Encarado
por muitos como uma
atividade de crianças e
adolescentes, na verda-
de, ele possui, no Brasil,
milhares de pratican-
tes de todas as idades
e conta ainda com uma
Confederação Nacional,
desde 2005. No primeiro
campeonato organizado
por esta entidade, o ven-
cedor foi premiado com
um carro 0 Km, além de
passagens aéreas para
participar do campeona-
to mundial realizado na
França.
Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira
10
Exploração sexual não é turismo, é crime. Entre em campo
pelos direitos de crianças e adolescentes. Se você presenciar
qualquer violação de direitos, denuncie, ligue 100. Para mais
informações, estude o Módulo Hospitalidade e Turismo ou acesse:
www.childhood.org.br
Entretanto, entender o futebol como elemento da identidade cultural do brasileiro não
significa afirmar que os interesses de toda a população são levados em consideração, estan-
do presentes nas várias manifestações do futebol. Isto porque a história tem mostrado como
as relações identitárias também são permeadas por interesses políticos e econômicos, bem
como por disputas de poder.
Desta forma, mesmo que muitos desejem assistir grandes espetáculos de futebol pre-
sencialmente, tais eventos possuem barreiras econômicas que impedem o acesso demo-
crático a esta vivência. O que importa aqui afirmar é que, de modo geral, o brasileiro possui
uma intensa relação com o futebol. Conforme Toledo (1994), “outros países podem gostar
tanto de Futebol como o Brasil, mas em nenhum a vida se confundirá com o Futebol como
no Brasil” (p. 23).
1.2 Características e diferenças básicas entre jogo e esporte
Como vimos no tópico anterior, o futebol faz parte da identi-
dade cultural do ser brasileiro. Veja, então, como a realização do Me-
gaevento Copa do Mundo da FIFA 2014 no Brasil assume importância,
considerando o conjunto dos jogos que serão realizados nas várias
cidades-sede!
Mas será que jogo e esporte são atividades diferentes? A difer-
enciação conceitual entre jogo e esporte é importante porque contribui
para descrever algumas práticas corporais que, apesar de muito se-
melhantes, possuem especificidades que precisam ser esclarecidas.
Porém na discussão desses conceitos é preciso ter cuidado.
Não é o caso de separar algumas atividades que são esportes de
outras que são jogos, como se fossem duas atividades totalmente dis-
tintas. Isto porque a diferença não está na atividade em si mesma e
sim no contexto e nas finalidades que caracterizam cada atividade
lúdica.
Na prática, uma mesma atividade lúdica pode ser classificada
dentro de um eixo em que os conceitos de jogo e esporte estão nos
extremos. Então, de acordo com o contexto, a atividade ora a apro-
xima, ora se afasta de cada um desses conceitos, como ilustrado no
esquema a seguir, em relação ao futebol.
Até mesmo em uma ati-
vidade considerada de
lazer, como no caso de
um jogo informal de vo-
leibol na praia, a possibili-
dade do envolvimento de
pessoas desconhecidas
depende da resposta à
seguinte questão: tenho
condições pessoais de
participar desse jogo,
sem criar um desequilí-
brio? Caso essas habili-
dades sejam muito supe-
riores ou muito inferiores,
o jogo pode terminar não
tendo mais sentido e, por-
tanto, interrompido.
11
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Jogo
Futebol entre
amigos
durante um
churrasco.
Futebol
praticado
regularmente
entre colegas
de trabalho
sem times
pré-definidos.
Futebol entre
times
formados
para participar
de um
campeonato
do clube.
Esporte
Futebol entre
times que
treinam de
forma
sistemática e
participam de
campeonatos
oficiais.
A diferenciação entre jogo e esporte exige, portanto, a análise do contexto e do signi-
ficado que a atividade lúdica possui para aqueles que estão envolvidos com a sua prática.
O conceito de esporte deve ser utilizado para fazer referência a
uma prática corporal que assumiu alguns traços a partir dos tempos
modernos, enquanto o conceito de jogo se aplica para nomear
diversas outras manifestações culturais de caráter lúdico, ao longo
da história de cada povo.
Apontaremos, a seguir, algumas diferenças que merecem atenção e podem ser utiliza-
das para estimular uma reflexão sobre as especificidades que marcam o jogo e o diferenciam
do esporte, apesar de não ser uma classificação rigorosa.
a)	 O jogo tem regras flexíveis, enquanto o esporte tem regras fixas.
Jogo é uma atividade lúdica considerada divertida, que possui regras que podem
variar para permitir o alcance de sua finalidade: favorecer o exercício ou o teste das
habilidades corporais e da astúcia dos jogadores. Assim, o jogo é uma modalidade
de interação do homem com o ambiente ou com outros homens que tem um papel
chave no desenvolvimento humano.
Esporte, por sua vez, é uma atividade lúdica cujas regras sobre a maneira de jogar
foram padronizadas com o intuito de favorecer a sua difusão, sem o risco de perder
a identidade. Por meio de uma atividade lúdica, a interação entre pessoas que não
se conhecem somente é possível quando todos jogam da mesma maneira.
b)	 No jogo todos jogam, enquanto no esporte alguns jogam e outros assistem.
No jogo não há muito sentido alguém ficar de fora para assistir os outros jogar.
Dessa forma, é melhor modificar as regras e até mesmo o objetivo do jogo para que
todos participem e se divirtam juntos.
Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira
12
O esporte estimula uma preparação sistemática dos jogadores que cria diferenças
de rendimento. Assim, o esporte se transforma em um espetáculo, fazendo com
que os melhores joguem e os outros assistam a exibição de destreza e torçam por
determinado resultado.
c)	 No jogo o foco está no jogar, enquanto no esporte está em vencer.
O jogo e o esporte estão relacionados com a competição, mas esta assume sen-
tidos diferentes para cada um deles, de acordo com o contexto em que estão in-
seridos. Os interesses políticos e econômicos associados ao esporte conferem à
competição um caráter exacerbado em comparação com a sua aparente ausência,
em relação ao resultado que marca o jogo.
Todavia, não se engane: todas as pessoas que participam de uma atividade lúdica,
seja jogo ou esporte, partem do princípio de que vão se dedicar, ao máximo, para
alcançar o melhor resultado possível, conforme seus interesses no momento e na
interação com aquelas pessoas.
d)	 O jogo é uma atividade informal, enquanto o esporte é uma atividade formal.
No esporte a formalização envolve diversos aspectos de sua prática que são con-
siderados desnecessários para que as pessoas participem de um mero jogo, tais
como: espaço de jogo, tempo de duração, equipamentos, uso de uniforme, pre-
sença de um árbitro. Dessa forma, o jogo não precisa atender a nenhum desses
aspectos para acontecer, enquanto que para o esporte eles são imprescindíveis.
e)	 O jogo tem por princípio a auto-organização entre os próprios jogadores, enquan-
to o esporte é gerido por entidades organizadoras.
O esporte possui instituições que respondem oficialmente pela sua organização em
nível local ou internacional, enquanto o jogo tem uma organização informal realiza-
da pelos próprios jogadores envolvidos na atividade lúdica.
f)	 O jogo e o esporte possuem motivações diferentes para sua criação e realização.
O jogo não tem motivações marcadas por uma cultura em particular, nem por um
período específico da história. Ao contrário, responde a uma necessidade humana
abrangente de criar atividades que interrompem a rotina de vida e possibilitam o
envolvimento com algo que o mobiliza por completo, a ponto de se tornar uma ati-
vidade marcada pela fantasia.
O esporte pode ser considerado como uma criação associada com o novo estilo de
vida da sociedade moderna, significando um resgate da possibilidade de o homem
jogar e interagir com a natureza e com seu corpo em um novo espaço social – o
meio urbano. As exigências relacionadas a um estilo de vida diferente, em que o
tempo de trabalho consume a maior parte do dia, fazem com que as pessoas sin-
tam falta de opções para o lazer e a diversão.
13
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Para conhecer mais
sobre essas caracterís-
ticas, leia o texto “Se-
melhanças entre jogo e
esporte”, disponível na
seção “Textos Comple-
mentares”, ao final deste
Módulo.
A partir da reflexão das características apresentadas, é pos-
sível encontrar pontos de aproximação e de diferenciação entre
jogo e esporte, mesmo que isso permita discordâncias do tom de ge-
neralização que normalmente acompanha as tentativas de qualquer
classificação.
Assim, não é o caso de considerar as características analisadas
como uma definição do que é ou não esporte ou jogo. Afinal, é possível
que, durante a realização de uma atividade lúdica, alguns jogadores
estejam se comportando como se ela fosse um jogo, enquanto outros,
na mesma atividade, comportem-se de uma maneira mais próxima do
esporte.
Chegamos ao final da Unidade 1. Nesta Unidade você estudou
o significado que o futebol tem para a identidade cultural brasileira,
e as características que distinguem o jogo do esporte. Nessa lógica, como modalidade es-
portiva e elemento identitário brasileiro, o futebol é complexo e pode ser apropriado pelas
pessoas de variadas formas.
Estudou também que o esporte é um importante fenômeno da sociedade, que se ma-
nifesta de forma plural e pode ser vivenciado a partir de diferentes perspectivas. Ele não
possui virtudes naturais, visto que seus efeitos benéficos ou não dependem exclusivamente
de como ele é praticado pelos indivíduos (ou oferecido à população). Assim, seja como prati-
cante ou assistente, o importante é que o indivíduo se relacione com o futebol de maneira crí-
tica, o que depende, em grande medida, de acesso à informação e de processos educativos.
Agora, que concluímos a Unidade 1 teste seus conhecimentos!
Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira
14
Teste seus conhecimentos
ATIVIDADE 1
Considerando os estudos realizados, julgue a afirmativa a seguir.
As diferenças entre jogo e esporte demonstram que existem algumas ativi-
dades que são consideradas como esportes e outras que são jogos. Dessa
forma, uma mesma atividade não pode ser classificada ora como jogo e de-
pois, em outro contexto, como esporte.
( ) Verdadeiro 		 ( ) Falso
ATIVIDADE 2
Leia o texto a seguir e, depois, faça o que se pede.
O futebol praticado, vivido, discutido e teorizado no Brasil seria um
modo específico, entre tantos outros, pelo qual a sociedade bra-
sileira fala, apresenta-se, revela-se, deixando-se, portanto desco-
brir. (DA MATTA, Roberto et. al. O universo do futebol: esporte e
sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982, p. 21).
Considerando o texto apresentado e os estudos feitos, avalie as afirmativas
feitas a seguir, em relação ao futebol como elemento da cultura brasileira.
I.	 Promove certa unificação de ideias comuns, no caso a paixão pela
	 sua prática.
II.	 Pertence ao patrimônio imaterial do país, sendo transmitido de ger-
	 ação a geração.
III.	 Configura-se como um esporte vivenciado pelos brasileiros de manei-
	 ra única.
IV.	 Compõe uma herança cultural que influencia o comportamento dos
	brasileiros.
V.	 Permite avaliações superficiais acerca da maneira como se manifesta
	 no Brasil.
É correto APENAS o que se afirma em:
a)	 I e II
b)	 I e III
c)	 I, II e III
d)	 I, II e IV
e)	 II, III e V
15
Unidade 2
Referências históricas
do futebol no Brasil
Na Unidade anterior, você deu um passo importante para aprender um pouco mais so-
bre o futebol como elemento que contribui para a identidade cultural do povo brasileiro e as
diferenças entre o jogo e o esporte. Nesta estudará a origem do esporte como atividade de la-
zer e as transformações que ele vem sofrendo com a espetacularização do evento esportivo.
Ampliar o seu conhecimento geral sobre o esporte é um dos pontos importantes da
preparação para uma atuação eficiente, na hipótese de você ser convocado para ajudar
como voluntário na Copa do Mundo da FIFA 2014. Dessa forma, você terá melhores condi-
ções de informar as pessoas que se interessam por esses temas.
Unidade 2 – Referências históricas do futebol no Brasil
16
2.1 Relatos históricos e difusão da prática do futebol no Brasil
Existem diversos registros históricos de jogos semelhantes ao futebol em várias cultu-
ras. Em geral, esses registros dizem respeito a jogos coletivos com uso de uma bola (ou algo
parecido), que deve ser transportada ou lançada para uma meta.
Todavia, pelo menos da maneira como é jogado atualmente,
o futebol tem sua origem vinculada à iniciativa dos ingleses de
reunirem, em 1863, pessoas interessadas na prática de determinada
modalidade esportiva em associações ou grêmios. Esse movimento
ficou conhecido por associacionismo.
No caso do Brasil, há vários registros históricos sobre a realiza-
ção de partidas de exibição do futebol em diversas localidades por di-
ferentes jogadores, visando divulgá-lo como modalidade e despertar o
interesse pela sua prática entre os brasileiros. Veja, a seguir, alguns
esses relatos.
yy Em 1878, tripulantes do navio Criméia enfrentaram-se em uma par-
tida de exibição do futebol para a Princesa Isabel (1846-1921),
última princesa imperial e regente do Império do Brasil;
yy O historiador Loris Baena Cunha relata que, em 1890, no Pará,
foi realizada uma partida entre funcionários ingleses da Amazon
Steam Navigation Company Ltda., da Parah Gaz Company e da
Western Telegraph;
yy Os relatos históricos sobre a criação do Bangu Atlético Clube, nar-
ram que, em 1894, o escocês Thomas Donohoe, contratado para
ajudar na implantação da fábrica têxtil de Bangu, foi um dos pionei-
ros no incentivo à prática do futebol no Brasil;
yy Na Várzea do Carmo, em São Paulo, em 1895, uma partida entre
ingleses e anglo-brasileiros, funcionários da Companhia de Gás e da
Estrada de Ferro São Paulo Railway, é considerada por historiado-
res como uma das primeiras partidas de futebol no Brasil;
yy Em 1897, regressando da Suíça, o estudante Oscar Cox introduziu
o futebol no Rio de Janeiro, e criou uma das primeiras equipes nes-
se estado, em 1901 – o Rio Team.
Entretanto, a versão mais conhecida sobre o início da prática
sistemática do futebol no Brasil aponta a grande contribuição de
Charles Miller (1874-1953), no caso do Estado de São Paulo. Isto está
relacionado ao fato de ele ter trazido de uma viagem duas bolas e um
livro de regras desse esporte, bem como por ter formado uma das
primeiras equipes de futebol no Brasil, o São Paulo Athletic Club, em
1894. Afinal, no Brasil, o futebol tem diferentes histórias e, portanto,
muitas pessoas e grupos de pessoas que contribuíram para sua
divulgação
Para ampliar seus conhe-
cimentos sobre a origem
do futebol e a contribui-
ção dos ingleses leia o
texto “A origem do fute-
bol: a contribuição dos
ingleses”, disponível na
seção “Textos Comple-
mentares”, ao final deste
Módulo.
Da leitura dos diversos
relatos históricos sobre
a realização das primei-
ras partidas de futebol
no Brasil é importante
destacar a influência dos
ingleses como um traço
comum. O reconhecimen-
to dessa influência se dá
seja pela participação di-
reta deles nos jogos de
exibição, seja pela vinda
ao Brasil de pessoas pro-
venientes da Inglaterra e
outros países europeus,
interessadas em difundir
a modalidade.
17
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Charles William Miller, esportista brasileiro,
filho de pai escocês e mãe brasileira, é
considerado um dos precursores do futebol
brasileiro.
Em relação ao Brasil, é possível dividir os registros históricos sobre o futebol em dois
tipos: aqueles que falam sobre jogos de exibição desse esporte e outros que tratam de sua
organização para uma prática sistemática.
No caso dos estudos que estamos realizando neste Módulo, temos interesse em abor-
dar o segundo tipo de registro histórico – o da prática sistemática do futebol. Nesse caso, a
formação de clubes e a difusão das regras oficiais da Football Association são elementos que
demarcam a transição da mera realização de uma partida de exibição para a efetiva prática
do futebol no país por brasileiros. Isso acontece não apenas de forma ocasional, mas a partir
da organização de treinos para o aperfeiçoamento das habilidades futebolísticas, tendo em
vista a participação em campeonatos.
Um levantamento histórico mais minucioso revela que cada um dos
estados brasileiros tem seus próprios precursores – clubes de futebol.
Damesmaforma,a criação de cada clube está marcada pela influência
de um pioneiro – jogador ou dirigente – e guarda peculiaridades que
deixam claro que o futebol no Brasil não tem uma única história.
Avançando um pouco mais no tempo, o início do século XX é marcado, no país, pela
criação de diversos times de futebol e pela organização dos times existentes nas primeiras
Ligas de Futebol. Essa tendência seguiu o exemplo das associações inglesas, entidades es-
portivas responsáveis pela realização dos primeiros campeonatos estaduais.
E quanto à difusão do futebol no Brasil? Para responder a esta pergunta é importante
ressaltar que, conforme os relatos históricos, com o passar do tempo, o futebol foi ganhando
regras padronizadas. Esse fato trouxe outra consequência: o surgimento de entidades orga-
nizadoras, característica que, junto à anterior, faz dele uma atividade cada vez mais formal.
Esse processo ocorreu em nível mundial e também no Brasil, transformando o esporte
e o futebol em um espetáculo, o que interfere no significado atribuído à vitória e muda o foco
do mero jogar para a obrigação de vencer. É nesse momento que precisamos fazer uma
Unidade 2 – Referências históricas do futebol no Brasil
18
reflexão: a obrigação de vencer não é uma característica do jogo e
nem do esporte em si mesmo, mas o reflexo de interesses econômi-
cos, políticos e de grupos associados ao futebol.
Como vimos antes, o processo de formalização do futebol criou,
progressivamente, condições para que o futebol se transformasse em
um espetáculo. Os investimentos financeiros realizados no futebol têm
uma implicação dupla: por um lado, promovem a melhoria das condi-
ções de treinamento e competição, por outro lado, geram dificuldades
relacionadas com a profissionalização de uma atividade que, inicial-
mente, era exclusivamente amadora.
Ainda no contexto da difusão do futebol, atualmente, as Fede-
rações de Futebol de cada Estado estão filiadas à Confederação Bra-
sileira de Futebol (CBF), que é membro da Federação Internacional
das Associações de Futebol (FIFA), cujo nome original é Fédération
Internationale de Football Association. Trataremos no próximo tópico
da maneira como está organizada a prática institucional do futebol no
Brasil.
2.2 Estrutura organizacional do futebol
Nos tempos atuais, no Brasil, existe uma grande estrutura relativa
à organização esportiva em torno do futebol. Para que você tenha uma
noção a respeito dessa estrutura, mostramos, a seguir, um recorte do
diagrama que apresenta os níveis que organização do futebol no país.
A representação completa do diagrama é muito detalhada, mas
para termos uma noção da parte que o Brasil ocupa nele é importante
observá-lo com cuidado. Ele contém os níveis hierárquicos superiores,
que estabelecem uma conexão entre o nosso país e as entidades que
cuidam no futebol no mundo, como também, as subdivisões internas
do futebol no Brasil.
Figura 1 – Estrutura organizacional do futebol no mundo e no Brasil
A existência de interesses
alheios ao esporte exer-
ce uma pressão sobre os
resultados das partidas
de futebol e coloca em
risco suas características
primárias, que o definem
como esporte. Todavia, o
futebol possui caracterís-
ticas que o particularizam
como uma atividade livre,
prazerosa, auto-regula-
mentada que promove
integração social e desa-
fia o ser humano a fazer
o melhor possível, porém
mantendo o respeito inte-
gral ao outro.
Para conhecer a respei-
to da profissionalização
do futebol, de maneira a
compreender a contra-
posição histórica entre o
amadorismo e a prática
do esporte leia o texto
“Profissionalização do fu-
tebol e contraposição his-
tórica entre o amadorismo
e a prática do esporte”,
disponível na seção “Tex-
tos Complementares”, ao
final deste Módulo.
19
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
O diagrama mostra que as entidades esportivas guardam uma relação de abrangência
e hierarquia entre si. Isso se inicia pelas unidades básicas até chegar às entidades máximas
de determinada modalidade.
Repare que ele mostra a existência de somente uma entidade esportista máxima in-
ternacional – a FIFA – que congrega todas as demais dessa natureza existentes no mundo.
Quando se olha o nível seguinte no diagrama, verifica-se que temos seis Confede-
rações Continentais de Futebol. Desse nível em diante, o diagrama apresenta somente os
dados da CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol), que é a Confederação a
qual o Brasil está filiado.
A CONMEBOL reúne as Confederações Nacionais de Futebol de dez países da
América do Sul, indicados no diagrama, estando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
filiada a ela.
Por sua vez, a CBF reúne as Federações Estaduais de Futebol
do Brasil, 27 ao todo, correspondendo, portanto, ao total de estados do
país. Cada Federação Estadual congrega diversos clubes, o que não
é possível de ser representado no diagrama, pois ao todo, de acordo
com os dados divulgados pela FIFA existem, no país, quase 30.000
clubes de futebol devidamente registrados.
Nesta Unidade vimos que existem vários registros históricos da
exibição de partidas de futebol e outros da criação de clubes dedica-
dos à prática deste esporte, no Brasil. Entretanto, o início da prática
sistemática do futebol, no país, mostra que cada estado e cada clube
tiveram seus próprios precursores. Dessa forma, podemos dizer que
existem diversas histórias do futebol no Brasil.
Estudamos também que o futebol possui uma organização es-
portiva em diversas esferas de abrangência – local, estadual, nacional
e internacional. Assim, os clubes de futebol no Brasil estão filiados
às federações de futebol do seu respectivo estado que, por sua vez,
estão filiadas à Confederação Brasileira de Futebol, responsável pelo campeonato nacional.
Essa Confederação está vinculada à Confederação Sul-Americana de Futebol, que realiza
a Copa América e está filiada à FIFA. Em nível internacional, esta última realiza a Copa do
Mundo de Futebol e a Copa das Confederações.
Chegou a hora de testar seus conhecimentos. Vamos lá!
Em 2014, havia um total
de 29.208 clubes de fu-
tebol registrados no Bra-
sil, enquanto o número
de jogadores também
com registro chegava
a 2,1 milhões. Disponí-
vel em <http://www.por-
tal2014.org.br/o-futebol
-brasileiro> > Acesso em
13 fev. 2014.
Unidade 2 – Referências históricas do futebol no Brasil
20
Teste seus conhecimentos
ATIVIDADE 1
Reconhecendo a importância do futebol brasileiro no cenário mundial, um
visitante de outro país deseja obter informações sobre a origem desse esporte
no Brasil.
Agora, suponha que você tivesse sido convocado para atuar como voluntário
na Copa do Mundo da FIFA 2014 e vivido a situação descrita.
Ao responder à pergunta desse visitante, você diria que é INCORRETO afirmar:
	 a)	 ApráticasistemáticadofutebolemSãoPaulotemgrandecontribuição
		 de Charles Miller.
	 b)	 As partidas de exibição do futebol constam em vários registros
		 históricos do século XIX.
	 c)	 As primeiras equipes desse esporte são constituídas nas décadas
		 iniciais do século XX.
	 d)	 A influência dos ingleses na realização das primeiras partidas de
		 futebol foi uma constante.
	 e)	 Aorganização de times nas primeiras ligas de futebol é observada no
		 início do século XX.
ATIVIDADE 2
Imagine que um visitante que venha assistir os jogos da Copa do Mundo da
FIFA 2014 deseje saber mais a respeito da estrutura organizacional do futebol,
em nível do mundo e do Brasil. Ele informa que ouviu dizer que, nos tempos
atuais, a estrutura em torno da qual acontece a organização esportiva do futebol
é complexa e conta com várias instâncias.
Considerando essa ideia e a resposta a ser dada ao visitante, qual das
alternativas contém uma afirmativa INCORRETA?
	 I.	 A FIFA corresponde à entidade esportista máxima internacional no
		 âmbito do futebol.
	 II.	 AConfederação Brasileira de Futebol congrega as federações de cada
		 estado do país.
	 III.	 A Federação Estadual consiste na associação dos clubes no país, em
		 torno de 30.000.
	 IV.	 A autonomia das entidades esportivas mundiais anula uma relação
		 hierarquia entre elas.
	 V.	 AConfederaçãoSul-AmericanadeFuteboléresponsávelpelarealização
		 da Copa América.
21
Unidade 3
Fair Play e manifestações
esportivas
Esta Unidade trata de outros temas importantes à compreensão da relação entre a
história do futebol e Megaeventos, título do Módulo. Nela abordaremos o Fair Play como um
compromisso de todos os envolvidos manterem uma postura ética e limpa em relação ao
jogo, bem como as manifestações esportivas, de maneira mais geral. Também discutiremos
aqui o torcer no esporte e como as manifestações dele são tratadas na legislação brasileira
3.1 Fair Play: significado e princípios
Você já deve ter ouvido, pelo menos uma vez, algum comenta-
rista utilizar a expressão Fair Play. No transcorrer de uma partida de
futebol, ela se aplica àquelas situações em que o comportamento do
jogador em campo não é ditado pela lógica da competição e sim por
uma atitude de cortesia com o adversário.
Por exemplo: os jogadores colocam a bola para fora do campo
para que um jogador contundido seja atendido pela equipe médica e,
em seguida, ao por a bola novamente em jogo, devolvem a bola para
a equipe que tinha a sua posse antes da interrupção da partida.
O conceito de Fair Play
pode ser compreendido
como o compromisso
em preservar a ética do
jogo limpo ou leal, que
deve ser um testemunho
do próprio jogador e de
todos os demais envolvi-
dos com o esporte.
Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas
22
Mas o conceito de Fair Play é um pouco mais amplo do que isso, pois objetiva preser-
var o esporte como uma atividade que tem o propósito de celebrar a civilidade e enobrecer
todos os que, em alguma medida, estão envolvidos com ele. Assim, o Fair Play é uma res-
ponsabilidade de todos que, de alguma forma, mantêm relação com o esporte.
Veja a seguir dois exemplos sobre o conceito que estamos discutindo neste tópico.
Exemplos de Fair Play
A partida era Ajax e Den Haag, quando um
atleta do Ajax acabou se machucando. A
equipe rival acabou jogando a bola para
fora, para devolver a gentileza o atleta Ver-
tonghen chutou do meio do campo e a bola
acabou entrando na gaveta. Envergonhado
o atleta não soube o que fazer. A equipe do
Ajax deixou o Den Haag marcar um gol na
saída de bola e tudo ficou bem.
Costin Lazar do Rapid Bucarest recebeu
na entrada da área e acabou interceptado
pelo defensor adversário. Desequilibrado
o atacante caiu de um jeito que chamou
a atenção. O Árbitro não titubeou e mar-
cou pênalti. Mas o atleta que sofrera a “in-
fração” acabou recusando a cobrança e a
partida foi reiniciada em bola ao chão.
Disponível em http://futeblog.y33.com.br/2012/06/top-7-melhores-fair-play-do-futebol
(Grifos no original)
Quadro 1 – Exemplos de Fair Play
O esporte é uma atividade realizada em interação com outras pessoas, que tem por
finalidade dignificar o ser humano e celebrar uma cultura de respeito mútuo. Dessa forma, o
desafio de comparar suas habilidades com as do outro é realizado em um contexto marcado
pela igualdade de condições entre os participantes e pelo respeito às regras do jogo.
O adversário na competição esportiva é alguém com quem compartilhamos o amor
pelo esporte. Quanto maior forem as suas habilidades, maior é a possibilidade dele contribuir
de forma efetiva para o aperfeiçoamento de nossas próprias habilidades para jogar, pois a
oposição é um dos elementos mais importantes para a busca do crescimento pessoal.
O Fair Play preconiza o respeito integral e permanente das regras do
jogo. Os jogadores devem estar cientes de que o respeito às regras
não se refere somente ao que está escrito, mas também, ao princípio
implícito às regras e que fixa um espírito dentro do qual se deve
praticar o esporte de competição: lealdade.
23
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Agora que você conhece o conceito do Fair Play, veja os seus princípios e a forma
como se manifesta para o jogador:
yy aceitação, sem discussão, das decisões do árbitro, exceto nos esportes nos quais
o regulamento autoriza um recurso (no caso do futebol, somente para o capitão do
time existe autorização para dirigir a palavra ao árbitro);
yy vontade de jogar para ganhar, objetivo primeiro e essencial do esporte, articulada
com a firme rejeição em conseguir a vitória de forma ilícita ou desleal;
yy respeito a si mesmo, o que implica uma atitude marcada pela honestidade e leal-
dade, além de uma atitude firme e digna diante de um comportamento desleal do
adversário;
yy respeito ao companheiro de equipe;
yy respeito ao adversário, vitorioso ou vencido, com a consciência de que é um com-
panheiro indispensável, com o qual está unido pela camaradagem esportiva;
yy respeito ao árbitro de forma positiva, expresso pelo constante esforço de com ele
colaborar.
Realizado com base nesses princípios, o Fair Play implica modéstia na vitória, serenidade
na derrota e uma generosidade suficiente para criar relações humanas cordiais e duradouras.
3.2 Ameaças e responsabilidades implícitas ao Fair Play
A ameaça principal ao Fair Play é a importância excessiva que, em nossos dias, se
concede à vitória. Fonte de prestígio para o jogador e para o seu país, que pode resultar em
vantagens financeiras substanciais, a vitória é algo que incita cada vez mais os jogadores a
violar os regulamentos do esporte. Temendo um fracasso, o jogador chega a considerar os
adversários como inimigos que devem ser abatidos, o que alimenta uma crescente onda de
indisciplina e violência no esporte.
Outra ameaça ao fair flay é o doping, uma demonstração de que o atleta busca a vitória
a qualquer preço, pois coloca em risco sua própria saúde e, consequentemente, sua vida.
Todos os que estão implicados no esporte de competição têm uma responsabilidade
específica na promoção do Fair Play. A única esperança para o esporte é que reconheçam a
importância do Fair Play e ajam de acordo com seus princípios, pois senão o esporte pode
ser considerado como algo maléfico ao homem. Em suma, não há distorção maior do esporte
que a atitude daqueles que não respeitam o Fair Play.
Quanto às responsabilidades das pessoas envolvidas com o esporte, examine-as no
quadro apresentado a seguir.
Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas
24
Pessoas
envolvidas
Responsabilidades
Participantes •	 Dar o exemplo e persuadir os demais a fazerem o mesmo.
Pais
•	 Ensinar os princípios de lealdade esportiva aos seus filhos;
•	 Zelar pela qualidade do ensino da Educação Física e da educação
esportiva dada pela escola.
Educadores
•	 Ensinar que o respeito aos demais e às regras é o que dá sentido
ao jogo;
•	 Reagir imediatamente durante a competição ante qualquer trans-
gressão das regras ou ato repreensível;
•	 Incentivar os seus alunos a sentirem orgulho de um comporta-
mento disciplinado e generoso.
Organizações
desportivas
•	 Impedir que o entusiasmo por suas equipes obscureça o conceito
de Fair Play;
•	 Utilizar todos os meios existentes para promover o ideal do Fair
Play.
Diretores técnicos
e treinadores
•	 Tomar medidas contra qualquer competidor que deliberadamente
tente burlar o Fair Play, mesmo com o risco de perder uma par-
tida ou talvez um campeonato.
Médicos
•	 Basear suas decisões médicas sobre as condições de jogo unica-
mente na condição física do competidor.
Árbitros
•	 Zelar para que a competição se desenvolva respeitando sempre
as regras;
•	 Possuir conhecimento profundo de todas as regras e saber dar a
interpretação mais atualizada;
•	 Manter-se numa condição física que o permita mover-se com rapi-
dez, a fim de observar e de manter um estreito contato com o jogo.
Autoridades
públicas
•	 Adotar uma atitude firme em favor do Fair Play;
•	 Condenar, sem restrição, toda prática desleal, de forma a situar o
Fair Play acima das ambições de prestígio.
Jornalistas
•	 Evitar o sensacionalismo em detrimento a realidade dos fatos;
•	 Adotar uma atitude imparcial e independente, que demonstre só-
lido conhecimento do esporte;
•	 Demonstrar particular compreensão para a delicada tarefa do ár-
bitro e para as dificuldades que enfrentam os jogadores.
Espectadores
•	 Impedir que o apoio à sua equipe se degenere para dar lugar a
atitudes de ódio entre espectadores e competidores da equipe
adversária;
•	 Desejar e apreciar a habilidade técnica associada com a atitude
leal dos jogadores ou das equipes.
Quadro 2 – Responsabilidades das pessoas envolvidas no esporte.
25
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
3.3 O torcer e suas manifestações
Após estudar as responsabilidades das várias pessoas envolvidas com o esporte, es-
tudaremos a seguir aspectos relacionados ao “torcer”, sua história e os impactos e efeitos do
comportamento das torcidas e dos torcedores sobre o universo futebolístico/esportivo.
Torcer por um time de futebol ou para a seleção de um país parece algo hoje naturali-
zado, como se sempre existisse. Mas tanto o futebol como o torcer são construções históri-
cas e, portanto, dotados de um contexto que os origina.
Imaginando o futebol como uma absoluta novidade, nos anos finais do século XIX e
iniciais do século XX, a preferência por clubes era praticamente inexistente. O que existia, de
fato, era o desejo de se apropriar de um conjunto de códigos sociais de pertencimento. Dessa
forma, estar à beira dos campos se constituía como uma forma distintiva de participação em
uma experiência moderna.
Nesse contexto, quem praticava o futebol eram os eleitos da elite, e assistir às partidas
também era uma possibilidade altamente restritiva, pois não se torcia para este ou aquele
clube, mas sim, se assistia a uma festa social. Exatamente por esta característica, os fre-
quentadores das arquibancadas eram denominados de assistência.
Da assistência para a torcida existe um caminho percorrido por um conjunto de vivên-
cias. As primeiras vinculações afetivas de um sujeito por um time de futebol começam a se
dar por conta de associações que, na forma de clubes, reuniam estudantes, imigrantes, bair-
ros, fábricas etc.
Após os primeiros movimentos do futebol no país, a assistência vai cedendo espaço
para a participação de outros atores. Também ajudaram na constituição do torcer aspectos
como:
yy organização de campeonatos, que se mostravam cada vez
mais acirrados;
yy crescente popularização do esporte;
yy fortalecimento da “paixão clubística”, que alimentava o de-
senvolvimento do futebol (consumindo objetos ligados ao clu-
be, comprando ingressos para assistir aos jogos e se envol-
vendo com a vida social da agremiação preferida).
Na discussão aqui proposta também é importante conhecer a
origem dos termos “torcer”, “torcida”, “torcedores/torcedoras”. Embora
não seja possível encontrar fontes comprobatórias sobre a origem do
sentido da palavra “torcida” para designar um grupo de pessoas com
identificação afetiva a um determinado clube, algumas versões podem
ser identificadas. Dentre elas, duas se destacam.
Uma dessas versões é assim explicada pelo jornalista Luiz Men-
des (2002), em uma entrevista publicada no periódico “Memória da Im-
prensa Carioca”:
Conheça mais a respei-
to do “pertencimento clu-
bístico”, importante cate-
goria conceitual utilizada
para explicar a relação
afetiva estabelecida en-
tre uma pessoa e um
clube esportivo, nota-
damente um de futebol,
lendo o texto “O perten-
cimento clubístico”, dis-
ponível na seção “Textos
Complementares”, ao fi-
nal deste Módulo.
Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas
26
No começo do futebol, ir ao estádio era um ato de elegância, princi-
palmente, no Fluminense. Por isso o Fluminense até hoje tem essa
fama de clube aristocrático. As mulheres se enfeitavam como se fos-
sem ao Grande Prêmio Brasil, colocavam vestidos de alta costura,
chapéus, luvas. Mesmo que a temperatura na cidade estivesse por
volta dos 40º de temperatura, elas iam de luvas. Como o calor era
muito grande, elas tiravam as luvas e ficavam com as luvas nas
mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansio-
samente. Os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito
comum na época, muito elegante e também ficavam com o chapéu
na mão enquanto torciam. O Coelho Neto, que além de poeta e cro-
nista era pai de dois jogadores do Fluminense escreveu uma crônica
em que ele usava a expressão “as torcedoras”, referindo-se às mu-
lheres e dali a expressão pegou e nasceu a torcida (p. 2).
A outra versão, defendida pelo historiador brasileiro Nicolau Se-
vcenko, aponta para o significado do termo torcida pela torção corpo-
ral que o sujeito apaixonado realiza ao acompanhar os lances de uma
partida do seu time.
Entretanto, não há uma referência precisa de quando o termo
passa a ser incorporado pelos sujeitos sociais. Apesar disso, a palavra
“torcida” tem aplicação genuinamente brasileira, pois não existe, em nenhum outro país, um
termo que tenha similaridade semântica ao ato de torcer por um clube.
3.4 O esporte e suas manifestações na legislação brasileira
Neste último tópico da Unidade estudaremos o conceito de manifestações esportivas,
utilizado para classificar as atividades relacionadas ao esporte pela legislação brasileira.
O esporte possui diversos perfis de praticantes, que jogam em diferentes lugares,
com equipamentos que respondem a exigências específicas para atingir determinadas fina-
lidades. Em decorrência disso e para os efeitos da legislação sobre o esporte no Brasil, as
atividades esportivas podem ser classificadas em três manifestações, definidas a seguir.
yy esporte educacional, pedagogicamente orientado e praticado com o objetivo prin-
cipal de contribuir para a formação integral do cidadão e a consolidação dos valo-
res da cidadania;
yy esporte de participação, livremente organizado e praticado de modo voluntário e
assistemático, visando promover o bem-estar pessoal, a saúde, o lazer e a integra-
ção social;
yy esporte de rendimento, sistematicamente estruturado e praticado com o objetivo
precípuo de aperfeiçoar habilidades para obter sucesso na competição e contribuir
para o espetáculo esportivo, que pode ser praticado de modo profissional ou não.
Sendo assim, quando falamos de Copa do Mundo de Futebol, estamos nos referindo
ao esporte de rendimento praticado na sua modalidade profissional. Em função do destaque
que esse Megaevento recebe, é comum que exerça uma influência sobre as demais ma-
Em Portugal, os torce-
dores são identificados
como “adeptos”, termo
ligado à religiosidade. Na
Espanha, a palavra “hin-
cha” corresponde às pes-
soas que se “inflam” de
paixão por uma equipe.
Em inglês, os fanáticos
(fans) ou os sujeitos que
dão apoio a um time (su-
pporters) é que definem o
termo semelhante ao tor-
cedor brasileiro.
27
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
nifestações esportivas. Este fato deve ser alvo de preocupação, pois, como veremos mais
adiante, existem diferenças entre as várias modalidades esportivas que tornam determina-
das comparações entre elas indevidas.
Cada manifestação esportiva possui uma infraestrutura organizacional própria, que
exige o investimento de recursos financeiros direcionados à satisfação de suas necessidades
operacionais específicas. Assim, não é suficiente destinar recursos apenas para uma das
manifestações, pois esses recursos não satisfazem as necessidades das demais. Veja no
quadro a seguir a comparação entre alguns aspectos específicos de cada uma das manifes-
tações esportivas anteriormente mencionadas.
ESPORTE LOCAL PRATICANTES EQUIPAMENTOS ORGANIZAÇÃO FINALIDADE
Educacional Escola Estudantes Simples Auto-Organização Educação
Participação
Praça ou
Rua
Comunidade Adaptado Livre Lazer e Saúde
Rendimento Clube Atletas Sofisticado
Entidades
Esportivas
Competição
Quadro 3 – Aspectos específicos das manifestações esportivas
Apesar das especificidades que separam as manifestações esportivas uma das ou-
tras, como mostra o quadro, existe a possibilidade de eventuais interações entre elas, que
são explicadas por diferentes conceitos teóricos.
Na tentativa de construir um modelo ilustrativo de uma dessas possibilidades, foi usada
uma máxima, atribuída a Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de Coubertin (1863-
1937). Essa proposta tem como premissa as implicações positivas advindas da difusão da
prática esportiva entre a população de uma maneira geral.
Barão de Coubertin, pedagogo e historiador
francês, reconhecido como o fundador dos
Jogos Olímpicos na era moderna.
Analisaremos a seguir essa proposta, denominada Modelo Piramidal, bem como as
principais críticas feitas a ela.
Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas
28
A proposição teórica do Modelo Piramidal está associada com a lógica de que no país
que houver um grande número de pessoas que pratica atividade física de forma regular,
maior é a possibilidade de que algumas delas decidam se dedicar ao esporte. Da mesma
maneira, se existir um bom número de pessoas que praticam sistematicamente uma ativida-
de esportiva, maior é a possibilidade de que alguns talentos sejam descobertos. Por fim, se
existirem alguns talentos esportivos é possível ter a esperança de um recorde.
A figura a seguir mostra a formulação teórica mais geral do modelo discutido.
Esporte
Rendimento
Esporte Participação
Esporte Educacional
Ao propor este modelo, a principal finalidade do argumento de Coubertin é demons-
trar a importância do investimento na difusão do esporte. O objetivo final apontado por esse
modelo não é simplesmente formar um recordista, mas garantir que existam milhares de
pessoas se beneficiando do esporte em suas diferentes esferas, o que é algo efetivo.
Entretanto, é importante lembrar que não existe uma relação de dependência entre as
manifestações esportivas, caso contrário, o Brasil não já teria obtido medalhas olímpicas no
iatismo, por exemplo, que não é uma modalidade esportiva difundida no nosso país.
Para finalizar esta Unidade, é importante destacar que, embora tenha sido adotado du-
rante muito tempo para explicar as possibilidades de eventuais interações entre as diferentes
manifestações esportivas – e possua, evidentemente, seu valor – o Modelo Piramidal recebe
críticas em relação à sua formulação teórica.
Como vimos anteriormente cada manifestação esportiva possui uma infraestrutura or-
ganizacional própria que exige investimentos específicos. Um exemplo que ilustra esta afir-
mativa é o próprio futebol, pois somos o único país pentacampeão da Copa do Mundo de
Futebol, com quase 30.000 clubes registrados na Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Este fato demonstra a força do futebol como um esporte de rendimento, mas nem por isso,
temos garantidas as condições para que ele seja praticado nas escolas brasileiras (esporte
educacional) e nas ruas e praças de nossas cidades e bairros (esporte de participação).
Dessa forma, a principal crítica ao modelo piramidal é que ele passa uma noção equi-
vocada de que o esporte educacional e o esporte de participação, que estão na base da
pirâmide, estão subordinados aos interesses ditados pelo esporte de rendimento, que está
no topo da pirâmide. O formato geométrico desse modelo sugere uma graduação de impor-
tância que não existe entre as manifestações, pois todas são igualmente importantes, cada
uma com sua respectiva relevância social.
29
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
O destaque conferido ao esporte de rendimento pela exposição na
mídia e pelos interesses econômicos e políticos associados à sua
prática distorcem sua interpretação como Fair Play.Afinal o que é mais
importante para nós, brasileiros: ganhar a Copa do Mundo de Futebol
ou garantir que todas as crianças possam aprender a jogar futebol nas
escolas? Na verdade, essas metas não precisam ser colocadas uma
contra a outra, pois o que queremos é tanto ganhar a Copa do Mundo
de Futebol como também garantir o acesso da juventude ao esporte
como um direito social fundamental de todo cidadão.
Nesta Unidade vimos que o Fair Play corresponde ao compromisso em preservar a éti-
ca do jogo limpo e leal, dando o testemunho do próprio jogador e de todos os demais envol-
vidos com o esporte. Também discutimos que o ato de torcer é peça fundamental no contexto
esportivo, pois é ele que possibilita e garante o espetáculo do futebol.
Estudamos que, na legislação brasileira, as atividades esportivas são classificadas em
esporte educacional (voltado para a formação integral do cidadão), esporte de participação
(dedicado ao lazer e bem-estar pessoal) e esporte de rendimento (dedicado ao treinamento
para competição). Em relação ao Modelo Piramidal, vimos que ele destaca a necessidade da
difusão do esporte, porém é criticado por transmitir uma noção equivocada de que o esporte
de rendimento é mais importante do que o esporte educacional e o esporte de participação.
Agora, antes de seguir para a próxima Unidade, teste seus conhecimentos!
Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas
30
Teste seus conhecimentos
ATIVIDADE 1
O centroavante alemão Mauri Ebbers recebeu cruzamento dentro da área e marcou de
mão e o juiz validou. Pelo vídeo pode-se interpretar que ele pode ter marcado sem querer
com a mão, tanto que o próprio Ebbers veio a assumir ao juiz que tinha marcado com a mão
e pediu para que o gol fosse invalidado. (Disponível em http://futeblog.y33.com.br/2012/06/
top-7-melhores-fair-play-do-futebol). Acesso em 15 fev. 2014 (grifos no original)
Com base no texto apresentado e nos estudos realizados, avalie as afirmativas a seguir,
em relação ao caso relatado.
	 I.	 Trata-se de um exemplo típico de Fair Play, ao mostrar como se deve jogar limpo.
	 II.	 Comprova que os benefícios decorrentes do Fair Play restringem-se aos jogadores.
	 III.	Atesta que os princípios do Fair Play não estão pautados apenas nas regras, mas
		 também na lealdade.
	 IV.	Revela que o Fair Play deixa de promover o desenvolvimento satisfatório do espor-
te.
	 V.	 Mostra que, na prática, o Fair Play implica não se apropriar de vantagens indevidas.
É correto APENAS o que se afirma em:
	 a)	 I e II
	 b)	 II e III
	 c)	 I, II e III
	 d)	 I, III e IV
	 e)	 I, III e V
ATIVIDADE 2
Na promoção do Fair Play todos os envolvidos no esporte de competição possuem respon-
sabilidades, de maneira que o jogo aconteça de acordo com determinados princípios, que
só trazem benefícios para os jogadores, as organizações e a sociedade como um todo. Es-
sas responsabilidades devem ser assumidas por vários grupos de pessoas, representados
na figura a seguir.
Jornalistas
Pessoas envolvidas
com o esporte e suas
responsabilidades
Participantes
Médicos Árbitros
Espectadores Pais
Educadores
Autoridades públicas
Diretores técnicos
e treinadore
Organizações
desportivas
A respeito das responsabilidades dos vários grupos envolvidos com o esporte, é INCOR-
RETO afirmar:
	 a)	 As organizações desportivas devem evitar que o entusiasmo de suas equipes
	 chegue a comprometer o conceito de Fair Play.
	 b)	 Os diretores técnicos e treinadores devem adotar medidas para impedir que o
	 competidor tente burlar o sentido do Fair Play.
	c)	 É desejável que os jornalistas alimentem uma postura sensacionalista em
	 detrimento a realidade dos acontecimentos.
	 d)	 Osmédicosdevembasearsuasdecisõessobreascondiçõesdejogounicamente
	 na condição física do competidor.
	 e)	 Os espectadores devem estimular e apreciar a relação entre a habilidade técnica
	 e a atitude leal dos jogadores e das equipes.
31
Unidade 4
O que todo mundo
deve saber sobre as
regras do futebol
Nas Unidades anteriores você teve a oportunidade de fazer uma análise conceitual e
uma revisão histórica sobre alguns traços comuns entre o futebol e o esporte como um todo.
Nesta dirigiremos nossa atenção para algumas características específicas do futebol.
Você já teve a curiosidade de perguntar de quem é a responsabilidade e a autoridade
para definir e alterar as regras do futebol? Este é um tema que você conhecerá ao estudar
os assuntos abordados nesta última Unidade do Módulo História do Futebol e Megaeventos.
Particularmente, ao discutir este ponto você poderá tanto responder à pergunta apresentada
como também saber porque os ingleses ainda gozam de um destaque, quando o assunto se
refere à definição das regras do futebol. Então, vamos em frente!
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
3232
4.1 A IFAB e a evolução das regras do futebol
A International Football Association Board (IFAB), criada em 06 de dezembro de 1883,
surgiu da necessidade da criação de um Conselho formado de especialistas em futebol. A
finalidade desse Conselho era discutir as diferenças existentes entre as regras para a prática
do futebol utilizadas nos quatro países que compõem o Reino Unido – Inglaterra, Escócia,
País de Gales e Irlanda (atual Irlanda do Norte). Tal necessidade decorreu da intenção de
realizar campeonatos que permitissem o congraçamento dos times desses países, o que
exigiu a adoção de regras comuns que fossem aceitas por todos.
Quando foi criada, a IFAB era composta de dois representantes
de cada uma das quatro Federações Nacionais com a responsabili-
dade de regulamentar as regras que disciplinam a prática do futebol
em seus respectivos países. Além disso, ela devia acompanhar o
desenvolvimento técnico-tático da modalidade, de forma a identificar
a necessidade eventual de alterações nas leis do esporte, ao longo
do tempo, ou a aprovação de regras complementares que assegurem
a competitividade e preservem a identidade do esporte.
A IFAB pode ser caracterizada como um fórum permanente de
discussão dos regulamentos do futebol, inicialmente, entre os britâ-
nicos e atualmente, para todo o mundo. A primeira reunião do Con-
selho Administrativo da IFAB aconteceu no dia 2 de junho de 1886,
em Londres (Inglaterra). Portanto, isso ocorreu dezoito anos antes da
criação da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA),
em Paris (França), em 1904, cuja principal finalidade é a difusão do
futebol em todo o mundo.
Desde então, cresceu o futebol pelo mundo, especialmente na
Europa, e a necessidade de garantir a participação de representantes de vários países no
órgão responsável pela definição das regras do futebol. Este fato fez com que a IFAB apro-
vasse a mudança na composição do seu Conselho Administrativo, de forma a admitir a parti-
cipação de representantes da FIFA.
Em 1958, a fim de promover um equilíbrio entre os representantes das entidades que
compõem a IFAB, foi aprovado em novo sistema de votação, com dois pontos essenciais:
yy uma nova composição do Conselho Administrativo: um representante de cada uma
das quatro associações britânicas de futebol (Federação Inglesa de Futebol, Fe-
deração Escocesa de Futebol, Federação Galesa de Futebol e Federação Nor-
te-Irlandesa de Futebol) e quatro representantes da FIFA (que possui 208 países
membros), logo, oito conselheiros ao todo;
yy as decisões sobre mudanças nas regras exigem um quórum qualificado de dois
terços dos membros do referido Conselho, o que significa, na prática, pelo menos,
seis votos.
Desta forma, por exemplo, se uma proposta de mudança nos regulamentos do futebol
receber o apoio de todos os quatro representantes da FIFA, a deliberação final precisa contar
ainda com o voto positivo de, ao menos, dois representantes das entidades britânicas. Caso
isso não aconteça, a decisão não será aprovada.
Com a finalidade de asse-
gurar a identidade do fu-
tebol e favorecer o inter-
câmbio entre os times de
futebol do mundo inteiro,
desde sua criação, a FIFA
adotou as regras estabe-
lecidas pela IFAB para o
futebol no Reino Unido,
como a referência para os
demais países filiados à
entidade.
33
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
.
O Conselho Administrativo da IFAB se reúne duas vezes por ano da seguinte forma:
yy Assembleia Geral Ordinária, entre os meses de fevereiro e
março, quando os conselheiros decidem eventuais mudan-
ças nas regras que regulamentam o futebol;
yy Reunião de Trabalho Anual, entre os meses de setembro e
outubro, quando os conselheiros debatem e decidem sobre
assuntos internos.
A partir das decisões aprovadas pela IFAB, o futebol tem de-
monstrado ser um esporte tradicional com resistência para realizar mu-
danças em suas regras. Leia as informações do quadro, a seguir, e
verifique que poucas alterações foram realizadas em um período de
quase 100 anos (1871-1992), em relação às regras que mudaram a
forma de jogar futebol.
Ano Conteúdo da regra criada
1871
Instituição do goleiro como o único jogador que pode
colocar as mãos na bola e que deve ficar próximo ao
gol para evitar a entrada da bola.
1875 Fixação da duração da partida em 90 minutos.
1891
Criação do pênalti como punição para uma falta reali-
zada dentro da área.
1891
Introdução da participação do árbitro (até então as
controvérsias eram decididas pelos capitães das
duas equipes ou seus delegados).
1912
Proibição dos goleiros pegarem a bola com as mãos
fora da área e obrigação do uso de um uniforme di-
ferente.
1925
Fixação do impedimento como determinação que um
jogador está fora de jogo quando menos de dois ad-
versários estivessem posicionados entre ele e o gol.
1958
Instituição da realização de substituições. Inicialmen-
te a substituição era autorizada somente por motivo
de lesão, mas a partir da década de 1960, a regra foi
suavizada, permitindo a troca de atletas por questões
táticas.
1970
Introdução da aplicação dos cartões vermelho e
amarelo.
1992
Proibição de os goleiros pegarem, com as mãos, as
bolas recuadas propositalmente pelos companheiros,
quando estes utilizam os pés.
Quadro 4 – Conteúdo básico das mudanças nas regras do futebol (1871-1892)
Os dois encontros anu-
ais da IFAB são realiza-
dos em um dos quatro
países do Reino Unido,
sempre respeitando a
rotatividade das sedes
ou em um local definido
pela FIFA, nos anos em
que se disputa a Copa
do Mundo. Na ocasião,
um representante da Fe-
deração de Futebol do
país anfitrião atua como
presidente da reunião.
Conheça mais sobre es-
sas duas reuniões a par-
tir da leitura do texto 4A:
“Sobre as reuniões anu-
ais da International Foo-
tball Association Board
(IFAB) e as mudanças
das regras do jogo”, dis-
ponível na seção “Textos
Complementares”, ao fi-
nal deste Módulo.
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
34
Considerando o período de tempo mostrado no quadro e o conteúdo das modificações
realizadas nas regras do futebol, é possível constatar que as mudanças geralmente atende-
ram a duas finalidades:
yy contribuir para preservar a integridade física dos jogadores;
yy transformar o jogo em um espetáculo mais interessante para o público, com um
maior número de gols.
Agora que você conhece a IFAB e como as regras são mantidas ou modificadas no
futebol, estudaremos alguns aspectos fundamentais sobre a Copa do Mundo da FIFA.
4.2 Copa do Mundo da FIFA: história e características
Como podemos definir a Copa do Mundo? Trata-se de um tor-
neio de futebol masculino realizado pela FIFA, no qual competem ti-
mes formados pela seleção dos melhores jogadores de cada país,
independente do clube no qual atua como profissional.
Este Megaevento é precedido, nos anos anteriores, de elimina-
tórias realizadas a partir dos campeonatos sob a responsabilidade das
seis Confederações Continentais de Futebol associadas à FIFA. Lem-
bra que vimos essas Confederações na Unidade 2, quando discutimos
a estrutura organizacional do futebol no mundo e no Brasil? Por sua
vez, a FIFA define o número de vagas em função do número de países
ligados à cada Confederação e pela repercussão que o futebol possui
em cada continente.
Veja a seguir alguns aspectos importantes para a compreensão
da história da Copa do Mundo.
Chamada de Copa do
Mundo de Futebol em
português brasileiro, esse
Megaevento é denomina-
do Campeonato Mundial
de Futebol (português
europeu); Football World
Cup (inglês); Coupe du
Monde de Football (fran-
cês) e Copa Mundial de
Fútbol (espanhol).
35
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
a) Edições
A Copa do Mundo de Futebol já foi realizada 19 vezes, a primeira em 1930. Desde
o seu início, o evento somente não foi realizado nos anos de 1942 e 1946 devido à
Segunda Guerra Mundial, que aconteceu entre 1939 e 1945. Nas figuras a seguir
são ilustrados os países onde essas edições foram realizadas.
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
36
Vejamos um pouco da história dessas várias edições, destacando alguns números em
relação a elas, para que você tenha uma noção de como cada uma se constituiu em Megae-
vento, tal como ocorrerá com a edição de 2014, no Brasil.
yy Nas Olimpíadas de 1924, houve a primeira disputa de futebol intercontinental, quan-
do equipes europeias puderam enfrentar equipes de outros continentes. A seleção
do Uruguai consagrou-se campeã, feito repetido na Olimpíada seguinte, em 1928;
yy Em 1930, foi realizada no Uruguai a primeira Copa do Mundo de Futebol, compe-
tição criada pela FIFA para permitir a celebração do futebol mundial, com a parti-
cipação de todos os países associados. A competição foi vencida pela seleção do
Uruguai, sendo que muitas seleções europeias desistiram da competição devido à
longa e cansativa viagem de navio pelo Oceano Atlântico;
yy Nas Copas de 1934 e 1938, realizadas na Europa, houve, pelo mesmo motivo, uma
pequena participação dos países sul-americanos;
yy Como ressaltado anteriormente, as edições de 1942 e 1946 foram canceladas de-
vido à Segunda Guerra Mundial.
O Brasil é o único país cuja seleção participou de todas as edições da Copa do Mundo
de Futebol da FIFA.
Ano Local Equipes Jogos Gols Público Campeão Vice
1930 Uruguai 13 18 70 590.549 Uruguai Argentina
1934 Itália 16 17 70 363.000 Itália Tchecoslováquia
1938 França 15 18 84 375.700 Itália Hungria
1950 Brasil 13 22 88 1.045.246 Uruguai Brasil
1954 Suíça 16 26 140 768.607 Alemanha Hungria
1958 Suécia 16 35 126 819.810 Brasil Suécia
1962 Chile 16 32 89 893.172 Brasil Tchecoslováquia
1966 Inglaterra 16 32 89 1.563.135 Inglaterra Alemanha
1970 México 16 32 95 1.603.975 Brasil Itália
1974 Alemanha 16 38 97 1.865.753 Alemanha Holanda
1978 Argentina 16 38 102 1.545.791 Argentina Holanda
37
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Ano Local Equipes Jogos Gols Público Campeão Vice
1982 Espanha 24 52 146 2.109.723 Itália Alemanha
1986 México 24 52 132 2.394.031 Argentina Alemanha
1990 Itália 24 52 115 2.515.215 Alemanha Argentina
1994 EUA 24 52 141 3.587.538 Brasil Itália
1998 França 32 64 171 2.785.100 França Brasil
2002
Coréia do
Sul/Japão
32 64 161 2.705.197 Brasil Alemanha
2006 Alemanha 32 64 147 3.359.439 Itália França
2010
África do
Sul
32 64 145 3.178.856 Espanha Holanda
Quadro 5 – História das Copas do Mundo em números
b) Galeria dos campeões
Ao longo das 19 edições da Copa do Mundo de Futebol, oito seleções já se consa-
graram campeãs mundiais. Veja no quadro a seguir o número de vezes que cada
seleção nacional venceu os jogos.
Campeãs Bicampeãs Tricampeãs Tetracampeã Pentacampeã
Espanha Argentina Alemanha Itália Brasil
França Uruguai
Inglaterra
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
38
Em relação ao quadro das campeãs, é importante fazer as se-
guintes observações:
yy No confronto entre as Confederações Continentais, somente duas
possuem equipes campeãs. A UEFA é a confederação que venceu
a Copa do Mundo de Futebol maior número de vezes, 10 ao todo,
enquanto a CONMEBOL venceu nove vezes;
yy A disputa pela supremacia no futebol mundial, até o momento, ocor-
re entre seleções que representam o continente europeu e as se-
leções sul-americanas;
yy As vitórias da UEFA foram conquistadas por cinco seleções dife-
rentes: Itália (4), Alemanha (3), França, Inglaterra e Espanha. Por
sua vez, as vitórias da CONMEBOL estão concentradas em três
seleções: Brasil (5), Uruguai (2) e Argentina (2);
c) Periodicidade
A Copa do Mundo de Futebol é realizada a cada quatro anos e pre-
cedida pela realização da Copa das Confederações, como a que
aconteceu no Brasil, em 2013. No período entre duas Copas do
Mundo de Futebol, as Confederações Continentais realizam os tor-
neios para definir qual é a seleção campeã de cada continente, o
que as classifica para a próxima Copa do Mundo de Futebol.
d) Vagas
São distribuídas entre as seis Confederações continentais e, antes
de cada edição, a FIFA decide quantas vagas cada zona continen-
tal terá direito, mais uma vaga para o país sede, único com vaga
garantida. Normalmente uma ou duas vagas são reservadas para
os ganhadores do sistema eliminatório, conhecidos como play-offs
internacionais.
Antigamente os campeões das edições anteriores eram automati-
camente classificados para a próxima Copa, a partir da edição de
2006 essa regra não é mais aplicada e o campeão é obrigado a se
classificar normalmente como qualquer outra seleção.
e) Participantes
Participam do evento 32 seleções nacionais, que disputam 64 parti-
das em duas fases. Esse formato da competição foi adotado a partir
da Copa do Mundo de 1998, realizada na França.
O estilo de jogo sulameri-
cano, com destaque para
o brasileiro, é diferente
do europeu. As compara-
ções entre os dois estilos
de jogo deu margem à
criação do paradigma que
contrapõe o futebol-arte,
típico do Brasil, com o fu-
tebol-força, característica
da Europa.
O futebol-arte se carac-
teriza pela criatividade
tática, qualidade técnica
dos jogadores e jogadas
individuais que provocam
um desequilíbrio no jogo.
Por sua vez, o futebol-
força se fundamenta em
uma preparação física
esmerada, na disciplina
tática dos jogadores e em
jogadas coletivas que de-
monstram a sinergia da
equipe durante os jogos.
A fase do play-offs cor-
responde à repescagem
e é a última oportunidade
para que as seleções que
não obtiveram a classifi-
cação nos torneios con-
tinentais, consigam uma
vaga para a Copa do
Mundo de Futebol.
39
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
No quadro a seguir você tem acesso a informações sobre o número de vagas destina-
do a cada Confederação Continental de Futebol e quais foram as seleções nacionais classi-
ficadas para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil.
Continente Sigla Vagas Participantes em 2014
África CAF 5
Argélia, Camarões, Costa do Marfim,
Gana e Nigéria
América do Norte,
Central e Caribe
CONCACAF 3,5
Costa Rica, Estados Unidos da
América, Honduras e México
América do Sul CONMEBOL 4,5
Argentina, Brasil*, Chile, Colômbia,
Equador e Uruguai
Ásia AFC 4,5 Austrália, Irã, Coreia do Sul e Japão
Europa UEFA 13
Bósnia e Herzegovina, Bélgica,
Croácia, Inglaterra, Espanha, França,
Alemanha, Grécia, Holanda, Itália,
Portugal, Rússia e Suíça.
Oceania OFC 0,5
____
Quadro 6 – Cidades-sede e estádios da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014
*Vaga garantida pelo Regulamento por ser o país sede.
f) Duração
A competição da Copa do Mundo de Futebol de 2014 terá 31 dias de duração. Seu
início está agendado para quinta-feira, dia 12 de junho de 2014, com o jogo entre o
país sede, Brasil, e a seleção da Croácia, na Arena de São Paulo.
Com exceção do dia abertura oficial, quando será realizado apenas um jogo, nos 14
dias seguintes da competição, está prevista a realização de três ou quatro jogos por
dia, sem nenhum dia de interrupção. Isto significa que teremos uma agenda cheia
de jogos que permitem a avaliação técnico-tática das equipes.
O término da 1a
fase de grupos será no dia 26 de junho, outra quinta-feira.
O dia 27 de junho está reservado para um descanso antes do início da 2a
fase do
torneio, logo, não tem prevista a realização de nenhum jogo.
A 2a
fase, eliminatória simples, inicia no dia 28 de junho, sábado. Nela ocorrerão
quatro etapas com dois dias de intervalo entre cada uma delas.
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
4040
Nas duas primeiras etapas está prevista a realização de dois jogos por dia, sendo
a primeira etapa (oitavas de final) com quatro dias de duração e a segunda etapa
(quartas de final) com dois dias de duração.
Na semifinal e na final teremos a realização de um único jogo por dia.
A disputa de 3o
e 4o
lugares será no dia 12 de julho e a grande final da Copa do
Mundo de Futebol, no dia 13 de julho de 2014, domingo.
g) Sistema de disputa – primeira e segunda fases
yy Na primeira fase da competição as seleções nacionais se enfrentam, em um sis-
tema de rodízio, no qual todos jogam contra todos, dentro dos seus respectivos
grupos. As 32 seleções estão divididas em oito grupos com quatro times. As oito
seleções consideradas mais fortes são consideradas como cabeça de chave de
cada grupo e as outras são sorteadas. Nessa fase, classificam-se as duas me-
lhores seleções de cada grupo, logo, 16 seleções serão eliminadas e 16 seleções
permanecem na competição.
yy Os jogos podem terminar com a vitória de uma equipe ou com empate.
yy Na segunda fase, adota-se outro sistema de disputa, a eliminatória simples, na
qual quem ganha é classificado e quem perde é desclassificado. Esse sistema
de disputa é apelidado de “mata-mata”, pois cada jogo é decisivo e, portanto, não
pode mais haver empate.
yy Caso o jogo termine empatado no tempo regulamentar (90 minutos), deve ser rea-
lizada uma prorrogação com, obrigatoriamente, 30 minutos de duração. Não está
previsto o recurso do “gol de ouro”, quando a prorrogação é interrompida em caso
de gol. Persistindo o empate, o resultado é definido por meio da cobrança de pena-
lidades máximas. Sendo assim, na segunda fase da Copa do Mundo de Futebol é
impossível a realização de um jogo sem a marcação de gols.
yy A segunda fase está dividida em quatro estágios, como especificado a seguir:
yy nas oitavas de final e nas quartas de final, os vencedores passam para o próximo
estágio e os perdedores são eliminados;
yy na semifinal os vencedores disputam a final (campeão e vice-campeão) e os per-
dedores fazem um jogo antes da final para decidirem o 3º e o 4º lugar.
yy O time campeão joga sete (7) partidas. Pode até perder um dos três primeiros jogos
da fase inicial, mas depois, na segunda fase, ele precisa ganhar os quatro jogos
para ser campeão.
yy Entenda os termos utilizados para se referir às etapas da Fase Final:
yy são classificados 16 times para a fase final, que irão disputar oito jogos; em função
do número de jogos, essa etapa é denominada de oitavas de final, mas a FIFA
também se refere a ela como a Fase de 16 times;
yy o mesmo raciocínio é aplicado nas quartas de final, quando oito times disputam
quatro jogos;
yy as duas partidas da semifinal indicam as seleções que vão disputar o título de
campeã, como também, as que vão disputar o 3o
e 4o
lugares da competição;
41
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
yy a etapa final reúne as duas seleções que não possuem nenhuma derrota na fase
final da competição.
h) Cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA 2014
Veja no quadro a seguir os nomes das cidades-sede e dos estádios/arenas em que
serão realizados os jogos.
CIDADE- SEDE NOME DO ESTÁDIO OU ARENA
Belo Horizonte – MG Estádio Mineirão
Brasília – DF Estádio Nacional Mané Garrincha
Cuiabá – MT Arena Pantanal
Curitiba – PR Arena da Baixada
Fortaleza – CE Estádio Castelão
Manaus – AM Arena Amazônia
Natal – RN Estádio das Dunas
Porto Alegre – RS Estádio Beira-Rio
Recife – PE Arena Pernambuco
Rio de Janeiro – RJ Estádio do Maracanã
Salvador – BA Arena Fonte Nova
São Paulo - SP Arena de São Paulo
Quadro 7 – Cidades-sede e estádios da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014
i) Antidoping ... ou todo cuidado é pouco!
A análise das amostras de sangue e urina dos jogadores na
Copa do Mundo não será realizada por um laboratório no
Brasil. A Associação Mundial Antidoping/WADA credenciou
um laboratório em Lausanne, na Suíça, capaz de utilizar a
nova estratégia de luta considerada como a mais adequada
contra o doping: a dopagem por meio do módulo de esteróides
do Passaporte Biológico do Atleta. A FIFA está tomando as
providências logísticas necessárias para o envio de amostras
ao exterior.
O Passaporte Biológico pode ser descrito como um arquivo
de resultados dos exames periódicos realizados pelos atletas
profissionais, sendo composto por três módulos:
O passaporte biológico
leva em conta o princí-
pio de estabilidade que
caracteriza a fisiologia
do ser humano. Caso
haja alguma discrepân-
cia de resultados entre
os exames, são toma-
das providências para
acompanhar os atletas
considerados suspeitos.
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
42
yy sanguíneo, que visa detectar qualquer tipo de substâncias proibidas no sangue;
yy esteroide, que identifica a presença de anabolizantes no organismo.
yy endócrino, que verifica se existem alterações relacionadas ao hormônio do cresci-
mento.
Por último, vale lembrar que alguns atletas já foram punidos com a
utilização do passaporte como parâmetro de combate ao doping. Por
isso, como alerta o subtítulo deste tópico: com esta questão todo cui-
dado é pouco!
Nesta Unidade, você estudou elementos importantes que carac-
terizam a Copa do Mundo de Futebol, com destaque para a que será
realizada no Brasil, em 2014. Em um primeiro momento, discutimos o
papel da IFAB (International Football Association Board) em relação à
evolução das regras do futebol. Vimos que, em geral, o futebol é um
esporte que revela certa resistência em relação às alterações de suas
regras como esporte.
Em um segundo momento, você aprendeu diversos conteúdos sobre a história e a
organização da Copa do Mundo de Futebol de 2014, um dos maiores eventos esportivos do
mundo. Para tanto, estudou como aconteceram as várias edições desse Megaevento nas
19 edições que foram realizadas, antes desta que acontecerá no Brasil, e em relação à qual
você tem a expectativa de ser convocado para atuar como voluntário.
Ao estudar os temas abordados nesta Unidade, você teve a oportunidade de analisar
elementos-chaves para a compreensão da Copa do Mundo de Futebol, como a galeria dos
campeões, vagas, periodicidade, participantes, duração, sistema de disputa (na 1ª e 2ª fa-
ses) as cidades-sede e o antidoping.
Chegamos ao término da Unidade 4, agora é só testar seus conhecimentos e concluir
o Módulo!
Para conhecer mais so-
bre o assunto, na seção
Textos Complementares,
você tem disponível al-
gumas curiosidades so
-bre a Copa do Mundo de
Futebol.
43
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Teste seus conhecimentos
ATIVIDADE 1
A Copa do Mundo é um Megaevento que assume grande importância tanto
para o país que a sedia quanto para aqueles que participam da competição.
Partindo desta ideia, avalie as afirmativas a seguir.
	 I.	 A Copa de 1930 ocorreu no Uruguai e contou com um pequeno número
		 de seleções europeias.
	 II.	 A primeira Copa do Mundo foi realizada em 1924, contando com poucas
		 partidas de futebol.
	 III.	 O acontecimento da Segunda Guerra Mundial impediu a realização das
		 Copas de 1942 e 1946.
	 IV.	O Brasil é o único país cuja seleção chegou a participar de todas as
		 edições da Copa do Mundo.
	 V.	 A Copa do Mundo já teve 19 edições, tendo a última ocorrido na África
		 do Sul, em 2010.
É correto APENAS o que se afirma em:
	 a)	 I, II e III
	 b)	 I, III e IV
	 c)	 I, II, IV e V
	 d)	 I, III, IV e V
	 e)	 II , III, IV e V
ATIVIDADE 2
Considerando os estudos realizados, julgue a afirmativa a seguir.
Dentre as 32 vagas para participação na Copa do Mundo de Futebol somente
duas estão previamente definidas: a seleção do país que será a sede da
competição e a seleção campeã na competição anterior.
( ) Verdadeiro 		 ( ) Falso
Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol
44
Chegamos ao final do Módulo História do Futebol e Megaeventos! Quantos
conhecimentos foram construídos por você visando à compreensão da relação
entre futebol e esporte, no contexto da Copa do Mundo da FIFA!
Você aprendeu sobre semelhanças e diferenças entre os conceitos jogo e
esporte, de forma que é capaz de entender as transformações sofridas
pelo futebol e pelo esporte de uma maneira geral. Certamente percebeu
que, ao longo desse processo, o futebol, que no início era um jogo, vai se
transformando, aos poucos, em um esporte.
Aprendeu, também, que há outras manifestações esportivas além do esporte
de rendimento, que devem merecer igual atenção do poder público e da
sociedade em geral para a sua efetiva estruturação: o esporte educacional e
o esporte de participação.
Estudou sobre a história do futebol, que pode ser apontada como um exemplo
do processo de difusão do esporte, como também, alguns detalhes sobre a
estrutura responsável pela sua organização no mundo e sobre a entidade que
elabora e faz a revisão das regras.
Outro tema importante discutido foi a importância do Fair Play para que o
esporte continue a ser uma atividade comprometida com o desenvolvimento
ético e moral do ser humano.Todos nós temos uma parcela de responsabilidade
com os princípios do Fair Play.
Ao estudar sobre a história da Copa do Mundo da FIFA, como você pode
ver ao longo do Módulo, ela está marcada pela grande busca em oportunizar
a integração dos povos, bem como relacionada a diversos interesses que
envolvem o esporte na atualidade.
Desejamos que você seja um voluntário e possa ter sucesso nessa honrosa
tarefa, utilizando os conhecimentos construídos ao longo das várias Unidades
que compuseram este Módulo! A partir dessa experiência você poderá deixar
de ser uma pessoa que estuda e aprecia a Copa do Mundo de Futebol para
ser alguém que faz parte dessa história e ajuda a escrevê-la.
Muito mais do que os conhecimentos contidos nesse Módulo, o sucesso da
atuação como voluntário pode ser creditado ao espírito de solidariedade e o
desejo de contribuição que caracterizam o brasileiro, senão todos, pelo menos
os brasileiros como você.
Sucesso em sua trajetória!
Certamente você construiu muitos conhecimentos ao estudar os
temas abordados neste Módulo! Vamos colocar em prática no Fórum
Temático o que você aprendeu? Em interação com seus colegas,
você poderá ampliar seus conhecimentos.Afinal, sempre aprendemos
com o coletivo!
45
Textos
Complementares
Semelhanças entre jogo e esporte
A identificação do que aproxima o jogo do esporte indica quais são os aspectos que
devem ser preservados para garantir que cada um deles, tanto o jogo como o esporte,
continuem a estar vinculados aos significados presentes em suas raízes sócio-culturais.
As palavras jogo e esporte costumam ser utilizadas como sinônimos, para se referir a
atividades que possuem cinco características comuns:
a)	 atividade livre, conscientemente tomada como exterior à vida habitual; construída
para ser uma escolha para quem joga e que os coloca em oposição às obrigações
com a produção de algo que não esteja relacionado com o próprio jogo;
b)	 atividade prazerosa capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total; isso
explica o desejo ininterrupto de participação no jogo como forma de vivenciar
novamente a necessidade de comprovar que é capaz de fazer de novo uma mesma
façanha esportiva;
c)	 atividade com regras praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios,
segundo determinada ordem; a regra garante o exercício da criação de um senso
estético relacionado às proezas corporais e, ao mesmo tempo, um senso ético,
que põe à prova as qualidades do jogador para superar-se, a partir de regras
previamente definidas e auto-impostas;
d)	 atividade social que promove a formação de grupos de pessoas que se unem
para participar juntos da atividade lúdica, mesmo que tenham que atuar como
adversários;
e)	 atividade de desafio em que os participantes sempre se esforçam para fazer o
melhor que estiver ao seu alcance.
Textos Complementares
46
A orgiem do futebol: a contribuição dos ingleses
A formação de um time é o ponto de partida para, depois, ser criado um clube. Os
clubes se reúnem em associações que têm por finalidade congregar diversos times em
torno da cultura própria de uma modalidade esportiva. Dentre as principais ações das
associações esportivas, destacam-se a definição e padronização das regras e a organização
de campeonatos.
Em 1863, sob a liderança de Ebenezer Morley, representantes de 12 clubes ingleses
se reuniram com o objetivo de criar um regulamento comum para disciplinar a prática do
futebol, tanto na Inglaterra como em outros lugares do mundo.
À época, onze clubes chegaram a um consenso para estabelecer quatorze regras
do novo regulamento para a prática do futebol fundaram a Football Association, órgão que
rege até hoje o futebol na Inglaterra. A principal finalidade da associação recém-criada era
diferenciar essa proposta de jogo de outras formas de jogar futebol naquele tempo.
No esporte ter regras comuns facilita a realização de campeonatos para interação
entre os clubes e preserva a identidade do jogo quando é ensinado para outras pessoas.
Essa iniciativa garante a difusão do esporte sem que existam distorções.
Todavia, um clube dissidente criou outra associação que deu origem ao rúgbi – esporte
coletivo de intenso contato físico entre os jogadores, concebido como uma variação do futebol.
A discordância foi motivada por dois pontos para diferenciar o futebol (soccer) do rúgbi: (i)
o uso dos pés (futebol) ou o uso das mãos e pés (rúgbi) como a técnica de ataque para
transportar a bola; (ii) a disputa da bola sem contato corporal direto (futebol) ou a permissão
de segurar o adversário (rúgbi) como a técnica de defesa para impedir a progressão do
ataque adversário.
A expressão inglesa soccer, utilizada para designar os praticantes de futebol, de forma
a diferenciá-los dos praticantes de rúgbi, é uma abreviatura adotada pelos estudantes das
escolas inglesas derivada de “association”, que se refere às pessoas que faziam parte de
uma mesma associação esportiva. O termo soccer é majoritariamente usado nos países de
língua inglesa para designar a nossa maneira de jogar futebol, enquanto a palavra football é
utilizada para se referir ao “futebol americano”, originado do rúgbi.
Pela conjugação desses aspectos, o ano de 1863 é considerado por muitos como a
data que historicamente marca a criação das regras que deram origem ao futebol, em suas
diversas formas de jogar.
47
História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
Profissionalização do futebol e contraposição histórica entre
o amadorismo e prática do esporte
Em função da origem aristocrática do esporte, como uma atividade de lazer da elite
inglesa, inicialmente, os times de futebol brasileiros eram formados apenas de pessoas de
pele branca, dado o fato de a maioria dos clubes ter sido fundada por estrangeiros.
Assim, a recriação moderna do esporte está comprometida com uma lógica amadora,
que tem como preocupação principal caracterizar o esporte como uma atividade de lazer –
sem a influência considerada negativa de interesses financeiros.
No Brasil, a década de 1920 é considerada o marco para a popularização do futebol.
A procura por melhores jogadores transformou a lógica inicial do amadorismo, que motivou
a formação dos times. Para o esporte, as barreiras sociais não têm significado, pois dentro
de campo é a habilidade para jogar que define a importância que o jogador tem para o time.
Mas, nem sempre o esporte possui força suficiente para superar contradições sociais.
Nessa época, em que o conceito de difusão do esporte era a principal diretriz, não havia sen-
tido falar em restrições sociais para a prática do esporte. Dessa forma, os jogadores negros
que demonstraram destreza para a prática do esporte começaram a ser aceitos nos clubes
de futebol. Os times baianos, por exemplo, já contavam com jogadores negros e o Vasco da
Gama foi o primeiro dos clubes grandes do Rio de Janeiro a vencer títulos com uma equipe
repleta de jogadores negros, oriundos de uma classe social de baixa renda.
Todavia, se no início era expressamente proibido qualquer tipo de contrapartida finan-
ceira para as pessoas que se dedicavam ao esporte, com o argumento de que o amor pelo
jogo deveria ser a única motivação dos jogadores, essa realidade muda com o passer do tem-
po. Isto porque a necessidade de conceder algum tipo de apoio econômico aos jogadores de
baixa renda deu origem, no Brasil, à expressão amadorismo marrom, fase intermediária entre
o amadorismo e a profissionalização do futebol.
Neste contexto, a ajuda de custo não se caracterizava como salário, mas reconhecia
que o jogador precisava de alguma compensação financeira que lhe desse condições para
se dedicar ao esporte sem comprometer a sua renda pessoal e o sustento de sua família.
Outro dado a considerer é que a preocupação em melhorar o desempenho das equi-
pes criou, portanto, a oportunidade para pessoas de outras classes sociais, que não eram
sócias dos clubes de elite, fossem convidadas para jogar e representar o clube nos campeo-
natos. No caso do futebol, esse foi um dos elementos que favoreceu a profissionalização do
esporte e a participação de pessoas de todas as classes sociais.
A popularidade alcançada pelo futebol pode estar relacionada com o seu jeito simples
de jogar. Em geral, basta uma bola, alguns jogadores e as traves, para que, em diversos es-
paços, crianças e adultos comecem a brincar de futebol.
Entretanto, na atualidade, o esporte está associado a uma série de interesses econô-
micos e políticos. O prestígio gerado pelas conquistas esportivas e as repercussões financei-
ras decorrentes transformam o futebol, e outras modalidades esportivas, em um espetáculo
que mobiliza a atenção de um número cada vez maior de pessoas.
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  • 1. Ministério do Esporte história do futebol e Megaeventos Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos
  • 2. Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Educação Física história do futebol e Megaeventos Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos CARGA HORÁRIA: 20 horas/aula AUTORES: Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende – Universidade de Brasília (UnB) Luciano Silva – Universidade de Minas Gerais (UFGM) Georgino Neto – Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Universidade de Brasília Março, 2014
  • 3. Ministério do Esporte - Ministro do Esporte José Aldo Rebelo Figueiredo Secretário da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social Ricardo Capelli Gerente do Programa Brasil Voluntário Sarah Carvalho Universidade de Brasília - Reitor Ivan Marques de Toledo Camargo Vice-reitora Sônia Nair Báo Coordenação Geral do Projeto Desenvolvimento de Processos Inovadores Para Formulação de Políticas Públicas de Voluntariado em Megaeventos Thérèse Hofmann Gatti Rodrigues da Costa (Decana de Extensão da Universidade de Brasília) Cecília Leite (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT) Realização Faculdade de Ciência da Informação (FCI-UnB), Faculdade de Educação Física (FEF-UnB), Centro de Excelência em Turismo (CET-UnB), Instituto de Psicologia (IP-UnB), Instituto de Ciências Biológicas (ICB-UnB) Instituto de Letras (LET-UnB). Colaboração na Pesquisa Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF), Centro de Produção Cultural e Educativa (UnBTV), Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP), Childhood Brasil. Customização do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle Equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Organização Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília – CEAD-UnB Diretora Wilsa Maria Ramos Coordenadora da Unidade de Pedagogia Simone Bordallo de Oliveira Escalante Gestão Pedagógica do curso Rute Nogueira de Morais Bicalho Professor Colaborador José Vieira de Sousa Gerente do Núcleo de Tecnologia Eduardo Diniz Gestão Ambiente Virtual de Aprendizagem Danilo Santana, Fabiano Rocha de Moraes Núcleo de Tecnologia João Paulo Andrade Lima, Wesley Gongora Help Desk Karla Almeida, Luana Messias
  • 4. R467 História do Futebol e Megaeventos / Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende, Luciano Pereira da Silva, Georgino Jorge de Souza Neto. – Brasília: Universidade de Brasília, Decanato de Extensão, CEAD, 2014. (Curso de Capacitação para o Voluntariado em Megaeventos) Disponível em: <ead.brasilvoluntario.gov.br> Título da página da WEB (acesso em 10 mar. 2014). ISSN: I. Silva, Luciano Pereira da. II. Souza Neto, Georgino Jorge de. III. Série. CDU 338.48-61 Gerente do Núcleo de Produção de Materiais Didáticos Jitone Leônidas Soares Revisão de texto Letícia Barcelos de Oliveira Marcela Margareth Passos da Silva Natália Tissiani Calderon Ramos Sílvia Urmila Almeida Santos Ilustração Tiago Botelho Web Designer Marcelo Horacio Fortino Designer Instrucional Amaliair Cristine Atallah Diagramação Carla Clen Apoio à produção de vídeos e multimídia Jean Lima Designer gráfico e animador 2D Cristiano Alves de Oliveira Relatórios Estatísticos Dione Ramos Canuto Moura Todos direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.
  • 5. Sumário Apresentação____________________________________________________ 5 Unidade 1 O Futebol como elemento da Cultura Brasileira_________________ 7 1.1 Futebol e identidade do ser brasileiro ________________________ 7 1.2 Características e diferenças básicas entre jogo e esporte________ 10 Unidade 2 Referências históricas do futebol no Brasil____________________ 15 2.1 Relatos históricos e difusão da prática do futebol no Brasil_______ 16 2.2 Estrutura organizacional do futebol________________________ 18 Unidade 3 Fair Play e manifestações esportivas________________________ 21 3.1 Fair Play: significado e princípios_________________________ 21 3.2 Ameaças e responsabilidades implícitas ao Fair Play__________ 23 3.3 O torcer e suas manifestações___________________________ 25 3.4 O esporte e suas manifestações na legislação brasileira________ 26 Unidade 4 O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol________ 31 4.1 A IFAB e a evolução das regras do futebol____________________ 32 4.2 Copa do Mundo da FIFA: história e características_____________ 34 Textos Complementares__________________________________________ 45 Referências _____________________________________________________ 54
  • 6. 5 Apresentação Seja bem-vindo(a) ao Módulo História do Futebol e Megaeventos! Nesse Módulo abordaremos alguns temas visando fornecer a você informações gerais sobre o esporte e o futebol. A discussão desses temas é de grande importância porque con- tribui para o seu crescimento pessoal e auxilia o voluntário esportivo em sua atuação durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Para tanto, o conteúdo é abordado em quatro Unidades, como explicitado a seguir. A Unidade 1 apresenta elementos que ajudam a compreender o futebol como um ele- mento da cultura brasileira e suas repercussões sobre a identidade do povo brasileiro. Além disso, analisa as características e diferenças básicas entre o jogo e o esporte. A Unidade 2 discute referências importantes sobre a história e difusão do futebol no Brasil e outros elementos que ajudam a compreender a estrutura organizacional desse es- porte. A Unidade 3 propõe uma reflexão sobre o Fair Play, destacando as responsabilidades do jogador e das demais pessoas relacionadas com o esporte quanto à preservação da ética do jogo limpo e leal. Reflete, ainda, sobre o significado de torcer e as manifestações do es- porte na legislação brasileira. A Unidade 4 trata da temática Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, na perspectiva de ajudar você a conhecer a história e detalhes sobre a organização desse Megaevento como um dos maiores acontecimentos esportivos do mundo. Ao longo do texto, você encontrará ícones que sinalizam o destaque de informações complementares importantes. Recomendamos essa leitura, pois será útil e lhe ajudará muito. Ao final de cada Unidade de estudo, você poderá fixar o conteúdo e verificar sua aprendizagem, por meio de questões apresentadas no “Teste seus Conhecimentos”. Sucesso em seus estudos!
  • 7.
  • 8. 7 Unidade 1 O Futebol como elemento da Cultura Brasileira Iniciaremos o estudo deste Módulo discutindo sobre o papel que o futebol exerce na cultura brasileira, visto ser ele a modalidade esportiva mais difundida no Brasil. Todos nós sabemos o quanto esse esporte está presente no cotidiano do brasileiro. 1.1 Futebol e identidade do ser brasileiro O futebol é um importante elemento da cultura nacional, sendo vivenciado pelas pessoas de formas variadas. Para problematizá-lo como manifestação cultural, refletiremos, neste tópico, sobre a dinâmi- ca do esporte e do futebol na sociedade atual. Perceber este esporte como elemento da cultura nacional sig- nifica valorizá-lo, pois a cultura, uma das principais características hu- manas, pode ser entendida como tudo o que o homem realiza. É aquilo que é produzido pela humanidade, seja de ordem material ou imaterial e que, em grande medida, é transmitido de geração a geração. Assim, o futebol é fruto da ação humana, tendo significado para as pessoas e compondo a herança cultural que influencia o comportamento delas. Todos os países do mun- do, raças, grupos huma- nos, famílias, classes profissionais, possuem um patrimônio de tradi- ções que se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo cos- tume. Esse patrimônio é milenar e contempo- râneo. Cresce com os conhecimentos diários desde que se integrem nos hábitos grupais, do- mésticos ou nacionais. (CÂMARA CASCUDO, 1967, p. 9.).
  • 9. Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira 8 Como elemento cultural, o futebol é plural, apresentando-se de formas variadas. Sobre as diferentes formas do esporte se manifestar, um importante pesquisador do tema, Jorge Bento, escreveu: O desporto não existe mais no singular, mas sim no plural. É plural no que se concerne a motivações, a intenções, a finalidades, a condições, a mo- delos; é por isso desporto de rendimento, desporto de recreação e lazer, desporto de reeducação e reabilitação, desporto referenciado a educação (BENTO, 1993, p. 17). A pluralidade de manifestações que o esporte pode ter leva-nos a enxergá-lo como um fenômeno complexo, que não deve sofrer avaliações superficiais. Tal complexidade do fenô- meno esportivo nos ajuda a desconfiar, por exemplo, daqueles que atribuem a ele virtudes naturais como a crença de que o esporte é sempre positivo, gerando sempre bons efeitos. Ao estudar as diversas manifestações do futebol como elemento que contribui para compreender a identidade cultural do povo brasileiro, você perceberá a relação desta temática com as discussões feitas no Módulo Hospitalidade e Turismo. Isso pode ser feito quando estudar, nesse Módulo, a relação existente entre turismo e diversidade cultural. Mesmo reconhecendo que o esporte pode apresentar muitos aspectos positivos, como a prática de atividades físicas, a sociabilização e a aquisição de valores morais, não podemos negar que ele também pode estar relacionado a questões negativas. Dentre estas, destacam- se a violência, o consumo de substâncias ilegais e prejudiciais à saúde para obter melhor desempenho e práticas ilegais de manipulação de resultados de campeonatos oficiais. Assim, os efeitos do fenômeno esportivo não são únicos e estão diretamente relacionados aos usos que as pessoas fazem dele. Veja como outro pesquisador do esporte aborda esta questão: O desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si mesmo nem socializante nem anti-socializante. É conforme: ele é aquilo que se fizer dele. A prática do judô ou do rugbi pode formar tanto patifes como homens perfeitos preocupados com o “fair-play” (PARLEBÁS, 1997, p. 12). Outro equívoco frequentemente apontado por estudiosos é a defesa de que praticar uma atividade esportiva (no caso, o futebol) é sempre melhor do que assistir. Tal visão equivocada baseia-se na crença de que o expectador assume uma postura passiva diante do fenômeno, sendo ele visto como um mero consumidor, enquanto o praticante adota uma postura ativa. Entretanto, em outra visão, atividade e passividade não estão necessariamente relacionadas, respectivamente, a praticar e assistir. Conforme afirma Marcellino (1996), ser ativo ou passivo em uma atividade depende do nível de consciência do que se está fazendo e da postura crítica do indivíduo diante da atividade.
  • 10. 9 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos A apropriação dos elementos culturais atrelados ao universo do futebol independe da prática e/ou do consumo, mas da capacidade crítica que possuímos para praticar e/ou consumir o fenômeno. O acesso qualificado às informações e o processo educativo/formativo das pessoas podem colaborar para o fortalecimento de um olhar crítico dos sujeitos sobre a compreensão das diversas vivências culturais atreladas ao futebol. Diante do que foi discutido, podemos entender que, como uma das possíveis manifestações esportivas, o futebol é um fenômeno complexo e plural que possui grande evidência na nossa sociedade. Ele está diariamente na televisão, nos jornais, nas conversas infor- mais, dentre outros. Também é importante destacar que, apesar da proeminência do futebol profissional, ele vai muito além do que é praticado em jogos oficiais, dentro das “quatro linhas”, uma vez que as pessoas podem se relacionar com o futebol de formas muito distintas. Vejamos como: jogadores (profissionais ou não), torcedores, pesquisadores do tema e outros profissionais que trabalham direta ou indiretamente com o futebol, entre outros, são indivíduos diversos que têm o futebol inten- samente presente em suas vidas, de forma peculiar. A força que o futebol possui como elemento cultural faz com que ele seja encarado por muitos como um elemento da identidade do povo brasileiro. Identidade no sentido de algo que traz unidade, que promove unificação por ideias comuns, no caso a paixão pelo futebol. Nesta perspectiva, em certa medida, o futebol aproxima as pes- soas. Isso fica evidente ao observarmos a aproximação entre pessoas que torcem pelo mesmo time, que se encontram para praticar o futebol como lazer (ação comumente denominada de “peladas”), ou que se unem para torcer pela seleção brasileira em uma competição inter- nacional (como a Copa do Mundo). Outro exemplo? O próprio fato de você, como um grande número de pessoas, predispor-se a passar por uma capacitação como esta na expectativa de ser convocado para atuar como voluntário na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014! À medida que o futebol aproxima as pessoas, ele ajuda a promover a interação e a troca de experiências diversas. Dessa forma, pode fazer com que ocorra, por exemplo, a integração entre diferentes gerações – idosos, adultos, jovens e crianças. É importante, no entanto, que essa interação ocorra com respeito, responsabilidade e permeada por valores que contribuam para dignificar as relações criadas pelas práticas esportivas. Este mesmo cuidado deve ser tomado por ocasião da realização de Megaeventos dos quais participem crianças e adolescentes. Um curioso exemplo da amplitude de possi- bilidades de vivenciar o futebol é a prática do futebol virtual. Encarado por muitos como uma atividade de crianças e adolescentes, na verda- de, ele possui, no Brasil, milhares de pratican- tes de todas as idades e conta ainda com uma Confederação Nacional, desde 2005. No primeiro campeonato organizado por esta entidade, o ven- cedor foi premiado com um carro 0 Km, além de passagens aéreas para participar do campeona- to mundial realizado na França.
  • 11. Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira 10 Exploração sexual não é turismo, é crime. Entre em campo pelos direitos de crianças e adolescentes. Se você presenciar qualquer violação de direitos, denuncie, ligue 100. Para mais informações, estude o Módulo Hospitalidade e Turismo ou acesse: www.childhood.org.br Entretanto, entender o futebol como elemento da identidade cultural do brasileiro não significa afirmar que os interesses de toda a população são levados em consideração, estan- do presentes nas várias manifestações do futebol. Isto porque a história tem mostrado como as relações identitárias também são permeadas por interesses políticos e econômicos, bem como por disputas de poder. Desta forma, mesmo que muitos desejem assistir grandes espetáculos de futebol pre- sencialmente, tais eventos possuem barreiras econômicas que impedem o acesso demo- crático a esta vivência. O que importa aqui afirmar é que, de modo geral, o brasileiro possui uma intensa relação com o futebol. Conforme Toledo (1994), “outros países podem gostar tanto de Futebol como o Brasil, mas em nenhum a vida se confundirá com o Futebol como no Brasil” (p. 23). 1.2 Características e diferenças básicas entre jogo e esporte Como vimos no tópico anterior, o futebol faz parte da identi- dade cultural do ser brasileiro. Veja, então, como a realização do Me- gaevento Copa do Mundo da FIFA 2014 no Brasil assume importância, considerando o conjunto dos jogos que serão realizados nas várias cidades-sede! Mas será que jogo e esporte são atividades diferentes? A difer- enciação conceitual entre jogo e esporte é importante porque contribui para descrever algumas práticas corporais que, apesar de muito se- melhantes, possuem especificidades que precisam ser esclarecidas. Porém na discussão desses conceitos é preciso ter cuidado. Não é o caso de separar algumas atividades que são esportes de outras que são jogos, como se fossem duas atividades totalmente dis- tintas. Isto porque a diferença não está na atividade em si mesma e sim no contexto e nas finalidades que caracterizam cada atividade lúdica. Na prática, uma mesma atividade lúdica pode ser classificada dentro de um eixo em que os conceitos de jogo e esporte estão nos extremos. Então, de acordo com o contexto, a atividade ora a apro- xima, ora se afasta de cada um desses conceitos, como ilustrado no esquema a seguir, em relação ao futebol. Até mesmo em uma ati- vidade considerada de lazer, como no caso de um jogo informal de vo- leibol na praia, a possibili- dade do envolvimento de pessoas desconhecidas depende da resposta à seguinte questão: tenho condições pessoais de participar desse jogo, sem criar um desequilí- brio? Caso essas habili- dades sejam muito supe- riores ou muito inferiores, o jogo pode terminar não tendo mais sentido e, por- tanto, interrompido.
  • 12. 11 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Jogo Futebol entre amigos durante um churrasco. Futebol praticado regularmente entre colegas de trabalho sem times pré-definidos. Futebol entre times formados para participar de um campeonato do clube. Esporte Futebol entre times que treinam de forma sistemática e participam de campeonatos oficiais. A diferenciação entre jogo e esporte exige, portanto, a análise do contexto e do signi- ficado que a atividade lúdica possui para aqueles que estão envolvidos com a sua prática. O conceito de esporte deve ser utilizado para fazer referência a uma prática corporal que assumiu alguns traços a partir dos tempos modernos, enquanto o conceito de jogo se aplica para nomear diversas outras manifestações culturais de caráter lúdico, ao longo da história de cada povo. Apontaremos, a seguir, algumas diferenças que merecem atenção e podem ser utiliza- das para estimular uma reflexão sobre as especificidades que marcam o jogo e o diferenciam do esporte, apesar de não ser uma classificação rigorosa. a) O jogo tem regras flexíveis, enquanto o esporte tem regras fixas. Jogo é uma atividade lúdica considerada divertida, que possui regras que podem variar para permitir o alcance de sua finalidade: favorecer o exercício ou o teste das habilidades corporais e da astúcia dos jogadores. Assim, o jogo é uma modalidade de interação do homem com o ambiente ou com outros homens que tem um papel chave no desenvolvimento humano. Esporte, por sua vez, é uma atividade lúdica cujas regras sobre a maneira de jogar foram padronizadas com o intuito de favorecer a sua difusão, sem o risco de perder a identidade. Por meio de uma atividade lúdica, a interação entre pessoas que não se conhecem somente é possível quando todos jogam da mesma maneira. b) No jogo todos jogam, enquanto no esporte alguns jogam e outros assistem. No jogo não há muito sentido alguém ficar de fora para assistir os outros jogar. Dessa forma, é melhor modificar as regras e até mesmo o objetivo do jogo para que todos participem e se divirtam juntos.
  • 13. Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira 12 O esporte estimula uma preparação sistemática dos jogadores que cria diferenças de rendimento. Assim, o esporte se transforma em um espetáculo, fazendo com que os melhores joguem e os outros assistam a exibição de destreza e torçam por determinado resultado. c) No jogo o foco está no jogar, enquanto no esporte está em vencer. O jogo e o esporte estão relacionados com a competição, mas esta assume sen- tidos diferentes para cada um deles, de acordo com o contexto em que estão in- seridos. Os interesses políticos e econômicos associados ao esporte conferem à competição um caráter exacerbado em comparação com a sua aparente ausência, em relação ao resultado que marca o jogo. Todavia, não se engane: todas as pessoas que participam de uma atividade lúdica, seja jogo ou esporte, partem do princípio de que vão se dedicar, ao máximo, para alcançar o melhor resultado possível, conforme seus interesses no momento e na interação com aquelas pessoas. d) O jogo é uma atividade informal, enquanto o esporte é uma atividade formal. No esporte a formalização envolve diversos aspectos de sua prática que são con- siderados desnecessários para que as pessoas participem de um mero jogo, tais como: espaço de jogo, tempo de duração, equipamentos, uso de uniforme, pre- sença de um árbitro. Dessa forma, o jogo não precisa atender a nenhum desses aspectos para acontecer, enquanto que para o esporte eles são imprescindíveis. e) O jogo tem por princípio a auto-organização entre os próprios jogadores, enquan- to o esporte é gerido por entidades organizadoras. O esporte possui instituições que respondem oficialmente pela sua organização em nível local ou internacional, enquanto o jogo tem uma organização informal realiza- da pelos próprios jogadores envolvidos na atividade lúdica. f) O jogo e o esporte possuem motivações diferentes para sua criação e realização. O jogo não tem motivações marcadas por uma cultura em particular, nem por um período específico da história. Ao contrário, responde a uma necessidade humana abrangente de criar atividades que interrompem a rotina de vida e possibilitam o envolvimento com algo que o mobiliza por completo, a ponto de se tornar uma ati- vidade marcada pela fantasia. O esporte pode ser considerado como uma criação associada com o novo estilo de vida da sociedade moderna, significando um resgate da possibilidade de o homem jogar e interagir com a natureza e com seu corpo em um novo espaço social – o meio urbano. As exigências relacionadas a um estilo de vida diferente, em que o tempo de trabalho consume a maior parte do dia, fazem com que as pessoas sin- tam falta de opções para o lazer e a diversão.
  • 14. 13 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Para conhecer mais sobre essas caracterís- ticas, leia o texto “Se- melhanças entre jogo e esporte”, disponível na seção “Textos Comple- mentares”, ao final deste Módulo. A partir da reflexão das características apresentadas, é pos- sível encontrar pontos de aproximação e de diferenciação entre jogo e esporte, mesmo que isso permita discordâncias do tom de ge- neralização que normalmente acompanha as tentativas de qualquer classificação. Assim, não é o caso de considerar as características analisadas como uma definição do que é ou não esporte ou jogo. Afinal, é possível que, durante a realização de uma atividade lúdica, alguns jogadores estejam se comportando como se ela fosse um jogo, enquanto outros, na mesma atividade, comportem-se de uma maneira mais próxima do esporte. Chegamos ao final da Unidade 1. Nesta Unidade você estudou o significado que o futebol tem para a identidade cultural brasileira, e as características que distinguem o jogo do esporte. Nessa lógica, como modalidade es- portiva e elemento identitário brasileiro, o futebol é complexo e pode ser apropriado pelas pessoas de variadas formas. Estudou também que o esporte é um importante fenômeno da sociedade, que se ma- nifesta de forma plural e pode ser vivenciado a partir de diferentes perspectivas. Ele não possui virtudes naturais, visto que seus efeitos benéficos ou não dependem exclusivamente de como ele é praticado pelos indivíduos (ou oferecido à população). Assim, seja como prati- cante ou assistente, o importante é que o indivíduo se relacione com o futebol de maneira crí- tica, o que depende, em grande medida, de acesso à informação e de processos educativos. Agora, que concluímos a Unidade 1 teste seus conhecimentos!
  • 15. Unidade 1 – O Futebol como elemento da Cultura Brasileira 14 Teste seus conhecimentos ATIVIDADE 1 Considerando os estudos realizados, julgue a afirmativa a seguir. As diferenças entre jogo e esporte demonstram que existem algumas ativi- dades que são consideradas como esportes e outras que são jogos. Dessa forma, uma mesma atividade não pode ser classificada ora como jogo e de- pois, em outro contexto, como esporte. ( ) Verdadeiro ( ) Falso ATIVIDADE 2 Leia o texto a seguir e, depois, faça o que se pede. O futebol praticado, vivido, discutido e teorizado no Brasil seria um modo específico, entre tantos outros, pelo qual a sociedade bra- sileira fala, apresenta-se, revela-se, deixando-se, portanto desco- brir. (DA MATTA, Roberto et. al. O universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982, p. 21). Considerando o texto apresentado e os estudos feitos, avalie as afirmativas feitas a seguir, em relação ao futebol como elemento da cultura brasileira. I. Promove certa unificação de ideias comuns, no caso a paixão pela sua prática. II. Pertence ao patrimônio imaterial do país, sendo transmitido de ger- ação a geração. III. Configura-se como um esporte vivenciado pelos brasileiros de manei- ra única. IV. Compõe uma herança cultural que influencia o comportamento dos brasileiros. V. Permite avaliações superficiais acerca da maneira como se manifesta no Brasil. É correto APENAS o que se afirma em: a) I e II b) I e III c) I, II e III d) I, II e IV e) II, III e V
  • 16. 15 Unidade 2 Referências históricas do futebol no Brasil Na Unidade anterior, você deu um passo importante para aprender um pouco mais so- bre o futebol como elemento que contribui para a identidade cultural do povo brasileiro e as diferenças entre o jogo e o esporte. Nesta estudará a origem do esporte como atividade de la- zer e as transformações que ele vem sofrendo com a espetacularização do evento esportivo. Ampliar o seu conhecimento geral sobre o esporte é um dos pontos importantes da preparação para uma atuação eficiente, na hipótese de você ser convocado para ajudar como voluntário na Copa do Mundo da FIFA 2014. Dessa forma, você terá melhores condi- ções de informar as pessoas que se interessam por esses temas.
  • 17. Unidade 2 – Referências históricas do futebol no Brasil 16 2.1 Relatos históricos e difusão da prática do futebol no Brasil Existem diversos registros históricos de jogos semelhantes ao futebol em várias cultu- ras. Em geral, esses registros dizem respeito a jogos coletivos com uso de uma bola (ou algo parecido), que deve ser transportada ou lançada para uma meta. Todavia, pelo menos da maneira como é jogado atualmente, o futebol tem sua origem vinculada à iniciativa dos ingleses de reunirem, em 1863, pessoas interessadas na prática de determinada modalidade esportiva em associações ou grêmios. Esse movimento ficou conhecido por associacionismo. No caso do Brasil, há vários registros históricos sobre a realiza- ção de partidas de exibição do futebol em diversas localidades por di- ferentes jogadores, visando divulgá-lo como modalidade e despertar o interesse pela sua prática entre os brasileiros. Veja, a seguir, alguns esses relatos. yy Em 1878, tripulantes do navio Criméia enfrentaram-se em uma par- tida de exibição do futebol para a Princesa Isabel (1846-1921), última princesa imperial e regente do Império do Brasil; yy O historiador Loris Baena Cunha relata que, em 1890, no Pará, foi realizada uma partida entre funcionários ingleses da Amazon Steam Navigation Company Ltda., da Parah Gaz Company e da Western Telegraph; yy Os relatos históricos sobre a criação do Bangu Atlético Clube, nar- ram que, em 1894, o escocês Thomas Donohoe, contratado para ajudar na implantação da fábrica têxtil de Bangu, foi um dos pionei- ros no incentivo à prática do futebol no Brasil; yy Na Várzea do Carmo, em São Paulo, em 1895, uma partida entre ingleses e anglo-brasileiros, funcionários da Companhia de Gás e da Estrada de Ferro São Paulo Railway, é considerada por historiado- res como uma das primeiras partidas de futebol no Brasil; yy Em 1897, regressando da Suíça, o estudante Oscar Cox introduziu o futebol no Rio de Janeiro, e criou uma das primeiras equipes nes- se estado, em 1901 – o Rio Team. Entretanto, a versão mais conhecida sobre o início da prática sistemática do futebol no Brasil aponta a grande contribuição de Charles Miller (1874-1953), no caso do Estado de São Paulo. Isto está relacionado ao fato de ele ter trazido de uma viagem duas bolas e um livro de regras desse esporte, bem como por ter formado uma das primeiras equipes de futebol no Brasil, o São Paulo Athletic Club, em 1894. Afinal, no Brasil, o futebol tem diferentes histórias e, portanto, muitas pessoas e grupos de pessoas que contribuíram para sua divulgação Para ampliar seus conhe- cimentos sobre a origem do futebol e a contribui- ção dos ingleses leia o texto “A origem do fute- bol: a contribuição dos ingleses”, disponível na seção “Textos Comple- mentares”, ao final deste Módulo. Da leitura dos diversos relatos históricos sobre a realização das primei- ras partidas de futebol no Brasil é importante destacar a influência dos ingleses como um traço comum. O reconhecimen- to dessa influência se dá seja pela participação di- reta deles nos jogos de exibição, seja pela vinda ao Brasil de pessoas pro- venientes da Inglaterra e outros países europeus, interessadas em difundir a modalidade.
  • 18. 17 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Charles William Miller, esportista brasileiro, filho de pai escocês e mãe brasileira, é considerado um dos precursores do futebol brasileiro. Em relação ao Brasil, é possível dividir os registros históricos sobre o futebol em dois tipos: aqueles que falam sobre jogos de exibição desse esporte e outros que tratam de sua organização para uma prática sistemática. No caso dos estudos que estamos realizando neste Módulo, temos interesse em abor- dar o segundo tipo de registro histórico – o da prática sistemática do futebol. Nesse caso, a formação de clubes e a difusão das regras oficiais da Football Association são elementos que demarcam a transição da mera realização de uma partida de exibição para a efetiva prática do futebol no país por brasileiros. Isso acontece não apenas de forma ocasional, mas a partir da organização de treinos para o aperfeiçoamento das habilidades futebolísticas, tendo em vista a participação em campeonatos. Um levantamento histórico mais minucioso revela que cada um dos estados brasileiros tem seus próprios precursores – clubes de futebol. Damesmaforma,a criação de cada clube está marcada pela influência de um pioneiro – jogador ou dirigente – e guarda peculiaridades que deixam claro que o futebol no Brasil não tem uma única história. Avançando um pouco mais no tempo, o início do século XX é marcado, no país, pela criação de diversos times de futebol e pela organização dos times existentes nas primeiras Ligas de Futebol. Essa tendência seguiu o exemplo das associações inglesas, entidades es- portivas responsáveis pela realização dos primeiros campeonatos estaduais. E quanto à difusão do futebol no Brasil? Para responder a esta pergunta é importante ressaltar que, conforme os relatos históricos, com o passar do tempo, o futebol foi ganhando regras padronizadas. Esse fato trouxe outra consequência: o surgimento de entidades orga- nizadoras, característica que, junto à anterior, faz dele uma atividade cada vez mais formal. Esse processo ocorreu em nível mundial e também no Brasil, transformando o esporte e o futebol em um espetáculo, o que interfere no significado atribuído à vitória e muda o foco do mero jogar para a obrigação de vencer. É nesse momento que precisamos fazer uma
  • 19. Unidade 2 – Referências históricas do futebol no Brasil 18 reflexão: a obrigação de vencer não é uma característica do jogo e nem do esporte em si mesmo, mas o reflexo de interesses econômi- cos, políticos e de grupos associados ao futebol. Como vimos antes, o processo de formalização do futebol criou, progressivamente, condições para que o futebol se transformasse em um espetáculo. Os investimentos financeiros realizados no futebol têm uma implicação dupla: por um lado, promovem a melhoria das condi- ções de treinamento e competição, por outro lado, geram dificuldades relacionadas com a profissionalização de uma atividade que, inicial- mente, era exclusivamente amadora. Ainda no contexto da difusão do futebol, atualmente, as Fede- rações de Futebol de cada Estado estão filiadas à Confederação Bra- sileira de Futebol (CBF), que é membro da Federação Internacional das Associações de Futebol (FIFA), cujo nome original é Fédération Internationale de Football Association. Trataremos no próximo tópico da maneira como está organizada a prática institucional do futebol no Brasil. 2.2 Estrutura organizacional do futebol Nos tempos atuais, no Brasil, existe uma grande estrutura relativa à organização esportiva em torno do futebol. Para que você tenha uma noção a respeito dessa estrutura, mostramos, a seguir, um recorte do diagrama que apresenta os níveis que organização do futebol no país. A representação completa do diagrama é muito detalhada, mas para termos uma noção da parte que o Brasil ocupa nele é importante observá-lo com cuidado. Ele contém os níveis hierárquicos superiores, que estabelecem uma conexão entre o nosso país e as entidades que cuidam no futebol no mundo, como também, as subdivisões internas do futebol no Brasil. Figura 1 – Estrutura organizacional do futebol no mundo e no Brasil A existência de interesses alheios ao esporte exer- ce uma pressão sobre os resultados das partidas de futebol e coloca em risco suas características primárias, que o definem como esporte. Todavia, o futebol possui caracterís- ticas que o particularizam como uma atividade livre, prazerosa, auto-regula- mentada que promove integração social e desa- fia o ser humano a fazer o melhor possível, porém mantendo o respeito inte- gral ao outro. Para conhecer a respei- to da profissionalização do futebol, de maneira a compreender a contra- posição histórica entre o amadorismo e a prática do esporte leia o texto “Profissionalização do fu- tebol e contraposição his- tórica entre o amadorismo e a prática do esporte”, disponível na seção “Tex- tos Complementares”, ao final deste Módulo.
  • 20. 19 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos O diagrama mostra que as entidades esportivas guardam uma relação de abrangência e hierarquia entre si. Isso se inicia pelas unidades básicas até chegar às entidades máximas de determinada modalidade. Repare que ele mostra a existência de somente uma entidade esportista máxima in- ternacional – a FIFA – que congrega todas as demais dessa natureza existentes no mundo. Quando se olha o nível seguinte no diagrama, verifica-se que temos seis Confede- rações Continentais de Futebol. Desse nível em diante, o diagrama apresenta somente os dados da CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol), que é a Confederação a qual o Brasil está filiado. A CONMEBOL reúne as Confederações Nacionais de Futebol de dez países da América do Sul, indicados no diagrama, estando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) filiada a ela. Por sua vez, a CBF reúne as Federações Estaduais de Futebol do Brasil, 27 ao todo, correspondendo, portanto, ao total de estados do país. Cada Federação Estadual congrega diversos clubes, o que não é possível de ser representado no diagrama, pois ao todo, de acordo com os dados divulgados pela FIFA existem, no país, quase 30.000 clubes de futebol devidamente registrados. Nesta Unidade vimos que existem vários registros históricos da exibição de partidas de futebol e outros da criação de clubes dedica- dos à prática deste esporte, no Brasil. Entretanto, o início da prática sistemática do futebol, no país, mostra que cada estado e cada clube tiveram seus próprios precursores. Dessa forma, podemos dizer que existem diversas histórias do futebol no Brasil. Estudamos também que o futebol possui uma organização es- portiva em diversas esferas de abrangência – local, estadual, nacional e internacional. Assim, os clubes de futebol no Brasil estão filiados às federações de futebol do seu respectivo estado que, por sua vez, estão filiadas à Confederação Brasileira de Futebol, responsável pelo campeonato nacional. Essa Confederação está vinculada à Confederação Sul-Americana de Futebol, que realiza a Copa América e está filiada à FIFA. Em nível internacional, esta última realiza a Copa do Mundo de Futebol e a Copa das Confederações. Chegou a hora de testar seus conhecimentos. Vamos lá! Em 2014, havia um total de 29.208 clubes de fu- tebol registrados no Bra- sil, enquanto o número de jogadores também com registro chegava a 2,1 milhões. Disponí- vel em <http://www.por- tal2014.org.br/o-futebol -brasileiro> > Acesso em 13 fev. 2014.
  • 21. Unidade 2 – Referências históricas do futebol no Brasil 20 Teste seus conhecimentos ATIVIDADE 1 Reconhecendo a importância do futebol brasileiro no cenário mundial, um visitante de outro país deseja obter informações sobre a origem desse esporte no Brasil. Agora, suponha que você tivesse sido convocado para atuar como voluntário na Copa do Mundo da FIFA 2014 e vivido a situação descrita. Ao responder à pergunta desse visitante, você diria que é INCORRETO afirmar: a) ApráticasistemáticadofutebolemSãoPaulotemgrandecontribuição de Charles Miller. b) As partidas de exibição do futebol constam em vários registros históricos do século XIX. c) As primeiras equipes desse esporte são constituídas nas décadas iniciais do século XX. d) A influência dos ingleses na realização das primeiras partidas de futebol foi uma constante. e) Aorganização de times nas primeiras ligas de futebol é observada no início do século XX. ATIVIDADE 2 Imagine que um visitante que venha assistir os jogos da Copa do Mundo da FIFA 2014 deseje saber mais a respeito da estrutura organizacional do futebol, em nível do mundo e do Brasil. Ele informa que ouviu dizer que, nos tempos atuais, a estrutura em torno da qual acontece a organização esportiva do futebol é complexa e conta com várias instâncias. Considerando essa ideia e a resposta a ser dada ao visitante, qual das alternativas contém uma afirmativa INCORRETA? I. A FIFA corresponde à entidade esportista máxima internacional no âmbito do futebol. II. AConfederação Brasileira de Futebol congrega as federações de cada estado do país. III. A Federação Estadual consiste na associação dos clubes no país, em torno de 30.000. IV. A autonomia das entidades esportivas mundiais anula uma relação hierarquia entre elas. V. AConfederaçãoSul-AmericanadeFuteboléresponsávelpelarealização da Copa América.
  • 22. 21 Unidade 3 Fair Play e manifestações esportivas Esta Unidade trata de outros temas importantes à compreensão da relação entre a história do futebol e Megaeventos, título do Módulo. Nela abordaremos o Fair Play como um compromisso de todos os envolvidos manterem uma postura ética e limpa em relação ao jogo, bem como as manifestações esportivas, de maneira mais geral. Também discutiremos aqui o torcer no esporte e como as manifestações dele são tratadas na legislação brasileira 3.1 Fair Play: significado e princípios Você já deve ter ouvido, pelo menos uma vez, algum comenta- rista utilizar a expressão Fair Play. No transcorrer de uma partida de futebol, ela se aplica àquelas situações em que o comportamento do jogador em campo não é ditado pela lógica da competição e sim por uma atitude de cortesia com o adversário. Por exemplo: os jogadores colocam a bola para fora do campo para que um jogador contundido seja atendido pela equipe médica e, em seguida, ao por a bola novamente em jogo, devolvem a bola para a equipe que tinha a sua posse antes da interrupção da partida. O conceito de Fair Play pode ser compreendido como o compromisso em preservar a ética do jogo limpo ou leal, que deve ser um testemunho do próprio jogador e de todos os demais envolvi- dos com o esporte.
  • 23. Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas 22 Mas o conceito de Fair Play é um pouco mais amplo do que isso, pois objetiva preser- var o esporte como uma atividade que tem o propósito de celebrar a civilidade e enobrecer todos os que, em alguma medida, estão envolvidos com ele. Assim, o Fair Play é uma res- ponsabilidade de todos que, de alguma forma, mantêm relação com o esporte. Veja a seguir dois exemplos sobre o conceito que estamos discutindo neste tópico. Exemplos de Fair Play A partida era Ajax e Den Haag, quando um atleta do Ajax acabou se machucando. A equipe rival acabou jogando a bola para fora, para devolver a gentileza o atleta Ver- tonghen chutou do meio do campo e a bola acabou entrando na gaveta. Envergonhado o atleta não soube o que fazer. A equipe do Ajax deixou o Den Haag marcar um gol na saída de bola e tudo ficou bem. Costin Lazar do Rapid Bucarest recebeu na entrada da área e acabou interceptado pelo defensor adversário. Desequilibrado o atacante caiu de um jeito que chamou a atenção. O Árbitro não titubeou e mar- cou pênalti. Mas o atleta que sofrera a “in- fração” acabou recusando a cobrança e a partida foi reiniciada em bola ao chão. Disponível em http://futeblog.y33.com.br/2012/06/top-7-melhores-fair-play-do-futebol (Grifos no original) Quadro 1 – Exemplos de Fair Play O esporte é uma atividade realizada em interação com outras pessoas, que tem por finalidade dignificar o ser humano e celebrar uma cultura de respeito mútuo. Dessa forma, o desafio de comparar suas habilidades com as do outro é realizado em um contexto marcado pela igualdade de condições entre os participantes e pelo respeito às regras do jogo. O adversário na competição esportiva é alguém com quem compartilhamos o amor pelo esporte. Quanto maior forem as suas habilidades, maior é a possibilidade dele contribuir de forma efetiva para o aperfeiçoamento de nossas próprias habilidades para jogar, pois a oposição é um dos elementos mais importantes para a busca do crescimento pessoal. O Fair Play preconiza o respeito integral e permanente das regras do jogo. Os jogadores devem estar cientes de que o respeito às regras não se refere somente ao que está escrito, mas também, ao princípio implícito às regras e que fixa um espírito dentro do qual se deve praticar o esporte de competição: lealdade.
  • 24. 23 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Agora que você conhece o conceito do Fair Play, veja os seus princípios e a forma como se manifesta para o jogador: yy aceitação, sem discussão, das decisões do árbitro, exceto nos esportes nos quais o regulamento autoriza um recurso (no caso do futebol, somente para o capitão do time existe autorização para dirigir a palavra ao árbitro); yy vontade de jogar para ganhar, objetivo primeiro e essencial do esporte, articulada com a firme rejeição em conseguir a vitória de forma ilícita ou desleal; yy respeito a si mesmo, o que implica uma atitude marcada pela honestidade e leal- dade, além de uma atitude firme e digna diante de um comportamento desleal do adversário; yy respeito ao companheiro de equipe; yy respeito ao adversário, vitorioso ou vencido, com a consciência de que é um com- panheiro indispensável, com o qual está unido pela camaradagem esportiva; yy respeito ao árbitro de forma positiva, expresso pelo constante esforço de com ele colaborar. Realizado com base nesses princípios, o Fair Play implica modéstia na vitória, serenidade na derrota e uma generosidade suficiente para criar relações humanas cordiais e duradouras. 3.2 Ameaças e responsabilidades implícitas ao Fair Play A ameaça principal ao Fair Play é a importância excessiva que, em nossos dias, se concede à vitória. Fonte de prestígio para o jogador e para o seu país, que pode resultar em vantagens financeiras substanciais, a vitória é algo que incita cada vez mais os jogadores a violar os regulamentos do esporte. Temendo um fracasso, o jogador chega a considerar os adversários como inimigos que devem ser abatidos, o que alimenta uma crescente onda de indisciplina e violência no esporte. Outra ameaça ao fair flay é o doping, uma demonstração de que o atleta busca a vitória a qualquer preço, pois coloca em risco sua própria saúde e, consequentemente, sua vida. Todos os que estão implicados no esporte de competição têm uma responsabilidade específica na promoção do Fair Play. A única esperança para o esporte é que reconheçam a importância do Fair Play e ajam de acordo com seus princípios, pois senão o esporte pode ser considerado como algo maléfico ao homem. Em suma, não há distorção maior do esporte que a atitude daqueles que não respeitam o Fair Play. Quanto às responsabilidades das pessoas envolvidas com o esporte, examine-as no quadro apresentado a seguir.
  • 25. Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas 24 Pessoas envolvidas Responsabilidades Participantes • Dar o exemplo e persuadir os demais a fazerem o mesmo. Pais • Ensinar os princípios de lealdade esportiva aos seus filhos; • Zelar pela qualidade do ensino da Educação Física e da educação esportiva dada pela escola. Educadores • Ensinar que o respeito aos demais e às regras é o que dá sentido ao jogo; • Reagir imediatamente durante a competição ante qualquer trans- gressão das regras ou ato repreensível; • Incentivar os seus alunos a sentirem orgulho de um comporta- mento disciplinado e generoso. Organizações desportivas • Impedir que o entusiasmo por suas equipes obscureça o conceito de Fair Play; • Utilizar todos os meios existentes para promover o ideal do Fair Play. Diretores técnicos e treinadores • Tomar medidas contra qualquer competidor que deliberadamente tente burlar o Fair Play, mesmo com o risco de perder uma par- tida ou talvez um campeonato. Médicos • Basear suas decisões médicas sobre as condições de jogo unica- mente na condição física do competidor. Árbitros • Zelar para que a competição se desenvolva respeitando sempre as regras; • Possuir conhecimento profundo de todas as regras e saber dar a interpretação mais atualizada; • Manter-se numa condição física que o permita mover-se com rapi- dez, a fim de observar e de manter um estreito contato com o jogo. Autoridades públicas • Adotar uma atitude firme em favor do Fair Play; • Condenar, sem restrição, toda prática desleal, de forma a situar o Fair Play acima das ambições de prestígio. Jornalistas • Evitar o sensacionalismo em detrimento a realidade dos fatos; • Adotar uma atitude imparcial e independente, que demonstre só- lido conhecimento do esporte; • Demonstrar particular compreensão para a delicada tarefa do ár- bitro e para as dificuldades que enfrentam os jogadores. Espectadores • Impedir que o apoio à sua equipe se degenere para dar lugar a atitudes de ódio entre espectadores e competidores da equipe adversária; • Desejar e apreciar a habilidade técnica associada com a atitude leal dos jogadores ou das equipes. Quadro 2 – Responsabilidades das pessoas envolvidas no esporte.
  • 26. 25 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos 3.3 O torcer e suas manifestações Após estudar as responsabilidades das várias pessoas envolvidas com o esporte, es- tudaremos a seguir aspectos relacionados ao “torcer”, sua história e os impactos e efeitos do comportamento das torcidas e dos torcedores sobre o universo futebolístico/esportivo. Torcer por um time de futebol ou para a seleção de um país parece algo hoje naturali- zado, como se sempre existisse. Mas tanto o futebol como o torcer são construções históri- cas e, portanto, dotados de um contexto que os origina. Imaginando o futebol como uma absoluta novidade, nos anos finais do século XIX e iniciais do século XX, a preferência por clubes era praticamente inexistente. O que existia, de fato, era o desejo de se apropriar de um conjunto de códigos sociais de pertencimento. Dessa forma, estar à beira dos campos se constituía como uma forma distintiva de participação em uma experiência moderna. Nesse contexto, quem praticava o futebol eram os eleitos da elite, e assistir às partidas também era uma possibilidade altamente restritiva, pois não se torcia para este ou aquele clube, mas sim, se assistia a uma festa social. Exatamente por esta característica, os fre- quentadores das arquibancadas eram denominados de assistência. Da assistência para a torcida existe um caminho percorrido por um conjunto de vivên- cias. As primeiras vinculações afetivas de um sujeito por um time de futebol começam a se dar por conta de associações que, na forma de clubes, reuniam estudantes, imigrantes, bair- ros, fábricas etc. Após os primeiros movimentos do futebol no país, a assistência vai cedendo espaço para a participação de outros atores. Também ajudaram na constituição do torcer aspectos como: yy organização de campeonatos, que se mostravam cada vez mais acirrados; yy crescente popularização do esporte; yy fortalecimento da “paixão clubística”, que alimentava o de- senvolvimento do futebol (consumindo objetos ligados ao clu- be, comprando ingressos para assistir aos jogos e se envol- vendo com a vida social da agremiação preferida). Na discussão aqui proposta também é importante conhecer a origem dos termos “torcer”, “torcida”, “torcedores/torcedoras”. Embora não seja possível encontrar fontes comprobatórias sobre a origem do sentido da palavra “torcida” para designar um grupo de pessoas com identificação afetiva a um determinado clube, algumas versões podem ser identificadas. Dentre elas, duas se destacam. Uma dessas versões é assim explicada pelo jornalista Luiz Men- des (2002), em uma entrevista publicada no periódico “Memória da Im- prensa Carioca”: Conheça mais a respei- to do “pertencimento clu- bístico”, importante cate- goria conceitual utilizada para explicar a relação afetiva estabelecida en- tre uma pessoa e um clube esportivo, nota- damente um de futebol, lendo o texto “O perten- cimento clubístico”, dis- ponível na seção “Textos Complementares”, ao fi- nal deste Módulo.
  • 27. Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas 26 No começo do futebol, ir ao estádio era um ato de elegância, princi- palmente, no Fluminense. Por isso o Fluminense até hoje tem essa fama de clube aristocrático. As mulheres se enfeitavam como se fos- sem ao Grande Prêmio Brasil, colocavam vestidos de alta costura, chapéus, luvas. Mesmo que a temperatura na cidade estivesse por volta dos 40º de temperatura, elas iam de luvas. Como o calor era muito grande, elas tiravam as luvas e ficavam com as luvas nas mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansio- samente. Os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito comum na época, muito elegante e também ficavam com o chapéu na mão enquanto torciam. O Coelho Neto, que além de poeta e cro- nista era pai de dois jogadores do Fluminense escreveu uma crônica em que ele usava a expressão “as torcedoras”, referindo-se às mu- lheres e dali a expressão pegou e nasceu a torcida (p. 2). A outra versão, defendida pelo historiador brasileiro Nicolau Se- vcenko, aponta para o significado do termo torcida pela torção corpo- ral que o sujeito apaixonado realiza ao acompanhar os lances de uma partida do seu time. Entretanto, não há uma referência precisa de quando o termo passa a ser incorporado pelos sujeitos sociais. Apesar disso, a palavra “torcida” tem aplicação genuinamente brasileira, pois não existe, em nenhum outro país, um termo que tenha similaridade semântica ao ato de torcer por um clube. 3.4 O esporte e suas manifestações na legislação brasileira Neste último tópico da Unidade estudaremos o conceito de manifestações esportivas, utilizado para classificar as atividades relacionadas ao esporte pela legislação brasileira. O esporte possui diversos perfis de praticantes, que jogam em diferentes lugares, com equipamentos que respondem a exigências específicas para atingir determinadas fina- lidades. Em decorrência disso e para os efeitos da legislação sobre o esporte no Brasil, as atividades esportivas podem ser classificadas em três manifestações, definidas a seguir. yy esporte educacional, pedagogicamente orientado e praticado com o objetivo prin- cipal de contribuir para a formação integral do cidadão e a consolidação dos valo- res da cidadania; yy esporte de participação, livremente organizado e praticado de modo voluntário e assistemático, visando promover o bem-estar pessoal, a saúde, o lazer e a integra- ção social; yy esporte de rendimento, sistematicamente estruturado e praticado com o objetivo precípuo de aperfeiçoar habilidades para obter sucesso na competição e contribuir para o espetáculo esportivo, que pode ser praticado de modo profissional ou não. Sendo assim, quando falamos de Copa do Mundo de Futebol, estamos nos referindo ao esporte de rendimento praticado na sua modalidade profissional. Em função do destaque que esse Megaevento recebe, é comum que exerça uma influência sobre as demais ma- Em Portugal, os torce- dores são identificados como “adeptos”, termo ligado à religiosidade. Na Espanha, a palavra “hin- cha” corresponde às pes- soas que se “inflam” de paixão por uma equipe. Em inglês, os fanáticos (fans) ou os sujeitos que dão apoio a um time (su- pporters) é que definem o termo semelhante ao tor- cedor brasileiro.
  • 28. 27 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos nifestações esportivas. Este fato deve ser alvo de preocupação, pois, como veremos mais adiante, existem diferenças entre as várias modalidades esportivas que tornam determina- das comparações entre elas indevidas. Cada manifestação esportiva possui uma infraestrutura organizacional própria, que exige o investimento de recursos financeiros direcionados à satisfação de suas necessidades operacionais específicas. Assim, não é suficiente destinar recursos apenas para uma das manifestações, pois esses recursos não satisfazem as necessidades das demais. Veja no quadro a seguir a comparação entre alguns aspectos específicos de cada uma das manifes- tações esportivas anteriormente mencionadas. ESPORTE LOCAL PRATICANTES EQUIPAMENTOS ORGANIZAÇÃO FINALIDADE Educacional Escola Estudantes Simples Auto-Organização Educação Participação Praça ou Rua Comunidade Adaptado Livre Lazer e Saúde Rendimento Clube Atletas Sofisticado Entidades Esportivas Competição Quadro 3 – Aspectos específicos das manifestações esportivas Apesar das especificidades que separam as manifestações esportivas uma das ou- tras, como mostra o quadro, existe a possibilidade de eventuais interações entre elas, que são explicadas por diferentes conceitos teóricos. Na tentativa de construir um modelo ilustrativo de uma dessas possibilidades, foi usada uma máxima, atribuída a Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de Coubertin (1863- 1937). Essa proposta tem como premissa as implicações positivas advindas da difusão da prática esportiva entre a população de uma maneira geral. Barão de Coubertin, pedagogo e historiador francês, reconhecido como o fundador dos Jogos Olímpicos na era moderna. Analisaremos a seguir essa proposta, denominada Modelo Piramidal, bem como as principais críticas feitas a ela.
  • 29. Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas 28 A proposição teórica do Modelo Piramidal está associada com a lógica de que no país que houver um grande número de pessoas que pratica atividade física de forma regular, maior é a possibilidade de que algumas delas decidam se dedicar ao esporte. Da mesma maneira, se existir um bom número de pessoas que praticam sistematicamente uma ativida- de esportiva, maior é a possibilidade de que alguns talentos sejam descobertos. Por fim, se existirem alguns talentos esportivos é possível ter a esperança de um recorde. A figura a seguir mostra a formulação teórica mais geral do modelo discutido. Esporte Rendimento Esporte Participação Esporte Educacional Ao propor este modelo, a principal finalidade do argumento de Coubertin é demons- trar a importância do investimento na difusão do esporte. O objetivo final apontado por esse modelo não é simplesmente formar um recordista, mas garantir que existam milhares de pessoas se beneficiando do esporte em suas diferentes esferas, o que é algo efetivo. Entretanto, é importante lembrar que não existe uma relação de dependência entre as manifestações esportivas, caso contrário, o Brasil não já teria obtido medalhas olímpicas no iatismo, por exemplo, que não é uma modalidade esportiva difundida no nosso país. Para finalizar esta Unidade, é importante destacar que, embora tenha sido adotado du- rante muito tempo para explicar as possibilidades de eventuais interações entre as diferentes manifestações esportivas – e possua, evidentemente, seu valor – o Modelo Piramidal recebe críticas em relação à sua formulação teórica. Como vimos anteriormente cada manifestação esportiva possui uma infraestrutura or- ganizacional própria que exige investimentos específicos. Um exemplo que ilustra esta afir- mativa é o próprio futebol, pois somos o único país pentacampeão da Copa do Mundo de Futebol, com quase 30.000 clubes registrados na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Este fato demonstra a força do futebol como um esporte de rendimento, mas nem por isso, temos garantidas as condições para que ele seja praticado nas escolas brasileiras (esporte educacional) e nas ruas e praças de nossas cidades e bairros (esporte de participação). Dessa forma, a principal crítica ao modelo piramidal é que ele passa uma noção equi- vocada de que o esporte educacional e o esporte de participação, que estão na base da pirâmide, estão subordinados aos interesses ditados pelo esporte de rendimento, que está no topo da pirâmide. O formato geométrico desse modelo sugere uma graduação de impor- tância que não existe entre as manifestações, pois todas são igualmente importantes, cada uma com sua respectiva relevância social.
  • 30. 29 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos O destaque conferido ao esporte de rendimento pela exposição na mídia e pelos interesses econômicos e políticos associados à sua prática distorcem sua interpretação como Fair Play.Afinal o que é mais importante para nós, brasileiros: ganhar a Copa do Mundo de Futebol ou garantir que todas as crianças possam aprender a jogar futebol nas escolas? Na verdade, essas metas não precisam ser colocadas uma contra a outra, pois o que queremos é tanto ganhar a Copa do Mundo de Futebol como também garantir o acesso da juventude ao esporte como um direito social fundamental de todo cidadão. Nesta Unidade vimos que o Fair Play corresponde ao compromisso em preservar a éti- ca do jogo limpo e leal, dando o testemunho do próprio jogador e de todos os demais envol- vidos com o esporte. Também discutimos que o ato de torcer é peça fundamental no contexto esportivo, pois é ele que possibilita e garante o espetáculo do futebol. Estudamos que, na legislação brasileira, as atividades esportivas são classificadas em esporte educacional (voltado para a formação integral do cidadão), esporte de participação (dedicado ao lazer e bem-estar pessoal) e esporte de rendimento (dedicado ao treinamento para competição). Em relação ao Modelo Piramidal, vimos que ele destaca a necessidade da difusão do esporte, porém é criticado por transmitir uma noção equivocada de que o esporte de rendimento é mais importante do que o esporte educacional e o esporte de participação. Agora, antes de seguir para a próxima Unidade, teste seus conhecimentos!
  • 31. Unidade 3 – Fair Play e manifestações esportivas 30 Teste seus conhecimentos ATIVIDADE 1 O centroavante alemão Mauri Ebbers recebeu cruzamento dentro da área e marcou de mão e o juiz validou. Pelo vídeo pode-se interpretar que ele pode ter marcado sem querer com a mão, tanto que o próprio Ebbers veio a assumir ao juiz que tinha marcado com a mão e pediu para que o gol fosse invalidado. (Disponível em http://futeblog.y33.com.br/2012/06/ top-7-melhores-fair-play-do-futebol). Acesso em 15 fev. 2014 (grifos no original) Com base no texto apresentado e nos estudos realizados, avalie as afirmativas a seguir, em relação ao caso relatado. I. Trata-se de um exemplo típico de Fair Play, ao mostrar como se deve jogar limpo. II. Comprova que os benefícios decorrentes do Fair Play restringem-se aos jogadores. III. Atesta que os princípios do Fair Play não estão pautados apenas nas regras, mas também na lealdade. IV. Revela que o Fair Play deixa de promover o desenvolvimento satisfatório do espor- te. V. Mostra que, na prática, o Fair Play implica não se apropriar de vantagens indevidas. É correto APENAS o que se afirma em: a) I e II b) II e III c) I, II e III d) I, III e IV e) I, III e V ATIVIDADE 2 Na promoção do Fair Play todos os envolvidos no esporte de competição possuem respon- sabilidades, de maneira que o jogo aconteça de acordo com determinados princípios, que só trazem benefícios para os jogadores, as organizações e a sociedade como um todo. Es- sas responsabilidades devem ser assumidas por vários grupos de pessoas, representados na figura a seguir. Jornalistas Pessoas envolvidas com o esporte e suas responsabilidades Participantes Médicos Árbitros Espectadores Pais Educadores Autoridades públicas Diretores técnicos e treinadore Organizações desportivas A respeito das responsabilidades dos vários grupos envolvidos com o esporte, é INCOR- RETO afirmar: a) As organizações desportivas devem evitar que o entusiasmo de suas equipes chegue a comprometer o conceito de Fair Play. b) Os diretores técnicos e treinadores devem adotar medidas para impedir que o competidor tente burlar o sentido do Fair Play. c) É desejável que os jornalistas alimentem uma postura sensacionalista em detrimento a realidade dos acontecimentos. d) Osmédicosdevembasearsuasdecisõessobreascondiçõesdejogounicamente na condição física do competidor. e) Os espectadores devem estimular e apreciar a relação entre a habilidade técnica e a atitude leal dos jogadores e das equipes.
  • 32. 31 Unidade 4 O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol Nas Unidades anteriores você teve a oportunidade de fazer uma análise conceitual e uma revisão histórica sobre alguns traços comuns entre o futebol e o esporte como um todo. Nesta dirigiremos nossa atenção para algumas características específicas do futebol. Você já teve a curiosidade de perguntar de quem é a responsabilidade e a autoridade para definir e alterar as regras do futebol? Este é um tema que você conhecerá ao estudar os assuntos abordados nesta última Unidade do Módulo História do Futebol e Megaeventos. Particularmente, ao discutir este ponto você poderá tanto responder à pergunta apresentada como também saber porque os ingleses ainda gozam de um destaque, quando o assunto se refere à definição das regras do futebol. Então, vamos em frente!
  • 33. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 3232 4.1 A IFAB e a evolução das regras do futebol A International Football Association Board (IFAB), criada em 06 de dezembro de 1883, surgiu da necessidade da criação de um Conselho formado de especialistas em futebol. A finalidade desse Conselho era discutir as diferenças existentes entre as regras para a prática do futebol utilizadas nos quatro países que compõem o Reino Unido – Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda (atual Irlanda do Norte). Tal necessidade decorreu da intenção de realizar campeonatos que permitissem o congraçamento dos times desses países, o que exigiu a adoção de regras comuns que fossem aceitas por todos. Quando foi criada, a IFAB era composta de dois representantes de cada uma das quatro Federações Nacionais com a responsabili- dade de regulamentar as regras que disciplinam a prática do futebol em seus respectivos países. Além disso, ela devia acompanhar o desenvolvimento técnico-tático da modalidade, de forma a identificar a necessidade eventual de alterações nas leis do esporte, ao longo do tempo, ou a aprovação de regras complementares que assegurem a competitividade e preservem a identidade do esporte. A IFAB pode ser caracterizada como um fórum permanente de discussão dos regulamentos do futebol, inicialmente, entre os britâ- nicos e atualmente, para todo o mundo. A primeira reunião do Con- selho Administrativo da IFAB aconteceu no dia 2 de junho de 1886, em Londres (Inglaterra). Portanto, isso ocorreu dezoito anos antes da criação da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), em Paris (França), em 1904, cuja principal finalidade é a difusão do futebol em todo o mundo. Desde então, cresceu o futebol pelo mundo, especialmente na Europa, e a necessidade de garantir a participação de representantes de vários países no órgão responsável pela definição das regras do futebol. Este fato fez com que a IFAB apro- vasse a mudança na composição do seu Conselho Administrativo, de forma a admitir a parti- cipação de representantes da FIFA. Em 1958, a fim de promover um equilíbrio entre os representantes das entidades que compõem a IFAB, foi aprovado em novo sistema de votação, com dois pontos essenciais: yy uma nova composição do Conselho Administrativo: um representante de cada uma das quatro associações britânicas de futebol (Federação Inglesa de Futebol, Fe- deração Escocesa de Futebol, Federação Galesa de Futebol e Federação Nor- te-Irlandesa de Futebol) e quatro representantes da FIFA (que possui 208 países membros), logo, oito conselheiros ao todo; yy as decisões sobre mudanças nas regras exigem um quórum qualificado de dois terços dos membros do referido Conselho, o que significa, na prática, pelo menos, seis votos. Desta forma, por exemplo, se uma proposta de mudança nos regulamentos do futebol receber o apoio de todos os quatro representantes da FIFA, a deliberação final precisa contar ainda com o voto positivo de, ao menos, dois representantes das entidades britânicas. Caso isso não aconteça, a decisão não será aprovada. Com a finalidade de asse- gurar a identidade do fu- tebol e favorecer o inter- câmbio entre os times de futebol do mundo inteiro, desde sua criação, a FIFA adotou as regras estabe- lecidas pela IFAB para o futebol no Reino Unido, como a referência para os demais países filiados à entidade.
  • 34. 33 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos . O Conselho Administrativo da IFAB se reúne duas vezes por ano da seguinte forma: yy Assembleia Geral Ordinária, entre os meses de fevereiro e março, quando os conselheiros decidem eventuais mudan- ças nas regras que regulamentam o futebol; yy Reunião de Trabalho Anual, entre os meses de setembro e outubro, quando os conselheiros debatem e decidem sobre assuntos internos. A partir das decisões aprovadas pela IFAB, o futebol tem de- monstrado ser um esporte tradicional com resistência para realizar mu- danças em suas regras. Leia as informações do quadro, a seguir, e verifique que poucas alterações foram realizadas em um período de quase 100 anos (1871-1992), em relação às regras que mudaram a forma de jogar futebol. Ano Conteúdo da regra criada 1871 Instituição do goleiro como o único jogador que pode colocar as mãos na bola e que deve ficar próximo ao gol para evitar a entrada da bola. 1875 Fixação da duração da partida em 90 minutos. 1891 Criação do pênalti como punição para uma falta reali- zada dentro da área. 1891 Introdução da participação do árbitro (até então as controvérsias eram decididas pelos capitães das duas equipes ou seus delegados). 1912 Proibição dos goleiros pegarem a bola com as mãos fora da área e obrigação do uso de um uniforme di- ferente. 1925 Fixação do impedimento como determinação que um jogador está fora de jogo quando menos de dois ad- versários estivessem posicionados entre ele e o gol. 1958 Instituição da realização de substituições. Inicialmen- te a substituição era autorizada somente por motivo de lesão, mas a partir da década de 1960, a regra foi suavizada, permitindo a troca de atletas por questões táticas. 1970 Introdução da aplicação dos cartões vermelho e amarelo. 1992 Proibição de os goleiros pegarem, com as mãos, as bolas recuadas propositalmente pelos companheiros, quando estes utilizam os pés. Quadro 4 – Conteúdo básico das mudanças nas regras do futebol (1871-1892) Os dois encontros anu- ais da IFAB são realiza- dos em um dos quatro países do Reino Unido, sempre respeitando a rotatividade das sedes ou em um local definido pela FIFA, nos anos em que se disputa a Copa do Mundo. Na ocasião, um representante da Fe- deração de Futebol do país anfitrião atua como presidente da reunião. Conheça mais sobre es- sas duas reuniões a par- tir da leitura do texto 4A: “Sobre as reuniões anu- ais da International Foo- tball Association Board (IFAB) e as mudanças das regras do jogo”, dis- ponível na seção “Textos Complementares”, ao fi- nal deste Módulo.
  • 35. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 34 Considerando o período de tempo mostrado no quadro e o conteúdo das modificações realizadas nas regras do futebol, é possível constatar que as mudanças geralmente atende- ram a duas finalidades: yy contribuir para preservar a integridade física dos jogadores; yy transformar o jogo em um espetáculo mais interessante para o público, com um maior número de gols. Agora que você conhece a IFAB e como as regras são mantidas ou modificadas no futebol, estudaremos alguns aspectos fundamentais sobre a Copa do Mundo da FIFA. 4.2 Copa do Mundo da FIFA: história e características Como podemos definir a Copa do Mundo? Trata-se de um tor- neio de futebol masculino realizado pela FIFA, no qual competem ti- mes formados pela seleção dos melhores jogadores de cada país, independente do clube no qual atua como profissional. Este Megaevento é precedido, nos anos anteriores, de elimina- tórias realizadas a partir dos campeonatos sob a responsabilidade das seis Confederações Continentais de Futebol associadas à FIFA. Lem- bra que vimos essas Confederações na Unidade 2, quando discutimos a estrutura organizacional do futebol no mundo e no Brasil? Por sua vez, a FIFA define o número de vagas em função do número de países ligados à cada Confederação e pela repercussão que o futebol possui em cada continente. Veja a seguir alguns aspectos importantes para a compreensão da história da Copa do Mundo. Chamada de Copa do Mundo de Futebol em português brasileiro, esse Megaevento é denomina- do Campeonato Mundial de Futebol (português europeu); Football World Cup (inglês); Coupe du Monde de Football (fran- cês) e Copa Mundial de Fútbol (espanhol).
  • 36. 35 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos a) Edições A Copa do Mundo de Futebol já foi realizada 19 vezes, a primeira em 1930. Desde o seu início, o evento somente não foi realizado nos anos de 1942 e 1946 devido à Segunda Guerra Mundial, que aconteceu entre 1939 e 1945. Nas figuras a seguir são ilustrados os países onde essas edições foram realizadas.
  • 37. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 36 Vejamos um pouco da história dessas várias edições, destacando alguns números em relação a elas, para que você tenha uma noção de como cada uma se constituiu em Megae- vento, tal como ocorrerá com a edição de 2014, no Brasil. yy Nas Olimpíadas de 1924, houve a primeira disputa de futebol intercontinental, quan- do equipes europeias puderam enfrentar equipes de outros continentes. A seleção do Uruguai consagrou-se campeã, feito repetido na Olimpíada seguinte, em 1928; yy Em 1930, foi realizada no Uruguai a primeira Copa do Mundo de Futebol, compe- tição criada pela FIFA para permitir a celebração do futebol mundial, com a parti- cipação de todos os países associados. A competição foi vencida pela seleção do Uruguai, sendo que muitas seleções europeias desistiram da competição devido à longa e cansativa viagem de navio pelo Oceano Atlântico; yy Nas Copas de 1934 e 1938, realizadas na Europa, houve, pelo mesmo motivo, uma pequena participação dos países sul-americanos; yy Como ressaltado anteriormente, as edições de 1942 e 1946 foram canceladas de- vido à Segunda Guerra Mundial. O Brasil é o único país cuja seleção participou de todas as edições da Copa do Mundo de Futebol da FIFA. Ano Local Equipes Jogos Gols Público Campeão Vice 1930 Uruguai 13 18 70 590.549 Uruguai Argentina 1934 Itália 16 17 70 363.000 Itália Tchecoslováquia 1938 França 15 18 84 375.700 Itália Hungria 1950 Brasil 13 22 88 1.045.246 Uruguai Brasil 1954 Suíça 16 26 140 768.607 Alemanha Hungria 1958 Suécia 16 35 126 819.810 Brasil Suécia 1962 Chile 16 32 89 893.172 Brasil Tchecoslováquia 1966 Inglaterra 16 32 89 1.563.135 Inglaterra Alemanha 1970 México 16 32 95 1.603.975 Brasil Itália 1974 Alemanha 16 38 97 1.865.753 Alemanha Holanda 1978 Argentina 16 38 102 1.545.791 Argentina Holanda
  • 38. 37 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Ano Local Equipes Jogos Gols Público Campeão Vice 1982 Espanha 24 52 146 2.109.723 Itália Alemanha 1986 México 24 52 132 2.394.031 Argentina Alemanha 1990 Itália 24 52 115 2.515.215 Alemanha Argentina 1994 EUA 24 52 141 3.587.538 Brasil Itália 1998 França 32 64 171 2.785.100 França Brasil 2002 Coréia do Sul/Japão 32 64 161 2.705.197 Brasil Alemanha 2006 Alemanha 32 64 147 3.359.439 Itália França 2010 África do Sul 32 64 145 3.178.856 Espanha Holanda Quadro 5 – História das Copas do Mundo em números b) Galeria dos campeões Ao longo das 19 edições da Copa do Mundo de Futebol, oito seleções já se consa- graram campeãs mundiais. Veja no quadro a seguir o número de vezes que cada seleção nacional venceu os jogos. Campeãs Bicampeãs Tricampeãs Tetracampeã Pentacampeã Espanha Argentina Alemanha Itália Brasil França Uruguai Inglaterra
  • 39. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 38 Em relação ao quadro das campeãs, é importante fazer as se- guintes observações: yy No confronto entre as Confederações Continentais, somente duas possuem equipes campeãs. A UEFA é a confederação que venceu a Copa do Mundo de Futebol maior número de vezes, 10 ao todo, enquanto a CONMEBOL venceu nove vezes; yy A disputa pela supremacia no futebol mundial, até o momento, ocor- re entre seleções que representam o continente europeu e as se- leções sul-americanas; yy As vitórias da UEFA foram conquistadas por cinco seleções dife- rentes: Itália (4), Alemanha (3), França, Inglaterra e Espanha. Por sua vez, as vitórias da CONMEBOL estão concentradas em três seleções: Brasil (5), Uruguai (2) e Argentina (2); c) Periodicidade A Copa do Mundo de Futebol é realizada a cada quatro anos e pre- cedida pela realização da Copa das Confederações, como a que aconteceu no Brasil, em 2013. No período entre duas Copas do Mundo de Futebol, as Confederações Continentais realizam os tor- neios para definir qual é a seleção campeã de cada continente, o que as classifica para a próxima Copa do Mundo de Futebol. d) Vagas São distribuídas entre as seis Confederações continentais e, antes de cada edição, a FIFA decide quantas vagas cada zona continen- tal terá direito, mais uma vaga para o país sede, único com vaga garantida. Normalmente uma ou duas vagas são reservadas para os ganhadores do sistema eliminatório, conhecidos como play-offs internacionais. Antigamente os campeões das edições anteriores eram automati- camente classificados para a próxima Copa, a partir da edição de 2006 essa regra não é mais aplicada e o campeão é obrigado a se classificar normalmente como qualquer outra seleção. e) Participantes Participam do evento 32 seleções nacionais, que disputam 64 parti- das em duas fases. Esse formato da competição foi adotado a partir da Copa do Mundo de 1998, realizada na França. O estilo de jogo sulameri- cano, com destaque para o brasileiro, é diferente do europeu. As compara- ções entre os dois estilos de jogo deu margem à criação do paradigma que contrapõe o futebol-arte, típico do Brasil, com o fu- tebol-força, característica da Europa. O futebol-arte se carac- teriza pela criatividade tática, qualidade técnica dos jogadores e jogadas individuais que provocam um desequilíbrio no jogo. Por sua vez, o futebol- força se fundamenta em uma preparação física esmerada, na disciplina tática dos jogadores e em jogadas coletivas que de- monstram a sinergia da equipe durante os jogos. A fase do play-offs cor- responde à repescagem e é a última oportunidade para que as seleções que não obtiveram a classifi- cação nos torneios con- tinentais, consigam uma vaga para a Copa do Mundo de Futebol.
  • 40. 39 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos No quadro a seguir você tem acesso a informações sobre o número de vagas destina- do a cada Confederação Continental de Futebol e quais foram as seleções nacionais classi- ficadas para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil. Continente Sigla Vagas Participantes em 2014 África CAF 5 Argélia, Camarões, Costa do Marfim, Gana e Nigéria América do Norte, Central e Caribe CONCACAF 3,5 Costa Rica, Estados Unidos da América, Honduras e México América do Sul CONMEBOL 4,5 Argentina, Brasil*, Chile, Colômbia, Equador e Uruguai Ásia AFC 4,5 Austrália, Irã, Coreia do Sul e Japão Europa UEFA 13 Bósnia e Herzegovina, Bélgica, Croácia, Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Grécia, Holanda, Itália, Portugal, Rússia e Suíça. Oceania OFC 0,5 ____ Quadro 6 – Cidades-sede e estádios da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 *Vaga garantida pelo Regulamento por ser o país sede. f) Duração A competição da Copa do Mundo de Futebol de 2014 terá 31 dias de duração. Seu início está agendado para quinta-feira, dia 12 de junho de 2014, com o jogo entre o país sede, Brasil, e a seleção da Croácia, na Arena de São Paulo. Com exceção do dia abertura oficial, quando será realizado apenas um jogo, nos 14 dias seguintes da competição, está prevista a realização de três ou quatro jogos por dia, sem nenhum dia de interrupção. Isto significa que teremos uma agenda cheia de jogos que permitem a avaliação técnico-tática das equipes. O término da 1a fase de grupos será no dia 26 de junho, outra quinta-feira. O dia 27 de junho está reservado para um descanso antes do início da 2a fase do torneio, logo, não tem prevista a realização de nenhum jogo. A 2a fase, eliminatória simples, inicia no dia 28 de junho, sábado. Nela ocorrerão quatro etapas com dois dias de intervalo entre cada uma delas.
  • 41. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 4040 Nas duas primeiras etapas está prevista a realização de dois jogos por dia, sendo a primeira etapa (oitavas de final) com quatro dias de duração e a segunda etapa (quartas de final) com dois dias de duração. Na semifinal e na final teremos a realização de um único jogo por dia. A disputa de 3o e 4o lugares será no dia 12 de julho e a grande final da Copa do Mundo de Futebol, no dia 13 de julho de 2014, domingo. g) Sistema de disputa – primeira e segunda fases yy Na primeira fase da competição as seleções nacionais se enfrentam, em um sis- tema de rodízio, no qual todos jogam contra todos, dentro dos seus respectivos grupos. As 32 seleções estão divididas em oito grupos com quatro times. As oito seleções consideradas mais fortes são consideradas como cabeça de chave de cada grupo e as outras são sorteadas. Nessa fase, classificam-se as duas me- lhores seleções de cada grupo, logo, 16 seleções serão eliminadas e 16 seleções permanecem na competição. yy Os jogos podem terminar com a vitória de uma equipe ou com empate. yy Na segunda fase, adota-se outro sistema de disputa, a eliminatória simples, na qual quem ganha é classificado e quem perde é desclassificado. Esse sistema de disputa é apelidado de “mata-mata”, pois cada jogo é decisivo e, portanto, não pode mais haver empate. yy Caso o jogo termine empatado no tempo regulamentar (90 minutos), deve ser rea- lizada uma prorrogação com, obrigatoriamente, 30 minutos de duração. Não está previsto o recurso do “gol de ouro”, quando a prorrogação é interrompida em caso de gol. Persistindo o empate, o resultado é definido por meio da cobrança de pena- lidades máximas. Sendo assim, na segunda fase da Copa do Mundo de Futebol é impossível a realização de um jogo sem a marcação de gols. yy A segunda fase está dividida em quatro estágios, como especificado a seguir: yy nas oitavas de final e nas quartas de final, os vencedores passam para o próximo estágio e os perdedores são eliminados; yy na semifinal os vencedores disputam a final (campeão e vice-campeão) e os per- dedores fazem um jogo antes da final para decidirem o 3º e o 4º lugar. yy O time campeão joga sete (7) partidas. Pode até perder um dos três primeiros jogos da fase inicial, mas depois, na segunda fase, ele precisa ganhar os quatro jogos para ser campeão. yy Entenda os termos utilizados para se referir às etapas da Fase Final: yy são classificados 16 times para a fase final, que irão disputar oito jogos; em função do número de jogos, essa etapa é denominada de oitavas de final, mas a FIFA também se refere a ela como a Fase de 16 times; yy o mesmo raciocínio é aplicado nas quartas de final, quando oito times disputam quatro jogos; yy as duas partidas da semifinal indicam as seleções que vão disputar o título de campeã, como também, as que vão disputar o 3o e 4o lugares da competição;
  • 42. 41 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos yy a etapa final reúne as duas seleções que não possuem nenhuma derrota na fase final da competição. h) Cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA 2014 Veja no quadro a seguir os nomes das cidades-sede e dos estádios/arenas em que serão realizados os jogos. CIDADE- SEDE NOME DO ESTÁDIO OU ARENA Belo Horizonte – MG Estádio Mineirão Brasília – DF Estádio Nacional Mané Garrincha Cuiabá – MT Arena Pantanal Curitiba – PR Arena da Baixada Fortaleza – CE Estádio Castelão Manaus – AM Arena Amazônia Natal – RN Estádio das Dunas Porto Alegre – RS Estádio Beira-Rio Recife – PE Arena Pernambuco Rio de Janeiro – RJ Estádio do Maracanã Salvador – BA Arena Fonte Nova São Paulo - SP Arena de São Paulo Quadro 7 – Cidades-sede e estádios da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 i) Antidoping ... ou todo cuidado é pouco! A análise das amostras de sangue e urina dos jogadores na Copa do Mundo não será realizada por um laboratório no Brasil. A Associação Mundial Antidoping/WADA credenciou um laboratório em Lausanne, na Suíça, capaz de utilizar a nova estratégia de luta considerada como a mais adequada contra o doping: a dopagem por meio do módulo de esteróides do Passaporte Biológico do Atleta. A FIFA está tomando as providências logísticas necessárias para o envio de amostras ao exterior. O Passaporte Biológico pode ser descrito como um arquivo de resultados dos exames periódicos realizados pelos atletas profissionais, sendo composto por três módulos: O passaporte biológico leva em conta o princí- pio de estabilidade que caracteriza a fisiologia do ser humano. Caso haja alguma discrepân- cia de resultados entre os exames, são toma- das providências para acompanhar os atletas considerados suspeitos.
  • 43. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 42 yy sanguíneo, que visa detectar qualquer tipo de substâncias proibidas no sangue; yy esteroide, que identifica a presença de anabolizantes no organismo. yy endócrino, que verifica se existem alterações relacionadas ao hormônio do cresci- mento. Por último, vale lembrar que alguns atletas já foram punidos com a utilização do passaporte como parâmetro de combate ao doping. Por isso, como alerta o subtítulo deste tópico: com esta questão todo cui- dado é pouco! Nesta Unidade, você estudou elementos importantes que carac- terizam a Copa do Mundo de Futebol, com destaque para a que será realizada no Brasil, em 2014. Em um primeiro momento, discutimos o papel da IFAB (International Football Association Board) em relação à evolução das regras do futebol. Vimos que, em geral, o futebol é um esporte que revela certa resistência em relação às alterações de suas regras como esporte. Em um segundo momento, você aprendeu diversos conteúdos sobre a história e a organização da Copa do Mundo de Futebol de 2014, um dos maiores eventos esportivos do mundo. Para tanto, estudou como aconteceram as várias edições desse Megaevento nas 19 edições que foram realizadas, antes desta que acontecerá no Brasil, e em relação à qual você tem a expectativa de ser convocado para atuar como voluntário. Ao estudar os temas abordados nesta Unidade, você teve a oportunidade de analisar elementos-chaves para a compreensão da Copa do Mundo de Futebol, como a galeria dos campeões, vagas, periodicidade, participantes, duração, sistema de disputa (na 1ª e 2ª fa- ses) as cidades-sede e o antidoping. Chegamos ao término da Unidade 4, agora é só testar seus conhecimentos e concluir o Módulo! Para conhecer mais so- bre o assunto, na seção Textos Complementares, você tem disponível al- gumas curiosidades so -bre a Copa do Mundo de Futebol.
  • 44. 43 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Teste seus conhecimentos ATIVIDADE 1 A Copa do Mundo é um Megaevento que assume grande importância tanto para o país que a sedia quanto para aqueles que participam da competição. Partindo desta ideia, avalie as afirmativas a seguir. I. A Copa de 1930 ocorreu no Uruguai e contou com um pequeno número de seleções europeias. II. A primeira Copa do Mundo foi realizada em 1924, contando com poucas partidas de futebol. III. O acontecimento da Segunda Guerra Mundial impediu a realização das Copas de 1942 e 1946. IV. O Brasil é o único país cuja seleção chegou a participar de todas as edições da Copa do Mundo. V. A Copa do Mundo já teve 19 edições, tendo a última ocorrido na África do Sul, em 2010. É correto APENAS o que se afirma em: a) I, II e III b) I, III e IV c) I, II, IV e V d) I, III, IV e V e) II , III, IV e V ATIVIDADE 2 Considerando os estudos realizados, julgue a afirmativa a seguir. Dentre as 32 vagas para participação na Copa do Mundo de Futebol somente duas estão previamente definidas: a seleção do país que será a sede da competição e a seleção campeã na competição anterior. ( ) Verdadeiro ( ) Falso
  • 45. Unidade 3 – O que todo mundo deve saber sobre as regras do futebol 44 Chegamos ao final do Módulo História do Futebol e Megaeventos! Quantos conhecimentos foram construídos por você visando à compreensão da relação entre futebol e esporte, no contexto da Copa do Mundo da FIFA! Você aprendeu sobre semelhanças e diferenças entre os conceitos jogo e esporte, de forma que é capaz de entender as transformações sofridas pelo futebol e pelo esporte de uma maneira geral. Certamente percebeu que, ao longo desse processo, o futebol, que no início era um jogo, vai se transformando, aos poucos, em um esporte. Aprendeu, também, que há outras manifestações esportivas além do esporte de rendimento, que devem merecer igual atenção do poder público e da sociedade em geral para a sua efetiva estruturação: o esporte educacional e o esporte de participação. Estudou sobre a história do futebol, que pode ser apontada como um exemplo do processo de difusão do esporte, como também, alguns detalhes sobre a estrutura responsável pela sua organização no mundo e sobre a entidade que elabora e faz a revisão das regras. Outro tema importante discutido foi a importância do Fair Play para que o esporte continue a ser uma atividade comprometida com o desenvolvimento ético e moral do ser humano.Todos nós temos uma parcela de responsabilidade com os princípios do Fair Play. Ao estudar sobre a história da Copa do Mundo da FIFA, como você pode ver ao longo do Módulo, ela está marcada pela grande busca em oportunizar a integração dos povos, bem como relacionada a diversos interesses que envolvem o esporte na atualidade. Desejamos que você seja um voluntário e possa ter sucesso nessa honrosa tarefa, utilizando os conhecimentos construídos ao longo das várias Unidades que compuseram este Módulo! A partir dessa experiência você poderá deixar de ser uma pessoa que estuda e aprecia a Copa do Mundo de Futebol para ser alguém que faz parte dessa história e ajuda a escrevê-la. Muito mais do que os conhecimentos contidos nesse Módulo, o sucesso da atuação como voluntário pode ser creditado ao espírito de solidariedade e o desejo de contribuição que caracterizam o brasileiro, senão todos, pelo menos os brasileiros como você. Sucesso em sua trajetória! Certamente você construiu muitos conhecimentos ao estudar os temas abordados neste Módulo! Vamos colocar em prática no Fórum Temático o que você aprendeu? Em interação com seus colegas, você poderá ampliar seus conhecimentos.Afinal, sempre aprendemos com o coletivo!
  • 46. 45 Textos Complementares Semelhanças entre jogo e esporte A identificação do que aproxima o jogo do esporte indica quais são os aspectos que devem ser preservados para garantir que cada um deles, tanto o jogo como o esporte, continuem a estar vinculados aos significados presentes em suas raízes sócio-culturais. As palavras jogo e esporte costumam ser utilizadas como sinônimos, para se referir a atividades que possuem cinco características comuns: a) atividade livre, conscientemente tomada como exterior à vida habitual; construída para ser uma escolha para quem joga e que os coloca em oposição às obrigações com a produção de algo que não esteja relacionado com o próprio jogo; b) atividade prazerosa capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total; isso explica o desejo ininterrupto de participação no jogo como forma de vivenciar novamente a necessidade de comprovar que é capaz de fazer de novo uma mesma façanha esportiva; c) atividade com regras praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo determinada ordem; a regra garante o exercício da criação de um senso estético relacionado às proezas corporais e, ao mesmo tempo, um senso ético, que põe à prova as qualidades do jogador para superar-se, a partir de regras previamente definidas e auto-impostas; d) atividade social que promove a formação de grupos de pessoas que se unem para participar juntos da atividade lúdica, mesmo que tenham que atuar como adversários; e) atividade de desafio em que os participantes sempre se esforçam para fazer o melhor que estiver ao seu alcance.
  • 47. Textos Complementares 46 A orgiem do futebol: a contribuição dos ingleses A formação de um time é o ponto de partida para, depois, ser criado um clube. Os clubes se reúnem em associações que têm por finalidade congregar diversos times em torno da cultura própria de uma modalidade esportiva. Dentre as principais ações das associações esportivas, destacam-se a definição e padronização das regras e a organização de campeonatos. Em 1863, sob a liderança de Ebenezer Morley, representantes de 12 clubes ingleses se reuniram com o objetivo de criar um regulamento comum para disciplinar a prática do futebol, tanto na Inglaterra como em outros lugares do mundo. À época, onze clubes chegaram a um consenso para estabelecer quatorze regras do novo regulamento para a prática do futebol fundaram a Football Association, órgão que rege até hoje o futebol na Inglaterra. A principal finalidade da associação recém-criada era diferenciar essa proposta de jogo de outras formas de jogar futebol naquele tempo. No esporte ter regras comuns facilita a realização de campeonatos para interação entre os clubes e preserva a identidade do jogo quando é ensinado para outras pessoas. Essa iniciativa garante a difusão do esporte sem que existam distorções. Todavia, um clube dissidente criou outra associação que deu origem ao rúgbi – esporte coletivo de intenso contato físico entre os jogadores, concebido como uma variação do futebol. A discordância foi motivada por dois pontos para diferenciar o futebol (soccer) do rúgbi: (i) o uso dos pés (futebol) ou o uso das mãos e pés (rúgbi) como a técnica de ataque para transportar a bola; (ii) a disputa da bola sem contato corporal direto (futebol) ou a permissão de segurar o adversário (rúgbi) como a técnica de defesa para impedir a progressão do ataque adversário. A expressão inglesa soccer, utilizada para designar os praticantes de futebol, de forma a diferenciá-los dos praticantes de rúgbi, é uma abreviatura adotada pelos estudantes das escolas inglesas derivada de “association”, que se refere às pessoas que faziam parte de uma mesma associação esportiva. O termo soccer é majoritariamente usado nos países de língua inglesa para designar a nossa maneira de jogar futebol, enquanto a palavra football é utilizada para se referir ao “futebol americano”, originado do rúgbi. Pela conjugação desses aspectos, o ano de 1863 é considerado por muitos como a data que historicamente marca a criação das regras que deram origem ao futebol, em suas diversas formas de jogar.
  • 48. 47 História do Futebol e Megaeventos – Curso de Capacitação para o voluntariado em Megaeventos Profissionalização do futebol e contraposição histórica entre o amadorismo e prática do esporte Em função da origem aristocrática do esporte, como uma atividade de lazer da elite inglesa, inicialmente, os times de futebol brasileiros eram formados apenas de pessoas de pele branca, dado o fato de a maioria dos clubes ter sido fundada por estrangeiros. Assim, a recriação moderna do esporte está comprometida com uma lógica amadora, que tem como preocupação principal caracterizar o esporte como uma atividade de lazer – sem a influência considerada negativa de interesses financeiros. No Brasil, a década de 1920 é considerada o marco para a popularização do futebol. A procura por melhores jogadores transformou a lógica inicial do amadorismo, que motivou a formação dos times. Para o esporte, as barreiras sociais não têm significado, pois dentro de campo é a habilidade para jogar que define a importância que o jogador tem para o time. Mas, nem sempre o esporte possui força suficiente para superar contradições sociais. Nessa época, em que o conceito de difusão do esporte era a principal diretriz, não havia sen- tido falar em restrições sociais para a prática do esporte. Dessa forma, os jogadores negros que demonstraram destreza para a prática do esporte começaram a ser aceitos nos clubes de futebol. Os times baianos, por exemplo, já contavam com jogadores negros e o Vasco da Gama foi o primeiro dos clubes grandes do Rio de Janeiro a vencer títulos com uma equipe repleta de jogadores negros, oriundos de uma classe social de baixa renda. Todavia, se no início era expressamente proibido qualquer tipo de contrapartida finan- ceira para as pessoas que se dedicavam ao esporte, com o argumento de que o amor pelo jogo deveria ser a única motivação dos jogadores, essa realidade muda com o passer do tem- po. Isto porque a necessidade de conceder algum tipo de apoio econômico aos jogadores de baixa renda deu origem, no Brasil, à expressão amadorismo marrom, fase intermediária entre o amadorismo e a profissionalização do futebol. Neste contexto, a ajuda de custo não se caracterizava como salário, mas reconhecia que o jogador precisava de alguma compensação financeira que lhe desse condições para se dedicar ao esporte sem comprometer a sua renda pessoal e o sustento de sua família. Outro dado a considerer é que a preocupação em melhorar o desempenho das equi- pes criou, portanto, a oportunidade para pessoas de outras classes sociais, que não eram sócias dos clubes de elite, fossem convidadas para jogar e representar o clube nos campeo- natos. No caso do futebol, esse foi um dos elementos que favoreceu a profissionalização do esporte e a participação de pessoas de todas as classes sociais. A popularidade alcançada pelo futebol pode estar relacionada com o seu jeito simples de jogar. Em geral, basta uma bola, alguns jogadores e as traves, para que, em diversos es- paços, crianças e adultos comecem a brincar de futebol. Entretanto, na atualidade, o esporte está associado a uma série de interesses econô- micos e políticos. O prestígio gerado pelas conquistas esportivas e as repercussões financei- ras decorrentes transformam o futebol, e outras modalidades esportivas, em um espetáculo que mobiliza a atenção de um número cada vez maior de pessoas.