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Carlos Alex Martins Soares
(Organizador)
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
SO676e
Soares, Carlos Alex Martins.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights / Carlos Alex Martins
Soares (organizador). 1. ed. – Pelotas, RS: s.n., 2018.
92 p.; 14,8 x 21 cm.
1. Desporto. 2. Basquete. 3. Técnicos de basquete. 4. Preparação
física. 5. Formação de atletas. I. Soares, Carlos Alex Martins, org. II Título.
CDD 796.323
CDU 796.32
12-12960
i
AUTORES
Alessandro Trindade. Bacharel em Arquitetura pela
UFPel. Foi atleta de basquete da UFPel. Desenhista
desde criança, fez charges e ilustrações para a Revista
Mais Basquete, incluindo as mascotes que ilustram a capa
desta obra.
Carlos Alex Martins Soares. Licenciatura Plena em
Educação Física (1997), Especialista em Educação (2002)
e Mestre em Educação Física (2015) pela Universidade
Federal de Pelotas. Atualmente é estudante de Doutorado
no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e
do Adolescente da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGSCA-
FAMED-UFRGS). Tem experiência em basquetebol:
atleta, árbitro da Federação Gaúcha de Basketball (FGB)
e técnico do Pelotas Basketball Clube (PBC) e da Seleção
Universitária Gaúcha. É Consultor de Basquete do Centro
Esportivo Virtual. (http://cev.org.br/qq/carlosalex/).
Cesare Augusto Marramarco, Licenciado em Educação
Física pela UFRGS, Especialista em Treinamento
Desportivo-Atletismo pela URCAMP (Bagé) e Mestre em
Ciências do Movimento Humano pela Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC). Técnico de basquete
desde 1978: SOGIPA (Porto Alegre), FUnBa (Bagé-RS),
Clube Recreio da Juventude e Clube Juvenil (Caxias do
Sul), escolas da rede municipal, estadual e particular e de
seleções gaúchas. Atualmente é professor da
Universidade de Caxias do Sul e da rede municipal de
ensino do município de Farroupilha, onde continua o
trabalho com a formação esportiva de base.
Dante de Rose Júnior. Licenciado (1974) em Educação
ii
Física e Doutor em Psicologia Social (1996) pela
Universidade de São Paulo. Foi professor da USP, onde
encerrou a carreira como professor titular após 28 anos.
Tem experiência na área de Educação Física e Esportes,
com ênfase nos seguintes temas: basquetebol, análise de
jogo, esporte infantil, stress esportivo e psicologia do
esporte. Foi Coordenador Pedagógico da Escola Nacional
de Treinadores de Basquetebol e, atualmente, trabalha
em prol do desenvolvimento do Minibasquete em clubes e
escolas. (http://cev.org.br/qq/dante/).
Fabrício Boscolo Del Vecchio, Bacharel (2001),
Licenciado (2004), Mestre (2005) e Doutor (2008) em
Ciências do Esporte pela Universidade de Campinas
(UNICAMP). Atualmente é Professor da Escola Superior
de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em
Educação Física (PPGEF) da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). É membro da National Strength and
Conditioning Association (EUA) e do Comitê Científico do
GTT12 — Treinamento Esportivo do Colégio Brasileiro de
Ciências do Esporte (CBCE). Tem experiência em
modalidades de combate, treinamento esportivo, saúde
coletiva e atividade física. Autor de artigos e livros com
ênfase no treinamento intervalado de alta intensidade
(HIIT). É palestrante reconhecido nacionalmente e
mantém o Canal Treino com Fabrício no Youtube que
armazena as “lives” semanais que tratam de temas
correlatos a educação física.
(http://cev.org.br/qq/fabricioboscolo/).
José Medalha. Possui graduação (1967) em Educação
Física (Licenciatura) e Especialização (1968) em Técnica
Desportiva (Basquetebol) pela Escola de Educação Física
do Estado de São Paulo, atual USP. É Mestre (1979) e
Doutor (1982) em Educação Física pela INDIANA
UNIVERSITY, BLOOMINGTON, EUA e Livre Docência
iii
em Educação Física pela USP (1990). Foi professor da
FEFE-USP e da Universidade de Ribeirão Preto
(UNAERP). Técnico de basquete que integrou a comissão
técnica da seleção brasileira na conquista do Pan-
americano de 1987 e foi Diretor-Geral da Confederação
Brasileira de Basketball (CBB). Atualmente é Agente FIBA
e Consultor Técnico.
(http://www.josemedalhaconsultoria.com.br).
Liz Imyra Oliveira. Bacharel (2011) em Ciências da
Atividade Física pela Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-
USP). É mesária da Federação Paulista de Basketball
(FPB) e foi Bolsista de Iniciação Científica sob a
orientação do Prof. Dante de Rose Júnior, época que
escreveram este artigo.
Marcelo Berro. Marcelo Berro é Técnico Provisionado
pelo CREF-RJ em 2004, trabalhou em diversos clubes do
Rio de Janeiro e da Bahia (Botafogo, América F. C.,
Hebraica-RJ, Grajaú Country Clube, Flamengo, Talentos
nativos e Faculdade Souza Marques). Atualmente é
Coordenador Técnico do Centro de Treinamento do
Bábby.
Ronaldo Pacheco. Possui Licenciatura Plena pela
Faculdade Dom Bosco de Educação Física (1979), Mestre
em Educação Física pela Universidade Católica de
Brasília (2000) e especialização em Psicologia do Esporte
e da Atividade Física pela Universidade de Brasília (2003).
Foi professor da Secretaria de Educação do DF por 37
anos. Atualmente é horista da Universidade Católica de
Brasília e Professor substituto do curso de Educação
Física da Universidade de Brasília. Técnico de
Basquetebol atuante no DF, com títulos regionais em
diversas categorias e Campeão Brasileiro de Basquetebol
iv
na temporada 2006/07 com a equipe Universo-BRB. Entre
2010 e 2015 foi técnico da equipe sub22 do UNICEUB-
BRB, disputando seis edições da Liga de
Desenvolvimento do Basquete.
(http://cev.org.br/qq/ronaldo-pacheco/).
Sílvia Deschamps. Formada em Psicologia (1995) pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestre
(2002) e Doutora (2008) em Educação Física pela USP.
Atualmente é professora da UNAERP (Campus Guarujá-
SP), pesquisadora nas áreas do esporte e do exercício,
com experiência em psicoterapia individual. Desenvolve
trabalhos com atletas e equipes de diversas modalidades
e preparou parte da equipe olímpica brasileira para os
Jogos Olímpicos de Sydney (2000), Organizou a
preparação mental do Projeto Olímpico do Esporte Clube
Pinheiros e presta assessoria/consultoria em psicologia do
esporte. (http://cev.org.br/qq/silvia-deschamps/).
v
DEDICATÓRIA
Aos meus professores de Educação Física e técnicos dos
anos 1980. São pessoas que, de uma forma ou de outra,
marcaram minha adolescência, fortaleceram minha paixão
pelo basquete, deram um norte moral e confiaram no meu
potencial como atleta. Preocuparam-se, todos, em
contribuir com a formação do ser humano que me tornei.
Minha busca por mais basquete é metafórica: quero o
basquete forte e massificado e ao mesmo tempo ter onde
praticar, ensinar e torcer por qualquer um que pratique
este esporte fascinante. Então, meu MUITO OBRIGADO,
ao Élbio Porcellis, Paulinho Oliveira (no colégio e lá no
nosso SESC, deixastes uma marca indelével em minha
memória e coração), Orlando Sidnei Viana, Cesare
Marramarco, Carlos Roberto Ocaña, Luiz Carlos Jakulski
“Russo”, Lucas Acosta (chegou do Uruguai e me colocou no
time adulto, aos 16 anos) e Ivan Ravazza pelo basquete que
compartilhamos e pelas lições gigantescas de
desprendimento, confiança e legado esportivo.
vi
vii
AGRADECIMENTOS
Muitas palmas, por vários minutos, a todos que se
dispuseram a participar desta jornada. Me ensinaram
e, com isto, cumpriram o objetivo de nossa proposta
massificadora do basquete através do conhecimento.
Merecem as horas dedicadas para organizar esta obra.
É meu presente para vocês.
viii
ix
SUMÁRIO
AUTORES ..................................................... i
DEDICATÓRIA ..............................................v
AGRADECIMENTOS..................................... vii
APRESENTAÇÃO .......................................... xi
Ainda em busca de mais basquete.....................xii
Carlos Alex Martins Soares
FORMAÇÃO DE ATLETAS ...............................1
Minha vida no basquete: “formando” pessoas ....2
Cesare Augusto Marramarco
Treinador de basquete e os aspectos que
envolvem a formação de jovens atletas ...............7
Dante de Rose Júnior
Esporte, escola e Educação Física: pensamento na
história para buscar novos caminhos ............... 17
Ronaldo Pacheco
Desempenho técnico individual no basquetebol
masculino: relação entre posições específicas,
classificação das equipes e indicadores do jogo.23
Dante de Rose Júnior & Liz Imyra Oliveira
x
Como formar um armador?.............................. 31
Marcelo Berro
Formando atletas e técnicos através do esporte
universitário ....................................................36
Carlos Alex M. Soares
PREPARAÇÃO FÍSICA NO BASQUETE ............ 43
Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo
aeróbio?...........................................................44
Fabrício Boscolo Del Vecchio
O treino metabólico de jogadores de basquetebol:
ênfase nos componentes aeróbios e anaeróbios
treinados em quadra ........................................52
Fabrício Boscolo Del Vecchio
HISTÓRIAS DO BASQUETE BRASILEIRO ....... 59
Pan-87: uma conquista histórica ......................60
José Medalha
PSICOLOGIA DO ESPORTE ........................... 66
A Psicologia do Esporte e o Basquetebol ........... 67
Sílvia Deschamps
xi
APRESENTAÇÃO
xii
Ainda em busca de mais basquete
Carlos Alex Martins Soares
Aproximadamente há sete anos lancei, em
parceria com o jornalista Álvaro Guimarães, a Revista Mais
Basquete na comemoração dos 24 anos vitória do Brasil
sobre os EUA no Pan-Americano de Indianópolis. O
objetivo era e, continua sendo, propor o debate sobre o
basquete brasileiro e contribuir para que o mesmo
encontro um ponto que o torne grande novamente, como
na época de Wlamir Marques, Algodão ou na luta
incessante de Oscar, Marcel, Pipoca, Guerrinha e outro
para manterem o legado.
Pois bem, Rubem Alves coloca que o conhecimento
deve ser antropofagicamente saboreado. Come-o, então.
Incorpora a teu ser esse novo aprendizado. Mas há que ter
cuidado, pois esse desejo de possuir o conhecimento pode
se confundir com poder e este levar a tirania. Ter o
conhecimento pressupõe saber usá-lo, saber leva-lo aos
mais distantes pagos e, nessa caminhada, retornar ao lar
com novos aprendizados que nos façam evoluir como seres
xiii
humanos.
Assim como buscamos produzir a revista em
portable document format, o popular PDF, também lanço
este livro neste formato, com a reprodução seletiva de
alguns dos artigos de outrora e agregação de novos para
dar voz ao novo e não deixar perderem-se magníficos
escritos com potencial agregador, histórico e
contemporâneo em prol do nosso basquete.
Assim como a revista, este livro objetiva contribuir
com a (re)construção do basquete através de uma visão
positiva na formação de todos os técnicos de basquete,
estudantes e professores de educação física do Brasil e
agregar mais alimento aos nossos espíritos.
A produção exposta nos dois números da Revista
Mais Basquete foi elaborada por técnicos da modalidade de
diversas partes do país que aceitaram o desafio de
contribuir através da socialização do conhecimento que os
movimenta em torno do basquete. São técnicos conhecidos
dos brasileiros e alguns com projeção internacional. São
profissionais que demonstram o interesse e o
desprendimento em prol do crescimento do basquete
brasileiro. São profissionais que sabem da situação de
nossa modalidade e por isto doaram tempo e
xiv
conhecimento, reflexões e propostas, um pouco de suas
práxis e muito de seu talento. Eles abraçaram a ideia e
socializaram seus textos e pensamentos com uma
humildade que surpreendeu e ainda me deixa muito feliz.
Tudo isso na tentativa incansável de autorreflexão,
qualificação e desenvolvimento do esporte que amamos.
Portanto, quando falo de antropofagia, me refiro a
metáfora da magia da incorporação do conhecimento novo
ao que já sou. Espero que todos também se sintam da
mesma forma, pois o conteúdo aqui reproduzido é
qualificado demais e merece ser consumido
permanentemente.
FORMAÇÃO DE ATLETAS
2
Minha vida no basquete:
“formando” pessoas
Cesare Augusto Marramarco
Quando recebi o convite do Carlos Alex para
escrever sobre basquete e, especialmente, sobre iniciação,
confesso que fiquei bastante envaidecido e ao mesmo
tempo preocupado. Ser lembrado pelos colegas, ex-atletas
e pessoas com quem convivemos é sempre muito
importante e acredito ser este o melhor reconhecimento,
pois é feito por pessoas que convivem neste mesmo meio e
sabem do seu trabalho. Porém, uma coisa é dar um treino,
uma palestra, uma atividade prática, coisas que fazem
parte do teu cotidiano. Outra é colocar isso no papel, o que
não é absolutamente a mesma coisa. Espero poder
corresponder a esta expectativa.
Nestes 34 anos como técnico de basquete,
praticamente nunca me afastei do trabalho com as
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
3
categorias de base, especialmente o minibasquete. Mesmo
quando técnico de equipes adultas, sempre fiz questão de
continuar trabalhando com a gurizada. Para mim sempre
foi o momento de descontração, de alegria e onde eu
realmente me sentia útil. Não que ser técnico de equipe
adulta seja menos importante, gratificante ou mais fácil.
Porém pelo meu temperamento, o trabalho de formação
sempre foi onde me senti realizado. Todos nós, técnicos,
sabemos onde somos melhores e considero isto
fundamental não só para o sucesso profissional como para
a nossa felicidade. Afinal felicidade é o que todas as
pessoas buscam alcançar e acredito que só consigamos
realmente sermos felizes se isso acontece também no
trabalho.
Tanto quanto todas as outras profissões, ser técnico de
basquete exige amor e dedicação. E trabalhar com crianças
exige que se goste e se tenha paciência com elas. Não se
confunda isso com falta de limites ou de cobrança em
busca de objetivos. Porém o carinho e a paciência em saber
que cada um tem um ritmo diferente de aprendizagem são
essenciais. E, essencialmente, sabermos que estamos
lidando com pessoas em um momento crucial de sua
formação e o que for feito neste momento provavelmente
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
4
ecoará por toda a sua vida. E não estou falando sobre
técnica individual, fundamentos ofensivos e defensivos,
pois estes sabemos que, com um pouco mais ou menos de
trabalho, podem ser corrigidos em qualquer fase da vida do
atleta. Entretanto, os valores e virtudes morais encontram
na iniciação o seu melhor momento para serem lapidados.
Talvez seja por isso que considero tão importante o
trabalho nesta fase. Costumo comentar que, se fosse
mudar alguma coisa na minha carreira profissional, talvez
tivesse estudado um pouco menos sobre basquete e um
pouco mais sobre pessoas. Quando fui fazer o mestrado
com o meu querido e saudoso Prof. Ruy Krebs passávamos
muito tempo estudando as teorias do desenvolvimento
humano. Naquelas leituras e discussões eu consegui
encontrar explicações para os meus erros e acertos e
solidificar a minha opinião para a importância do trabalho
nesta fase. No seu modelo de especialização motora, o
Prof. Ruy sempre salientou a importância do primeiro
estágio, o de Estimulação, na formação do futuro atleta.
Desta forma, uma das coisas que mais me empolga
no trabalho é que, muito mais do que atletas, formamos
pessoas. O que quero salientar é que alguns que passarem
por nós, muito mais por suas capacidades próprias do que
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
5
por méritos nossos, serão atletas durante um tempo maior.
Talvez sejam atletas de seleções estaduais, brasileiras ou
até profissionais. Porém o maior grupo será formado de
pessoas que praticaram o basquete por algum tempo e
seguiram o seu rumo na vida, sendo profissionais nas mais
diferentes áreas. Provavelmente algumas das experiências
do seu tempo de atleta lhes ajudem nesta sua vida
profissional e este será, provavelmente, o nosso maior
pagamento.
Por outro lado, se o foco de nosso trabalho fosse
essencialmente de formar atletas de alto nível,
provavelmente seríamos tremendamente frustrados, pois
de cada dez atletas que começam nas escolinhas e mini,
talvez um chegue a categoria juvenil.
Destes, a possibilidade de se profissionalizar é
bastante pequena, dado ao número de equipes que temos
em nosso país. Dependendo da região, esta chance é ainda
menor.
No entanto, tudo isso acontece através da prática do
basquete. As crianças que vem até nós estão com a sua
atenção voltada para a prática do esporte e a nossa função
primordial neste momento é ensinar, o melhor possível, a
estes jovens. A motivação deles para a prática vem do êxito
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
6
em conseguir realizar as técnicas que constituem o jogo.
Porém, nós como técnicos devemos ter esta visão a longo
prazo para sabermos da importância de cada situação de
nosso apaixonante esporte.
7
Treinador de basquete e os aspectos que
envolvem a formação de jovens atletas
Dante de Rose Júnior
A prática esportiva infantil, independentemente
do esporte praticado, é permeada por ações adultas – pais,
dirigentes, professores, treinadores e árbitros que, de
alguma forma, interferem nas experiências esportivas dos
praticantes.
Nesse processo, o treinador tem uma importância
fundamental, pois além de ser a pessoa que atuará
diretamente sobre os futuros comportamentos esportivos
dos jovens, ele também poderá influenciá-los fora dos
campos de jogo. O poder de um treinador sobre um jovem
esportista é muito grande a ponto de vários estudos o
apontarem como dos principais motivos para a escolha de
uma modalidade esportiva e, ao mesmo tempo, como um
dos mais destacados fatores de abandono desta prática.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
8
Além disto, o treinador pode ter uma grande influência
sobre as atitudes e comportamentos, valores e sentidos de
vida de seus atletas, sendo ele o corresponsável pelo
desenvolvimento da personalidade de seus atletas e
também pelo seu futuro, após o final de sua carreira
esportiva.
A prática esportiva competitiva envolve diferentes
aspectos que afetam diretamente seus adeptos
(principalmente quando se trata de atletas em formação) e
o conhecimento deste contexto por parte dos treinadores é
fundamental para a realização de um trabalho adequado.
São eles:
I. Os aspectos biológicos relacionados aos estágios
desenvolvimento dos jovens, desde suas etapas
iniciais até as fases mais agudas como a puberdade e
adolescência e que são essenciais para a
determinação das cargas de trabalho adequadas a
cada uma das fases:
II. Os aspectos cognitivos que definirão os níveis de
compreensão das tarefas propostas e interferirão na
sua execução;
III. Os aspectos técnico-táticos de cada esporte, no
caso o basquetebol, representados pelas ações
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
9
individuais e coletivas que nortearão a proposta de
trabalho de cada treinador;
IV. Os aspectos psicológicos que envolvem o
conhecimento dos traços de personalidade desses
jovens e de seus limites em relação às exageradas
cobranças, muito comuns no ambiente esportivo
competitivo e também a demanda específica do
esporte, em função das características de cada um
deles; e
V. Os aspectos pedagógicos que envolvem o
conhecimento de todos os conteúdos anteriores para
que sejam elaborados os métodos e estratégias
adequados para cada momento das fases de
desenvolvimento do jovem.
Os treinadores, especialmente aqueles envolvidos
com o trabalho formativo, devem ter uma preparação
mínima já que vão trabalhar com jovens que têm somente
um conhecimento básico do esporte que irão praticar. Sem
dúvidas, é precisamente o treinador das etapas iniciais de
iniciação esportiva que deve ter uma formação sólida que
lhe sirva de instrumento para planejar o ensino do esporte
respeitando as etapas evolutivas desses jovens.
No âmbito pedagógico o papel do treinador deve
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
10
transpassar a simples barreira do ensinar movimentos
específicos ou movimentações táticas para suplantar os
adversários. As ações pedagógicas direcionadas
principalmente para a formação esportiva sugerem o
domínio de várias áreas de conhecimento sobre o
indivíduo e sobre a atividade para que sejam aplicadas de
forma adequada às necessidades do jovem praticante,
respeitando suas características.
Entre esses domínios podemos citar o biológico,
psicológico, técnico, tático, social e cultural. Ou seja,
conhecer a criança nos seus mais diferentes aspectos
(físicos, intelectuais, personalidade, inserção social) e a
atividade (demandas energéticas, demandas psicológicas,
demandas técnico/táticas e impacto cultural da mesma
sobre a comunidade) é fator preponderante para
determinar a ação pedagógica do profissional que atuará
sobre um determinado grupo de jovens.
Como estabelecer filosofias de trabalho,
programas de treinamento, planos diários de atividades ou
estratégias para competição sem o conhecimento de todos
os aspectos citados?
As oportunidades que são oferecidas ao jovem
para entender o basquetebol de forma global são
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
11
determinantes para seu futuro como atleta. Por isto é
fundamental que se pense numa formação integrada e que
coloque os elementos do jogo de forma contextualizada.
O técnico como fonte geradora de stress nos
jovens atletas
Estudo realizado com atletas brasileiros sobre os
motivos de abandono do esporte infanto-juvenil apontam
alguns dos aspectos negativos do contexto esportivo que
levaram os jovens a interromper a prática de determinada
modalidade: a ênfase exagerada na necessidade de vitória,
o stress gerado pela competição e o fato de não gostarem
do técnico. Curiosamente, o técnico é comumente citado
pelos jovens como uma das principais razões que
justificam a adesão à prática esportiva, mas também para
o abandono da mesma. Este dado é bastante preocupante
quando percebemos que o técnico como principal
responsável por fomentar a prática esportiva dos seus
atletas, acaba, por muitas vezes, afastando-os do esporte,
sem ter consciência da repercussão dos seus atos entre os
jovens esportistas.
Pesquisas feitas com atletas de categorias de base
no Brasil (14 a 18 anos) mostram que as atitudes de
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
12
técnicos relacionadas à sua comunicação com os jovens
atletas podem ser entendidas como prejudiciais e
causadoras de stress nos esportistas que buscam, na
verdade, por orientação e solução de problemas e não,
simplesmente a crítica desmesurada e sem objetivos.
Nesses estudos que abrangeram cerca de 500
atletas de basquetebol, handebol, natação e voleibol, o
objetivo principal era detectar situações causadoras de
stress em competição. Nele, os técnicos aparecem com
destaque como provocadores de stress quando apresentam
comportamentos tais como:
• não reconhecer o esforço dos atletas;
• gritar ou reclamar muito;
• enfatizar somente os aspectos negativos
• cometer injustiças;
• não apontar soluções frente aos problemas
provenientes das situações específicas do jogo ou da
competição;
• privilegiar determinados atletas.
Isso indica que o efeito do comportamento do
técnico é mediado pelo significado que os atletas atribuem
a ele, e pelo o que os atletas lembram desse
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
13
comportamento, sendo que a forma de interpretação
dessas ações pelas crianças e adolescentes afeta a maneira
como eles avaliam sua participação esportiva.
Atitudes frente ao processo de formação esportiva
e o que se espera de um bom técnico
Pode-se considerar que há dois tipos de atitudes de
técnicos que atuam no esporte infanto-juvenil, dirigindo
equipes das categorias de base:
I. O técnico que tem como objetivo principal a vitória,
enfatizando o produto e privilegiando os resultados
imediatos.
II. O técnico que visa a participação do jovem,
enfatizando o processo e buscando resultados a longo
prazo.
Em qualquer uma delas os técnicos podem,
dependendo de suas atitudes e da forma de comunicar-se
com os atletas, provocar situações causadoras de stress que
tendem a influenciar negativamente o desempenho dos
jovens e provocar comportamentos que poderão migrar
desde o desinteresse pela modalidade e até mesmo o
abandono.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
14
Seria razoável que se pensasse que, em um
processo de formação, estas últimas atitudes seriam as
mais adequadas. No entanto, muitos técnicos, por
diferentes razões privilegiam as primeiras, atropelando
este processo e antecipando uma série de eventos que, a
curto prazo, podem até ser interessantes, mas que
poderão, por sua vez acelerar o processo de abandono dos
jovens atletas.
Assim sendo, quatro princípios devem nortear a
conduta dos treinadores:
1. Vencer não é tudo, nem somente a única coisa: os
atletas não podem extrair o máximo do esporte se
pensarem que o único objetivo é vencer seus
oponentes. Apesar de a vitória ser uma meta
importante, ela não é o objetivo mais importante;
2. Fracasso não é a mesma coisa que perder: é
importante que os atletas não vejam perder como
sinal de fracasso ou como uma ameaça aos seus
valores pessoais;
3. Sucesso não é sinônimo de vitória: nem o sucesso
nem o fracasso precisam depender do resultado da
competição ou do número de vitórias e derrotas.
Vitória e derrota pertencem ao resultado da
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
15
competição, enquanto sucesso e fracasso não;
4. Os jovens devem ser ensinados que o sucesso é
encontrado através do esforço pela vitória, eles
devem aprender que nunca são perdedoras esforçam-
se ao máximo.
Conclusão
Fica evidente que o técnico deve ter uma
participação ativa no processo de formação do jovem,
porém provido de conhecimentos suficientes que
permitam uma atuação segura e benéfica para os futuros
atletas. Esse conhecimento deve ocorrer em quatro
domínios:
1. conhecimento do próprio jovem (sua realidade
biológica, psicológica e social);
2. conhecimento da modalidade com a qual irá
trabalhar (aspectos físicos, técnicos e táticos);
3. definição adequada de métodos e estratégias
de trabalho (planejamento, definição de objetivos,
escolha dos métodos de treinamento e dos exercícios
que farão parte desta atividade, entre outros); e
4. Intervenção eficaz no processo (atitudes
positivas de oferecer condições dos atletas
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
16
aprenderem, apresentar possibilidades para a
solução de problemas.
Leituras sugeridas
De Rose Jr., D.; Deschamps, S.R. e Korsakas, P. O jogo
como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil.
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 1, 2,
36-44, 2001.
De Rose Jr., D.; Campos, R.R.; Tribst, M. Motivos que
llevan a la práctica del baloncesto: um estudo com
jóvenes atletas brasileños. Revista de Psicologia del
Deporte, 10, 2, 293-304, 2001.
17
Esporte, escola e Educação Física:
pensamento na história para
buscar novos caminhos
Ronaldo Pacheco
Nesta minha primeira participação nesta revista,
gostaria de abordar um tema que tem feito parte das
discussões atuais (ainda mais com a proximidade da
realização da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas
no Brasil), mas que na verdade foram iniciadas a partir da
década de 80. Penso ser importante realizar uma reflexão
sobre a questão do esporte na escola, e nos artigos
posteriores pretendo tratar especificamente, sobre o
basquetebol na educação física escolar.
Antes de tudo, é importante esclarecer que estas
minhas reflexões se originam nas minhas vivências e
estudos nestes quase quarenta anos ligado à prática
esportiva e ensino escolar e universitário. Como toda
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
18
reflexão, está sujeita a contestação e ao debate de ideias
que ao final é a base de todo o aprendizado.
Para iniciar estas reflexões é necessário fazer um
resgate histórico sobre o uso do esporte na educação física
escolar. Para os mais novos, é importante lembrar que nos
meados da década de 1960, com a implantação da ditadura
militar no nosso país, o esporte foi utilizado como forma
de melhorar a autoestima do povo e também de
proporcionar uma válvula de escape para uma população
que vivia sufocada pela censura, e pela ausência de líderes,
que se refugiavam do país ou eram presos e torturados, nos
porões da ditadura.
O uso do esporte como principal e na maioria das
vezes único instrumento da educação física escolar, para o
desenvolvimento esportivo, teve um lado altamente
positivo, pois nesta época, com o advento da criação dos
Jogos Escolares Brasileiros, houve um investimento
maciço na construção de instalações, compra de materiais
esportivos, e consequentemente o surgimento de vários
atletas em diversas modalidades que se destacaram no
esporte brasileiro e internacional. Oscar, Marcel,
Hortência, Paula, Joaquim Cruz, Bernard, William, e
muitos outros em diversas modalidades, são exemplos
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
19
claros desta fase. É bem verdade que muitos destes atletas
não foram criados e desenvolvidos no ambiente escolar,
mas ao terem contato com a modalidade na escola,
buscavam clubes e/ou outros centros onde se
especializavam e tinham oportunidade de participar de
várias competições.
Por outro lado, não há como negar que na
educação física escolar, voltada para o treinamento das
equipes colegiais, havia também uma exclusão muito
grande dos menos talentosos, pois com turmas grandes,
não havia como os professores treinarem as equipes que
representavam as escolas. Esta exclusão afastou muita
gente de uma prática saudável da atividade física, pois era
quase que exclusivamente voltada para os treinamentos.
Muitos dos que nos leem neste momento podem discordar
do que foi dito acima, mas provavelmente foram aqueles
que ou fizeram parte das equipes colegiais ou tinham
ojeriza, e por qualquer destes fatos, não se sentiram
discriminados ou excluídos.
Com o final da ditadura militar, vários professores
e autores da área da educação física, que se sentiam
incomodados com a utilização indiscriminada dos esportes
na educação física escolar, começaram a contestar este uso.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
20
Esta prática de forma excludente, e muitas vezes
irrefletida, levou estes estudiosos a contestar o uso de
esporte na escola de forma contundente. As novas
abordagens propostas sugeriam concepções filosóficas,
sociológicas e políticas que tornassem a prática da
educação física mais fundamentada em uma visão crítica e
menos “alienante” da cultura corporal de movimento.
No meu modo de ver, a quase “criminalização” do
uso do esporte, foi um engano que levou a tentativa de
afastamento do seu uso nas aulas de educação física
escolar. O problema nunca foi do esporte em si, mas do uso
que se fez dele de forma excludente e com fins unicamente
competitivos. Ressalto também, que a competição quando
bem dirigida é um elemento altamente motivador e nos
leva a entender as nossas limitações e possibilidades, mas
por outro lado, é perniciosa quando leva em conta apenas
a separação entre vencedores e perdedores. A competição
foi taxada desta forma para os críticos das modalidades
esportivas.
Muitos professores formados nesta época
tomaram contato com um discurso político ideológico que,
incapaz de compreender de forma ampliada o esporte,
passou então a paulatinamente negá-lo na escola.
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
21
A verdade é que somando a insuficiente e míope
preparação dos professores para a formação esportiva, e a
queda da valorização da educação física no âmbito escolar,
passamos a viver uma época de alto índice de
“analfabetismo motor” devido ao abandono do papel
indispensável que a prática de atividades física deve ter na
vida de todo ser humano.
É bem verdade que existem muitos professores
que, conscientes deste seu papel, travam uma luta hercúlea
para conduzir seus alunos para o alcance dos inúmeros
objetivos que a educação física pode promover, porém há
outros tantos que se acomodam e se escondem atrás de
discursos vazios sobre uma dita prática socializadora,
abandonando seus alunos a meros momentos de recreação
descompromissada e banal.
O que vemos atualmente nos momentos de
discussão sobre a prática esportiva no nosso país, é que a
escola não tem cumprido o seu papel de formadora de
futuros esportistas. Apesar de concordar que o papel da
educação física escolar está muito abaixo do esperado, será
que esta falta de formação esportiva inicial tem como única
vilã a atuação dos professores de educação física na escola?
Será que antes de pensarmos na formação esportiva, não
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
22
devemos nos preocupar com a alfabetização motora das
crianças, como passo inicial? Como realizar isso se na fase
de maior importância para aquisição adequada da
descoberta corporal e dos movimentos básicos (1º ao 5º
ano), não temos professores de educação física nos
colégios?
Penso que é possível uma convivência harmoniosa
entre o esporte introduzido na escola e o esporte de
rendimento, desde que seja respeitada cada etapa do
desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo do aluno e que
o esporte não seja uma imposição e instrumento único da
educação física. Dar condições motoras e atrair para o
esporte em vez de impor a prática esportiva, talvez seja o
primeiro passo para esta convivência.
Muitas são as maneiras de se promover uma
formação adequada e para isso vários autores atuais
ligados à pedagogia do esporte têm apresentado caminhos.
Sobre isso pretendo discorrer no próximo artigo.
23
Desempenho técnico individual no
basquetebol masculino: relação entre
posições específicas, classificação das
equipes e indicadores do jogo
Dante de Rose Júnior & Liz Imyra Oliveira
Introdução
Muitos estudos no basquetebol são baseados na
análise técnica de desempenho, através de dados
estatísticos dos jogos que são divulgados nos sites oficiais
das entidades que realizam os campeonatos. Segundo De
Rose Jr. et al (2005) a análise estatística baseia-se na
coleta e a interpretação de dados obtidos nas ocorrências
do jogo, dando-lhes significado para possíveis
interferências individuais e coletivas. Para esta análise são
considerados os indicadores de jogo. Esses indicadores
são, segundo Sampaio (1999), um conjunto referencial das
principais ações técnico-táticas de uma partida e
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
24
representam as situações ou ocorrências mensuráveis
como por exemplo: número e percentual de arremessos
(certos ou errados), faltas cometidas, bolas recuperadas,
incidência de algum tipo de ataque, rebote obtidos, entre
outros.
Levando em consideração a necessidade de se ter
um referencial baseado em um dos principais eventos de
basquetebol realizado no mundo, o presente estudo teve
como objetivo determinar o perfil de desempenho técnico
individual dos atletas de equipes adultas masculinas no
torneio de basquetebol dos Jogos Olímpicos de Beijing,
realizado em 2008, em função de diferentes indicadores de
jogo e classificação das equipes.
Procedimentos metodológicos
O presente estudo foi realizado com base nos
dados do Torneio masculino dos Jogos Olímpicos de
Beijing, em 2008, com a participação 12 equipes ,
totalizando 38 jogos, com a participação de 144 atletas.
As posições específicas foram definidas a partir de
classificação utilizada normalmente no basquetebol, assim
definidas, segundo Ferreira e De Rose Jr. (2010):
armadores, alas ou laterais e pivôs.
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
25
Ressalte-se que há outras classificações que
especificam um maior número de posições, dentro das
características de cada atleta e que alguns atletas exercem
funções diferenciadas durante a partida, em função da
organização tática das equipes e de suas próprias
características. No entanto, para efeito de análises, a
classificação acima citada será a utilizada no presente
estudo.
Para a definição do perfil técnico foram utilizados
os dados oficiais da Federação Internacional de Basketball
(FIBA), disponíveis no site www.fiba.com.
Os indicadores de jogo utilizados na pesquisa
foram os seguintes:
➢ M/j: média de minuto jogador por jogo
➢ PTS/j: média de pontos convertidos por jogo
➢ REB/j: média de rebotes por jogo
➢ ASS/j: média de assistências por jogo
➢ BR/j: média de bolas recuperadas por jogo
➢ BP/j: média de bolas perdidas por jogo
A análise estatística do presente estudo foi
realizada da seguinte maneira:
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
26
• Médias e desvios padrão de cada indicador de jogo,
em cada posição específica para o estabelecimento do
perfil do atleta, em função do número diferente de jogos
das equipes e dos próprios atletas
Resultados
A partir das análises realizadas a amostra foi
composta por 56 armadores, 47 alas e 41 pivôs.
As médias e desvios padrão de cada indicador de
jogo analisado para cada posição específica são
apresentados na tabela 1.
Tabela 1: Médias e Desvios Padrão dos indicadores de jogo
dos atletas, por posição específica
POSIÇÕES N M PTOS REB ASS BR BP
Armadores 56
18,9
±6,8
6,9
±3,8
2,2
±0,9
1,7
±1,0
0,8
±0,5
1,5
±0,7
Laterais 47
15,7
±7,3
5,9
±4,0
2,7
±2,6
0,7
±0,4
0,7
±0,6
1,1
±0,9
Pivôs 41
18,5
±6,8
8,3
±4,1
4.2
±1,8
0,8
±0,6
0,6
±0,4
1,4
±0,7
Conclusão
Os resultados mostram claramente que nos Jogos
Olímpicos de Beijing, 2008:
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
27
• Os armadores e os pivôs tiveram a maior média de
tempo de quadra;
• Os pivôs tiveram as melhores médias de pontos
convertidos e rebotes;
• Os armadores tiveram as melhores médias em
assistências;
• Os armadores e os pivôs são os jogadores com as
maiores médias de bolas perdidas; e
• Não houve praticamente diferenças nas médias de
bolas recuperadas entre as três posições.
Evidentemente que esses resultados devem ser
analisados em um contexto não só técnico. As questões
táticas também deveriam ser exploradas para que se
pudesse ter uma ideia da organização tática das equipes,
pois essa organização poderia determinar o
comportamento técnico dos jogadores em função de suas
posições específicas.
Analisando-se estritamente pela questão
estatística, conclui-se que os resultados encontrados não
diferem de outros estudos já realizados e que, de certa
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
28
forma, confirmam as definições que são estipuladas para
cada uma das posições.
Esses resultados também podem servir de
referência para que técnicos e jogadores possam estipular
objetivos de desempenho em treinamentos e jogos.
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Leituras complementares – estudos similares
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Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
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31
Como formar um armador?
Marcelo Berro
Considero o basquetebol, entre os esportes
coletivos, o que exige a maior necessidade dos atletas
estarem permanentemente sintonizados, conectados. Essa
necessidade, requer desde a iniciação, um forte
embasamento do lado cognitivo e até espiritual dos atletas.
Sou adepto da teoria onde um atleta com raciocínio lento e
sem a “presença de espírito”, não joga basquete! Ouvi do
meu primeiro técnico (Professor Israel Washington de
Freitas) a seguinte frase:
“O xadrez e o basquetebol são os dois
únicos esportes, onde os atletas que se
destacam, usam mais o que existe acima
da sobrancelha do que o resto do corpo”.
Desde quando virei técnico, essa frase ecoa em
meus pensamentos. Tento transmitir essa necessidade dos
atletas possuírem uma percepção (leitura) apurada de
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
32
todos os movimentos e variações, muitas vezes sutis (o que
faz a diferença), que acontecem durante uma partida de
basquetebol. Quando um técnico consegue que seus atletas
estejam focados, atentos, interpretando o que o jogo
propõe, um quarto do caminho para a vitória está
garantida.
Outra parcela importante é a sintonia. Existir
unidade onde os atletas estejam interligados, utilizando o
lado racional, com uma conexão espiritual, gerando
energia positiva, que tornará a equipe capaz de superar
situações adversas de qualquer espécie.
Entendo que o aspecto físico seja o mais delicado
de ser trabalhado. Quando pensamos em treinamento
físico automaticamente remete a força, músculos,
explosão. Principalmente na iniciação, o aspecto físico tem
que ser pensado em exercitar exaustivamente o lado
coordenativo, com exercícios que leve a
criança/adolescente a dominar seu corpo, aliando a maior
quantidade possível de movimentos com equilíbrio e
velocidade. A força e explosão deve ser consequência de
uma boa base coordenativa, jamais o inverso.
Todos esses aspectos, citados anteriormente,
valerão muito pouco se os atletas não dominarem os
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
33
fundamentos (derivação masculina singular de FUNDAR,
BASE PRINCIPAL, FUNDAMENTAL) do basquetebol.
Em todas as equipes que dirigi (e em todas que
dirigirei) o armador é o capitão. Penso que não pode haver
um armador tímido (dentro de quadra), ou que não possua
o espírito de liderar. Afinal, quem determina as ações
ofensivas? Corrige os posicionamentos? Quem é o cérebro
do time? Quem é o responsável por interligar os quatro
aspectos (cognitivo, espiritual, físico e os fundamentos)
que resumem o basquetebol? Quem é o técnico dentro de
quadra?
O armador necessita “ler” o que sugere a defesa
adversária (veneno) e preparar os movimentos ofensivos
(antídoto). O armador precisa ser convicto, seguro do que
está fazendo e dar a confiança aos atletas das outras
posições, onde eles acreditem cegamente que o que está
sendo determinado é o melhor para a equipe. Ele precisa
conhecer as capacidades físicas, as qualidades e deficiência
dos fundamentos de cada companheiro (se possível dos
adversários) para poder escolher o encaixe
(posicionamento) que seja adequado para superar a
defesa.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
34
Por ser o atleta que normalmente faz a transição e
quem organiza a equipe, os fundamentos (bons ou ruins)
do armador se tornam evidentes. Os defensores (os
inteligentes) não darão espaço para o armador pensar,
enxergar o jogo e farão o possível para que ele não chegue
na posição ideal para “cantar” o movimento de ataque,
tentarão “quebrar” o primeiro passe.
No ataque, o manejo de bola, domínio com ambas
as mãos, mudanças de direção, os passes precisos de todos
os tipos e a visão periférica são os fundamentos
primordiais de um bom armador.
Na defesa, o veloz deslocamento de pernas, o
agressivo posicionamento dos braços, o costume de
sempre incomodar quem tem a bola, sem jamais ser
ultrapassado e induzir o adversário a driblar com a mão
“fraca” proporcionará um grande conforto a todos os
demais defensores.
Na formação, a troca de posições nos
treinamentos, é determinante para que um entenda como
é a função do outro, conhecer as dificuldades e assim,
respeitar quem joga naquela posição, até por que,
invariavelmente, acontece de um armador ter que usar um
giro de pivô (situação de vantagem de altura sobre seu
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
35
marcador) ou até mesmo marcar nessa situação. Todos os
atletas de uma equipe até SUB-15 devem treinar (no
mínimo) como armadores, exercitar a liderança, a visão de
jogo.
A especialização precoce é o maior “crime” que um
técnico pode cometer com os seus atletas, embora em
busca de resultados essa prática seja muito comum. Provo
essa visão com duas perguntas:
1. Quantos “super-pivôs” (cestinhas de campeonatos
nas categorias inferiores a SUB-15) pararam de
crescer e não tiveram o embasamento de
fundamentos de um lateral ou de um armador e
acabaram parando de jogar?
2. Imagine uma seleção brasileira com um armador
de mais de dois metros, habilidoso, veloz com bom
arremesso e você sendo lembrado como o técnico
formador desse talento. O que vale mais, o título
no Sub-15 ou ser o técnico formador de um atleta
diferenciado?
36
Formando atletas e técnicos através do
esporte universitário
Carlos Alex M. Soares
Quando eu conheci o basquete eu só queria atirar
a bola na cesta, vê-la passar pelo aro ou sentir o som do
quique da bola na quadra... Logo eu queria vestir a
camiseta da seleção, aquele uniforme listrado me
encantava e minha equipe também tinha um uniforme
listrado, era da Adidas, lembro bem dele como se fosse
hoje... Eu tinha um objetivo: aprender a jogar para jogar
pela seleção. Claro, eu desconhecia a politicagem no
esporte e como os atletas do interior são desvalorizados,
mesmo com algum talento – eu realmente tinha poucos
minutos em quadra e quando me destaquei deixei, por um
tempo, o que chamamos de plano B, mas que deve ser o
plano A, para trás: os estudos. Isto teve consequências
quando a oportunidade de ir para uma equipe melhor. Foi
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
37
triste, mas foi justo. Perdi uma oportunidade, mas aprendi
a lição.
Então, posso falar dos sonhos.
Anos atrás vi um dos muitos vídeos da NBA que
circulam pela rede e fiquei pensando nos moleques
americanos, sonhando em jogar na NBA. Ver um dos
muitos vídeos de Michael Jordan ou de Magic Johnson
mostrando como eles sonhavam em ir para a Universidade,
relatando que o fundamental era o esporte como alicerce
para a vida adulta. Mas naquela época, o sistema de ensino,
a segregação racial e a pobreza dos afro-americanos os
fazia (será que não faz ainda?) utilizarem o talento
esportivo como trampolim para uma vida melhor e, se o
talento existisse, concretizariam o sonho de jogar na NBA
(ou na NFL ou na MLB), mas serão seres humanos muito
melhores, com uma base educacional e cultural fortes.
Outro vídeo relata a importância da NCAA e do modelo
adotado pelo esporte americano: mais de 300 mil
estudantes do ensino superior com algum tipo de bolsa
universitária para jogar o esporte que os fazia brilhar na
infância/adolescência.
Então, eu me pergunto: com o que o jovem
brasileiro apaixonado pelo basquete sonha? Em ser igual
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
38
ao ídolo do momento? Sonha com seus arremessos de
longe? Sonham com cravadas magníficas? Sonham em
passar bolas para o arremesso certeiro do ala ou com
aquela assistência inacreditável no centro do garrafão? Ou,
ainda, imagina-se deixando o o pivô livre em um pick-and-
roll? Afinal, assistências são tão belas quanto os pontos
marcados. Mas não, primeiro eles nem sabem os nomes
dos jogadores brasileiros e segundo eles sonham em jogar
nos Estados Unidos, na NBA. Assim eles poderão alcançar
a mesma fama que Nenê, Leandrinho, Varejão, Splitter,
Felício, Lucas Bebê e Raulzinho obtiveram ao arriscar
muito e conseguirem jogar naquilo que os próprios
jogadores da NBA dizem no vídeo: o melhor basquete do
mundo!
Imagina-se que, pelo menos sonhando com uma
vaga na NBA, estes jovens sintam-se obrigados a estudar e,
consequentemente, melhoram sua cultura, abrem o leque
para a aquisição de conhecimentos e de outra língua que
lhes fará muito bem no futuro.
Mas na análise do que nossos jovens sonham – os
sonhos de outra cultura – percebemos como a influência
americana é grande em nossas vidas e, para concluir isso,
não precisa ser um grande gênio — nem mesmo ser gênio
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
39
— pois isso é óbvio: só nos chega o reflexo da coisa boa,
pronta, acabada, o espetáculo final. O processo árduo de
construção é esquecido por nossos jovens e por quem deve
gerenciar a vida dos seus atletas (clubes, federações e
confederação), quando o jovem está a sua disposição.
Não falo no vazio, sem experiência alguma.
Quando um pai libera um filho, com seus 14, 15 anos para
estudar e jogar por um clube em outra cidade ou mesmo
estado, pressupõem-se que haja confiança nessas
entidades e que elas irão cumprir com a legislação
brasileira, especialmente no que diz respeito ao direito e
dever da criança e do adolescente estar na escola, ação
fundamental para a qualidade do atleta profissional ou
daqueles que não conseguirão seguir no esporte (lesões,
qualidade técnica, oportunidades perdidas, escolhas
adversas e etc). Os uruguaios fazem isso com suas seleções:
concentram em Montevidéu e os matriculam em algum
liceu da capital no período que estão a serviço da seleção.
Não basta matricular, tem que acompanhar frequência,
desempenho acadêmico, comportamento e relações.
O que eu proponho é uma parceria entre a
Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e
Confederação Brasileira de Desporto Universitário
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
40
(CBDU) para fortalecer e dignificar os Jogos Universitários
Brasileiros (JUGs), formando parcerias com universidades
em todo o país, pois já é visível que as universidades que
apoiam o basquete no Brasil são retribuídas com
visibilidade midiática e retorno financeiro.
Então, nessa projeção de futuro e da busca do
sonho americano, o sonho dos norte-americanos, a base é
o que mais me preocupa. Para chegar a NBA, Michael
Jordan teve que estudar no ensino médio, termina-lo
dentro de uma determinada faixa etária e, efetivamente,
cursar na Universidade da Carolina do Norte; no caso,
Geografia. Sim, posteriormente foi uma referência dentro
da quadra e esta reputação foi obtida com muita dedicação,
enquanto nos demais espaços da Universidade muita
cultura foi adquirida antes dos milhares de dólares que
ainda acumula anualmente.
Os brasileiros que estão na NBA fazem o que todo
adolescente sonha, mas sabem que a vida confortável está
nos contratos que firmarem na fase produtiva e, se
perderem tudo, terão apenas a lembrança de um sonho
realizado, mas as benesses da fase de atleta acabar e isto
ocorrerá entre 30 e 35 anos. Se, em uma hipótese remota,
Jordan tivesse tido uma lesão ou perdesse tudo, seria
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
41
geógrafo ou professor de geografia. Isso não é raro no
esporte norte-americano: fortunas vêm nos anos dourados
e se vão ao estalar dos dedos ou ao rolar dos dados...
Esse modelo educativo-esportivo poderia ser
aplicado no Brasil e seria fundamental para o crescimento
do esporte no Brasil. Pessoas que possuem habilidade
mediana poderiam estar na universidade por causa de seu
talento e, entre estes, alguns excelentes jogadores
poderiam surgir. Aqueles que visualizarem no esporte uma
oportunidade de crescerem profissionalmente, como
muitos jovens fazem, por exemplo, com o exército
brasileiro, saberão exigir aulas mais eficazes e o círculo de
importância de cada área se fechará.
Mas, para isso, nosso imediatismo teria que dar
lugar a um processo de planejamento a médio e longo
prazo, visando a continuidade na formação de atletas e a
formação de líderes para diversas áreas entre aqueles que
tiveram a aquisição de hábitos saudáveis e levarão consigo
a ótima lembrança do esporte na fase universitária, mas
não serão atletas de elite. Um grande exemplo disso é
Barack Obama.
Essa temática costuma gerar muito debate, ideias
e possui um leque de teses que o que sugiro é apenas uma
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
42
fagulha perto do potencial para aquecer o esporte no país.
Entretanto, a proposta aqui elencada também gerará
novos beneficiados: os professores/técnicos. Por quê?
Simplesmente porque nesse processo o crescimento
exponencial de competições e equipes, com a ampliação no
nível universitário, multiplicará os espaços de trabalho
para técnicos que mesmo que haja um corporativismo
seletivo entre os técnicos dos clubes de alto rendimento na
atualidade, esse processo de massificação. Novos técnicos
surgirão e, assim, com muitos técnicos em ação,
provavelmente possamos voltar a ter grandes e
ameaçadoras equipes nas disputas de novos títulos que
servirão de motivação para a massificação do basquete
nacional entre os jovens.
__________________________
Este artigo foi inicialmente escrito para a Revista Mais Basquete e atualizado
para este capítulo. Ele originou-se nas postagens Casa sem alicerce
(http://maisbasquete.blogspot.com/2010/01/casa-sem-alicerce.html,
publicada em 19/1/2010) e Ainda sonho com um basquete forte
(http://maisbasquete.blogspot.com/2010/02/ainda-sonho-com-um-
basquete-forte.html, publicada em 4/2/2010) no Blog Mais Basquete
(http://maisbasquete.blogspot.com).
43
PREPARAÇÃO FÍSICA NO
BASQUETE
44
Seria o basquetebol um jogo
desportivo coletivo aeróbio?
Fabrício Boscolo Del Vecchio
O basquetebol, modalidade inserida no rol dos
Jogos Desportivos Coletivos de invasão, provoca que
jogadores, de duas equipes diferentes, tentem encestar a
bola. Para isto, considerando a altura do conjunto cesta-
tabela, e por haver a invasão, espera-se que seus
praticantes exibam aptidão física elevada.
Dentre os componentes mais relevantes,
identificam-se dois: o componente aeróbio e o
neuromuscular. Quanto ao segundo, pontua-se que níveis
elevados de força e potência são essenciais para
arremessos, passes deslocamentos e saltos, mas esta
variável não será foco do presente texto. Nesta
oportunidade, será discutido o aspecto aeróbio da
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
45
modalidade, e não o anaeróbio. Por quê? Quanto à
contribuição dos sistemas energéticos, muitos trabalhos,
autores e treinadores tendem a indicar que o basquetebol
tem predominância anaeróbia. Para os que não se
lembram das vias energéticas, um bom trabalho de revisão
recente foi publicado (Baker, McCormick, & Robergs,
2010). Nele, são indicadas três vias predominantes: a
derivada do sistema dos fosfatos, a glicólise e a respiração
mitocondrial. No entanto, vale lembrar o ATP muscular
previamente disponibilizado, o qual não foi considerado
nesta perspectiva, devido ao pouco tempo de manutenção
do esforço por este sistema.
E porque o basquetebol é predominantemente
aeróbio? Apesar de os livros mais tradicionais de fisiologia
do exercício (McArdle) e treinamento esportivo (BOMPA)
indicarem que o sistema aeróbio é ativado após tempo
moderado de esforço, entre oito e doze minutos,
atualmente se sabe que isto não é verdade. Pensando no
exercício contínuo, como caminhadas, corridas, pedaladas
com a mesma intensidade ao longo de todo o esforço, ou
com pequenas modificações sem muito significado, o
sistema aeróbio passa a ser predominante após 75
segundos de atividade (Gastin, 2001). Assim, mesmo que
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
46
você se corra na quadra, quicando a bola, de modo muito
intenso, o mais forte que puder, e este esforço durar 1 min
e 15 segundos, ele será predominantemente mantido pela
via aeróbia de fornecimento de energia.
Assim, um dos grandes problemas, não tão atuais,
em prescrição do exercício físico é acreditar que, para ser
aeróbia, a atividade precisa durar mais de 20 minutos, ser
de intensidade leve ou moderada, e assim por diante... O
que foi indicado por Gastin (2001) explica o exercício
contínuo, no entanto, parece que basquetebol não tem esta
característica. Investigação que quantificou a relação
tempo-movimento na modalidade observou que os
jogadores investem 8,8±1% do tempo total de jogo com
movimentos específicos de alta intensidade, 5,3±0,8% com
sprints e 2,1±0,3% com saltos (Abdelkrim, Fazaa, & Ati,
2007). O restante do tempo é dispendido com caminhadas
e trotes. Complementarmente, os mesmos autores
observaram que:
I. a frequência cardíaca média de jogo é de 171±4 bpm,
embora haja diferenças significantes entre pivôs e
armadores e que,
II. a concentração de lactato sanguíneo chegou a
6,05±1,27 mmol (Abdelkrim, Fazaa, & Ati, 2007)
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
47
Assim, com diferentes paradas bruscas, mudanças
de direção, saídas rápidas, passes e toda a dinâmica
envolvida na modalidade, ele é tipicamente considerado
um exercício intermitente (Glaister, 2005). E, neste
âmbito, a fisiologia do exercício contínuo não ajuda, pois
não considera o acúmulo das diferentes proporções de
esforço:pausa e não considera a amplitude desta relação.
Como indicado anteriormente, o metabolismo aeróbio é
ativado de modo muito mais precoce e esforços que
julgávamos serem predominantemente anaeróbios são, na
verdade, predominantemente aeróbios. Para exemplificar
isto, em 1996 um grupo de investigadores canadenses
propôs que sete homens fizessem três séries de esforços
cíclicos muito intensos que duravam 30 segundos e, após
estes esforços, descansassem por quatro minutos (em
relação de esforço:pausa de 1:8).
Na primeira série de esforços de 30 segundos, o
componente aeróbio foi responsável por 16-28% da
energia provida, a degradação de fosfocreatina por 23-38%
e a glicólise anaeróbia por 50-55%, o que caracteriza esta
primeira série como anaeróbia. No entanto, com o
acúmulo de mais duas séries, interceptadas por quatro
minutos de recuperação cada, as coisas mudam. Ao final
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
48
da terceira série, constatou-se que o sistema da
fosfocreatina (ATP-CP) foi responsável por,
aproximadamente, 15% de toda energia produzida, a
glicólise anaeróbia foi responsável por percentual entre 10-
15% e o componente aeróbio por, aproximadamente, 70%
de toda energia necessária para se cumprir esta última
série (Trump, Heigenhauser, Putman, & Spriet, 1996). Ou
seja, com o passar do tempo, e o acúmulo de esforços, como
acontece no interior dos quatro períodos do basquete e ao
longo de todo o jogo, certamente o predomínio
energético desta modalidade é aeróbio (Stone &
Kilding, 2009).
Desta reflexão inicial, vale a pergunta: Se o
componente aeróbio é predominante, o que é
determinante do êxito esportivo no basquetebol? Série de
estudos brasileiros dá indicativo de que força, potência e
velocidade são essenciais (Moreira, Okano, Souza,
Oliveira, & Gomes, 2005; Moreira, Oliveira, Okano, Souza,
& Arruda, 2004). Outros trabalhos ainda dão elevada
atenção ao componente aeróbio (Stone & Kilding, 2009),
realizado de modo clássico, com corridas, ou de modo mais
contemporâneo, usando condicionamento específico da
modalidade, como os jogos em espaços reduzidos,
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
49
principalmente os de meia quadra, ataque-defesa
(Montgomery, Pyne, & Minahan, 2010). Por fim, registra-
se, ainda, o uso de exercícios intermitentes de alta
intensidade, os quais, embora não simulem todas as
situações de jogo, contribuem para a rápida elevação da
aptidão física dos jogadores e adequada manutenção da
mesma ao longo da temporada competitiva (Zadro,
Sepulcri, Lazzer, Fregolent, & Zamparo, 2011).
A título de exemplo, e sem envolver nenhum tipo
de atividade com bola, pode-se executar a seguinte
atividade:
I. 2 a 4 séries de 10 repetições de corridas
intermitentes.
II. Uma série é composta por duas corridas
intermitentes. A primeira deve cumprir espaço
próximo de 40 metros em elevada intensidade (10
segundos), realização de 30 segundos de recuperação
ativa e, então, 180° de mudança de direção para
corrida intensa de mais 40 metros.
III. Entre cada uma destas séries se dá intervalo próximo
de 90 segundos, em corrida de baixa intensidade.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
50
Com o tempo, espera-se apresentar novas
atividades, em diferentes contextos, focando o
desenvolvimento e aprimoramento metabólico de atletas
com foco no basquetebol. E, para um futuro próximo,
novas temáticas emergentes, como periodização do
treinamento e o controle e monitoramento das cargas de
treino serão destaque nesta coluna.
Referências
Abdelkrim, N. B., Fazaa, S. E., & Ati, J. E. Time–motion
analysis and physiological data of elite under-19-year-old
basketball players during competition. British Journal
of Sports Medicine, 2007:41(2), 69–75.
Baker, J. S., McCormick, M. C., & Robergs, A. R.
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Systems during Intense Exercise. Journal of Nutrition
and Metabolism, 2010:1-13.
Gastin, P. B. Energy system interaction and relative
contribution during maximal exercises. Sports
Medicine, 2001:31(10), 725-741.
Glaister, M. Multiple sprint work: Physyology response,
mechanisms of fatigue and de influence of aerobic system.
Sports Medicine, 2005:35(9), 757-777.
Montgomery, P. G., Pyne, D. B., & Minahan, C. L. The
Physical and Physiological Demands of Basketball
Training and Competition. International Journal of
Sports Physiology and Performance, 2010, 5(1),
75-86.
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
51
Moreira, A., Okano, A. H., Souza, M., Oliveira, P. R., &
Gomes, A. C. Sistema de cargas seletivas no basquetebol
durante um mesociclo de preparação: implicações sobre a
velocidade e as diferentes manifestações de força.
Revista Brasileira de Ciência e Movimento,
2005:13(2), 7-15.
Moreira, A., Oliveira, P. R., Okano, A. H., Souza, M., &
Arruda, M. A dinâmica de alteração das medidas de força
e o efeito posterior duradouro de treinamento em
basquetebolistas submetidos ao sistema de treinamento
em bloco. Revista Brasileira de Medicina do
Esporte, 2004:10(4), 243-250.
Stone, N. M., & Kilding, A. E. Aerobic Conditioning for
Team Sport Athletes. Sports Medicine, 2009:39(8),
615-642.
Trump, M. E., Heigenhauser, J. F., Putman, C. T., &
Spriet, L. Importance of muscle phosphocreatine during
intermittent maximal cycling. Journal of Applied
Physiology, 1996:80(5), 1574-1580.
Zadro, I., Sepulcri, L., Lazzer, S., Fregolent, R., &
Zamparo, P. A protocol of intermittent exercise (shuttle
runs) to train young basketball players. Journal of
Strength and Conditioning Research, 2011: 25 (6),
pp. 1767–1773.
52
O treino metabólico de jogadores de
basquetebol: ênfase nos componentes
aeróbios e anaeróbios treinados em
quadra
Fabrício Boscolo Del Vecchio
No artigo passado, buscou-se apresentar
evidências objetivas de que o basquetebol é modalidade
esportiva que detém predominância energética aeróbia,
mas com alguma solicitação láctica na sua expressão
competitiva (Stone & Kilding, 2009; Abdelkrim, Fazaa, &
Ati, 2007). Na última coluna, foram dados exemplos de
exercícios aeróbios intermitentes sem o emprego de bolas.
Técnicos e treinadores devem ter em mente que, além das
situações previamente indicadas, jogadores necessitam
realizar treinos de alta intensidade com o emprego da bola.
Não há deslocamentos com velocidade elevada
apenas sem o domínio da bola e, portanto, os ataques,
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
53
infiltrações e jogadas precisam ser realizadas de modo
mais específico possível. Neste contexto, o treino aeróbio
com bola seguiria os mesmos pressupostos do artigo
passado (Vecchio, 2011), mas com a inserção da mesma em
suas realizações.
Brevemente, após aquecimento adequado, pode-
se executar a seguinte atividade:
1. Saída em baixa intensidade do fundo da quadra;
2. Ao chegar no canto, Sprint com bola em alta
intensidade;
3. Sprint de alta intensidade com controle de bola;
4. No meio da quadra, realizar passe em direção ao
ataque;
5. Correr em baixa intensidade na diagonal;
6. Realizar Sprint até o final da quadra;
7. Com bola, corrida de alta intensidade na linha de 3
ptos;
8. No centro, arremessar;
9. Deslocamento veloz até lance livre e arremessar;
10. Deslocamento veloz até diagonal e arremessa;
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
54
11. Voltar por fora, pelo maior caminho em baixa
intensidade/caminhada.
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
55
Na atividade acima, o trabalho é feito de diferentes
modos. Explorando a relação de Esforço:Pausa (E:P),
pode-se ter um bloco de esforço para o mesmo bloco de
pausa (1:2), ou seja, caso o jogador cumpra todo o percurso
em 40”, ele descansará 40”. Pode-se organizar a relação
inversa, 40” de esforço por 20” de pausa (2:1), ou até 3:1,
com esforço durando 45 s e a recuperação com 15”. Mesmo
com esforços de alta intensidade, e pausas intercaladas,
após duas ou três repetições deste esforço, ele já tem
predominância aeróbia (Glaister, 2005). São os “famosos”
esforços intermitentes de alta intensidade, que aprimoram
a capacidade de esforços/sprints repetidos – em inglês,
Repeated-Sprint Ability (Bishop, Girard, & Mendez-
Villanueva, 2011).
Estas tarefas podem ser organizadas de modo
misto. Investigação que fez uso de 10 semanas de
intervenção observou melhoras superiores a 4% no tempo
de sprint com jogadores que realizaram de 2 a 4 séries de
jogos em espaços reduzidos (small- sided games) com
duração de 2,5 a 4 min cada “jogo” e treinamento
intervalado, que consistia de 12 a 24 esforços de 15
segundos entre 105 e 115% do VO2max dos jogadores,
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
56
numa relação E:P de 1:1 (Buchheit, Laursen, Kuhnle, & et
al, 2009).
Por outro lado, caso o interesse do treinador seja
organizar esforços anaeróbios, a cena muda
consideravelmente. A primeira estratégia é ter clareza que
o esforço não deve durar mais de 75” (Gastin, 2001), pois
seria predominantemente aeróbio. Caso dure apenas 30”,
se o intervalo de recuperação for de 4 min, a partir da
terceira série o estímulo já se torna aeróbio (Trump,
Heigenhauser, Putman, & Spriet, 1996).
Deste modo, em 1993, um grupo de pesquisadores
ingleses observou que 10 sprints com duração de 6” e
recuperações de 30” (E:P = 1:5) estressavam
adequadamente o metabolismo associado à fosfocreatina,
reconhecidamente anaeróbio (Gaitanos, Williams, Bobbis,
& Brooks, 1993). Um ano depois, um grupo de japoneses
observou que exercícios feitos em intensidades máximas,
com protocolo de 3 a 4 séries de (5 Sprints máximos de 8”
cada, com descansos de 45” → E:P ~ 1:6) proporcionaram
aumentos de 21,1% na potência anaeróbia de pico em
esportistas intermediários e de 8,1% em atletas de elite.
Assim, para garantir que o esforço de fato seja
anaeróbio, necessita-se que a intensidade do exercício seja
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
57
acima de 100% do VO2max, a duração seja breve, e a
recuperação elevada. Quanto maior a recuperação
proporcionada, melhor para se inibir a ativação do
metabolismo aeróbio. Neste contexto, o esforço no
basquetebol, poderia ser de 6 a 8 segundos, como citado
acima. No entanto, caso o treinador queira estender o
tempo de esforço, para até 20 segundos de alta
intensidade, sugerem-se períodos superiores a 4 minutos
como recuperação ativa. Neste tempo, procedimento
interessante consta do treinamento de jogadas ensaiadas,
posicionamentos táticos, com esforços realizados em
(muito) baixa intensidade.
REFERÊNCIAS
Abdelkrim, N. B., Fazaa, S. E., & Ati, J. E. Time–motion
analysis and physiological data of elite under-19-year-old
basketball players during competition. British Journal
of Sports Medicine, 2007:41(2), 69–75.
Bishop, D., Girard, O., & Mendez-Villanueva, A.
Repeated-Sprint Ability – Part II. Recommendations for
Training. Sports Medicine, 2011:41(9), 741-756.
Buchheit, M., Laursen, P., Kuhnle, J., & et al. Game-based
training in young elite handball players. Int J Sports
Med, 2009: 30(2), pp. 251-258.
Gaitanos, G., Williams, C., Bobbis, L., & Brooks, S.
Human muscle metabolism during intermittent maximal
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
58
exercise. Journal of Applied Physiology, 1993:
75(2), pp. 712-719.
Gastin, P. B. Energy system interaction and relative
contribution during maximal exercises. Sports
Medicine, 2001: 31(10), 725-741.
Glaister, M. Multiple sprint work: Physyology response,
mechanisms of fatigue and de influence of aerobic system.
Sports Medicine, 2005: 35(9), pp. 757-777.
Stone, N. M., & Kilding, A. E. Aerobic Conditioning for
Team Sport Athletes. Sports Medicine, 2009:39(8),
615-642.
Trump, M. E., Heigenhauser, J. F., Putman, C. T., &
Spriet, L. Importance of muscle phosphocreatine during
intermittent maximal cycling. Journal of Applied
Physiology, 1996:80(5), 1574-1580.
Vecchio, F. Seria o Basquete um jogo desportivo coletivo
aeróbio? Revista Mais Basquete, 2011:1(1), 17-21.
59
HISTÓRIAS DO BASQUETE
BRASILEIRO
60
Pan-87: uma conquista histórica
José Medalha
Ao atender a um pedido da Direção desta Revista
relembrando a histórica vitória do PAN de 87, muito se
pode escrever e relembrar daquele título. Como ex-técnico,
vou me ater a certos aspectos, para que os mais jovens
possam conhecer alguma coisa do que ocorreu naquele
evento.
Muito se falou a respeito do incrível resultado
obtido pelo basquete masculino do Brasil nos Jogos Pan-
Americanos de 87 quando vencemos a Seleção Norte
Americana em seus próprios domínios, Indianápolis, pelo
marcador de 115 a 110. A repercussão interna e externa do
título obtido foi uma das mais amplas dentro da história do
basquetebol brasileiro. Apenas para citar um exemplo, o
resultado do jogo final, com direito a foto, foi matéria
central de capa do NEW YORK TIMES de 24 de agosto de
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
61
1987.
A geração de OSCAR e MARCEL que havia
praticamente sucedido a de MARQUINHOS, ADILSON E
CARIOQUINHA, tinha como seu técnico principal ARY
VIDAL. Eu atuei como Assistente Técnico, ao lado do Prof.
Valdyr Barbanti, excelente preparador físico e, também,
um dos grandes responsáveis por aquela histórica
conquista.
O resultado em si surpreendeu muita gente,
inclusive dentro do nosso país. A seleção masculina já
havia obtido uma boa colocação no Mundial da Espanha
no ano anterior, (4º. lugar). Porem um resultado não
muito convincente no Sul-Americano de 87 (vice-campeã),
ainda deixava dúvidas quando ao poderio daquele grupo,
bem como pela maneira como o time atuava, com
extraordinário poderio ofensivo, contrariando opinião de
vários técnicos e parte da imprensa.
Havíamos (Comissão técnico sob a liderança do
Ary) feito uma programação de treinos no Brasil, em
cidades do interior, sem muito contato com grandes
centros, alguns amistosos após o Sul-Americano e, como
inovação um período de treinamento nos EUA na
Universidade de Houston, local onde já estava jogando um
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
62
de nossos pivôs ROLANDO FERREIRA.
Percebeu-se sempre neste período uma vontade
até certo ponto oculta de surpreender a tudo e a todos. A
dedicação aos treinamentos era muito forte; OSCAR e
MARCEL exerciam uma liderança incrível sobre os demais
atletas.
A forma como a equipe atuava tanto na parte
defensiva como no ataque, não continha muito segredo.
Sistema individual com ajuda. Duas variações de Defesa
por Zona e muita ênfase no jogo de transição. ARY dava
total liberdade aos jogadores no ataque. Tínhamos apenas
04 jogadas muito simples, com todas priorizando
arremessos de curta e longa distância, nosso principal
poder de fogo naquele time.
A bem da verdade, analisando friamente o que
ocorria, estávamos à frente no tempo. A linha dos três
pontos havia sido introduzida 02 anos antes. A seleção
brasileira foi talvez a primeira a se utilizar desse recurso.
Hoje equipes da Europa e da NBA, além de muitas do
Brasil, tem como primeira opção a finalização quando o
jogador se sente em condições de arremesso. Na década de
80, arremessar sem a garantia de ter um ou dois homens
postados para possível rebote, ou ainda antes de se esgotar
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
63
metade do tempo de posse de bola era considerado como
grande irresponsabilidade tática. No entanto, essa
liberdade era perfeitamente ajustada a nossa equipe.
Fisicamente o time “voava”, taticamente as coisas eram
muito simples. Jogadores sabiam plenamente do seu papel
naquela seleção, ou seja, armadores armavam para
arremesso da dupla OSCAR MARCEL e seus imediatos
substitutos, entre os quais estavam PAULINHO VILAS
BOAS, ANDRE STOFFEL, mesmo CADUM, e os nossos
homens altos encarregados de bloqueio de rebote, muitas
vezes recuperavam bolas no ataque e devolviam para o
perímetro, para que os finalizadores cumprissem seu papel
à risca.
Uma característica da equipe consistia em jogar e
decidir com muita velocidade. Tempo de posse de bola
raramente atingia 20 segundos. Naquela época grandes
equipes tinham como número de ataques, resultante de
posses de bola, uma media de 75 posses por jogo. A seleção
brasileira ultrapassava 100. Obviamente o time adversário
tentando equilibrar esses números e, não estando
preparado para tal, incorria em muito maior número de
erros. Esses são pequenos detalhes que podem ser
considerados como fundamentais inclusive, no jogo final e
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
64
decisivo contra a incrédula equipe norte-americana diante
da avalanche de arremessos, bem-sucedidos.
Outro aspecto a ser citado como consequência do
resultado final, foi o impacto causado pela perda do título
em basquetebol dos EUA em sua própria casa, tendo, pela
primeira vez, sua seleção derrotada por mais de 100
pontos. A reação a esse acontecimento provocou o início da
discussão da necessidade de colocarem atletas da NBA
para defender o time americano, o que viria a se
concretizar cinco anos depois em 1992, com o surgimento
do “Dream Team”, formado por Michael Jordan, Magic
Johnson, Larry Bird e mais outros ícones do basquetebol
profissional. Como ex-treinador da seleção brasileira na
época, fui o técnico privilegiado a dirigir nossa seleção
masculina (quinta colocada) contra a equipe norte-
americana em Barcelona, mantendo uma boa base ainda
dos atletas de 87. A perda do título olímpico em 88 e a má
colocação no Mundial de 90 acrescentaram motivos para
essa inovação, o que contribuiu demais para a divulgação
do basquetebol em escala mundial. De certa forma,
contribuímos muito para que isso acontecesse.
Muito se pode falar ainda sobre 87. Deixo apenas
essas palavras como contribuição e homenagem aos nossos
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
65
atletas e companheiros da Comissão Técnica, agora que já
se passam 24 anos do inesquecível 23 de agosto de 1987
para muitos de nós.
66
PSICOLOGIA DO ESPORTE
67
A Psicologia do Esporte e o Basquetebol
Sílvia Deschamps
A Psicologia do Esporte tem buscado sua
afirmação no meio esportivo, através da participação de
especialistas que têm procurado diagnosticar, analisar e
pesquisar aspectos psicológicos e estabelecer relações
entre eles e as diferentes variáveis que podem interferir no
desempenho de atletas e equipes.
É inegável que, ao longo das últimas décadas, esse
trabalho tem sido reconhecido, haja vista a quantidade de
publicações (em forma de livros ou artigos) produzidas em
todo o mundo. No entanto, pode-se considerar que essa
evolução, na quantidade e qualidade de produção na área
da psicologia esportiva, ainda não é transferida
adequadamente para a prática, na forma de intervenção
junto a atletas, equipes, comissões técnicas e todo o
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
68
contexto das atividades esportivas, principalmente no
âmbito competitivo de alto nível.
Em alguns países, como Estados Unidos, Canadá,
Austrália e vários da Europa, a intervenção psicológica é
parte integrante do planejamento das equipes e a presença
do profissional da psicologia do esporte é tão comum
quanto a do técnico, assistente técnico, preparador físico e
médico.
No Brasil, entretanto, essa realidade ainda está
distante. A intervenção psicológica, via de regra, não está
inserida no programa de periodização do treinamento, ou
seja, no planejamento em longo prazo do trabalho
realizado pela maioria das comissões técnicas de equipes,
principalmente as consideradas de alto nível. A
intervenção psicológica, normalmente, é lembrada
somente em momentos de emergência ou quando o atleta
apresenta um desempenho inadequado e que coloca em
risco o resultado positivo de equipe. A intervenção, quando
ocorre, é feita na forma de palestras motivacionais que, às
vezes, são ministradas por pessoas não especializadas em
psicologia esportiva e que trazem suas experiências de
outras áreas para tentar resolver as questões de forma
imediata.
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
69
Essa realidade e a falta de informação sobre a
importância do trabalho psicológico em equipes
esportivas, ainda são motivos para que haja muita
resistência, por parte dos atletas e da comissão técnica com
relação à inserção do trabalho psicológico. Muitas vezes, o
psicólogo é visto como um concorrente - e não um aliado -
, e é desconsiderado o fato do trabalho ser um instrumento
auxiliar na busca de um melhor rendimento do atleta.
Muitos estudos têm comprovado a influência,
tanto positiva quanto negativa, dos aspectos psicológicos
na performance de atletas e o despreparo emocional e
cognitivo frente às demandas estressantes do ambiente
esportivo. Através da própria experiência do mestrado,
com o levantamento diagnóstico realizado através de
entrevistas e observações, foi possível detectar a falta que
a preparação psicológica fez na equipe investigada, pois o
fator psicológico foi decisivo nas fases finais do
campeonato. Deste modo, fica ainda mais evidente a
necessidade da inclusão do trabalho psicológico no
esporte, especialmente nas diferentes fases do treinamento
e das competições.
Cada etapa da preparação psicológica deve ser
específica, considerando-se as características e demandas
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
70
desse público e, também da modalidade esportiva em foco
e o momento da preparação na qual se encontra a equipe.
O trabalho deve possuir objetivos claros e bem definidos,
sendo essas informações transmitidas aos participantes do
processo, procedimento este importante para a boa
aceitação do psicólogo esportivo na equipe.
O treinamento psicológico no esporte pode visar
ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de vários aspectos
psicológicos, dentre eles: gerenciamento de stress,
estabelecimento de objetivos, aumento da autoconfiança,
atenção e concentração, autocontrole de ativação e
relaxamento, utilização de visualização e imagem,
estratégias de rotinas e competitividade, elevação de
motivação e comprometimento e manutenção de níveis
adequados dos estados de humor (tensão, depressão, raiva,
vigor, confusão e fadiga). No entanto, não se pode deixar
de analisar todas essas variáveis em função das
especificidades de cada modalidade esportiva, e como elas
poderão influenciar (positiva ou negativamente) no
rendimento dos atletas e das equipes. Portanto,
estabelecer relações entre as variáveis psicológicas e as
variáveis que fazem parte do contexto da preparação dos
atletas (físicas, técnicas e táticas) é fundamental para que
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
71
técnicos e atletas possam estabelecer melhores estratégias
de trabalho e melhorar o desempenho individual e
coletivo.
O basquetebol, por ser uma atividade bastante
dinâmica, com demandas específicas em relação ao tempo
de realização de algumas ações e que proporciona o
contato constante entre os atletas, exige deles um alto
desenvolvimento de capacidades e habilidades (no planos
físicos, técnicos e táticos), fortalecendo ainda mais a
importância do equilíbrio emocional e cognitivo do
praticante.
Assim como em outras modalidades esportivas, o
basquetebol exige grande concentração, domínio sobre
situações causadoras de stress e controle da ansiedade,
elevados níveis de motivação, definição real de objetivos e
conhecimento das diferentes nuances do jogo (regras,
estratégias e variações táticas), além da percepção que o
atleta tem de suas próprias condições. É preciso que o
jogador esteja com a máxima atenção voltada para a tarefa,
obtenha o controle de suas emoções e confie na sua
capacidade de realizá-la. O atleta deve ter autocontrole e
não ser levado por suas emoções quando for necessário
tomar decisões.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
72
Para fazer parte do ambiente da competição de alto
nível, o atleta precisa ser um competidor assíduo e
dedicado, e, para se destacar, deve superar níveis de
exigências técnicas, táticas, físicas e psicológicas, para que
se possa garantir a plena realização de uma carreira
esportiva (DESCHAMPS, 2002).
O atleta de alto nível, de acordo com
FERNANDES, MONTEIRO e ARAÚJO (1991) precisa de
uma capacidade esportiva excepcional, que será
demonstrada através dos resultados por ele obtido,
exigindo, assim, trabalho planejado e organizado,
compondo um treinamento especializado com o objetivo
de melhorar sua condição física e consequente alcance e
manutenção dos resultados.
A competição de alto nível apresenta
características peculiares, e mesmo que o atleta tenha
participado das categorias de base, ele não tem a garantia
de atingir o esporte profissional, e, se chegar lá, de
conseguir se manter. Muitos atletas, quando fazem a
passagem da categoria juvenil para a adulta, tem muita
dificuldade em assimilar as cobranças dos diferentes
atores que participam do processo (inclui-se, aqui,
comissão técnica, patrocinadores, dirigentes, mídia). Ao
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
73
mesmo tempo, existe uma motivação muito forte em se
dedicar à rotina de treinamento, fazendo-o superar os seus
limites ao máximo para se destacar o mais rapidamente
possível.
Muitos técnicos acreditam que o sucesso de um
atleta depende de quatro fatores: habilidade motora;
treinamento físico; treinamento mental; desejo ou energia.
As percentagens destes quatro fatores devem variar de
atleta para atleta e até com o mesmo atleta de jogo para
jogo. Muitos psicólogos dizem que é o desejo, a paixão e a
ambição que separa os maiores realizadores do resto dos
competidores, até de outros com igual ou mais talento
(CLARKSON, 1999).
O esporte é extremamente seletivo, e, para atingir
o esporte de alto rendimento o atleta já possui um
diferencial, além de gostar do que faz, apresenta um perfil
de personalidade determinado, que o conduza a metas
estabelecidas para conseguir se manter e ainda obter bons
resultados. Obviamente que o talento é um fator que deve
ser considerado, embora algumas vezes, pelo excesso de
autoconfiança, o atleta acaba negligenciando o
treinamento, seja no nível tático, físico, técnico ou
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
74
psicológico, e surpreende-se perdendo de um adversário
mais fraco.
Atingir esse nível de excelência, e nele manter-se,
somente será possível através de um sistema de
treinamento adequado, que proporcione ao atleta
aprimorar suas qualidades e corrigir suas deficiências.
Segundo DE ROSE JÚNIOR (1999) para ser um atleta de
alto nível há a necessidade de uma capacidade esportiva
que se expressará pelos resultados obtidos, e estes
dependem de um trabalho árduo e planejado
rigorosamente, num processo de treinamento
especializado.
O basquetebol é praticado em um ambiente de
muita instabilidade, ou seja, não há grande previsibilidade
dos movimentos em função das possibilidades de
modificação das ações no seu próprio decorrer. Além disto,
os limites impostos pelas regras relacionadas a tempo para
execução de ações1 fazem com que o jogo seja muito
dinâmico e com muitas alternativas.
1
No basquetebol há quatro regras relacionadas a tempo de execução de ações:
24” (tempo máximo de posse de bola para finalizar o ataque – arremessar à
cesta); 8” (tempo máximo para uma equipe atacante ultrapassar o meio da
quadra); 5” (tempo máximo para reposição de bola na lateral ou fundo; tempo
máximo de posse de bola que um atleta tem quando recebe marcação próxima
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
75
Essas condições tornam o basquetebol um jogo
propenso a muitos momentos de pressão e tensão
individual, grupal e coletiva (entre os companheiros de
equipe e entre os adversários). Assim sendo, os aspectos
psicológicos assumem uma grande importância no
contexto desse esporte, quando praticado de forma
competitiva. De acordo com KORSAKAS e MARQUES
(2005), o rendimento de um atleta ou de uma equipe não
é determinado exclusivamente pelas condições física,
técnica e tática. Existe o quarto componente, o psicológico,
que deve estar presente no planejamento de treinamento e
competitivo das equipes.
DE ROSE JÚNIOR (2005) afirma que há diversos
aspectos psicológicos que podem se destacar em qualquer
modalidade esportiva: motivação, ansiedade, stress,
personalidade, atenção, concentração, liderança,
agressividade e coesão de grupo, entre outros. Todos esses
fatores podem aparecer isoladamente ou em conjunto no
momento de uma competição, ou serem fatores
predisponentes a influenciar o desempenho dos atletas
e tempo máximo para a execução de lances-livres) e 3” (tempo máximo de
permanência do atacante, em posição passiva, na área restritiva do
adversário) Fonte: Regras Oficiais do Basquetebol – Federação Paulista de
Basketball, 2006.
Em busca de mais basquete: feedbacks e insights.
76
durante a mesma (seja de forma negativa ou positiva).
Esses fatores podem ser mediados por características
como: nível de habilidade do atleta, grau de preparação,
tempo de prática, experiências anteriores, idade e gênero.
No caso do basquetebol, considerando-se que o
esporte é praticado sob uma dinâmica de instabilidade
ambiental, com pressões determinadas pelo tempo para a
realização das ações e que o atleta deve tomar decisões
muito rápidas, seu foco de atenção é variado e a capacidade
de antecipar situações é fator fundamental para o sucesso
das ações. Esse conjunto de fatores aumenta a
complexidade do esporte e, conseqüentemente, pode
provocar um maior nível de stress, influenciando na
participação dos demais componentes psicológicos no
contexto do desempenho dos atletas.
REFERÊNCIAS
CLARKSON, M. Competitive fire. Champaign: Human
Kinetics, 1999.
DE ROSE JÚNIOR, D. Situações específicas de “stress” no
basquetebol de alto nível. 1999. Tese (Livre-Docência) –
Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de
São Paulo, São Paulo.
Carlos Alex M. Soares (Organizador)
77
_____. O estresse no basquetebol. In: DE ROSE JR, D.;
TRICOLI, V. (Orgs.) Basquetebol: uma visão integrada
entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005, cap. 10.
DESCHAMPS, S.R. Aspectos psicológicos e suas
influências em atletas de voleibol masculino de alto
rendimento. 2002. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo,
São Paulo.
FERNANDES, A.C.; MONTEIRO, L.; ARAÚJO, V. O que se
entende por alta competição? Revista Treino Desportivo,
Lisboa, n. 20, p.13-21, 1991.
KORSAKAS, P.; MARQUES, J.A.A. A preparação
psicológica como componente do treinamento esportivo
no basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V.
(Orgs.) Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e
prática. Barueri: Manole, cap. 9, 2005.
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Formação de atletas e insights sobre o basquete brasileiro

  • 1.
  • 2.
  • 3. Carlos Alex Martins Soares (Organizador) 2018
  • 4. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SO676e Soares, Carlos Alex Martins. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights / Carlos Alex Martins Soares (organizador). 1. ed. – Pelotas, RS: s.n., 2018. 92 p.; 14,8 x 21 cm. 1. Desporto. 2. Basquete. 3. Técnicos de basquete. 4. Preparação física. 5. Formação de atletas. I. Soares, Carlos Alex Martins, org. II Título. CDD 796.323 CDU 796.32 12-12960
  • 5. i AUTORES Alessandro Trindade. Bacharel em Arquitetura pela UFPel. Foi atleta de basquete da UFPel. Desenhista desde criança, fez charges e ilustrações para a Revista Mais Basquete, incluindo as mascotes que ilustram a capa desta obra. Carlos Alex Martins Soares. Licenciatura Plena em Educação Física (1997), Especialista em Educação (2002) e Mestre em Educação Física (2015) pela Universidade Federal de Pelotas. Atualmente é estudante de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGSCA- FAMED-UFRGS). Tem experiência em basquetebol: atleta, árbitro da Federação Gaúcha de Basketball (FGB) e técnico do Pelotas Basketball Clube (PBC) e da Seleção Universitária Gaúcha. É Consultor de Basquete do Centro Esportivo Virtual. (http://cev.org.br/qq/carlosalex/). Cesare Augusto Marramarco, Licenciado em Educação Física pela UFRGS, Especialista em Treinamento Desportivo-Atletismo pela URCAMP (Bagé) e Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Técnico de basquete desde 1978: SOGIPA (Porto Alegre), FUnBa (Bagé-RS), Clube Recreio da Juventude e Clube Juvenil (Caxias do Sul), escolas da rede municipal, estadual e particular e de seleções gaúchas. Atualmente é professor da Universidade de Caxias do Sul e da rede municipal de ensino do município de Farroupilha, onde continua o trabalho com a formação esportiva de base. Dante de Rose Júnior. Licenciado (1974) em Educação
  • 6. ii Física e Doutor em Psicologia Social (1996) pela Universidade de São Paulo. Foi professor da USP, onde encerrou a carreira como professor titular após 28 anos. Tem experiência na área de Educação Física e Esportes, com ênfase nos seguintes temas: basquetebol, análise de jogo, esporte infantil, stress esportivo e psicologia do esporte. Foi Coordenador Pedagógico da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol e, atualmente, trabalha em prol do desenvolvimento do Minibasquete em clubes e escolas. (http://cev.org.br/qq/dante/). Fabrício Boscolo Del Vecchio, Bacharel (2001), Licenciado (2004), Mestre (2005) e Doutor (2008) em Ciências do Esporte pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Atualmente é Professor da Escola Superior de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). É membro da National Strength and Conditioning Association (EUA) e do Comitê Científico do GTT12 — Treinamento Esportivo do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). Tem experiência em modalidades de combate, treinamento esportivo, saúde coletiva e atividade física. Autor de artigos e livros com ênfase no treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). É palestrante reconhecido nacionalmente e mantém o Canal Treino com Fabrício no Youtube que armazena as “lives” semanais que tratam de temas correlatos a educação física. (http://cev.org.br/qq/fabricioboscolo/). José Medalha. Possui graduação (1967) em Educação Física (Licenciatura) e Especialização (1968) em Técnica Desportiva (Basquetebol) pela Escola de Educação Física do Estado de São Paulo, atual USP. É Mestre (1979) e Doutor (1982) em Educação Física pela INDIANA UNIVERSITY, BLOOMINGTON, EUA e Livre Docência
  • 7. iii em Educação Física pela USP (1990). Foi professor da FEFE-USP e da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Técnico de basquete que integrou a comissão técnica da seleção brasileira na conquista do Pan- americano de 1987 e foi Diretor-Geral da Confederação Brasileira de Basketball (CBB). Atualmente é Agente FIBA e Consultor Técnico. (http://www.josemedalhaconsultoria.com.br). Liz Imyra Oliveira. Bacharel (2011) em Ciências da Atividade Física pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH- USP). É mesária da Federação Paulista de Basketball (FPB) e foi Bolsista de Iniciação Científica sob a orientação do Prof. Dante de Rose Júnior, época que escreveram este artigo. Marcelo Berro. Marcelo Berro é Técnico Provisionado pelo CREF-RJ em 2004, trabalhou em diversos clubes do Rio de Janeiro e da Bahia (Botafogo, América F. C., Hebraica-RJ, Grajaú Country Clube, Flamengo, Talentos nativos e Faculdade Souza Marques). Atualmente é Coordenador Técnico do Centro de Treinamento do Bábby. Ronaldo Pacheco. Possui Licenciatura Plena pela Faculdade Dom Bosco de Educação Física (1979), Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (2000) e especialização em Psicologia do Esporte e da Atividade Física pela Universidade de Brasília (2003). Foi professor da Secretaria de Educação do DF por 37 anos. Atualmente é horista da Universidade Católica de Brasília e Professor substituto do curso de Educação Física da Universidade de Brasília. Técnico de Basquetebol atuante no DF, com títulos regionais em diversas categorias e Campeão Brasileiro de Basquetebol
  • 8. iv na temporada 2006/07 com a equipe Universo-BRB. Entre 2010 e 2015 foi técnico da equipe sub22 do UNICEUB- BRB, disputando seis edições da Liga de Desenvolvimento do Basquete. (http://cev.org.br/qq/ronaldo-pacheco/). Sílvia Deschamps. Formada em Psicologia (1995) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestre (2002) e Doutora (2008) em Educação Física pela USP. Atualmente é professora da UNAERP (Campus Guarujá- SP), pesquisadora nas áreas do esporte e do exercício, com experiência em psicoterapia individual. Desenvolve trabalhos com atletas e equipes de diversas modalidades e preparou parte da equipe olímpica brasileira para os Jogos Olímpicos de Sydney (2000), Organizou a preparação mental do Projeto Olímpico do Esporte Clube Pinheiros e presta assessoria/consultoria em psicologia do esporte. (http://cev.org.br/qq/silvia-deschamps/).
  • 9. v DEDICATÓRIA Aos meus professores de Educação Física e técnicos dos anos 1980. São pessoas que, de uma forma ou de outra, marcaram minha adolescência, fortaleceram minha paixão pelo basquete, deram um norte moral e confiaram no meu potencial como atleta. Preocuparam-se, todos, em contribuir com a formação do ser humano que me tornei. Minha busca por mais basquete é metafórica: quero o basquete forte e massificado e ao mesmo tempo ter onde praticar, ensinar e torcer por qualquer um que pratique este esporte fascinante. Então, meu MUITO OBRIGADO, ao Élbio Porcellis, Paulinho Oliveira (no colégio e lá no nosso SESC, deixastes uma marca indelével em minha memória e coração), Orlando Sidnei Viana, Cesare Marramarco, Carlos Roberto Ocaña, Luiz Carlos Jakulski “Russo”, Lucas Acosta (chegou do Uruguai e me colocou no time adulto, aos 16 anos) e Ivan Ravazza pelo basquete que compartilhamos e pelas lições gigantescas de desprendimento, confiança e legado esportivo.
  • 10. vi
  • 11. vii AGRADECIMENTOS Muitas palmas, por vários minutos, a todos que se dispuseram a participar desta jornada. Me ensinaram e, com isto, cumpriram o objetivo de nossa proposta massificadora do basquete através do conhecimento. Merecem as horas dedicadas para organizar esta obra. É meu presente para vocês.
  • 12. viii
  • 13. ix SUMÁRIO AUTORES ..................................................... i DEDICATÓRIA ..............................................v AGRADECIMENTOS..................................... vii APRESENTAÇÃO .......................................... xi Ainda em busca de mais basquete.....................xii Carlos Alex Martins Soares FORMAÇÃO DE ATLETAS ...............................1 Minha vida no basquete: “formando” pessoas ....2 Cesare Augusto Marramarco Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas ...............7 Dante de Rose Júnior Esporte, escola e Educação Física: pensamento na história para buscar novos caminhos ............... 17 Ronaldo Pacheco Desempenho técnico individual no basquetebol masculino: relação entre posições específicas, classificação das equipes e indicadores do jogo.23 Dante de Rose Júnior & Liz Imyra Oliveira
  • 14. x Como formar um armador?.............................. 31 Marcelo Berro Formando atletas e técnicos através do esporte universitário ....................................................36 Carlos Alex M. Soares PREPARAÇÃO FÍSICA NO BASQUETE ............ 43 Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio?...........................................................44 Fabrício Boscolo Del Vecchio O treino metabólico de jogadores de basquetebol: ênfase nos componentes aeróbios e anaeróbios treinados em quadra ........................................52 Fabrício Boscolo Del Vecchio HISTÓRIAS DO BASQUETE BRASILEIRO ....... 59 Pan-87: uma conquista histórica ......................60 José Medalha PSICOLOGIA DO ESPORTE ........................... 66 A Psicologia do Esporte e o Basquetebol ........... 67 Sílvia Deschamps
  • 16. xii Ainda em busca de mais basquete Carlos Alex Martins Soares Aproximadamente há sete anos lancei, em parceria com o jornalista Álvaro Guimarães, a Revista Mais Basquete na comemoração dos 24 anos vitória do Brasil sobre os EUA no Pan-Americano de Indianópolis. O objetivo era e, continua sendo, propor o debate sobre o basquete brasileiro e contribuir para que o mesmo encontro um ponto que o torne grande novamente, como na época de Wlamir Marques, Algodão ou na luta incessante de Oscar, Marcel, Pipoca, Guerrinha e outro para manterem o legado. Pois bem, Rubem Alves coloca que o conhecimento deve ser antropofagicamente saboreado. Come-o, então. Incorpora a teu ser esse novo aprendizado. Mas há que ter cuidado, pois esse desejo de possuir o conhecimento pode se confundir com poder e este levar a tirania. Ter o conhecimento pressupõe saber usá-lo, saber leva-lo aos mais distantes pagos e, nessa caminhada, retornar ao lar com novos aprendizados que nos façam evoluir como seres
  • 17. xiii humanos. Assim como buscamos produzir a revista em portable document format, o popular PDF, também lanço este livro neste formato, com a reprodução seletiva de alguns dos artigos de outrora e agregação de novos para dar voz ao novo e não deixar perderem-se magníficos escritos com potencial agregador, histórico e contemporâneo em prol do nosso basquete. Assim como a revista, este livro objetiva contribuir com a (re)construção do basquete através de uma visão positiva na formação de todos os técnicos de basquete, estudantes e professores de educação física do Brasil e agregar mais alimento aos nossos espíritos. A produção exposta nos dois números da Revista Mais Basquete foi elaborada por técnicos da modalidade de diversas partes do país que aceitaram o desafio de contribuir através da socialização do conhecimento que os movimenta em torno do basquete. São técnicos conhecidos dos brasileiros e alguns com projeção internacional. São profissionais que demonstram o interesse e o desprendimento em prol do crescimento do basquete brasileiro. São profissionais que sabem da situação de nossa modalidade e por isto doaram tempo e
  • 18. xiv conhecimento, reflexões e propostas, um pouco de suas práxis e muito de seu talento. Eles abraçaram a ideia e socializaram seus textos e pensamentos com uma humildade que surpreendeu e ainda me deixa muito feliz. Tudo isso na tentativa incansável de autorreflexão, qualificação e desenvolvimento do esporte que amamos. Portanto, quando falo de antropofagia, me refiro a metáfora da magia da incorporação do conhecimento novo ao que já sou. Espero que todos também se sintam da mesma forma, pois o conteúdo aqui reproduzido é qualificado demais e merece ser consumido permanentemente.
  • 20. 2 Minha vida no basquete: “formando” pessoas Cesare Augusto Marramarco Quando recebi o convite do Carlos Alex para escrever sobre basquete e, especialmente, sobre iniciação, confesso que fiquei bastante envaidecido e ao mesmo tempo preocupado. Ser lembrado pelos colegas, ex-atletas e pessoas com quem convivemos é sempre muito importante e acredito ser este o melhor reconhecimento, pois é feito por pessoas que convivem neste mesmo meio e sabem do seu trabalho. Porém, uma coisa é dar um treino, uma palestra, uma atividade prática, coisas que fazem parte do teu cotidiano. Outra é colocar isso no papel, o que não é absolutamente a mesma coisa. Espero poder corresponder a esta expectativa. Nestes 34 anos como técnico de basquete, praticamente nunca me afastei do trabalho com as
  • 21. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 3 categorias de base, especialmente o minibasquete. Mesmo quando técnico de equipes adultas, sempre fiz questão de continuar trabalhando com a gurizada. Para mim sempre foi o momento de descontração, de alegria e onde eu realmente me sentia útil. Não que ser técnico de equipe adulta seja menos importante, gratificante ou mais fácil. Porém pelo meu temperamento, o trabalho de formação sempre foi onde me senti realizado. Todos nós, técnicos, sabemos onde somos melhores e considero isto fundamental não só para o sucesso profissional como para a nossa felicidade. Afinal felicidade é o que todas as pessoas buscam alcançar e acredito que só consigamos realmente sermos felizes se isso acontece também no trabalho. Tanto quanto todas as outras profissões, ser técnico de basquete exige amor e dedicação. E trabalhar com crianças exige que se goste e se tenha paciência com elas. Não se confunda isso com falta de limites ou de cobrança em busca de objetivos. Porém o carinho e a paciência em saber que cada um tem um ritmo diferente de aprendizagem são essenciais. E, essencialmente, sabermos que estamos lidando com pessoas em um momento crucial de sua formação e o que for feito neste momento provavelmente
  • 22. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 4 ecoará por toda a sua vida. E não estou falando sobre técnica individual, fundamentos ofensivos e defensivos, pois estes sabemos que, com um pouco mais ou menos de trabalho, podem ser corrigidos em qualquer fase da vida do atleta. Entretanto, os valores e virtudes morais encontram na iniciação o seu melhor momento para serem lapidados. Talvez seja por isso que considero tão importante o trabalho nesta fase. Costumo comentar que, se fosse mudar alguma coisa na minha carreira profissional, talvez tivesse estudado um pouco menos sobre basquete e um pouco mais sobre pessoas. Quando fui fazer o mestrado com o meu querido e saudoso Prof. Ruy Krebs passávamos muito tempo estudando as teorias do desenvolvimento humano. Naquelas leituras e discussões eu consegui encontrar explicações para os meus erros e acertos e solidificar a minha opinião para a importância do trabalho nesta fase. No seu modelo de especialização motora, o Prof. Ruy sempre salientou a importância do primeiro estágio, o de Estimulação, na formação do futuro atleta. Desta forma, uma das coisas que mais me empolga no trabalho é que, muito mais do que atletas, formamos pessoas. O que quero salientar é que alguns que passarem por nós, muito mais por suas capacidades próprias do que
  • 23. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 5 por méritos nossos, serão atletas durante um tempo maior. Talvez sejam atletas de seleções estaduais, brasileiras ou até profissionais. Porém o maior grupo será formado de pessoas que praticaram o basquete por algum tempo e seguiram o seu rumo na vida, sendo profissionais nas mais diferentes áreas. Provavelmente algumas das experiências do seu tempo de atleta lhes ajudem nesta sua vida profissional e este será, provavelmente, o nosso maior pagamento. Por outro lado, se o foco de nosso trabalho fosse essencialmente de formar atletas de alto nível, provavelmente seríamos tremendamente frustrados, pois de cada dez atletas que começam nas escolinhas e mini, talvez um chegue a categoria juvenil. Destes, a possibilidade de se profissionalizar é bastante pequena, dado ao número de equipes que temos em nosso país. Dependendo da região, esta chance é ainda menor. No entanto, tudo isso acontece através da prática do basquete. As crianças que vem até nós estão com a sua atenção voltada para a prática do esporte e a nossa função primordial neste momento é ensinar, o melhor possível, a estes jovens. A motivação deles para a prática vem do êxito
  • 24. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 6 em conseguir realizar as técnicas que constituem o jogo. Porém, nós como técnicos devemos ter esta visão a longo prazo para sabermos da importância de cada situação de nosso apaixonante esporte.
  • 25. 7 Treinador de basquete e os aspectos que envolvem a formação de jovens atletas Dante de Rose Júnior A prática esportiva infantil, independentemente do esporte praticado, é permeada por ações adultas – pais, dirigentes, professores, treinadores e árbitros que, de alguma forma, interferem nas experiências esportivas dos praticantes. Nesse processo, o treinador tem uma importância fundamental, pois além de ser a pessoa que atuará diretamente sobre os futuros comportamentos esportivos dos jovens, ele também poderá influenciá-los fora dos campos de jogo. O poder de um treinador sobre um jovem esportista é muito grande a ponto de vários estudos o apontarem como dos principais motivos para a escolha de uma modalidade esportiva e, ao mesmo tempo, como um dos mais destacados fatores de abandono desta prática.
  • 26. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 8 Além disto, o treinador pode ter uma grande influência sobre as atitudes e comportamentos, valores e sentidos de vida de seus atletas, sendo ele o corresponsável pelo desenvolvimento da personalidade de seus atletas e também pelo seu futuro, após o final de sua carreira esportiva. A prática esportiva competitiva envolve diferentes aspectos que afetam diretamente seus adeptos (principalmente quando se trata de atletas em formação) e o conhecimento deste contexto por parte dos treinadores é fundamental para a realização de um trabalho adequado. São eles: I. Os aspectos biológicos relacionados aos estágios desenvolvimento dos jovens, desde suas etapas iniciais até as fases mais agudas como a puberdade e adolescência e que são essenciais para a determinação das cargas de trabalho adequadas a cada uma das fases: II. Os aspectos cognitivos que definirão os níveis de compreensão das tarefas propostas e interferirão na sua execução; III. Os aspectos técnico-táticos de cada esporte, no caso o basquetebol, representados pelas ações
  • 27. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 9 individuais e coletivas que nortearão a proposta de trabalho de cada treinador; IV. Os aspectos psicológicos que envolvem o conhecimento dos traços de personalidade desses jovens e de seus limites em relação às exageradas cobranças, muito comuns no ambiente esportivo competitivo e também a demanda específica do esporte, em função das características de cada um deles; e V. Os aspectos pedagógicos que envolvem o conhecimento de todos os conteúdos anteriores para que sejam elaborados os métodos e estratégias adequados para cada momento das fases de desenvolvimento do jovem. Os treinadores, especialmente aqueles envolvidos com o trabalho formativo, devem ter uma preparação mínima já que vão trabalhar com jovens que têm somente um conhecimento básico do esporte que irão praticar. Sem dúvidas, é precisamente o treinador das etapas iniciais de iniciação esportiva que deve ter uma formação sólida que lhe sirva de instrumento para planejar o ensino do esporte respeitando as etapas evolutivas desses jovens. No âmbito pedagógico o papel do treinador deve
  • 28. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 10 transpassar a simples barreira do ensinar movimentos específicos ou movimentações táticas para suplantar os adversários. As ações pedagógicas direcionadas principalmente para a formação esportiva sugerem o domínio de várias áreas de conhecimento sobre o indivíduo e sobre a atividade para que sejam aplicadas de forma adequada às necessidades do jovem praticante, respeitando suas características. Entre esses domínios podemos citar o biológico, psicológico, técnico, tático, social e cultural. Ou seja, conhecer a criança nos seus mais diferentes aspectos (físicos, intelectuais, personalidade, inserção social) e a atividade (demandas energéticas, demandas psicológicas, demandas técnico/táticas e impacto cultural da mesma sobre a comunidade) é fator preponderante para determinar a ação pedagógica do profissional que atuará sobre um determinado grupo de jovens. Como estabelecer filosofias de trabalho, programas de treinamento, planos diários de atividades ou estratégias para competição sem o conhecimento de todos os aspectos citados? As oportunidades que são oferecidas ao jovem para entender o basquetebol de forma global são
  • 29. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 11 determinantes para seu futuro como atleta. Por isto é fundamental que se pense numa formação integrada e que coloque os elementos do jogo de forma contextualizada. O técnico como fonte geradora de stress nos jovens atletas Estudo realizado com atletas brasileiros sobre os motivos de abandono do esporte infanto-juvenil apontam alguns dos aspectos negativos do contexto esportivo que levaram os jovens a interromper a prática de determinada modalidade: a ênfase exagerada na necessidade de vitória, o stress gerado pela competição e o fato de não gostarem do técnico. Curiosamente, o técnico é comumente citado pelos jovens como uma das principais razões que justificam a adesão à prática esportiva, mas também para o abandono da mesma. Este dado é bastante preocupante quando percebemos que o técnico como principal responsável por fomentar a prática esportiva dos seus atletas, acaba, por muitas vezes, afastando-os do esporte, sem ter consciência da repercussão dos seus atos entre os jovens esportistas. Pesquisas feitas com atletas de categorias de base no Brasil (14 a 18 anos) mostram que as atitudes de
  • 30. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 12 técnicos relacionadas à sua comunicação com os jovens atletas podem ser entendidas como prejudiciais e causadoras de stress nos esportistas que buscam, na verdade, por orientação e solução de problemas e não, simplesmente a crítica desmesurada e sem objetivos. Nesses estudos que abrangeram cerca de 500 atletas de basquetebol, handebol, natação e voleibol, o objetivo principal era detectar situações causadoras de stress em competição. Nele, os técnicos aparecem com destaque como provocadores de stress quando apresentam comportamentos tais como: • não reconhecer o esforço dos atletas; • gritar ou reclamar muito; • enfatizar somente os aspectos negativos • cometer injustiças; • não apontar soluções frente aos problemas provenientes das situações específicas do jogo ou da competição; • privilegiar determinados atletas. Isso indica que o efeito do comportamento do técnico é mediado pelo significado que os atletas atribuem a ele, e pelo o que os atletas lembram desse
  • 31. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 13 comportamento, sendo que a forma de interpretação dessas ações pelas crianças e adolescentes afeta a maneira como eles avaliam sua participação esportiva. Atitudes frente ao processo de formação esportiva e o que se espera de um bom técnico Pode-se considerar que há dois tipos de atitudes de técnicos que atuam no esporte infanto-juvenil, dirigindo equipes das categorias de base: I. O técnico que tem como objetivo principal a vitória, enfatizando o produto e privilegiando os resultados imediatos. II. O técnico que visa a participação do jovem, enfatizando o processo e buscando resultados a longo prazo. Em qualquer uma delas os técnicos podem, dependendo de suas atitudes e da forma de comunicar-se com os atletas, provocar situações causadoras de stress que tendem a influenciar negativamente o desempenho dos jovens e provocar comportamentos que poderão migrar desde o desinteresse pela modalidade e até mesmo o abandono.
  • 32. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 14 Seria razoável que se pensasse que, em um processo de formação, estas últimas atitudes seriam as mais adequadas. No entanto, muitos técnicos, por diferentes razões privilegiam as primeiras, atropelando este processo e antecipando uma série de eventos que, a curto prazo, podem até ser interessantes, mas que poderão, por sua vez acelerar o processo de abandono dos jovens atletas. Assim sendo, quatro princípios devem nortear a conduta dos treinadores: 1. Vencer não é tudo, nem somente a única coisa: os atletas não podem extrair o máximo do esporte se pensarem que o único objetivo é vencer seus oponentes. Apesar de a vitória ser uma meta importante, ela não é o objetivo mais importante; 2. Fracasso não é a mesma coisa que perder: é importante que os atletas não vejam perder como sinal de fracasso ou como uma ameaça aos seus valores pessoais; 3. Sucesso não é sinônimo de vitória: nem o sucesso nem o fracasso precisam depender do resultado da competição ou do número de vitórias e derrotas. Vitória e derrota pertencem ao resultado da
  • 33. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 15 competição, enquanto sucesso e fracasso não; 4. Os jovens devem ser ensinados que o sucesso é encontrado através do esforço pela vitória, eles devem aprender que nunca são perdedoras esforçam- se ao máximo. Conclusão Fica evidente que o técnico deve ter uma participação ativa no processo de formação do jovem, porém provido de conhecimentos suficientes que permitam uma atuação segura e benéfica para os futuros atletas. Esse conhecimento deve ocorrer em quatro domínios: 1. conhecimento do próprio jovem (sua realidade biológica, psicológica e social); 2. conhecimento da modalidade com a qual irá trabalhar (aspectos físicos, técnicos e táticos); 3. definição adequada de métodos e estratégias de trabalho (planejamento, definição de objetivos, escolha dos métodos de treinamento e dos exercícios que farão parte desta atividade, entre outros); e 4. Intervenção eficaz no processo (atitudes positivas de oferecer condições dos atletas
  • 34. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 16 aprenderem, apresentar possibilidades para a solução de problemas. Leituras sugeridas De Rose Jr., D.; Deschamps, S.R. e Korsakas, P. O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 1, 2, 36-44, 2001. De Rose Jr., D.; Campos, R.R.; Tribst, M. Motivos que llevan a la práctica del baloncesto: um estudo com jóvenes atletas brasileños. Revista de Psicologia del Deporte, 10, 2, 293-304, 2001.
  • 35. 17 Esporte, escola e Educação Física: pensamento na história para buscar novos caminhos Ronaldo Pacheco Nesta minha primeira participação nesta revista, gostaria de abordar um tema que tem feito parte das discussões atuais (ainda mais com a proximidade da realização da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas no Brasil), mas que na verdade foram iniciadas a partir da década de 80. Penso ser importante realizar uma reflexão sobre a questão do esporte na escola, e nos artigos posteriores pretendo tratar especificamente, sobre o basquetebol na educação física escolar. Antes de tudo, é importante esclarecer que estas minhas reflexões se originam nas minhas vivências e estudos nestes quase quarenta anos ligado à prática esportiva e ensino escolar e universitário. Como toda
  • 36. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 18 reflexão, está sujeita a contestação e ao debate de ideias que ao final é a base de todo o aprendizado. Para iniciar estas reflexões é necessário fazer um resgate histórico sobre o uso do esporte na educação física escolar. Para os mais novos, é importante lembrar que nos meados da década de 1960, com a implantação da ditadura militar no nosso país, o esporte foi utilizado como forma de melhorar a autoestima do povo e também de proporcionar uma válvula de escape para uma população que vivia sufocada pela censura, e pela ausência de líderes, que se refugiavam do país ou eram presos e torturados, nos porões da ditadura. O uso do esporte como principal e na maioria das vezes único instrumento da educação física escolar, para o desenvolvimento esportivo, teve um lado altamente positivo, pois nesta época, com o advento da criação dos Jogos Escolares Brasileiros, houve um investimento maciço na construção de instalações, compra de materiais esportivos, e consequentemente o surgimento de vários atletas em diversas modalidades que se destacaram no esporte brasileiro e internacional. Oscar, Marcel, Hortência, Paula, Joaquim Cruz, Bernard, William, e muitos outros em diversas modalidades, são exemplos
  • 37. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 19 claros desta fase. É bem verdade que muitos destes atletas não foram criados e desenvolvidos no ambiente escolar, mas ao terem contato com a modalidade na escola, buscavam clubes e/ou outros centros onde se especializavam e tinham oportunidade de participar de várias competições. Por outro lado, não há como negar que na educação física escolar, voltada para o treinamento das equipes colegiais, havia também uma exclusão muito grande dos menos talentosos, pois com turmas grandes, não havia como os professores treinarem as equipes que representavam as escolas. Esta exclusão afastou muita gente de uma prática saudável da atividade física, pois era quase que exclusivamente voltada para os treinamentos. Muitos dos que nos leem neste momento podem discordar do que foi dito acima, mas provavelmente foram aqueles que ou fizeram parte das equipes colegiais ou tinham ojeriza, e por qualquer destes fatos, não se sentiram discriminados ou excluídos. Com o final da ditadura militar, vários professores e autores da área da educação física, que se sentiam incomodados com a utilização indiscriminada dos esportes na educação física escolar, começaram a contestar este uso.
  • 38. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 20 Esta prática de forma excludente, e muitas vezes irrefletida, levou estes estudiosos a contestar o uso de esporte na escola de forma contundente. As novas abordagens propostas sugeriam concepções filosóficas, sociológicas e políticas que tornassem a prática da educação física mais fundamentada em uma visão crítica e menos “alienante” da cultura corporal de movimento. No meu modo de ver, a quase “criminalização” do uso do esporte, foi um engano que levou a tentativa de afastamento do seu uso nas aulas de educação física escolar. O problema nunca foi do esporte em si, mas do uso que se fez dele de forma excludente e com fins unicamente competitivos. Ressalto também, que a competição quando bem dirigida é um elemento altamente motivador e nos leva a entender as nossas limitações e possibilidades, mas por outro lado, é perniciosa quando leva em conta apenas a separação entre vencedores e perdedores. A competição foi taxada desta forma para os críticos das modalidades esportivas. Muitos professores formados nesta época tomaram contato com um discurso político ideológico que, incapaz de compreender de forma ampliada o esporte, passou então a paulatinamente negá-lo na escola.
  • 39. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 21 A verdade é que somando a insuficiente e míope preparação dos professores para a formação esportiva, e a queda da valorização da educação física no âmbito escolar, passamos a viver uma época de alto índice de “analfabetismo motor” devido ao abandono do papel indispensável que a prática de atividades física deve ter na vida de todo ser humano. É bem verdade que existem muitos professores que, conscientes deste seu papel, travam uma luta hercúlea para conduzir seus alunos para o alcance dos inúmeros objetivos que a educação física pode promover, porém há outros tantos que se acomodam e se escondem atrás de discursos vazios sobre uma dita prática socializadora, abandonando seus alunos a meros momentos de recreação descompromissada e banal. O que vemos atualmente nos momentos de discussão sobre a prática esportiva no nosso país, é que a escola não tem cumprido o seu papel de formadora de futuros esportistas. Apesar de concordar que o papel da educação física escolar está muito abaixo do esperado, será que esta falta de formação esportiva inicial tem como única vilã a atuação dos professores de educação física na escola? Será que antes de pensarmos na formação esportiva, não
  • 40. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 22 devemos nos preocupar com a alfabetização motora das crianças, como passo inicial? Como realizar isso se na fase de maior importância para aquisição adequada da descoberta corporal e dos movimentos básicos (1º ao 5º ano), não temos professores de educação física nos colégios? Penso que é possível uma convivência harmoniosa entre o esporte introduzido na escola e o esporte de rendimento, desde que seja respeitada cada etapa do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo do aluno e que o esporte não seja uma imposição e instrumento único da educação física. Dar condições motoras e atrair para o esporte em vez de impor a prática esportiva, talvez seja o primeiro passo para esta convivência. Muitas são as maneiras de se promover uma formação adequada e para isso vários autores atuais ligados à pedagogia do esporte têm apresentado caminhos. Sobre isso pretendo discorrer no próximo artigo.
  • 41. 23 Desempenho técnico individual no basquetebol masculino: relação entre posições específicas, classificação das equipes e indicadores do jogo Dante de Rose Júnior & Liz Imyra Oliveira Introdução Muitos estudos no basquetebol são baseados na análise técnica de desempenho, através de dados estatísticos dos jogos que são divulgados nos sites oficiais das entidades que realizam os campeonatos. Segundo De Rose Jr. et al (2005) a análise estatística baseia-se na coleta e a interpretação de dados obtidos nas ocorrências do jogo, dando-lhes significado para possíveis interferências individuais e coletivas. Para esta análise são considerados os indicadores de jogo. Esses indicadores são, segundo Sampaio (1999), um conjunto referencial das principais ações técnico-táticas de uma partida e
  • 42. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 24 representam as situações ou ocorrências mensuráveis como por exemplo: número e percentual de arremessos (certos ou errados), faltas cometidas, bolas recuperadas, incidência de algum tipo de ataque, rebote obtidos, entre outros. Levando em consideração a necessidade de se ter um referencial baseado em um dos principais eventos de basquetebol realizado no mundo, o presente estudo teve como objetivo determinar o perfil de desempenho técnico individual dos atletas de equipes adultas masculinas no torneio de basquetebol dos Jogos Olímpicos de Beijing, realizado em 2008, em função de diferentes indicadores de jogo e classificação das equipes. Procedimentos metodológicos O presente estudo foi realizado com base nos dados do Torneio masculino dos Jogos Olímpicos de Beijing, em 2008, com a participação 12 equipes , totalizando 38 jogos, com a participação de 144 atletas. As posições específicas foram definidas a partir de classificação utilizada normalmente no basquetebol, assim definidas, segundo Ferreira e De Rose Jr. (2010): armadores, alas ou laterais e pivôs.
  • 43. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 25 Ressalte-se que há outras classificações que especificam um maior número de posições, dentro das características de cada atleta e que alguns atletas exercem funções diferenciadas durante a partida, em função da organização tática das equipes e de suas próprias características. No entanto, para efeito de análises, a classificação acima citada será a utilizada no presente estudo. Para a definição do perfil técnico foram utilizados os dados oficiais da Federação Internacional de Basketball (FIBA), disponíveis no site www.fiba.com. Os indicadores de jogo utilizados na pesquisa foram os seguintes: ➢ M/j: média de minuto jogador por jogo ➢ PTS/j: média de pontos convertidos por jogo ➢ REB/j: média de rebotes por jogo ➢ ASS/j: média de assistências por jogo ➢ BR/j: média de bolas recuperadas por jogo ➢ BP/j: média de bolas perdidas por jogo A análise estatística do presente estudo foi realizada da seguinte maneira:
  • 44. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 26 • Médias e desvios padrão de cada indicador de jogo, em cada posição específica para o estabelecimento do perfil do atleta, em função do número diferente de jogos das equipes e dos próprios atletas Resultados A partir das análises realizadas a amostra foi composta por 56 armadores, 47 alas e 41 pivôs. As médias e desvios padrão de cada indicador de jogo analisado para cada posição específica são apresentados na tabela 1. Tabela 1: Médias e Desvios Padrão dos indicadores de jogo dos atletas, por posição específica POSIÇÕES N M PTOS REB ASS BR BP Armadores 56 18,9 ±6,8 6,9 ±3,8 2,2 ±0,9 1,7 ±1,0 0,8 ±0,5 1,5 ±0,7 Laterais 47 15,7 ±7,3 5,9 ±4,0 2,7 ±2,6 0,7 ±0,4 0,7 ±0,6 1,1 ±0,9 Pivôs 41 18,5 ±6,8 8,3 ±4,1 4.2 ±1,8 0,8 ±0,6 0,6 ±0,4 1,4 ±0,7 Conclusão Os resultados mostram claramente que nos Jogos Olímpicos de Beijing, 2008:
  • 45. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 27 • Os armadores e os pivôs tiveram a maior média de tempo de quadra; • Os pivôs tiveram as melhores médias de pontos convertidos e rebotes; • Os armadores tiveram as melhores médias em assistências; • Os armadores e os pivôs são os jogadores com as maiores médias de bolas perdidas; e • Não houve praticamente diferenças nas médias de bolas recuperadas entre as três posições. Evidentemente que esses resultados devem ser analisados em um contexto não só técnico. As questões táticas também deveriam ser exploradas para que se pudesse ter uma ideia da organização tática das equipes, pois essa organização poderia determinar o comportamento técnico dos jogadores em função de suas posições específicas. Analisando-se estritamente pela questão estatística, conclui-se que os resultados encontrados não diferem de outros estudos já realizados e que, de certa
  • 46. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 28 forma, confirmam as definições que são estipuladas para cada uma das posições. Esses resultados também podem servir de referência para que técnicos e jogadores possam estipular objetivos de desempenho em treinamentos e jogos. Referências Bibliográficas De Rose Jr, D.; Gaspar, A.B. & Assumpção, R. M. Análise estatística de jogo. Cap. 7. In De Rose Junior. D.; Tricoli, V. (eds). Basquetebol: uma visão integrada entre a ciência e prática. Barueri-SP: Manole, 2005. Ferreira, A.E.X.; De Rose Jr., D. Basquetebol: técnicas e táticas. Uma abordagem didático–pedagógica. São Paulo: EPU, 2010. FIBA – site oficial, www.fiba.com Leituras complementares – estudos similares De Rose Jr, D.; Gaspar, A.B. & Assumpção, R. M. Analise Estatística do Campeonato Paulista de Basquetebol Masculino: comparação entre 2001 e 2002. São Paulo: Federação Paulista de Basquetebol, 2003. Disponível em:(www.fpb.com.br) De Rose Jr, D.; Tavares, A. C. &Gitti, V. Perfil Técnico de jogadores brasileiros de basquetebol: Relação entre os indicadores de jogo e posições especificas. Revista brasileira de Educação Física e Esporte, 2004. Garganta, J. Analisar o jogo nos jogos desportivos colectivos. Revista Horizonte, v 14, n.83, p. 7-14, 1996.
  • 47. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 29 Janeira M. A. A análise de tempo e movimento no basquetebol: perspectivas. Estudo dos Jogos Desportivos, concepções, metodologias e instrumentos. Universidade do Porto, Centro de Estudos dos Jogos Desportivos: 199, 53-68. Okasaki, V. H. A.; Rodacki, A. L.F; Sarraf, T. A.; Dezan, V. H. Okazaki, F. H. A. . Diagnóstico da especificidade técnica dos jogadores de basquetebol. Revista Brasileira e Cinesiologia e Movimento, 12(4): 19- 24, 2004. Ortega, E.; Cardenas, D.; Sainz de Baranda, P.; Palao,J.M. Differences in competitive participation according to player’s position in formative basketball. Journal of Human Movement Studies, 50, 103,122, 2006. Page, G.L.; Fellingham, G.W.; Reese, C.S. Using box- scores to determine a position’s contribution to winning basketball games. Journal of Quantitative Analysis in Sport, 3 (4), 2007. Disponível em www.bepress.com/jqas PAPADIMITRIOU, K.; TAXILDARIS, K.; DERRI, V.; MANTIS, K. Profile of different leval basketball centers. Journal of Human Movement Studies, London, v.37, p. 87-105, 1999. Sampaio, A. J. Los indicadores estadísticos más determinantes em el resultado final em los partidos de basquetbol. Lecturas en Educación Física Y Deportes-Revista Digital, 3, 11, 1999. Sampaio, A.J.; Ibañez Godoy, S.; Feu, S. Discriminative Power of basketball game-related statistics by level of competition and sex. Perceptual and Motor Skilss, 99: 1231-1238, 2004.
  • 48. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 30 Tavares, F. Analisar o jogo nos esportes coletivos para melhorar a performance. Uma necessidade para o processo de treino . In: De Rose Jr, D. Modalidades Esportivas Coletivas,. 2006, 60-67. Taxildaris, K.; Papadimitriou, K.; Alexopoulos, P. et alli. Factors characterizing the offensive game of the playmaker position in basketball. Journal of Human Movement Studies, London, v.40, p.405-421, 2001.
  • 49. 31 Como formar um armador? Marcelo Berro Considero o basquetebol, entre os esportes coletivos, o que exige a maior necessidade dos atletas estarem permanentemente sintonizados, conectados. Essa necessidade, requer desde a iniciação, um forte embasamento do lado cognitivo e até espiritual dos atletas. Sou adepto da teoria onde um atleta com raciocínio lento e sem a “presença de espírito”, não joga basquete! Ouvi do meu primeiro técnico (Professor Israel Washington de Freitas) a seguinte frase: “O xadrez e o basquetebol são os dois únicos esportes, onde os atletas que se destacam, usam mais o que existe acima da sobrancelha do que o resto do corpo”. Desde quando virei técnico, essa frase ecoa em meus pensamentos. Tento transmitir essa necessidade dos atletas possuírem uma percepção (leitura) apurada de
  • 50. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 32 todos os movimentos e variações, muitas vezes sutis (o que faz a diferença), que acontecem durante uma partida de basquetebol. Quando um técnico consegue que seus atletas estejam focados, atentos, interpretando o que o jogo propõe, um quarto do caminho para a vitória está garantida. Outra parcela importante é a sintonia. Existir unidade onde os atletas estejam interligados, utilizando o lado racional, com uma conexão espiritual, gerando energia positiva, que tornará a equipe capaz de superar situações adversas de qualquer espécie. Entendo que o aspecto físico seja o mais delicado de ser trabalhado. Quando pensamos em treinamento físico automaticamente remete a força, músculos, explosão. Principalmente na iniciação, o aspecto físico tem que ser pensado em exercitar exaustivamente o lado coordenativo, com exercícios que leve a criança/adolescente a dominar seu corpo, aliando a maior quantidade possível de movimentos com equilíbrio e velocidade. A força e explosão deve ser consequência de uma boa base coordenativa, jamais o inverso. Todos esses aspectos, citados anteriormente, valerão muito pouco se os atletas não dominarem os
  • 51. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 33 fundamentos (derivação masculina singular de FUNDAR, BASE PRINCIPAL, FUNDAMENTAL) do basquetebol. Em todas as equipes que dirigi (e em todas que dirigirei) o armador é o capitão. Penso que não pode haver um armador tímido (dentro de quadra), ou que não possua o espírito de liderar. Afinal, quem determina as ações ofensivas? Corrige os posicionamentos? Quem é o cérebro do time? Quem é o responsável por interligar os quatro aspectos (cognitivo, espiritual, físico e os fundamentos) que resumem o basquetebol? Quem é o técnico dentro de quadra? O armador necessita “ler” o que sugere a defesa adversária (veneno) e preparar os movimentos ofensivos (antídoto). O armador precisa ser convicto, seguro do que está fazendo e dar a confiança aos atletas das outras posições, onde eles acreditem cegamente que o que está sendo determinado é o melhor para a equipe. Ele precisa conhecer as capacidades físicas, as qualidades e deficiência dos fundamentos de cada companheiro (se possível dos adversários) para poder escolher o encaixe (posicionamento) que seja adequado para superar a defesa.
  • 52. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 34 Por ser o atleta que normalmente faz a transição e quem organiza a equipe, os fundamentos (bons ou ruins) do armador se tornam evidentes. Os defensores (os inteligentes) não darão espaço para o armador pensar, enxergar o jogo e farão o possível para que ele não chegue na posição ideal para “cantar” o movimento de ataque, tentarão “quebrar” o primeiro passe. No ataque, o manejo de bola, domínio com ambas as mãos, mudanças de direção, os passes precisos de todos os tipos e a visão periférica são os fundamentos primordiais de um bom armador. Na defesa, o veloz deslocamento de pernas, o agressivo posicionamento dos braços, o costume de sempre incomodar quem tem a bola, sem jamais ser ultrapassado e induzir o adversário a driblar com a mão “fraca” proporcionará um grande conforto a todos os demais defensores. Na formação, a troca de posições nos treinamentos, é determinante para que um entenda como é a função do outro, conhecer as dificuldades e assim, respeitar quem joga naquela posição, até por que, invariavelmente, acontece de um armador ter que usar um giro de pivô (situação de vantagem de altura sobre seu
  • 53. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 35 marcador) ou até mesmo marcar nessa situação. Todos os atletas de uma equipe até SUB-15 devem treinar (no mínimo) como armadores, exercitar a liderança, a visão de jogo. A especialização precoce é o maior “crime” que um técnico pode cometer com os seus atletas, embora em busca de resultados essa prática seja muito comum. Provo essa visão com duas perguntas: 1. Quantos “super-pivôs” (cestinhas de campeonatos nas categorias inferiores a SUB-15) pararam de crescer e não tiveram o embasamento de fundamentos de um lateral ou de um armador e acabaram parando de jogar? 2. Imagine uma seleção brasileira com um armador de mais de dois metros, habilidoso, veloz com bom arremesso e você sendo lembrado como o técnico formador desse talento. O que vale mais, o título no Sub-15 ou ser o técnico formador de um atleta diferenciado?
  • 54. 36 Formando atletas e técnicos através do esporte universitário Carlos Alex M. Soares Quando eu conheci o basquete eu só queria atirar a bola na cesta, vê-la passar pelo aro ou sentir o som do quique da bola na quadra... Logo eu queria vestir a camiseta da seleção, aquele uniforme listrado me encantava e minha equipe também tinha um uniforme listrado, era da Adidas, lembro bem dele como se fosse hoje... Eu tinha um objetivo: aprender a jogar para jogar pela seleção. Claro, eu desconhecia a politicagem no esporte e como os atletas do interior são desvalorizados, mesmo com algum talento – eu realmente tinha poucos minutos em quadra e quando me destaquei deixei, por um tempo, o que chamamos de plano B, mas que deve ser o plano A, para trás: os estudos. Isto teve consequências quando a oportunidade de ir para uma equipe melhor. Foi
  • 55. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 37 triste, mas foi justo. Perdi uma oportunidade, mas aprendi a lição. Então, posso falar dos sonhos. Anos atrás vi um dos muitos vídeos da NBA que circulam pela rede e fiquei pensando nos moleques americanos, sonhando em jogar na NBA. Ver um dos muitos vídeos de Michael Jordan ou de Magic Johnson mostrando como eles sonhavam em ir para a Universidade, relatando que o fundamental era o esporte como alicerce para a vida adulta. Mas naquela época, o sistema de ensino, a segregação racial e a pobreza dos afro-americanos os fazia (será que não faz ainda?) utilizarem o talento esportivo como trampolim para uma vida melhor e, se o talento existisse, concretizariam o sonho de jogar na NBA (ou na NFL ou na MLB), mas serão seres humanos muito melhores, com uma base educacional e cultural fortes. Outro vídeo relata a importância da NCAA e do modelo adotado pelo esporte americano: mais de 300 mil estudantes do ensino superior com algum tipo de bolsa universitária para jogar o esporte que os fazia brilhar na infância/adolescência. Então, eu me pergunto: com o que o jovem brasileiro apaixonado pelo basquete sonha? Em ser igual
  • 56. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 38 ao ídolo do momento? Sonha com seus arremessos de longe? Sonham com cravadas magníficas? Sonham em passar bolas para o arremesso certeiro do ala ou com aquela assistência inacreditável no centro do garrafão? Ou, ainda, imagina-se deixando o o pivô livre em um pick-and- roll? Afinal, assistências são tão belas quanto os pontos marcados. Mas não, primeiro eles nem sabem os nomes dos jogadores brasileiros e segundo eles sonham em jogar nos Estados Unidos, na NBA. Assim eles poderão alcançar a mesma fama que Nenê, Leandrinho, Varejão, Splitter, Felício, Lucas Bebê e Raulzinho obtiveram ao arriscar muito e conseguirem jogar naquilo que os próprios jogadores da NBA dizem no vídeo: o melhor basquete do mundo! Imagina-se que, pelo menos sonhando com uma vaga na NBA, estes jovens sintam-se obrigados a estudar e, consequentemente, melhoram sua cultura, abrem o leque para a aquisição de conhecimentos e de outra língua que lhes fará muito bem no futuro. Mas na análise do que nossos jovens sonham – os sonhos de outra cultura – percebemos como a influência americana é grande em nossas vidas e, para concluir isso, não precisa ser um grande gênio — nem mesmo ser gênio
  • 57. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 39 — pois isso é óbvio: só nos chega o reflexo da coisa boa, pronta, acabada, o espetáculo final. O processo árduo de construção é esquecido por nossos jovens e por quem deve gerenciar a vida dos seus atletas (clubes, federações e confederação), quando o jovem está a sua disposição. Não falo no vazio, sem experiência alguma. Quando um pai libera um filho, com seus 14, 15 anos para estudar e jogar por um clube em outra cidade ou mesmo estado, pressupõem-se que haja confiança nessas entidades e que elas irão cumprir com a legislação brasileira, especialmente no que diz respeito ao direito e dever da criança e do adolescente estar na escola, ação fundamental para a qualidade do atleta profissional ou daqueles que não conseguirão seguir no esporte (lesões, qualidade técnica, oportunidades perdidas, escolhas adversas e etc). Os uruguaios fazem isso com suas seleções: concentram em Montevidéu e os matriculam em algum liceu da capital no período que estão a serviço da seleção. Não basta matricular, tem que acompanhar frequência, desempenho acadêmico, comportamento e relações. O que eu proponho é uma parceria entre a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e Confederação Brasileira de Desporto Universitário
  • 58. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 40 (CBDU) para fortalecer e dignificar os Jogos Universitários Brasileiros (JUGs), formando parcerias com universidades em todo o país, pois já é visível que as universidades que apoiam o basquete no Brasil são retribuídas com visibilidade midiática e retorno financeiro. Então, nessa projeção de futuro e da busca do sonho americano, o sonho dos norte-americanos, a base é o que mais me preocupa. Para chegar a NBA, Michael Jordan teve que estudar no ensino médio, termina-lo dentro de uma determinada faixa etária e, efetivamente, cursar na Universidade da Carolina do Norte; no caso, Geografia. Sim, posteriormente foi uma referência dentro da quadra e esta reputação foi obtida com muita dedicação, enquanto nos demais espaços da Universidade muita cultura foi adquirida antes dos milhares de dólares que ainda acumula anualmente. Os brasileiros que estão na NBA fazem o que todo adolescente sonha, mas sabem que a vida confortável está nos contratos que firmarem na fase produtiva e, se perderem tudo, terão apenas a lembrança de um sonho realizado, mas as benesses da fase de atleta acabar e isto ocorrerá entre 30 e 35 anos. Se, em uma hipótese remota, Jordan tivesse tido uma lesão ou perdesse tudo, seria
  • 59. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 41 geógrafo ou professor de geografia. Isso não é raro no esporte norte-americano: fortunas vêm nos anos dourados e se vão ao estalar dos dedos ou ao rolar dos dados... Esse modelo educativo-esportivo poderia ser aplicado no Brasil e seria fundamental para o crescimento do esporte no Brasil. Pessoas que possuem habilidade mediana poderiam estar na universidade por causa de seu talento e, entre estes, alguns excelentes jogadores poderiam surgir. Aqueles que visualizarem no esporte uma oportunidade de crescerem profissionalmente, como muitos jovens fazem, por exemplo, com o exército brasileiro, saberão exigir aulas mais eficazes e o círculo de importância de cada área se fechará. Mas, para isso, nosso imediatismo teria que dar lugar a um processo de planejamento a médio e longo prazo, visando a continuidade na formação de atletas e a formação de líderes para diversas áreas entre aqueles que tiveram a aquisição de hábitos saudáveis e levarão consigo a ótima lembrança do esporte na fase universitária, mas não serão atletas de elite. Um grande exemplo disso é Barack Obama. Essa temática costuma gerar muito debate, ideias e possui um leque de teses que o que sugiro é apenas uma
  • 60. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 42 fagulha perto do potencial para aquecer o esporte no país. Entretanto, a proposta aqui elencada também gerará novos beneficiados: os professores/técnicos. Por quê? Simplesmente porque nesse processo o crescimento exponencial de competições e equipes, com a ampliação no nível universitário, multiplicará os espaços de trabalho para técnicos que mesmo que haja um corporativismo seletivo entre os técnicos dos clubes de alto rendimento na atualidade, esse processo de massificação. Novos técnicos surgirão e, assim, com muitos técnicos em ação, provavelmente possamos voltar a ter grandes e ameaçadoras equipes nas disputas de novos títulos que servirão de motivação para a massificação do basquete nacional entre os jovens. __________________________ Este artigo foi inicialmente escrito para a Revista Mais Basquete e atualizado para este capítulo. Ele originou-se nas postagens Casa sem alicerce (http://maisbasquete.blogspot.com/2010/01/casa-sem-alicerce.html, publicada em 19/1/2010) e Ainda sonho com um basquete forte (http://maisbasquete.blogspot.com/2010/02/ainda-sonho-com-um- basquete-forte.html, publicada em 4/2/2010) no Blog Mais Basquete (http://maisbasquete.blogspot.com).
  • 62. 44 Seria o basquetebol um jogo desportivo coletivo aeróbio? Fabrício Boscolo Del Vecchio O basquetebol, modalidade inserida no rol dos Jogos Desportivos Coletivos de invasão, provoca que jogadores, de duas equipes diferentes, tentem encestar a bola. Para isto, considerando a altura do conjunto cesta- tabela, e por haver a invasão, espera-se que seus praticantes exibam aptidão física elevada. Dentre os componentes mais relevantes, identificam-se dois: o componente aeróbio e o neuromuscular. Quanto ao segundo, pontua-se que níveis elevados de força e potência são essenciais para arremessos, passes deslocamentos e saltos, mas esta variável não será foco do presente texto. Nesta oportunidade, será discutido o aspecto aeróbio da
  • 63. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 45 modalidade, e não o anaeróbio. Por quê? Quanto à contribuição dos sistemas energéticos, muitos trabalhos, autores e treinadores tendem a indicar que o basquetebol tem predominância anaeróbia. Para os que não se lembram das vias energéticas, um bom trabalho de revisão recente foi publicado (Baker, McCormick, & Robergs, 2010). Nele, são indicadas três vias predominantes: a derivada do sistema dos fosfatos, a glicólise e a respiração mitocondrial. No entanto, vale lembrar o ATP muscular previamente disponibilizado, o qual não foi considerado nesta perspectiva, devido ao pouco tempo de manutenção do esforço por este sistema. E porque o basquetebol é predominantemente aeróbio? Apesar de os livros mais tradicionais de fisiologia do exercício (McArdle) e treinamento esportivo (BOMPA) indicarem que o sistema aeróbio é ativado após tempo moderado de esforço, entre oito e doze minutos, atualmente se sabe que isto não é verdade. Pensando no exercício contínuo, como caminhadas, corridas, pedaladas com a mesma intensidade ao longo de todo o esforço, ou com pequenas modificações sem muito significado, o sistema aeróbio passa a ser predominante após 75 segundos de atividade (Gastin, 2001). Assim, mesmo que
  • 64. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 46 você se corra na quadra, quicando a bola, de modo muito intenso, o mais forte que puder, e este esforço durar 1 min e 15 segundos, ele será predominantemente mantido pela via aeróbia de fornecimento de energia. Assim, um dos grandes problemas, não tão atuais, em prescrição do exercício físico é acreditar que, para ser aeróbia, a atividade precisa durar mais de 20 minutos, ser de intensidade leve ou moderada, e assim por diante... O que foi indicado por Gastin (2001) explica o exercício contínuo, no entanto, parece que basquetebol não tem esta característica. Investigação que quantificou a relação tempo-movimento na modalidade observou que os jogadores investem 8,8±1% do tempo total de jogo com movimentos específicos de alta intensidade, 5,3±0,8% com sprints e 2,1±0,3% com saltos (Abdelkrim, Fazaa, & Ati, 2007). O restante do tempo é dispendido com caminhadas e trotes. Complementarmente, os mesmos autores observaram que: I. a frequência cardíaca média de jogo é de 171±4 bpm, embora haja diferenças significantes entre pivôs e armadores e que, II. a concentração de lactato sanguíneo chegou a 6,05±1,27 mmol (Abdelkrim, Fazaa, & Ati, 2007)
  • 65. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 47 Assim, com diferentes paradas bruscas, mudanças de direção, saídas rápidas, passes e toda a dinâmica envolvida na modalidade, ele é tipicamente considerado um exercício intermitente (Glaister, 2005). E, neste âmbito, a fisiologia do exercício contínuo não ajuda, pois não considera o acúmulo das diferentes proporções de esforço:pausa e não considera a amplitude desta relação. Como indicado anteriormente, o metabolismo aeróbio é ativado de modo muito mais precoce e esforços que julgávamos serem predominantemente anaeróbios são, na verdade, predominantemente aeróbios. Para exemplificar isto, em 1996 um grupo de investigadores canadenses propôs que sete homens fizessem três séries de esforços cíclicos muito intensos que duravam 30 segundos e, após estes esforços, descansassem por quatro minutos (em relação de esforço:pausa de 1:8). Na primeira série de esforços de 30 segundos, o componente aeróbio foi responsável por 16-28% da energia provida, a degradação de fosfocreatina por 23-38% e a glicólise anaeróbia por 50-55%, o que caracteriza esta primeira série como anaeróbia. No entanto, com o acúmulo de mais duas séries, interceptadas por quatro minutos de recuperação cada, as coisas mudam. Ao final
  • 66. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 48 da terceira série, constatou-se que o sistema da fosfocreatina (ATP-CP) foi responsável por, aproximadamente, 15% de toda energia produzida, a glicólise anaeróbia foi responsável por percentual entre 10- 15% e o componente aeróbio por, aproximadamente, 70% de toda energia necessária para se cumprir esta última série (Trump, Heigenhauser, Putman, & Spriet, 1996). Ou seja, com o passar do tempo, e o acúmulo de esforços, como acontece no interior dos quatro períodos do basquete e ao longo de todo o jogo, certamente o predomínio energético desta modalidade é aeróbio (Stone & Kilding, 2009). Desta reflexão inicial, vale a pergunta: Se o componente aeróbio é predominante, o que é determinante do êxito esportivo no basquetebol? Série de estudos brasileiros dá indicativo de que força, potência e velocidade são essenciais (Moreira, Okano, Souza, Oliveira, & Gomes, 2005; Moreira, Oliveira, Okano, Souza, & Arruda, 2004). Outros trabalhos ainda dão elevada atenção ao componente aeróbio (Stone & Kilding, 2009), realizado de modo clássico, com corridas, ou de modo mais contemporâneo, usando condicionamento específico da modalidade, como os jogos em espaços reduzidos,
  • 67. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 49 principalmente os de meia quadra, ataque-defesa (Montgomery, Pyne, & Minahan, 2010). Por fim, registra- se, ainda, o uso de exercícios intermitentes de alta intensidade, os quais, embora não simulem todas as situações de jogo, contribuem para a rápida elevação da aptidão física dos jogadores e adequada manutenção da mesma ao longo da temporada competitiva (Zadro, Sepulcri, Lazzer, Fregolent, & Zamparo, 2011). A título de exemplo, e sem envolver nenhum tipo de atividade com bola, pode-se executar a seguinte atividade: I. 2 a 4 séries de 10 repetições de corridas intermitentes. II. Uma série é composta por duas corridas intermitentes. A primeira deve cumprir espaço próximo de 40 metros em elevada intensidade (10 segundos), realização de 30 segundos de recuperação ativa e, então, 180° de mudança de direção para corrida intensa de mais 40 metros. III. Entre cada uma destas séries se dá intervalo próximo de 90 segundos, em corrida de baixa intensidade.
  • 68. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 50 Com o tempo, espera-se apresentar novas atividades, em diferentes contextos, focando o desenvolvimento e aprimoramento metabólico de atletas com foco no basquetebol. E, para um futuro próximo, novas temáticas emergentes, como periodização do treinamento e o controle e monitoramento das cargas de treino serão destaque nesta coluna. Referências Abdelkrim, N. B., Fazaa, S. E., & Ati, J. E. Time–motion analysis and physiological data of elite under-19-year-old basketball players during competition. British Journal of Sports Medicine, 2007:41(2), 69–75. Baker, J. S., McCormick, M. C., & Robergs, A. R. Interaction among SkeletalMuscleMetabolic Energy Systems during Intense Exercise. Journal of Nutrition and Metabolism, 2010:1-13. Gastin, P. B. Energy system interaction and relative contribution during maximal exercises. Sports Medicine, 2001:31(10), 725-741. Glaister, M. Multiple sprint work: Physyology response, mechanisms of fatigue and de influence of aerobic system. Sports Medicine, 2005:35(9), 757-777. Montgomery, P. G., Pyne, D. B., & Minahan, C. L. The Physical and Physiological Demands of Basketball Training and Competition. International Journal of Sports Physiology and Performance, 2010, 5(1), 75-86.
  • 69. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 51 Moreira, A., Okano, A. H., Souza, M., Oliveira, P. R., & Gomes, A. C. Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação: implicações sobre a velocidade e as diferentes manifestações de força. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 2005:13(2), 7-15. Moreira, A., Oliveira, P. R., Okano, A. H., Souza, M., & Arruda, M. A dinâmica de alteração das medidas de força e o efeito posterior duradouro de treinamento em basquetebolistas submetidos ao sistema de treinamento em bloco. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 2004:10(4), 243-250. Stone, N. M., & Kilding, A. E. Aerobic Conditioning for Team Sport Athletes. Sports Medicine, 2009:39(8), 615-642. Trump, M. E., Heigenhauser, J. F., Putman, C. T., & Spriet, L. Importance of muscle phosphocreatine during intermittent maximal cycling. Journal of Applied Physiology, 1996:80(5), 1574-1580. Zadro, I., Sepulcri, L., Lazzer, S., Fregolent, R., & Zamparo, P. A protocol of intermittent exercise (shuttle runs) to train young basketball players. Journal of Strength and Conditioning Research, 2011: 25 (6), pp. 1767–1773.
  • 70. 52 O treino metabólico de jogadores de basquetebol: ênfase nos componentes aeróbios e anaeróbios treinados em quadra Fabrício Boscolo Del Vecchio No artigo passado, buscou-se apresentar evidências objetivas de que o basquetebol é modalidade esportiva que detém predominância energética aeróbia, mas com alguma solicitação láctica na sua expressão competitiva (Stone & Kilding, 2009; Abdelkrim, Fazaa, & Ati, 2007). Na última coluna, foram dados exemplos de exercícios aeróbios intermitentes sem o emprego de bolas. Técnicos e treinadores devem ter em mente que, além das situações previamente indicadas, jogadores necessitam realizar treinos de alta intensidade com o emprego da bola. Não há deslocamentos com velocidade elevada apenas sem o domínio da bola e, portanto, os ataques,
  • 71. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 53 infiltrações e jogadas precisam ser realizadas de modo mais específico possível. Neste contexto, o treino aeróbio com bola seguiria os mesmos pressupostos do artigo passado (Vecchio, 2011), mas com a inserção da mesma em suas realizações. Brevemente, após aquecimento adequado, pode- se executar a seguinte atividade: 1. Saída em baixa intensidade do fundo da quadra; 2. Ao chegar no canto, Sprint com bola em alta intensidade; 3. Sprint de alta intensidade com controle de bola; 4. No meio da quadra, realizar passe em direção ao ataque; 5. Correr em baixa intensidade na diagonal; 6. Realizar Sprint até o final da quadra; 7. Com bola, corrida de alta intensidade na linha de 3 ptos; 8. No centro, arremessar; 9. Deslocamento veloz até lance livre e arremessar; 10. Deslocamento veloz até diagonal e arremessa;
  • 72. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 54 11. Voltar por fora, pelo maior caminho em baixa intensidade/caminhada.
  • 73. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 55 Na atividade acima, o trabalho é feito de diferentes modos. Explorando a relação de Esforço:Pausa (E:P), pode-se ter um bloco de esforço para o mesmo bloco de pausa (1:2), ou seja, caso o jogador cumpra todo o percurso em 40”, ele descansará 40”. Pode-se organizar a relação inversa, 40” de esforço por 20” de pausa (2:1), ou até 3:1, com esforço durando 45 s e a recuperação com 15”. Mesmo com esforços de alta intensidade, e pausas intercaladas, após duas ou três repetições deste esforço, ele já tem predominância aeróbia (Glaister, 2005). São os “famosos” esforços intermitentes de alta intensidade, que aprimoram a capacidade de esforços/sprints repetidos – em inglês, Repeated-Sprint Ability (Bishop, Girard, & Mendez- Villanueva, 2011). Estas tarefas podem ser organizadas de modo misto. Investigação que fez uso de 10 semanas de intervenção observou melhoras superiores a 4% no tempo de sprint com jogadores que realizaram de 2 a 4 séries de jogos em espaços reduzidos (small- sided games) com duração de 2,5 a 4 min cada “jogo” e treinamento intervalado, que consistia de 12 a 24 esforços de 15 segundos entre 105 e 115% do VO2max dos jogadores,
  • 74. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 56 numa relação E:P de 1:1 (Buchheit, Laursen, Kuhnle, & et al, 2009). Por outro lado, caso o interesse do treinador seja organizar esforços anaeróbios, a cena muda consideravelmente. A primeira estratégia é ter clareza que o esforço não deve durar mais de 75” (Gastin, 2001), pois seria predominantemente aeróbio. Caso dure apenas 30”, se o intervalo de recuperação for de 4 min, a partir da terceira série o estímulo já se torna aeróbio (Trump, Heigenhauser, Putman, & Spriet, 1996). Deste modo, em 1993, um grupo de pesquisadores ingleses observou que 10 sprints com duração de 6” e recuperações de 30” (E:P = 1:5) estressavam adequadamente o metabolismo associado à fosfocreatina, reconhecidamente anaeróbio (Gaitanos, Williams, Bobbis, & Brooks, 1993). Um ano depois, um grupo de japoneses observou que exercícios feitos em intensidades máximas, com protocolo de 3 a 4 séries de (5 Sprints máximos de 8” cada, com descansos de 45” → E:P ~ 1:6) proporcionaram aumentos de 21,1% na potência anaeróbia de pico em esportistas intermediários e de 8,1% em atletas de elite. Assim, para garantir que o esforço de fato seja anaeróbio, necessita-se que a intensidade do exercício seja
  • 75. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 57 acima de 100% do VO2max, a duração seja breve, e a recuperação elevada. Quanto maior a recuperação proporcionada, melhor para se inibir a ativação do metabolismo aeróbio. Neste contexto, o esforço no basquetebol, poderia ser de 6 a 8 segundos, como citado acima. No entanto, caso o treinador queira estender o tempo de esforço, para até 20 segundos de alta intensidade, sugerem-se períodos superiores a 4 minutos como recuperação ativa. Neste tempo, procedimento interessante consta do treinamento de jogadas ensaiadas, posicionamentos táticos, com esforços realizados em (muito) baixa intensidade. REFERÊNCIAS Abdelkrim, N. B., Fazaa, S. E., & Ati, J. E. Time–motion analysis and physiological data of elite under-19-year-old basketball players during competition. British Journal of Sports Medicine, 2007:41(2), 69–75. Bishop, D., Girard, O., & Mendez-Villanueva, A. Repeated-Sprint Ability – Part II. Recommendations for Training. Sports Medicine, 2011:41(9), 741-756. Buchheit, M., Laursen, P., Kuhnle, J., & et al. Game-based training in young elite handball players. Int J Sports Med, 2009: 30(2), pp. 251-258. Gaitanos, G., Williams, C., Bobbis, L., & Brooks, S. Human muscle metabolism during intermittent maximal
  • 76. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 58 exercise. Journal of Applied Physiology, 1993: 75(2), pp. 712-719. Gastin, P. B. Energy system interaction and relative contribution during maximal exercises. Sports Medicine, 2001: 31(10), 725-741. Glaister, M. Multiple sprint work: Physyology response, mechanisms of fatigue and de influence of aerobic system. Sports Medicine, 2005: 35(9), pp. 757-777. Stone, N. M., & Kilding, A. E. Aerobic Conditioning for Team Sport Athletes. Sports Medicine, 2009:39(8), 615-642. Trump, M. E., Heigenhauser, J. F., Putman, C. T., & Spriet, L. Importance of muscle phosphocreatine during intermittent maximal cycling. Journal of Applied Physiology, 1996:80(5), 1574-1580. Vecchio, F. Seria o Basquete um jogo desportivo coletivo aeróbio? Revista Mais Basquete, 2011:1(1), 17-21.
  • 78. 60 Pan-87: uma conquista histórica José Medalha Ao atender a um pedido da Direção desta Revista relembrando a histórica vitória do PAN de 87, muito se pode escrever e relembrar daquele título. Como ex-técnico, vou me ater a certos aspectos, para que os mais jovens possam conhecer alguma coisa do que ocorreu naquele evento. Muito se falou a respeito do incrível resultado obtido pelo basquete masculino do Brasil nos Jogos Pan- Americanos de 87 quando vencemos a Seleção Norte Americana em seus próprios domínios, Indianápolis, pelo marcador de 115 a 110. A repercussão interna e externa do título obtido foi uma das mais amplas dentro da história do basquetebol brasileiro. Apenas para citar um exemplo, o resultado do jogo final, com direito a foto, foi matéria central de capa do NEW YORK TIMES de 24 de agosto de
  • 79. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 61 1987. A geração de OSCAR e MARCEL que havia praticamente sucedido a de MARQUINHOS, ADILSON E CARIOQUINHA, tinha como seu técnico principal ARY VIDAL. Eu atuei como Assistente Técnico, ao lado do Prof. Valdyr Barbanti, excelente preparador físico e, também, um dos grandes responsáveis por aquela histórica conquista. O resultado em si surpreendeu muita gente, inclusive dentro do nosso país. A seleção masculina já havia obtido uma boa colocação no Mundial da Espanha no ano anterior, (4º. lugar). Porem um resultado não muito convincente no Sul-Americano de 87 (vice-campeã), ainda deixava dúvidas quando ao poderio daquele grupo, bem como pela maneira como o time atuava, com extraordinário poderio ofensivo, contrariando opinião de vários técnicos e parte da imprensa. Havíamos (Comissão técnico sob a liderança do Ary) feito uma programação de treinos no Brasil, em cidades do interior, sem muito contato com grandes centros, alguns amistosos após o Sul-Americano e, como inovação um período de treinamento nos EUA na Universidade de Houston, local onde já estava jogando um
  • 80. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 62 de nossos pivôs ROLANDO FERREIRA. Percebeu-se sempre neste período uma vontade até certo ponto oculta de surpreender a tudo e a todos. A dedicação aos treinamentos era muito forte; OSCAR e MARCEL exerciam uma liderança incrível sobre os demais atletas. A forma como a equipe atuava tanto na parte defensiva como no ataque, não continha muito segredo. Sistema individual com ajuda. Duas variações de Defesa por Zona e muita ênfase no jogo de transição. ARY dava total liberdade aos jogadores no ataque. Tínhamos apenas 04 jogadas muito simples, com todas priorizando arremessos de curta e longa distância, nosso principal poder de fogo naquele time. A bem da verdade, analisando friamente o que ocorria, estávamos à frente no tempo. A linha dos três pontos havia sido introduzida 02 anos antes. A seleção brasileira foi talvez a primeira a se utilizar desse recurso. Hoje equipes da Europa e da NBA, além de muitas do Brasil, tem como primeira opção a finalização quando o jogador se sente em condições de arremesso. Na década de 80, arremessar sem a garantia de ter um ou dois homens postados para possível rebote, ou ainda antes de se esgotar
  • 81. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 63 metade do tempo de posse de bola era considerado como grande irresponsabilidade tática. No entanto, essa liberdade era perfeitamente ajustada a nossa equipe. Fisicamente o time “voava”, taticamente as coisas eram muito simples. Jogadores sabiam plenamente do seu papel naquela seleção, ou seja, armadores armavam para arremesso da dupla OSCAR MARCEL e seus imediatos substitutos, entre os quais estavam PAULINHO VILAS BOAS, ANDRE STOFFEL, mesmo CADUM, e os nossos homens altos encarregados de bloqueio de rebote, muitas vezes recuperavam bolas no ataque e devolviam para o perímetro, para que os finalizadores cumprissem seu papel à risca. Uma característica da equipe consistia em jogar e decidir com muita velocidade. Tempo de posse de bola raramente atingia 20 segundos. Naquela época grandes equipes tinham como número de ataques, resultante de posses de bola, uma media de 75 posses por jogo. A seleção brasileira ultrapassava 100. Obviamente o time adversário tentando equilibrar esses números e, não estando preparado para tal, incorria em muito maior número de erros. Esses são pequenos detalhes que podem ser considerados como fundamentais inclusive, no jogo final e
  • 82. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 64 decisivo contra a incrédula equipe norte-americana diante da avalanche de arremessos, bem-sucedidos. Outro aspecto a ser citado como consequência do resultado final, foi o impacto causado pela perda do título em basquetebol dos EUA em sua própria casa, tendo, pela primeira vez, sua seleção derrotada por mais de 100 pontos. A reação a esse acontecimento provocou o início da discussão da necessidade de colocarem atletas da NBA para defender o time americano, o que viria a se concretizar cinco anos depois em 1992, com o surgimento do “Dream Team”, formado por Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e mais outros ícones do basquetebol profissional. Como ex-treinador da seleção brasileira na época, fui o técnico privilegiado a dirigir nossa seleção masculina (quinta colocada) contra a equipe norte- americana em Barcelona, mantendo uma boa base ainda dos atletas de 87. A perda do título olímpico em 88 e a má colocação no Mundial de 90 acrescentaram motivos para essa inovação, o que contribuiu demais para a divulgação do basquetebol em escala mundial. De certa forma, contribuímos muito para que isso acontecesse. Muito se pode falar ainda sobre 87. Deixo apenas essas palavras como contribuição e homenagem aos nossos
  • 83. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 65 atletas e companheiros da Comissão Técnica, agora que já se passam 24 anos do inesquecível 23 de agosto de 1987 para muitos de nós.
  • 85. 67 A Psicologia do Esporte e o Basquetebol Sílvia Deschamps A Psicologia do Esporte tem buscado sua afirmação no meio esportivo, através da participação de especialistas que têm procurado diagnosticar, analisar e pesquisar aspectos psicológicos e estabelecer relações entre eles e as diferentes variáveis que podem interferir no desempenho de atletas e equipes. É inegável que, ao longo das últimas décadas, esse trabalho tem sido reconhecido, haja vista a quantidade de publicações (em forma de livros ou artigos) produzidas em todo o mundo. No entanto, pode-se considerar que essa evolução, na quantidade e qualidade de produção na área da psicologia esportiva, ainda não é transferida adequadamente para a prática, na forma de intervenção junto a atletas, equipes, comissões técnicas e todo o
  • 86. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 68 contexto das atividades esportivas, principalmente no âmbito competitivo de alto nível. Em alguns países, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e vários da Europa, a intervenção psicológica é parte integrante do planejamento das equipes e a presença do profissional da psicologia do esporte é tão comum quanto a do técnico, assistente técnico, preparador físico e médico. No Brasil, entretanto, essa realidade ainda está distante. A intervenção psicológica, via de regra, não está inserida no programa de periodização do treinamento, ou seja, no planejamento em longo prazo do trabalho realizado pela maioria das comissões técnicas de equipes, principalmente as consideradas de alto nível. A intervenção psicológica, normalmente, é lembrada somente em momentos de emergência ou quando o atleta apresenta um desempenho inadequado e que coloca em risco o resultado positivo de equipe. A intervenção, quando ocorre, é feita na forma de palestras motivacionais que, às vezes, são ministradas por pessoas não especializadas em psicologia esportiva e que trazem suas experiências de outras áreas para tentar resolver as questões de forma imediata.
  • 87. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 69 Essa realidade e a falta de informação sobre a importância do trabalho psicológico em equipes esportivas, ainda são motivos para que haja muita resistência, por parte dos atletas e da comissão técnica com relação à inserção do trabalho psicológico. Muitas vezes, o psicólogo é visto como um concorrente - e não um aliado - , e é desconsiderado o fato do trabalho ser um instrumento auxiliar na busca de um melhor rendimento do atleta. Muitos estudos têm comprovado a influência, tanto positiva quanto negativa, dos aspectos psicológicos na performance de atletas e o despreparo emocional e cognitivo frente às demandas estressantes do ambiente esportivo. Através da própria experiência do mestrado, com o levantamento diagnóstico realizado através de entrevistas e observações, foi possível detectar a falta que a preparação psicológica fez na equipe investigada, pois o fator psicológico foi decisivo nas fases finais do campeonato. Deste modo, fica ainda mais evidente a necessidade da inclusão do trabalho psicológico no esporte, especialmente nas diferentes fases do treinamento e das competições. Cada etapa da preparação psicológica deve ser específica, considerando-se as características e demandas
  • 88. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 70 desse público e, também da modalidade esportiva em foco e o momento da preparação na qual se encontra a equipe. O trabalho deve possuir objetivos claros e bem definidos, sendo essas informações transmitidas aos participantes do processo, procedimento este importante para a boa aceitação do psicólogo esportivo na equipe. O treinamento psicológico no esporte pode visar ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de vários aspectos psicológicos, dentre eles: gerenciamento de stress, estabelecimento de objetivos, aumento da autoconfiança, atenção e concentração, autocontrole de ativação e relaxamento, utilização de visualização e imagem, estratégias de rotinas e competitividade, elevação de motivação e comprometimento e manutenção de níveis adequados dos estados de humor (tensão, depressão, raiva, vigor, confusão e fadiga). No entanto, não se pode deixar de analisar todas essas variáveis em função das especificidades de cada modalidade esportiva, e como elas poderão influenciar (positiva ou negativamente) no rendimento dos atletas e das equipes. Portanto, estabelecer relações entre as variáveis psicológicas e as variáveis que fazem parte do contexto da preparação dos atletas (físicas, técnicas e táticas) é fundamental para que
  • 89. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 71 técnicos e atletas possam estabelecer melhores estratégias de trabalho e melhorar o desempenho individual e coletivo. O basquetebol, por ser uma atividade bastante dinâmica, com demandas específicas em relação ao tempo de realização de algumas ações e que proporciona o contato constante entre os atletas, exige deles um alto desenvolvimento de capacidades e habilidades (no planos físicos, técnicos e táticos), fortalecendo ainda mais a importância do equilíbrio emocional e cognitivo do praticante. Assim como em outras modalidades esportivas, o basquetebol exige grande concentração, domínio sobre situações causadoras de stress e controle da ansiedade, elevados níveis de motivação, definição real de objetivos e conhecimento das diferentes nuances do jogo (regras, estratégias e variações táticas), além da percepção que o atleta tem de suas próprias condições. É preciso que o jogador esteja com a máxima atenção voltada para a tarefa, obtenha o controle de suas emoções e confie na sua capacidade de realizá-la. O atleta deve ter autocontrole e não ser levado por suas emoções quando for necessário tomar decisões.
  • 90. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 72 Para fazer parte do ambiente da competição de alto nível, o atleta precisa ser um competidor assíduo e dedicado, e, para se destacar, deve superar níveis de exigências técnicas, táticas, físicas e psicológicas, para que se possa garantir a plena realização de uma carreira esportiva (DESCHAMPS, 2002). O atleta de alto nível, de acordo com FERNANDES, MONTEIRO e ARAÚJO (1991) precisa de uma capacidade esportiva excepcional, que será demonstrada através dos resultados por ele obtido, exigindo, assim, trabalho planejado e organizado, compondo um treinamento especializado com o objetivo de melhorar sua condição física e consequente alcance e manutenção dos resultados. A competição de alto nível apresenta características peculiares, e mesmo que o atleta tenha participado das categorias de base, ele não tem a garantia de atingir o esporte profissional, e, se chegar lá, de conseguir se manter. Muitos atletas, quando fazem a passagem da categoria juvenil para a adulta, tem muita dificuldade em assimilar as cobranças dos diferentes atores que participam do processo (inclui-se, aqui, comissão técnica, patrocinadores, dirigentes, mídia). Ao
  • 91. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 73 mesmo tempo, existe uma motivação muito forte em se dedicar à rotina de treinamento, fazendo-o superar os seus limites ao máximo para se destacar o mais rapidamente possível. Muitos técnicos acreditam que o sucesso de um atleta depende de quatro fatores: habilidade motora; treinamento físico; treinamento mental; desejo ou energia. As percentagens destes quatro fatores devem variar de atleta para atleta e até com o mesmo atleta de jogo para jogo. Muitos psicólogos dizem que é o desejo, a paixão e a ambição que separa os maiores realizadores do resto dos competidores, até de outros com igual ou mais talento (CLARKSON, 1999). O esporte é extremamente seletivo, e, para atingir o esporte de alto rendimento o atleta já possui um diferencial, além de gostar do que faz, apresenta um perfil de personalidade determinado, que o conduza a metas estabelecidas para conseguir se manter e ainda obter bons resultados. Obviamente que o talento é um fator que deve ser considerado, embora algumas vezes, pelo excesso de autoconfiança, o atleta acaba negligenciando o treinamento, seja no nível tático, físico, técnico ou
  • 92. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 74 psicológico, e surpreende-se perdendo de um adversário mais fraco. Atingir esse nível de excelência, e nele manter-se, somente será possível através de um sistema de treinamento adequado, que proporcione ao atleta aprimorar suas qualidades e corrigir suas deficiências. Segundo DE ROSE JÚNIOR (1999) para ser um atleta de alto nível há a necessidade de uma capacidade esportiva que se expressará pelos resultados obtidos, e estes dependem de um trabalho árduo e planejado rigorosamente, num processo de treinamento especializado. O basquetebol é praticado em um ambiente de muita instabilidade, ou seja, não há grande previsibilidade dos movimentos em função das possibilidades de modificação das ações no seu próprio decorrer. Além disto, os limites impostos pelas regras relacionadas a tempo para execução de ações1 fazem com que o jogo seja muito dinâmico e com muitas alternativas. 1 No basquetebol há quatro regras relacionadas a tempo de execução de ações: 24” (tempo máximo de posse de bola para finalizar o ataque – arremessar à cesta); 8” (tempo máximo para uma equipe atacante ultrapassar o meio da quadra); 5” (tempo máximo para reposição de bola na lateral ou fundo; tempo máximo de posse de bola que um atleta tem quando recebe marcação próxima
  • 93. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 75 Essas condições tornam o basquetebol um jogo propenso a muitos momentos de pressão e tensão individual, grupal e coletiva (entre os companheiros de equipe e entre os adversários). Assim sendo, os aspectos psicológicos assumem uma grande importância no contexto desse esporte, quando praticado de forma competitiva. De acordo com KORSAKAS e MARQUES (2005), o rendimento de um atleta ou de uma equipe não é determinado exclusivamente pelas condições física, técnica e tática. Existe o quarto componente, o psicológico, que deve estar presente no planejamento de treinamento e competitivo das equipes. DE ROSE JÚNIOR (2005) afirma que há diversos aspectos psicológicos que podem se destacar em qualquer modalidade esportiva: motivação, ansiedade, stress, personalidade, atenção, concentração, liderança, agressividade e coesão de grupo, entre outros. Todos esses fatores podem aparecer isoladamente ou em conjunto no momento de uma competição, ou serem fatores predisponentes a influenciar o desempenho dos atletas e tempo máximo para a execução de lances-livres) e 3” (tempo máximo de permanência do atacante, em posição passiva, na área restritiva do adversário) Fonte: Regras Oficiais do Basquetebol – Federação Paulista de Basketball, 2006.
  • 94. Em busca de mais basquete: feedbacks e insights. 76 durante a mesma (seja de forma negativa ou positiva). Esses fatores podem ser mediados por características como: nível de habilidade do atleta, grau de preparação, tempo de prática, experiências anteriores, idade e gênero. No caso do basquetebol, considerando-se que o esporte é praticado sob uma dinâmica de instabilidade ambiental, com pressões determinadas pelo tempo para a realização das ações e que o atleta deve tomar decisões muito rápidas, seu foco de atenção é variado e a capacidade de antecipar situações é fator fundamental para o sucesso das ações. Esse conjunto de fatores aumenta a complexidade do esporte e, conseqüentemente, pode provocar um maior nível de stress, influenciando na participação dos demais componentes psicológicos no contexto do desempenho dos atletas. REFERÊNCIAS CLARKSON, M. Competitive fire. Champaign: Human Kinetics, 1999. DE ROSE JÚNIOR, D. Situações específicas de “stress” no basquetebol de alto nível. 1999. Tese (Livre-Docência) – Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, São Paulo.
  • 95. Carlos Alex M. Soares (Organizador) 77 _____. O estresse no basquetebol. In: DE ROSE JR, D.; TRICOLI, V. (Orgs.) Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005, cap. 10. DESCHAMPS, S.R. Aspectos psicológicos e suas influências em atletas de voleibol masculino de alto rendimento. 2002. Dissertação (Mestrado) – Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, São Paulo. FERNANDES, A.C.; MONTEIRO, L.; ARAÚJO, V. O que se entende por alta competição? Revista Treino Desportivo, Lisboa, n. 20, p.13-21, 1991. KORSAKAS, P.; MARQUES, J.A.A. A preparação psicológica como componente do treinamento esportivo no basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. (Orgs.) Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, cap. 9, 2005.
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