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Poema vento
1. TEXTO POÉTICO
Além da sua linguagem plurissignificativa, em que as palavras podem ganhar
múltiplos sentidos, o texto poético tem uma intenção estética porque procura
provocar nos leitores a surpresa da escrita e daquilo que é transmitido e ainda o
prazer da leitura. Para isso, como viste no tema I, os escritores usam os recursos
expressivos e figuras de estilo para transmitirem a mensagem que pretendem, de
uma forma bela e original.
Em poesia o mais importante é o modo como se diz, a forma como é escrita e
transmitida a mensagem, aos leitores.
A poesia transmite emoções, sentimentos, sensações do mundo interior do sujeito
poético.
Já é assim, desde a antiguidade, em que os poetas acompanhavam a sua poesia
com música e as pessoas queriam ouvir, deixando-se transportar para esse mundo
interior do poeta, por vezes imaginário.
Proponho-te que leias silenciosamente e que ouças, depois, a leitura de dois poemas
de autores de expressão portuguesa, a poetisa Cecília Meireles, de nacionalidade
brasileira e o poeta português Eugénio de Andrade.
Vento
vento
Há tanto
há só vento no meu país
Vento branco
verde vento negro
ardente
Seca as lágrimas
Corta a voz na raiz
Eugénio de Andrade, in Escrita da Terra
2. Análise de aspectos linguísticos do poema
► No pequeno poema de Eugénio de Andrade o tema é o vento excessivo.
► A intenção comunicativa, neste caso, parece ser apenas a de criar no leitor a
imagem auditiva do vento a soprar, por isso se repete o som da consoante
“v”, que é um recurso estilístico designado por aliteração, acompanhada por
outra aliteração com o som nasal “n” dando ao poema um ritmo um pouco lento
Se reparares bem, o poema usa três classes morfológicas de palavras:
Nomes comuns - “vento”, “país”, “lágrimas”, “voz”, “raiz”
Verbos – “há”, “seca”, “corta” – todos no presente do modo Indicativo
Adjectivos – “branco”, “verde”, “negro”, “ardente”
Isto permite concluir que na criação de escrita poética pode-se recorrer a nomes,
verbos e adjectivos para tentar construir sentido através de associações originais
destas palavras (ex.: “vento branco/verde vento negro”).
Quanto ao aspecto formal o poema é composto por 5 estrofes, quatro dísticos
(dois versos) e um monóstico (um verso), não tem regularidade quanto ao
número de sílabas métricas em cada verso, porque o primeiro e o segundo versos
têm apenas uma sílaba métrica e o maior verso (o 4º) tem sete sílabas. Também
não tem rima, por isso o que é mais importante é mesmo a sonoridade do vento a
soprar.
Por vezes, os poemas são assim, muito simples no seu conteúdo e na sua forma,
porque a intenção foi apenas uma, criar essa sensação auditiva do vento.