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17
Alterações
doEquilíbrio
Ácido-Base.
308 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 309
Afunçãonormaldascélulasdo
organismo depende de uma série de
processosbioquímicoseenzimáticosdo
metabolismocelular.Diversosfatores
devemsermantidosdentrodeestreitos
limites,parapreservarafunçãocelular,
comoatemperatura,aosmolaridade,os
eletrólitoseasquantidadesdenutrien-
tes,oxigênio,dióxidodecarbonoeíon
hidrogênio.
A circulação extracorpórea foi,
durantealgunsanos,sistematicamente
acompanhada por distúrbios meta-
bólicos,devidos,emgrandeparte,aos
equipamentos pouco eficientes e ao
conhecimentopobredafisiopatologia
daperfusão.Osbaixosfluxosdeperfu-
são à temperatura normal, com fre-
quência,estavamrelacionadosàsalte-
raçõesdometabolismocelular.Logofoi
reconhecido,queaacidosemetabólica
eracausadapelavasoconstriçãoperi-
féricaepobreperfusãotissular,deter-
minadas pelos fluxos de perfusão
utilizados;quantomaisbaixoofluxoda
perfusão,maioreraodéficitdebases
no sangue e mais baixo o seu pH. As
rotinasdetrabalho,incluiamaadminis-
traçãoempíricadebicarbonatodesódio,
baseadasapenas,notempodeduração
daperfusão.
Omelhorconhecimentodahemodi-
luição,oadequadomanuseiodosfluxos
deperfusão,ainibiçãodavasoconstrição
eodesenvolvimentodeequipamentos
maissofisticados,permitiramocontrole
dacirculaçãoextracorpórea,commíni-
mosdesviosdafisiologiaedoequilíbrio
dosácidosedasbasesnoorganismo.
Umdosfatoresmaisimportantesna
preservaçãodometabolismocelularéa
quantidadedehidrogêniolivre,existen-
tedentroeforadascélulas.
Pequenasvariaçõesdaconcentração
dohidrogênio,podemproduzirgrandes
alteraçõesnavelocidadedasreações
químicasdascélulas,acelerandoalgu-
maseretardandooutras.Estasalterações
são capazes de modificar profunda-
menteometabolismocelular,aponto
deinibirinteiramentecertasfunções;
alteraçõesextremaspodemdeterminar
amortecelular.
Aconcentraçãodohidrogêniolivre
no organismo depende da ação de
substânciasquedisputamohidrogênio
entresí.Asquecedemhidrogênioeas
quecaptamohidrogênio.Assubstâncias
quetendemacederhidrogênioemuma
solução, são chamadas de ácidos,
enquantoassubstânciasquetendema
captarohidrogênionassoluções,sãoas
bases.
Aconcentraçãofinaldohidrogênio
resultadoequilíbrioentreaquelesdois
gruposdesubstâncias,ácidosebases.
O metabolismo celular produz
ácidos,quesãoliberadoscontinuamente
nacorrentesanguínea.Oorganismo
neutralizaessesácidosparaprevenir
mudançasagudasnaconcentraçãode
hidrogênioepreservarafunçãocelular.
Quandoácidosoubasessãoadminis-
tradosaospacientes,estassubstâncias
modificamoestadodoequilíbrioentre
ácidos e bases do organismo, com
consequentealteraçãodaquantidadede
hidrogêniolivre.
Duranteacirculaçãoextracorpórea,
podemocorreralteraçõesimportantes
310 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
dessedelicadoequilíbrioentreácidose
bases,capazesdeproduzirtranstornos
importantesdafunçãocelularedeter-
minarcomplicações,algumasvezes,
severas.
Muitos dos desvios do equilíbrio
ácido-baseduranteaperfusão,podem
serprevenidosoucorrigidosatravésde
medidas simples, desde que sejam
conhecidos os princípios fisiológicos
queogovernam.
FISIOLOGIADOEQUILÍBRIOÁCIDO-BASE
Aformacomooorganismoregulaa
concentraçãodosíonshidrogênio(H+
),
édefundamentalimportância,paraa
avaliaçãodasalteraçõesdoequilíbrio
entreosácidoseasbasesnointeriordas
células(líquidointracelular), nomeio
líquidoqueascerca(líquidointersticial)
enosangue(líquidointravascular).
CONCEITODE
ÁCIDOEBASE
Os elementos importantes para a
função celular, sob o ponto de vista
químico, estão em solução. Uma
solução é um líquido formado pela
misturadeduasoumaissubstâncias,
inteiramentedispersasentresí,deum
modohomogêneo.Umasoluçãocon-
siste de um solvente, o componente
principal, e um ou mais solutos. O
organismohumanocontém60a80%
deágua,conformeaidadedoindivíduo
e, nas soluções biológicas, a água
constituiosolventeuniversal.Asdemais
substânciasemsolução,constituemos
solutos.
Emumasoluçãobiológicaumsoluto
podeestaremestadoionizado,ouseja,
oselementosouradicaisquímicosque
acompõem,estãodissociadosunsdos
outros;aporçãodasubstânciaqueexiste
no estado dissociado ou ionizado é
chamadaíon.Umaoutrapartedosoluto
existenoestadonãoionizado;ambas
coexistem, em um tipo especial de
equilíbrioquímico.
Existemsubstâncias,comoosácidos
fortes, as bases fortes e os sais, que
permanecememsolução,quasecom-
pletamente no estado ionizado, en-
quantooutrassubstâncias,comoos
ácidosebasesfracaspermanecemem
solução,emgráusdiversosdeionização.
Aáguatemsempreumpequenonúmerode
moléculas,noestadoionizado.
Umácidoéumasubstânciacapazde
doar prótons (H+
). Uma base é uma
substânciacapazdereceberprótons.Em
outraspalavras,osácidossãosubstâncias
que,quandoemsolução,temcapaci-
dadedecederíonshidrogênio;asbases
sãosubstânciasque,quandoemsolução,
temcapacidadedecaptaríonshidro-
gênio.
Um ácido forte pode doar muitos
íonshidrogênioparaasoluçãoeuma
base forte pode captar muitos íons
hidrogêniodasolução.Soluçõesácidas
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 311
ebásicasnasmesmasconcentrações,
neutralizam-se volume a volume,
qualquerquesejamoácidoouabase.
DETERMINAÇÃODA
ATIVIDADEDOÍON
HIDROGÊNIO
A presença e a atividade dos íons
hidrogênio em uma solução e nos
sistemasbiológicos,deveseravaliada
peladeterminaçãodaquantidadede
hidrogênio livre. Para a avaliação do
hidrogêniolivrenassoluçõesdeácidos
oudebases,usa-seaunidadepH.O
termopHsignificapotênciadehidro-
gênio; foi criado para simplificar a
quantificaçãodaconcentraçãodeH+
na
águaenassoluções.
Asubstânciapadrão,utilizadacomo
referênciaéaágua.Aáguasedissocia,
em pequena quantidade, em íons
hidrogênio (H+
) e hidroxila (OH-
). A
constantedeionizaçãodaáguaémuito
pequena,bemcomosãopequenasas
quantidadesdeH+
eOH-
,emsolução.
A quantidade de hidrogênio livre na
água é 0,0000001. Para facilitar a
comparaçãodestaspequenasquanti-
dadesdeíons,Sorensenadotouafração
exponencial,aoinvésdafraçãodecimal.
Assim,Sorensenreferiu-seàconcen-
traçãode10-7
,comoa“potênciasetedo
hidrogênio”,paradefinirasuaquanti-
dadenaágua.Hasselbalchcriouotermo
pH,paraexpressarologarítimonegativo
daatividadedoíonhidrogênio.OpH
deumasolução,portanto,éoinverso
dasuaconcentraçãodeíonshidrogênio.
AconvençãodeHasselbalchpermite
queosvaloresdaatividadedohidro-
gênionassoluções,sejamexpressosem
númerospositivos.AescaladopH,varia
de0a14,representandoaacidezoua
alcalinidadedeumasolução,emcompa-
raçãocomaágua.
Pelasquantidaderelativasdeíons
hidrogênio (H+
) e hidroxila (OH-
), a
águatemumaconcentraçãototaldeíons
de10-14
,quecorrespondeapartesiguais,
ouseja10-7
,decadaumdosíons.Dessa
forma,aáguatemopH=7e,pelassuas
características, é considerada uma
substâncianeutra,ousejanemácida
nembasee,servedepadrãodecompa-
raçãoparatodasassoluções.
AssoluçõescujopHestáentre0e7
sãoditasácidas;asquetemopHentre
7e14sãoditasbásicasoualcalinas.
Seacrescentarmosbaseforteaum
ácidofraco,oácidoseráneutralizadoà
medidaqueabaseégotejadanasolução,
formando-sesal.Serepresentarmosa
escalalogarítimadepH,emrelaçãoàs
quantidadesadicionadasdebase,traça-
remosumacurvadetitulaçãodoácido,
que forma um S suave. O pH varia
rapidamente, até um certo ponto e,
dessepontoemdiante,hánecessidade
da adiçãodemaiorquantidadedebases
paraqueopHvolteasubir.
REGULAÇÃODOPH
NOORGANISMO
Quandoseadicionaácidoàágua,
mesmoempequenasquantidades,opH
sealteraràpidamente.Omesmoocorre
comaadiçãodebases.Pequenasquan-
312 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
tidades de ácido ou de base podem
produzirgrandesalteraçõesdopHda
água.
Seadicionarmosácidooubaseao
plasma sanguíneo, veremos que há
necessidadedeumaquantidadeapre-
ciável de um ou de outro, até que se
produzamalteraçõesdopH.Obalanço
entreácidosebasesnoorganismoéuma
buscaconstantedoequilíbrio;oplasma
resisteàsvariaçõesbruscasdopH.O
plasma,portanto,dispõedemecanismos
dedefesacontraasalteraçõesdopH.
Osmecanismosdedefesadoorga-
nismocontraasvariaçõesbruscasdo
pH,sãoquímicosefisiológicos,eagem
em íntima relação. Os mecanismos
químicossãorepresentadosporconjun-
tosdesubstânciascapazesdereagirtanto
com ácidos quanto com bases, neu-
tralizando-as, e dificultando as osci-
lações do pH. Os mecanismos fisio-
lógicossãorepresentadospelospulmões
epelosrins,queeliminamsubstâncias
indesejáveisouemexcesso,ácidosou
bases,epoupamoutras,deacordocom
asnecessidadesdomomento.
Omecanismodedefesadenatureza
respiratória é o mais imediato, para
corrigiralteraçõesagudas,comoasque
ocorrem durante a circulação extra-
corpórea. O principal produto do
metabolismo é o dióxido de carbono
(CO2),queéafontedeácidocarbônico
(H2CO3), por reação química com a
água(H2O).Ospulmõeseliminamo
dióxidodecarbono,reduzindooteor
deácidosnosangueedemaiscompar-
timentoslíquidosdoorganismo.
Os mecanismos renais são mais
lentos e tardios; seus efeitos não são
apreciáveis naquelas alterações. A
principalfunçãodosrinsnobalanço
ácido-baseépromoverapoupançaoua
eliminaçãodebicarbonato,conformeas
necessidadesdoorganismo.
SISTEMAS
“TAMPÃO”
Um par de substâncias, capaz de
reagirtantocomumácidoquantocom
umabase,échamadosistematampão.
Umsistematampãoéconstituido
porumácidofracoeoseusaldeuma
baseforte,emrelaçãoconstante,para
combinarcomácidosebasesemexcesso
eevitarvariaçõesdopH.
Os tampões são substâncias que
dificultam as alterações do pH pela
adição de ácidos ou bases. São fun-
damentais ao organismo, porque o
metabolismo gera muito ácido. A
regulaçãodoequilíbrioácido-baseno
organismo, depende da atuação dos
sistemastampãoexistentesnosangue
(líquido intravascular), nos tecidos
(líquido intersticial) e no interior das
células(líquidointracelular).Ossiste-
mastampãosãotambémconhecidos,
pelasuadenominaçãoinglesa:sistemas
“buffer”.
A tabela 17.1 lista os principais
sistemastampãodoorganismoeassuas
quantidadesrelativas.
Quandoumácidoseacumulaem
maior quantidade no organismo, é
neutralizado no sangue, no líquido
intersticialenointeriordascélulas,em
partesaproximadamenteiguais,ouseja,
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 313
1/3doácidoéneutralizadonosangue,
1/3éneutralizadonolíquidointersticial
e 1/3 no líquido intracelular. Este
último é o que mais demora a ser
solicitadoeativado.
Tabela 17.1. Principais sistemas “tampão”do organismo. O
sistema do bicarbonato é o mais abundante e extremamente
importante na neutralização dos ácidos formados pelo
metabolismo celular.
Composição do sistema Percentual do total
Bicarbonato/Ácico carbônico 64%
Hemoglobina/Oxihemoglobina 28%
Proteinas ácidas/Proteinas básicas 7%
Fosfato monoácido/Fosfato diácido 1%
Osistemabicarbonato/ácidocar-
bônico é o de maior importância na
regulaçãodopH,duranteacirculação
extracorpórea.Abasefortedestesistema
éobicarbonatoeoácidofracoéoácido
carbônico.
Quando um ácido se acumula no
sangue, o bicarbonato do sistema
tampão se combina com o mesmo,
alterando o equilíbrio próprio do
sistematampão.Oácidocarbônicoem
excesso,sedissociaemCO2eH2Oeo
dióxidodecarbonoéeliminadopelos
pulmõesoupelooxigenador.
Ossistemastampãoagememsincro-
nismo,etodosparticipamdaregulação
dopH.Osistematampãosealtera,para
restabelecer o pH; a seguir procura
refazer o seu próprio equilíbrio quí-
mico.
OpHdoplasmasanguíneotraduz
asreaçõesdeuminfindávelnúmerode
substânciasdissolvidas,inclusiveos
sistemas tampão; seu valor normal
correspondeàumaestreitafaixaque
variaentre7,35e7,45.
REGULAÇÃO
RESPIRATÓRIA
DOPH
O metabolismo normal produz
ácidos,quesãoneutralizados,elimi-
nados do organismo ou são incor-
porados à outras substâncias. Em
condiçõesnormaisdemetabolismo,são
produzidospordia,porumindivíduo,
cercade12.000miliequivalentesdeH+
,
ou 12.000 miliequivalentes de CO2.
Menosde1%desseácidoéexcretado
pelos rins. O dióxido de carbono é
transportadonosangue,sobaformade
um ácido volátil (H2CO3 H+
+
HCO3 H2O + CO2), o ácido carbô-
nico,eeliminadopelospulmões.Em
solução aquosa, como no plasma, o
CO2éhidratado,formandooH2CO3
(ácidocarbônico),quesedissociaem
H+
e HCO3-
. O sangue venoso trans-
porta,dessaforma,odióxidodecarbono
produzidonostecidosatéospulmões,
onde se difunde pela membrana al-
veolo-capilar, para o ar dos alvéolos;
durante a perfusão o sangue venoso
transportaoCO2aooxigenador,onde
se difunde para o ar ambiente. O
oxigenadordesempenhaomesmopapel
dospulmões,naregulaçãodoequilíbrio
ácido-base durante a perfusão. As
oscilações e a transferência do CO2,
dependemapenasdaventilação;aágua
éreaproveitadapelostecidosouelimi-
nadapelosrins.
Quando o CO2 não é eliminado
adequadamente,acumula-senosangue
ereagecomaágua,aumentandooteor
de ácido carbônico. O ácido é par-
314 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
cialmenteneutralizadopelobicarbonato
dosistematampão,masdeixalivreum
excesso de H+
, que tende a reduzir o
pH. Ao contrário, quando o CO2 é
eliminadoemexcesso,nooxigenador,
obicarbonato(NaHCO3)sedissocia.
O sódio (Na+
) livre, forma sais dife-
rentes do bicarbonato e o íon HCO3-
reage com a água (H2O), formando
ácidocarbônicoeíonshidroxila(OH-
).
Osíonshidroxilacombinam-seaosíons
hidrogênio (H+
) para formar água. A
produção de H2CO3 reduz o teor de
H+ no sangue, com consequente
elevaçãodopH.
Aregulaçãorespiratóriadoequilíbrio
ácido-baseéfeitaexclusivamenteatravés
da regulação do CO2. Alterações da
ventilação no oxigenador, podem
produzir quebra daquele balanço e
interferircomometabolismocelular.
REGULAÇÃORENAL
DOPH
Osmecanismosdedefesacontraas
alteraçõesdopHsanguíneo,incluem
um mecanismo de ação rápida, o
respiratórioeomecanismorenal,de
ação mais lenta e eficaz apenas para
compensaralteraçõescrônicasoude
longaduração.Acompensaçãorenaldo
pH,éeficazapós24a48horasenão
ocorre significativamente, durante a
circulaçãoextracorpórea.Viaderegra,
ospulmõeseliminamassubstâncias
voláteis(gases)eosrinseliminamas
substânciasqueospulmõesnãotem
capacidadedeeliminar.Acompensação
renal, entretanto, é mais completa,
porque retorna o poder de tampo-
namentodosangueaníveisnormais,
refazendo o seu principal sistema
tampão.Osrinsexcretam,diariamente,
50miliequivalentesdeíonshidrogênio
ereabsorvem5.000miliequivalentesde
íonbicarbonato.
Além de influir na restauração do
equilíbrioácido-base,acompensação
renaléamaisimportante,namanu-
tençãodaconstânciadomeioambiente
dascélulas,olíquidoextracelular.Os
rinsreagemaosdistúrbiosdaosmo-
laridade,desidrataçãoehipotensão,
eliminandoácidosnãovoláteisenão
carbônicos.
PARÂMETROSDOEQUILÍBRIOÁCIDO-BASE
Os valores que analisam os parâ-
metros do equilíbrio ácido-base do
sangue,expressamaintegraçãoentreas
diversassubstâncias,ossistemastampão
e os mecanismos de regulação res-
piratóriaerenal.
Osparâmetrosimportantesparaa
análisedoestadodoequilíbrioácido-
base são o pH, a tensão parcial de
dióxidodecarbononosangue(pCO2)
e oteordebicarbonato(HCO3).
OpHdefineseháacidoseoualca-
lose,conformeseuvalorestejaabaixo
ouacimadafaixadenormalidadedo
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 315
sangue.SeopHestiverabaixode7,35,
dizemos que existe acidose. Se, ao
contrário,opHestiveracimade7,45,
dizemosqueháalcalose.
AtensãoparcialdeCO2nosangue
(pCO2)defineaexistênciaeográude
distúrbiorespiratório,relativoàelimi-
naçãododióxidodecarbono.Afaixa
normalparaapCO2éde35a45mmHg.
Obicarbonato“standard”oubicar-
bonatopadrãoéoteordebicarbonato
equilibradocomumamisturagasosa
com tensão parcial de dióxido de
40mmHg(pCO2=40mmHg).Obicar-
bonatoreal,éaquantidadedebicar-
bonatoexistentenaamostradesangue
analisada.Podecoincidircomobicar-
bonatopadrão,quandoseránormal,ou
poderefletirosdistúrbiosexistentes.
Abasetampãooubasetotal,corres-
pondeàsomadoteordebasesdoplasma
ouseja,asomadasconcentraçõesde
todas as bases contidas no sangue,
compreendendo todos os sistemas
tampão.
A diferença de bases, (BE ou BD)
denominaçãoparaexcessodebases(BE)
ou para o seu déficit (BD), reflete o
excesso ou a diminuição das bases
tampão,emrelaçãoaoseuvalornormal.
Ovalornormalparaadiferençadebases
variaentre0e 3.
O bicarbonato real, o excesso ou
déficit de bases, não são medidos
diretamentenaamostradosangue;o
bicarbonato é derivado à partir das
dosagensdopHedopCO2eoexcesso
de bases é determinado à partir dos
valores do pH, do pCO2 e da hemo-
globina,paradimensionarostampões
existentesnosglóbulosvermelhos.O
resultadodaquelesvaloreséexpresso
emmiliequivalentesporlitro(mEq/l)
debases,acimaouabaixo,dosvalores
normaisdebases.
Ovalordatensãoparcialdeoxigênio
(pO2)medidonamesmaamostrade
sangue,informaoestadodaoxigenação
do sangue (amostra arterial) ou da
utilização do oxigênio pelos tecidos
(amostravenosa);nãotemsignificado
naapreciaçãodosdistúrbiosdoequilí-
brioácido-base.
CLASSIFICAÇÃODOSDISTÚRBIOSDOEQ.
ÁCIDOBASE
Asalteraçõesdoequilíbrioácido-base
correspondem,emessência,àsvariações
daconcentraçãodeíonhidrogêniono
sangue.Oaumentodaquantidadede
íonshidrogênio,reduzopHe,portanto,
produz acidose. A redução da quan-
tidadedeíonshidrogênio,aumentao
PHe,aocontrário,produzalcalose.As
alteraçõespronunciadasdopH,nãosão
bemtoleradaspeloorganismo.Afaixa
detolerânciadoorganismohumanose
situaentre6,8e7,8;valoresforadaquela
faixa,abaixode6,8ouacimade7,8,são
extremamentedificeisdereverter.Um
316 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
valordepHinferiora6,8,comgrande
frequência,indicaacidoseirreversível.
Conformeaorigem,osdistúrbiosdo
equilíbrioácido-base,acidoseoualca-
lose,podemserdenaturezametabólica
ourespiratória.Emcondiçõesnormais
existe um delicado balanço entre os
componentesmetabólicoerespiratório,
que determina a estabilidade do pH,
dentrodafaixanormal,representado
pelaseguinteequação:
ComponenteMetabólico
pH= ----------------------------
ComponenteRespiratório
Quandooorganismoacumulaácidos
oriundos do metabolismo, o pH do
sanguesereduz;dizemosqueaacidose
é de origem metabólica. Quando o
organismoacumulaCO2,nãoelimi-
nadoadequadamentepelaventilação,o
pHsereduz;dizemosqueaacidoseé
deorigemrespiratória.
Seoorganismoacumulabasesem
excesso,porexemploobicarbonato,o
pHseeleva;dizemosqueaalcaloseé
deorigemmetabólica.Seoorganismo
elimina CO2 em excesso por hiper-
ventilação,opHseeleva;dizemosque
háalcaloserespiratória.
Acidose ou alcalose respiratórias,
compreendemalteraçõesprimáriasda
ventilação,comocausadodistúrbio.
Acidoseoualcalosemetabólicas,com-
preendem alterações primárias do
metabolismo,comocausadodistúrbio.
Osvaloresnormaisdosparâmetros
queanalisamoequilíbrioácido-basedo
organismosão:
pH=7,35a7,45
pCO2=35a45mmHg
HCO3= 24
BE= -3 a +3
A tabela 17.2 lista os principais
distúrbiosdoequilíbrioácidobaseeas
alteraçõesencontradasnaanálisedo
sangue.
Tabela 17.2 Representa os resultados da análise de amostras
de sangue (gasometria), para o diagnóstico das alterações
do equilíbrio entre os ácidos e as bases. As setas significam
elevação ou redução do valor dos diferentes parâmetros
indicados nas colunas; N representa o valor normal.
Distúrbio pH pCO2 BE HCO3
Acidoserespiratória N
Alcaloserespiratória N
Acidosemetabólica N
Alcalose metabólica N
Algumasvêzes,osmecanismosde
compensaçãopodemdificultarainter-
pretaçãodosresultadosdasamostras,
paraodiagnósticodacausaprimária.Na
circulaçãoextracorpórea,entretanto,as
alteraçõesocorremmuitorapidamente
e,quasesempre,nassuasformaspuras,
nãocompensadas.Embora,osmeca-
nismos da circulação extracorpórea
possam produzir qualquer tipo de
distúrbiodoequilíbrioácido-base,as
alterações mais encontradas são a
acidose metabólica e a alcalose res-
piratória. Esta última ocorre, prin-
cipalmente, quando se usam os oxi-
genadores de bolhas, ótimos elimi-
nadoresdeCO2.
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 317
ACIDOSE
RESPIRATÓRIA
Na acidose respiratória o quadro
laboratorialencontradoé:pHinferior
a 7,35, que caracteriza a acidose e o
pCO2acimade45mmHg,quecarac-
teriza a retenção de CO2 no sangue,
como a causa primáriadodistúrbio.
Como as bases do sangue são mobi-
lizadasparatamponaroácidocarbônico
emexcesso,produtodareaçãodoCO2
comaágua,existeumdéficitdasbases
livres e o BE se torna mais negativo,
inferior a -3mEq/l. O total de bicar-
bonato pode estar pouco acima do
normal(24mEq/l),sehouvertempo
paraatuaçãodosmecanismosdecom-
pensação.
Aretençãodedióxidodecarbonoe
consequenteacidoserespiratóriapode
ocorrerduranteaperfusão,quandohá
hipoventilaçãodooxigenador.Ofluxo
deoxigênionooxigenadoréinsuficiente
para eliminar todo o CO2 produzido
pelo organismo.Odióxidodecarbono
acumulanascâmarasdooxigenadore
equilibraasuatensãocomosangue.A
pCO2 do sangue aumenta progres-
sivamente, forma-se um excesso de
ácidocarbônico,cujafraçãodissociada,
libera H+.
Nosoxigenadoresdemembranasa
retenção de CO2 pode ocorrer pela
administraçãodegásricoemoxigênio
(FiO2elevada)porémcomfluxobaixo.
NessescasosapO2énormaleapCO2
éelevada.
AretençãodeCO2,comprodução
de acidose respiratória, durante a
perfusão, pode ocorrer ainda por
alteraçõesdomecanismodispersorde
oxigênionacâmaradeoxigenaçãodos
oxigenadoresdebolhas,geralmentepor
defeitos de fabricação ou controle. O
mais comum é que ocorra escape de
oxigênio dentro da câmara de oxige-
nação, sem que o gás atravesse o
dispersor,sendoinútilparaaadequada
oxigenaçãoeefetivaremoçãodeCO2.
Esse problema deve ser suspeitado
quandooaumentodofluxonalinhade
gásdooxigenadordebolhas,nãocorrige
aacidoserespiratória.
Aacidoserespiratóriapodedeprimir
omiocárdioefavoreceroaparecimento
dearritmias;essacombinaçãodefatores
podedificultarasaídadeperfusão.As
necessidadesdeagentesanestésicose
relaxantesmuscularesaumentam,para
manter o mesmo plano anestésico.
Pode,ainda,ocorrersudoreseintensa,
mesmonopacienteanestesiadoeedema
cerebral.
A acidose respiratória durante a
perfusãodevesertratadapeloaumento
daofertadeoxigênioaooxigenadorde
bolhasoupeloaumentodaofertadegás
ao oxigenador de membranas, sob
controlerigorosodagasometriaarterial.
Ovalordobicarbonatototalénormal
ouelevadoeaadministraçãodebicar-
bonato de sódio é desnecessária e
ineficaz.
318 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
ALCALOSERESPIRATÓRIA
Aalcaloserespiratóriaéodistúrbio
maisfrequentenotranscursodacircu-
laçãoextracorpórea,principalmente
quandoseutilizamosoxigenadoresde
bolhas.Ofluxodeoxigêniohabitual-
menteinstiladonooxigenadorésufici-
enteparaoxigenaradequadamenteo
sanguevenoso,porém,excessivoparaa
eliminaçãodoCO2,removendo-oem
excesso,nacâmaradeoxigenaçãodo
aparelho,oquereduzsubstancialmente
apCO2.
OCO2éeliminadoparaoexterior
do aparelho, carreado pelo fluxo de
oxigênioqueatravessaooxigenador.O
ácidocarbônicodosanguediminuie
provoca a redução concomitante do
bicarbonato.
Oquadrolaboratorialérepresentado
pelopHsuperiora7,45eapCO2abaixo
de 35 mmHg. O BE se mantém inal-
teradooupodeelevar-sefracamente;o
bicarbonato plasmático se reduz a
menosde24mEq/l.
Acompensaçãodasalteraçõesdo
equilíbrioácido-baseédemoradae,ao
contrário do que se acreditava, o
organismo não compensa a alcalose
respiratóriapelaproduçãodeacidose
metabólica.Istoapenasocorrequando
aalcaloseduramaisde12a18horas.
Pacientes operados sob regime de
alcaloserespiratória,nãodesenvolveram
acidosemetabólica,comomecanismo
decompensaçãododistúrbioprimário.
A alcalose respiratória é extre-
mamente comum, na perfusão com
oxigenadoresdebolhas,principalmente
quandoosfluxômetrosdegásusados
nãosãoprecisoseapenaspermitem
ajustesdefluxode1em1litro;nessas
circunstâncias a hiperventilação é a
regra. O ajuste correto dos fluxos de
oxigênionosoxigenadoresdebolhas,
para moderar a eliminação de CO2,
apenaspodeserfeitoquandoseutilizam
fluxômetrosadequados,calibradosem
frações de litros, especialmente na
perfusãoinfantil,emqueosfluxosde
gássão,ainda,menores.
Aalcalosesevera,comapCO2abaixo
de25mmHg,especialmentequando
prolongada,podeproduzirvasocons-
trição, que se manifesta com maior
intensidadenosvasoscerebrais.Podem
resultar, quadros psiquiátricos ou
neurológicos de gravidade variável,
incluindoconvulsões,queserãomani-
festosnopós-operatórioimediato.
Naalcaloserespiratória,hádesvio
paraaesquerda,dacurvadedissociação
daoxihemoglobina,quecorrespondeà
umamaiorafinidadedahemoglobina
pelooxigênio,tornandomaisdifícila
sua liberação nos tecidos. Nestas
condições, embora o sangue arterial
estejacompletamentesaturadoeapO2
estejaelevada,aliberaçãodeoxigênio
nostecidospodenãosersuficientepara
ometabolismoaeróbico,oquecausa
acidosemetabólica,quevaisemani-
festar,nessascircunstânciaspelaredução
dasbasesdisponíveis(reduçãodoBE).
A alcalose respiratória, durante a
perfusão,écorrigidapelareduçãodo
fluxodeoxigêniooferecidoaosoxige-
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 319
nadoresdebolhasoupelareduçãodo
fluxodegásoferecidoaosoxigenadores
demembranas.
Umpequenográudealcaloserespi-
ratória(pCO2acimade28a30mmHg.)
ébemtoleradopeloorganismoetem
alguns efeitos favoráveis, gerais e
cardiovasculares.Hámenornecessidade
de agentes anestésicos e relaxantes
musculareseafunçãoglobaldocoração,
é melhor. O rítmo sinusal é melhor
sustentadoeacontratilidademiocárdica
éestimulada.
ACIDOSE
METABÓLICA
Aacidosemetabólicaseinicia,sem
interferênciarespiratória,poraumento
da concentração de H+
, de origem
endógenaouexógena.Éumdistúrbio
bastantefrequente,duranteacirculação
extracorpóreaepodeserproduzidopor
diversascausas.Acausamaiscomum
daacidosemetabólicaéumadeficiente
oxigenação dos tecidos. Os tecidos
hipóxicos,sesocorremdometabolismo
anaeróbico, cujo produto final é,
principalmente,oácidolático.Oácido
lático é um ácido fraco, não volátil, e
que,portanto,nãopodesereliminado
pelo pulmão ou pelo oxigenador. A
dissociaçãodoácidoláticoliberaíons
hidrogênio, que vão contribuir para
reduzir o pH do sangue. O outro
produtodadissociaçãodoácidoláticoé
o íon lactato. O ácido lático é meta-
bolizado no fígado. Entretanto, na
acidoselática,asuaproduçãosuperaa
capacidadedemetabolizaçãodaquele
órgão,permitindooacúmulonosan-
gue.
Olactatodeslocaosódiodobicar-
bonato;alémdisso,comomecanismo
decompensação,opulmãoaumentaa
eliminaçãodeCO2,paramanteroteor
de ácidos do sangue. Este último
mecanismoinexiste,duranteaperfusão.
Areduçãodaoxigenaçãodostecidos,
queinduzaometabolismoanaeróbico,
comproduçãoexcessivadeácidolático
e acidose metabólica, também pode
ocorrernacirculaçãoextracorpórea,
quandoofluxoarterialestáreduzidoem
relaçãoàsnecessidadesdopaciente,
quando há vasoconstrição de deter-
minadosleitosvasculares,quandoo
sanguearterialnãoestáadequadamente
oxigenadoouquandoaoxihemoglobina
não libera suficiente oxigênio aos
tecidos, por desvios da sua curva de
dissociação.
Ofluxoarterialpodeestarreduzido
pordiversasrazões,comoa estimativa
inadequadaparaasnecessidadesdo
paciente,oroletearterialmalcalibrado
ouareduçãointencional,parafacilitar
manobrascirúrgicas.
Avasoconstriçãoéextremamente
comumduranteaperfusãoedecorreda
liberação de catecolaminas e outros
produtosvasopressores,estimulados
pelostressdacirculaçãoextracorpórea,
e pela interação do sangue com as
superfíciesnãoendoteliaisdocircuito
extracorpóreo.
O sangue arterial pode não estar
adequadamenteoxigenado,porinsu-
ficientefluxodeoxigênionooxigenador
ou por defeitos do sistema de oxige-
320 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
naçãodoaparelho,nosoxigenadoresde
bolhas.
Umaumentodaafinidadedahemo-
globina pelo oxigênio (desvio para a
esquerdadacurvadedissociaçãoda
oxihemoglobina),quedificultaalibera-
çãodooxigênionostecidos, podeser
produzidopelaexcessivaeliminaçãodo
CO2nooxigenadorepelareduçãoda
temperaturadosangue.
Osangueestocado,bemcomoseus
derivados, tem o pH baixo e acidose
metabólica,emconsequênciadapreser-
vaçãoemsoluçõesácidas,comooACD,
CPD e EDTA e, quando usados no
perfusato, devem ser neutralizados
adequadamente,paraevitaroconsumo
de bases do sangue do paciente. As
soluçõescristaloidescomumenteusadas
noperfusato,sãoigualmenteácidas,
comoassoluçõesdeRingerouRinger
lactato,cujopHvariaentre5,2e6,4.O
perfusatocomestassoluções,também
devesertamponado,antesdoinícioda
perfusão.
Empacientesdiabéticos,submetidos
ajejumprolongadoparaacirurgia, pode
ocorreracidosemetabólica,porlibera-
çãodeácidoscetônicos,produtofinal
dometabolismodaglicose,naausência
dainsulina.
Na acidose metabólica o pH está
abaixode7,35,opCO2estánormaleo
BE está negativo, com um déficit de
basesquevariadeacordocomaseveri-
dade da acidose. Geralmente o BE
oscila, entre -5 e -10. O bicarbonato
totaltambémestáabaixodeseuvalor
normal.
A acidose metabólica deprime a
contratilidademiocárdica;podeprodu-
zirdepressãodotonusvascular,arritmi-
asventricularesetendeaaumentaro
sangramento operatório. A acidose
metabólicaproduz,ainda,aumentodo
potássioextracelular,quealteraassuas
relações com outros íons. A acidose
metabólicareduzouabolearespostaaos
medicamentos inotrópicos e vaso-
pressores.
A acidose metabólica durante a
perfusãoécorrigidapelaeliminaçãodas
possíveiscausasdehipóxiatissulare,se
necessário,pelaadministraçãoadicional
debases,comoobicarbonatodesódio,
de acordo com o gráu de acidose,
expressopelovalordodéficitdebases
(BEouBD).Ocálculodaquantidade
totaldebicarbonatoaseradministrada,
éfeitoatravésdefórmulas,dasquaisa
maiscomumé:PesoxBEx0,3=Bic.
sódio(mldasoluçãoa8,4%).
Asoluçãodebicarbonatodesódioa
8,4% contém 1 mEq do sal por cada
mililitro.Afórmulausadaparaocálculo
da dose de bicarbonato, fornece a
quatidadedemiliequivalentesdebase
bicarbonato,queprecisaseradminis-
trada,paratamponaraacidosecorres-
pondente ao déficit de bases deter-
minado.Comoasfórmulassãoapenas
aproximações de cálculo e outras
medidas,visandocorrigiraoxigenação
tissularsãotomadas,usa-seadministrar
ametadedadosecalculadaerepetira
gasometriaapós10ou15minutos.
Nãoéraroqueacausadaacidose
sejaahipóxiadasmassasmusculares,
causadapelavasoconstriçãoqueacom-
panhaaperfusão.Nestescasosasimples
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 321
administraçãodevasodilatadorespode
corrigir a acidose. A experiência tem
demonstrado que, quando se usam
vasodilatadores desde o início da
perfusão,émaisraroodesenvolvimento
deacidosemetabólica.
ALCALOSE
METABÓLICA
A alcalose metabólica não é um
desvio comum durante a circulação
extracorpórea.Podeocorrer,contudo,
quando se administram bases em
excesso, aospacientes,comoobicar-
bonatodesódio.
Quandoseadministramdiuréticos,
hágrandeeliminaçãodelíquidosede
eletrólitos,principalmenteopotássio.A
eliminaçãodopotássioacarretaelimi-
nação concomitante de íon H+ pela
urina e retenção alternativa do íon
bicarbonato, que produz a alcalose
metabólica. Este mecanismo, entre-
tanto,élentoeobservadoapenasem
pacientes em uso prolongado dos
diuréticos.
Na alcalose metabólica o pH está
acimade7,45,opCO2estánormale
háexcessodebases,comBEpositivo,
superiora+3.Obicarbonatotambém
estáelevado,acimade24mEq./l.
De um modo geral a alcalose me-
tabólicaébranda,bemtolerada,enão
necessita de qualquer tratamento
específico.
GASOMETRIA
VENOSA
OsvaloresnormaisdopHedosgases
do sangue referidos no exame dos
principais distúrbios do equilíbrio
ácido-base, referem-se ao sangue
arterial,jáoxigenadoemodificadonos
pulmõesounosoxigenadores.Osangue
venoso, que conduz os restos meta-
bólicoscelulares,coletadosnosistema
capilar,temvaloresdiferentes,enão
menosimportantes.Aanálisedosangue
venosonormal,devemostrarosseguin-
tesresultados:
pH=7,27a7,39
pCO2=40a50mmHg
pO2=35a40mmHg
HCO3=22a26mEq/l
BE= 2,5
SO2=70a75(Saturaçãodeoxigênio)
Amonitorizaçãodosparâmetrosdo
equilíbrioácidobase,pH,pCO2eBE
é fundamental, durante a perfusão.
Medidas simples, como a escolha de
fluxômetrodegásadequado,cálculodos
fluxosdeperfusãoecuidadosamonito-
rizaçãodosaparelhosemuso,contri-
buem para minimizar os efeitos da
circulação extracorpórea sobre os
mecanismosreguladoresdoequilíbrio
ácido-basedoorganismo.Aanálisedos
gases e do pH do sangue, indica a
presença,anaturezaeaseveridadedas
alterações do balanço ácido-base e
possibilitaacorreçãodassuasalterações.
Amaioriadaquelesdistúrbiospodeser
prevenidaou,pelomenos,minimizada,
pelacriteriosaconduçãodaperfusão.
Ográudedissociaçãodaágua,ede
322 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
diversasoutrassubstânciasdoplasma
sanguíneo,sealteracomareduçãoda
temperaturadoorganismo;emconse-
quência, todos os mecanismos da
regulaçãoácido-base,igualmentese
alteram. Não se conhecem valores
“normais”,paraoequilíbrioácido-base
duranteahipotermia.Aprincipalrazão
residenofatodequeahipotermiaéum
estado,absolutamenteanormal,doser
homeotérmico.Enquantoamaioriados
mecanismosdacirculaçãoextracorpórea
procuraaproximá-la,aomáximo,do
comportamento fisiológico do ser
humano,ahipotermiainduzalterações
significativas,nãoobservadasemoutras
circunstâncias,anãoseracidentalmente.
EQUILÍBRIO
ÁCIDO-BASENA
HIPOTERMIA
Ainterpretaçãoeosignificadodos
parâmetrosdoequilíbrioácido-base,
duranteahipotermia,aindasãoobjeto
deestudoediscussões.Estamoshabi-
tuadosaconsiderarnormais,opHde
7,40eapCO2de40mmHg.Entretanto,
istoécorretoapenasàtemperaturade
37o
C.Secolhermosumaquantidadede
sanguearterialnormal,à37o
Ceresfria-
mosumaamostra,oCO2setornará
maissolúvel.Emconsequência,apCO2
serámaisbaixa,paramanterconstante
o conteudo total de CO2. O pH será
maiselevado,naproporçãode0,0157
paracadagráudereduçãodetempe-
ratura.Avariaçãodopontodeneutra-
lidade da água com a temperatura é
bastantesemelhante;opHdaáguase
elevade0,017paracadagráuderedução
datemperatura.Sistemastampãopro-
teicos,mantémconstanteasvariações
dopontodeneutralidadedoplasmaem
relaçãoaodaágua,duranteaexposição
doorganismoàsbaixastemperaturas.
Umaneutralidaderelativaconstante,do
plasmaemrelaçãoàneutralidadeda
água,émantidaparaimpedirvariações
doequilíbrioentreosácidoseasbases
dentrodosistema,emboraosvaloresdo
pH e da pCO2 se alterem com o
resfriamentodosangue.Arelaçãoentre
aquantidadedeíonsH+
eaquantidade
deíonsOH-
,émantida.
O comportamento dos animais
poicilotérmicos, cuja temperatura
acompanha a temperatura do meio
ambiente, o pH do sangue também
acompanhaopontodeneutralidadeda
águamasopHdolíquidoextracelular
secomportadeoutromodo.
Amaneiradeinterpretarasalterações
dopHedapCO2dosanguedepende
domodeloutilizadoparacompararas
variaçõesdopontodeneutralidade.Se
considerarmosqueoconteudototalde
CO2devepermanecerconstanteeopH
devevariarcomatemperatura,estamos
aplicandooconceito“alfa-stat”,oude
CO2 constante para interpretar o
equilíbrioácido-base.Se,considerar-
mosqueopHdevesermantidocons-
tante em qualquer temperatura, o
conteudo total de CO2 deve neces-
sariamenteservariado.Nessescasos,o
CO2deveseradministradoaopaciente,
duranteahipotermiaeestamosusando
oconceito“pHstat”oupHconstante,
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 323
parainterpretaroequilíbrioácido-base.
Aexperiênciasugereeamaioriadas
escolasadmitequeoconceitoalfa-stat,
do pH variável, é mais próximo dos
mecanismos fisiológicos e indica a
monitorização do balanço entre os
ácidos e as bases, dentro daquele
conceito.istosignificaqueparacada
gráucentígradodereduçãodatempe-
raturaopHseelevade0,0147eapCO2
se reduz em 4%, embora o conteudo
totaldeCO2permaneçaconstante.
Amanutençãodeadequadairrigação
cerebraledosdemaisórgãoséessencial,
duranteacirculaçãoextracorpórea.O
gráudeauto-regulaçãodofluxosanguí-
neocerebraldependedoestadoácido-
baseduranteahipotermia.Quandoo
pH é mantido constante, a qualquer
temperatura,aregulaçãoautomáticado
fluxosanguíneocerebraléinterrompida
seapressãoarterialmédiaforinferiora
55mmHg. Ao contrário, quando se
permitemasvariaçòesdopHdeacordo
comatemperatura,aregulaçãodofluxo
sanguíneocerebralécontroladapelas
própriasnecessidadesmetabólicasdo
cérebro, em qualquer temperatura,
mesmo com pressão arterial média
baixa.Emboraovalormaisadequado
da pCO2 em hipotermia não seja
conhecido,existeoriscodesurgirem
lesõescerebrais,quandoosmecanismos
deauto-regulaçãodofluxocerebralsão
interrompidos,poradoçãodoregimede
pHconstante.
O metabolismo celular, a função
miocárdica,aincidênciadearritmiase
a perfusão cerebral, dentre outros
parâmetros de avaliação, parecem
melhores, com a estratégia do pH
variável,deacordocomatemperatura.
MONITORIZAÇÃO
DOPHEDOSGASES
SANGUÍNEOS
As gasometrias arterial e venosa
devem ser monitorizadas, durante a
circulaçãoextracorpórea.Agasometria
arterial oferece informações sobre o
estadoácido-basedosanguequevai
perfundir os tecidos do paciente e a
qualidadedasuaoxigenação;aamostra
arterialinformacomprecisãoaquali-
dade da função do oxigenador. A
gasometriavenosa,aocontrário,infor-
masobreaqualidadedaoxigenaçãodos
tecidos,oníveldeextraçãodeoxigênio,
a adequácia do fluxo da perfusão e
também,oestadoácido-base.
Atemperaturadosanguedeveser
informadaaolaboratório,paraquea
análisedopHedatensãoparcialdos
gasesdaamostra,sejafeitacontraos
padrõesadequadosàtemperatura.
Acoletadeamostrasparagasometria
deve ser feita a intervalos regulares,
ditadospelotranscursodaoperaçãoe
deveconsistirde,pelomenos,amostras
coletadas,antesdoiníciodaperfusão,
apósasuaestabilizaçãoepróximoaoseu
término.Oexamedenovasamostras
deve,também,serprovidenciadoapós
acorreçãodequalqueralteraçãoencon-
trada.
Modernamente estudam-se má-
quinascapazesdeanalisarcontinua-
menteaoxigenaçãoeoestadoácido-
324 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
basedosangue,duranteacirculação
extracorpórea, com o objetivo de
monitorizarastendências,aoinvésdas
amostrasisoladas.Nãoseconseguiu,até
o momento, demonstrar vantagem
apreciávelnaquelanovatecnologiacapaz
dejustificarosseuscustoselevados.
Alémdisso,ostransdutoressãodedifícil
calibraçãoepodemapresentarerrosde
leitura,especialmenteduranteahipoter-
mia.Entretantoamonitorizaçãodas
tendênciasé,semdúvidas,maisatraente
queamonitorizaçãodeamostras,que
refletemapenasoestadodosangue,no
momentodacoletadaamostra.Se,por
exemplo,emumaamostracolhidaaos
45minutosdeperfusão,encontrarmos
opHde7,20,essevalorpoderárepre-
sentarumadeduassituaçõesopostas.
Oponto7,20pertenceàumacurvade
pHemqueda,ouseja,oPHerade7,35,
alguns minutos antes da coleta da
amostra,econtinuadecrescendo.Ou,
aocontrário,oponto7,20pertenceà
umacurvadepHemascenção,ouseja,
opHerade7,15algunsminutosantes
da coleta da amostra, e continua em
elevação.Noprimeirocaso,acorreção
da causa da acidose é imperativa,
enquantonosegundocaso,asimples
observaçãodatendênciaésuficiente.A
monitorizaçãodastendênciaspermite
alterações da perfusão, capazes de
impedirodesenvolvimentodosdistúr-
biosdoequilíbrioácido-base,enquanto
aanálisedeamostras,permiteaidentifi-
caçãoecorreçãodosdistúrbiosexis-
tentes.
ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 325
REFERÊNCIAS SELECIONADAS
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Base em Circulação Extracorpórea. In Circulação
Extracorpórea. Temas Básicos. São Paulo, 1985.
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Clinical Use. In Gravlee, G.P.; Davis, R.F.; Utley,
J.R.: Cardiopulmonary Bypass. Principles and
Practice. Williams & Wilkins, Baltimore, 1993.
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Chemistry. 6th edition. University Chicago Press,
Chicago, 1974.
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Physiology - A self-study module, Vol. II.
AmSECT, Reston, 1984.
5. Fagundes, F.E.S. - Equilíbrio Ácido-Base: Estudo
Sumário. In Introdução à Circulação Extra-
corpórea. Módulo Teórico No
1. SBCEC, Rio de
Janeiro, 1985.
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Blood Gases: The Clinical Dilemma of Acid-Base
Management for Hypothermic Cardiopulmonary
Bypass. In Tinker, J.H.: Cardiopulmonary Bypass:
Current Concepts and Controversies. A Society
of Cardiovascular Anesthesiologits Monograph.
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7. Mitchell, B.A. - Profound Hypothermia with
Circulatory Arrest and Acid-Base Balance. A
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pulmonary bypass. Perfusion, 3, 113-133, 1988.
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10. Sethia, B. - Adequacy of perfusion - General
review. In, Taylor, K.M.: Cardiopulmonary
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11. Schabel, R.K.; Berryessa, R.G.; Justison, G.A.;
Tyndal, C.M.; Schumann, J. - Ten common
perfusion problems: prevention and treatment
protocols. J. Extra-Corp. Technol. 19, 392-398,
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12. Shapiro, B.A.; Harrison, R.A.; Walton, J.R. -
Clinical Applications of Blood Gases. Year Book
Medical Publishers, Chicago, 1977.
13. Swain, J.A.; White, F.N.; Peters, R.M. - The effect
of pH on the hypothermic ventricular fibrillation
threshold. J. Thorac. Cardiovasc. Surg. 87, 445-
451, 1984.

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Cap17 distubios acido basico

  • 2. 308 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
  • 3. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 309 Afunçãonormaldascélulasdo organismo depende de uma série de processosbioquímicoseenzimáticosdo metabolismocelular.Diversosfatores devemsermantidosdentrodeestreitos limites,parapreservarafunçãocelular, comoatemperatura,aosmolaridade,os eletrólitoseasquantidadesdenutrien- tes,oxigênio,dióxidodecarbonoeíon hidrogênio. A circulação extracorpórea foi, durantealgunsanos,sistematicamente acompanhada por distúrbios meta- bólicos,devidos,emgrandeparte,aos equipamentos pouco eficientes e ao conhecimentopobredafisiopatologia daperfusão.Osbaixosfluxosdeperfu- são à temperatura normal, com fre- quência,estavamrelacionadosàsalte- raçõesdometabolismocelular.Logofoi reconhecido,queaacidosemetabólica eracausadapelavasoconstriçãoperi- féricaepobreperfusãotissular,deter- minadas pelos fluxos de perfusão utilizados;quantomaisbaixoofluxoda perfusão,maioreraodéficitdebases no sangue e mais baixo o seu pH. As rotinasdetrabalho,incluiamaadminis- traçãoempíricadebicarbonatodesódio, baseadasapenas,notempodeduração daperfusão. Omelhorconhecimentodahemodi- luição,oadequadomanuseiodosfluxos deperfusão,ainibiçãodavasoconstrição eodesenvolvimentodeequipamentos maissofisticados,permitiramocontrole dacirculaçãoextracorpórea,commíni- mosdesviosdafisiologiaedoequilíbrio dosácidosedasbasesnoorganismo. Umdosfatoresmaisimportantesna preservaçãodometabolismocelularéa quantidadedehidrogêniolivre,existen- tedentroeforadascélulas. Pequenasvariaçõesdaconcentração dohidrogênio,podemproduzirgrandes alteraçõesnavelocidadedasreações químicasdascélulas,acelerandoalgu- maseretardandooutras.Estasalterações são capazes de modificar profunda- menteometabolismocelular,aponto deinibirinteiramentecertasfunções; alteraçõesextremaspodemdeterminar amortecelular. Aconcentraçãodohidrogêniolivre no organismo depende da ação de substânciasquedisputamohidrogênio entresí.Asquecedemhidrogênioeas quecaptamohidrogênio.Assubstâncias quetendemacederhidrogênioemuma solução, são chamadas de ácidos, enquantoassubstânciasquetendema captarohidrogênionassoluções,sãoas bases. Aconcentraçãofinaldohidrogênio resultadoequilíbrioentreaquelesdois gruposdesubstâncias,ácidosebases. O metabolismo celular produz ácidos,quesãoliberadoscontinuamente nacorrentesanguínea.Oorganismo neutralizaessesácidosparaprevenir mudançasagudasnaconcentraçãode hidrogênioepreservarafunçãocelular. Quandoácidosoubasessãoadminis- tradosaospacientes,estassubstâncias modificamoestadodoequilíbrioentre ácidos e bases do organismo, com consequentealteraçãodaquantidadede hidrogêniolivre. Duranteacirculaçãoextracorpórea, podemocorreralteraçõesimportantes
  • 4. 310 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA dessedelicadoequilíbrioentreácidose bases,capazesdeproduzirtranstornos importantesdafunçãocelularedeter- minarcomplicações,algumasvezes, severas. Muitos dos desvios do equilíbrio ácido-baseduranteaperfusão,podem serprevenidosoucorrigidosatravésde medidas simples, desde que sejam conhecidos os princípios fisiológicos queogovernam. FISIOLOGIADOEQUILÍBRIOÁCIDO-BASE Aformacomooorganismoregulaa concentraçãodosíonshidrogênio(H+ ), édefundamentalimportância,paraa avaliaçãodasalteraçõesdoequilíbrio entreosácidoseasbasesnointeriordas células(líquidointracelular), nomeio líquidoqueascerca(líquidointersticial) enosangue(líquidointravascular). CONCEITODE ÁCIDOEBASE Os elementos importantes para a função celular, sob o ponto de vista químico, estão em solução. Uma solução é um líquido formado pela misturadeduasoumaissubstâncias, inteiramentedispersasentresí,deum modohomogêneo.Umasoluçãocon- siste de um solvente, o componente principal, e um ou mais solutos. O organismohumanocontém60a80% deágua,conformeaidadedoindivíduo e, nas soluções biológicas, a água constituiosolventeuniversal.Asdemais substânciasemsolução,constituemos solutos. Emumasoluçãobiológicaumsoluto podeestaremestadoionizado,ouseja, oselementosouradicaisquímicosque acompõem,estãodissociadosunsdos outros;aporçãodasubstânciaqueexiste no estado dissociado ou ionizado é chamadaíon.Umaoutrapartedosoluto existenoestadonãoionizado;ambas coexistem, em um tipo especial de equilíbrioquímico. Existemsubstâncias,comoosácidos fortes, as bases fortes e os sais, que permanecememsolução,quasecom- pletamente no estado ionizado, en- quantooutrassubstâncias,comoos ácidosebasesfracaspermanecemem solução,emgráusdiversosdeionização. Aáguatemsempreumpequenonúmerode moléculas,noestadoionizado. Umácidoéumasubstânciacapazde doar prótons (H+ ). Uma base é uma substânciacapazdereceberprótons.Em outraspalavras,osácidossãosubstâncias que,quandoemsolução,temcapaci- dadedecederíonshidrogênio;asbases sãosubstânciasque,quandoemsolução, temcapacidadedecaptaríonshidro- gênio. Um ácido forte pode doar muitos íonshidrogênioparaasoluçãoeuma base forte pode captar muitos íons hidrogêniodasolução.Soluçõesácidas
  • 5. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 311 ebásicasnasmesmasconcentrações, neutralizam-se volume a volume, qualquerquesejamoácidoouabase. DETERMINAÇÃODA ATIVIDADEDOÍON HIDROGÊNIO A presença e a atividade dos íons hidrogênio em uma solução e nos sistemasbiológicos,deveseravaliada peladeterminaçãodaquantidadede hidrogênio livre. Para a avaliação do hidrogêniolivrenassoluçõesdeácidos oudebases,usa-seaunidadepH.O termopHsignificapotênciadehidro- gênio; foi criado para simplificar a quantificaçãodaconcentraçãodeH+ na águaenassoluções. Asubstânciapadrão,utilizadacomo referênciaéaágua.Aáguasedissocia, em pequena quantidade, em íons hidrogênio (H+ ) e hidroxila (OH- ). A constantedeionizaçãodaáguaémuito pequena,bemcomosãopequenasas quantidadesdeH+ eOH- ,emsolução. A quantidade de hidrogênio livre na água é 0,0000001. Para facilitar a comparaçãodestaspequenasquanti- dadesdeíons,Sorensenadotouafração exponencial,aoinvésdafraçãodecimal. Assim,Sorensenreferiu-seàconcen- traçãode10-7 ,comoa“potênciasetedo hidrogênio”,paradefinirasuaquanti- dadenaágua.Hasselbalchcriouotermo pH,paraexpressarologarítimonegativo daatividadedoíonhidrogênio.OpH deumasolução,portanto,éoinverso dasuaconcentraçãodeíonshidrogênio. AconvençãodeHasselbalchpermite queosvaloresdaatividadedohidro- gênionassoluções,sejamexpressosem númerospositivos.AescaladopH,varia de0a14,representandoaacidezoua alcalinidadedeumasolução,emcompa- raçãocomaágua. Pelasquantidaderelativasdeíons hidrogênio (H+ ) e hidroxila (OH- ), a águatemumaconcentraçãototaldeíons de10-14 ,quecorrespondeapartesiguais, ouseja10-7 ,decadaumdosíons.Dessa forma,aáguatemopH=7e,pelassuas características, é considerada uma substâncianeutra,ousejanemácida nembasee,servedepadrãodecompa- raçãoparatodasassoluções. AssoluçõescujopHestáentre0e7 sãoditasácidas;asquetemopHentre 7e14sãoditasbásicasoualcalinas. Seacrescentarmosbaseforteaum ácidofraco,oácidoseráneutralizadoà medidaqueabaseégotejadanasolução, formando-sesal.Serepresentarmosa escalalogarítimadepH,emrelaçãoàs quantidadesadicionadasdebase,traça- remosumacurvadetitulaçãodoácido, que forma um S suave. O pH varia rapidamente, até um certo ponto e, dessepontoemdiante,hánecessidade da adiçãodemaiorquantidadedebases paraqueopHvolteasubir. REGULAÇÃODOPH NOORGANISMO Quandoseadicionaácidoàágua, mesmoempequenasquantidades,opH sealteraràpidamente.Omesmoocorre comaadiçãodebases.Pequenasquan-
  • 6. 312 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA tidades de ácido ou de base podem produzirgrandesalteraçõesdopHda água. Seadicionarmosácidooubaseao plasma sanguíneo, veremos que há necessidadedeumaquantidadeapre- ciável de um ou de outro, até que se produzamalteraçõesdopH.Obalanço entreácidosebasesnoorganismoéuma buscaconstantedoequilíbrio;oplasma resisteàsvariaçõesbruscasdopH.O plasma,portanto,dispõedemecanismos dedefesacontraasalteraçõesdopH. Osmecanismosdedefesadoorga- nismocontraasvariaçõesbruscasdo pH,sãoquímicosefisiológicos,eagem em íntima relação. Os mecanismos químicossãorepresentadosporconjun- tosdesubstânciascapazesdereagirtanto com ácidos quanto com bases, neu- tralizando-as, e dificultando as osci- lações do pH. Os mecanismos fisio- lógicossãorepresentadospelospulmões epelosrins,queeliminamsubstâncias indesejáveisouemexcesso,ácidosou bases,epoupamoutras,deacordocom asnecessidadesdomomento. Omecanismodedefesadenatureza respiratória é o mais imediato, para corrigiralteraçõesagudas,comoasque ocorrem durante a circulação extra- corpórea. O principal produto do metabolismo é o dióxido de carbono (CO2),queéafontedeácidocarbônico (H2CO3), por reação química com a água(H2O).Ospulmõeseliminamo dióxidodecarbono,reduzindooteor deácidosnosangueedemaiscompar- timentoslíquidosdoorganismo. Os mecanismos renais são mais lentos e tardios; seus efeitos não são apreciáveis naquelas alterações. A principalfunçãodosrinsnobalanço ácido-baseépromoverapoupançaoua eliminaçãodebicarbonato,conformeas necessidadesdoorganismo. SISTEMAS “TAMPÃO” Um par de substâncias, capaz de reagirtantocomumácidoquantocom umabase,échamadosistematampão. Umsistematampãoéconstituido porumácidofracoeoseusaldeuma baseforte,emrelaçãoconstante,para combinarcomácidosebasesemexcesso eevitarvariaçõesdopH. Os tampões são substâncias que dificultam as alterações do pH pela adição de ácidos ou bases. São fun- damentais ao organismo, porque o metabolismo gera muito ácido. A regulaçãodoequilíbrioácido-baseno organismo, depende da atuação dos sistemastampãoexistentesnosangue (líquido intravascular), nos tecidos (líquido intersticial) e no interior das células(líquidointracelular).Ossiste- mastampãosãotambémconhecidos, pelasuadenominaçãoinglesa:sistemas “buffer”. A tabela 17.1 lista os principais sistemastampãodoorganismoeassuas quantidadesrelativas. Quandoumácidoseacumulaem maior quantidade no organismo, é neutralizado no sangue, no líquido intersticialenointeriordascélulas,em partesaproximadamenteiguais,ouseja,
  • 7. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 313 1/3doácidoéneutralizadonosangue, 1/3éneutralizadonolíquidointersticial e 1/3 no líquido intracelular. Este último é o que mais demora a ser solicitadoeativado. Tabela 17.1. Principais sistemas “tampão”do organismo. O sistema do bicarbonato é o mais abundante e extremamente importante na neutralização dos ácidos formados pelo metabolismo celular. Composição do sistema Percentual do total Bicarbonato/Ácico carbônico 64% Hemoglobina/Oxihemoglobina 28% Proteinas ácidas/Proteinas básicas 7% Fosfato monoácido/Fosfato diácido 1% Osistemabicarbonato/ácidocar- bônico é o de maior importância na regulaçãodopH,duranteacirculação extracorpórea.Abasefortedestesistema éobicarbonatoeoácidofracoéoácido carbônico. Quando um ácido se acumula no sangue, o bicarbonato do sistema tampão se combina com o mesmo, alterando o equilíbrio próprio do sistematampão.Oácidocarbônicoem excesso,sedissociaemCO2eH2Oeo dióxidodecarbonoéeliminadopelos pulmõesoupelooxigenador. Ossistemastampãoagememsincro- nismo,etodosparticipamdaregulação dopH.Osistematampãosealtera,para restabelecer o pH; a seguir procura refazer o seu próprio equilíbrio quí- mico. OpHdoplasmasanguíneotraduz asreaçõesdeuminfindávelnúmerode substânciasdissolvidas,inclusiveos sistemas tampão; seu valor normal correspondeàumaestreitafaixaque variaentre7,35e7,45. REGULAÇÃO RESPIRATÓRIA DOPH O metabolismo normal produz ácidos,quesãoneutralizados,elimi- nados do organismo ou são incor- porados à outras substâncias. Em condiçõesnormaisdemetabolismo,são produzidospordia,porumindivíduo, cercade12.000miliequivalentesdeH+ , ou 12.000 miliequivalentes de CO2. Menosde1%desseácidoéexcretado pelos rins. O dióxido de carbono é transportadonosangue,sobaformade um ácido volátil (H2CO3 H+ + HCO3 H2O + CO2), o ácido carbô- nico,eeliminadopelospulmões.Em solução aquosa, como no plasma, o CO2éhidratado,formandooH2CO3 (ácidocarbônico),quesedissociaem H+ e HCO3- . O sangue venoso trans- porta,dessaforma,odióxidodecarbono produzidonostecidosatéospulmões, onde se difunde pela membrana al- veolo-capilar, para o ar dos alvéolos; durante a perfusão o sangue venoso transportaoCO2aooxigenador,onde se difunde para o ar ambiente. O oxigenadordesempenhaomesmopapel dospulmões,naregulaçãodoequilíbrio ácido-base durante a perfusão. As oscilações e a transferência do CO2, dependemapenasdaventilação;aágua éreaproveitadapelostecidosouelimi- nadapelosrins. Quando o CO2 não é eliminado adequadamente,acumula-senosangue ereagecomaágua,aumentandooteor de ácido carbônico. O ácido é par-
  • 8. 314 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA cialmenteneutralizadopelobicarbonato dosistematampão,masdeixalivreum excesso de H+ , que tende a reduzir o pH. Ao contrário, quando o CO2 é eliminadoemexcesso,nooxigenador, obicarbonato(NaHCO3)sedissocia. O sódio (Na+ ) livre, forma sais dife- rentes do bicarbonato e o íon HCO3- reage com a água (H2O), formando ácidocarbônicoeíonshidroxila(OH- ). Osíonshidroxilacombinam-seaosíons hidrogênio (H+ ) para formar água. A produção de H2CO3 reduz o teor de H+ no sangue, com consequente elevaçãodopH. Aregulaçãorespiratóriadoequilíbrio ácido-baseéfeitaexclusivamenteatravés da regulação do CO2. Alterações da ventilação no oxigenador, podem produzir quebra daquele balanço e interferircomometabolismocelular. REGULAÇÃORENAL DOPH Osmecanismosdedefesacontraas alteraçõesdopHsanguíneo,incluem um mecanismo de ação rápida, o respiratórioeomecanismorenal,de ação mais lenta e eficaz apenas para compensaralteraçõescrônicasoude longaduração.Acompensaçãorenaldo pH,éeficazapós24a48horasenão ocorre significativamente, durante a circulaçãoextracorpórea.Viaderegra, ospulmõeseliminamassubstâncias voláteis(gases)eosrinseliminamas substânciasqueospulmõesnãotem capacidadedeeliminar.Acompensação renal, entretanto, é mais completa, porque retorna o poder de tampo- namentodosangueaníveisnormais, refazendo o seu principal sistema tampão.Osrinsexcretam,diariamente, 50miliequivalentesdeíonshidrogênio ereabsorvem5.000miliequivalentesde íonbicarbonato. Além de influir na restauração do equilíbrioácido-base,acompensação renaléamaisimportante,namanu- tençãodaconstânciadomeioambiente dascélulas,olíquidoextracelular.Os rinsreagemaosdistúrbiosdaosmo- laridade,desidrataçãoehipotensão, eliminandoácidosnãovoláteisenão carbônicos. PARÂMETROSDOEQUILÍBRIOÁCIDO-BASE Os valores que analisam os parâ- metros do equilíbrio ácido-base do sangue,expressamaintegraçãoentreas diversassubstâncias,ossistemastampão e os mecanismos de regulação res- piratóriaerenal. Osparâmetrosimportantesparaa análisedoestadodoequilíbrioácido- base são o pH, a tensão parcial de dióxidodecarbononosangue(pCO2) e oteordebicarbonato(HCO3). OpHdefineseháacidoseoualca- lose,conformeseuvalorestejaabaixo ouacimadafaixadenormalidadedo
  • 9. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 315 sangue.SeopHestiverabaixode7,35, dizemos que existe acidose. Se, ao contrário,opHestiveracimade7,45, dizemosqueháalcalose. AtensãoparcialdeCO2nosangue (pCO2)defineaexistênciaeográude distúrbiorespiratório,relativoàelimi- naçãododióxidodecarbono.Afaixa normalparaapCO2éde35a45mmHg. Obicarbonato“standard”oubicar- bonatopadrãoéoteordebicarbonato equilibradocomumamisturagasosa com tensão parcial de dióxido de 40mmHg(pCO2=40mmHg).Obicar- bonatoreal,éaquantidadedebicar- bonatoexistentenaamostradesangue analisada.Podecoincidircomobicar- bonatopadrão,quandoseránormal,ou poderefletirosdistúrbiosexistentes. Abasetampãooubasetotal,corres- pondeàsomadoteordebasesdoplasma ouseja,asomadasconcentraçõesde todas as bases contidas no sangue, compreendendo todos os sistemas tampão. A diferença de bases, (BE ou BD) denominaçãoparaexcessodebases(BE) ou para o seu déficit (BD), reflete o excesso ou a diminuição das bases tampão,emrelaçãoaoseuvalornormal. Ovalornormalparaadiferençadebases variaentre0e 3. O bicarbonato real, o excesso ou déficit de bases, não são medidos diretamentenaamostradosangue;o bicarbonato é derivado à partir das dosagensdopHedopCO2eoexcesso de bases é determinado à partir dos valores do pH, do pCO2 e da hemo- globina,paradimensionarostampões existentesnosglóbulosvermelhos.O resultadodaquelesvaloreséexpresso emmiliequivalentesporlitro(mEq/l) debases,acimaouabaixo,dosvalores normaisdebases. Ovalordatensãoparcialdeoxigênio (pO2)medidonamesmaamostrade sangue,informaoestadodaoxigenação do sangue (amostra arterial) ou da utilização do oxigênio pelos tecidos (amostravenosa);nãotemsignificado naapreciaçãodosdistúrbiosdoequilí- brioácido-base. CLASSIFICAÇÃODOSDISTÚRBIOSDOEQ. ÁCIDOBASE Asalteraçõesdoequilíbrioácido-base correspondem,emessência,àsvariações daconcentraçãodeíonhidrogêniono sangue.Oaumentodaquantidadede íonshidrogênio,reduzopHe,portanto, produz acidose. A redução da quan- tidadedeíonshidrogênio,aumentao PHe,aocontrário,produzalcalose.As alteraçõespronunciadasdopH,nãosão bemtoleradaspeloorganismo.Afaixa detolerânciadoorganismohumanose situaentre6,8e7,8;valoresforadaquela faixa,abaixode6,8ouacimade7,8,são extremamentedificeisdereverter.Um
  • 10. 316 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA valordepHinferiora6,8,comgrande frequência,indicaacidoseirreversível. Conformeaorigem,osdistúrbiosdo equilíbrioácido-base,acidoseoualca- lose,podemserdenaturezametabólica ourespiratória.Emcondiçõesnormais existe um delicado balanço entre os componentesmetabólicoerespiratório, que determina a estabilidade do pH, dentrodafaixanormal,representado pelaseguinteequação: ComponenteMetabólico pH= ---------------------------- ComponenteRespiratório Quandooorganismoacumulaácidos oriundos do metabolismo, o pH do sanguesereduz;dizemosqueaacidose é de origem metabólica. Quando o organismoacumulaCO2,nãoelimi- nadoadequadamentepelaventilação,o pHsereduz;dizemosqueaacidoseé deorigemrespiratória. Seoorganismoacumulabasesem excesso,porexemploobicarbonato,o pHseeleva;dizemosqueaalcaloseé deorigemmetabólica.Seoorganismo elimina CO2 em excesso por hiper- ventilação,opHseeleva;dizemosque háalcaloserespiratória. Acidose ou alcalose respiratórias, compreendemalteraçõesprimáriasda ventilação,comocausadodistúrbio. Acidoseoualcalosemetabólicas,com- preendem alterações primárias do metabolismo,comocausadodistúrbio. Osvaloresnormaisdosparâmetros queanalisamoequilíbrioácido-basedo organismosão: pH=7,35a7,45 pCO2=35a45mmHg HCO3= 24 BE= -3 a +3 A tabela 17.2 lista os principais distúrbiosdoequilíbrioácidobaseeas alteraçõesencontradasnaanálisedo sangue. Tabela 17.2 Representa os resultados da análise de amostras de sangue (gasometria), para o diagnóstico das alterações do equilíbrio entre os ácidos e as bases. As setas significam elevação ou redução do valor dos diferentes parâmetros indicados nas colunas; N representa o valor normal. Distúrbio pH pCO2 BE HCO3 Acidoserespiratória N Alcaloserespiratória N Acidosemetabólica N Alcalose metabólica N Algumasvêzes,osmecanismosde compensaçãopodemdificultarainter- pretaçãodosresultadosdasamostras, paraodiagnósticodacausaprimária.Na circulaçãoextracorpórea,entretanto,as alteraçõesocorremmuitorapidamente e,quasesempre,nassuasformaspuras, nãocompensadas.Embora,osmeca- nismos da circulação extracorpórea possam produzir qualquer tipo de distúrbiodoequilíbrioácido-base,as alterações mais encontradas são a acidose metabólica e a alcalose res- piratória. Esta última ocorre, prin- cipalmente, quando se usam os oxi- genadores de bolhas, ótimos elimi- nadoresdeCO2.
  • 11. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 317 ACIDOSE RESPIRATÓRIA Na acidose respiratória o quadro laboratorialencontradoé:pHinferior a 7,35, que caracteriza a acidose e o pCO2acimade45mmHg,quecarac- teriza a retenção de CO2 no sangue, como a causa primáriadodistúrbio. Como as bases do sangue são mobi- lizadasparatamponaroácidocarbônico emexcesso,produtodareaçãodoCO2 comaágua,existeumdéficitdasbases livres e o BE se torna mais negativo, inferior a -3mEq/l. O total de bicar- bonato pode estar pouco acima do normal(24mEq/l),sehouvertempo paraatuaçãodosmecanismosdecom- pensação. Aretençãodedióxidodecarbonoe consequenteacidoserespiratóriapode ocorrerduranteaperfusão,quandohá hipoventilaçãodooxigenador.Ofluxo deoxigênionooxigenadoréinsuficiente para eliminar todo o CO2 produzido pelo organismo.Odióxidodecarbono acumulanascâmarasdooxigenadore equilibraasuatensãocomosangue.A pCO2 do sangue aumenta progres- sivamente, forma-se um excesso de ácidocarbônico,cujafraçãodissociada, libera H+. Nosoxigenadoresdemembranasa retenção de CO2 pode ocorrer pela administraçãodegásricoemoxigênio (FiO2elevada)porémcomfluxobaixo. NessescasosapO2énormaleapCO2 éelevada. AretençãodeCO2,comprodução de acidose respiratória, durante a perfusão, pode ocorrer ainda por alteraçõesdomecanismodispersorde oxigênionacâmaradeoxigenaçãodos oxigenadoresdebolhas,geralmentepor defeitos de fabricação ou controle. O mais comum é que ocorra escape de oxigênio dentro da câmara de oxige- nação, sem que o gás atravesse o dispersor,sendoinútilparaaadequada oxigenaçãoeefetivaremoçãodeCO2. Esse problema deve ser suspeitado quandooaumentodofluxonalinhade gásdooxigenadordebolhas,nãocorrige aacidoserespiratória. Aacidoserespiratóriapodedeprimir omiocárdioefavoreceroaparecimento dearritmias;essacombinaçãodefatores podedificultarasaídadeperfusão.As necessidadesdeagentesanestésicose relaxantesmuscularesaumentam,para manter o mesmo plano anestésico. Pode,ainda,ocorrersudoreseintensa, mesmonopacienteanestesiadoeedema cerebral. A acidose respiratória durante a perfusãodevesertratadapeloaumento daofertadeoxigênioaooxigenadorde bolhasoupeloaumentodaofertadegás ao oxigenador de membranas, sob controlerigorosodagasometriaarterial. Ovalordobicarbonatototalénormal ouelevadoeaadministraçãodebicar- bonato de sódio é desnecessária e ineficaz.
  • 12. 318 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA ALCALOSERESPIRATÓRIA Aalcaloserespiratóriaéodistúrbio maisfrequentenotranscursodacircu- laçãoextracorpórea,principalmente quandoseutilizamosoxigenadoresde bolhas.Ofluxodeoxigêniohabitual- menteinstiladonooxigenadorésufici- enteparaoxigenaradequadamenteo sanguevenoso,porém,excessivoparaa eliminaçãodoCO2,removendo-oem excesso,nacâmaradeoxigenaçãodo aparelho,oquereduzsubstancialmente apCO2. OCO2éeliminadoparaoexterior do aparelho, carreado pelo fluxo de oxigênioqueatravessaooxigenador.O ácidocarbônicodosanguediminuie provoca a redução concomitante do bicarbonato. Oquadrolaboratorialérepresentado pelopHsuperiora7,45eapCO2abaixo de 35 mmHg. O BE se mantém inal- teradooupodeelevar-sefracamente;o bicarbonato plasmático se reduz a menosde24mEq/l. Acompensaçãodasalteraçõesdo equilíbrioácido-baseédemoradae,ao contrário do que se acreditava, o organismo não compensa a alcalose respiratóriapelaproduçãodeacidose metabólica.Istoapenasocorrequando aalcaloseduramaisde12a18horas. Pacientes operados sob regime de alcaloserespiratória,nãodesenvolveram acidosemetabólica,comomecanismo decompensaçãododistúrbioprimário. A alcalose respiratória é extre- mamente comum, na perfusão com oxigenadoresdebolhas,principalmente quandoosfluxômetrosdegásusados nãosãoprecisoseapenaspermitem ajustesdefluxode1em1litro;nessas circunstâncias a hiperventilação é a regra. O ajuste correto dos fluxos de oxigênionosoxigenadoresdebolhas, para moderar a eliminação de CO2, apenaspodeserfeitoquandoseutilizam fluxômetrosadequados,calibradosem frações de litros, especialmente na perfusãoinfantil,emqueosfluxosde gássão,ainda,menores. Aalcalosesevera,comapCO2abaixo de25mmHg,especialmentequando prolongada,podeproduzirvasocons- trição, que se manifesta com maior intensidadenosvasoscerebrais.Podem resultar, quadros psiquiátricos ou neurológicos de gravidade variável, incluindoconvulsões,queserãomani- festosnopós-operatórioimediato. Naalcaloserespiratória,hádesvio paraaesquerda,dacurvadedissociação daoxihemoglobina,quecorrespondeà umamaiorafinidadedahemoglobina pelooxigênio,tornandomaisdifícila sua liberação nos tecidos. Nestas condições, embora o sangue arterial estejacompletamentesaturadoeapO2 estejaelevada,aliberaçãodeoxigênio nostecidospodenãosersuficientepara ometabolismoaeróbico,oquecausa acidosemetabólica,quevaisemani- festar,nessascircunstânciaspelaredução dasbasesdisponíveis(reduçãodoBE). A alcalose respiratória, durante a perfusão,écorrigidapelareduçãodo fluxodeoxigêniooferecidoaosoxige-
  • 13. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 319 nadoresdebolhasoupelareduçãodo fluxodegásoferecidoaosoxigenadores demembranas. Umpequenográudealcaloserespi- ratória(pCO2acimade28a30mmHg.) ébemtoleradopeloorganismoetem alguns efeitos favoráveis, gerais e cardiovasculares.Hámenornecessidade de agentes anestésicos e relaxantes musculareseafunçãoglobaldocoração, é melhor. O rítmo sinusal é melhor sustentadoeacontratilidademiocárdica éestimulada. ACIDOSE METABÓLICA Aacidosemetabólicaseinicia,sem interferênciarespiratória,poraumento da concentração de H+ , de origem endógenaouexógena.Éumdistúrbio bastantefrequente,duranteacirculação extracorpóreaepodeserproduzidopor diversascausas.Acausamaiscomum daacidosemetabólicaéumadeficiente oxigenação dos tecidos. Os tecidos hipóxicos,sesocorremdometabolismo anaeróbico, cujo produto final é, principalmente,oácidolático.Oácido lático é um ácido fraco, não volátil, e que,portanto,nãopodesereliminado pelo pulmão ou pelo oxigenador. A dissociaçãodoácidoláticoliberaíons hidrogênio, que vão contribuir para reduzir o pH do sangue. O outro produtodadissociaçãodoácidoláticoé o íon lactato. O ácido lático é meta- bolizado no fígado. Entretanto, na acidoselática,asuaproduçãosuperaa capacidadedemetabolizaçãodaquele órgão,permitindooacúmulonosan- gue. Olactatodeslocaosódiodobicar- bonato;alémdisso,comomecanismo decompensação,opulmãoaumentaa eliminaçãodeCO2,paramanteroteor de ácidos do sangue. Este último mecanismoinexiste,duranteaperfusão. Areduçãodaoxigenaçãodostecidos, queinduzaometabolismoanaeróbico, comproduçãoexcessivadeácidolático e acidose metabólica, também pode ocorrernacirculaçãoextracorpórea, quandoofluxoarterialestáreduzidoem relaçãoàsnecessidadesdopaciente, quando há vasoconstrição de deter- minadosleitosvasculares,quandoo sanguearterialnãoestáadequadamente oxigenadoouquandoaoxihemoglobina não libera suficiente oxigênio aos tecidos, por desvios da sua curva de dissociação. Ofluxoarterialpodeestarreduzido pordiversasrazões,comoa estimativa inadequadaparaasnecessidadesdo paciente,oroletearterialmalcalibrado ouareduçãointencional,parafacilitar manobrascirúrgicas. Avasoconstriçãoéextremamente comumduranteaperfusãoedecorreda liberação de catecolaminas e outros produtosvasopressores,estimulados pelostressdacirculaçãoextracorpórea, e pela interação do sangue com as superfíciesnãoendoteliaisdocircuito extracorpóreo. O sangue arterial pode não estar adequadamenteoxigenado,porinsu- ficientefluxodeoxigênionooxigenador ou por defeitos do sistema de oxige-
  • 14. 320 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA naçãodoaparelho,nosoxigenadoresde bolhas. Umaumentodaafinidadedahemo- globina pelo oxigênio (desvio para a esquerdadacurvadedissociaçãoda oxihemoglobina),quedificultaalibera- çãodooxigênionostecidos, podeser produzidopelaexcessivaeliminaçãodo CO2nooxigenadorepelareduçãoda temperaturadosangue. Osangueestocado,bemcomoseus derivados, tem o pH baixo e acidose metabólica,emconsequênciadapreser- vaçãoemsoluçõesácidas,comooACD, CPD e EDTA e, quando usados no perfusato, devem ser neutralizados adequadamente,paraevitaroconsumo de bases do sangue do paciente. As soluçõescristaloidescomumenteusadas noperfusato,sãoigualmenteácidas, comoassoluçõesdeRingerouRinger lactato,cujopHvariaentre5,2e6,4.O perfusatocomestassoluções,também devesertamponado,antesdoinícioda perfusão. Empacientesdiabéticos,submetidos ajejumprolongadoparaacirurgia, pode ocorreracidosemetabólica,porlibera- çãodeácidoscetônicos,produtofinal dometabolismodaglicose,naausência dainsulina. Na acidose metabólica o pH está abaixode7,35,opCO2estánormaleo BE está negativo, com um déficit de basesquevariadeacordocomaseveri- dade da acidose. Geralmente o BE oscila, entre -5 e -10. O bicarbonato totaltambémestáabaixodeseuvalor normal. A acidose metabólica deprime a contratilidademiocárdica;podeprodu- zirdepressãodotonusvascular,arritmi- asventricularesetendeaaumentaro sangramento operatório. A acidose metabólicaproduz,ainda,aumentodo potássioextracelular,quealteraassuas relações com outros íons. A acidose metabólicareduzouabolearespostaaos medicamentos inotrópicos e vaso- pressores. A acidose metabólica durante a perfusãoécorrigidapelaeliminaçãodas possíveiscausasdehipóxiatissulare,se necessário,pelaadministraçãoadicional debases,comoobicarbonatodesódio, de acordo com o gráu de acidose, expressopelovalordodéficitdebases (BEouBD).Ocálculodaquantidade totaldebicarbonatoaseradministrada, éfeitoatravésdefórmulas,dasquaisa maiscomumé:PesoxBEx0,3=Bic. sódio(mldasoluçãoa8,4%). Asoluçãodebicarbonatodesódioa 8,4% contém 1 mEq do sal por cada mililitro.Afórmulausadaparaocálculo da dose de bicarbonato, fornece a quatidadedemiliequivalentesdebase bicarbonato,queprecisaseradminis- trada,paratamponaraacidosecorres- pondente ao déficit de bases deter- minado.Comoasfórmulassãoapenas aproximações de cálculo e outras medidas,visandocorrigiraoxigenação tissularsãotomadas,usa-seadministrar ametadedadosecalculadaerepetira gasometriaapós10ou15minutos. Nãoéraroqueacausadaacidose sejaahipóxiadasmassasmusculares, causadapelavasoconstriçãoqueacom- panhaaperfusão.Nestescasosasimples
  • 15. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 321 administraçãodevasodilatadorespode corrigir a acidose. A experiência tem demonstrado que, quando se usam vasodilatadores desde o início da perfusão,émaisraroodesenvolvimento deacidosemetabólica. ALCALOSE METABÓLICA A alcalose metabólica não é um desvio comum durante a circulação extracorpórea.Podeocorrer,contudo, quando se administram bases em excesso, aospacientes,comoobicar- bonatodesódio. Quandoseadministramdiuréticos, hágrandeeliminaçãodelíquidosede eletrólitos,principalmenteopotássio.A eliminaçãodopotássioacarretaelimi- nação concomitante de íon H+ pela urina e retenção alternativa do íon bicarbonato, que produz a alcalose metabólica. Este mecanismo, entre- tanto,élentoeobservadoapenasem pacientes em uso prolongado dos diuréticos. Na alcalose metabólica o pH está acimade7,45,opCO2estánormale háexcessodebases,comBEpositivo, superiora+3.Obicarbonatotambém estáelevado,acimade24mEq./l. De um modo geral a alcalose me- tabólicaébranda,bemtolerada,enão necessita de qualquer tratamento específico. GASOMETRIA VENOSA OsvaloresnormaisdopHedosgases do sangue referidos no exame dos principais distúrbios do equilíbrio ácido-base, referem-se ao sangue arterial,jáoxigenadoemodificadonos pulmõesounosoxigenadores.Osangue venoso, que conduz os restos meta- bólicoscelulares,coletadosnosistema capilar,temvaloresdiferentes,enão menosimportantes.Aanálisedosangue venosonormal,devemostrarosseguin- tesresultados: pH=7,27a7,39 pCO2=40a50mmHg pO2=35a40mmHg HCO3=22a26mEq/l BE= 2,5 SO2=70a75(Saturaçãodeoxigênio) Amonitorizaçãodosparâmetrosdo equilíbrioácidobase,pH,pCO2eBE é fundamental, durante a perfusão. Medidas simples, como a escolha de fluxômetrodegásadequado,cálculodos fluxosdeperfusãoecuidadosamonito- rizaçãodosaparelhosemuso,contri- buem para minimizar os efeitos da circulação extracorpórea sobre os mecanismosreguladoresdoequilíbrio ácido-basedoorganismo.Aanálisedos gases e do pH do sangue, indica a presença,anaturezaeaseveridadedas alterações do balanço ácido-base e possibilitaacorreçãodassuasalterações. Amaioriadaquelesdistúrbiospodeser prevenidaou,pelomenos,minimizada, pelacriteriosaconduçãodaperfusão. Ográudedissociaçãodaágua,ede
  • 16. 322 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA diversasoutrassubstânciasdoplasma sanguíneo,sealteracomareduçãoda temperaturadoorganismo;emconse- quência, todos os mecanismos da regulaçãoácido-base,igualmentese alteram. Não se conhecem valores “normais”,paraoequilíbrioácido-base duranteahipotermia.Aprincipalrazão residenofatodequeahipotermiaéum estado,absolutamenteanormal,doser homeotérmico.Enquantoamaioriados mecanismosdacirculaçãoextracorpórea procuraaproximá-la,aomáximo,do comportamento fisiológico do ser humano,ahipotermiainduzalterações significativas,nãoobservadasemoutras circunstâncias,anãoseracidentalmente. EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASENA HIPOTERMIA Ainterpretaçãoeosignificadodos parâmetrosdoequilíbrioácido-base, duranteahipotermia,aindasãoobjeto deestudoediscussões.Estamoshabi- tuadosaconsiderarnormais,opHde 7,40eapCO2de40mmHg.Entretanto, istoécorretoapenasàtemperaturade 37o C.Secolhermosumaquantidadede sanguearterialnormal,à37o Ceresfria- mosumaamostra,oCO2setornará maissolúvel.Emconsequência,apCO2 serámaisbaixa,paramanterconstante o conteudo total de CO2. O pH será maiselevado,naproporçãode0,0157 paracadagráudereduçãodetempe- ratura.Avariaçãodopontodeneutra- lidade da água com a temperatura é bastantesemelhante;opHdaáguase elevade0,017paracadagráuderedução datemperatura.Sistemastampãopro- teicos,mantémconstanteasvariações dopontodeneutralidadedoplasmaem relaçãoaodaágua,duranteaexposição doorganismoàsbaixastemperaturas. Umaneutralidaderelativaconstante,do plasmaemrelaçãoàneutralidadeda água,émantidaparaimpedirvariações doequilíbrioentreosácidoseasbases dentrodosistema,emboraosvaloresdo pH e da pCO2 se alterem com o resfriamentodosangue.Arelaçãoentre aquantidadedeíonsH+ eaquantidade deíonsOH- ,émantida. O comportamento dos animais poicilotérmicos, cuja temperatura acompanha a temperatura do meio ambiente, o pH do sangue também acompanhaopontodeneutralidadeda águamasopHdolíquidoextracelular secomportadeoutromodo. Amaneiradeinterpretarasalterações dopHedapCO2dosanguedepende domodeloutilizadoparacompararas variaçõesdopontodeneutralidade.Se considerarmosqueoconteudototalde CO2devepermanecerconstanteeopH devevariarcomatemperatura,estamos aplicandooconceito“alfa-stat”,oude CO2 constante para interpretar o equilíbrioácido-base.Se,considerar- mosqueopHdevesermantidocons- tante em qualquer temperatura, o conteudo total de CO2 deve neces- sariamenteservariado.Nessescasos,o CO2deveseradministradoaopaciente, duranteahipotermiaeestamosusando oconceito“pHstat”oupHconstante,
  • 17. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 323 parainterpretaroequilíbrioácido-base. Aexperiênciasugereeamaioriadas escolasadmitequeoconceitoalfa-stat, do pH variável, é mais próximo dos mecanismos fisiológicos e indica a monitorização do balanço entre os ácidos e as bases, dentro daquele conceito.istosignificaqueparacada gráucentígradodereduçãodatempe- raturaopHseelevade0,0147eapCO2 se reduz em 4%, embora o conteudo totaldeCO2permaneçaconstante. Amanutençãodeadequadairrigação cerebraledosdemaisórgãoséessencial, duranteacirculaçãoextracorpórea.O gráudeauto-regulaçãodofluxosanguí- neocerebraldependedoestadoácido- baseduranteahipotermia.Quandoo pH é mantido constante, a qualquer temperatura,aregulaçãoautomáticado fluxosanguíneocerebraléinterrompida seapressãoarterialmédiaforinferiora 55mmHg. Ao contrário, quando se permitemasvariaçòesdopHdeacordo comatemperatura,aregulaçãodofluxo sanguíneocerebralécontroladapelas própriasnecessidadesmetabólicasdo cérebro, em qualquer temperatura, mesmo com pressão arterial média baixa.Emboraovalormaisadequado da pCO2 em hipotermia não seja conhecido,existeoriscodesurgirem lesõescerebrais,quandoosmecanismos deauto-regulaçãodofluxocerebralsão interrompidos,poradoçãodoregimede pHconstante. O metabolismo celular, a função miocárdica,aincidênciadearritmiase a perfusão cerebral, dentre outros parâmetros de avaliação, parecem melhores, com a estratégia do pH variável,deacordocomatemperatura. MONITORIZAÇÃO DOPHEDOSGASES SANGUÍNEOS As gasometrias arterial e venosa devem ser monitorizadas, durante a circulaçãoextracorpórea.Agasometria arterial oferece informações sobre o estadoácido-basedosanguequevai perfundir os tecidos do paciente e a qualidadedasuaoxigenação;aamostra arterialinformacomprecisãoaquali- dade da função do oxigenador. A gasometriavenosa,aocontrário,infor- masobreaqualidadedaoxigenaçãodos tecidos,oníveldeextraçãodeoxigênio, a adequácia do fluxo da perfusão e também,oestadoácido-base. Atemperaturadosanguedeveser informadaaolaboratório,paraquea análisedopHedatensãoparcialdos gasesdaamostra,sejafeitacontraos padrõesadequadosàtemperatura. Acoletadeamostrasparagasometria deve ser feita a intervalos regulares, ditadospelotranscursodaoperaçãoe deveconsistirde,pelomenos,amostras coletadas,antesdoiníciodaperfusão, apósasuaestabilizaçãoepróximoaoseu término.Oexamedenovasamostras deve,também,serprovidenciadoapós acorreçãodequalqueralteraçãoencon- trada. Modernamente estudam-se má- quinascapazesdeanalisarcontinua- menteaoxigenaçãoeoestadoácido-
  • 18. 324 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA basedosangue,duranteacirculação extracorpórea, com o objetivo de monitorizarastendências,aoinvésdas amostrasisoladas.Nãoseconseguiu,até o momento, demonstrar vantagem apreciávelnaquelanovatecnologiacapaz dejustificarosseuscustoselevados. Alémdisso,ostransdutoressãodedifícil calibraçãoepodemapresentarerrosde leitura,especialmenteduranteahipoter- mia.Entretantoamonitorizaçãodas tendênciasé,semdúvidas,maisatraente queamonitorizaçãodeamostras,que refletemapenasoestadodosangue,no momentodacoletadaamostra.Se,por exemplo,emumaamostracolhidaaos 45minutosdeperfusão,encontrarmos opHde7,20,essevalorpoderárepre- sentarumadeduassituaçõesopostas. Oponto7,20pertenceàumacurvade pHemqueda,ouseja,oPHerade7,35, alguns minutos antes da coleta da amostra,econtinuadecrescendo.Ou, aocontrário,oponto7,20pertenceà umacurvadepHemascenção,ouseja, opHerade7,15algunsminutosantes da coleta da amostra, e continua em elevação.Noprimeirocaso,acorreção da causa da acidose é imperativa, enquantonosegundocaso,asimples observaçãodatendênciaésuficiente.A monitorizaçãodastendênciaspermite alterações da perfusão, capazes de impedirodesenvolvimentodosdistúr- biosdoequilíbrioácido-base,enquanto aanálisedeamostras,permiteaidentifi- caçãoecorreçãodosdistúrbiosexis- tentes.
  • 19. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - Vol I - 325 REFERÊNCIAS SELECIONADAS 1. Amaral, R.V.G. - Alterações do Equilíbrio Ácido- Base em Circulação Extracorpórea. In Circulação Extracorpórea. Temas Básicos. São Paulo, 1985. 2. Davies, L.K. - Hypothermia: Physiology and Clinical Use. In Gravlee, G.P.; Davis, R.F.; Utley, J.R.: Cardiopulmonary Bypass. Principles and Practice. Williams & Wilkins, Baltimore, 1993. 3. Davenport, H.W. - The ABC of Acid-Base Chemistry. 6th edition. University Chicago Press, Chicago, 1974. 4. Dearing, J.P.; Carmelengo, L. - Acid Base Physiology - A self-study module, Vol. II. AmSECT, Reston, 1984. 5. Fagundes, F.E.S. - Equilíbrio Ácido-Base: Estudo Sumário. In Introdução à Circulação Extra- corpórea. Módulo Teórico No 1. SBCEC, Rio de Janeiro, 1985. 6. Hickey, P.R.; Hansen, D.D. - Temperature and Blood Gases: The Clinical Dilemma of Acid-Base Management for Hypothermic Cardiopulmonary Bypass. In Tinker, J.H.: Cardiopulmonary Bypass: Current Concepts and Controversies. A Society of Cardiovascular Anesthesiologits Monograph. The W.B. Saunders Co., Philadelphia, 1989. 7. Mitchell, B.A. - Profound Hypothermia with Circulatory Arrest and Acid-Base Balance. A review. AmSECT, Reston, 1988. 8. Pearson, D.T. - Blood gas control during cardio- pulmonary bypass. Perfusion, 3, 113-133, 1988. 9. Reed, C.C.; Kurusz, M.; Lawrence, A.E.,Jr. - Safety and Techniques in Perfusion. Quali-Med, Sta- fford, 1988. 10. Sethia, B. - Adequacy of perfusion - General review. In, Taylor, K.M.: Cardiopulmonary Bypass. Principles and Management. Williams & Wilkins, Baltimore, 1986. 11. Schabel, R.K.; Berryessa, R.G.; Justison, G.A.; Tyndal, C.M.; Schumann, J. - Ten common perfusion problems: prevention and treatment protocols. J. Extra-Corp. Technol. 19, 392-398, 1987. 12. Shapiro, B.A.; Harrison, R.A.; Walton, J.R. - Clinical Applications of Blood Gases. Year Book Medical Publishers, Chicago, 1977. 13. Swain, J.A.; White, F.N.; Peters, R.M. - The effect of pH on the hypothermic ventricular fibrillation threshold. J. Thorac. Cardiovasc. Surg. 87, 445- 451, 1984.