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Dica nº 1
Estilística – Pronomes (pessoais, possessivos), artigos (definidos e indefinidos) e
“que” – Use só o estritamente necessário. Assim, sua escrita ficará mais enxuta e
elegante.
Como fazer isso? Observe as substituições abaixo:·
• Eu gosto de massas. ® Gosto de massas.
•Tu sabes o que aconteceu? ® Sabes o que aconteceu?
•O garoto chegou acompanhado de sua mãe, que o trouxe bem arrumadinho. ® O
garoto chegou acompanhado da mãe, que o trouxe bem arrumadinho.
•Tenho pelo menos uma idéia na minha cabeça. ® Tenho pelo menos uma idéia na
cabeça. (“Uma” aí não é artigo indefinido, mas numeral.)
•Quero ouvir uma opinião sua. ® Quero ouvir sua opinião.
•Preparei um relatório circunstanciado sobre o assunto. ® Preparei relatório
circunstanciado sobre o assunto.
•Isto é para a sua apreciação. ® Isto é para sua apreciação.
•O meu nariz ardeu ontem. ® Meu nariz ardeu ontem.
•Ele disse que estava pronto para vir. ® Ele disse estar pronto para vir. (Substitui-
se a conjunção integrante “que” e o verbo na forma modal pelo verbo na forma
infinitiva.)
•O secretário-adjunto, que foi nomeado secretário titular, ainda não foi empossado
no novo cargo. ® O secretário-adjunto, nomeado secretário titular, ainda não foi
empossado no novo cargo.
Não há erro gramatical nas frases acima, mas elas ficam mais bem apresentadas
depois de efetuadas as substituições. A frase “Tenho pelo menos uma idéia na
minha cabeça” é pleonástica, isto é, redundante, pois alguém só pode ter idéias na
própria cabeça, não é?
Lembre-se de que as construções pleonásticas viciosas constituem defeito de estilo.
No geral, essas recomendações não necessitam ser seguidas rigidamente, já que há
situações nas quais quem escreve “sente” que com a colocação do artigo indefinido,
por exemplo, o texto fica melhor. Há outras situações em que a interposição do
artigo definido evita cacofonia (sonoridade desagradável), como neste exemplo:
“Enriqueça seu texto”, onde surge o encontro cacofônico “sasseu”. Isto pode ser
evitado desta forma: “Enriqueça o seu texto”.
Dica nº 2
Sintaxe - Crase
– Em princípio, crase é a fusão de duas vogais iguais. Mas quando isso acontece?
Nos textos que você lê ou escreve, a crase ocorre na fusão da preposição “a” com:
• o artigo feminino “a” ® a + a: “Entreguei o documento à diretora”;
• o pronome “a” (equivalente a “aquela”) ® a + a: “Prefiro esta fita à que vimos
ontem”.
• a primeira vogal dos pronomes demonstrativos aquele, aqueles, aquela, aquelas,
aquilo ® àquele (s), àquela (s), àquilo: “Somente entregarei a bola àquele
garoto”.
Essa fusão não fica aparente na pronúncia, mas, sim, na escrita, pois se assinala a
crase com acento grave (`), como se vê nos exemplos acima. Portanto, a + a = à.
Lembre-se: do fenômeno da crase participam, na maior parte do casos, uma
preposição e um artigo ou pronome feminino. Isso traz algumas conseqüências,
como:
1. Só ocorre crase diante de nomes femininos: “Dei o lápis à Joaninha” ou
“Refiro-me à carta de ontem”. (Única exceção: a + aquele = àquele, porque neste
caso não houve fusão da preposição com artigo, mas com a primeira vogal de
pronome demonstrativo.)
2. Só ocorre crase diante de nomes de Estados se eles costumam ser usados
com artigo: “Viajarei à Bahia” ou “Vamos à Paraíba nas férias” , porque dizemos :
“A Bahia fica na região Nordeste” e “A Paraíba tem lindas praias”. Mas não
dizemos: “Viajaremos Santa Catarina” nem “Vamos Rondônia nas férias”, porque
esses nomes são usados sem artigo: “Santa Catarina é Estado sulista” e “Rondônia
é bastante quente”.
3. Só ocorre crase diante de nomes de cidades se eles forem precedidos por
qualificativos, como bela, vibrante, pitoresca, etc.: “Refiro-me à bela Londrina”,
mas “Refiro-me a Londrina”; “Viajou à vibrante São Paulo”, mas “Viajou a São
Paulo”. Observe que este “a” é preposição = para. Aí surge uma questão: por que
houve crase em “Viajou à vibrante São Paulo”, se a crase é a fusão da preposição
“a” com o artigo feminino “a” e São Paulo é nome masculino? Por quê, hem?
Elementar, meu caro internauta: porque aí está subentendida a palavra cidade. É
por isso que poderíamos, sem problema algum, dizer: “Vamos à bela São Paulo”,
“Dirigimo-nos à linda Lençóis”, etc.
4. Não ocorre crase diante de pronomes pessoais (retos ou oblíquos): “Dê a ela
este livro”, não “Dê ela este livro”; “Dê a mim o que me cabe”, mas não “Dê mim
o que me cabe”, porque esses pronomes não são usados acompanhados de artigo.
Você já viu que para haver crase tem de haver preposição mais artigo. Se a palavra
não é usada acompanhada de artigo, nada de crase.
5. Não ocorre crase diante de numerais: “Ponte a 50 metros”, mas não “Ponte
50 metros”; “Daqui a 20 anos”, mas não “Daqui vinte anos”. Isto pela mesma
razão do caso 4, ou seja, os numerais não são acompanhados de artigo, já que não
se diz “o dois”, “os 50”. Se alguém disser, estará subentendendo alguma palavra,
como “o dois (o número dois)” e “os 50 (os anos 50)”. Nesses casos, o artigo
estará acompanhando aqueles nomes (número, anos) e não os numerais.
Dica nº 3
Semântica – Paronímia
– Paronímia é o fenômeno lingüístico pelo qual palavras de significados diferentes
apresentam estrutura fonética – digamos, sonoridade – e grafia semelhantes. A
rigor, os parônimos não deveriam ser estudados em Semântica, disciplina que se
ocupa do estudo do significado de elementos da língua. Entretanto, isso acontece
porque os significados dessas palavras são muitas vezes confundidos e toma-se
equivocadamente um no lugar do outro. Exemplos de parônimos: instrumentar
(dotar alguém de instrumento, de meio de fazer algo) e instrumentalizar (fazer de
instrumento alguém, um grupo de pessoas, uma organização; manipular,
manobrar). Assim, “vamos instrumentar os recém-formados para poderem sair logo
em campo” e “o que ele pretende é instrumentalizar a associação em benefício
próprio”. Instrumentar não está no dicionário com esse significado e
instrumentalizar ainda não está dicionarizada. Como se vê, os dicionários estão
sempre atrasados com relação à realidade viva da língua... Não é porque a palavra
não está no dicionário que ela não existe.
Veja outros exemplos: mandato (delegação que se concede a alguém para fazer
algo em nosso nome) e mandado (ordem escrita expedida por autoridade judicial).
Dessa maneira, os deputados recebem mandato do povo para representá-lo e
agirem no interesse popular, pelo menos é o que se espera que façam. Já o
mandado foi assinado pelo juiz para autorizar busca e apreensão de algo na casa
de alguém.
Mais um: felina (adjetivo feminino relativo a uma classe de animais, os felinos) e
ferina (adjetivo feminino relativo a fera). Dizemos, pois, “pegada felina” e “crítica
ferina”.
Dica nº 4
Por que, por quê, porque, porquê
Esses quatro aí complicam muita gente, menos pela complexidade dos conceitos e
mais por falta de “pegar-se o touro a unha” e aprender. A grafia desses vocábulos
varia conforme o significado que apresentam e a posição na frase. Vamos a eles:
1. Por que
Uso 1 – Grafa-se separadamente e sem acento quando a expressão puder ser
substituída por pelo qual, pela qual e seus plurais. Assim, em “Aquele é o portão
por que devo entrar”, posso substituir o “por que” por pelo qual. Em “Essas são as
razões por que não permaneci no cargo”, posso substituir o “por que” por pelas
quais.
Classe de palavra – Preposição por + pronome relativo que.
Uso 2 – Grafa-se da mesma maneira quando “por que” puder ser substituída por
por qual motivo, por qual razão. Exemplos: “Por que você faltou?” e “Não sei por
que a semente não germinou”.
Classe de palavra – Preposição por + pronome interrogativo que.
2. Por quê
É o mesmo caso do “uso 2”, acima, mas aqui o pronome interrogativo termina a
frase e depois dele, portanto, vem algum sinal de pontuação: “Afinal, a Marina não
veio, por quê?” e “Não me pergunte por quê, já lhe disse.” Como vimos, grafa-se
separadamente e com acento circunflexo no “e”.
3. Porque
Uma só palavra, sem acento gráfico. Introduz noção de causa ou alguma
explicação.
-Classe de palavra
Conjunção subordinativa causal: “O Brasil é país injusto porque sua elite é egoísta”.
A causa de o Brasil ser país injusto é sua elite ser egoísta. (Equivale a uma vez
que.)
Conjunção coordenativa explicativa: “Precisei afastar-me porque alguém se
aproximou”. A aproximação de alguém explica meu afastamento. (Equivale a pois.)
4. Porquê
Uma só palavra, acentuada.
Classe de palavra – Substantivo. É empregada antecedida de artigo, adjetivo,
pronome, numeral, enfim, de vocábulos que normalmente acompanham um
substantivo.
Exemplos: “Gostaria de saber o porquê disso tudo”. “Quer saber por quê? Tenho
pelo menos dois porquês.” Significa razão, motivo
Dica nº 5
Fonética/Fonologia - Se alguém lhe perguntar quais são as vogais portuguesas,
você rapidamente vai responder: a, e, i, o, u, não é mesmo? Foi assim que todos
aprendemos e é assim que milhares de professores continuam ensinando...errado.
Não se espante, é isso mesmo. E por quê? Porque quando se ensina assim está-se
confundindo fonema com letra e, antes de ser letra, a vogal (e a consoante
também) é fonema. Vejamos como as coisas se passam.
Sabemos que algumas letras representam graficamente mais de um fonema. É o
caso do "x", que representa os fonemas /z/ (exame), / s / (experiência), / š /
(faixa), / ks / (fixo). Isso também acontece com as vogais. Dessa maneira, temos
as seguintes vogais orais:
/a/ (par, cano)
/e/ (mel, café)
/e/ (vez, você)
/i/ (giz, ali)
// (sol, avó)
/o/ (pôs, coco)
/u/ (luz, azul)
Todas essas vogais são fonemas distintos, porque sua troca pode acarretar
mudança de significado. Por exemplo, se em "selo"(estampilha), trocarmos /e/ por
/e/, teremos "selo" (flexão do verbo selar, eu selo); se em "nós" (pronome reto ou
plural de "nó") trocarmos o // por /o/, teremos "nos", pronome oblíquo da primeira
pessoa do plural, e assim por diante.
Então, na verdade, temos sete vogais orais, representadas por cinco letras, a
saber:Fonema vogal
/a/
/e/
/e/
/i/
//
/o/
/u/ Letra correspondente
a
e
e
i
o
o
u.
Você vai dizer agora que está tudo explicado e acabado, não é? Ainda não. Faltam
as vogais nasais. São elas:
/ã/ (maçã, ampola, antes)
/ẽ/ (sempre, pente)
/ ĩ / (fim, cinto)
/õ/ (compra, ponto)
/ű/ (um, fundo).
Temos a seguinte correspondência entre vogais nasais e letras: Fonema vogal
Letras correspondentes
/ã/ ã, am, an
/ẽ/ em, en
/ ĩ / im, in
/õ/ õ, om, on
/ű/ um, un
Em resumo, temos, em português, 12 vogais, das quais sete são orais e cinco,
nasais, ou seja:
/a/, /e/, /e/, /i/, //, /o/, /u/, /ã/, /ẽ/, / ĩ /, /õ/, /ű/.
Dica nº 6
Morfologia - Verbo
Faz ou fazem vinte anos?
Quando o verbo fazer é empregado no sentido de decorrer tempo, é impessoal, isto
é, não tem sujeito e, conseqüentemente, permanece invariável na terceira pessoa
do singular. Dessa forma, diz-se: "Faz um mês que Francisca chegou" e "Faz vinte
anos que moro aqui". Se, nesse caso, "fazer" estiver acompanhado de verbo
auxiliar, este também ficará invariável: "Vai fazer cinco meses que não chove na
região" e "Deve fazer 95 anos que meus avós chegaram da Espanha".
Entretanto, na expressão fazer anos, ou seja, aniversariar, o verbo "fazer" tem
sujeito e, portanto, flexiona-se normalmente. Exemplos: "Gabriel faz cinco anos no
dia 17", "As gêmeas fazem 15 anos em setembro" e "Fazem 30 anos aqueles fatos
narrados". (Neste exemplo, "aqueles fatos narrados" é sujeito de "fazem 30 anos".)
Dica nº 7
Fui eu que fiz, fui eu quem fez ou fui eu quem fiz?
Quer saber mesmo? Pois todas estão corretas. Vejamos:
Fui eu que fiz - Justificativa - O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que
concorda em número e pessoa com o antecedente, a palavra que precede esse
pronome. Exemplos: "Foi ele que te nomeou", "Sou eu que vou agora", "Fomos nós
que escrevemos a carta" e "Serão os pais dele que receberão a herança".
Fui eu quem fez - Justificativa - Se o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo,
geralmente, permanece na terceira pessoa do singular. Exemplos: "Foi ele quem te
nomeou", "Sou eu quem vai agora", "Fomos nós quem escreveu a carta" e "Serão
os pais dele quem receberá a herança".
Fui eu quem fiz - Justificativa - Se o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo
pode ser influenciado pelo sujeito da oração anterior, com o qual acaba
concordando. Exemplos: "Sou eu quem vou agora", "Fomos nós quem escrevemos
a carta" e "Serão os pais dele quem receberão a herança".
Dica nº 8
Ao invés de ou em vez de?
As duas formas estão corretas, cada uma com seu sentido.
"Ao invés de" significa "ao contrário de" e usa-se quando se colocam em oposição
idéias contrárias. Exemplos: "Ao invés de economizar, Gilda gastou todo o dinheiro"
e "Teria sido melhor se Mário, ao invés de falar, ficasse quieto".
"Em vez de" quer dizer "no lugar de" e usa-se tanto no primeiro caso como quando
as idéias não são contrárias, por exemplo: "Manifeste-se, em vez de se omitir",
"Em vez de crase, estude regência nominal agora" e "Por que você não usa a blusa
amarela, em vez dessa (de + essa) feiosa aí?".
Assim, é incorreto dizer-se "Ao invés de ir à padaria, foi ao supermercado", pois
padaria não encerra idéia contrária à de supermercado.
Dica nº 9
EUA ou E.U.A.? VASP ou Vasp?
É dúvida comum essa, a de como grafar as siglas. Estas são formas abreviadas,
geralmente compostas das letras iniciais dos nomes de organizações, empresas e
até de pessoas. A propósito, políticos costumam ser conhecidos pelas iniciais de
seus nomes, que formam siglas. Por exemplo, o ex-presidente Juscelino Kubitschek
era e é conhecido por JK. Jânio Quadros também foi muito citado na imprensa
como JQ. Outros personagens menos exemplares também são conhecidos por
siglas, como PC e EJ. O nome "Estados Unidos da América" pode ser convertido na
sigla EUA ou E.U.A. A Viação Aérea São Paulo S. A. corresponde a VASP ou Vasp.
Mas, afinal, como se deve escrever as siglas? Sigla - Tipo especial de abreviação
formada pelas letras iniciais de nomes de organizações (por ex., partidos políticos),
empresas, órgãos públicos, etc.
Exemplos:
PPB - Partido Progressista Brasileiro
PT - Partido dos Trabalhadores
OAB - Ordem dos Advogados do Brasil
ONU - Organização das Nações Unidas
Banespa - Banco do Estado de São Paulo S. A.
Varig - Viação Aérea Rio-Grandense S. A.
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SHIN - Setor Habitacional Individual Norte.
As siglas, uma vez popularizadas, comportam-se como verdadeiros substantivos e,
como tais, estão sujeitas aos fatos próprios dessa classe de palavras, como flexão
de número e o acréscimo de prefixos e sufixos. Através deste recurso, a sigla é
sentida como palavra primitiva, podendo produzir derivadas. Assim: pró-OAB,
petismo, pepebista.
Particularidades das siglas:
· Plural - As siglas podem admitir marca de plural, um "s" minúsculo, sem
apóstrofo: CEPs, QSLs, PPAs. Mas também podem permanecer na forma singular e
o plural é marcado pelo vocábulo que as acompanha: os QSO.
· Pontos no interior da sigla - A norma oficial prevê o uso de pontos para marcar
essa forma reduzida, mas o próprio Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (PVOLP) apresenta exemplos com e sem pontos. A tendência
generalizada é a da supressão dos pontos. Assim, E. U. A. ou EUA.
· Maiúsculas ou minúsculas - O PVOLP admite a sigla escrita com todas as iniciais
maiúsculas ou somente a primeira. Dessa forma, podemos grafar VASP ou Vasp.
Dica nº 10
Daqui a 50 km ou daqui há 50 km?
Freqüentemente, confunde-se "a" com "há", mas não há razão para isso - embora
sejam homônimas (têm a mesma pronúncia) -, pois são palavras com uso bem
distinto.
Neste contexto, "a" é preposição e indica distância a percorrer a contar de
determinado ponto. Portanto, o cabível é "Daqui a 50 km", que equivale a
"cinqüenta quilômetros a contar daqui". Outro exemplo: "Daqui a 10 km, você
encontrará um posto de gasolina".
Quando se quer expressar noção de tempo futuro, recorre-se novamente à
preposição "a". Assim, "Daqui a cinco anos, Vanessa estará uma bela moça",
"Como estará São Paulo daqui a 100 anos?" e "Estávamos a 15 minutos do começo
da sessão quando o presidente anunciou seu cancelamento". (Neste caso, "a" indica
tempo futuro a partir de certo momento ocorrido no passado.)
"Há" é flexão do verbo haver e usa-se para expressar noção de tempo passado.
Assim, dizemos: "Há dois anos que moro aqui" ou "Saíram de Goiânia há 23 anos".
Nestes casos, "há" pode ser substituída por "faz": "Faz dois anos que moro aqui" e
"Saíram de Goiânia faz 23 anos".
"Há" também é usada para indicar distância percorrida: "A entrada para Caldas
Novas ficou há 20 km".
Em resumo
· Há - Tempo passado e distância percorrida: "Há 30 anos = Faz 30 anos" e "Há 30
km".
· A - Tempo futuro e distância a percorrer: "Daqui a 30 anos" e "Daqui a 30 km".
Dica nº 11
O mesmo
"João foi promovido ontem. O mesmo será homenageado na próxima semana."
É comum ler-se construções desse tipo, onde o vocábulo "mesmo" é empregado
dessa forma inadequada. E por que se deve evitar esse tipo de uso? Porque
demonstrativos como tal, mesmo, próprio servem para identificar alguma coisa, ou
seja, para indicar que se trata de alguém ou algo de quem ou do que já se falou ou
já se sabe distinguindo-o de outro alguém ou outra coisa: "Li XYZ. Não me agradou
tal livro", "Essa é a mesma salada de ontem" e "Dá na mesma (coisa)". No primeiro
caso, tal indica que o livro é aquele e não, outro. No segundo, mesma evidencia
tratar-se de determinada salada em oposição a outras e, no terceiro, que se está
falando de certa coisa e não, de outras. Portanto, é incorreto dizer-se: "João foi
promovido ontem. O será homenageado na próxima semana", pois neste caso não
se está distinguindo João de nenhum outro João. Essa construção pode ser refeita,
de maneira mais acertada, assim: "João foi promovido ontem. Ele será
homenageado..." ou "João foi promovido ontem e será homenageado..." ou ainda:
"João, que foi promovido ontem, será homenageado...". Há muitos recursos para se
fugir da incorreção ou da pobreza no uso da linguagem.
Mesmo e mesma, próprio e própria e seus plurais são ainda empregados para
reforço de expressão, no que mantêm o princípio que norteia o uso descrito acima.
Assim, "eu mesma fiz o bolo" (eu e ninguém mais), "nós mesmos preferimos vir
para receber o prêmio" (nós, não outros) e "o próprio chefe redigiu o memorando"
(deveria ser outra pessoa, mas foi ele).
Pronome - Palavra gramatical que substitui ou pode substituir um nome
(substantivo) ou a ele se refere: eu, lhe, isto, meu, etc. Exemplos: "Eu sou a
força!", "Dê-lhe o recado", "Isto é seu", "Esse crachá é o meu". O pronome pode
classificar-se em:
· apassivador - É a função que a partícula "se" exerce na formação da voz passiva
sintética ou pronominal. Neste caso, o sujeito é inanimado - incapaz de praticar a
ação verbal - ou apenas paciente da ação: "Plantaram-se várias árvores no canteiro
central", "Alugam-se quartos" e "Quero que se me devolva o dinheiro". [Note neste
último exemplo que aparece um objeto indireto (me).] A função apassivadora do
"se" é constatada ao converter-se a voz passiva sintética na analítica: "Várias
árvores foram plantadas no canteiro central", "Quartos são alugados" e "Quero que
o dinheiro seja devolvido para mim".
· demonstrativo - Refere-se à posição (no tempo ou no espaço) de alguma coisa
situada em relação a uma das pessoas gramaticais (a que fala, com quem se fala e
de quem se fala) ou à identidade de alguma coisa ou então indica a distância de
algo que aparece no texto. Os demonstrativos são: este esta isto
esse essa isso
aquele aquela aquilo
..Este, esta e isto usam-se para indicar proximidade da primeira pessoa, a que fala:
"Coloque a mesa neste (em + este) espaço", "Esta taça fica aqui", "Este ano
promete muitas surpresas" (ano em que se está) e "Isto está atrapalhando a
passagem".
Esse, essa e isso são usados para indicar proximidade da segunda pessoa, a com
quem se fala ("Esse carro é importado?", "Onde você comprou essa blusa?), ou da
primeira e da segunda simultaneamente ("Está vendo esse menino aí? É filho da
Márcia" e "Cuidado com a cabeça, que essa porta é baixa."). Com relação ao
tempo, expressam proximidade passada ou futura: "Junho foi bem produtivo; nesse
mês, trabalhei muito" e "Agosto vem aí. Esse mês promete ser bastante seco".
Aquele, aquela e aquilo expressam distanciamento, no espaço ou no tempo, de
alguma coisa em relação à primeira e à segunda pessoas simultaneamente: "Aquela
menina é minha prima" e "Aquilo aconteceu há muito tempo".
No texto, usam-se os demonstrativos para indicar o ser ou coisa de que se falou:
"Paulo, Afonso e Wagner seguiram carreiras diferentes. Aquele tornou-se bancário e
este, advogado" (Aquele = Paulo e este = Wagner). Assim, aquele se refere ao
termo mais distante e este, ao último citado. Demonstrativos como tal, mesmo,
próprio servem para identificar alguma coisa: "Li XYZ. Não me agradou tal livro" e
"Dá na mesma (coisa)". Usa-se mesmo/mesma para indicar que se trata de alguém
ou algo de que já se falou ou já se sabe, distinguindo-o de outro alguém ou outra
coisa: "Essa é a mesma salada de ontem". É inadequado dizer-se: "João foi
promovido. O mesmo vai ser homenageado", pois neste caso não se está
distinguindo João de ninguém mais. topo
· indefinido - Tem justamente essa função, a de "indefinir", ou porque não se sabe
a identidade de algo ou por não se querer identificar. Designa a terceira pessoa
gramatical de forma vaga, indeterminada. São pronomes indefinidos: alguém, algo,
ninguém, qualquer, tudo, cada qual, quem quer que, etc. Exemplos: "Alguém está
interessado em você", "Tenho algo para te mostrar", "Ninguém chegou na hora",
"Qualquer pessoa faz isso facilmente", "Tudo ajudou", "Cada qual com seu igual" e
"Quem quer que chegue atrasado não vai entrar". topo
· interrogativo - É usado para se fazer questionamento, interrogação: quem (qual
pessoa?), que (qual coisa? qual motivo?), qual (pessoa ou coisa dentre outras),
onde (em que lugar?), quando (em que tempo?), quanto (que quantidade? de seres
ou coisas). Exemplos: "Quem está aí?"; "Que há com você?", "Por que ela não
veio?"; "Qual (ou quem) de nós vai primeiro?"; "Qual das janelas está quebrada?";
"Onde está o microfone?"; "Quando Luciana viaja?"; "Quanto custa?"; "Quantos já
embarcaram?". topo
· pessoal - Substitui um nome e ao mesmo tempo indica sua pessoa gramatical (a
que fala, com quem se fala ou de quem se fala). Pode ser reto (eu, nós), oblíquo
(me, nos) e de tratamento (você, a gente, vossa excelência, o senhor, fulano).
Exemplos: "Nós é que somos os heróis", "Siga-me", "Você poderia passar-me o
jornal?".
- oblíquo: é o que exerce, na frase, a função de complemento do verbo: me, o, lhe,
se, nos, etc., como em "Beije-me mais uma vez", "Comprei-o num antiquário",
"Não lhe responda", "Os dois se abraçaram fraternalmente", "Francisco nunca nos
visitou". Como o pronome oblíquo exerce função complementar, orações como
"Deixe para mim fazer" são incorretas de acordo com a norma culta, pois ele aí
está desempenhando a função de sujeito. Neste caso, deve-se substituí-lo pelo
pronome reto eu: "Deixe para eu fazer". topo
· possessivo - Expressa noção de posse de uma das pessoas gramaticais
(possuidor) em relação à coisa possuída: meu, teu, seu e os correspondentes
plurais. Exemplos: "Meu filho chegou", "Teu cabelo está desalinhado" e "Seu ônibus
já passou". Pelos exemplos, vê-se o grau de relatividade da "coisa possuída", pois
nem sempre o possessivo exprime a noção de propriedade. Os pronomes oblíquos
também podem desempenhar papel possessivo, como nestes exemplos:
"Roubaram-lhe a carteira = roubaram a sua carteira" e "Conquistou-me a confiança
= conquistou a minha confiança". topo
· recíproco - É o que expressa reciprocidade da ação verbal. Isto significa que os
agentes da ação praticam-na e ao mesmo tempo a recebem. Assim, em “Jonas e
Alves abraçaram-se” e “Nós nos entendemos”, os verbos e os pronomes se e nos
são recíprocos. Estes funcionam aqui como objetos diretos, mas, empregados com
outros verbos, poderão classificar-se como objetos indiretos. Conforme a
construção, tal pronome pode causar ambigüidade, razão por que, se queremos
exprimir reciprocidade de ação, devemos utilizar as expressões um ao outro, uns
aos outros, mutuamente e reciprocamente em benefício da clareza. Dessa forma,
na oração “Oscar e Gouveia feriram-se”, não se sabe se ambos foram feridos por
alguma causa externa, se cada um feriu-se individualmente ou se um feriu o outro.
No primeiro caso, o “se” é pronome apassivador; no segundo, pronome reflexivo e
no terceiro, pronome recíproco. Neste caso, para evitar a imprecisão, construímos:
“Oscar e Gouveia feriram-se um ao outro” (ou “mutuamente” ou “reciprocamente”).
É possível ainda empregarmos forma verbal na qual se integra o prefixo entre- para
indicar claramente a reciprocidade, como em “Carlos e Daniela entreolharam-se”,
isto é, ele olhou para ela e ela fez o mesmo em relação a ele.topo
· reflexivo - Pronome pessoal oblíquo que, embora funcione como objeto direto ou
indireto, refere-se ao sujeito da oração: me, te, se, si, nos, etc. O pronome
reflexivo apresenta três formas próprias na terceira pessoa, do singular e plural: se,
si e consigo. "Guilherme já se preparou", "Ela deu a si um presente" e "Antônio
conversou consigo mesmo". Nas outras pessoas, os reflexivos assumem as mesmas
formas dos demais oblíquos não-reflexivos: me, mim, te, ti, nos, vos: "Eu não me
vanglorio disso", "Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi", "Assim tu te
prejudicas", "Conhece a ti mesmo", "Lavamo-nos no rio", "Vós vos beneficiastes
com a Boa Nova". topo
· relativo - É a palavra que, numa oração, refere-se a um termo de outra, o
antecedente (que vem antes): que, o qual, quem, cujo. Exemplos: "Este é o
disquete que eu trouxe" (que ® disquete); "Tal o caráter herdado dos pais, o qual
era preciso manter" (o qual ® caráter; se fosse empregado "que", o sentido ficaria
ambíguo, pois não se saberia o que era preciso manter); "Foi ele a quem me dirigi"
(quem ® ele); "Estou falando da parede cuja pintura está manchada" (cuja ® da
qual a). O pronome relativo que distingue-se de outros “ques” por poder ser
substituído por o qual, a qual, os quais, as quais. É preciso cuidado no emprego do
que quando houver mais de um antecedente, para garantia da clareza. Veja este
período: “Joaquim é o pai do Renato, que nasceu em Alagoas”. Quem nasceu em
Alagoas? Igual cuidado merecem outros relativos. Assim, em “Visitamos Itaporã e
Icatu, onde se localiza a Escola de Belas-Artes”, não se sabe em qual cidade se
situa a escola. topo
· de tratamento - Palavra ou expressão que vale por pronome pessoal. São eles: a
gente, beltrano, fulano, sicrano, sua majestade, sua senhoria (e outros similares),
você, Vossa Alteza, Vossa Excelência (e outros similares). Os pronomes de
tratamento, apesar de serem da segunda pessoa gramatical (referem-se à pessoa
com quem se fala), são considerados de terceira pessoa. Assim, levam o verbo e
outros pronomes (oblíquos e possessivos) para a terceira pessoa, como em “Vossa
Excelência esqueceu-se do compromisso”, “Sua agenda permite a Vossa
Reverendíssima encontrar-se com o prefeito e “Você foi lá?”.
Dica nº 12
Etc.
Quantas vezes você já usou "etc.", não é mesmo? Vamos, porém, comentar algo
sobre isso.
Etc. é abreviatura da expressão latina et cetera e significa "e outras coisas", "e
outros (da mesma espécie)", "e assim por diante". Originalmente, era empregada
apenas com referência a coisas, mas atualmente também se vê (e pode-se usar)
relacionada a animais e mesmo pessoas que poderiam ser mencionados, mas são
subentendidos em um texto. Assim: "lâmpadas, soquetes, conectores, plugues,
etc.", "cavalos, mulas, jumentos, etc.", "Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e
Xororó, Leonardo, Daniel, etc.".
Com o passar do tempo, ficou obscurecido, para o falante comum, o significado
original dessa abreviatura, especialmente o fato de ela conter o elemento de
ligação "e". Dessa forma, etc. passou a ser vista como mais um elemento em uma
enumeração, razão por que, conforme se deduz, o Pequeno Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa (PVOLP) apresenta-a precedida de pontuação. Esta, contudo,
deve ser a mesma ao separar-se os elementos da seqüência, como nestes
exemplos:
· "Carros, peças, acessórios, etc."
· "Estava tudo assim agrupado: cenoura, chuchu, beterraba; banana, laranja,
melancia; feijão, soja e outros grãos; etc."
· "Fiscalizar. Reivindicar. Protestar. Etc. Tudo isso faz parte da prática da
democracia."
Entretanto, alguns puristas da língua relutam em aceitar pontuação antes do etc.,
apesar de esse uso ser respaldado pelo PVOLP e ser ratificado por respeitados
gramáticos brasileiros, como Celso Cunha e Celso Luft.
Agora, vamos acrescentar mais um ponto polêmico na nossa discussão. Se, na
origem, ficava evidente a presença do elemento de ligação "e" (et cetera), que já
não é mais percebido, e se, conseqüentemente, "etc." é vista apenas como mais
um elemento em uma enumeração, por que nos repugnaria o uso do "e" antes de
"etc."? Portanto: "galinhas, perus, patos e etc.". Vejamos o caso do pronome
comigo, formado de "com + migo". Mas o que é esse "migo"? "Migo" é resultado da
transformação fonética do latim "mecum" (que significava exatamente "comigo"),
onde já estava embutida a preposição "com" (cum, em latim). O que acontece com
o "etc." aconteceu também aqui: com o passar do tempo, os falantes não
"sentiram" mais a presença do "com" em mecum e acrescentaram mais um "com"
(cum + mecum > cummecum > comigo). Daí o vocábulo "comigo", em rigor,
conter dois "com". Da mesma forma, "e etc." conteria dois "e". Coisas da evolução
da língua. Contudo, é preciso ficar claro que essa é, por enquanto, apenas opinião
pessoal do prof. Paulo Hernandes. O uso de "e" antes de etc. ainda não é admitido
nas mais conhecidas gramáticas disponíveis no Brasil. Para finalizar: vocês se
lembram de um famoso jogador de futebol, que, apesar de não muito bom
entendedor do processo etimológico, disse em entrevista: "Comigo ou sem migo, o
time ganha."?
Dica nº 13
Coloquei mais um link no meu site.
O que acha dessa frase? Possivelmente, você dirá que está tudo certo com ela, tal é
sua familiaridade com essa enxurrada de palavras estrangeiras que pipocam nos
textos da nossa imprensa - especializada ou não -, não é mesmo?
Pois é, mas vamos aos fatos. Em primeiro lugar, a grafia das palavras no Brasil é
regulamentada por lei (Decreto-Lei n.º 2623, de 21.10.55), simplificada pela Lei n.º
5765, de 18.12.71. Dessa forma, o respeito à norma ortográfica oficial é respeito à
lei. Em segundo lugar, essa mesma norma disciplina a escrita de nomes
estrangeiros - os estrangeirismos ou barbarismos (em sentido estrito) - que, se não
forem aportuguesados, ou seja, se não se adequarem à nossa ortografia, devem
ser escritos entre aspas ou então sublinhados. Devem, enfim, ser postos em
destaque de alguma forma (tipos itálicos, por exemplo). Excetuam-se os já
consagrados, como box, watt, show, shopping, etc. (aqui em destaque apenas
para melhor visualização). A propósito, box, com significado de "compartimento",
permaneceu na grafia original, mas empregada no sentido de "luta com punhos" foi
aportuguesada para "boxe" e tem ainda sinônimo vernáculo: pugilismo. Assim, o
correto é escrever-se "link", software, upgrade.
O ideal seria que os meios de comunicação - TV, rádio, revistas, jornais e agora a
Internet - adotassem postura de defesa da nossa cultura, aí incluída a língua
portuguesa. Para isso, procurariam traduzir para o português, quando possível, os
nomes estrangeiros que através deles ingressassem em nosso meio. Caso não
fosse possível, que pelo menos adaptassem à nossa ortografia essa torrente de
palavras estrangeiras, especialmente inglesas.
Não se entende, a não ser em razão de mentalidade colonizada, que a maioria dos
estrangeirismos não possa ser traduzida. Para ficar apenas no contexto da Internet:
link não poderia ser "ligação" ou mesmo "porta"? Home page não poderia ser
traduzida por "página principal" ou "página de abertura"? Browser, não poderia ser
"navegador" ou "programa de navegação"? Em vez de download, bem que
poderíamos utilizar "baixamento", "descarregamento" ou "descarga". Se alguém
objetar que "baixamento" não está no dicionário, pois que se crie essa palavra e se
a coloque nele! Banner não poderia ser "faixa" ou "faixinha"? E o que dizer de hit,
no contexto da rede? Poderia perfeitamente ser traduzida por "visita" ou "acesso".
Lembremo-nos de que file, desde o início da expansão da Informática no Brasil, foi
apropriadamente traduzida por "arquivo". Em vez de mandar "e-mail" (abreviação
de electronic mail = correio eletrônico), eu bem que poderia mandar uma
mensagem ou até, abreviadamente, "msg.", já que é para encurtar... Este trecho,
de três linhas, foi retirado de uma revista especializada em Internet: "Às vezes,
troca-se links simplesmente, em vez de banners. Por exemplo: você tem um
site...". Total desrespeito à norma ortográfica. Que pelo menos se aportuguesem
tais palavras. Assim, vocábulos como link viram "linque"; site vira "saite"; browser,
"bráuser" e assim por diante. Já não aportuguesamos diskette? E "leiaute", já não
foi layout? Quem resiste a isso, deveria continuar a escrever football, goal, penalty,
bouquet e carnet, por exemplo.
Não se trata de xenofobia (aversão a tudo que é estrangeiro). Trata-se apenas de
defender nossa cultura e conseqüentemente nossa língua dessa invasão
desenfreada, que aqui despeja centenas de palavras sem a menor cerimônia, como
se o Brasil fosse a "casa-da-mãe-joana". (Na opinião de quem assim procede e com
isso concorda, é.) Vamos receber esses empréstimos lingüísticos quando
necessário, quando vierem suprir lacunas do idioma e mesmo assim adaptando-os
à nossa ortografia. Caso contrário, que fiquemos com as palavras da nossa língua,
a qual muito mais autenticamente expressa a cultura brasileira. O Brasil proclamou
sua independência política em 1822, mas, na mentalidade de muita gente, ainda
somos colônia
Dica nº 14
Pirassununga ou Piraçununga? Cotegipe ou Cotejipe?
Pela norma ortográfica brasileira, devem ser escritos com "ç" e "j" os nomes
provenientes de outras línguas – das indígenas, inclusive – os quais contenham,
respectivamente, os fonemas
· /s/ (som de "s") no meio da palavra, como araçá, Açu, Araçoiaba da Serra,
Guaçuí, Igaraçu, Moçoró, muçurana, Piraçununga, etc.;
· /ž/ (som de "j") no início ou no meio do vocábulo, como em Cotejipe,
jenipapo, Mojimirim, Potenji, Seriji. "Sergipe", pela regra, deveria ser Serjipe,
mas...
Dica nº 15
Minha mulher é do signo de Leão e minha mãe, de Libra. Tenho um irmão de Áries
e meus filhos são de Aquário.
Tudo muito natural, não é? Pode até ser, mas que há certa "salada" lingüística aí,
com certeza, há. E por quê? Porque se está misturando português com latim. Você
pode dizer como quiser - não há erro nisso -, mas, por questão de coerência,
deveria utilizar todos os nomes em português ou todos em latim. Aqui vão os
nomes dos signos do Zodíaco, nas duas línguas:
Dica nº 16
Maiores informações
É muito comum lermos na imprensa ou ouvirmos no rádio e TV, especialmente em
anúncios ou avisos, essa expressão, que seria apenas esquisita se não fosse
incorreta. Sim, porque maior é comparativo de superioridade de "grande". Assim,
dizemos "Meu texto ficou maior que o seu" ou "Sua alegria é grande, mas a minha
é maior (do que a sua)". Portanto, maior encerra duas idéias: de comparação e de
superioridade na grandeza. Ora, se "vale o que está escrito", ao dizermos "maiores
informações", estamos querendo dizer que tais informações são de tamanho maior
que alguma outra, que já é grande. Repare que estamos comparando idéia de
"tamanho". Na verdade, quem assim diz não está querendo se referir de forma
alguma a tamanho, mas à "suficiência" ou ao "detalhismo" da informação. Por isso,
se você quiser acertar, diga “mais informações” ou “informações mais detalhadas
ou pormenorizadas". Note ainda que "grande", elevado ao grau mais alto, ou seja,
ao superlativo, torna-se máximo ou o maior (ou máxima ou a maior): "Envie isso
com a máxima urgência" e "Larissa é a maior! (dentre outros)".
Dica nº 17
Dígrafo
Vez por outra, deparamos com esse termo da Gramática, que expressa fenômeno
lingüístico interessante em português. Mas afinal, o que é dígrafo?
Dígrafo - do grego di, dois, e grafo, escrever - é dupla de letras que representa um
só fonema, como "an" (em santo), que representa o fonema /ã/; "ss" (em passo),
que representa /s/; "nh" (em pinho), que representa /ñ/; e outros. Portanto, nos
dígrafos, as letras não formam encontro consonantal, já que não são pronunciadas
as duas consoantes, pois se trata de um único fonema. Na verdade, a existência
dos dígrafos revela deficiência do nosso alfabeto, pois o ideal seria que cada
fonema fosse representado por uma única letra. Os dígrafos no português brasileiro
são os seguintes:
dígrafo fonema representado palavra-exemplo
am /ã/ ambos
an /ã/ antigo
ch /š/ chuva
em /ẽ/ sempre
en /ẽ/ entrada
gu /g/ guelra, guia (neste caso, usa-se "gu" somente antes de "e" e "i" e o "u"
não é pronunciado.)
ha /a/ há
he /e/ hemisfério
he, hé / e / hera, hélice
hi /i/ hipismo
ho /o/ hoje
ho, hó // homem, hóspede
hu /u/ humano
im /ĩ/ impedir
in /ĩ/ indicador
lh /l / galho
nh /ñ/ ninho
om /õ/ ombro
on /õ/ onde
qu /k/ queijo, quilo (neste caso, usa-se "qu" somente antes de "e" e "i" e o "u"
não é pronunciado.)
rr / / terra
sc /s/ nascer
sç /s/ cresço
ss /s/ esse
um /ű/ umbigo
un /ű/ mundo
xc /s/ exceção
xs /s/ exsurgir
Observe ainda que:
1. Quando as duas letras são pronunciadas, não se trata de dígrafo: quase,
freqüente, eqüidade, lingüiça, escada, exclamação, etc. O trema é colocado sobre o
"u" exatamente para indicar que ele deve ser pronunciado.
2. No final de palavras como cantam, armazém e correm, "am" e "em" não são
dígrafos, pois representam os ditongos nasais /ãw/ e /ẽy/, respectivamente, ou
seja, dois fonemas.
3. Na divisão silábica, apenas seis desses dígrafos são separáveis na escrita: rr,
ss, sc, sç, xc, xs. Assim, temos: car-ro, pas-so, des-ci-da, des-ça, ex-ce-to, ex-su-
da-çao.
Dica nº 18
150 g ou 150 g.? 100 ha ou 100 ha.?
Em português, as abreviaturas são normatizadas, ou seja, são definidas por norma
legal. Ao usá-las a nosso bel-prazer, podemos incorrer em erro. Dessa forma, por
exemplo, os símbolos científicos são escritos sem ponto, como g (grama), ha
(hectare), kg (quilograma ou quilo), m (metro ou minuto), m² (metro quadrado),
min (minuto), etc. Repare que, em orações como "Depois da dieta, ela pesa agora
50 kg.", o ponto ao lado de kg nada tem a ver com a abreviatura, mas funciona
apenas como ponto final do período.
Símbolos técnicos desacompanhados de ponto abreviador (há símbolos técnicos
pontuados, como ger. = gerúndio) não recebem "s" como marca de plural: 200 kg,
2h 10 m, 1.500 m, etc. Portanto, esta forma de notação tanto se refere ao singular
como ao plural dos nomes representados. Observe, num dos exemplos acima, a
forma correta de grafar horários: 3 h ou 3 h 00 m, 8h 30 m, 15 h 40 m, etc.
Grafias como 05:30 h ou 17h:35 estão em desacordo com a norma ortográfica
brasileira.
Muitas outras abreviaturas são usadas com ponto, como alm. (almirante), cap.
(capitão), gen. (general), adv. (advérbio), prof. (professor), etc. Não encontram
amparo legal abreviaturas do tipo "gal." (general) ou "alte." (almirante).
Abreviaturas acompanhadas de ponto podem receber "s" como marca de plural:
págs. (páginas), Pes . (padres). Página também pode ser abreviada p. e páginas,
pp.
Dica nº 19
Infinitivo flexionado
Este tema não é dos mais simples entre os fatos gramaticais da língua portuguesa.
O infinitivo é forma nominal do verbo e pode apresentar-se nas modalidades
flexionada e não-flexionada. (Veja o verbete "Infinitivo" no Glossário Gramatical.)
Alguns autores adotam, para essas formas, a nomenclatura de infinitivo pessoal e
impessoal. O prof. Hermínio de Campos Mello contesta esse uso alegando que tanto
o infinitivo flexionado como o não-flexionado são pessoais, ou seja, referem-se a
alguma pessoa gramatical. O mestre parece ter razão quando se empregam flexões
como "Vou caminhar amanhã", "Ela vai caminhar amanhã" ou "Todos vão caminhar
amanhã". Nestes exemplos, embora em sua forma não-flexionada, ou seja,
"impessoal", o infinitivo relaciona-se sempre a uma das pessoas gramaticais.
O infinitivo flexionado é idiomatismo da língua portuguesa, ou seja, é fenômeno
característico, típico de nossa língua, embora não seja exclusivo dela. Tudo indica
que se originou do imperfeito do subjuntivo latino (hipótese de José Maria
Rodrigues) e já aparece no primeiro documento conhecido escrito em língua
portuguesa, a "Cantiga da Ribeirinha" (veja a pág. Você sabia? n.º 13), como se
pode ver abaixo:
"e vos, filha de don Paay
Moniz, e ben vus semelha
d'aver eu por vos guarvaya".
O infinitivo pode, pois, flexionar-se em todas as pessoas gramaticais: amar (eu),
amares (tu), amar (ele), amarmos (nós), amardes (vós), amarem (eles).
Morficamente, o infinitivo flexionado é idêntico ao futuro simples do subjuntivo nas
conjugações verbais regulares. Distingue-se deste por encerrar significado
declarativo (afirmativo ou negativo: "Quero que os alunos tenham mais aulas de
Português para entenderem o infinitivo flexionado"), ao passo que o futuro do
subjuntivo expressa hipótese condicional (se eles entenderem) ou temporal
(quando eles entenderem). Outros exemplos de orações com o infinitivo flexionado:
"Ao se aproximarem os professores, os alunos levantaram-se", "As andorinhas
vinham chegando em revoada até pousarem todas sobre a figueira" e "Lembrou
existirem emendas na ata da assembléia anterior".
Dois autores estabeleceram regras para o infinitivo flexionado: Jerônimo Soares
Barbosa e Frederico Diez (pronuncie Dits). Vejamos o que consta de cada uma:·
Regra de Soares Barbosa - Em um período composto, se o sujeito do verbo
no infinitivo for diferente do sujeito do verbo da outra oração, o infinitivo será
flexionado. Ex.: "(Eu) Creio (nós) termos sido enganados". Por outro lado, se os
sujeitos do verbo no infinitivo e do verbo da outra oração forem os mesmos, o
infinitivo não se flexionará. Ex.: "(Nós) Viajamos juntos para (nós) discutir o
assunto em profundidade". O autor lusitano apresenta ainda outros casos de flexão
do infinitivo.
· Regra de Frederico Diez - Somente se usa o infinitivo flexionado quando ele
pode ser substituído por uma forma modal. Neste caso, é indiferente se ele tem ou
não seu próprio sujeito. Ex.: "(Eu) Peço-lhes não recomeçarem (vocês) a
discussão" ® sujeitos diferentes. Essa oração equivale a outra em que os dois
verbos estão na forma modal: "(Eu) Peço-lhes que (vocês) não recomecem a
discussão". Exemplo em que os sujeitos são os mesmos: "(Eles) Estão
comemorando por (eles) terem passado no vestibular", que equivale a "(Eles) Estão
comemorando porque (eles) passaram no vestibular". Esta regra de Diez é ótimo
guia para se apurar o estilo e evitar-se "que e porque" na medida do possível.
Quando cabível, suprimam-se esses elementos de ligação e converta-se o verbo da
forma modal na forma infinitiva. Dessa maneira, em vez de "Ele disse que é
possível que entremos", use "Ele disse ser possível entrarmos". (Veja também a
Dica n.º 1, Estilística.)
Leia agora algumas observações sobre o infinitivo baseadas em escritos do prof.
Campos Mello (CURSO, s. d.).
1. O infinitivo será ou não flexionado quando a clareza assim o exigir. Ex.:
"Infanta, no exílio amargo, só o existirdes me consola" (Tasso da Silveira). "D.
Amélia sofria com aquela animosidade dentro de casa. Uma vez falou com o marido
para sair, para procurar um lugar para morarem em casa que fosse deles" (José
Lins do Rego). Se o infinitivo não se flexionasse, os sujeitos dos verbos assinalados
seriam diferentes dos expressos nesses exemplos.
2. Certa ênfase de estilo pode justificar o emprego do infinitivo flexionado, como
no exemplo: "As mulheres cochilando nos quartos, os homens a caçoar e a rir na
sonolência, a se espreguiçarem do bom almoço pelas redes e cadeiras" (Dinah
Silveira de Queiroz).
3. Cumpre não confundir o infinitivo flexionado com o futuro do subjuntivo.
Assim, em "Se algum dia caírem estas linhas sob os olhos de alguém, rirão..." (Ciro
dos Anjos), tem-se flexão do futuro do subjuntivo e não, do infinitivo.
A flexão do infinitivo, quando correta, propicia clareza, elegância e concisão à
escrita. Para conhecimento mais amplo, consulte a bibliografia recomendada.
Dica nº 20
Onde e aonde
"Onde" significa em que lugar. "Aonde" equivale a para qual lugar e emprega-se
sempre com verbos que dão idéia de movimento, como ir e levar. Exemplos:
"Aonde Viviane vai?". Com os verbos que não encerram idéia de movimento, usa-se
"onde": "Onde você mora?" e "A casa onde nasci não existe mais". Onde e aonde
são advérbios e, quanto à função, podem ser classificados como interrogativos e
relativos. Serão interrogativos se integrarem oração interrogativa, tanto direta
como indireta: "Onde está meu casaco?" e "Diga-me aonde Neusa foi". Serão
relativos se se referirem a antecedente expresso ou implícito: "Esta é a piscina
onde fui campeão" (onde = em que, na qual ® relativo) e "Vou aonde você vai".
(Aonde = ao lugar para o qual ® o qual é relativo.) Esta oração equivale a "Vou ao
lugar para o qual você vai". Observe ainda que:
1. Onde se refere a lugar e não, a tempo. É incorreto, pois, dizer-se "É esse o
momento onde entro", pois se está falando de tempo. O correto é "É esse o
momento quando (ou em que) entro".
2. O prof. Celso Cunha ressalta que a distinção de emprego entre onde e aonde
é anulada por muitos escritores de renome e para isso cita alguns exemplos de
obras de autores como Machado de Assis e Fagundes Varela. (Veja CUNHA, 2000,
pp.342-343.)
Dica nº 21
Ambigüidade
Ambigüidade é vício de linguagem pelo qual uma frase é construída,
involuntariamente, com mais de uma interpretação. (Leia também o verbete
Ambigüidade do Glossário Gramatical.) Dizemos involuntariamente porque, em um
texto literário, o autor pode deliberadamente possibilitar mais de uma leitura a
determinada frase, o que deixa de ser vício. Veja este trecho, duplamente ambíguo,
inspirado em artigo de jornal:
"Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto, amigo do senador Carlos
Antônio, cuja ex-mulher o acusa de enriquecimento ilícito".
Desconhecemos quem é amigo do senador: o filho ou Rubens. Ficamos também
sem saber quem a tal senhora acusa: o filho, Rubens ou o senador. Por outro lado,
a múltipla ambigüidade só não atinge a "diretora", pois supõe-se ela não ter "ex-
mulher". Se fosse diretor, teríamos mais um elemento vicioso, em conexão com
"cuja ex-mulher". Resolvemos o problema conforme o que queiramos dizer:
É preciso estarmos atentos à construção de orações para evitar ambigüidades. Há
certas palavras perigosas, com as quais devemos tomar bastante cuidado para não
incorrermos nesse vício, especialmente possessivos (seu, sua). Em "Celsinho, a
Letícia veio com seu pai", não sabemos de qual dos dois é o pai. Resolvemos
facilmente o problema dizendo "Celsinho, a Letícia veio com o pai dela" ou
"Celsinho, seu pai veio com a Letícia", conforme o que pretendemos dizer. Também
merecem cuidado os relativos (que, cujo), como em "Visitamos a igreja do Carmo,
a mais bonita da cidade, que data de 1735". O pronome relativo que se refere
sempre a um antecedente. Acontece que aqui temos dois antecedentes expressos:
"igreja do Carmo" e "cidade". Por isso, devemos evitar colocar mais de um
antecedente diante de um relativo (pronome ou advérbio). Desfazemos a
ambigüidade da frase invertendo a ordem das orações e mesmo dispensando o
pronome: "Visitamos a igreja do Carmo - datada de 1735 -, a mais bonita da
cidade" ou "Na cidade - datada de 1735 -, visitamos a igreja do Carmo, a mais
bonita". A homonímia e a polissemia também podem causar ambigüidade: em
"Talvez eu não amasse Cláudia", não fica claro se a forma assinalada refere-se a
flexão do verbo amar ou amassar. Se a frase "As mudas chegaram" não estiver
contextualizada, não sabermos se se trata de plantas ou de mulheres que não
conseguem falar. (Ambos, casos de homonímia.) Em "Acadêmicos viram
monólitos", caso de polissemia, há dúvida se a forma verbal é flexão do verbo ver
ou virar. A substituição vocabular ou mudança na estrutura frasal resolverá o
problema. O pronome possessivo seu - e suas variações - tem vários significados,
ou seja, é polissêmico também. A ambigüidade, juntamente com a obscuridade,
são inimigas da clareza, uma das virtudes da boa linguagem e necessidade no
processo da comunicação.
Dica nº 22
Por ora ou por hora?
As duas, cada uma com seu sentido. Por ora equivale a "por agora" ou "por
enquanto". Por hora significa "em uma hora", "a cada sessenta minutos". Desse
modo, digo "Por ora, não vou mexer com isso = Por enquanto, não vou mexer com
isso" e "O carro chega a correr 300 km por hora = O carro chega a correr 300 km
em uma hora". Ora, nesse contexto, é advérbio e significa "agora, atualmente" e
hora é substantivo e quer dizer "fração do dia".
Dicas nº 23
Os gêneros em português - Em português, os nomes podem pertencer ao gênero
feminino e ao masculino. Uma palavra do gênero feminino designa especificamente
ser vivo do sexo feminino ou coisa que passa idéia feminina, por razões
etimológicas ou psicológicas. Já o gênero masculino, além de designar seres do
sexo masculino ou coisas que passam idéia masculina, abrange também palavras
de significado mais geral - por exemplo, o homem, referindo-se ao gênero humano
- ou vocábulos no plural que compreendem seres ou coisas considerados
masculinos e femininos. Assim, se dizemos o menino chegou ou a menina chegou,
sabemos que a referência é a um garoto ou a uma garota. Entretanto, se dizemos
os meninos chegaram, não sabemos se são todos do sexo masculino ou se há
garotos e garotas no grupo. É por isso que dizemos que o masculino é gênero
geral, "não-marcado" e o feminino é "marcado", pois este designa especificamente
seres femininos. Dessa maneira, o feminino é considerado variação morfológica do
masculino, tomado como base. Outras línguas, como o grego e o latim, possuem o
gênero neutro. As palavras a ele pertencentes não são nem femininas nem
masculinas. O português, apesar de não possuir o neutro, guarda alguns vestígios
dele - herança latina -, como os pronomes invariáveis isto (masc. este e fem. esta),
isso (masc. esse e fem. essa), aquilo (masc. aquele e fem. aquela), algo, tudo,
nada, etc.
A referência ao gênero é feita através de artigos (o/a, como em o boi / a vaca),
pronomes (ele/ela, meu/minha, este/esta, como em ele veio, ela veio; meu
dentista, minha dentista; este garfo, esta colher), pela distinção mediante
morfemas de gênero (-o/-a, como em gato/gata; -ês/esa, como em
freguês/freguesa; ão/ona, como em chorão/chorona).
Modernamente, temos visto na imprensa o emprego da palavra "gênero" em
contexto biológico, o que representa inovação, já que gênero é conceito
eminentemente gramatical.
Dica nº 24
Este, esse, aquele
Este, esse e aquele são pronomes demonstrativos e indicam a posição (no tempo
ou no espaço) de alguma coisa situada em relação a uma das pessoas gramaticais
(primeira-a que fala, segunda-com quem se fala e terceira-de quem se fala) ou
localiza algo que aparece no texto. Este, esse e aquele variam em gênero e
número, ao passo que as formas isto, isso e aquilo, vestígios do gênero neutro
latino, são invariáveis. Veja:
este esta isto
esse essa isso
aquele aquela aquilo
Este, esta e isto indicam a proximidade de alguém ou de alguma coisa em relação à
primeira pessoa, a que fala: "Coloque a mesa neste (em + este) espaço", "Esta
taça fica aqui" e "Isto está atrapalhando a passagem". Também podem indicar o
tempo presente: "Este ano promete muitas surpresas" (ano em que se está).
Esse, essa e isso são usados para indicar a proximidade de alguma coisa da
segunda pessoa, a com quem se fala ("Esse carro é importado?", "Onde você
comprou essa blusa?") ou da primeira e da segunda simultaneamente ("Está vendo
esse menino aí? É filho da Márcia" e "Tenhamos cuidado com a cabeça, que essa
porta é baixa"). Com relação a tempo, expressam proximidade passada ou futura:
"Junho foi bem produtivo; nesse mês, trabalhei muito" e "Agosto vem aí. Esse mês
deverá ser bastante seco".
Aquele, aquela e aquilo expressam distanciamento, no espaço e no tempo, de
alguma coisa em relação à primeira e à segunda pessoas conjuntamente, portanto,
indicam proximidade da terceira pessoa, a de quem se fala: "Aquela menina é
minha prima", e "Aquilo aconteceu há muito tempo".
No texto, usam-se os demonstrativos para indicar o ser ou coisa de quem ou de
que já se falou: "Paulo, Afonso e Wagner seguiram carreiras diferentes. Aquele se
tornou bancário e este, advogado" (Aquele = Paulo, este = Wagner). Assim, aquele
se refere ao termo mais distante e este, ao último citado.
O pronome o (e suas variações) pode equivaler a isto, isso, aquilo e a aquele e suas
variações: "Não compreendo o que você está dizendo" e "Os que estiverem de
acordo venham comigo". É preciso distinguir o artigo definido do pronome
demonstrativo, como neste exemplo: "Nem sempre as pessoas que chegam na
frente são as primeiramente atendidas". O primeiro "as" é artigo definido e
acompanha "pessoas", ao passo que o segundo é pronome demonstrativo e
substitui "as pessoas" ou "aquelas".
Alguns advérbios de lugar ajudam ou reforçam a localização espacial: aqui
(proximidade da primeira pessoa), aí (segunda) e ali, lá ou acolá (terceira): "Está
vendo este botão aqui?", "Pegue esse livro aí" e "Olhe aqueles garotos reunidos lá
na esquina".
Tais vocábulos, designativos da posição que seres ou coisas ocupam no espaço em
relação às pessoas do discurso, denominam-se tecnicamente "dêiticos".
Dica nº 25
A nível (de), em nível (de)
As expressões "a nível" ou "em nível", acompanhadas ou não da preposição "de",
com equivalência a "de âmbito" ou "com status de" são muito criticadas pelos
gramáticos, que as consideram sem sentido e, portanto, as condenam. Apesar de o
povo ser o senhor da língua e ele dar o significado que quer a palavras e
expressões já existentes ou até criar palavras novas, as formas citadas são mesmo
insossas. Até que elas se consolidem e sejam reconhecidas, é preferível, para evitar
críticas, usar formas cujo significado seja incontestável e que sejam pacificamente
aceitas. Desse modo, em vez de "A campanha será feita a (ou em) nível mundial",
prefira-se "A campanha será mundial", "A campanha terá abrangência mundial", "O
âmbito da campanha será mundial" ou ainda "A abrangência da campanha será
mundial", se se tratar de abrangência. Se a intenção for expressar status, no lugar
de "As mudanças no Governo serão feitas em nível ministerial", use "As mudanças
no Governo serão feitas no ministério", forma até mais objetiva. Na verdade, não
há "princípio lingüístico" que justifique a repulsa a tais expressões, apenas sua
inconsistência semântica. Finalmente, observe-se que é correto o emprego de "ao
nível de" quando se quiser dizer que algo está na mesma altura em relação a outra
coisa, quer em sentido próprio (denotado) ou figurado (conotado): "Ubatuba está
ao nível do mar" (na mesma altura em que o mar está) e "Dizer que criminosos de
colarinho branco estão ao nível de batedores de carteira é ofender estes últimos".
Dica nº 26
Quero falar consigo.
O uso dos pronomes reflexivos, especialmente o si e o consigo, pode suscitar
dúvidas. Se digo "Joana gosta de falar de si", quero dizer que Joana ama falar a
respeito dela mesma. Em "Ele falou consigo", estou querendo dizer que alguém
falou com si próprio. Aliás, às vezes, encontramos essas frases acrescidas dos
vocábulos próprio/própria e mesmo/mesma para reforçar ainda mais a
reflexividade: "Joana gosta de falar de si própria" e "Ele falou consigo mesmo".
Repare que esses pronomes se referem ao sujeito do verbo. Por isso, é incorreto
usar-se si e consigo de forma não-reflexiva, de modo a não se referirem ao sujeito
da oração, como em "Este bilhete é para si" ou "Queremos falar consigo".
Já comigo, contigo, conosco, convosco são pronomes não-reflexivos, como nestes
exemplos: "Venha comigo", "Quero dançar contigo", "Almoce conosco" e "O Senhor
esteja convosco". Comigo e contigo podem ser completados ou reforçados com
mesmo/mesma e próprio/própria, como em "Isso é comigo mesmo/mesma" e "É
contigo mesmo/mesma que quero falar". Entretanto, por questão de eufonia, isto é,
de sonoridade agradável, tal não ocorre com conosco e convosco. Nestes casos,
usamos os pronomes retos, como em "É com nós mesmos que ele deve tratar" e
"Tal assunto sempre esteve na alçada de vós próprios". O mesmo vale para
construções como "Isso é com nós professores", em vez de "Isso é conosco
professores". (Leia a respeito em ALMEIDA, 1979, § 319, Nota.)
Dica nº 27
Ao encontro, de encontro
Ir ao encontro, que se une ao substantivo mediante a preposição de (Ir ao encontro
de), significa, em sentido próprio ou denotado, sair em direção a ou ir encontrar-se
com alguém, como em "Fomos ao encontro da comitiva que chegava". Em sentido
figurado ou conotado, quer dizer corresponder, atender, satisfazer: "Minha
proposta vai ao encontro dos seus interesses".
Ir de encontro, que se une ao substantivo mediante a preposição a (Ir de encontro
a), significa, em sentido próprio ou denotado, colidir, chocar-se com, ir em direção
oposta a alguma coisa: "O caminhão foi de encontro ao muro". Em sentido figurado
ou conotado, quer dizer estar em desacordo, contrariar: "A mudança de nome da
Petrobrás vai de encontro aos interesses do Brasil".
O verbo utilizado nos exemplos foi "ir", mas bem poderia ser "vir": "Seu pedido
vem de encontro aos meus princípios".
Dica nº 28
Negação lexical
A negação lexical faz-se em português através do "morfema de negação". Este se
materializa na fala através dos alomorfes a-, des-, i-, in- e não-. Vejamos cada um
deles:
a- De origem grega, "a-" entra na composição de vocábulos como acrítico (a +
crítico), atípico (a + típico), atóxico (a + tóxico). Por questão de eufonia, diante de
vogal, assume a forma "an-", como em anaeróbico (an + aeróbico) e anovulação
(an + ovulação), embora tenhamos aético (a + ético). O prefixo de origem grega
"a-" não deve ser confundido com outro, de origem latina, com significado de
afastamento, separação, como em apartar.
des- Trata-se de prefixo vernáculo, que integra muitos vocábulos portugueses, tais
como desacerto (des + acerto), desonesto (des + honesto), desaconselhável (des
+ aconselhável). O prefixo "des-" pode também significar "ação contrária", como
em desfazer e desconsiderar, que não é o caso de que tratamos aqui.
i- Prefixo de origem latina, alguns gramáticos consideram-no variante do "in-".
Aparece em vocábulos como ilógico (i + lógico), iliquidez (i + liquidez), imerecido (i
+ merecido), imoral (i + moral). Diante de palavras iniciadas com / /, muda, na
escrita, para "ir-" a fim de manter o caráter forte daquele fonema: irreal (ir + real),
irrecorrível (ir + recorrível), irreconhecível (ir + reconhecível).
in- Este também é prefixo de origem latina, que entra na composição de muitas
palavras, como inapto (in + apto), inviável (in + viável), insatisfeito (in +
satisfeito). Diante de palavras iniciadas com /b/ e /p/,ocorre certa acomodação na
escrita: in- transforma-se em im-, já que "b", "p" e "m" são letras que
representam, todas, fonemas bilabiais, isto é, emitidos mediante a junção dos
lábios. Assim, temos imbatível (im + batível), impatriótico (im + patriótico),
improcedente (im + procedente). É preciso não confundir este prefixo com outro
"in-", que significa "movimento para dentro", às vezes transformado em "em-" e
"en-", como em embarcar e enterrar.
não- Embora tenha caráter negativo, este prefixo não deve ser confundido com o
advérbio de negação "não". Aqui ele entra na composição de palavras como não-
alinhado (não + alinhado), não-contradição (não + contradição), não-intervenção
(não + intervenção).
Grande número de exemplos que as gramáticas oferecem de prefixos é formado
por palavras que vieram do latim ou do grego já com esses morfemas
incorporados, o que não nos interessa em nosso estudo, o de composições
ocorridas no português. Assim, átono e impróprio já chegaram ao português com os
prefixos "a-" e "in-". A propósito, são oportunas estas palavras de Celso Luft: "Para
que exista prefixo reconhecível, é preciso que o radical corresponda a um vocábulo
autônomo ou forma livre: contradizer = contra + dizer; inverdade = in + verdade",
o qual cita ainda mais dois outros requisitos. Continua ele: "Assim, não há prefixo,
sob o ponto de vista descritivo, atual, em palavras como comer, esquecer, para as
quais entretanto uma análise histórica depreende os prefixos com- (cum-) e es-
(ex-)". Vamos mais além e entendemos que não há prefixos, pelo menos em
português, nos citados exemplos átono e impróprio e em todos os que a prefixação
não ocorreu em nosso idioma.
Dica nº 29
O convite foi aceitado ou foi aceito?
Antes da resposta a essa questão, é conveniente abordarmos o tema em que ela se
insere, o dos verbos com duplo particípio, os chamados verbos abundantes. Esses
verbos possuem duas formas no particípio: uma regular, com terminação em -ado
na primeira conjugação e em -ido na segunda e terceira, e outra irregular, com
terminação variável. A forma regular é normalmente mais longa e a irregular, mais
curta. Assim, o verbo "fixar", no particípio, apresenta-se como fixado e fixo.
O critério geral de emprego desses particípios é bastante simples:
· Particípio regular (longo) - É usado na voz ativa, acompanhado dos verbos
auxiliares "ter" e "haver", como em "Você tem secado as roupas na máquina?" e
"Já havíamos limpado o piso pela manhã".
· Particípio irregular (curto) - Usa-se na voz passiva, com os verbos auxiliares
"ser", "estar", "ficar", "andar" e outros. Exemplos: "A roupa já está seca" e "O
quarto foi limpo pela Cátia".
Observações:
1. Usadas com auxiliares como "ser", "estar", "ficar" e outros, as formas do
particípio variam em gênero e número. Assim, "O acordo foi firmado, os acordos
foram firmados; a proposta foi apresentada, as propostas foram apresentadas". Já
com "ter" e "haver", o particípio fica invariável: "Temos escrito muitos textos para o
saite". Se disser "Temos escritos muitos textos para o saite", o significado da frase
muda e passa a querer dizer que "temos prontos muitos textos para o saite".
2. Há particípios regulares que podem ser usados também na voz passiva.
Assim, poderemos ler na imprensa: "O ministro foi fritado por longo tempo" e "A
conta foi ocultada rapidamente da fiscalização". Lembre-se de que o particípio
irregular desses verbos é frito e oculto.
3. Em alguns verbos que admitem ambos os particípios na voz passiva, uma
forma é mais usual que outra conforme o auxiliar utilizado: "O reservatório está
cheio", mas "O reservatório é enchido até a metade diariamente" e "A montanha
está envolta em nuvens", mas "A montanha foi envolvida por forte neblina". Em
outros contextos, o mesmo particípio acaba sendo empregado indiferentemente
com um ou outro auxiliar: "O secretário presidencial esteve envolvido em
escândalos" e "O secretário presidencial foi envolvido em escândalos".
Nas orações reduzidas de particípio ou participiais, usa-se apenas a forma irregular:
"Aceso o lampião, os rostos apareceram" (e não "acendido o lampião") e "Findo o
recesso, os deputados continuaram em campanha eleitoral" (e não "findado o
recesso").
Na linguagem atual, a forma regular de três verbos já caiu em desuso: ganhado
(ganhar), gastado (gastar) e pagado (pagar). Curiosamente, todas relacionadas
com dinheiro.
Ah, faltou a resposta à questão-título! Pelo que você aprendeu acima, a forma a se
empregar seria apenas "aceito" não é mesmo? Acontece que o verbo "aceitar" é
uma das exceções à regra, de modo que o particípio aceitado também pode ser
usado na voz passiva: "O convite foi aceito" ou "O convite foi aceitado".
Dica nº 30
É necessário paciência.
Em expressões formadas pelo verbo "ser" + adjetivo (empregado
substantivamente), este último não varia: É necessário calma, Ginástica é bom
para a saúde, É feio falta de respeito e É proibido cigarros nesta empresa.
Explicação para o fenômeno é subentender-se um verbo nessas construções: "É
necessário (ter) calma", "(Fazer) Ginástica é bom para a saúde", "É feio (agir com)
falta de respeito" e "É proibido (portar ou usar) cigarros nesta empresa". Quando
se acrescenta ao substantivo palavra que o determina, como artigo ou pronome, a
concordância torna-se obrigatória: "A calma é necessária", "Aquela ginástica é boa
para a saúde". "É feia a falta de respeito" e "Os cigarros são proibidos nesta
empresa". Em construções como "É necessário (fazer) muitos pontos para se
ganhar o jogo", em que o substantivo está no plural, a concordância é facultativa:
"São necessários muitos pontos para se ganhar o jogo".
Sintaticamente, a invariabilidade do predicativo explica-se por ser o sujeito da
oração expresso de forma genérica. Em "Vitamina é bom para prevenir doenças"
(vitamina, conceito genérico) e "É necessário exercícios para você recuperar-se"
(exercícios em geral), está-se referindo a "vitamina" e "exercícios" de modo geral,
sem determiná-los. Caso haja essa determinação mediante artigo ou outro
qualificativo, a concordância faz-se normalmente: "As vitaminas são boas para
prevenir doenças" e "Aqueles exercícios indicados pelo fisioterapeuta são
necessários para você recuperar-se".
Dica nº 31
A noção de isotopia
Em Lingüística, "isotopia" (do grego isos, igual, semelhante, e topos, plano, lugar)
significa plano de sentido, leitura que se faz de uma frase ou texto. Se, por
exemplo, uma frase permite apenas uma leitura, é dita monoisotópica; diisotópica
se permite duas; triisotópica, se três; etc. Dessa forma, em "Ganhei esta caneta do
meu pai" e "Nas últimas férias, descansei bastante" temos duas frases
monoisotópicas, isto é, cada uma com apenas um significado. Em "Há muito
televisor que precisa melhorar a imagem" e "Ronan, a Márcia chegou com seu pai",
cada frase admite duas leituras. No primeiro exemplo, imagem = representação
televisionada de pessoas e coisas e também conceito. No segundo, seu = de Ronan
ou de Márcia. Já em "Empresas negam oferecimento de propina", temos frase
triisotópica, em que, negam oferecimento = recusam oferecer; desmentem ter
oferecido e desmentem ter recebido oferecimento. O mesmo ocorre em
"Acadêmicos viram monólitos", em que viram = flexão do verbo ver, de virar
-1 (transformar-se) e de virar
-2 (mudar de posição). A multiplicidade de planos de sentido é geralmente
produzida por homonímia ou polissemia.
É importante notar que o conceito de isotopia pertence à Lingüística -
particularmente à Semântica, um ramo seu -, ciência que descreve os fatos da
língua sem impor normas nem se preocupar com certo e errado. Assim, para a
Semântica, é indiferente se a pluralidade de significados de uma frase ou texto é
produzida intencionalmente ou não. Entretanto, para a Gramática, normativa que é,
a duplicidade de sentido será encarada como recurso de estilo se for produzida
intencionalmente com objetivos estéticos ou expressivos. Em caso contrário, será
considerada ambigüidade, vício sintático, que deve ser evitado.
Um texto também pode permitir - parcial ou totalmente - mais de uma leitura, isto
é, pode ser mono ou diisotópico, no todo ou em parte. O texto abaixo é bom
exemplo disso:
"Em determinado país, onde, em certa época, houve carência de mão-de-obra, o
Governo baixou decreto mediante o qual os casais eram estimulados a ter filhos.
Tal decreto também previa a hipótese de pessoas se casarem e não conseguirem
proliferar. Neste caso, marido e mulher seriam "auxiliados" por agente destacado
pelo diretor do Programa de Incentivo à Natalidade ao completarem cinco anos de
vida conjugal sem filhos. Exatamente nessa situação encontrava-se o casal que
travou o seguinte diálogo:
Mulher - Querido, hoje completamos o quinto aniversário de casamento.
Marido - É... e infelizmente ainda não tivemos um herdeiro.
- Será que eles vão enviar o tal agente?
- Não sei...
- E se ele vier?
- Bem, nada tenho a fazer.
- Eu, menos ainda.
- Já vou sair, pois estou atrasado para o trabalho.
Logo após a saída do marido, alguém bate à porta. A mulher atende e encontra um
homem à sua frente. Era um fotógrafo que se enganara de endereço.
Homem - Bom dia! Eu sou...
Mulher - Ah, já sei. Pode entrar.
- Seu marido está em casa?
- Não, foi trabalhar.
- Presumo que ele esteja a par...
- Sim, está a par e também concorda.
- Ótimo! Então vamos começar?
- Mas...já? Assim tão rápido?
- Preciso ser breve, pois ainda tenho dezesseis casais para visitar.
- Puxa! O senhor agüenta?
- Agüento sim, pois gosto do meu trabalho. Ele me dá muito prazer.
- Então, como vamos fazer?
- Permita-se sugerir uma no quarto, duas no tapete, duas no sofá, uma no
corredor, duas na cozinha e a última no banheiro.
- Nossa! Não é muito?
- Nem sempre se acerta na primeira tentativa.
- O senhor já visitou alguma casa neste bairro?
- Não, mas tenho comigo algumas amostras dos meus últimos trabalhos. (Mostra
fotos de crianças.) Não são belos?
- Como são lindos esses bebês! O senhor os fez?
- Sim. Este aqui (mostra uma das fotos) foi conseguido na porta do supermercado.
- Nossa! Não lhe parece um tanto público?
- Sim, mas a mãe era artista de cinema e queria publicidade.
- Que horror!
- Foi um dos trabalhos mais duros que fiz.
- Imagino...
- Esta foi feita num parque de diversões, em pleno inverno.
- Credo! Como o senhor conseguiu?
- Não foi fácil. Como se não bastasse a neve caindo, havia uma multidão em cima
de nós. Quase não consigo acabar.
- Ainda bem que sou discreta e não quero que ninguém nos veja.
- Ótimo, eu também prefiro assim. Agora, se me der licença, vou armar o tripé.
- Tripé???!!! Para quê???!!!
- Bem, minha senhora, é necessário. Meu aparelho, além de pesado, depois de
pronto para funcionar, mede um metro.
A mulher desmaiou."
Engraçado, não? Pois é... Mas voltemos ao assunto sério. Neste texto, a diisotopia
manifesta-se para o leitor, mas para cada personagem as falas são monoisotópicas.
E essa monoisotopia, principalmente para a mulher, é reforçada por afirmações do
homem como "Ele (o trabalho) me dá muito prazer" e "Sim". (Ao responder à
pergunta se tinha sido ele quem tinha feito os bebês.) Presumo que você tenha
percebido onde a diisotopia começa: a partir da fala da mulher "Ah, já sei. Pode
entrar".
O estudo do significado das frases pertence à Semântica Frástica e o dos textos, à
Semântica Transfrástica ou Textual.
Dica nº 32
60% da população não aprovam ou não aprova o Presidente?
Vejamos a seguir casos de concordância relacionados a porcentagem. "Quando o
número percentual é antecedido ou seguido de adjunto no plural, é melhor o plural:
'Esses 5% da boiada morreram' e '90% dos homens viajaram'". (ALMEIDA, 1979, §
769, 2, Nota, "a") Se esse número é seguido de substantivo ou pronome no plural
(expressões partitivas) e a estes, por sua vez, seguem-se verbo de ligação e seu
complemento (predicativo), o verbo e o predicativo influenciam-se pelo número e
gênero do partitivo.
Exemplos:
"60% dos produtos importados são supérfluos", "10% das funcionárias estarão
licenciadas nos próximos seis meses" e "3% dos alunos ficaram na sala para o
reforço". O mesmo acontece se o predicado é constituído de locução verbal passiva:
o verbo e o particípio também são influenciados, como em "25% das
administrações estão sendo investigadas" e "Somente 30% dos recursos deverão
ser utilizados na área social".
No restante dos casos, prevalece o singular: "Apenas 5% da bancada compareceu à
sessão", "50% da arrecadação mensal é destinada ao pagamento de juros" e, é
claro, 60% da população não aprova o Presidente".
Quando está implícita a idéia de quantidade, o verbo fica no singular: "Quanto é
45% de R$2.000,00?" e "2% de 200 é 4".
Dica nº 33
A maior parte dos eleitores é ingênua ou são ingênuos?
Se o sujeito é constituído por expressão partitiva (parte de um todo) e substantivo
ou pronome no plural, o verbo pode ficar no singular ou ir para o plural: "Metade
das casas foi construída ou foram construídas em regime de mutirão", "A maior
parte dos aviões foi destruída ou foram destruídos no solo" e "A maioria dos genes
já foi identificada ou foram identificados". "A cada uma dessas possibilidades
corresponde um novo matiz da expressão. Deixamos o verbo no singular quando
queremos destacar o conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para
evidenciarmos os vários elementos que compõem o todo" (CUNHA, 2000: 488).
Dessa forma, o verbo no singular ressalta a concordância gramatical - a "normal" -,
enquanto que no plural obedece à concordância siléptica ou ideológica - "especial".
Se o substantivo ou o pronome estão no singular, o verbo permanece no singular:
"A maior parte da população está desassistida" e "Somente um terço do dinheiro foi
aplicado". O verbo ficará ainda no singular se a ação expressa por ele referir-se ao
todo e não a cada indivíduo ou coisa separadamente: "Um pelotão de sapadores
ficou aguardando ordens" e "Este lote de moedas será leiloado".
Agora está fácil responder à pergunta inicial, não é? Em ambas as hipóteses, a
resposta é afirmativa.
Dica nº 34
Norma culta - Padrão formal vs. coloquial
Norma culta nada mais é do que a modalidade lingüística escolhida pela elite de
uma sociedade como modelo de comunicação verbal. É a língua das pessoas
escolarizadas. Ela comporta dois padrões: o formal e o coloquial:
· Padrão formal - É o modelo culto utilizado na escrita, que segue rigidamente
as regras gramaticais. Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante
tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como porque a escrita é
supervalorizada na nossa cultura. É a história do "vale o que está escrito".
· Padrão coloquial - É a versão oral da língua culta e, por ser mais livre e
espontânea, tem um pouco mais de liberdade e está menos presa à rigidez das
regras gramaticais. Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita
e, embora exista, a permissividade com relação às "transgressões" é pequena.
Assim, na linguagem coloquial, admitem-se, sem grandes traumas, construções
como "Ainda não vi ele", "Me passe o arroz" e "Não te falei que você iria
conseguir?", inadmissíveis na língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem
consciência dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente as
construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. Contudo, como se
disse, não são muitos os desvios admitidos, e muitas formas peculiares da norma
popular são condenadas mesmo na linguagem oral. Construções como "Nóis foi na
fazenda" (o "na" ainda seria tolerado) e "Ele pagou dois milhão pelos boi" são
impensáveis na boca de um falante culto em ambiente culto, pois passam a quem
ouve a impressão de total falta de escolaridade de parte de seu autor. Já em
ambiente inculto seriam apropriadas: é a história de "Em Roma, como (fazem) os
romanos". (Veja também a pág. Você sabia? n.º 25.) Por outro lado, usos próprios
do padrão formal empregados na língua oral costumam parecer forçados ou
artificiais no falar despreocupado do dia-a-dia e configuram o que se chama de
preciosismo. É o caso de, num bate-papo, ouvirem-se certos empregos do pronome
oblíquo - "Ainda não o vimos por aqui" -, flexões do mais-que-perfeito do indicativo
- "Eu ainda não entrara no Banco quando aquilo aconteceu - e, o que é pior, o uso
da mesóclise, como em "Você ver-se-ia em maus lençóis se continuasse a insistir
naquilo". Moral da história: assim como se usa traje apropriado para cada situação
social, também se use o padrão lingüístico adequado para as diferentes situações
de comunicação social.
Dica nº 35
Uniformidade de tratamento
A comunicação oral ou escrita no âmbito da norma culta requer uniformidade de
tratamento e concordância verbal em função da pessoa do discurso considerada.
Assim, se a pessoa escolhida for a segunda do singular, os pronomes e o verbo
devem estar igualmente nela.
Exemplo:
"Tu nunca te esqueces de visitar tua terra natal, não é?". Se a pessoa for a
terceira, é preciso converter os termos para ela: "Você nunca se esquece de visitar
sua terra natal, não é?". Observe que "você", embora se refira à pessoa com quem
se fala (segunda), é pronome de tratamento e, como tal, pertence à terceira pessoa
gramatical e para ela leva o verbo.
No caso da primeira do plural, a mesma coisa: "Nós nunca nos esquecemos de
visitar nossa terra natal, não é?". Nestes exemplos, o possessivo foi intercambiado
apenas para servir de mais um elemento de concordância, pois a "terra natal"
poderia ser a de quem quer que fosse. Entretanto, a primeira frase, por exemplo,
não poderia ser construída como "Tu nunca te esqueces de visitar sua terra natal,
não é?", se "terra natal" fosse a do interlocutor. Lembre-se de que pronomes de
tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência e outros, apesar do "vossa",
situam-se na terceira pessoa gramatical e, conseqüentemente, para ela levam o
verbo: "V. Ex.ª é muito previdente". É preciso estar atento para a concordância
para não se cometerem erros como "Não te falei que você iria conseguir?" e "Foi
nesse momento que eu caí em si". A primeira frase ainda é tolerável na linguagem
coloquial, mas a segunda é imperdoável se quem a pronuncia passou pela escola.
Dica nº 36
Capítulo dez ou capítulo décimo?
Capítulo décimo. Sempre que o numeral vier depois do substantivo, emprega-se a
forma ordinal até décimo. Daí em diante, usa-se a forma cardinal. Assim:
· Pedro I (primeiro)
· Paulo VI (sexto)
· Capítulo X (décimo)
· Luís XIV (catorze)
· Tomo XXI (vinte e um)
Se o numeral anteceder o substantivo, usa-se a forma ordinal:
· Oitava parte
· Décimo capítulo
· Décimo quarto tomo
· Vigésimo primeiro século
· 35.º Distrito Policial (trigésimo quinto)
Dica nº 37
Figuras de pensamento - Antítese e paradoxo
As figuras de pensamento são, antes de qualquer coisa, figuras de linguagem.
Resultam do desacordo entre a verdadeira intenção de comunicar e o ato de fala.
Dito em outras palavras, consistem em "desvios" que funcionam como véus a
ocultar um estado de consciência. Há vários tipos de figuras de pensamento, como
o eufemismo, a ironia, a litote, a prosopopéia, a antítese e o paradoxo. Vamos
tratar destas duas últimas.
A antítese consiste na exposição, no texto, de idéias contrárias. Essa oposição pode
ocorrer entre palavras, frases ou orações. Assim, temos antítese em "Ele não odeia,
ama; não chora, ri.". A página Com Jesus ,de Emmanuel, contém várias antíteses,
como "Não te omitas. Ajuda./Não condenes. Ampara./Não te ofendas.
Esquece./Não te queixes. Caminha./Não depredes. Constrói./Não critiques.
Instrui./Não pares. Serve sempre./". A antítese foi recurso característico da
literatura barroca. Este trecho de Vieira, extraído do Sermão da Sexagésima, dá-
nos idéia de sua utilização: "... mas esse espírito tinha impulsos para os levar, não
tinha regresso para os trazer; porque sair para tornar melhor é não sair". Na
antítese, o contraste confere às palavras opostas ênfase que não teriam se
apresentadas isoladamente.
O paradoxo é figura em que há contradição de idéias. Em outras palavras, o
paradoxo apresenta opinião contrária ao senso comum, mas que pode conter
verdade: "Dor - tu és um prazer! (Castro Alves). Neste magnífico soneto de
Camões, sucedem-se os paradoxos:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.
É um querer mais que bem-querer;
é solitário andar por entre a gente;
é um não contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade,
é servir quem vence o vencedor,
é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode o seu favor
nos mortais corações conformidade,
sendo a si tão contrário o mesmo Amor?".
Lindo, não? E cheio de paradoxos. Como podemos ver, na antítese, apresentam-se
idéias contrárias em oposição. No paradoxo, as idéias aparentam ser contraditórias,
mas podem ter explicação que transcende os limites da expressão verbal.
Dica nº 38
Lapizinho ou lapisinho?
A segunda. Entre as dezenas de sufixos indicadores do grau diminutivo existentes
em português, o falante tem a sua disposição -inho (e suas variações: -inhos, -
inha, -inhas, -zinho, -zinhos, -zinha, -zinhas).
A grafia de palavras com o sufixo -inho depende da forma normal. Assim, o
vocábulo no diminutivo será escrito com "s" ou com "z" de acordo com a grafia da
forma normal, "s" ou "z":
· lápis ® lápis + inho ® lapisinho
· mesa ® mes(a) + inha ® mesinha
· vaso ® vas(o) + inho ® vasinho
· rapaz ® rapaz + inho ® rapazinho
· raiz ® raiz + inha ® raizinha
· reza ® rez(a) + inha ® rezinha
Já o sufixo -zinho nada mais é do que -inho acrescido da consoante de ligação "z".
Dito em outras palavras, -zinho é variante alomórfica de -inho. Sempre que o
sufixo -zinho for juntado à forma normal, a grafia será evidentemente com "z",
assim:
· Irmã ® irmã + zinha ® irmãzinha
· Amor ® amor + zinho ® amorzinho
· Romã ® romã + zinha ® romãzinha
· Papel ® papel + zinho ® papelzinho
Com os vocábulos oxítonos terminados em vogal - oral ou nasal - e a maior parte
dos proparoxítonos também se usa -zinho:
· pé ® pé + zinho ® pezinho
· vovô ® vovô + zinho ® vovozinho
· mamão ® mamão + zinho ® mamãozinho
· cátedra ® cátedra + zinha ® catedrazinha
· árvore ® árvore + zinha ® arvorezinha
· óculos ® óculo(s) + zinhos ® oculozinhos
Na linguagem coloquial, algumas dessas formas simplificam-se, como arvorezinha
> arvinha e oculozinhos > oclinhos. Entretanto, saiba que na linguagem culta
formal (escrita) essas criações não são aceitas e prevalecem as grafias apontadas
acima.
Dica nº 39
Obedeceu-se ao regulamento x O regulamento foi obedecido.
Ué, mas não se diz que não se pode apassivar construção de que faça parte verbo
transitivo indireto? Acontece que temos aí duas situações distintas, já que o verbo
obedecer pode ser usado na regência direta - obedecer alguém - ou indireta -
obedecer a alguém. (A propósito, veja LUFT, 1987-Verbete "Obedecer".) As duas
situações são:
1. Regência direta (Obedecer alguém) - Neste caso, o verbo é transitivo direto e
conseqüentemente o "se" é pronome apassivador: "Obedeceu-se o regulamento",
"O regulamento foi obedecido" e "Obedeceram-se os regulamentos", "Os
regulamentos foram obedecidos". Sujeito: o regulamento, no primeiro exemplo, e
os regulamentos, no segundo.
2. Regência indireta (Obedecer a alguém) - Aqui não pode haver apassivação, já
que o verbo é transitivo indireto. Logo, o "se" é índice ou partícula de
indeterminação do sujeito: "Obedeceu-se ao regulamento", "Obedeceu-se aos
regulamentos". Sujeito indeterminado.
Há controvérsia entre os gramáticos se, com os verbos transitivos diretos, o "se"
também poderia ser considerado partícula de indeterminação do sujeito. Nesta
hipótese, poderiam ser aceitas construções como "Vende-se casas" e "Aluga-se
canoas", em que o sujeito seria indeterminado. Essa posição, porém, ainda
encontra resistência junto à maior parte dos especialistas.
Dica nº 40
Curso a distância ou curso à distância?
Na verdade, o que está em discussão é: ocorre ou não crase nas locuções
adverbiais? O tema é bastante controverso e não há acordo entre os autores.
Assim, quem escreve deve apoiar-se nos argumentos de algum especialista
renomado, quer opte por uma ou outra posição.
Duas correntes posicionam-se:
· a que admite crase nas locuções adverbiais somente se, de acordo com a
regra geral da crase, houver emprego do artigo definido "a" ou se houver risco de
ambigüidade. Assim, em "Mantenha-se à distância de 30 metros", "Ele passa às
vezes por aqui" e "A irregularidade está à vista dos consumidores", percebemos o
emprego do artigo "a" e a crase é justificada. Em "Recebeu a bala" e "Já estudei a
distância", a clareza está comprometida, pois ficamos sem saber, apenas por essas
duas frases ambíguas, se a bala e a distância são objetos diretos ou adjuntos
adverbiais, razão por que, neste último caso, deve haver acento grave no "a"
dessas locuções - à bala e à distância - para precisar o significado. Entretanto, em
"Temos curso a distância nesta escola", "Os policiais foram recebidos a bala" e
"Faça a prova a tinta", as locuções assinaladas não recebem acento grave porque aí
não há crase, pois o artigo definido feminino não está sendo utilizado. Tanto isso é
verdade que se tentarmos substituir os substantivos femininos por outros
masculinos não teremos a contração "ao", mas o "a" se manterá, prova de que é
simples preposição. Teremos, por exemplo, "Os policiais foram recebidos a pau (e
não, ao pau)" e "Faça a prova a lápis (e não, ao lápis)". Além do mais, naqueles
dois exemplos, inexiste o risco de ambigüidade.
· a que entende dever haver sistematicamente crase nas locuções adverbiais
formadas de palavras femininas sob o argumento da tradição, ainda que
tecnicamente não haja razão para tal. Assim, devemos construir "Quase não se
escreve mais à máquina", "Você pode emitir o recibo à mão", "Paguei o lote à
vista", "Rico ri à toa", etc.
Considero inconsistente o argumento da "tradição". Só isso não constitui
justificativa suficiente. O entendimento da primeira corrente mencionada tem mais
embasamento lógico e, conseqüentemente, é o adotado por mim. Finalmente, é
preciso esclarecer não ser adverbial, mas adjetiva a locução presente no título
desta página, pois ela modifica substantivo (curso). Entretanto, as considerações
aqui tecidas valem também para ela.
Dica nº 41
Enviamo-lhes ou enviamos-lhes?
Tanto faz. A ênclise em construções como "Envio-lhe", "Envio-lhes" ou "Enviamos-
lhe" não costuma suscitar muita dúvida. A questão surge quando se emprega o
verbo e o pronome oblíquo no plural. "Gramaticalmente, não se pode dizer errada a
forma queixamos-nos. Se outro, no entanto, é o uso geral, explica-o a facilidade,
ou melhor o hábito da pronúncia, o qual regula a omissão ou não do s final nos
diferentes casos." (ALMEIDA, 1979, § 825, 4, Notas, 2.ª) A supressão do "s" do
verbo pode ocorrer com qualquer oblíquo, até mesmo com o verbo no plural e o
pronome no singular: enviamo-lhe.
Outros autores, como Celso Cunha (2000, p. 400, Observações, 1.ª), registram que
em casos como esses "o -s final da desinência -mos é omitido (em virtude de uma
antiga assimilação à nasal inicial do pronome seguinte)". Ele refere-se a
construções como "lavemo-nos", em que o pronome oblíquo principia com a
consoante nasal "n". Não comenta a respeito de outras formas verbais associadas a
outros pronomes oblíquos, como em "lavamos-lhes as roupas". Assim, o fator que
regula tal uso é tão-somente a eufonia ou então a facilidade de pronúncia.
Podemos, pois, construir como abaixo:
· Lavamo-nos ou lavamos-nos todos os dias.
· Louvamo-vos ou louvamos-vos sempre, meu Deus.
· Enviamo-lhe ou enviamos-lhe anexo o memorando n.º 565.
· Avisamo-los ou avisamos-los de que a encomenda chegou ontem.
· Informamo-lhes ou informamos-lhes que o depósito já foi efetuado.
Dica nº 42
Desmistificar ou desmitificar?
As duas, cada uma com seu sentido. Vejamos:
· Desmistificar = Retirar ou desfazer a mistificação de alguma coisa,
desmascarar. Mistificação é o ato de mistificar, que significa enganar, iludir, burlar,
fazer algo passar pelo que não é: "Regina desmistificou a encenação de José
Roberto".
· Desmitificar = Desfazer mito, mostrar a coisa como ela realmente é em sua
simplicidade e concretude: "Os professores modernos procuram desmitificar a
Matemática e fazê-la deixar de ser o 'bicho-papão' que sempre foi".
Os dois vocábulos são algo mais que parônimos, pois, além da sonoridade quase
idêntica, seus significados são também muito próximos. Daí a freqüente confusão
que causam.
Dica nº 43
Escolas-modelo ou escolas-modelos?
Embora ambas possam ser consideradas corretas, a tendência gramatical moderna
prefere a segunda. A regra de formação do plural dos substantivos compostos (os
formados por mais de um elemento) é clara: variam os componentes se ambos são
variáveis e estão separados por hífen. Desse modo, temos:
Alguns autores, como Celso Cunha e Domingos Cegalla, ensinam que se o segundo
elemento funciona como determinante específico ou transmite idéia de finalidade
ele permanece invariável: pombo-correio/pombos-correio e manga-
espada/mangas-espada. Entretanto, Napoleão Mendes de Almeida (ALMEIDA, 1979,
§ 227, Notas, 1.ª) garante que "é falso afirmar que não varia o segundo elemento
quando este encerra idéia de finalidade". E mais adiante continua: "A extravagância
vai mais longe quando recorrem para justificar o erro ao argumento da
semelhança; porque o peixe nos lembra o boi iremos dizer peixes-boi? Vamos
então dizer couves-flor?". Cegalla, apesar da opinião acima expressa, ressalva
(CEGALLA, 2000, p. 144, item 3, Observações) que "a tendência moderna, porém,
é a de pluralizar (...) os dois elementos: pombos-correios, peixes-bois, frutas-pães,
homens-rãs...".
Por isso, sigamos a "tendência moderna" e empreguemos fichas-resumos, navios-
escolas, cidades-satélites, escolas-modelos, navios-tanques e assim por diante.
Dica nº 44
Se não x senão
Em se não, duas palavras, o "se" pode ser:
· Conjunção subordinativa condicional e o "não", advérbio de negação.
Exemplos: "Espero que ele venha, mas, se não vier, pouco poderei fazer" e "Se não
gostar, pode devolver o produto". Há sempre a idéia de condição. Tal conjunção
pode ser substituída por "caso": "Caso não venha, pouco poderei fazer" e "Caso não
goste, pode devolver o produto". Há ainda uma terceira possibilidade de
substituição, com emprego do gerúndio: "Espero que ele venha, mas, não vindo,
pouco poderei fazer" e "Não gostando, pode devolver o produto".
· Conjunção subordinativa integrante e o "não" continua advérbio de negação.
Exemplos: "Perguntei-lhe se não gostaria de sair" (nesta oração, o "não" pode ser
suprimido e o sentido geral da frase não se altera. Leia mais, a esse respeito, em
Você sabia? n.º 26) e "Diga se não é verdade o que falei" (aqui, o "se" pode ser
substituído por "que").
Senão pode ter vários sentidos, como abaixo:
· De outro modo, do contrário, caso contrário - "Vá logo, senão me arrependo"
e "Estude bastante, senão você não terá sucesso". (conjunção)
· Mas, mas sim, porém - "Silvinha não é garota de ficar em diversões, senão de
levar a sério os estudos" e "Eu não quis criticar, senão ajudá-lo". (conjunção)
· A não ser, mais do que, além de - "Ele não o comprará, senão por bom
preço" e "Não há senão 20 passageiros a bordo". (preposição)
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Dicas de estilística, sintaxe, semântica e fonética para aprimorar a escrita

  • 2. Dica nº 1 Estilística – Pronomes (pessoais, possessivos), artigos (definidos e indefinidos) e “que” – Use só o estritamente necessário. Assim, sua escrita ficará mais enxuta e elegante. Como fazer isso? Observe as substituições abaixo:· • Eu gosto de massas. ® Gosto de massas. •Tu sabes o que aconteceu? ® Sabes o que aconteceu? •O garoto chegou acompanhado de sua mãe, que o trouxe bem arrumadinho. ® O garoto chegou acompanhado da mãe, que o trouxe bem arrumadinho. •Tenho pelo menos uma idéia na minha cabeça. ® Tenho pelo menos uma idéia na cabeça. (“Uma” aí não é artigo indefinido, mas numeral.) •Quero ouvir uma opinião sua. ® Quero ouvir sua opinião. •Preparei um relatório circunstanciado sobre o assunto. ® Preparei relatório circunstanciado sobre o assunto. •Isto é para a sua apreciação. ® Isto é para sua apreciação. •O meu nariz ardeu ontem. ® Meu nariz ardeu ontem. •Ele disse que estava pronto para vir. ® Ele disse estar pronto para vir. (Substitui- se a conjunção integrante “que” e o verbo na forma modal pelo verbo na forma infinitiva.) •O secretário-adjunto, que foi nomeado secretário titular, ainda não foi empossado no novo cargo. ® O secretário-adjunto, nomeado secretário titular, ainda não foi empossado no novo cargo. Não há erro gramatical nas frases acima, mas elas ficam mais bem apresentadas depois de efetuadas as substituições. A frase “Tenho pelo menos uma idéia na minha cabeça” é pleonástica, isto é, redundante, pois alguém só pode ter idéias na própria cabeça, não é? Lembre-se de que as construções pleonásticas viciosas constituem defeito de estilo. No geral, essas recomendações não necessitam ser seguidas rigidamente, já que há situações nas quais quem escreve “sente” que com a colocação do artigo indefinido, por exemplo, o texto fica melhor. Há outras situações em que a interposição do artigo definido evita cacofonia (sonoridade desagradável), como neste exemplo: “Enriqueça seu texto”, onde surge o encontro cacofônico “sasseu”. Isto pode ser evitado desta forma: “Enriqueça o seu texto”. Dica nº 2 Sintaxe - Crase – Em princípio, crase é a fusão de duas vogais iguais. Mas quando isso acontece? Nos textos que você lê ou escreve, a crase ocorre na fusão da preposição “a” com: • o artigo feminino “a” ® a + a: “Entreguei o documento à diretora”;
  • 3. • o pronome “a” (equivalente a “aquela”) ® a + a: “Prefiro esta fita à que vimos ontem”. • a primeira vogal dos pronomes demonstrativos aquele, aqueles, aquela, aquelas, aquilo ® àquele (s), àquela (s), àquilo: “Somente entregarei a bola àquele garoto”. Essa fusão não fica aparente na pronúncia, mas, sim, na escrita, pois se assinala a crase com acento grave (`), como se vê nos exemplos acima. Portanto, a + a = à. Lembre-se: do fenômeno da crase participam, na maior parte do casos, uma preposição e um artigo ou pronome feminino. Isso traz algumas conseqüências, como: 1. Só ocorre crase diante de nomes femininos: “Dei o lápis à Joaninha” ou “Refiro-me à carta de ontem”. (Única exceção: a + aquele = àquele, porque neste caso não houve fusão da preposição com artigo, mas com a primeira vogal de pronome demonstrativo.) 2. Só ocorre crase diante de nomes de Estados se eles costumam ser usados com artigo: “Viajarei à Bahia” ou “Vamos à Paraíba nas férias” , porque dizemos : “A Bahia fica na região Nordeste” e “A Paraíba tem lindas praias”. Mas não dizemos: “Viajaremos Santa Catarina” nem “Vamos Rondônia nas férias”, porque esses nomes são usados sem artigo: “Santa Catarina é Estado sulista” e “Rondônia é bastante quente”. 3. Só ocorre crase diante de nomes de cidades se eles forem precedidos por qualificativos, como bela, vibrante, pitoresca, etc.: “Refiro-me à bela Londrina”, mas “Refiro-me a Londrina”; “Viajou à vibrante São Paulo”, mas “Viajou a São Paulo”. Observe que este “a” é preposição = para. Aí surge uma questão: por que houve crase em “Viajou à vibrante São Paulo”, se a crase é a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a” e São Paulo é nome masculino? Por quê, hem? Elementar, meu caro internauta: porque aí está subentendida a palavra cidade. É por isso que poderíamos, sem problema algum, dizer: “Vamos à bela São Paulo”, “Dirigimo-nos à linda Lençóis”, etc. 4. Não ocorre crase diante de pronomes pessoais (retos ou oblíquos): “Dê a ela este livro”, não “Dê ela este livro”; “Dê a mim o que me cabe”, mas não “Dê mim o que me cabe”, porque esses pronomes não são usados acompanhados de artigo. Você já viu que para haver crase tem de haver preposição mais artigo. Se a palavra não é usada acompanhada de artigo, nada de crase. 5. Não ocorre crase diante de numerais: “Ponte a 50 metros”, mas não “Ponte 50 metros”; “Daqui a 20 anos”, mas não “Daqui vinte anos”. Isto pela mesma razão do caso 4, ou seja, os numerais não são acompanhados de artigo, já que não se diz “o dois”, “os 50”. Se alguém disser, estará subentendendo alguma palavra, como “o dois (o número dois)” e “os 50 (os anos 50)”. Nesses casos, o artigo estará acompanhando aqueles nomes (número, anos) e não os numerais. Dica nº 3 Semântica – Paronímia
  • 4. – Paronímia é o fenômeno lingüístico pelo qual palavras de significados diferentes apresentam estrutura fonética – digamos, sonoridade – e grafia semelhantes. A rigor, os parônimos não deveriam ser estudados em Semântica, disciplina que se ocupa do estudo do significado de elementos da língua. Entretanto, isso acontece porque os significados dessas palavras são muitas vezes confundidos e toma-se equivocadamente um no lugar do outro. Exemplos de parônimos: instrumentar (dotar alguém de instrumento, de meio de fazer algo) e instrumentalizar (fazer de instrumento alguém, um grupo de pessoas, uma organização; manipular, manobrar). Assim, “vamos instrumentar os recém-formados para poderem sair logo em campo” e “o que ele pretende é instrumentalizar a associação em benefício próprio”. Instrumentar não está no dicionário com esse significado e instrumentalizar ainda não está dicionarizada. Como se vê, os dicionários estão sempre atrasados com relação à realidade viva da língua... Não é porque a palavra não está no dicionário que ela não existe. Veja outros exemplos: mandato (delegação que se concede a alguém para fazer algo em nosso nome) e mandado (ordem escrita expedida por autoridade judicial). Dessa maneira, os deputados recebem mandato do povo para representá-lo e agirem no interesse popular, pelo menos é o que se espera que façam. Já o mandado foi assinado pelo juiz para autorizar busca e apreensão de algo na casa de alguém. Mais um: felina (adjetivo feminino relativo a uma classe de animais, os felinos) e ferina (adjetivo feminino relativo a fera). Dizemos, pois, “pegada felina” e “crítica ferina”. Dica nº 4 Por que, por quê, porque, porquê Esses quatro aí complicam muita gente, menos pela complexidade dos conceitos e mais por falta de “pegar-se o touro a unha” e aprender. A grafia desses vocábulos varia conforme o significado que apresentam e a posição na frase. Vamos a eles: 1. Por que Uso 1 – Grafa-se separadamente e sem acento quando a expressão puder ser substituída por pelo qual, pela qual e seus plurais. Assim, em “Aquele é o portão por que devo entrar”, posso substituir o “por que” por pelo qual. Em “Essas são as razões por que não permaneci no cargo”, posso substituir o “por que” por pelas quais. Classe de palavra – Preposição por + pronome relativo que. Uso 2 – Grafa-se da mesma maneira quando “por que” puder ser substituída por por qual motivo, por qual razão. Exemplos: “Por que você faltou?” e “Não sei por que a semente não germinou”. Classe de palavra – Preposição por + pronome interrogativo que. 2. Por quê
  • 5. É o mesmo caso do “uso 2”, acima, mas aqui o pronome interrogativo termina a frase e depois dele, portanto, vem algum sinal de pontuação: “Afinal, a Marina não veio, por quê?” e “Não me pergunte por quê, já lhe disse.” Como vimos, grafa-se separadamente e com acento circunflexo no “e”. 3. Porque Uma só palavra, sem acento gráfico. Introduz noção de causa ou alguma explicação. -Classe de palavra Conjunção subordinativa causal: “O Brasil é país injusto porque sua elite é egoísta”. A causa de o Brasil ser país injusto é sua elite ser egoísta. (Equivale a uma vez que.) Conjunção coordenativa explicativa: “Precisei afastar-me porque alguém se aproximou”. A aproximação de alguém explica meu afastamento. (Equivale a pois.) 4. Porquê Uma só palavra, acentuada. Classe de palavra – Substantivo. É empregada antecedida de artigo, adjetivo, pronome, numeral, enfim, de vocábulos que normalmente acompanham um substantivo. Exemplos: “Gostaria de saber o porquê disso tudo”. “Quer saber por quê? Tenho pelo menos dois porquês.” Significa razão, motivo Dica nº 5 Fonética/Fonologia - Se alguém lhe perguntar quais são as vogais portuguesas, você rapidamente vai responder: a, e, i, o, u, não é mesmo? Foi assim que todos aprendemos e é assim que milhares de professores continuam ensinando...errado. Não se espante, é isso mesmo. E por quê? Porque quando se ensina assim está-se confundindo fonema com letra e, antes de ser letra, a vogal (e a consoante também) é fonema. Vejamos como as coisas se passam. Sabemos que algumas letras representam graficamente mais de um fonema. É o caso do "x", que representa os fonemas /z/ (exame), / s / (experiência), / š / (faixa), / ks / (fixo). Isso também acontece com as vogais. Dessa maneira, temos as seguintes vogais orais: /a/ (par, cano) /e/ (mel, café) /e/ (vez, você) /i/ (giz, ali)
  • 6. // (sol, avó) /o/ (pôs, coco) /u/ (luz, azul) Todas essas vogais são fonemas distintos, porque sua troca pode acarretar mudança de significado. Por exemplo, se em "selo"(estampilha), trocarmos /e/ por /e/, teremos "selo" (flexão do verbo selar, eu selo); se em "nós" (pronome reto ou plural de "nó") trocarmos o // por /o/, teremos "nos", pronome oblíquo da primeira pessoa do plural, e assim por diante. Então, na verdade, temos sete vogais orais, representadas por cinco letras, a saber:Fonema vogal /a/ /e/ /e/ /i/ // /o/ /u/ Letra correspondente a e e i o o u. Você vai dizer agora que está tudo explicado e acabado, não é? Ainda não. Faltam as vogais nasais. São elas: /ã/ (maçã, ampola, antes) /ẽ/ (sempre, pente) / ĩ / (fim, cinto) /õ/ (compra, ponto) /ű/ (um, fundo). Temos a seguinte correspondência entre vogais nasais e letras: Fonema vogal Letras correspondentes /ã/ ã, am, an /ẽ/ em, en / ĩ / im, in /õ/ õ, om, on /ű/ um, un Em resumo, temos, em português, 12 vogais, das quais sete são orais e cinco, nasais, ou seja: /a/, /e/, /e/, /i/, //, /o/, /u/, /ã/, /ẽ/, / ĩ /, /õ/, /ű/.
  • 7. Dica nº 6 Morfologia - Verbo Faz ou fazem vinte anos? Quando o verbo fazer é empregado no sentido de decorrer tempo, é impessoal, isto é, não tem sujeito e, conseqüentemente, permanece invariável na terceira pessoa do singular. Dessa forma, diz-se: "Faz um mês que Francisca chegou" e "Faz vinte anos que moro aqui". Se, nesse caso, "fazer" estiver acompanhado de verbo auxiliar, este também ficará invariável: "Vai fazer cinco meses que não chove na região" e "Deve fazer 95 anos que meus avós chegaram da Espanha". Entretanto, na expressão fazer anos, ou seja, aniversariar, o verbo "fazer" tem sujeito e, portanto, flexiona-se normalmente. Exemplos: "Gabriel faz cinco anos no dia 17", "As gêmeas fazem 15 anos em setembro" e "Fazem 30 anos aqueles fatos narrados". (Neste exemplo, "aqueles fatos narrados" é sujeito de "fazem 30 anos".) Dica nº 7 Fui eu que fiz, fui eu quem fez ou fui eu quem fiz? Quer saber mesmo? Pois todas estão corretas. Vejamos: Fui eu que fiz - Justificativa - O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que concorda em número e pessoa com o antecedente, a palavra que precede esse pronome. Exemplos: "Foi ele que te nomeou", "Sou eu que vou agora", "Fomos nós que escrevemos a carta" e "Serão os pais dele que receberão a herança". Fui eu quem fez - Justificativa - Se o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo, geralmente, permanece na terceira pessoa do singular. Exemplos: "Foi ele quem te nomeou", "Sou eu quem vai agora", "Fomos nós quem escreveu a carta" e "Serão os pais dele quem receberá a herança". Fui eu quem fiz - Justificativa - Se o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo pode ser influenciado pelo sujeito da oração anterior, com o qual acaba concordando. Exemplos: "Sou eu quem vou agora", "Fomos nós quem escrevemos a carta" e "Serão os pais dele quem receberão a herança". Dica nº 8 Ao invés de ou em vez de? As duas formas estão corretas, cada uma com seu sentido.
  • 8. "Ao invés de" significa "ao contrário de" e usa-se quando se colocam em oposição idéias contrárias. Exemplos: "Ao invés de economizar, Gilda gastou todo o dinheiro" e "Teria sido melhor se Mário, ao invés de falar, ficasse quieto". "Em vez de" quer dizer "no lugar de" e usa-se tanto no primeiro caso como quando as idéias não são contrárias, por exemplo: "Manifeste-se, em vez de se omitir", "Em vez de crase, estude regência nominal agora" e "Por que você não usa a blusa amarela, em vez dessa (de + essa) feiosa aí?". Assim, é incorreto dizer-se "Ao invés de ir à padaria, foi ao supermercado", pois padaria não encerra idéia contrária à de supermercado. Dica nº 9 EUA ou E.U.A.? VASP ou Vasp? É dúvida comum essa, a de como grafar as siglas. Estas são formas abreviadas, geralmente compostas das letras iniciais dos nomes de organizações, empresas e até de pessoas. A propósito, políticos costumam ser conhecidos pelas iniciais de seus nomes, que formam siglas. Por exemplo, o ex-presidente Juscelino Kubitschek era e é conhecido por JK. Jânio Quadros também foi muito citado na imprensa como JQ. Outros personagens menos exemplares também são conhecidos por siglas, como PC e EJ. O nome "Estados Unidos da América" pode ser convertido na sigla EUA ou E.U.A. A Viação Aérea São Paulo S. A. corresponde a VASP ou Vasp. Mas, afinal, como se deve escrever as siglas? Sigla - Tipo especial de abreviação formada pelas letras iniciais de nomes de organizações (por ex., partidos políticos), empresas, órgãos públicos, etc. Exemplos: PPB - Partido Progressista Brasileiro PT - Partido dos Trabalhadores OAB - Ordem dos Advogados do Brasil ONU - Organização das Nações Unidas Banespa - Banco do Estado de São Paulo S. A. Varig - Viação Aérea Rio-Grandense S. A. FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística SHIN - Setor Habitacional Individual Norte. As siglas, uma vez popularizadas, comportam-se como verdadeiros substantivos e, como tais, estão sujeitas aos fatos próprios dessa classe de palavras, como flexão de número e o acréscimo de prefixos e sufixos. Através deste recurso, a sigla é sentida como palavra primitiva, podendo produzir derivadas. Assim: pró-OAB, petismo, pepebista. Particularidades das siglas:
  • 9. · Plural - As siglas podem admitir marca de plural, um "s" minúsculo, sem apóstrofo: CEPs, QSLs, PPAs. Mas também podem permanecer na forma singular e o plural é marcado pelo vocábulo que as acompanha: os QSO. · Pontos no interior da sigla - A norma oficial prevê o uso de pontos para marcar essa forma reduzida, mas o próprio Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (PVOLP) apresenta exemplos com e sem pontos. A tendência generalizada é a da supressão dos pontos. Assim, E. U. A. ou EUA. · Maiúsculas ou minúsculas - O PVOLP admite a sigla escrita com todas as iniciais maiúsculas ou somente a primeira. Dessa forma, podemos grafar VASP ou Vasp. Dica nº 10 Daqui a 50 km ou daqui há 50 km? Freqüentemente, confunde-se "a" com "há", mas não há razão para isso - embora sejam homônimas (têm a mesma pronúncia) -, pois são palavras com uso bem distinto. Neste contexto, "a" é preposição e indica distância a percorrer a contar de determinado ponto. Portanto, o cabível é "Daqui a 50 km", que equivale a "cinqüenta quilômetros a contar daqui". Outro exemplo: "Daqui a 10 km, você encontrará um posto de gasolina". Quando se quer expressar noção de tempo futuro, recorre-se novamente à preposição "a". Assim, "Daqui a cinco anos, Vanessa estará uma bela moça", "Como estará São Paulo daqui a 100 anos?" e "Estávamos a 15 minutos do começo da sessão quando o presidente anunciou seu cancelamento". (Neste caso, "a" indica tempo futuro a partir de certo momento ocorrido no passado.) "Há" é flexão do verbo haver e usa-se para expressar noção de tempo passado. Assim, dizemos: "Há dois anos que moro aqui" ou "Saíram de Goiânia há 23 anos". Nestes casos, "há" pode ser substituída por "faz": "Faz dois anos que moro aqui" e "Saíram de Goiânia faz 23 anos". "Há" também é usada para indicar distância percorrida: "A entrada para Caldas Novas ficou há 20 km". Em resumo · Há - Tempo passado e distância percorrida: "Há 30 anos = Faz 30 anos" e "Há 30 km". · A - Tempo futuro e distância a percorrer: "Daqui a 30 anos" e "Daqui a 30 km".
  • 10. Dica nº 11 O mesmo "João foi promovido ontem. O mesmo será homenageado na próxima semana." É comum ler-se construções desse tipo, onde o vocábulo "mesmo" é empregado dessa forma inadequada. E por que se deve evitar esse tipo de uso? Porque demonstrativos como tal, mesmo, próprio servem para identificar alguma coisa, ou seja, para indicar que se trata de alguém ou algo de quem ou do que já se falou ou já se sabe distinguindo-o de outro alguém ou outra coisa: "Li XYZ. Não me agradou tal livro", "Essa é a mesma salada de ontem" e "Dá na mesma (coisa)". No primeiro caso, tal indica que o livro é aquele e não, outro. No segundo, mesma evidencia tratar-se de determinada salada em oposição a outras e, no terceiro, que se está falando de certa coisa e não, de outras. Portanto, é incorreto dizer-se: "João foi promovido ontem. O será homenageado na próxima semana", pois neste caso não se está distinguindo João de nenhum outro João. Essa construção pode ser refeita, de maneira mais acertada, assim: "João foi promovido ontem. Ele será homenageado..." ou "João foi promovido ontem e será homenageado..." ou ainda: "João, que foi promovido ontem, será homenageado...". Há muitos recursos para se fugir da incorreção ou da pobreza no uso da linguagem. Mesmo e mesma, próprio e própria e seus plurais são ainda empregados para reforço de expressão, no que mantêm o princípio que norteia o uso descrito acima. Assim, "eu mesma fiz o bolo" (eu e ninguém mais), "nós mesmos preferimos vir para receber o prêmio" (nós, não outros) e "o próprio chefe redigiu o memorando" (deveria ser outra pessoa, mas foi ele). Pronome - Palavra gramatical que substitui ou pode substituir um nome (substantivo) ou a ele se refere: eu, lhe, isto, meu, etc. Exemplos: "Eu sou a força!", "Dê-lhe o recado", "Isto é seu", "Esse crachá é o meu". O pronome pode classificar-se em: · apassivador - É a função que a partícula "se" exerce na formação da voz passiva sintética ou pronominal. Neste caso, o sujeito é inanimado - incapaz de praticar a ação verbal - ou apenas paciente da ação: "Plantaram-se várias árvores no canteiro central", "Alugam-se quartos" e "Quero que se me devolva o dinheiro". [Note neste último exemplo que aparece um objeto indireto (me).] A função apassivadora do "se" é constatada ao converter-se a voz passiva sintética na analítica: "Várias árvores foram plantadas no canteiro central", "Quartos são alugados" e "Quero que o dinheiro seja devolvido para mim". · demonstrativo - Refere-se à posição (no tempo ou no espaço) de alguma coisa situada em relação a uma das pessoas gramaticais (a que fala, com quem se fala e de quem se fala) ou à identidade de alguma coisa ou então indica a distância de algo que aparece no texto. Os demonstrativos são: este esta isto esse essa isso aquele aquela aquilo
  • 11. ..Este, esta e isto usam-se para indicar proximidade da primeira pessoa, a que fala: "Coloque a mesa neste (em + este) espaço", "Esta taça fica aqui", "Este ano promete muitas surpresas" (ano em que se está) e "Isto está atrapalhando a passagem". Esse, essa e isso são usados para indicar proximidade da segunda pessoa, a com quem se fala ("Esse carro é importado?", "Onde você comprou essa blusa?), ou da primeira e da segunda simultaneamente ("Está vendo esse menino aí? É filho da Márcia" e "Cuidado com a cabeça, que essa porta é baixa."). Com relação ao tempo, expressam proximidade passada ou futura: "Junho foi bem produtivo; nesse mês, trabalhei muito" e "Agosto vem aí. Esse mês promete ser bastante seco". Aquele, aquela e aquilo expressam distanciamento, no espaço ou no tempo, de alguma coisa em relação à primeira e à segunda pessoas simultaneamente: "Aquela menina é minha prima" e "Aquilo aconteceu há muito tempo". No texto, usam-se os demonstrativos para indicar o ser ou coisa de que se falou: "Paulo, Afonso e Wagner seguiram carreiras diferentes. Aquele tornou-se bancário e este, advogado" (Aquele = Paulo e este = Wagner). Assim, aquele se refere ao termo mais distante e este, ao último citado. Demonstrativos como tal, mesmo, próprio servem para identificar alguma coisa: "Li XYZ. Não me agradou tal livro" e "Dá na mesma (coisa)". Usa-se mesmo/mesma para indicar que se trata de alguém ou algo de que já se falou ou já se sabe, distinguindo-o de outro alguém ou outra coisa: "Essa é a mesma salada de ontem". É inadequado dizer-se: "João foi promovido. O mesmo vai ser homenageado", pois neste caso não se está distinguindo João de ninguém mais. topo · indefinido - Tem justamente essa função, a de "indefinir", ou porque não se sabe a identidade de algo ou por não se querer identificar. Designa a terceira pessoa gramatical de forma vaga, indeterminada. São pronomes indefinidos: alguém, algo, ninguém, qualquer, tudo, cada qual, quem quer que, etc. Exemplos: "Alguém está interessado em você", "Tenho algo para te mostrar", "Ninguém chegou na hora", "Qualquer pessoa faz isso facilmente", "Tudo ajudou", "Cada qual com seu igual" e "Quem quer que chegue atrasado não vai entrar". topo · interrogativo - É usado para se fazer questionamento, interrogação: quem (qual pessoa?), que (qual coisa? qual motivo?), qual (pessoa ou coisa dentre outras), onde (em que lugar?), quando (em que tempo?), quanto (que quantidade? de seres ou coisas). Exemplos: "Quem está aí?"; "Que há com você?", "Por que ela não veio?"; "Qual (ou quem) de nós vai primeiro?"; "Qual das janelas está quebrada?"; "Onde está o microfone?"; "Quando Luciana viaja?"; "Quanto custa?"; "Quantos já embarcaram?". topo · pessoal - Substitui um nome e ao mesmo tempo indica sua pessoa gramatical (a que fala, com quem se fala ou de quem se fala). Pode ser reto (eu, nós), oblíquo (me, nos) e de tratamento (você, a gente, vossa excelência, o senhor, fulano). Exemplos: "Nós é que somos os heróis", "Siga-me", "Você poderia passar-me o jornal?". - oblíquo: é o que exerce, na frase, a função de complemento do verbo: me, o, lhe, se, nos, etc., como em "Beije-me mais uma vez", "Comprei-o num antiquário", "Não lhe responda", "Os dois se abraçaram fraternalmente", "Francisco nunca nos visitou". Como o pronome oblíquo exerce função complementar, orações como
  • 12. "Deixe para mim fazer" são incorretas de acordo com a norma culta, pois ele aí está desempenhando a função de sujeito. Neste caso, deve-se substituí-lo pelo pronome reto eu: "Deixe para eu fazer". topo · possessivo - Expressa noção de posse de uma das pessoas gramaticais (possuidor) em relação à coisa possuída: meu, teu, seu e os correspondentes plurais. Exemplos: "Meu filho chegou", "Teu cabelo está desalinhado" e "Seu ônibus já passou". Pelos exemplos, vê-se o grau de relatividade da "coisa possuída", pois nem sempre o possessivo exprime a noção de propriedade. Os pronomes oblíquos também podem desempenhar papel possessivo, como nestes exemplos: "Roubaram-lhe a carteira = roubaram a sua carteira" e "Conquistou-me a confiança = conquistou a minha confiança". topo · recíproco - É o que expressa reciprocidade da ação verbal. Isto significa que os agentes da ação praticam-na e ao mesmo tempo a recebem. Assim, em “Jonas e Alves abraçaram-se” e “Nós nos entendemos”, os verbos e os pronomes se e nos são recíprocos. Estes funcionam aqui como objetos diretos, mas, empregados com outros verbos, poderão classificar-se como objetos indiretos. Conforme a construção, tal pronome pode causar ambigüidade, razão por que, se queremos exprimir reciprocidade de ação, devemos utilizar as expressões um ao outro, uns aos outros, mutuamente e reciprocamente em benefício da clareza. Dessa forma, na oração “Oscar e Gouveia feriram-se”, não se sabe se ambos foram feridos por alguma causa externa, se cada um feriu-se individualmente ou se um feriu o outro. No primeiro caso, o “se” é pronome apassivador; no segundo, pronome reflexivo e no terceiro, pronome recíproco. Neste caso, para evitar a imprecisão, construímos: “Oscar e Gouveia feriram-se um ao outro” (ou “mutuamente” ou “reciprocamente”). É possível ainda empregarmos forma verbal na qual se integra o prefixo entre- para indicar claramente a reciprocidade, como em “Carlos e Daniela entreolharam-se”, isto é, ele olhou para ela e ela fez o mesmo em relação a ele.topo · reflexivo - Pronome pessoal oblíquo que, embora funcione como objeto direto ou indireto, refere-se ao sujeito da oração: me, te, se, si, nos, etc. O pronome reflexivo apresenta três formas próprias na terceira pessoa, do singular e plural: se, si e consigo. "Guilherme já se preparou", "Ela deu a si um presente" e "Antônio conversou consigo mesmo". Nas outras pessoas, os reflexivos assumem as mesmas formas dos demais oblíquos não-reflexivos: me, mim, te, ti, nos, vos: "Eu não me vanglorio disso", "Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi", "Assim tu te prejudicas", "Conhece a ti mesmo", "Lavamo-nos no rio", "Vós vos beneficiastes com a Boa Nova". topo · relativo - É a palavra que, numa oração, refere-se a um termo de outra, o antecedente (que vem antes): que, o qual, quem, cujo. Exemplos: "Este é o disquete que eu trouxe" (que ® disquete); "Tal o caráter herdado dos pais, o qual era preciso manter" (o qual ® caráter; se fosse empregado "que", o sentido ficaria ambíguo, pois não se saberia o que era preciso manter); "Foi ele a quem me dirigi" (quem ® ele); "Estou falando da parede cuja pintura está manchada" (cuja ® da qual a). O pronome relativo que distingue-se de outros “ques” por poder ser substituído por o qual, a qual, os quais, as quais. É preciso cuidado no emprego do que quando houver mais de um antecedente, para garantia da clareza. Veja este período: “Joaquim é o pai do Renato, que nasceu em Alagoas”. Quem nasceu em
  • 13. Alagoas? Igual cuidado merecem outros relativos. Assim, em “Visitamos Itaporã e Icatu, onde se localiza a Escola de Belas-Artes”, não se sabe em qual cidade se situa a escola. topo · de tratamento - Palavra ou expressão que vale por pronome pessoal. São eles: a gente, beltrano, fulano, sicrano, sua majestade, sua senhoria (e outros similares), você, Vossa Alteza, Vossa Excelência (e outros similares). Os pronomes de tratamento, apesar de serem da segunda pessoa gramatical (referem-se à pessoa com quem se fala), são considerados de terceira pessoa. Assim, levam o verbo e outros pronomes (oblíquos e possessivos) para a terceira pessoa, como em “Vossa Excelência esqueceu-se do compromisso”, “Sua agenda permite a Vossa Reverendíssima encontrar-se com o prefeito e “Você foi lá?”. Dica nº 12 Etc. Quantas vezes você já usou "etc.", não é mesmo? Vamos, porém, comentar algo sobre isso. Etc. é abreviatura da expressão latina et cetera e significa "e outras coisas", "e outros (da mesma espécie)", "e assim por diante". Originalmente, era empregada apenas com referência a coisas, mas atualmente também se vê (e pode-se usar) relacionada a animais e mesmo pessoas que poderiam ser mencionados, mas são subentendidos em um texto. Assim: "lâmpadas, soquetes, conectores, plugues, etc.", "cavalos, mulas, jumentos, etc.", "Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Leonardo, Daniel, etc.". Com o passar do tempo, ficou obscurecido, para o falante comum, o significado original dessa abreviatura, especialmente o fato de ela conter o elemento de ligação "e". Dessa forma, etc. passou a ser vista como mais um elemento em uma enumeração, razão por que, conforme se deduz, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (PVOLP) apresenta-a precedida de pontuação. Esta, contudo, deve ser a mesma ao separar-se os elementos da seqüência, como nestes exemplos: · "Carros, peças, acessórios, etc." · "Estava tudo assim agrupado: cenoura, chuchu, beterraba; banana, laranja, melancia; feijão, soja e outros grãos; etc." · "Fiscalizar. Reivindicar. Protestar. Etc. Tudo isso faz parte da prática da democracia." Entretanto, alguns puristas da língua relutam em aceitar pontuação antes do etc., apesar de esse uso ser respaldado pelo PVOLP e ser ratificado por respeitados gramáticos brasileiros, como Celso Cunha e Celso Luft.
  • 14. Agora, vamos acrescentar mais um ponto polêmico na nossa discussão. Se, na origem, ficava evidente a presença do elemento de ligação "e" (et cetera), que já não é mais percebido, e se, conseqüentemente, "etc." é vista apenas como mais um elemento em uma enumeração, por que nos repugnaria o uso do "e" antes de "etc."? Portanto: "galinhas, perus, patos e etc.". Vejamos o caso do pronome comigo, formado de "com + migo". Mas o que é esse "migo"? "Migo" é resultado da transformação fonética do latim "mecum" (que significava exatamente "comigo"), onde já estava embutida a preposição "com" (cum, em latim). O que acontece com o "etc." aconteceu também aqui: com o passar do tempo, os falantes não "sentiram" mais a presença do "com" em mecum e acrescentaram mais um "com" (cum + mecum > cummecum > comigo). Daí o vocábulo "comigo", em rigor, conter dois "com". Da mesma forma, "e etc." conteria dois "e". Coisas da evolução da língua. Contudo, é preciso ficar claro que essa é, por enquanto, apenas opinião pessoal do prof. Paulo Hernandes. O uso de "e" antes de etc. ainda não é admitido nas mais conhecidas gramáticas disponíveis no Brasil. Para finalizar: vocês se lembram de um famoso jogador de futebol, que, apesar de não muito bom entendedor do processo etimológico, disse em entrevista: "Comigo ou sem migo, o time ganha."? Dica nº 13 Coloquei mais um link no meu site. O que acha dessa frase? Possivelmente, você dirá que está tudo certo com ela, tal é sua familiaridade com essa enxurrada de palavras estrangeiras que pipocam nos textos da nossa imprensa - especializada ou não -, não é mesmo? Pois é, mas vamos aos fatos. Em primeiro lugar, a grafia das palavras no Brasil é regulamentada por lei (Decreto-Lei n.º 2623, de 21.10.55), simplificada pela Lei n.º 5765, de 18.12.71. Dessa forma, o respeito à norma ortográfica oficial é respeito à lei. Em segundo lugar, essa mesma norma disciplina a escrita de nomes estrangeiros - os estrangeirismos ou barbarismos (em sentido estrito) - que, se não forem aportuguesados, ou seja, se não se adequarem à nossa ortografia, devem ser escritos entre aspas ou então sublinhados. Devem, enfim, ser postos em destaque de alguma forma (tipos itálicos, por exemplo). Excetuam-se os já consagrados, como box, watt, show, shopping, etc. (aqui em destaque apenas para melhor visualização). A propósito, box, com significado de "compartimento", permaneceu na grafia original, mas empregada no sentido de "luta com punhos" foi aportuguesada para "boxe" e tem ainda sinônimo vernáculo: pugilismo. Assim, o correto é escrever-se "link", software, upgrade. O ideal seria que os meios de comunicação - TV, rádio, revistas, jornais e agora a Internet - adotassem postura de defesa da nossa cultura, aí incluída a língua portuguesa. Para isso, procurariam traduzir para o português, quando possível, os nomes estrangeiros que através deles ingressassem em nosso meio. Caso não fosse possível, que pelo menos adaptassem à nossa ortografia essa torrente de palavras estrangeiras, especialmente inglesas.
  • 15. Não se entende, a não ser em razão de mentalidade colonizada, que a maioria dos estrangeirismos não possa ser traduzida. Para ficar apenas no contexto da Internet: link não poderia ser "ligação" ou mesmo "porta"? Home page não poderia ser traduzida por "página principal" ou "página de abertura"? Browser, não poderia ser "navegador" ou "programa de navegação"? Em vez de download, bem que poderíamos utilizar "baixamento", "descarregamento" ou "descarga". Se alguém objetar que "baixamento" não está no dicionário, pois que se crie essa palavra e se a coloque nele! Banner não poderia ser "faixa" ou "faixinha"? E o que dizer de hit, no contexto da rede? Poderia perfeitamente ser traduzida por "visita" ou "acesso". Lembremo-nos de que file, desde o início da expansão da Informática no Brasil, foi apropriadamente traduzida por "arquivo". Em vez de mandar "e-mail" (abreviação de electronic mail = correio eletrônico), eu bem que poderia mandar uma mensagem ou até, abreviadamente, "msg.", já que é para encurtar... Este trecho, de três linhas, foi retirado de uma revista especializada em Internet: "Às vezes, troca-se links simplesmente, em vez de banners. Por exemplo: você tem um site...". Total desrespeito à norma ortográfica. Que pelo menos se aportuguesem tais palavras. Assim, vocábulos como link viram "linque"; site vira "saite"; browser, "bráuser" e assim por diante. Já não aportuguesamos diskette? E "leiaute", já não foi layout? Quem resiste a isso, deveria continuar a escrever football, goal, penalty, bouquet e carnet, por exemplo. Não se trata de xenofobia (aversão a tudo que é estrangeiro). Trata-se apenas de defender nossa cultura e conseqüentemente nossa língua dessa invasão desenfreada, que aqui despeja centenas de palavras sem a menor cerimônia, como se o Brasil fosse a "casa-da-mãe-joana". (Na opinião de quem assim procede e com isso concorda, é.) Vamos receber esses empréstimos lingüísticos quando necessário, quando vierem suprir lacunas do idioma e mesmo assim adaptando-os à nossa ortografia. Caso contrário, que fiquemos com as palavras da nossa língua, a qual muito mais autenticamente expressa a cultura brasileira. O Brasil proclamou sua independência política em 1822, mas, na mentalidade de muita gente, ainda somos colônia Dica nº 14 Pirassununga ou Piraçununga? Cotegipe ou Cotejipe? Pela norma ortográfica brasileira, devem ser escritos com "ç" e "j" os nomes provenientes de outras línguas – das indígenas, inclusive – os quais contenham, respectivamente, os fonemas · /s/ (som de "s") no meio da palavra, como araçá, Açu, Araçoiaba da Serra, Guaçuí, Igaraçu, Moçoró, muçurana, Piraçununga, etc.; · /ž/ (som de "j") no início ou no meio do vocábulo, como em Cotejipe, jenipapo, Mojimirim, Potenji, Seriji. "Sergipe", pela regra, deveria ser Serjipe, mas...
  • 16. Dica nº 15 Minha mulher é do signo de Leão e minha mãe, de Libra. Tenho um irmão de Áries e meus filhos são de Aquário. Tudo muito natural, não é? Pode até ser, mas que há certa "salada" lingüística aí, com certeza, há. E por quê? Porque se está misturando português com latim. Você pode dizer como quiser - não há erro nisso -, mas, por questão de coerência, deveria utilizar todos os nomes em português ou todos em latim. Aqui vão os nomes dos signos do Zodíaco, nas duas línguas: Dica nº 16 Maiores informações É muito comum lermos na imprensa ou ouvirmos no rádio e TV, especialmente em anúncios ou avisos, essa expressão, que seria apenas esquisita se não fosse incorreta. Sim, porque maior é comparativo de superioridade de "grande". Assim, dizemos "Meu texto ficou maior que o seu" ou "Sua alegria é grande, mas a minha é maior (do que a sua)". Portanto, maior encerra duas idéias: de comparação e de superioridade na grandeza. Ora, se "vale o que está escrito", ao dizermos "maiores informações", estamos querendo dizer que tais informações são de tamanho maior que alguma outra, que já é grande. Repare que estamos comparando idéia de "tamanho". Na verdade, quem assim diz não está querendo se referir de forma alguma a tamanho, mas à "suficiência" ou ao "detalhismo" da informação. Por isso, se você quiser acertar, diga “mais informações” ou “informações mais detalhadas ou pormenorizadas". Note ainda que "grande", elevado ao grau mais alto, ou seja, ao superlativo, torna-se máximo ou o maior (ou máxima ou a maior): "Envie isso com a máxima urgência" e "Larissa é a maior! (dentre outros)". Dica nº 17 Dígrafo
  • 17. Vez por outra, deparamos com esse termo da Gramática, que expressa fenômeno lingüístico interessante em português. Mas afinal, o que é dígrafo? Dígrafo - do grego di, dois, e grafo, escrever - é dupla de letras que representa um só fonema, como "an" (em santo), que representa o fonema /ã/; "ss" (em passo), que representa /s/; "nh" (em pinho), que representa /ñ/; e outros. Portanto, nos dígrafos, as letras não formam encontro consonantal, já que não são pronunciadas as duas consoantes, pois se trata de um único fonema. Na verdade, a existência dos dígrafos revela deficiência do nosso alfabeto, pois o ideal seria que cada fonema fosse representado por uma única letra. Os dígrafos no português brasileiro são os seguintes: dígrafo fonema representado palavra-exemplo am /ã/ ambos an /ã/ antigo ch /š/ chuva em /ẽ/ sempre en /ẽ/ entrada gu /g/ guelra, guia (neste caso, usa-se "gu" somente antes de "e" e "i" e o "u" não é pronunciado.) ha /a/ há he /e/ hemisfério he, hé / e / hera, hélice hi /i/ hipismo ho /o/ hoje ho, hó // homem, hóspede hu /u/ humano im /ĩ/ impedir in /ĩ/ indicador lh /l / galho nh /ñ/ ninho om /õ/ ombro on /õ/ onde qu /k/ queijo, quilo (neste caso, usa-se "qu" somente antes de "e" e "i" e o "u" não é pronunciado.) rr / / terra sc /s/ nascer sç /s/ cresço ss /s/ esse um /ű/ umbigo un /ű/ mundo xc /s/ exceção xs /s/ exsurgir Observe ainda que:
  • 18. 1. Quando as duas letras são pronunciadas, não se trata de dígrafo: quase, freqüente, eqüidade, lingüiça, escada, exclamação, etc. O trema é colocado sobre o "u" exatamente para indicar que ele deve ser pronunciado. 2. No final de palavras como cantam, armazém e correm, "am" e "em" não são dígrafos, pois representam os ditongos nasais /ãw/ e /ẽy/, respectivamente, ou seja, dois fonemas. 3. Na divisão silábica, apenas seis desses dígrafos são separáveis na escrita: rr, ss, sc, sç, xc, xs. Assim, temos: car-ro, pas-so, des-ci-da, des-ça, ex-ce-to, ex-su- da-çao. Dica nº 18 150 g ou 150 g.? 100 ha ou 100 ha.? Em português, as abreviaturas são normatizadas, ou seja, são definidas por norma legal. Ao usá-las a nosso bel-prazer, podemos incorrer em erro. Dessa forma, por exemplo, os símbolos científicos são escritos sem ponto, como g (grama), ha (hectare), kg (quilograma ou quilo), m (metro ou minuto), m² (metro quadrado), min (minuto), etc. Repare que, em orações como "Depois da dieta, ela pesa agora 50 kg.", o ponto ao lado de kg nada tem a ver com a abreviatura, mas funciona apenas como ponto final do período. Símbolos técnicos desacompanhados de ponto abreviador (há símbolos técnicos pontuados, como ger. = gerúndio) não recebem "s" como marca de plural: 200 kg, 2h 10 m, 1.500 m, etc. Portanto, esta forma de notação tanto se refere ao singular como ao plural dos nomes representados. Observe, num dos exemplos acima, a forma correta de grafar horários: 3 h ou 3 h 00 m, 8h 30 m, 15 h 40 m, etc. Grafias como 05:30 h ou 17h:35 estão em desacordo com a norma ortográfica brasileira. Muitas outras abreviaturas são usadas com ponto, como alm. (almirante), cap. (capitão), gen. (general), adv. (advérbio), prof. (professor), etc. Não encontram amparo legal abreviaturas do tipo "gal." (general) ou "alte." (almirante). Abreviaturas acompanhadas de ponto podem receber "s" como marca de plural: págs. (páginas), Pes . (padres). Página também pode ser abreviada p. e páginas, pp. Dica nº 19 Infinitivo flexionado Este tema não é dos mais simples entre os fatos gramaticais da língua portuguesa. O infinitivo é forma nominal do verbo e pode apresentar-se nas modalidades
  • 19. flexionada e não-flexionada. (Veja o verbete "Infinitivo" no Glossário Gramatical.) Alguns autores adotam, para essas formas, a nomenclatura de infinitivo pessoal e impessoal. O prof. Hermínio de Campos Mello contesta esse uso alegando que tanto o infinitivo flexionado como o não-flexionado são pessoais, ou seja, referem-se a alguma pessoa gramatical. O mestre parece ter razão quando se empregam flexões como "Vou caminhar amanhã", "Ela vai caminhar amanhã" ou "Todos vão caminhar amanhã". Nestes exemplos, embora em sua forma não-flexionada, ou seja, "impessoal", o infinitivo relaciona-se sempre a uma das pessoas gramaticais. O infinitivo flexionado é idiomatismo da língua portuguesa, ou seja, é fenômeno característico, típico de nossa língua, embora não seja exclusivo dela. Tudo indica que se originou do imperfeito do subjuntivo latino (hipótese de José Maria Rodrigues) e já aparece no primeiro documento conhecido escrito em língua portuguesa, a "Cantiga da Ribeirinha" (veja a pág. Você sabia? n.º 13), como se pode ver abaixo: "e vos, filha de don Paay Moniz, e ben vus semelha d'aver eu por vos guarvaya". O infinitivo pode, pois, flexionar-se em todas as pessoas gramaticais: amar (eu), amares (tu), amar (ele), amarmos (nós), amardes (vós), amarem (eles). Morficamente, o infinitivo flexionado é idêntico ao futuro simples do subjuntivo nas conjugações verbais regulares. Distingue-se deste por encerrar significado declarativo (afirmativo ou negativo: "Quero que os alunos tenham mais aulas de Português para entenderem o infinitivo flexionado"), ao passo que o futuro do subjuntivo expressa hipótese condicional (se eles entenderem) ou temporal (quando eles entenderem). Outros exemplos de orações com o infinitivo flexionado: "Ao se aproximarem os professores, os alunos levantaram-se", "As andorinhas vinham chegando em revoada até pousarem todas sobre a figueira" e "Lembrou existirem emendas na ata da assembléia anterior". Dois autores estabeleceram regras para o infinitivo flexionado: Jerônimo Soares Barbosa e Frederico Diez (pronuncie Dits). Vejamos o que consta de cada uma:· Regra de Soares Barbosa - Em um período composto, se o sujeito do verbo no infinitivo for diferente do sujeito do verbo da outra oração, o infinitivo será flexionado. Ex.: "(Eu) Creio (nós) termos sido enganados". Por outro lado, se os sujeitos do verbo no infinitivo e do verbo da outra oração forem os mesmos, o infinitivo não se flexionará. Ex.: "(Nós) Viajamos juntos para (nós) discutir o assunto em profundidade". O autor lusitano apresenta ainda outros casos de flexão do infinitivo. · Regra de Frederico Diez - Somente se usa o infinitivo flexionado quando ele pode ser substituído por uma forma modal. Neste caso, é indiferente se ele tem ou não seu próprio sujeito. Ex.: "(Eu) Peço-lhes não recomeçarem (vocês) a discussão" ® sujeitos diferentes. Essa oração equivale a outra em que os dois verbos estão na forma modal: "(Eu) Peço-lhes que (vocês) não recomecem a discussão". Exemplo em que os sujeitos são os mesmos: "(Eles) Estão comemorando por (eles) terem passado no vestibular", que equivale a "(Eles) Estão comemorando porque (eles) passaram no vestibular". Esta regra de Diez é ótimo guia para se apurar o estilo e evitar-se "que e porque" na medida do possível. Quando cabível, suprimam-se esses elementos de ligação e converta-se o verbo da
  • 20. forma modal na forma infinitiva. Dessa maneira, em vez de "Ele disse que é possível que entremos", use "Ele disse ser possível entrarmos". (Veja também a Dica n.º 1, Estilística.) Leia agora algumas observações sobre o infinitivo baseadas em escritos do prof. Campos Mello (CURSO, s. d.). 1. O infinitivo será ou não flexionado quando a clareza assim o exigir. Ex.: "Infanta, no exílio amargo, só o existirdes me consola" (Tasso da Silveira). "D. Amélia sofria com aquela animosidade dentro de casa. Uma vez falou com o marido para sair, para procurar um lugar para morarem em casa que fosse deles" (José Lins do Rego). Se o infinitivo não se flexionasse, os sujeitos dos verbos assinalados seriam diferentes dos expressos nesses exemplos. 2. Certa ênfase de estilo pode justificar o emprego do infinitivo flexionado, como no exemplo: "As mulheres cochilando nos quartos, os homens a caçoar e a rir na sonolência, a se espreguiçarem do bom almoço pelas redes e cadeiras" (Dinah Silveira de Queiroz). 3. Cumpre não confundir o infinitivo flexionado com o futuro do subjuntivo. Assim, em "Se algum dia caírem estas linhas sob os olhos de alguém, rirão..." (Ciro dos Anjos), tem-se flexão do futuro do subjuntivo e não, do infinitivo. A flexão do infinitivo, quando correta, propicia clareza, elegância e concisão à escrita. Para conhecimento mais amplo, consulte a bibliografia recomendada. Dica nº 20 Onde e aonde "Onde" significa em que lugar. "Aonde" equivale a para qual lugar e emprega-se sempre com verbos que dão idéia de movimento, como ir e levar. Exemplos: "Aonde Viviane vai?". Com os verbos que não encerram idéia de movimento, usa-se "onde": "Onde você mora?" e "A casa onde nasci não existe mais". Onde e aonde são advérbios e, quanto à função, podem ser classificados como interrogativos e relativos. Serão interrogativos se integrarem oração interrogativa, tanto direta como indireta: "Onde está meu casaco?" e "Diga-me aonde Neusa foi". Serão relativos se se referirem a antecedente expresso ou implícito: "Esta é a piscina onde fui campeão" (onde = em que, na qual ® relativo) e "Vou aonde você vai". (Aonde = ao lugar para o qual ® o qual é relativo.) Esta oração equivale a "Vou ao lugar para o qual você vai". Observe ainda que: 1. Onde se refere a lugar e não, a tempo. É incorreto, pois, dizer-se "É esse o momento onde entro", pois se está falando de tempo. O correto é "É esse o momento quando (ou em que) entro".
  • 21. 2. O prof. Celso Cunha ressalta que a distinção de emprego entre onde e aonde é anulada por muitos escritores de renome e para isso cita alguns exemplos de obras de autores como Machado de Assis e Fagundes Varela. (Veja CUNHA, 2000, pp.342-343.) Dica nº 21 Ambigüidade Ambigüidade é vício de linguagem pelo qual uma frase é construída, involuntariamente, com mais de uma interpretação. (Leia também o verbete Ambigüidade do Glossário Gramatical.) Dizemos involuntariamente porque, em um texto literário, o autor pode deliberadamente possibilitar mais de uma leitura a determinada frase, o que deixa de ser vício. Veja este trecho, duplamente ambíguo, inspirado em artigo de jornal: "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto, amigo do senador Carlos Antônio, cuja ex-mulher o acusa de enriquecimento ilícito". Desconhecemos quem é amigo do senador: o filho ou Rubens. Ficamos também sem saber quem a tal senhora acusa: o filho, Rubens ou o senador. Por outro lado, a múltipla ambigüidade só não atinge a "diretora", pois supõe-se ela não ter "ex- mulher". Se fosse diretor, teríamos mais um elemento vicioso, em conexão com "cuja ex-mulher". Resolvemos o problema conforme o que queiramos dizer: É preciso estarmos atentos à construção de orações para evitar ambigüidades. Há certas palavras perigosas, com as quais devemos tomar bastante cuidado para não incorrermos nesse vício, especialmente possessivos (seu, sua). Em "Celsinho, a Letícia veio com seu pai", não sabemos de qual dos dois é o pai. Resolvemos facilmente o problema dizendo "Celsinho, a Letícia veio com o pai dela" ou "Celsinho, seu pai veio com a Letícia", conforme o que pretendemos dizer. Também merecem cuidado os relativos (que, cujo), como em "Visitamos a igreja do Carmo, a mais bonita da cidade, que data de 1735". O pronome relativo que se refere sempre a um antecedente. Acontece que aqui temos dois antecedentes expressos: "igreja do Carmo" e "cidade". Por isso, devemos evitar colocar mais de um antecedente diante de um relativo (pronome ou advérbio). Desfazemos a ambigüidade da frase invertendo a ordem das orações e mesmo dispensando o pronome: "Visitamos a igreja do Carmo - datada de 1735 -, a mais bonita da cidade" ou "Na cidade - datada de 1735 -, visitamos a igreja do Carmo, a mais bonita". A homonímia e a polissemia também podem causar ambigüidade: em "Talvez eu não amasse Cláudia", não fica claro se a forma assinalada refere-se a
  • 22. flexão do verbo amar ou amassar. Se a frase "As mudas chegaram" não estiver contextualizada, não sabermos se se trata de plantas ou de mulheres que não conseguem falar. (Ambos, casos de homonímia.) Em "Acadêmicos viram monólitos", caso de polissemia, há dúvida se a forma verbal é flexão do verbo ver ou virar. A substituição vocabular ou mudança na estrutura frasal resolverá o problema. O pronome possessivo seu - e suas variações - tem vários significados, ou seja, é polissêmico também. A ambigüidade, juntamente com a obscuridade, são inimigas da clareza, uma das virtudes da boa linguagem e necessidade no processo da comunicação. Dica nº 22 Por ora ou por hora? As duas, cada uma com seu sentido. Por ora equivale a "por agora" ou "por enquanto". Por hora significa "em uma hora", "a cada sessenta minutos". Desse modo, digo "Por ora, não vou mexer com isso = Por enquanto, não vou mexer com isso" e "O carro chega a correr 300 km por hora = O carro chega a correr 300 km em uma hora". Ora, nesse contexto, é advérbio e significa "agora, atualmente" e hora é substantivo e quer dizer "fração do dia". Dicas nº 23 Os gêneros em português - Em português, os nomes podem pertencer ao gênero feminino e ao masculino. Uma palavra do gênero feminino designa especificamente ser vivo do sexo feminino ou coisa que passa idéia feminina, por razões etimológicas ou psicológicas. Já o gênero masculino, além de designar seres do sexo masculino ou coisas que passam idéia masculina, abrange também palavras de significado mais geral - por exemplo, o homem, referindo-se ao gênero humano - ou vocábulos no plural que compreendem seres ou coisas considerados masculinos e femininos. Assim, se dizemos o menino chegou ou a menina chegou, sabemos que a referência é a um garoto ou a uma garota. Entretanto, se dizemos os meninos chegaram, não sabemos se são todos do sexo masculino ou se há garotos e garotas no grupo. É por isso que dizemos que o masculino é gênero geral, "não-marcado" e o feminino é "marcado", pois este designa especificamente seres femininos. Dessa maneira, o feminino é considerado variação morfológica do masculino, tomado como base. Outras línguas, como o grego e o latim, possuem o gênero neutro. As palavras a ele pertencentes não são nem femininas nem masculinas. O português, apesar de não possuir o neutro, guarda alguns vestígios dele - herança latina -, como os pronomes invariáveis isto (masc. este e fem. esta), isso (masc. esse e fem. essa), aquilo (masc. aquele e fem. aquela), algo, tudo, nada, etc.
  • 23. A referência ao gênero é feita através de artigos (o/a, como em o boi / a vaca), pronomes (ele/ela, meu/minha, este/esta, como em ele veio, ela veio; meu dentista, minha dentista; este garfo, esta colher), pela distinção mediante morfemas de gênero (-o/-a, como em gato/gata; -ês/esa, como em freguês/freguesa; ão/ona, como em chorão/chorona). Modernamente, temos visto na imprensa o emprego da palavra "gênero" em contexto biológico, o que representa inovação, já que gênero é conceito eminentemente gramatical. Dica nº 24 Este, esse, aquele Este, esse e aquele são pronomes demonstrativos e indicam a posição (no tempo ou no espaço) de alguma coisa situada em relação a uma das pessoas gramaticais (primeira-a que fala, segunda-com quem se fala e terceira-de quem se fala) ou localiza algo que aparece no texto. Este, esse e aquele variam em gênero e número, ao passo que as formas isto, isso e aquilo, vestígios do gênero neutro latino, são invariáveis. Veja: este esta isto esse essa isso aquele aquela aquilo Este, esta e isto indicam a proximidade de alguém ou de alguma coisa em relação à primeira pessoa, a que fala: "Coloque a mesa neste (em + este) espaço", "Esta taça fica aqui" e "Isto está atrapalhando a passagem". Também podem indicar o tempo presente: "Este ano promete muitas surpresas" (ano em que se está). Esse, essa e isso são usados para indicar a proximidade de alguma coisa da segunda pessoa, a com quem se fala ("Esse carro é importado?", "Onde você comprou essa blusa?") ou da primeira e da segunda simultaneamente ("Está vendo esse menino aí? É filho da Márcia" e "Tenhamos cuidado com a cabeça, que essa porta é baixa"). Com relação a tempo, expressam proximidade passada ou futura: "Junho foi bem produtivo; nesse mês, trabalhei muito" e "Agosto vem aí. Esse mês deverá ser bastante seco". Aquele, aquela e aquilo expressam distanciamento, no espaço e no tempo, de alguma coisa em relação à primeira e à segunda pessoas conjuntamente, portanto, indicam proximidade da terceira pessoa, a de quem se fala: "Aquela menina é minha prima", e "Aquilo aconteceu há muito tempo". No texto, usam-se os demonstrativos para indicar o ser ou coisa de quem ou de que já se falou: "Paulo, Afonso e Wagner seguiram carreiras diferentes. Aquele se tornou bancário e este, advogado" (Aquele = Paulo, este = Wagner). Assim, aquele se refere ao termo mais distante e este, ao último citado.
  • 24. O pronome o (e suas variações) pode equivaler a isto, isso, aquilo e a aquele e suas variações: "Não compreendo o que você está dizendo" e "Os que estiverem de acordo venham comigo". É preciso distinguir o artigo definido do pronome demonstrativo, como neste exemplo: "Nem sempre as pessoas que chegam na frente são as primeiramente atendidas". O primeiro "as" é artigo definido e acompanha "pessoas", ao passo que o segundo é pronome demonstrativo e substitui "as pessoas" ou "aquelas". Alguns advérbios de lugar ajudam ou reforçam a localização espacial: aqui (proximidade da primeira pessoa), aí (segunda) e ali, lá ou acolá (terceira): "Está vendo este botão aqui?", "Pegue esse livro aí" e "Olhe aqueles garotos reunidos lá na esquina". Tais vocábulos, designativos da posição que seres ou coisas ocupam no espaço em relação às pessoas do discurso, denominam-se tecnicamente "dêiticos". Dica nº 25 A nível (de), em nível (de) As expressões "a nível" ou "em nível", acompanhadas ou não da preposição "de", com equivalência a "de âmbito" ou "com status de" são muito criticadas pelos gramáticos, que as consideram sem sentido e, portanto, as condenam. Apesar de o povo ser o senhor da língua e ele dar o significado que quer a palavras e expressões já existentes ou até criar palavras novas, as formas citadas são mesmo insossas. Até que elas se consolidem e sejam reconhecidas, é preferível, para evitar críticas, usar formas cujo significado seja incontestável e que sejam pacificamente aceitas. Desse modo, em vez de "A campanha será feita a (ou em) nível mundial", prefira-se "A campanha será mundial", "A campanha terá abrangência mundial", "O âmbito da campanha será mundial" ou ainda "A abrangência da campanha será mundial", se se tratar de abrangência. Se a intenção for expressar status, no lugar de "As mudanças no Governo serão feitas em nível ministerial", use "As mudanças no Governo serão feitas no ministério", forma até mais objetiva. Na verdade, não há "princípio lingüístico" que justifique a repulsa a tais expressões, apenas sua inconsistência semântica. Finalmente, observe-se que é correto o emprego de "ao nível de" quando se quiser dizer que algo está na mesma altura em relação a outra coisa, quer em sentido próprio (denotado) ou figurado (conotado): "Ubatuba está ao nível do mar" (na mesma altura em que o mar está) e "Dizer que criminosos de colarinho branco estão ao nível de batedores de carteira é ofender estes últimos". Dica nº 26 Quero falar consigo.
  • 25. O uso dos pronomes reflexivos, especialmente o si e o consigo, pode suscitar dúvidas. Se digo "Joana gosta de falar de si", quero dizer que Joana ama falar a respeito dela mesma. Em "Ele falou consigo", estou querendo dizer que alguém falou com si próprio. Aliás, às vezes, encontramos essas frases acrescidas dos vocábulos próprio/própria e mesmo/mesma para reforçar ainda mais a reflexividade: "Joana gosta de falar de si própria" e "Ele falou consigo mesmo". Repare que esses pronomes se referem ao sujeito do verbo. Por isso, é incorreto usar-se si e consigo de forma não-reflexiva, de modo a não se referirem ao sujeito da oração, como em "Este bilhete é para si" ou "Queremos falar consigo". Já comigo, contigo, conosco, convosco são pronomes não-reflexivos, como nestes exemplos: "Venha comigo", "Quero dançar contigo", "Almoce conosco" e "O Senhor esteja convosco". Comigo e contigo podem ser completados ou reforçados com mesmo/mesma e próprio/própria, como em "Isso é comigo mesmo/mesma" e "É contigo mesmo/mesma que quero falar". Entretanto, por questão de eufonia, isto é, de sonoridade agradável, tal não ocorre com conosco e convosco. Nestes casos, usamos os pronomes retos, como em "É com nós mesmos que ele deve tratar" e "Tal assunto sempre esteve na alçada de vós próprios". O mesmo vale para construções como "Isso é com nós professores", em vez de "Isso é conosco professores". (Leia a respeito em ALMEIDA, 1979, § 319, Nota.) Dica nº 27 Ao encontro, de encontro Ir ao encontro, que se une ao substantivo mediante a preposição de (Ir ao encontro de), significa, em sentido próprio ou denotado, sair em direção a ou ir encontrar-se com alguém, como em "Fomos ao encontro da comitiva que chegava". Em sentido figurado ou conotado, quer dizer corresponder, atender, satisfazer: "Minha proposta vai ao encontro dos seus interesses". Ir de encontro, que se une ao substantivo mediante a preposição a (Ir de encontro a), significa, em sentido próprio ou denotado, colidir, chocar-se com, ir em direção oposta a alguma coisa: "O caminhão foi de encontro ao muro". Em sentido figurado ou conotado, quer dizer estar em desacordo, contrariar: "A mudança de nome da Petrobrás vai de encontro aos interesses do Brasil". O verbo utilizado nos exemplos foi "ir", mas bem poderia ser "vir": "Seu pedido vem de encontro aos meus princípios". Dica nº 28 Negação lexical A negação lexical faz-se em português através do "morfema de negação". Este se materializa na fala através dos alomorfes a-, des-, i-, in- e não-. Vejamos cada um deles:
  • 26. a- De origem grega, "a-" entra na composição de vocábulos como acrítico (a + crítico), atípico (a + típico), atóxico (a + tóxico). Por questão de eufonia, diante de vogal, assume a forma "an-", como em anaeróbico (an + aeróbico) e anovulação (an + ovulação), embora tenhamos aético (a + ético). O prefixo de origem grega "a-" não deve ser confundido com outro, de origem latina, com significado de afastamento, separação, como em apartar. des- Trata-se de prefixo vernáculo, que integra muitos vocábulos portugueses, tais como desacerto (des + acerto), desonesto (des + honesto), desaconselhável (des + aconselhável). O prefixo "des-" pode também significar "ação contrária", como em desfazer e desconsiderar, que não é o caso de que tratamos aqui. i- Prefixo de origem latina, alguns gramáticos consideram-no variante do "in-". Aparece em vocábulos como ilógico (i + lógico), iliquidez (i + liquidez), imerecido (i + merecido), imoral (i + moral). Diante de palavras iniciadas com / /, muda, na escrita, para "ir-" a fim de manter o caráter forte daquele fonema: irreal (ir + real), irrecorrível (ir + recorrível), irreconhecível (ir + reconhecível). in- Este também é prefixo de origem latina, que entra na composição de muitas palavras, como inapto (in + apto), inviável (in + viável), insatisfeito (in + satisfeito). Diante de palavras iniciadas com /b/ e /p/,ocorre certa acomodação na escrita: in- transforma-se em im-, já que "b", "p" e "m" são letras que representam, todas, fonemas bilabiais, isto é, emitidos mediante a junção dos lábios. Assim, temos imbatível (im + batível), impatriótico (im + patriótico), improcedente (im + procedente). É preciso não confundir este prefixo com outro "in-", que significa "movimento para dentro", às vezes transformado em "em-" e "en-", como em embarcar e enterrar. não- Embora tenha caráter negativo, este prefixo não deve ser confundido com o advérbio de negação "não". Aqui ele entra na composição de palavras como não- alinhado (não + alinhado), não-contradição (não + contradição), não-intervenção (não + intervenção). Grande número de exemplos que as gramáticas oferecem de prefixos é formado por palavras que vieram do latim ou do grego já com esses morfemas incorporados, o que não nos interessa em nosso estudo, o de composições ocorridas no português. Assim, átono e impróprio já chegaram ao português com os prefixos "a-" e "in-". A propósito, são oportunas estas palavras de Celso Luft: "Para que exista prefixo reconhecível, é preciso que o radical corresponda a um vocábulo autônomo ou forma livre: contradizer = contra + dizer; inverdade = in + verdade", o qual cita ainda mais dois outros requisitos. Continua ele: "Assim, não há prefixo, sob o ponto de vista descritivo, atual, em palavras como comer, esquecer, para as quais entretanto uma análise histórica depreende os prefixos com- (cum-) e es- (ex-)". Vamos mais além e entendemos que não há prefixos, pelo menos em português, nos citados exemplos átono e impróprio e em todos os que a prefixação não ocorreu em nosso idioma. Dica nº 29
  • 27. O convite foi aceitado ou foi aceito? Antes da resposta a essa questão, é conveniente abordarmos o tema em que ela se insere, o dos verbos com duplo particípio, os chamados verbos abundantes. Esses verbos possuem duas formas no particípio: uma regular, com terminação em -ado na primeira conjugação e em -ido na segunda e terceira, e outra irregular, com terminação variável. A forma regular é normalmente mais longa e a irregular, mais curta. Assim, o verbo "fixar", no particípio, apresenta-se como fixado e fixo. O critério geral de emprego desses particípios é bastante simples: · Particípio regular (longo) - É usado na voz ativa, acompanhado dos verbos auxiliares "ter" e "haver", como em "Você tem secado as roupas na máquina?" e "Já havíamos limpado o piso pela manhã". · Particípio irregular (curto) - Usa-se na voz passiva, com os verbos auxiliares "ser", "estar", "ficar", "andar" e outros. Exemplos: "A roupa já está seca" e "O quarto foi limpo pela Cátia". Observações: 1. Usadas com auxiliares como "ser", "estar", "ficar" e outros, as formas do particípio variam em gênero e número. Assim, "O acordo foi firmado, os acordos foram firmados; a proposta foi apresentada, as propostas foram apresentadas". Já com "ter" e "haver", o particípio fica invariável: "Temos escrito muitos textos para o saite". Se disser "Temos escritos muitos textos para o saite", o significado da frase muda e passa a querer dizer que "temos prontos muitos textos para o saite". 2. Há particípios regulares que podem ser usados também na voz passiva. Assim, poderemos ler na imprensa: "O ministro foi fritado por longo tempo" e "A conta foi ocultada rapidamente da fiscalização". Lembre-se de que o particípio irregular desses verbos é frito e oculto. 3. Em alguns verbos que admitem ambos os particípios na voz passiva, uma forma é mais usual que outra conforme o auxiliar utilizado: "O reservatório está cheio", mas "O reservatório é enchido até a metade diariamente" e "A montanha está envolta em nuvens", mas "A montanha foi envolvida por forte neblina". Em outros contextos, o mesmo particípio acaba sendo empregado indiferentemente com um ou outro auxiliar: "O secretário presidencial esteve envolvido em escândalos" e "O secretário presidencial foi envolvido em escândalos". Nas orações reduzidas de particípio ou participiais, usa-se apenas a forma irregular: "Aceso o lampião, os rostos apareceram" (e não "acendido o lampião") e "Findo o recesso, os deputados continuaram em campanha eleitoral" (e não "findado o recesso").
  • 28. Na linguagem atual, a forma regular de três verbos já caiu em desuso: ganhado (ganhar), gastado (gastar) e pagado (pagar). Curiosamente, todas relacionadas com dinheiro. Ah, faltou a resposta à questão-título! Pelo que você aprendeu acima, a forma a se empregar seria apenas "aceito" não é mesmo? Acontece que o verbo "aceitar" é uma das exceções à regra, de modo que o particípio aceitado também pode ser usado na voz passiva: "O convite foi aceito" ou "O convite foi aceitado". Dica nº 30 É necessário paciência. Em expressões formadas pelo verbo "ser" + adjetivo (empregado substantivamente), este último não varia: É necessário calma, Ginástica é bom para a saúde, É feio falta de respeito e É proibido cigarros nesta empresa. Explicação para o fenômeno é subentender-se um verbo nessas construções: "É necessário (ter) calma", "(Fazer) Ginástica é bom para a saúde", "É feio (agir com) falta de respeito" e "É proibido (portar ou usar) cigarros nesta empresa". Quando se acrescenta ao substantivo palavra que o determina, como artigo ou pronome, a concordância torna-se obrigatória: "A calma é necessária", "Aquela ginástica é boa para a saúde". "É feia a falta de respeito" e "Os cigarros são proibidos nesta empresa". Em construções como "É necessário (fazer) muitos pontos para se ganhar o jogo", em que o substantivo está no plural, a concordância é facultativa: "São necessários muitos pontos para se ganhar o jogo". Sintaticamente, a invariabilidade do predicativo explica-se por ser o sujeito da oração expresso de forma genérica. Em "Vitamina é bom para prevenir doenças" (vitamina, conceito genérico) e "É necessário exercícios para você recuperar-se" (exercícios em geral), está-se referindo a "vitamina" e "exercícios" de modo geral, sem determiná-los. Caso haja essa determinação mediante artigo ou outro qualificativo, a concordância faz-se normalmente: "As vitaminas são boas para prevenir doenças" e "Aqueles exercícios indicados pelo fisioterapeuta são necessários para você recuperar-se". Dica nº 31
  • 29. A noção de isotopia Em Lingüística, "isotopia" (do grego isos, igual, semelhante, e topos, plano, lugar) significa plano de sentido, leitura que se faz de uma frase ou texto. Se, por exemplo, uma frase permite apenas uma leitura, é dita monoisotópica; diisotópica se permite duas; triisotópica, se três; etc. Dessa forma, em "Ganhei esta caneta do meu pai" e "Nas últimas férias, descansei bastante" temos duas frases monoisotópicas, isto é, cada uma com apenas um significado. Em "Há muito televisor que precisa melhorar a imagem" e "Ronan, a Márcia chegou com seu pai", cada frase admite duas leituras. No primeiro exemplo, imagem = representação televisionada de pessoas e coisas e também conceito. No segundo, seu = de Ronan ou de Márcia. Já em "Empresas negam oferecimento de propina", temos frase triisotópica, em que, negam oferecimento = recusam oferecer; desmentem ter oferecido e desmentem ter recebido oferecimento. O mesmo ocorre em "Acadêmicos viram monólitos", em que viram = flexão do verbo ver, de virar -1 (transformar-se) e de virar -2 (mudar de posição). A multiplicidade de planos de sentido é geralmente produzida por homonímia ou polissemia. É importante notar que o conceito de isotopia pertence à Lingüística - particularmente à Semântica, um ramo seu -, ciência que descreve os fatos da língua sem impor normas nem se preocupar com certo e errado. Assim, para a Semântica, é indiferente se a pluralidade de significados de uma frase ou texto é produzida intencionalmente ou não. Entretanto, para a Gramática, normativa que é, a duplicidade de sentido será encarada como recurso de estilo se for produzida intencionalmente com objetivos estéticos ou expressivos. Em caso contrário, será considerada ambigüidade, vício sintático, que deve ser evitado. Um texto também pode permitir - parcial ou totalmente - mais de uma leitura, isto é, pode ser mono ou diisotópico, no todo ou em parte. O texto abaixo é bom exemplo disso: "Em determinado país, onde, em certa época, houve carência de mão-de-obra, o Governo baixou decreto mediante o qual os casais eram estimulados a ter filhos. Tal decreto também previa a hipótese de pessoas se casarem e não conseguirem proliferar. Neste caso, marido e mulher seriam "auxiliados" por agente destacado pelo diretor do Programa de Incentivo à Natalidade ao completarem cinco anos de vida conjugal sem filhos. Exatamente nessa situação encontrava-se o casal que travou o seguinte diálogo: Mulher - Querido, hoje completamos o quinto aniversário de casamento. Marido - É... e infelizmente ainda não tivemos um herdeiro. - Será que eles vão enviar o tal agente? - Não sei... - E se ele vier? - Bem, nada tenho a fazer. - Eu, menos ainda. - Já vou sair, pois estou atrasado para o trabalho.
  • 30. Logo após a saída do marido, alguém bate à porta. A mulher atende e encontra um homem à sua frente. Era um fotógrafo que se enganara de endereço. Homem - Bom dia! Eu sou... Mulher - Ah, já sei. Pode entrar. - Seu marido está em casa? - Não, foi trabalhar. - Presumo que ele esteja a par... - Sim, está a par e também concorda. - Ótimo! Então vamos começar? - Mas...já? Assim tão rápido? - Preciso ser breve, pois ainda tenho dezesseis casais para visitar. - Puxa! O senhor agüenta? - Agüento sim, pois gosto do meu trabalho. Ele me dá muito prazer. - Então, como vamos fazer? - Permita-se sugerir uma no quarto, duas no tapete, duas no sofá, uma no corredor, duas na cozinha e a última no banheiro. - Nossa! Não é muito? - Nem sempre se acerta na primeira tentativa. - O senhor já visitou alguma casa neste bairro? - Não, mas tenho comigo algumas amostras dos meus últimos trabalhos. (Mostra fotos de crianças.) Não são belos? - Como são lindos esses bebês! O senhor os fez? - Sim. Este aqui (mostra uma das fotos) foi conseguido na porta do supermercado. - Nossa! Não lhe parece um tanto público? - Sim, mas a mãe era artista de cinema e queria publicidade. - Que horror! - Foi um dos trabalhos mais duros que fiz. - Imagino... - Esta foi feita num parque de diversões, em pleno inverno. - Credo! Como o senhor conseguiu? - Não foi fácil. Como se não bastasse a neve caindo, havia uma multidão em cima de nós. Quase não consigo acabar. - Ainda bem que sou discreta e não quero que ninguém nos veja. - Ótimo, eu também prefiro assim. Agora, se me der licença, vou armar o tripé. - Tripé???!!! Para quê???!!! - Bem, minha senhora, é necessário. Meu aparelho, além de pesado, depois de pronto para funcionar, mede um metro. A mulher desmaiou." Engraçado, não? Pois é... Mas voltemos ao assunto sério. Neste texto, a diisotopia manifesta-se para o leitor, mas para cada personagem as falas são monoisotópicas. E essa monoisotopia, principalmente para a mulher, é reforçada por afirmações do homem como "Ele (o trabalho) me dá muito prazer" e "Sim". (Ao responder à pergunta se tinha sido ele quem tinha feito os bebês.) Presumo que você tenha percebido onde a diisotopia começa: a partir da fala da mulher "Ah, já sei. Pode entrar". O estudo do significado das frases pertence à Semântica Frástica e o dos textos, à Semântica Transfrástica ou Textual.
  • 31. Dica nº 32 60% da população não aprovam ou não aprova o Presidente? Vejamos a seguir casos de concordância relacionados a porcentagem. "Quando o número percentual é antecedido ou seguido de adjunto no plural, é melhor o plural: 'Esses 5% da boiada morreram' e '90% dos homens viajaram'". (ALMEIDA, 1979, § 769, 2, Nota, "a") Se esse número é seguido de substantivo ou pronome no plural (expressões partitivas) e a estes, por sua vez, seguem-se verbo de ligação e seu complemento (predicativo), o verbo e o predicativo influenciam-se pelo número e gênero do partitivo. Exemplos: "60% dos produtos importados são supérfluos", "10% das funcionárias estarão licenciadas nos próximos seis meses" e "3% dos alunos ficaram na sala para o reforço". O mesmo acontece se o predicado é constituído de locução verbal passiva: o verbo e o particípio também são influenciados, como em "25% das administrações estão sendo investigadas" e "Somente 30% dos recursos deverão ser utilizados na área social". No restante dos casos, prevalece o singular: "Apenas 5% da bancada compareceu à sessão", "50% da arrecadação mensal é destinada ao pagamento de juros" e, é claro, 60% da população não aprova o Presidente". Quando está implícita a idéia de quantidade, o verbo fica no singular: "Quanto é 45% de R$2.000,00?" e "2% de 200 é 4". Dica nº 33 A maior parte dos eleitores é ingênua ou são ingênuos? Se o sujeito é constituído por expressão partitiva (parte de um todo) e substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar no singular ou ir para o plural: "Metade das casas foi construída ou foram construídas em regime de mutirão", "A maior parte dos aviões foi destruída ou foram destruídos no solo" e "A maioria dos genes já foi identificada ou foram identificados". "A cada uma dessas possibilidades corresponde um novo matiz da expressão. Deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciarmos os vários elementos que compõem o todo" (CUNHA, 2000: 488). Dessa forma, o verbo no singular ressalta a concordância gramatical - a "normal" -, enquanto que no plural obedece à concordância siléptica ou ideológica - "especial".
  • 32. Se o substantivo ou o pronome estão no singular, o verbo permanece no singular: "A maior parte da população está desassistida" e "Somente um terço do dinheiro foi aplicado". O verbo ficará ainda no singular se a ação expressa por ele referir-se ao todo e não a cada indivíduo ou coisa separadamente: "Um pelotão de sapadores ficou aguardando ordens" e "Este lote de moedas será leiloado". Agora está fácil responder à pergunta inicial, não é? Em ambas as hipóteses, a resposta é afirmativa. Dica nº 34 Norma culta - Padrão formal vs. coloquial Norma culta nada mais é do que a modalidade lingüística escolhida pela elite de uma sociedade como modelo de comunicação verbal. É a língua das pessoas escolarizadas. Ela comporta dois padrões: o formal e o coloquial: · Padrão formal - É o modelo culto utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais. Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como porque a escrita é supervalorizada na nossa cultura. É a história do "vale o que está escrito". · Padrão coloquial - É a versão oral da língua culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, embora exista, a permissividade com relação às "transgressões" é pequena. Assim, na linguagem coloquial, admitem-se, sem grandes traumas, construções como "Ainda não vi ele", "Me passe o arroz" e "Não te falei que você iria conseguir?", inadmissíveis na língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem consciência dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente as construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. Contudo, como se disse, não são muitos os desvios admitidos, e muitas formas peculiares da norma popular são condenadas mesmo na linguagem oral. Construções como "Nóis foi na fazenda" (o "na" ainda seria tolerado) e "Ele pagou dois milhão pelos boi" são impensáveis na boca de um falante culto em ambiente culto, pois passam a quem ouve a impressão de total falta de escolaridade de parte de seu autor. Já em ambiente inculto seriam apropriadas: é a história de "Em Roma, como (fazem) os romanos". (Veja também a pág. Você sabia? n.º 25.) Por outro lado, usos próprios do padrão formal empregados na língua oral costumam parecer forçados ou artificiais no falar despreocupado do dia-a-dia e configuram o que se chama de preciosismo. É o caso de, num bate-papo, ouvirem-se certos empregos do pronome oblíquo - "Ainda não o vimos por aqui" -, flexões do mais-que-perfeito do indicativo - "Eu ainda não entrara no Banco quando aquilo aconteceu - e, o que é pior, o uso da mesóclise, como em "Você ver-se-ia em maus lençóis se continuasse a insistir naquilo". Moral da história: assim como se usa traje apropriado para cada situação social, também se use o padrão lingüístico adequado para as diferentes situações de comunicação social.
  • 33. Dica nº 35 Uniformidade de tratamento A comunicação oral ou escrita no âmbito da norma culta requer uniformidade de tratamento e concordância verbal em função da pessoa do discurso considerada. Assim, se a pessoa escolhida for a segunda do singular, os pronomes e o verbo devem estar igualmente nela. Exemplo: "Tu nunca te esqueces de visitar tua terra natal, não é?". Se a pessoa for a terceira, é preciso converter os termos para ela: "Você nunca se esquece de visitar sua terra natal, não é?". Observe que "você", embora se refira à pessoa com quem se fala (segunda), é pronome de tratamento e, como tal, pertence à terceira pessoa gramatical e para ela leva o verbo. No caso da primeira do plural, a mesma coisa: "Nós nunca nos esquecemos de visitar nossa terra natal, não é?". Nestes exemplos, o possessivo foi intercambiado apenas para servir de mais um elemento de concordância, pois a "terra natal" poderia ser a de quem quer que fosse. Entretanto, a primeira frase, por exemplo, não poderia ser construída como "Tu nunca te esqueces de visitar sua terra natal, não é?", se "terra natal" fosse a do interlocutor. Lembre-se de que pronomes de tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência e outros, apesar do "vossa", situam-se na terceira pessoa gramatical e, conseqüentemente, para ela levam o verbo: "V. Ex.ª é muito previdente". É preciso estar atento para a concordância para não se cometerem erros como "Não te falei que você iria conseguir?" e "Foi nesse momento que eu caí em si". A primeira frase ainda é tolerável na linguagem coloquial, mas a segunda é imperdoável se quem a pronuncia passou pela escola. Dica nº 36 Capítulo dez ou capítulo décimo? Capítulo décimo. Sempre que o numeral vier depois do substantivo, emprega-se a forma ordinal até décimo. Daí em diante, usa-se a forma cardinal. Assim: · Pedro I (primeiro) · Paulo VI (sexto) · Capítulo X (décimo) · Luís XIV (catorze) · Tomo XXI (vinte e um) Se o numeral anteceder o substantivo, usa-se a forma ordinal: · Oitava parte
  • 34. · Décimo capítulo · Décimo quarto tomo · Vigésimo primeiro século · 35.º Distrito Policial (trigésimo quinto) Dica nº 37 Figuras de pensamento - Antítese e paradoxo As figuras de pensamento são, antes de qualquer coisa, figuras de linguagem. Resultam do desacordo entre a verdadeira intenção de comunicar e o ato de fala. Dito em outras palavras, consistem em "desvios" que funcionam como véus a ocultar um estado de consciência. Há vários tipos de figuras de pensamento, como o eufemismo, a ironia, a litote, a prosopopéia, a antítese e o paradoxo. Vamos tratar destas duas últimas. A antítese consiste na exposição, no texto, de idéias contrárias. Essa oposição pode ocorrer entre palavras, frases ou orações. Assim, temos antítese em "Ele não odeia, ama; não chora, ri.". A página Com Jesus ,de Emmanuel, contém várias antíteses, como "Não te omitas. Ajuda./Não condenes. Ampara./Não te ofendas. Esquece./Não te queixes. Caminha./Não depredes. Constrói./Não critiques. Instrui./Não pares. Serve sempre./". A antítese foi recurso característico da literatura barroca. Este trecho de Vieira, extraído do Sermão da Sexagésima, dá- nos idéia de sua utilização: "... mas esse espírito tinha impulsos para os levar, não tinha regresso para os trazer; porque sair para tornar melhor é não sair". Na antítese, o contraste confere às palavras opostas ênfase que não teriam se apresentadas isoladamente. O paradoxo é figura em que há contradição de idéias. Em outras palavras, o paradoxo apresenta opinião contrária ao senso comum, mas que pode conter verdade: "Dor - tu és um prazer! (Castro Alves). Neste magnífico soneto de Camões, sucedem-se os paradoxos: "Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. É um querer mais que bem-querer; é solitário andar por entre a gente; é um não contentar-se de contente; é cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade, é servir quem vence o vencedor, é ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode o seu favor
  • 35. nos mortais corações conformidade, sendo a si tão contrário o mesmo Amor?". Lindo, não? E cheio de paradoxos. Como podemos ver, na antítese, apresentam-se idéias contrárias em oposição. No paradoxo, as idéias aparentam ser contraditórias, mas podem ter explicação que transcende os limites da expressão verbal. Dica nº 38 Lapizinho ou lapisinho? A segunda. Entre as dezenas de sufixos indicadores do grau diminutivo existentes em português, o falante tem a sua disposição -inho (e suas variações: -inhos, - inha, -inhas, -zinho, -zinhos, -zinha, -zinhas). A grafia de palavras com o sufixo -inho depende da forma normal. Assim, o vocábulo no diminutivo será escrito com "s" ou com "z" de acordo com a grafia da forma normal, "s" ou "z": · lápis ® lápis + inho ® lapisinho · mesa ® mes(a) + inha ® mesinha · vaso ® vas(o) + inho ® vasinho · rapaz ® rapaz + inho ® rapazinho · raiz ® raiz + inha ® raizinha · reza ® rez(a) + inha ® rezinha Já o sufixo -zinho nada mais é do que -inho acrescido da consoante de ligação "z". Dito em outras palavras, -zinho é variante alomórfica de -inho. Sempre que o sufixo -zinho for juntado à forma normal, a grafia será evidentemente com "z", assim: · Irmã ® irmã + zinha ® irmãzinha · Amor ® amor + zinho ® amorzinho · Romã ® romã + zinha ® romãzinha · Papel ® papel + zinho ® papelzinho Com os vocábulos oxítonos terminados em vogal - oral ou nasal - e a maior parte dos proparoxítonos também se usa -zinho: · pé ® pé + zinho ® pezinho · vovô ® vovô + zinho ® vovozinho · mamão ® mamão + zinho ® mamãozinho · cátedra ® cátedra + zinha ® catedrazinha · árvore ® árvore + zinha ® arvorezinha · óculos ® óculo(s) + zinhos ® oculozinhos Na linguagem coloquial, algumas dessas formas simplificam-se, como arvorezinha > arvinha e oculozinhos > oclinhos. Entretanto, saiba que na linguagem culta
  • 36. formal (escrita) essas criações não são aceitas e prevalecem as grafias apontadas acima. Dica nº 39 Obedeceu-se ao regulamento x O regulamento foi obedecido. Ué, mas não se diz que não se pode apassivar construção de que faça parte verbo transitivo indireto? Acontece que temos aí duas situações distintas, já que o verbo obedecer pode ser usado na regência direta - obedecer alguém - ou indireta - obedecer a alguém. (A propósito, veja LUFT, 1987-Verbete "Obedecer".) As duas situações são: 1. Regência direta (Obedecer alguém) - Neste caso, o verbo é transitivo direto e conseqüentemente o "se" é pronome apassivador: "Obedeceu-se o regulamento", "O regulamento foi obedecido" e "Obedeceram-se os regulamentos", "Os regulamentos foram obedecidos". Sujeito: o regulamento, no primeiro exemplo, e os regulamentos, no segundo. 2. Regência indireta (Obedecer a alguém) - Aqui não pode haver apassivação, já que o verbo é transitivo indireto. Logo, o "se" é índice ou partícula de indeterminação do sujeito: "Obedeceu-se ao regulamento", "Obedeceu-se aos regulamentos". Sujeito indeterminado. Há controvérsia entre os gramáticos se, com os verbos transitivos diretos, o "se" também poderia ser considerado partícula de indeterminação do sujeito. Nesta hipótese, poderiam ser aceitas construções como "Vende-se casas" e "Aluga-se canoas", em que o sujeito seria indeterminado. Essa posição, porém, ainda encontra resistência junto à maior parte dos especialistas. Dica nº 40 Curso a distância ou curso à distância? Na verdade, o que está em discussão é: ocorre ou não crase nas locuções adverbiais? O tema é bastante controverso e não há acordo entre os autores. Assim, quem escreve deve apoiar-se nos argumentos de algum especialista renomado, quer opte por uma ou outra posição. Duas correntes posicionam-se: · a que admite crase nas locuções adverbiais somente se, de acordo com a regra geral da crase, houver emprego do artigo definido "a" ou se houver risco de ambigüidade. Assim, em "Mantenha-se à distância de 30 metros", "Ele passa às vezes por aqui" e "A irregularidade está à vista dos consumidores", percebemos o
  • 37. emprego do artigo "a" e a crase é justificada. Em "Recebeu a bala" e "Já estudei a distância", a clareza está comprometida, pois ficamos sem saber, apenas por essas duas frases ambíguas, se a bala e a distância são objetos diretos ou adjuntos adverbiais, razão por que, neste último caso, deve haver acento grave no "a" dessas locuções - à bala e à distância - para precisar o significado. Entretanto, em "Temos curso a distância nesta escola", "Os policiais foram recebidos a bala" e "Faça a prova a tinta", as locuções assinaladas não recebem acento grave porque aí não há crase, pois o artigo definido feminino não está sendo utilizado. Tanto isso é verdade que se tentarmos substituir os substantivos femininos por outros masculinos não teremos a contração "ao", mas o "a" se manterá, prova de que é simples preposição. Teremos, por exemplo, "Os policiais foram recebidos a pau (e não, ao pau)" e "Faça a prova a lápis (e não, ao lápis)". Além do mais, naqueles dois exemplos, inexiste o risco de ambigüidade. · a que entende dever haver sistematicamente crase nas locuções adverbiais formadas de palavras femininas sob o argumento da tradição, ainda que tecnicamente não haja razão para tal. Assim, devemos construir "Quase não se escreve mais à máquina", "Você pode emitir o recibo à mão", "Paguei o lote à vista", "Rico ri à toa", etc. Considero inconsistente o argumento da "tradição". Só isso não constitui justificativa suficiente. O entendimento da primeira corrente mencionada tem mais embasamento lógico e, conseqüentemente, é o adotado por mim. Finalmente, é preciso esclarecer não ser adverbial, mas adjetiva a locução presente no título desta página, pois ela modifica substantivo (curso). Entretanto, as considerações aqui tecidas valem também para ela. Dica nº 41 Enviamo-lhes ou enviamos-lhes? Tanto faz. A ênclise em construções como "Envio-lhe", "Envio-lhes" ou "Enviamos- lhe" não costuma suscitar muita dúvida. A questão surge quando se emprega o verbo e o pronome oblíquo no plural. "Gramaticalmente, não se pode dizer errada a forma queixamos-nos. Se outro, no entanto, é o uso geral, explica-o a facilidade, ou melhor o hábito da pronúncia, o qual regula a omissão ou não do s final nos diferentes casos." (ALMEIDA, 1979, § 825, 4, Notas, 2.ª) A supressão do "s" do verbo pode ocorrer com qualquer oblíquo, até mesmo com o verbo no plural e o pronome no singular: enviamo-lhe. Outros autores, como Celso Cunha (2000, p. 400, Observações, 1.ª), registram que em casos como esses "o -s final da desinência -mos é omitido (em virtude de uma antiga assimilação à nasal inicial do pronome seguinte)". Ele refere-se a construções como "lavemo-nos", em que o pronome oblíquo principia com a consoante nasal "n". Não comenta a respeito de outras formas verbais associadas a outros pronomes oblíquos, como em "lavamos-lhes as roupas". Assim, o fator que
  • 38. regula tal uso é tão-somente a eufonia ou então a facilidade de pronúncia. Podemos, pois, construir como abaixo: · Lavamo-nos ou lavamos-nos todos os dias. · Louvamo-vos ou louvamos-vos sempre, meu Deus. · Enviamo-lhe ou enviamos-lhe anexo o memorando n.º 565. · Avisamo-los ou avisamos-los de que a encomenda chegou ontem. · Informamo-lhes ou informamos-lhes que o depósito já foi efetuado. Dica nº 42 Desmistificar ou desmitificar? As duas, cada uma com seu sentido. Vejamos: · Desmistificar = Retirar ou desfazer a mistificação de alguma coisa, desmascarar. Mistificação é o ato de mistificar, que significa enganar, iludir, burlar, fazer algo passar pelo que não é: "Regina desmistificou a encenação de José Roberto". · Desmitificar = Desfazer mito, mostrar a coisa como ela realmente é em sua simplicidade e concretude: "Os professores modernos procuram desmitificar a Matemática e fazê-la deixar de ser o 'bicho-papão' que sempre foi". Os dois vocábulos são algo mais que parônimos, pois, além da sonoridade quase idêntica, seus significados são também muito próximos. Daí a freqüente confusão que causam. Dica nº 43 Escolas-modelo ou escolas-modelos? Embora ambas possam ser consideradas corretas, a tendência gramatical moderna prefere a segunda. A regra de formação do plural dos substantivos compostos (os formados por mais de um elemento) é clara: variam os componentes se ambos são variáveis e estão separados por hífen. Desse modo, temos: Alguns autores, como Celso Cunha e Domingos Cegalla, ensinam que se o segundo elemento funciona como determinante específico ou transmite idéia de finalidade
  • 39. ele permanece invariável: pombo-correio/pombos-correio e manga- espada/mangas-espada. Entretanto, Napoleão Mendes de Almeida (ALMEIDA, 1979, § 227, Notas, 1.ª) garante que "é falso afirmar que não varia o segundo elemento quando este encerra idéia de finalidade". E mais adiante continua: "A extravagância vai mais longe quando recorrem para justificar o erro ao argumento da semelhança; porque o peixe nos lembra o boi iremos dizer peixes-boi? Vamos então dizer couves-flor?". Cegalla, apesar da opinião acima expressa, ressalva (CEGALLA, 2000, p. 144, item 3, Observações) que "a tendência moderna, porém, é a de pluralizar (...) os dois elementos: pombos-correios, peixes-bois, frutas-pães, homens-rãs...". Por isso, sigamos a "tendência moderna" e empreguemos fichas-resumos, navios- escolas, cidades-satélites, escolas-modelos, navios-tanques e assim por diante. Dica nº 44 Se não x senão Em se não, duas palavras, o "se" pode ser: · Conjunção subordinativa condicional e o "não", advérbio de negação. Exemplos: "Espero que ele venha, mas, se não vier, pouco poderei fazer" e "Se não gostar, pode devolver o produto". Há sempre a idéia de condição. Tal conjunção pode ser substituída por "caso": "Caso não venha, pouco poderei fazer" e "Caso não goste, pode devolver o produto". Há ainda uma terceira possibilidade de substituição, com emprego do gerúndio: "Espero que ele venha, mas, não vindo, pouco poderei fazer" e "Não gostando, pode devolver o produto". · Conjunção subordinativa integrante e o "não" continua advérbio de negação. Exemplos: "Perguntei-lhe se não gostaria de sair" (nesta oração, o "não" pode ser suprimido e o sentido geral da frase não se altera. Leia mais, a esse respeito, em Você sabia? n.º 26) e "Diga se não é verdade o que falei" (aqui, o "se" pode ser substituído por "que"). Senão pode ter vários sentidos, como abaixo: · De outro modo, do contrário, caso contrário - "Vá logo, senão me arrependo" e "Estude bastante, senão você não terá sucesso". (conjunção) · Mas, mas sim, porém - "Silvinha não é garota de ficar em diversões, senão de levar a sério os estudos" e "Eu não quis criticar, senão ajudá-lo". (conjunção) · A não ser, mais do que, além de - "Ele não o comprará, senão por bom preço" e "Não há senão 20 passageiros a bordo". (preposição)