O documento discute a evolução histórica e funcional das varandas em casas brasileiras. Originalmente usadas para proteção climática e lazer, varandas assumiram diferentes funções ao longo dos séculos. Atualmente, incorporadoras constroem apartamentos com varandas maiores que funcionam como ambientes de lazer e trabalho.
1. Varanda, o quintal da casa?
Tecnologia em Design de Interiores
Bruna Soares dos Santos e Eliane Parente dos santos
Orientadora: Helena Napoleon Degreas
Grupo de Pesquisas PLANEJAMENTO, PROJETO E GESTÃO DA CIDADE
Linha de Pesquisa: Espaços livres Contemporâneos
FIAM-FAAM Centro Universitário
2. Definição / História
A varanda é normalmente entendida como parte
de uma casa que estabelece uma transição
gradual entre os espaços internos
e os espaços externos.
Originalmente as varandas eram utilizadas
para proteção climática e a apreciação da
vista externa.
Com o decorrer dos tempos assumiu vários
significados, de acordo com a época, cultura e
hábitos deu um povo.
www.reocities.com
3. Época da Colonização
Empregada como recurso de
adaptação ao meio, contudo, a
varanda vai adquirindo certos usos e
acumulando funções. Além de
elemento de proteção climática, como
mencionado, a varanda das primeiras
casas rurais no período colonial
também atuava como espaço de
descanso, de convívio, de posto de
vigília e de filtro da casa, separando a
esfera pública da privada.
Ilustração de Debret que mostra que mostra atividades realizadas
na varandas.
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Casas Rurais
4. Primeiras Casas Urbanas
No meio urbano, os terrenos eram, sucessivamente, de frente estreita e de longa
profundidade, sendo chamados por Nestor Goulart (1987) de lotes charutos.
As varandas que se mantêm são as do fundo de terreno, aquela que Lemos
(1996) diz ser o começo da sala de jantar, retendo a função de adequação
climática, de acordo com a orientação solar, e de área de convício da família.
A construção ressurge, ainda no século XVIII, como sacada, balcão ou mesmo
como galeria elevada nos sobrados ; construções com mais de um pavimento que
recebem esse nome por corresponder ao aproveitamento da parte que sobra da
casa e que pertenciam, normalmente, a classes mais abastadas da sociedade.
5. Quando surgiram os primeiros núcleos urbanos, as
mulheres se inteiravam dos acontecimentos através
das frestas das varandas, muitas cobertas de
muxarabiê, de onde se vê sem ser visto.
Originário das construções árabes, o muxarabi é o
fechamento com treliças que resguarda a casa de
olhares curiosos, permitindo a visão do exterior, além
de manter a luminosidade e ventilação.
Esse é o único balcão muxarabi autêntico em Minas
Gerais.
A Casa de Muxarabi é tombada pelo IPHAN
Registrada no livro de Belas Artes
Inscrição: 328 Data: 26 de junho de 1950.
www.descubraminas.com.br
Muxarabi
6. Evolução das varandas
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• Sacadas – balcão de janela ou porta que
ressalta do alinhamento da parede;
• Varanda alpendrada - nova implantação com
jardins e entrada laterais.
7. Primeiros Sinais da Modernidade
Com a mudança da corte portuguesa para o Brasil no início do século XIX, a
contribuição da varanda para as práticas sociais da mulher se tornou ainda mais
intensa. Esta mudança está ligada às novas formas que este espaço adquiriu. Em
1809, D. João mandou tirar os muxarabiês que fechavam as varandas por serem
de origem moura e envergonharem a Coroa ao lembrarem os tempos em que
Portugal ficou submetido ao domínio árabe.
Com a saída dos muxarabiês de cena durante o Primeiro Reinado – o que
contribuiu para a comercialização do vidro pelos ingleses –, as varandas, e
posteriormente as sacadas, passaram a ser não apenas num posto de vigília, mas
também de exposição. A mulher passava a poder ser vista. Essa transformação
aparentemente pequena provocou mudanças nos costumes que só ocorreriam
mais tarde, do final do século XIX ao início do XX, quando ela passa a frequentar
livremente o espaço público.
8. O movimento Modernista
A época que antecede a explosão da arquitetura modernista brasileira é marcada
por uma intensa industrialização e urbanização. O período em que a segunda
grande guerra assola a Europa, na década de 40, obriga o país, dependente dos
produtos importados, a se industrializar.
Necessidade esta que atinge também a construção civil e que promove uma grande
evolução.
Varandas que aparecem abertas como as do Brasil moderno do século XIX, mas
que também fazem alusão aos muxarabis de origem moura, com o fechamento em
cerâmica vazada.
Como as sacadas e balcões dos sobrados urbanos ou como o alpendre elevado da
casa rural oitocentista, a varanda nos edifícios de apartamento deixa de ser o filtro
de acesso a casa, consequência da verticalização.
9. Alguns exemplos
Disponível:
http://www.flickr.com/photos/krokorr/
Disponível: http://www.flickr.com/photos/krokorr/ Acesso: 08.12.2014
www.flickr.com/photos/krokorr/
11. Atualmente ...
Hoje em dia as varandas estão cada vez maiores, exercendo novas funções e ganham sinônimo de status. Em atendimento à legislação
vigentes, incorporadores e mercado imobiliário geram uma nova “tendência” para o ambiente de morar: os ambientes externos ganham
nova força e geram espaços com as características dos antigos quintais das casas.
Se antes eram o espaço onde a vista poderia alcançar a paisagem do entorno, receberam até bem pouco tempo os mais variados tipos de
equipamentos e mobiliários; de churrasqueiras aos espaços gourmet, pomares, piscinas e cascatas vão sendo vagarosamente substituídos
pelos espaços de estar. Salas de TV, estar, jantar tomam espaço reduzidíssimos não cabendo sequer um jogo de sofás ou poltronas.
Com o objetivo de atender a uma brecha da lei, as novas plantas permite de edifícios ( e neles inserem-se também os comerciais e de
serviços), podem “ampliar” o potencial construtivo e com isso a metragem de vendas. Como áreas externas (entendam-se varandas) não
contam como área construída, os novos edifícios tem cada vez mais andares, menos espaço interno e mais áreas externas. Ao final, hoje
encontramos apartamentos residenciais praticamente sem área de uso interna para refeições ou estar. Vendido o apartamento, os novos
usuários podem “fechar” as varandas com vidros, incorporando o externo ao interno.
12. Requinte e Sofisticação - Terraço fechado, apto.
localizado no Pacaembu. Projeto da designer
Christina Hamoui com colaboração da arquiteta
Adriana Valli.
A varanda gourmet deixou de ser só tendência para se
tornar item comum nos novos aptos paulistanos.
Localizado no Itaim Bibi. Projeto da designer Christina
Hamoui com colaboração da arquiteta Adriana Valli.
13. Função inusitada – varanda aberta ganha móveis de
madeira, lareira e até um ofurô.
www.designinhouse.com.br
Um lugar pra relaxar – varanda fechada se torna um
novo cômodo e ganha conforto com espaço propício
para descansar.
www.arqteturas.blogspot.com.br
14. Trabalho – varanda com função de home office,
tirando proveito da luz natural e tornando o trabalho
mais prazeroso e saudável.
Revista Casa e Jardim
Área para brincar - A varanda foi fechada com vidros
e transformada em brinquedoteca. A área é colada ao
home theater para que crianças e adultos fiquem
próximos. www.revistacasaejardim.globo.com
15. Integração - varanda com plantas que, à pedido do
cliente, se tornou um prolongamento da sala.
www.casa.abril.com.br
Jardim - varanda com finalidade paisagística e
um diferencial que só se ve em jardim: a pérgola.
Projetada pela paisagista Paula Galbi.
www.revistacasaejardim.globo.com
16. Conclusão
A história nos mostra que as mudanças estão diretamente ligadas ao comportamento
humano. As necessidades de uma época influenciam no meio e modo de vida das
pessoas tornando-se tendência que direciona a relação do homem com o espaço.
A Varanda é uma extensão da parte social da residência, integrando lazer e
funcionalidade.
Ela deve espelhar a personalidade dos proprietários da casa e se adequar ao clima da
região e das especificidades da localidade. Para decorar é preciso bom senso.
Nosso papel como profissionais de Design de Interiores é estar atentos às essas
mudanças, identificando as características de cada ambiente de forma coerente,
atendendo o desejo do cliente, mas respeitando sempre a funcionalidade , o conforto e
a estética.
17. Referências
HERTZBERGER, HERMAN . Lições de Arquitetura; [tradução Carlos Eduardo Lima Machado]. – 2º ed. – São
Paulo : Martins Fontes, 1999.
BRANDÃO, Helena Câmara Lacé. A varanda na Cidade Maravilhosa. Vitruvius Revistas, 147.01ano 13, ago.
2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.147/4457>. Acesso em: 20 out.
2014.
BRANDÃO, Helena Câmara Lacé; MARTINS, Angela Maria Moreira. Varandas nas moradias brasileiras.
Revista Tempo de Conquista. Piracicaba, São Paulo. Disponível em:
<http://revistatempodeconquista.com.br/documents/RTC1/HELENALACE1.pdf >. Acesso em: 20 out. 2014.
TAPAI, Marcelo. O dilema da “varanda gourmet”. InfoMoney, 21 nov. 2013. Disponível em:
<http://www.infomoney.com.br/blogs/direito-imobiliario-em-foco/post/3068860/dilema-varanda-gourmet>.
Acesso em: 22 out. 2014.
Varanda. Wikipédia, 23 de. 2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Varanda>.
Acesso em: 29 out. 2014.