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Experiências acadêmicas no campo da
comunicação
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Cláudia Maria Arantes de Assis Saar
Jacks de Mello Andrade Junior
Paulo Vitor Giraldi Pires
(organizadores)
Experiências acadêmicas no campo da
comunicação
2018
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Copyright ©
2018, Autores
Reitora: Prof.ª Dr.ª Eliane Superti
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Diretor da Editora da Universidade Federal do Amapá
Tiago Luedy Silva
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
E096e
Experiências acadêmicas no campo da Comunicação / Cláudia Maria
Arantes de Assis Saar, Jacks de Mello Andrade Junior & Paulo Vitor Giraldi
Pires (organizadores) – Macapá : UNIFAP, 2018.
133 p.
ISBN: 978-85-5476-020-5
1. Comunicação. 2. Mercado. 3. Tecnologia. I. Cláudia Maria Arantes
de Assis Saar. II. Jacks de Mello Andrade Junior. III. Paulo Vitor Giraldi
Pires. IV. Fundação Universidade Federal do Amapá. IV. Título.
CDD: 380
Diagramação: Cláudia Maria Arantes de Assis Saar
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A opinião manifestada na presente obra é de inteira responsabilidade dos autores e não representa o ponto de vista da Universidade Federal
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Sumário
6
19
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36
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66
81
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93
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Prefácio
Pesquisa em Comunicação no Brasil: tecnologia como elemento
integrador entre academia e mercado
Rafael Vergili1
Introdução
Nos dias de hoje, a instantaneidade passa a ser cada vez mais valorizada. O
momento é tratado como algo fundamental. E é diante dessa premissa que a história,
de forma temerária, se torna descartável. De maneira antagônica a essa tendência, o
presente texto pretende apresentar, em duas seções: (1) um resgate histórico da
chegada tardia das universidades ao Brasil, o que, até hoje, afeta a forma como se
realiza pesquisa em Comunicação no país; e (2) a aparente resistência em unir o
mercado e, em alguns casos, a tecnologia para otimizar pesquisas acadêmicas nas
Instituições de Ensino Superior.
A primeira seção terá como referência, as obras de José Marques de Melo
(1986), Luiz Antonio Cunha (1980) e Paulo Nassar (2014). E a segunda seção será
desenvolvida à luz de textos de Antônio Carlos Jesus (1986), Carlos Haag (2013),
Margarida Maria Krohling Kunsch (1986) e Waldyr Gutierrez Fortes (1986). Além disso,
ao longo do texto e, em especial, nas considerações finais, são resgatadas algumas
1
Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
(ECA-USP) e mestre em Comunicação na Contemporaneidade pela Faculdade Cásper Líbero. E-mail:
rafaelvergili@usp.br
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informações da Tese de Doutorado que desenvolvi na Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo, em 2017, intitulada “Literacias digitais nos cursos de
Graduação em Relações Públicas: disciplinas de tecnologia nas matrizes curriculares de
universidades brasileiras”.
Influência da chegada tardia das universidades no Brasil na pesquisa em
Comunicação
Em 1538, foi fundada a Universidad Autónoma de Santo Domingo, a primeira
universidade no continente americano. Apesar de pioneira fora da Europa, a
universidade não conseguiu obter o mesmo destaque de Instituições de Ensino Superior
(IES) tradicionais do século XIII, como a Universidad de Salamanca, ou, até mesmo, da
Real y Pontificia Universidad de México, fundada na primeira metade da década de
1550, tendo base em princípios espanhóis (CUNHA, 1980; GOMES, 2002; MAIA, 2000;
MARQUES DE MELO, 1986; NASSAR, 2014).
Diferentemente dessas experiências mais tradicionais, oriundas da Espanha, o
Brasil começou sua expansão universitária com atraso, até mesmo em relação à
América Latina, que, a partir de 1550, teve um desenvolvimento com mais constância,
em que surgem universidades no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cuzco
(1692), Havana (1728) e Santiago (1738). Nesse sentido, “ao mesmo tempo de nossa
independência, havia 26 ou 27 universidades na América espanhola [...]. No Brasil,
nenhuma” (CUNHA, 1980, p. 15).
Essa chegada tardia da universidade ao Brasil, com opções mais estruturadas
apenas no começo do século XIX, justifica-se por diversos fatores, sendo o mais
frequente relacionado aos recursos financeiros e docentes que cada país colonizador
pretendia investir:
9 | P á g i n a
A Espanha tinha, no século XVI, oito universidades [universidades de Salamanca,
Valença, Lérida, Barcelona, Santiago de Compostela, Valadolid, Ovideo e Alcalá],
famosas em toda a Europa, sendo a Universidade de Salamanca de grande porte
para a época, com 6 mil alunos e 60 cátedras [...]. Portugal dispunha de apenas
uma universidade, a de Coimbra, mais tarde a de Évora, de pequeno porte. A
população espanhola chegava a 9 milhões, ao passo que a portuguesa, apenas 1,5
milhão de habitantes. Com mais habitantes e mais universidades, a população
letrada espanhola era muito maior que a portuguesa. Por isso, [...] enquanto a
Espanha podia transferir recursos docentes para as colônias sem, com isso,
prejudicar o ensino nas suas universidades, o mesmo não acontecia com Portugal.
(CUNHA, 1980, p. 17)
Há especulação, inclusive, que uma das iniciativas pioneiras de educação formal
no Brasil surgiu mais por razões políticas e diplomáticas do que acadêmicas, como
sugere Heládio C. Gonçalves Antunha (1974, p. 53):
Sabe-se que a Universidade do Rio de Janeiro foi criada, em 1920, em virtude da
necessidade de ser outorgado o título de Doutor Honoris Causa ao Rei Alberto I, da
Bélgica, como parte das homenagens que lhe deveriam ser prestadas,
protocolarmente, por ocasião de sua visita oficial dentro do quadro das
comemorações do centenário de Independência.
De certa maneira, todavia, há desconstrução de tal narrativa por Maria de
Lourdes de Albuquerque Fávero (2000, p. 4-9), que, ao analisar “Atas da Assembleia
Constituída pelos Institutos do Ensino Superior incorporados à Universidade do Rio de
Janeiro [URJ]” e “Atas do Conselho Universitário da URJ” não evidenciam empiricamente
a suposta influência diplomática.
Mesmo com incertezas históricas, o que é possível observar, ao menos de modo
oficial, é que a criação da Universidade do Brasil deu-se por decreto, como uma
continuação do processo de expansão da Universidade do Rio de Janeiro, fundada em
1920, pelo Decreto Federal n°. 14.343, de 07 de setembro de 1920,2 que, de acordo
2
DECRETO Nº 14.343, de 7 de setembro de 1920. [s.d.]. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14343-7-setembro-1920-570508-
publicacaooriginal-93654-pe.html>. Acesso em: 08 jul. 2017.
P á g i n a | 10
com o Governo, tinha a intenção de padronizar o Ensino Superior brasileiro (MARQUES
DE MELO, 1986; GOMES, 2002; FÁVERO, 2000).
De acordo com Eustáquio Gomes (2002), na sequência, em 1927, na cidade de
Belo Horizonte, cria-se a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a
reinvindicação da autonomia didática, administrativa e econômica. Em 25 de janeiro de
1934,3 sete anos depois, surge a Universidade de São Paulo (USP), Instituição de Ensino
Superior que, posteriormente, transformou-se em uma referência para diversas
universidades no que tange à “formação de profissionais destinados ao ensino, à
indústria e à administração pública”, em todo o país.
Se comparado com instituições europeias, essas datas de fundação de
universidades tradicionais brasileiras demonstra a tardia chegada ao Brasil, o que pode
ter dificultado a formação de cidadãos mais críticos por séculos, principalmente no
campo da Comunicação Social.
Pode-se dizer que antes da "ficção diplomática" da Universidade do Brasil
(atualmente nomeada “Universidade Federal do Rio de Janeiro”), do ousado projeto de
Anísio Teixeira para a Universidade do Distrito Federal e da longeva Universidade de São
Paulo, estudantes eram formados em faculdades sem muita tradição, isoladas, com
dificuldade de entrecruzamento de campos do conhecimento, e que privilegiavam a
formação técnica, geralmente com base nas habilidades práticas de profissionais
renomados do mercado, que buscavam somente disseminar suas experiências
cotidianas, de forma instrumental (MARQUES DE MELO, 1986).
O histórico, muito focado na formação de profissionais, não favorecia a pesquisa
científica. Porém, segundo José Marques de Melo (1986), desde então, com
universidades mais estruturadas, tais problemas começaram a ser superados com a
integração entre ensino, pesquisa e serviços. A relação entre docentes e discentes
3
DECRETO N.º 6.283, de 25de janeiro de 1934. [s.d.]. Disponível em:
<http://www.leginf.usp.br/?historica=decreto-n-o-6-283-de-25-de-janeiro-de-1934>. Acesso em: 12 jul. 2017.
11 | P á g i n a
passou a ser mais intensa, mas as deficiências ainda estão longe de encontrarem uma
solução definitiva no Brasil.
José Marques de Melo (1986) destaca que, com o tempo, aquela via de mão
única, em que profissionais do mercado passavam informações para estudantes,
tentou ser substituída por uma troca de experiências entre docentes e discentes,
especialmente com a introdução da pesquisa nas universidades. A busca pelo
rompimento da situação estática vivida em sala de aula por projetos que contavam
com a participação dos dois atores envolvidos esbarrou, no entanto, na ausência de
estratégia para a implantação da pesquisa acadêmica, que teria potencial para
promover preparação intelectual e produção original de saber, mas que priorizou a
quantidade de publicações, muitas vezes com propósitos díspares e inconsistentes, e o
isolamento entre pesquisadores em busca de autonomia do seu objeto de trabalho.
O assunto ainda está em pauta, visto que em 2013, em entrevista para Carlos
Haag (2013), da Revista Pesquisa FAPESP, o professor Wilson Gomes destacou:
“Inventamos a pesquisa autista, em que cada professor está só no mundo e
aparentemente só publica por imperativo do relatório”. E é nessa perspectiva que,
apesar de sua importância posterior, a pesquisa acabou por acentuar a defasagem no
que diz respeito às tarefas do ensino, uma vez que
[...] a 'valorização' da pesquisa colocou as tarefas do ensino em posição menor,
conduzindo muitos professores a abandonar a docência e a se enclausurar nos
laboratórios, nos núcleos de investigação. Resultado: a relação pedagógica na sala
de aula continuou inalterada. Com exceções, os alunos não tiveram chances de
participar da pesquisa. Nem se beneficiaram das descobertas e observações feitas
pelos pesquisadores, pois estes não se dignavam a retornar ao espaço didático,
optando por subir o plano inclinado da titulação acadêmica e da glorificação
científica. [...]. A consequência imediata do desenvolvimento atrofiado da pesquisa
universitária foi, em muitos casos, a substituição dos antigos e renomados
profissionais, que transmitiam sua experiência pessoal na sala de aula, pela
atuação de jovens recém-formados (auxiliares de ensino), desprovidos de
conhecimento amadurecido e de treinamento metodológico. E que se limitavam a
reproduzir padrões convencionais do ensino livresco, dogmático, verboso. (MELO,
1986, p. 204)
P á g i n a | 12
A partir desse período, como muitos alunos foram formados por professores
inexperientes ou ainda sem o adequado amadurecimento acadêmico, o reflexo
começou a aparecer também na Pós-Graduação, com a chegada de estudantes que
não possuíam inventividade ou disciplina acadêmica para refletir profundamente sobre
determinado tema e desenvolver um projeto de pesquisa. De acordo com Marques de
Melo (1986), esses problemas, apesar de ainda não terem sido superados, têm
procurado ser contornados, desde então, com a integração entre ensino, pesquisa e
serviços à comunidade, o que amplia as possibilidades de estimular a relação entre
docentes e discentes e oferecer arcabouços teóricos mais adequados.
É válido ressaltar que ao não tratar da estrutura das universidades como um todo
e restringir-se apenas ao surgimento formal das escolas de Comunicação Social
brasileiras, a aparição é ainda mais tardia, apenas na década de 1940. Por exemplo,
em 16 de maio de 1947, cria-se a Faculdade Cásper Líbero, no período intitulada
“Escola de Jornalismo Cásper Líbero”, tornando-se o primeiro curso em nível
universitário no ensino de Jornalismo e impulsionando a criação posterior de outros
cursos de Comunicação Social na instituição, como os cursos de Publicidade e
Propaganda, Relações Públicas e Rádio e TV4.
A restrição aos cursos universitários em Jornalismo e outras especializações em
áreas afins começaram a ser superadas e formarem um campo de “Comunicação” pela
primeira vez no país durante a década de 60, na Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS)5, como mencionado por Cláudia Peixoto de Moura (2008, p.
692):
4
Faculdade Cásper Líbero – Quem Somos. Disponível em: <https://casperlibero.edu.br/quem-somos/>. Acesso
em: 16 jul. 2017.
5
É válido salientar que, segundo José Marques de Melo (1986), em 1963, a Universidade de Brasília
desenvolveu uma Faculdade de Comunicação de Massa, o que, para alguns, foi um dos momentos mais
importantes para a área.
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Nos anos 60, a ‘Escola de Jornalismo’, da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul – PUCRS, foi transformada em ‘Faculdade dos Meios de
Comunicação Social’, sendo a primeira no País a formar profissionais de
comunicação. Também foi criada a ‘Escola de Comunicações Culturais’, da
Universidade de São Paulo, com as áreas de Jornalismo, Rádio e Televisão, Arte
Dramática, Cinema, Biblioteconomia, Documentação e Relações Públicas. E a
Associação Brasileira de Relações Públicas – seção Rio Grande do Sul realizou em
Porto Alegre o ‘Simpósio de Comunicação Social’, que visava a estabelecer um
currículo único para a Comunicação. (MOURA, 2008, p. 692)
Segundo Sonia Aparecida Cabestré (2008), de maneira geral, é possível afirmar
que o ensino brasileiro em Comunicação começou a se consolidar em cursos superior
regulares a partir das décadas de 60 (em especial a partir de 1964) e 70,
especialmente baseadas em um modelo norte-americano e calcado em pressões de
categorias profissionais.
Os anos 80 se destacaram pelas Diretrizes Curriculares de 1984 e os 90 por
mudanças políticas que começaram a alterar o cenário tecnológico do país. Os anos
2000 se caracterizaram pela ampliação do uso da Web e, por consequência, muitas
mudanças para os pesquisadores e profissionais de Comunicação. Outros detalhes
sobre o desenvolvimento dos cursos brasileiros de Comunicação Social e, em especial,
de Relações Públicas, além de aspectos relativos às Diretrizes Nacionais Curriculares,
que norteiam os cursos de graduação da área, podem ser observados na minha Tese de
Doutorado (2017): “Literacias digitais nos cursos de Graduação em Relações Públicas:
disciplinas de tecnologia nas matrizes curriculares de universidades brasileiras”.
Divórcio entre ambiente acadêmico e mercado: tecnologia como facilitador
da união?
Depois da mudança no contato entre pessoas, especialmente propiciada pelo
cenário tecnológico alterado pela Internet nos anos 2000, a década atual intensifica
esse processo, ampliando acesso e mobilidade, com trocas de informações mais
P á g i n a | 14
frequentes e praticamente em tempo real. O novo panorama provoca alterações nas
Instituições de Ensino Superior (IES) na busca de flexibilização de suas estruturas de
curso e facilidade para a compreensão das problemáticas contemporâneas por parte de
estudantes e pesquisadores do ponto de vista tecnológico.
No entanto, as atualizações propostas até o momento esbarram no aparente
conservadorismo do ensino superior brasileiro, um fato recorrente, já relatado em
momentos anteriores, como em 1986, por Waldyr Gutierrez Fortes (1986, p. 297), em
experiência vivida na Universidade Estadual de Londrina: “Chegou-se à conclusão de
que pouca coisa mudava [na montagem do novo currículo]: as mudanças profundas que
eram aguardadas não ocorreram”. Em outro capítulo da mesma obra em que Fortes fez
sua declaração (Comunicação e Educação: caminhos cruzados), Margarida Maria
Krohling Kunsch (1986, p. 6) constatou algo que ainda parece fazer parte do cotidiano
nos dias atuais: “O fato é que o sistema educacional brasileiro, bastante superado,
ainda se acha muito divorciado da nova realidade comunicacional e dos fatos da vida
nacional".
Situação similar ocorre com alguns problemas constatados por José Marques de
Melo (1986) na época e que aparentemente ainda persistem, como as deficiências na
formação básica de estudantes que refletem após o ingresso na graduação, as falhas
na avaliação dos alunos e, em especial, a concepção inadequada de currículo, o que
pode comprometer pesquisas futuras, inclusive no nível da Pós-Graduação, uma vez
que
[...] não sendo pensado como um conjunto articulado de conteúdos, mas sim como
um simples mosaico de cadeiras ou disciplinas, o currículo acaba se tornando um
espaço burocrático, divisor de águas do campo de trabalho dos professores e
compartimentador da estocagem dos conhecimentos que vitima os alunos. (MELO,
1986, p. 211).
Muitas décadas se passaram desde então, mas o conservadorismo continua
mantendo alterações que não acompanham os avanços tecnológicos e que provoca um
15 | P á g i n a
distanciamento das empresas. Por sua vez, as empresas afastam-se das universidades
e decidem criar cursos próprios para suprir algumas necessidades – geralmente
relacionadas aos recentes desafios do ambiente digital – com disciplinas supostamente
não fornecidas pelo ensino formal. Um dos indícios para essa constatação é que José
Marques de Melo (1986, p. 218) dizia que “as estratégias pedagógicas excluem ou
atendem parcialmente as condições do mercado de trabalho, ocasionando vácuos ou
deficiências na formação dos futuros profissionais” e quase trinta anos depois, em
2013, em entrevista para Carlos Haag (2013), da Revista Pesquisa FAPESP, o próprio
José Marques de Melo ressaltou:
Sou muito crítico da pesquisa em comunicação no país. Ela repercute pouco porque
as universidades se fecham como um caramujo, sempre voltadas para dentro. O
que fazemos não é relevante para a sociedade, porque de modo geral só imitamos
os estrangeiros. Acima de tudo, não fazemos pesquisas empíricas.
E dá continuidade ao seu pensamento com o que denomina de “pesquisa de
morgue”, aquelas que se baseiam em fenômenos já passados, objetos inanimados e
sem pesquisa empírica:
E quando pesquisamos, usamos referencial teórico importado [...], porque não
criamos algo que seja nosso para nossas questões. Não posso fazer pesquisa se
não me aproximar das empresas do mercado. Seria como dizer a um médico para
trabalhar com saúde sem chegar perto de um hospital. [...] Além disso, as
pesquisas que vão para as financiadoras muitas vezes são mais ensaios,
especulações, reflexões à margem das questões reais e atuais. Fazemos mais de
mil teses por ano, um dos países que mais produzem conhecimento em
comunicação no mundo, mas tudo isso não repercute e não é veiculado para as
empresas”.
É nesse ponto que se reforça a importância de introduzir informações e conceitos
sobre tecnologia em projetos de pesquisa, objetivando a otimização de processos e, por
consequência, resultados mais significativos. Não é raro encontrar questionamentos
sobre a real utilidade de associar objetos de pesquisa consolidados com inovações
P á g i n a | 16
tecnológicas, uma vez que este estão em constante mutação. Reitera-se, neste texto,
uma justificativa que há mais de trinta anos foi indicada por Antônio Carlos Jesus
(1986) e permanece atual:
Elas [inovações tecnológicas] têm potencialidade suficiente para transtornar toda a
prática da comunicação social, e por extensão as instituições educacionais
formadoras dos profissionais, seus professores, os currículos escolares, os projetos
experimentais, os sindicatos profissionais e até o exercício prático da profissão.
(JESUS, 1986, p. 335)
E complementa:
Não se trata, neste caso, da velha prática de colocar 'em moda' temas teóricos [...].
Trata-se de uma preocupação que expressa uma linha de compromisso com os
interesses que o nosso povo vem reivindicando na área de comunicação social. É
necessário que nossas universidades [...] se adaptem e integrem-se a essas
circunstâncias. (JESUS, 1986, p. 335-336)
Considerações finais
Diante das informações expostas anteriormente, entende-se que resgatando o
histórico dos objetos de estudo e relacionando-os a elementos ligados às questões
tecnológicas supracitadas, cria-se uma maneira de fortalecer a pesquisa em
Comunicação, aproximando o ainda distante ambiente acadêmico das práticas do
mercado.
Defende-se, neste texto, o aumento das discussões acerca da tecnologia em
cursos de Comunicação, desde a Graduação e, em especial, na Pós-Graduação, em que
a pesquisa conta com estudantes mais amadurecidos academicamente, para diminuir
a distância entre a Instituições de Ensino Superior e as empresas, beneficiando as
práticas do cotidiano mercadológico e, simultaneamente, revitalizando e, em
determinados casos, validando ideias propostas nas universidades.
17 | P á g i n a
Apesar do conservadorismo relatado, como exemplo de algumas iniciativas que
podem ser tomadas, já durante a Graduação, para reduzir os problemas identificados
ao longo do texto, menciona-se uma pesquisa realizada por mim, em Tese de
Doutorado (2017) sobre os cursos de Relações Públicas.
Diante das novas Diretrizes Curriculares Nacionais de RP, analisou-se, por meio de
pesquisa documental (com matrizes curriculares de 10 cursos de graduação em
Relações Públicas), que, de 2013 para 2016, o número de disciplinas de tecnologia
oferecido era de no máximo 13 e passou para 18. No que diz respeito à Carga Horária,
houve evolução substancial no tempo dedicado a essa temática, uma vez que, em
2013, o número mínimo era de 105 horas e de no máximo de 735 horas, passando, em
2016, para um mínimo de 150 horas e máximo de 990 horas.
Nesse contexto, especialmente pelas entrevistas em profundidade realizadas com
coordenadores de curso de Relações Públicas, observou-se a junção entre o
conhecimento humanístico e a capacitação instrumental, o que reforça a ideia de que
as tecnologias possuem importante papel na formação do pesquisador, mas que não se
deve reduzir o ensino ao domínio da parte técnica das plataformas digitais. Ou seja, que
as Instituições de Ensino Superior devem continuar a ter como prioridade a formação
de pesquisadores críticos, com um arcabouço teórico que permita uma autonomia
acadêmica e profissional, mas com alinhamento a um novo momento, integrando a
pesquisa com inovações tecnológicas.
Referências
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Ministério da Educação e Cultura/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais/Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Sudeste, 1974. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&id=56kQAAAAYAAJ&focus=searchwithin
volume&q=Rei+Alberto>. Acesso em: 30 jun. 2017.
P á g i n a | 18
CABESTRÉ, Sonia Aparecida. Contextualizando as Relações Públicas como atividade do campo
profissional. In: MOURA, Cláudia Peixoto de (Org.). História das relações públicas: fragmentos da
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Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
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criação da RJ. In: Anais do I Congresso Brasileiro de História da Educação. Rio de Janeiro: URFJ,
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<http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/09/12/a-crise-da-media-idade/>. Acesso em: 12 jul.
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KUNSCH, Margarida Maria Krohling. “Comunicação e Educação: caminhos cruzados”. In:
KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.). Comunicação e Educação: caminhos cruzados. São
Paulo: Loyola, 1986. p. 5-21.
MAIA, Almir de Souza. O descobrimento tardio: as raízes, o nascimento e os atuais desafios da
universidade brasileira. Revista Impulso, Piracicaba, vol. 12, n. 27, p. 9-20, 2000. Disponível
em: <http://biblat.unam.mx/es/revista/impulso-piracicaba/articulo/o-descobrimento-tardio-as-
raizes-o-nascimento-e-os-atuais-desafios-da-universidade-brasileira>. Acesso em: 24 mai. 2017.
MARQUES DE MELO, José. Ação Educativa nas Escolas de Comunicação: Desafios, perplexidade.
In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.). Comunicação e Educação: caminhos cruzados.
São Paulo: Loyola, 1986. p. 199-221.
NASSAR, Paulo. Para que serve a universidade?. 2014. Disponível em:
<http://www.aberje.siteprofissional.com/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=1120&ID_COLU
NISTA=28>. Acesso em: 20 jul. 2017.
19 | P á g i n a
VERGILI, Rafael. Literacias digitais nos cursos de Graduação em Relações Públicas: disciplinas
de tecnologia nas matrizes curriculares de universidades brasileiras. 2017. 511 p. Tese
(Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Comunicação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
P á g i n a | 20
21 | P á g i n a
Apresentação
Tecituras do saber
Analisar não é tarefa fácil. E, quando se trata da mídia, o esforço teórico é
redobrado. O que há por de trás dos discursos, dos conteúdos, das imagens e
mensagens divulgadas, diariamente, pelos veículos de comunicação? Tudo é pensado,
construído, manipulado? Toda mídia é sensacionalista? São questionamentos
presentes nas discussões de sala de aula, com alunos que trilham a formação
acadêmica em Jornalismo. E com razão: logo são eles que ocuparão as bancadas dos
telejornais, as redações, as emissoras de rádio e TV, as agências midiáticas e digitais,
além dos mais diversos segmentos do mercado de jornalismo.
O jornalismo é fruto de análises, desde a escolha da pauta até o fechamento de
jornal ou publicação da notícia. Desta forma, não se pode admitir que os futuros
profissionais saiam dos bancos da universidade sem uma visão crítica e analítica sobre
a própria profissão – produção, inovação e mercado. A graduação, nas diferentes áreas
do conhecimento, é dimensionada por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. É
esse tripé, fomentado pelo ensino superior, que permite a formação integral dos
acadêmicos, que ingressam, anualmente, nas universidades. O compromisso das
instituições, aliado ao trabalho de seus docentes, é favorecer e estimular a preparação
humana, técnica e tecnológica de seus discentes. Na graduação em Jornalismo não é
diferente. Que tipo de profissionais estamos formando? Essa pergunta deve inquietar e
provocar reflexões, e, principalmente, indagar sobre o que ensinamos e para que
ensinamos.
“O que é fazer um bom jornalismo?”, perguntou um aluno durante uma das
aulas da disciplina de Comunicação Comparada. Parece um questionamento simples,
P á g i n a | 22
mas não é. São provocações que nos fazem pensar. Nasce então, outro desafio: pensar
e analisar conjuntamente: tecer. Se queremos entender o ‘fazer jornalismo’, precisamos
investigar, avaliar, estudar, praticar, inovar e, claro, entender quem já o faz. Desafio
aceito! Cada dupla ou trio de alunos escolheram um veículo de comunicação local ou
nacional, selecionaram uma produção midiática (programas de TV, reportagem,
cobertura especial ou fato jornalístico) para análise de mídia. Tempo curto: dois meses.
Parecia tudo difícil, principalmente quando é preciso deixar de lado o ‘achismo’ e,
fundamentar, teoricamente as análises. Sem esquecer da ABNT, correções e ajustes
finais. Uma boa análise é resultado de muitas leituras e conversas.
Mas, as produções de sala não pararam por aí. Durante uma conversa com
Profa. Cláudia Arantes, surgiu a ideia de organizar o primeiro evento científico com
alunos. E a proposta não ficou só no papel. Em parceria com o Grupo de Pesquisa
Comunicação, Mercado e Tecnologia (COMERTEC), organizamos o 1º Encontro do
Comertec Jr., dias 02 e 03 de junho de 2016, com o tema ‘A Pesquisa em
Comunicação: do Norte para o mundo’. Mais de 100 participantes inscritos – alunos
internos e externos. Foram dois dias de evento, com palestras, GT´s e oficinas de áudio
e vídeo. O evento foi realizado em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-
Graduação e Pró-Reitoria de Extensão, representada pelos professores Dra. Helena
Simões e Dr. Alaan Ubaiara Brito, e Curso de Jornalismo da Universidade Federal do
Amapá (UNIFAP). O Encontro do COMERTEC Jr., que pretendemos dar continuidade,
nasceu com o objetivo de estimular e fomentar a pesquisa científica com os alunos de
graduação. Essa primeira edição reuniu pesquisadores interessados em desenvolver
estudos e propostas reflexivas sobre a comunicação contemporânea na era tecnológica.
O Grupo de Pesquisa COMERTEC possui parcerias com universidades brasileiras
e internacionais, fazendo diálogo, constante, entre o Norte no país, com diversos
pesquisadores da América Latina e América do Norte. Registramos a participação de
pesquisadores renomados em nosso primeiro evento: Prof. Dr. Paul Bradshaw -
23 | P á g i n a
Birmingham City University, Prof. Dr. Eduardo Villanueva Mansilla - Pontifícia
Universidade Católica do Peru, Prof. Dr. James lull - San José State University e o Dr.
Rafael Vergili - Universidade de São Paulo (USP).
Desta forma, o 1º COMERTEC veio reforçar a missão e compromisso da UNIFAP,
a partir do tripé: o ensino, a pesquisa e a extensão, que sustenta nosso
desenvolvimento e consolidação como uma universidade inovadora e transformadora,
presente na região Norte do país, abrindo fronteiras de diálogo com o mundo.
Neste E-book, composto de papers, procuramos trilhar um percurso
independente, livre, mas nem por isso, descompromissado. São experiências
acadêmicas no campo da Comunicação, de jovens pesquisadores aventurados na
tecitura do saber. Assim como os fios que se atravessam no tear (urdidura),
encontramos alunos desejosos de um conhecimento produzido em rede. Este livro, é
como um bonito tecido confeccionado por muitas mãos – aluno e professor, e revelam
o conhecimento resultante de uma tecitura, fios que se entrelaçam, para juntos formar
novos saberes.
Para efetivar tal objetivo, o E-book traz oito trabalhos integrados pelo escopo da
aplicação prática da comunicação nos mais diversos mercados, além da análise de
mídia e gestão das estratégias comunicacionais. São textos refletem os aprendizados
fomentados em sala de aula, e que agora, são compartilhados. Andreza Gil Costa e
Costa, em Quando o humor vem como notícias: uma análise do site de humor
Sensacionalista, busca entender qual o papel do humor e sua interferência no conteúdo
jornalístico produzidos por sites de informação. Fabiana Ribeiro Barcellos e Karina
Soares Pacheco, em A barbárie em horário nobre: um estudo sobre a abordagem
adotada pelo apresentador do Cidade Alerta, analisam a abordagem midiática adotada
pelo apresentador Marcelo Rezende no telejornalismo brasileiro. No texto A ética na
produção jornalística: uma análise crítica sobre o site Seles Nafes, Laura Machado,
Luana Silveira e Pedro Souza, buscam entender o papel da ética na produção de
P á g i n a | 24
conteúdos noticiosos e como a mídia trata das questões sociais. Em O poder de
julgamento da mídia: uma análise midiática sobre o caso Isabella Nardoni, Amanda
Bastos e Railana da Silva, analisam a cobertura midiática realizada pelo programa
Domingo Espetacular, no dia 11 de março de 2012, sobre o caso Isabella Nardoni, com
base na Teoria do Agendamento e do Newsmaking. O Estupro no Rio: a culpa é sempre
delas, é reflexão de Anita Flexa, Felipe Lima e Isabel Ubaiara, sobre o papel da mídia na
apuração do crime de estupro coletivo envolvendo uma adolescente, de uma
comunidade do Rio de Janeiro, em maio de 2016. Em A repercussão do caso: o
desaparecimento do garoto do Acre no Programa Fantástico, Jamille Rosa da Silva Dias
e Thallysom Oliveira, avaliam o discurso e a midiatização do social pela Rede Globo,
sobre o misterioso sumiço do jovem Bruno Borges, de 24 anos no Acre. No artigo O
massacre de Realengo: análise do discurso jornalístico de uma reportagem
apresentada no Bom Dia Brasil, Luciana Cordeiro, Michelle da Silva e Sidney Cardoso
observam o discurso do jornalismo sobre o caso, além da repercussão na mídia. Os
problemas da erotização infantil na cultura midiática: a história de Mc Melody, são
discutidos por Marcella Palheta da Fonseca e Nelson Carlos da Silva Gama, que avaliam
a construção de personagens mirins pela mídia e argumentam sobre os riscos da
erotização infantil na TV.
Todas as experiências, produções e momentos aqui relatados, só foram
possíveis graças ao empenho, dedicação e altruísmo dos alunos e de docentes que
acreditam na transformação do mundo por meio da Comunicação e do conhecimento.
Aqui, nossos mais profundos agradecimentos aos professores do Colegiado de
Jornalismo da UNIFAP: Prof. Dr. Jefferson Ferreira Saar, Profa Dra. Cláudia Maria
Arantes de Assis Saar, Profa. Ms. Elisângela Andrade, Prof. Ms. Luciana Macedo e Prof.
Esp. Jacks Andrade.
Partilhamos com você reflexões, questionamentos, análises críticas de alunos
que sonham com um novo jornalismo – em vista de uma sociedade mais justa, fraterna
e solidária. Não propomos, apenas, textos científicos. Oferecemos diferentes pontos de
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vistas e proposições, que vão além dos modelos e arcabouços teóricos. Sim, as teorias
nos orientam nos passos da análise de mídia, mas não limitam nosso olhar crítico. Pelo
contrário, cada artigo publicado neste E-book é fruto de reflexões teórico-metodológicas
e, principalmente, um debruçar atento sobre as relações e tecituras de comunicação
que envolvem diretamente a matéria prima do jornalismo: a vida humana.
Boa leitura,
Um abraço.
Prof. Ms. Paulo Vitor Giraldi Pires
Docente do Colegiado de Jornalismo da UNIFAP
Mestre em Comunicação Midiática (FAAC/UNESP)
Doutorando em Comunicação (FAC/UnB)
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CAPÍTULO 1
QUANDO O HUMOR VEM COMO NOTÍCIAS: Uma análise do site de
humor “Sensacionalista”6
Andreza Gil Costa e COSTA7
RESUMO
Este paper tem como foco fazer uma análise do site de humor Sensacionalista para
entender qual o papel do humor no conteúdo produzido pelo site. Partimos da hipótese
central de que o humor quando utiliza-se do jornalismo está para além do
entretenimento, pois a ironia característica do site é veiculadora de uma crítica à
sociedade e ao próprio fazer jornalístico. Para fins de análise, abordaremos as
reportagens da editoria de política, e mais precisamente a notícia “Temer comemora
bodas de papel com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT”, publicada no site
o Sensacionalista e a reportagem da Folha de S. Paulo “71% dos brasileiros são contra
reforma da Previdência Datafolha”.
PALAVRAS-CHAVE: Sensacionalista; Humor; Ficção; Informação; Uso e Gratificações
INTRODUÇÃO
Num dia qualquer, liguei a TV, troquei para o canal da Multishow, onde passava
um telejornal, por mim até então desconhecido. De imediato, não dei muita atenção
para o que os apresentadores diziam, mas quando a repórter foi chamada, fiquei
curiosa com o tema da reportagem: uma mãe de família havia cometido um crime,
6
Artigo produzido na disciplina de Comunicação Comparada - 2017.1, sob a orientação do Prof. Paulo Vitor
Giraldi Pires
7
Estudante de Graduação do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da UNIFAP, email:
andrezagil.ap@gmail.com
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propositalmente, para ser presa. O motivo? Dispor de tempo e sossego para ler livros e
ouvir discos numa cela de um presídio8.
A notícia em questão, na verdade, era fictícia. No entanto, não foi tão fácil
chegar a esta conclusão. A seriedade dos apresentadores e da repórter, a qualidade
técnica das passagens, entrevistas e simulações me levaram a crer que se tratava de
mais um jornal qualquer, mas de uma notícia absurda. Enfim, toda a linguagem
jornalística estava, aparentemente, a serviço de uma informação verdadeira.
No entanto, quando a reportagem terminou, observei que o canal era o
Multishow – desconfiei se tratar de um programa de humor. Depois desse dia, alguns
amigos – entre eles, um jornalista! – compartilharam o link da reportagem em uma
rede social, acompanhado de comentários de indignação, acreditando se tratar de um
fato verídico9.
Algum tempo depois, durante os primeiros semestres do curso de Comunicação,
me interessei em estudar o conteúdo do “Sensacionalista”, a fim de compreender seu
processo de produção, isto é, a capacidade de se utilizar de técnicas jornalísticas para
gerar entretenimento e ao mesmo tempo, através da ironia, lançar uma crítica profunda
ao sensacionalismo cada vez mais presente no jornalismo brasileiro.
Descobri que o programa foi exibido de 2011 a 2014 no canal Multishow,
resultado do estouro na internet do site “Sensacionalista”, fundado em 2009 pelo
jornalista e humorista Nelito Fernandes. Além do site, o “Sensacionalista”, tem cada vez
mais acessos e seguidores em diversas redes sociais, como o Facebook, Twitter,
Instagram etc. As notícias, embora absurdas, fictícias e bastante humoradas trazem por
trás uma crítica social aos acontecimentos mais recentes no mundo da política e da
economia brasileira veiculada pelos grandes jornais do país.
8
https://www.youtube.com/watch?v=A9ShMyQj1Bk, publicado em 24 de março de 2014.
9
A confusão entre as pessoas a respeito da veracidade da notícia continua até hoje. Alguns comentários no vídeo
do youtube comprovam isto. Por exemplo, um usuário comentou: “Isso é sério mesmo ou é teatro??”, e outro
comentou: “Sou fã da Laura. Achei a atitude desesperadora, mas positiva, mulher de coragem.”, etc.
29 | P á g i n a
Neste sentido, o problema norteador deste artigo é entender qual o papel do
humor no conteúdo produzido pelo site sensacionalista.com.br? A hipótese central é
que o humor quando utiliza-se do jornalismo está para além do entretenimento. A ironia
característica do site é veiculadora de uma crítica à sociedade e ao próprio fazer
jornalístico. O objetivo, portanto, é compreender como o humor (a ironia) é capaz de
“brincar” entre a realidade e a ficção. Para fins de análise, abordarei as reportagens da
editoria de política, e mais precisamente a notícia “Temer comemora bodas de papel
com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT”, publicada no site o
Sensacionalista e a reportagem da Folha de S. Paulo “71% dos brasileiros são contra
reforma da Previdência Datafolha”.
O Sensacionalista
A partir da primeira década dos anos 2000, os sites de humor no jornalismo vêm
ganhando cada vez mais espaço no mundo virtual. Um dos principais inspiradores do site
“Sensacionalista” foi o norte-americano “The Onion”, fundado como jornal impresso em
1988 por dois estudantes universitários. Desde 1996 no meio digital, o “The Onion” utiliza
nomes fictícios em suas reportagens, exceto quando figuras públicas são satirizadas
(MACON; SODRÉ, 2015).
Neste mesmo caminho, entre a realidade e a ficção, o site brasileiro
“Sensacionalista” foi fundado em 2009, pelo jornalista e redator Nelito Fernandes. Nelito
trabalhou como jornalista nos jornais O Globo, Extra e Revista Época, foi redator do
programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, mas foi no humor que fez carreira nos
programas Divertics, Zorra Total e Casseta & Planeta, todos da TV Globo10. Nas palavras de
Macon e Sodré:
10
Uma curiosidade a respeito da criação do site é que seu primeiro nome foi “Diário do dia”, mas sofreu
mudança por não representar o objetivo proposto por seu criador: criar humor através de notícias fictícias.
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As notícias publicadas no Sensacionalista são fictícias baseadas ou não na
realidade. As informações são divididas em editoriais – país, esporte,
entretenimento, mundo, digital, economia – postadas, por vezes, a partir de
assuntos que estão na pauta do dia e com envolvimento de nomes de artistas e
governantes (MACON; SODRÉ, 2015, p. 2-3).
Observamos que o site Sensacionalista funciona a partir do formato jornalístico
de editorias com temáticas agendadas por outros veículos e pela sociedade. Além
disso, utiliza-se do humor para transitar entre a ficção e a realidade, como também
lançar uma crítica ao próprio fazer jornalístico, especificamente o sensacionalismo
existente nos grandes meios de comunicação.
O Sensacionalismo no Jornalismo
No livro “Espreme que sai sangue”, publicado em 1995, na primeira parte
intitulada “Sensacionalismo da Comunicação”, Danilo Angrimani, oferece algumas
definições para os termos “sensacionalismo” e “sensacionalista”, tomando por base o
dicionário Aurélio:
Sensacionalismo - S.m. 1. Divulgação e exploração, em tom espalhafatoso, de
matéria capaz de emocionar ou escandalizar. 2. Uso de escândalos, atitudes
chocantes, hábitos exóticos etc.. com o mesmo fim. 3. Exploração do que é
sensacional na literatura, na arte etc. “Sensacionalista - Adj.2g. Em que há, ou que
usa de sensacionalismo; notícia sensacionalista; jornal sensacionalista. (apud
ANGRIMANI, 1995, p.13).
Segundo ele, os termos em questão são amplos, por isso mesmo imprecisos e
frequentemente utilizados como adjetivos de acusação para veículos de comunicação
ou jornalistas. Já para o leitor, espectador ou ouvinte (o receptor) o sensacionalismo é
entendido como um “desequilíbrio” informativo. Isto acontece quando o meio de
comunicação comete um deslize, isto é, exagera na coleta de dados, publica conteúdos
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ousados ou, por exemplo, envereda por linhas editoriais que invadem a vida pessoal de
figuras públicas.
Neste sentido, o termo “sensacionalismo” é utilizado quase sempre pelo receptor
para desqualificar, “colocar a margem” uma notícia ou meio de comunicação e separá-
lo, portanto, dos jornais “sérios”.
Uma vez que são múltiplas e imprecisas, as definições encontradas no dicionário
ou aquelas construídas pelo senso comum não possibilitam uma investigação mais
profunda sobre o assunto. Portanto, Angrimani recorre às definições elaboradas com
mais precisão, como aquela oferecida por Rosa Nívea Pedroso quando define o
sensacionalismo como um gênero de jornalismo que se caracteriza por um:
[...] modo de produção discursivo da informação de atualidade, processado por
critérios de intensificação e exagero gráfico, temático, linguístico e semântico,
contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados
ou subtraídos no contexto de representação ou reprodução de real social. (apud
AGRIMANI, 1995, p. 14)
Quanto às regras que definem este gênero do jornalismo e seu modo de produção
de informação, Pedroso enfatiza uma série de elementos, dos quais destacarei os
seguintes: o exagero e a heterogeneidade gráfica, a informação construída através do
apelo emocional, a exploração do vulgar e do extraordinário, temáticas isoladas sem
continuidade e relevância social, econômica e cultural.
Quanto ao aspecto discursivo, o jornalismo sensacionalista é caracterizado por
sua repetitividade, ambiguidade e unilateralidade, orientada por uma lógica comercial a
serviço do interesse empresarial frente às demandas da grande massa.
Neste sentido, Angrimani também se vale da definição proposta por Marcondes
Filho, que enfatiza os aspectos ideológicos do sensacionalismo. Segundo Marcondes, o
sensacionalismo é a radicalização da mercantilização das informações, isto é, o que se
vende é a aparência, a manchete. Esta, por sua vez, quase sempre traz elementos que
serão explorados pelas carências do público. Diz Marcondes Filho:
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O jornalismo sensacionalista extrai do fato, da notícia, a sua carga emotiva e
apelativa e a enaltece. Fabrica uma nova notícia que a partir daí passa a se vender
por si mesma. (A imprensa sensacionalista) não se presta a informar, muito menos
a formar. Presta-se básica e fundamentalmente a satisfazer as necessidades
instintivas do público, por meio de formas sádica, caluniadora e ridicularizadora das
pessoas. (apud ANGRIMANI, 1995, p. 15).
Segundo Angrimani, o sensacionalismo torna um fato jornalístico comum em
espetacular, sensacional. Para tanto, faz uso de uma linguagem escandalosa e
espalhafatosa. O sensacionalismo é, portanto, o modo de produzir notícias que
extrapola o real, pois superdimensiona o que aconteceu de fato.
Outra característica da publicação sensacionalista é a inadequação entre os
elementos que compõem a notícia, como manchete e texto ou texto e foto, levando o
leitor ao descrédito do veículo. Neste sentido, o termo “sensacionalista” é pejorativo e
quase sempre é utilizado para descredibilizar este tipo de veículo de comunicação.
Quanto a linguagem, prevalece o estilo coloquial – com uso de gírias e até
palavrões – a fim de envolver o leitor emocionalmente com o texto. Enfim, o gênero
sensacionalista recorre ao absurdo e ao apelo emocional, deturpando a própria
realidade, quase sempre veiculando notícias descompromissadas política e
socialmente, a fim vendê-las para o maior público possível.
Neste sentido, no livro “Espreme que sai sangue”, Angrimani traz definições que
são importantes para entender de que forma o Sensacionalista se constitui como um
jornal de humor ao se apropriar dos elementos do sensacionalismo e, ao mesmo
tempo, lançar uma crítica sobre ele.
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Análise
Notícia 1: 71% dos brasileiros são contra reforma da Previdência Datafolha
A matéria em formato reportagem foi publicada na edição impressa e no site do
jornal Folha de S. Paulo, em 01 de maio de 2017, escrita pela jornalista Ana Estela de
Sousa Pinto11.
No lide da reportagem é possível observar o descontentamento dos brasileiros em
relação à Reforma Previdenciária:
Sete em cada dez brasileiros se dizem contrários à reforma da Previdência, mostra
pesquisa realizada pelo Datafolha. A rejeição chega a 83% entre os funcionários
públicos, que representam 6% da amostra e estão entre os grupos mais ameaçados
pelas mudanças nas regras para aposentadorias e pensões.
Para que possamos compreender esta notícia, é importante destacar o contexto
político e econômico em que ela se insere. Desde que Michel Temer assumiu como
presidente interino em 12 de maio de 2016, logo depois do impeachment de Dilma
Rousseff ter sido aprovado no Senado Federal, no discurso de posse, prometeu dar
prioridade à economia brasileira e consequentemente promover melhorias na máquina
pública. Depois de três meses e dezenove dias como presidente interino, foi empossado
como presidente definitivo.
A primeira proposta do presidente Temer no Congresso Nacional foi a Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) referente ao limite dos gastos públicos do Governo
Federal. A PEC tramitou no Senado como PEC 55 e na Câmara dos Deputados como
PEC 241 e então, foi aprovada em 13 de dezembro de 2016, passando a vigorar no ano
de 2017. Outras reformas também foram propostas como a Reforma do Ensino Médio,
da Terceirização, da Previdenciária e a Trabalhista.
11
A reportagem não foi compartilhada na fanpage da Folha de S. Paulo no Facebook, onde possui quase 6
milhões de curtidas e 5,7 milhões de seguidores.
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Na matéria em destaque observamos uma reação da população exatamente a
respeito das duas últimas propostas. Segundo a Teoria dos Usos e Gratificações, existe
por parte dos indivíduos uma necessidade de consumir determinados tipos de
informações. Neste sentido, os indivíduos não são sujeitos passivos, mas ativos. Isto se
revela na crescente procura por notícias que tratem de temas sobre política e
economia, e mais especificamente, sobre os últimos acontecimentos no governo do
presidente Michel Temer ou da Operação Lava Jato, por exemplo.
Neste sentido, “motivações, gratificações, satisfações e necessidades são
vetores conceituais a partir dos quais os efeitos e os usos pontuais dos meios de
comunicação são compreendidos” (SILVEIRA, 2014, p.463). Dentro de uma perspectiva
funcionalista, o receptor começa a ser pensado como um ser que não é mais vazio
diante da mídia. Silveira completa esta reflexão dizendo que:
Segundo este entendimento, o receptor passa a filtrar, à sua maneira, aquilo que
lhe é oferecido pela emissão. Admite-se a existência de outros processos
agenciadores que não são imediatos, mas que interferem consideravelmente no
núcleo de decisões do receptor (SILVEIRA, 2014, p. 460).
Obter satisfação faz parte do núcleo de decisões do receptor. Os autores Paul
Lazarsfeld e Elihu Katz trabalham a perspectiva de que o processo de recepção agora é
determinado pelo emissor. Para Katz, o receptor ocupa um papel de usuário ativo dos
meios massivos e por essa razão o importante passa a ser responder o que os
indivíduos fazem com as mídias.
Notícia 2: Temer comemora bodas de papel com chuva de papel picado de
títulos de eleitor e CLT
A matéria, em formato notícia, foi postada na fanpage do Sensacionalista no
Facebook, compartilhada do site www.sensacionalista.com.br no dia 12 de maio de
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2017 e marcou a surpreendente marca de 14 mil curtidas, 344 comentários e 2.613
compartilhamentos. A fanpage do site de humor já ultrapassou a marca de 3 milhões
de curtidas e de seguidores, número que se compara ao de grandes jornais brasileiros
que também estão no Facebook. Destaca-se a matéria:
Ao completar um ano de seu governo, conhecido como “bodas de papel”, o
presidente Michel Temer reuniu parlamentares e ministros no Palácio do Planalto,
em um evento para fazer um balanço de um ano do governo. Temer deu ênfase às
ações de sua gestão e ressaltou as reformas da Previdência e a trabalhista,
defendidas pelo governo. Ao fim de seu discurso, uma linda chuva de papel picado
caiu do céu do Palácio, feita exclusivamente com títulos de eleitor e páginas da CLT
de diversos brasileiros. “Achamos o governo Temer, até agora, um golpe de mestre”
elogiou um ministro. “A chuva de papel deu um toque decorativo à cerimônia” disse
outro. De acordo com Temer, apesar de todas as dificuldades até aqui, seu governo
sai desse primeiro ano com saldo positivo. “Positivo em 4%!” gritou um parlamentar
da oposição, sentado ao fundo.
Apesar de fictícia, é possível observar que a notícia em questão versa sobre um
assunto em grande discussão no momento: as reformas da previdência e trabalhista. O
humor, neste caso, se realiza uma vez que o conteúdo produzido brinca com a realidade
e a ficção. Para compreender o humor por trás desta notícia, é necessário ter
conhecimento do que está acontecendo no país, isto é, das notícias veiculadas pelos
grandes meios de comunicação. No site Sensacionalista, a ficção (a piada) é o outro
lado da moeda.
Segundo Chauí (2006), podemos compreender o entretenimento e o lazer de
diversas formas; como elementos vitais para a vida humana, como descanso para o
aumento da produtividade, e mais radicalmente, como produto da alienação, do
controle social e da dominação.
Seja qual for nossa concepção de entretenimento, é certo que sua característica
principal não é apenas o repouso, mas também o passatempo. É um deixar passar
o tempo como tempo livre e desobrigado, como tempo nosso (mesmo quando esse
“nosso” é ilusório) (CHAUÍ, 2006, p. 21)
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Apesar das formulações, o entretenimento é um produto da cultura – em sentido
amplo –, isto é, revela as formas que os indivíduos inventaram para simplesmente
“passar” o tempo, recarregar suas energias, se divertir. Porém, o entretenimento se
diferencia da cultura em seu sentido estrito, enquanto trabalho criador de pensamento
e de arte.
No caso do conteúdo produzido pelo Sensacionalista, apesar de ser considerado
como entretenimento, observamos que o humor está para além do simples
passamento, mas é também veiculador de uma forte crítica social ao cenário político e
econômico brasileiro, além do próprio fazer jornalístico. Este humor “crítico” é
conceituado pelo prório Nelito Fernandes que em uma entrevista ao canal GNT12:
Eu acho que o humor pega a pessoa distraída, você não espera o que vem. O humor
surpreende, ele precisa surpreender pra provocar o riso. E eu acho que o melhor
caminho pro humor sempre é ser contra. Você é contra, não importa. “Vocês batem
muito no governo”, porque é o governo. Se amanhã a oposição for o governo, vamos
bater no governo, vamos bater na oposição, vamos ser contra. O humor a favor é
impossível (...) Você aponta feridas, você sacaneia, é isso.
O sensacionalismo não é eticamente permitido no jornalismo. O Código de Ética
dos Jornalistas foi criado para fixar normas éticas ao profissional do jornalismo. O texto
do Art. 7° do Código diz que “O compromisso fundamental do jornalista é com a
verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e
sua correta divulgação”. Todos os jornalistas e veículos de comunicação devem
observar e respeitar este princípio em nome do compromisso social com a comunidade.
O Sensacionalismo, por ser um site de humor, não tem compromisso com a
verdade, inclusive, deixa claro no seu slogan “Um jornal isento de verdade”. No entanto,
pessoas desavisadas divos podem acreditar no que é noticiado. O fato de suas notícias,
sobretudo de política serem pautadas em temas que também estão em grandes sites
12
http://gnt.globo.com/programas/papo-de-segunda/videos/4901651.htm
37 | P á g i n a
de notícias jornalísticas, ajudam a alimentar a crença que as notícias veiculadas por ele
são reais.
Considerações finais
Nas próprias palavras do criador do site, observei que o conteúdo produzido pelo
Sensacionalista não está a serviço do entretenimento alienador, isto é, aquele que
afasta o indivíduo dos processos sociais, políticos e econômicos. Pelo contrário, é
através do humor que a crítica se realiza.
Na editoria de política do site, rir significa tomar consciência do que está
acontecendo atualmente no Brasil. Isto significa dizer que os elementos
sensacionalistas utilizados pelo site servem tão somente para criticar o que está sendo
veiculado por muitos jornais brasileiros.
O Sensacionalista surge em um contexto em que o humor passa a ganhar espaço
no mundo virtual. As notícias falsas elaboradas pelo site são inspiradas em fatos,
acontecimentos e personalidades reais do Brasil. Em suas abordagens sobre o mundo
da política, ironiza os escândalos de corrupção e as reformas do Governo Federal, como
o caso das reformas da previdência e a trabalhista.
Referâncias
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imprensa. São Paulo: Summus, 1995.
BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação e Consumo. In: CITELLI, Adilson; BERGER, Christa;
BACCEGA, Maria Aparecida; LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; FRANÇA,Vera Veiga (orgs.).
Dicionário de Comunicação – Escolas, Teorias e Autores. São Paulo: Contexto, 2014.
P á g i n a | 38
CHAUI, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2006.
CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS. Congresso Nacional dos Jornalistas
Profissionais. Disponível em: <http://www.abi.org.br/institucional/legislacao/codigo-de-etica-
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MACON, Felipe; SODRÉ, Muniz. Olimpíadas no Rio: Uma Análise das Notícias sobre o Evento no
Site de Humor Sensacionalista. In: XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação na
Região Sudeste. Rio de Janeiro. 2015.
PINTO, Ana Estela de Sousa. 71% dos brasileiros são contra reforma da Previdência Datafolha.
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http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1880026-71-dos-brasileiros-sao-contra-
reforma-da-previdencia-mostra-datafolha.shtml>. Acesso em: 21 maio 2017.
TEMER comemora bodas de papel com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT.
Sensacionalista. Disponível em: <https://www.sensacionalista.com.br/2017/05/12/temer-
comemora-bodas-de-papel-com-chuva-de-papel-picado-de-titulos-de-eleitor-e-clt/>. Acesso em:
21 maio 2017.
39 | P á g i n a
CAPÍTULO 2
A BARBÁRIE EM HORÁRIO NOBRE: um estudo sobre a abordagem
adotada pelo apresentador do Cidade Alerta13
Fabiana Ribeiro BARCELLOS14
Karina Soares PACHECO15
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar a abordagem adotada pelo apresentador
Marcelo Rezende, que comanda o programa Cidade Alerta, exibido nacionalmente pela
emissora Record TV, de segunda a sexta-feira. Analisaremos o comportamento
midiático do apresentador (considerado intolerante e agressivo) no decorrer do
programa e como isso se desenvolve na vida do telespectador. Tomamos como objeto
de estudos o vídeo disponibilizado no site YouTube do programa exibido em Junho de
2015.
PALAVRAS-CHAVE: jornalismo, comunicação, barbárie, sensacionalismo.
Introdução
Cidade Alerta é um programa de cunho jornalístico e policial, transmitido pela
emissora Record TV. O programa já possuiu três fases: de 1995 a 2005, de junho a
setembro de 2011 e de junho de 2012 até os dias atuais. É exibido ao vivo
13
Artigo produzido na disciplina de Comunicação Comparada - 2017.1, sob a orientação do Prof. Paulo Vitor
Giraldi Pires.
14
Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: fabianarbr@hotmail.com
15
Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email:
karinnapacheco07@gmail.com
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nacionalmente de segunda a sexta-feira, geralmente no final da tarde. Algumas
emissoras produzem edições locais do programa, que são exibidas somente no estado
em que são produzidas. Outras, no entanto, veiculam a edição nacional.
O Cidade Alerta tornou-se bastante conhecido pela maneira que veicula as
notícias, tornando-se acusado de desrespeitar e violar diversos direitos humanos. Em
2004, entrou na lista da campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania",
formada por denúncias de telespectadores e pelo Comitê de Acompanhamento da
Programação (CAP), onde estão como representantes mais de 60 entidades que
assessoram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados do
Brasil. No entanto, apesar de polêmico e controverso, percebe-se que o programa é
muito assistido. Em 20 de junho de 2011, ficou na vice-liderança do IBOPE16, perdendo
apenas para uma novela da Rede Globo. Desde então, o programa vem sendo campeão
de audiência de uma forma nunca esperada. Seu auge foi em sete de setembro de
2015, quando atingiu um pico de 21 pontos de audiência17, superando o Jornal
Nacional, tradicional telejornal da Rede Globo. Neste estudo será analisado o motivo de
tal fato acontecer, baseando-se na premissa de que o programa, apesar de receber
muitas críticas, ainda é muito assistido.
Marcelo Rezende é o atual apresentador do Cidade Alerta. Rezende é jornalista
não graduado, e começou sua carreira como repórter esportivo de clubes. Já foi
apresentador do programa policial Linha Direta, da Rede Globo, partindo para a
emissora Record TV, onde começou a apresentar o programa Cidade Alerta. Marcelo
tem mais de 40 anos de atividade profissional.
16
Disponível em: http://loucospelatv.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html. Acesso em: 17 de maio. 2017
17
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_Alerta#Audi.C3.AAncia. Acesso em: 17 de maio. 2017
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Barbárie no Jornalismo
Se buscarmos no dicionário a definição de barbárie, encontramos: “selvageria;
qualidade ou condição do que é bárbaro, cruel ou desumano” 18. A desumanização do
outro é algo que vem se tornando corriqueiro dentro do jornalismo policial e suas
pautas são dominadas pelo bárbaro, violento, agressivos.
Nesse sentido, Bittencourt (2011)19, argumenta que a barbárie pode ser
entendida como a desumanização do outro e conclui que parte da atitude jornalísticas
da grande mídia tem essas características de criminalização de ventos sócias,
desumanização da pobreza, dos “criminosos” e não consegue respeitar as visões que
vão contra os seus interesses.
Entrando no contexto jornalístico, podemos enxergar esses pontos no que é
conhecido como o sensacionalismo, caracterizado por usar o emocional com o objetivo
de causar impacto em seus telespectadores. De forma exagerada,“o sensacionalismo
não admite moderação” (ANGRIMANI, 1994, p. 40).
O sensacionalismo está presente também na linguagem coloquial exagerada, na
produção de noticiário que extrapola o real, no tratamento antianódino do fato, na
“produção de uma nova notícia que a partir daí passa a se vender por si mesma”,
na exploração do vulgar, no destaque a elementos insignificantes (...) na valorização
de conteúdos ou temáticas isoladas (...) e sem contextualização políticoeconômico-
social-cultural. (ANGRIMANI, 1990, p. 102)
Os apresentadores usam tons pejorativos quando falam de algum personagem
que foi indiciado ou cometeu algum crime. O jornalismo sensacionalista teve origem no
impresso e não há uma data ao certo de quando iniciou, segundo Angrimani (1994) em
18
Disponível em: https://www.dicio.com.br/barbarie/. Acesso em: 15 de maio. 2017
19
(BITTENCOURT, Icaro. Jornalismo Blogs e Redes Sociais: entre a civilização e a barbárie, 2011. Disponível
em: http://jornalismob.com/2011/01/18/jornalismo-blogs-e-redes-sociais-entre-a-civilizacao-e-a-barbarie/.
Acesso em: 15 de maio. 2017.
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seu estudo do sensacionalismo na imprensa aponta alguns nomes de editores como
Joseph Pulitzer e William Randolp Hearst como criadores do gênero20.
O estilo apelativo é uma forma de atrair o público para que consuma os produtos
daquele programar e assim gerar ao aumento de audiência. Vendo que as matérias que
mexem com o sentimental ou imagens fortes garantem a fidelidade de seus receptores,
a mídia faz disso sua estratégia para garantir o topo na audiência.
Para o autor Angrimani (1995) além de ser um conjunto de estratégias
mercantis, que “fisgam” leitores, o “sensacionalismo” revela necessidades
psicanalíticas do leitor comum, como a morbidez, as pulsões de morte e de amor, a
atração pelo grotesco.
Para Marcondes Filho (1985, p. 66) o sensacionalismo não vem apenas do
jornalismo popular, mas pode muito bem ser visto nos jornais mais aclamados. A única
diferença entre eles é grau. O sensacionalismo é o grau mais radical da mercantilização
onde só venderá a aparência.
[...] todos os jornais são uns mais outros menos, sensacionalistas. Nenhum foge
dessa determinação. Isso porque transformar um fato em notícia não é o mesmo
que reproduzir singelamente o que ocorreu. Transformar um fato em notícia é
também alterá-lo, dirigi-lo, mutilá-lo (MARCONDES FILHO, 1985, p. 29)
GÓES (2013, p. 02) afirma que a construção de uma noticia dentro deste contexto
é algo feito superficialmente apenas para ser vendido para a população que busca algo
simples para manter-se informado sem complexidade.
20
GÓES, José Cristian. “Marcos na história do jornalismo sensacionalista: a construção de uma estratégia
mercadológica na imprensa”. 2013, p. 11.
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Sensacionalismo
Sensacionalismo refere-se a um tipo editorial jornalístico utilizado pelos meios
de comunicação de massa. No sensacionalismo, as notícias e partes da mesma são
exageradas com o objetivo comercial de aumentar os números de leitores ou
telespectadores. Suas técnicas são apelativas à emoção e ao auto-centrismo, agindo
para obter atenção. O escândalo, a chantagem e a falta de ética também são
características do sensacionalismo.
Apesar de criticado, no entanto, o jornalismo sensacionalista é muito apreciado
pelo público. A definição da palavra "sensacionalismo" é a seguinte:
1. gosto ou busca pelo sensacional.
2. m.com uso e efeito de assuntos sensacionais, capazes de causar impacto,
de chocar a opinião pública, sem que haja qualquer preocupação com a
veracidade.
A falta de cuidado com a veracidade torna o jornalismo sensacionalista mais
fácil de ser consumido, além de que o “sensacional” (o extraordinário) prende a
atenção, algo que, consequentemente, leva a uma maior comercialização do produto
midiático.
Análise
No programa exibido no dia 23 de Junho de 2015, o comandante Hamilton
entrava ao vivo fazendo a transmissão de uma perseguição envolvendo um policial da
ROCAM que perseguia dois supostos criminosos que abriram fuga em alta velocidade
utilizando uma motocicleta roubada.
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O vídeo tem duração de 19 minutos e 30 segundos, as imagens de ação eram
exibidas enquanto Marcelo Rezende narrava e comentava o fato. Dentro de suas
observações as palavras mais utilizadas por ele quando se referia aos jovens eram
“Bandido” e “Ladrão”.
“Olha aí o bandido fugindo”
“Olha o ladrão. O ladrão é bom piloto de moto”
Este tipo de linguagem foi usado durante boa parte da cobertura. As ofensas
desferidas apareceram durante a exibição em um total de 15 repetições. O Capítulo III
do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (FENAJ) trata das responsabilidades que o
profissional de jornalismo deve apresentar. No Art. 12º, inciso III, diz que é de
competência do jornalista o dever de respeitar a todos os que estão envolvidos na
informação que está sendo apresentada.
Mais a frente nos 01 minuto e 25 segundos o apresentador vendo que os
acusados estavam escapando do militar, solta a seguinte frase incentivando o policial a
reagir: "atira, meu camarada; é bandido!"
Ainda na visão do Código de Ética do Jornalista Brasileiro, é notável o
apresentador infringindo outra regra nela estabelecida. O Capítulo II disserta sobre a
conduta profissional do jornalista. Art. 7º, inciso V, deixa bem claro que o profissional
não pode incentivar a violência.
Além da quebra das regras, devemos nos atentar ao horário da exibição do
programa. De segunda a sexta, às 16h45 e aos sábados, às 17h2021. Para o programa
foi atribuído a classificação indicativa 10, apresentação de conteúdos não
21
Disponível em: http://noticias.r7.com/cidade-alerta/saiba-mais-sobre-o-programa-cidade-alerta-22052017.
Acesso em: 22 de maio. 2017.
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recomendados para menores de 10 anos22. Mesmo com a alteração na classificação a
exibição permanece sem alteração em seu horário.
Nas edições do programa Cidade Alerta são exibidos conteúdos de violência
urbana que despertam o sentimento de revolta no público todas narradas de forma
dramática.
O programa temático Cidade Alerta pauta-se nas principais ocorrências do mundo
do crime - acontecimentos violentos, grotescos ou esdrúxulos, são mostrados
diariamente no telejornal. Umas das principais estratégias de endereçamento do
programa está no enquadramento dado ás matérias, que procura mostrar os
acontecimentos por um viés sensacionalista, por meio de cenas chocantes e com
alto grau de apelo emocional (OLIVEIRA apud GOMES 2011, p. 146)
O uso de gírias, xingamentos e da linguagem coloquial usados por Marcelo
Rezende é um fator de fácil percepção ao assistir o vídeo. Os discursos feitos pelos
apresentadores de telejornais têm forte influência sobre o público e se torna de
extrema relevância para seus telespectadores, pois os profissionais são vistos não
apenas como jornalistas, mas como artistas de TV.
BUCCI (2000) declara que o apresentador de telejornal é um ingrediente-chave
para garantir audiência entretendo. Ele desenvolve uma relação com o telespectador
que o transforma em um astro de TV, uma celebridade.
Em outro momento, nos 04 minutos e 25 segundo do vídeo. Um dos acusados
lança um capacete em direção ao agente na tentativa de atingi-lo, mas os fugitivos
acabaram se desequilibrando e caindo da motocicleta. A cena foi repetida 07 vezes a
pedido do apresentador para preencher a falta de ação, visto que os acusados já
estavam no chão aguardando a guarnição da policia. Enquanto as imagens eram
exibidas, o apresentador continuava narrando cada detalhe da cena e comentando a
22
Disponível em: http://www.otvfoco.com.br/com-baixo-faturamento-cidade-alerta-ganha-insercoes-de-
merchandising/. Acesso em: 22 de maio. 2017.
P á g i n a | 46
situação fazendo julgamentos antes mesmo de a polícia mandar mais informações.
Nos 14
minutos, Marcelo Rezende pede para colocar no ar toda a rota da perseguição
novamente para destrinchar cada detalhe que já foi exibido e comentado por ele.
O exagero de repetições na tentativa de cobrir as lacunas deixadas pela falta de
movimentação da parte dos personagens no vídeo veio para segurar a atenção dos
telespectadores e garantir a audiência. Para um programa sensacionalista não importa
quanto tempo leve a transmissão de uma matéria o mais importante é fazer com que o
público venha consumir aquele produto mesmo que as informações já tenham sido
dadas.
Para COELHO (2006) o sensacionalismo informa visando satisfazer as
necessidades do público, capaz de expor as pessoas ao ridículo e espetacularizar fatos.
As matérias podem ter durações muito maiores que o tempo normal desde que a
exibição esteja interessando o público e garantindo audiência.
A mídia, por ser um vídeo disponibilizado no site do YouTube23, possui uma
seção de comentários, onde as pessoas podem opinar e discutir acerca do vídeo. Nos
comentários do vídeo analisado, percebemos, portanto, uma grande predominância de
comentários concordantes com a ação do policial de atirar nos bandidos que estavam
sendo perseguidos.
Sem levar em conta os direitos básicos de todos os seres humanos (ou apenas
direitos humanos), no qual está incluso o direito à vida, as pessoas continuam
emanando seus anseios de “justiça” deliberadamente:
23
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mntpJ8rmjo0. Acesso em: 21 de maio. 2017.
47 | P á g i n a
Percebe-se, na atual conjuntura da sociedade brasileira, a aspiração pela
efetivação do Direito Penal, também conhecido como Direito Criminal, que se dedica a
controlar crimes e delitos através das normas instituídas pelo Poder Legislativo – as
leis.Parte significativa da população do nosso país compreende a aplicação do Direito
Penal como único meio eficiente para lidar-se com a criminalidade. “O direito penal é
cada vez mais banalizado, transformando-se em um remédio supostamente apto a
curar todos os males, quando o Estado se esquiva dos investimentos sociais
necessários” (ROSA; KHALED JUNIOR, 2015, p.47).
A sociedade tolera a desordem, incentiva comportamentos desviantes e soluções
agressivas aos corriqueiros conflitos humanos, além de consumir produtos de
entretenimento que exploram a degradação do caráter humano. Dando audiência a
programas xulos, oferecendo mercado para a prostituição, contrabandistas e
traficantes, mostrando no desrespeito e na violência do trânsito o quanto despreza
a cidadania, a sociedade mais que se omitir, passa a ser mantenedora e
incentivadora do clima permissivo da transgressão da impunidade. (FILHO, José
Vicente da Silva. Estratégias Policias Para a Redução da Violência. Monografia.
Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. São Paulo, 1998, p. 07)
P á g i n a | 48
Contudo, ainda se nota parte da população ciente das reais responsabilidades da
justiça e execução dos direitos; essas pessoas, porém, acabam sendo rechaçadas em
um meio predominantemente intolerante. Os usuários das redes sociais, em sua grande
maioria, “não veem razão para não fazerem justiça com as próprias mãos e/ou pra ter
piedade pelo infrator” 24.
24
Disponível em: https://aphonso.jusbrasil.com.br/artigos/311629280/direito-penal-esse-remedio-jamais-vai-
curar?ref=topic_feed. Acesso em: 21 de maio. 2017.
49 | P á g i n a
Considerações finais
Apesar de sensacionalista e apelativo, além de desrespeitoso aos direitos
humanos, o cunho jornalístico do programa Cidade Alerta é algo que ainda funciona
com êxito no Brasil. Num país onde 68% da população é analfabeta funcional25, torna-
se mais simples receber uma informação que chame sua atenção e que não precise de
nenhuma comprovação de veracidade ou nível de raciocínio além do superficial. É mais
fácil aceitar um jornalismo sensacionalista, que não pede por ideias e conclusões
elaboradas.
Isso ainda se relaciona ao fato de que a opinião dos brasileiros é concordante
25
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Analfabetismo_funcional. Acesso em: 22 de maio. 2017.
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com a barbárie veiculada pelo Cidade Alerta: em 2016, 57% dos brasileiros afirmaram
acreditar que “bandido bom é bandido morto”26.
A fórmula do sucesso do programa, então, é bem simples: junta-se o jornalismo
de fácil entendimento (que, consequentemente, não necessita de opiniões além) com
uma temática de pensamentos propensa às ideias da grande maioria da sociedade. O
programa Cidade Alerta, portanto, torna-se altamente consumido na atual sociedade
brasileira, por ser de fácil acesso.
O jornalismo desempenha um grande papel na sociedade, que infelizmente não
tem acesso a determinadas informações como um profissional da área tem. Logo, o
jornalista tem a missão de informar a todos de uma forma compreensível. Um
profissional que trabalha com o telejornalismo obtém grande visibilidade e torna-se
influência para a maioria dos telespectadores.
Portanto, o comunicador deve ter cautela em suas colocações para que não
venha repassar falsa informação, incitar a violência e dramatizar o fato afim de
conseguir audiência. Isso pode afetar diretamente na opinião daqueles que o seguem,
que baseiam-se no discurso do jornalista.
Referências
ANGRIMANI SOBRINHO, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na
imprensa. São Paulo: Summus, 1995.
BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. 3. ed. São Paulo: Boitempo, 2000.
COELHO, Cláudio. Comunicação e Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Paulus, 2006.
26
Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/11/para-57-dos-brasileiros-bandido-bom-e-
bandido-morto-diz-datafolha.html. Acesso em: 22 de maio. 2017.
51 | P á g i n a
GOMES, Itania Mota. Gêneros televisivos e modos de endereçamento no telejornalismo.
Salvador: EDUFBA, 2011.
GÓES, José Cristian. Jornalismo e sensacionalismo: enquadramento, criminalização da pobreza
e implicações éticas no Jornal Cinform. 230 f. Dissertação (Pós-Graduação). Programa de Pós-
Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Sergipe, 2014.
GARBIN, Aphonso Vinícius. Direito Penal: esse remédio jamais vai curar. Disponível em:
<https://aphonso.jusbrasil.com.br/artigos/311629280/direito-penal-esse-remedio-jamais-vai-
curar?ref=topic_feed>. Acesso em: 21 de maio. 2017.
MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia. São Paulo: Ática, 1985.
Federação Nacional dos Jornalistas. Código de ética dos jornalistas brasileiros. Disponível em:
<http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros
.pdf>. Acesso em: 22 de maio. 2017.
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CAPÍTULO 3
A ÉTICA NA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA: uma análise crítica sobre
o site Seles Nafes27
Laura MACHADO28
Luana SILVEIRA29
Pedro SOUZA30
RESUMO
O presente trabalho tem como foco realizar uma análise crítica da produção jornalística
do site Seles Nafes. O artigo abordará a importância da ética na produção de matérias
e de outros conteúdos noticiosos; e de como a opinião desse profissional e a maneira a
qual ele relata as questões sociais, pode influenciar na formação do discurso público.
Nesse caso, analisamos a matéria ‘Um salto para a morte’, veiculada no site em
questão, através da ótica dos critérios de noticiabilidade, tendo em vista a maneira a
qual foi apresentada a morte de uma mulher de 48 anos de idade, fato esse que deve
ser tratado com extrema delicadeza pelo profissional da área jornalística, por conta da
natureza do acontecimento. Desse modo, buscou-se informar outros jornalistas acerca
de posicionamentos como esse, que podem expor e/ou denegrir a imagem da vítima.
PALAVRAS-CHAVE: Análise crítica; Seles Nafes; produção jornalística; sensacionalismo;
ética.
27
Artigo produzido na disciplina de Comunicação Comparada - 2017.1, sob a orientação do Prof. Paulo Vitor
Giraldi Pires.
28
Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email:
lauramaachado@hotmail.com
29
Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: luuanasilveira@hotmail.com
30
Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email:
henrique_msouza@outlook.com
P á g i n a | 54
Introdução
A palavra jornalismo carrega consigo um extenso valor semântico, tendo em
vista que, pode variar de acordo com alguns aspectos, por exemplo, o tempo e o
espaço. Ainda assim, a profissão demanda alguns princípios norteadores para que seja
realizada de forma eficaz, valorizando o compromisso social.
Um fator determinante para o exercício da profissão é a ética, que está
relacionada à conduta do jornalista diante dos fatos mais adversos. É preciso ter em
mente que, o profissional desta área está atuando em um regime de soberania popular,
dessa forma, a opinião da população é mais importante que qualquer outra,
necessitando respeitá-la e pautar seus argumentos por um viés democrático.
O profissional efetua papel de mediador entre os fatos que estão em andamento e
o repasse do que foi apurado para a sociedade. Portanto, deve informar tudo o que for
de interesse público, e que especialmente sempre procure buscar mais de uma versão
sobre determinado assunto, favorecendo ao receptor a elaboração de sua opinião a
partir das informações que lhe foram transmitidas.
Considerando o aparato de informações adquiridos, cabe agora observarmos um
veículo de informação denominado Seles Nafes e a análise crítica a respeito desta
plataforma de conteúdo informativo. Seles Nafes é um profissional da comunicação,
atuando em funções como: apresentador, blogueiro e jornalista. Foi âncora no Jornal do
Amapá da Rede Amazônica (afiliada da Rede Globo no Amapá) e após 18 anos
trabalhando na emissora, em 2016, decidiu sair para se empenhar em projetos
próprios, dentre eles, o site em questão. O jornalista conta com uma equipe com mais
de 8 colaboradores em diversas funções, como: repórter, colunista, administrador e
editor-chefe. Entre eles, André Melo, Técnico em Web Design e especialista em redes
sociais, responsável pelo layout atual do site.
Em 14 de novembro de 2016, o referido site publicou uma matéria abordando
o possível suicídio de uma mulher de 48 anos de idade, entretanto, o que chamou a
55 | P á g i n a
atenção nesta publicação não foi unicamente a informação da morte daquela mulher,
mas sim a forma como foi retratada no título da matéria, que dizia ‘Um salto para a
morte’. A matéria é extremamente curta, com dados insuficientes e abordagem
superficial e ampla da situação, além de ser composta em maior parte por imagens; a
mesma não possui assinatura específica de um jornalista, mas sim de toda a redação.
Para Danilo Angrimani, o foco do sensacionalismo é o excesso, e dessa forma,
torna-se capaz de explorar as percepções sensoriais do receptor, "A linguagem editorial
precisa ser chocante e causar impacto. O sensacionalismo não admite moderação”
(Angrimani, 1995, p. 40). E a professora Ana Lúcia Enne, considera que tais práticas
sensacionalistas, estão atreladas a algumas matrizes culturais da modernidade
ocidental, (Enne, 2007, p. 3.).
O objetivo desse estudo é salientar a importância do dever do jornalista de
transmitir fatos de interesse público, mas sem ultrapassar o limite da exposição
desenfreada da imagem de outrem. Na matéria ‘Um salto para a morte’, houve
inúmeros termos especulativos e acusatórios, que não deve ocorrer em um material
informativo, pois na produção da notícia, deve-se fazer presente a imparcialidade e a
neutralidade.
Objeto de análise
A matéria “Um salto para a morte” foi publicada no dia 14 de novembro de 2016,
no site de notícias Seles Nafes31, veículo que trata de política, cultura, beleza, polícia,
etc. No conteúdo da matéria, o site aborda a morte de uma mulher de 48 anos, que por
volta das 09:00h do dia 14 de novembro de 2016 – data da publicação da matéria –
31
Matéria “Um salto para a morte”. Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte
P á g i n a | 56
teria se jogado da sacada de um dos apartamentos do 3º andar do prédio residencial
Casablanca, onde trabalhava como empregada doméstica.
O corpo da vítima foi encontrado preso na cerca elétrica que fica em torno do
prédio. Segundo as equipes que fizeram a retirada do corpo, a morte foi imediata,
tendo em vista o local onde o corpo caiu, o que atraiu a atenção de curiosos que
passavam por perto no momento do ocorrido e dos próprios moradores do residencial.
Em meio a um Estado e a um país que contém altos índices de suicídio, depressão
e afins, essa manchete não foi a mais adequada para introduzir a notícia, afinal, tratar
de um assunto tão delicado como se fosse alguma diversão, pode desencadear uma
série de fatores, inclusive alterar a percepção do público a respeito de uma situação
problemática, causando um impacto diferente.
FIGURA 1: Imagem de chamada.
Fonte: Seles Nafes.com32
Na imagem acima, observa-se a equipe de resgate da Polícia Técnico Científica e
policiais da Polícia militar, que foram chamados para investigação dos fatos.
32
Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte. Acesso em: 06 de maio de 2017
57 | P á g i n a
FIGURA 2: Residencial Casablanca.
Fonte: Seles Nafes.com33
Na figura 2, obteve-se a imagem do local da morte da vítima, que também era o
seu local de trabalho. Nota-se os carros de resgate do Corpo de bombeiros e da Polícia
Técnico Científica, e muitas observadores ao fundo.
FIGURA 3: Corpo da vítima. Fonte: Print da internet
Fonte: Seles Nafes.com34
33
Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte. Acesso em: 06 de maio de 2017
P á g i n a | 58
Na última imagem, tem-se o corpo da vítima no lugar em que caiu, e um
morador que tenta ajudar no resgate.
Na matéria há 3 imagens, duas produzidas por colaboradores do site e outra
enviada por um leitor – justificando a baixa resolução da fotografia, por ter sido
produzida por um fotógrafo amador –. As imagens mostram o prédio, e carros da
polícia e do corpo de bombeiros, além do veículo da Polícia Técnico Científica –
POLITEC, solicitado para fazer a remoção do corpo da vítima. Na última imagem, foi
utilizado um recurso que impossibilitasse o reconhecimento da vítima, no entanto,
ainda assim percebe-se que o corpo está preso na cerca do prédio.
Não existe um código de ética formado na produção do fotojornalismo, mas o
Código de Ética do Jornalista Brasileiro coloca uma série de critérios importantes que o
profissional deve seguir, condições básicas para que a fotografia não ultrapasse o seu papel
de ilustrar um fato.
No Art. 4º capítulo II, fica estabelecido que: “O compromisso fundamental do
jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu
trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”. Dessa forma, é de inteira
responsabilidade do jornalista a maneira como determinada informação vai ser
transmitida, mas sempre de maneira ética.
O jornalista Rodolfo Fernandes, no documentário ‘Abaixando a máquina – ética
e dor no fotojornalismo carioca (2007)’, cita pequenos critérios que um profissional
deve seguir no fotojornalismo.
Você tem que ter um rumo, que é: produzir uma discussão na sociedade, uma
discussão positiva, aquilo tem que ter um interesse jornalístico, não tem que ser
gratuito, o objetivo não é chocar por chocar; conter o menos possível de elementos
de violência (sangue, partes de corpo), quando você puder evitar esse tipo de coisa.
(FERNANDES, 2007.)
34
Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte. Acesso em: 06 de maio de 2017
59 | P á g i n a
Como parte responsável pela construção do discurso público, o jornalista não
deve negligenciar a influência da sua opinião no que tange a informação que vai ser
repassada à sociedade. O objetivo da transmissão da informação é suscitar um debate
acerca do assunto, para que se discuta maneiras de melhorar e/ou evitar que algo
aconteça.
De acordo com as ideias de Kossoy, o resultado final de uma fotografia varia de
acordo com a mensagem que o fotógrafo quer transmitir.
[...] existe sempre uma motivação, interior ou exterior, pessoal ou profissional, para
a criação de uma fotografia e aí reside a primeira opção do fotógrafo, quando este
seleciona o assunto em função de uma determinada finalidade/intencionalidade
(Kossoy, 1999, p.27.).
Nesse caso, o que influencia uma fotografia que vai ilustrar um conteúdo
sensacionalista, é o seu teor de dramaticidade, quanto maior o nível de perplexidade
dessa imagem, maior será o número de pessoas atraídas por ela.
Conhecimento na produção jornalísitica
O aprendizado é parte da construção do processo de comunicação entre os
seres, pois a partir de conhecimentos prévios, realiza-se uma troca de informações
entre indivíduos, e consequentemente um compartilhamento de experiências. Na
abordagem de Hohlfeldt; Martino; França; (2011, p. 44), esse aprendizado inicia-se
desde a infância, época em que adquirimos nossos primeiros conceitos, baseados na
cultura vigente.
No caso da comunicação, componente básico da vida social, experiência
permanente do homem, o aprendizado começa com os primeiros dias de vida.
P á g i n a | 60
Aprendemos as formas comunicativas de nossa cultura, aprendemos a nos
comunicar, reconhecemos os modelos comunicativos com os quais nos
defrontamos. A exposição e o uso permanente dos meios de comunicação fazem
deles práticas e objetos familiares e amplamente conhecidos pelos membros da
sociedade. Falamos deles, de seus conteúdos, do desempenho dos personagens
que os habitam; dominamos, em certa medida, seus funcionamentos; dirigimo-lhes
críticas. (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2011, p. 44.)
E na área jornalística, o conhecimento teórico é imprescindível, como a noção
básica dos critérios de noticiabilidade, o que poderá evitar a veiculação de informações
improcedentes. Por outro lado, contribui para saber discernir o que é ou não notícia,
sempre baseando-se nos critérios de noticiabilidade. De acordo com Erbolato, (1978),
os critérios de noticiabilidade são: ineditismo, improbabilidade, interesse, empatia,
proximidade, impacto, interesse humano, repercussão, etc. Critérios esses, que regem a
produção da notícia.
Tendo em vista o interesse público, critério de noticiabilidade mais importante, é
função do jornalista noticiar informações que sejam pertinentes à sociedade.
Relacionando à matéria ‘Um salto para a morte’, o conteúdo era de conhecimento
público, no entanto, com algumas ressalvas no momento de produzir a matéria,
levando em consideração a forma violenta como se deu a morte, os sentimentos da
família da vítima e a cautela na exposição da imagem da mesma, sem ferir sua
integridade; ainda mais por não saber ao certo se a morte foi acidental, ou se foi, de
fato, suicídio.
Realizar uma análise crítica de um material como este, que é a matéria ‘Um salto
para a morte’ veiculada ao site Seles Nafes, está relacionada a um estudo profundo,
levantando pontos a fim de discutí-los e relacionando-os a outros estudos, para que se
possa chegar a um resultado.
61 | P á g i n a
A ética jornalística e o sensacionalismo
O filósofo e escritor espanhol Adolfo Sanchéz Vázquez, publicou um livro
chamado “Ética” onde tratou a temática. No 1° capítulo de sua obra, explica:
Nas relações cotidianas entre os indivíduos, surgem continuamente problemas
como estes: devo cumprir a promessa x que fiz ontem ao meu amigo y, embora
hoje perceba que o cumprimento me causará certos prejuízos? Se alguém se
aproxima, à noite, de maneira suspeita e receio que possa me agredir, devo atirar
nele, aproveitando que ninguém pode ver, afim de não correr o risco de ser
agredido? Com respeito aos crimes cometidos pelos nazistas durante a segunda
guerra mundial, os soldados que os executaram, cumprindo ordens
militares, podem ser moralmente condenados? (VÁZQUEZ, 2002, p. 17)
O autor exemplifica vários momentos que o convívio social proporciona a um
indivíduo, e o jornalista deve ter em mente que sua produção jornalística está
diretamente relacionada a sua conduta em um meio coletivo. Por conseguinte, deve
manter sua postura em todo conteúdo que realizar, mantendo a noção de que aquela
informação atingirá um grande público e por isso deve manter o máximo de
imparcialidade.
Uma análise de conteúdo do site “Seles Nafes”
Análise crítica é um estudo aprofundado de um determinado assunto, com o
objetivo de detectar problemáticas e solucionar, se possível, essas adversidades. Além,
de apresentar alternativas para amenizar os possíveis efeitos negativos. Para uma
análise eficaz, é necessário haver imparcialidade, objetividade e neutralidade, tendo em
P á g i n a | 62
vista, que na área de jornalismo, é imprescindível que o profissional saiba todos os
lados do fato para que possa explorar sempre da maneira mais isenta possível.
O mencionado veículo de comunicação, surgiu há aproximadamente 4 anos, e
aborda em suas postagens diárias, assuntos de interesse público. Porém, em algumas
de suas matérias, nota-se a ausência da ética jornalística, que deve se fazer presente
na produção de conteúdos informativos/noticiosos. Portanto, afetando a credibilidade
de um canal que deveria ser referência, usando da falta de ética total ou parcialmente.
Percebe-se nas chamadas das matérias um tom acusatório, e no corpo do texto
pouquíssimas informações. Desse modo, tendo em vista um público que usa como
meio de captação de informações apenas o site em questão, o público terá uma
opinião rasa sobre o tema, pautado na produção tendenciosa do jornalista que produziu
a matéria.
Ainda que o interesse de um veículo produtor de informações, de qualquer
natureza, seja a obtenção da maior audiência, a prioridade deve ser sempre a
transmissão de informações verdadeiras e de interesse público. De acordo com
Charaudeau, (2006), “as mídias não são a própria democracia, mas são o espetáculo
da democracia”, refletindo aquilo que o público deseja ver, mas não necessariamente o
que ele precisa saber.
Em casos onde há crimes horrendos, ou seja, muito violentos e que causam
repulsa, ou que haja uma grande exposição da imagem da vítima, como em casos de
estupro e suicídio, ao invés de uma fotografia que explore ainda mais esse contexto em
que a vítima se encontra, deveria optar-se por fotografar pontos específicos, que faça o
público ter noção do assunto abordado.
Na matéria do site Seles Nafes, mesmo tendo usado de recursos para dificultar
o reconhecimento do rosto da vítima, é possível perceber que o corpo está jogado sobre
a cerca elétrica, o que por si só já causa grande impacto na população; desse modo,
seria viável usar de recursos que possibilitassem ao público a noção acerca da matéria,
mas sem expor a imagem da vítima. Sem contar os sentimentos da família ao ver um
63 | P á g i n a
ente querido em uma situação degradante, tendo a imagem espetacularizada dessa
forma.
Além da publicação no site, a matéria ainda foi compartilhada nas redes
sociais, causando grande revolta em boa parte da população. No site, houve
comentários de 3 leitores, dois deles criticando a maneira como a informação foi
transmitida, pelo contexto da chamada e que matérias como essa, são o que pessoas
que pretendem cometer suicídio esperam. Além de afirmarem que apesar dos fatos,
pode ter sido um caso de acidente por falta de equipamentos de segurança para
efetuar a limpeza do apartamento sem qualquer risco, tendo em vista que a mesma
morreu enquanto limpava um dos apartamentos do residencial.
A própria população, sem qualquer estudo aprofundado na produção
jornalística, percebe como foi superficial e especulativa a informação transmitida pelo
site, e que esse tipo de tema deve ser tratado de maneira mais cuidadosa e
humanitária, alertando a sociedade sobre os perigos da falta de segurança e também
sobre os males que levam pessoas a cometer suicídio.
Informação x audiência
A necessidade de dar o furo35 antes de outro veículo informativo é tamanha,
que as informações acabam por serem apuradas de forma superficial, sem atentar aos
detalhes e passando por cima de critérios importantes na produção de uma notícia. Na
matéria "Um salto para a morte", o texto trouxe algumas informações sobre a vítima,
no entanto sem noticiar depoimentos de familiares ou pessoas próximas que pudessem
esclarecer um pouco das dezenas de informações que foram transmitidas sobre o caso,
35
Expressão utilizada na área jornalística para se referir à uma informação inédita, que ainda não foi veiculada.
P á g i n a | 64
houve apenas depoimentos de policiais que basearam-se nos relatos de testemunhas,
já que não estavam presentes no momento do acidente.
O primeiro dever de um jornalista é transmitir a verdade, independente do fato,
toda a construção de seu trabalho deve partir desse direcionamento. O sensacionalismo
parte da quebra dessa base crucial para a produção da notícia.
Na visão de Pedroso, (2001, p. 52), a produção do jornalismo sensacionalista
perpassa pelo critério do excesso.
Defino o jornalismo sensacionalista como o modo de produção discursiva da
informação de atualidade, processado por critérios de intensificação e exagero
gráfico, temático, linguístico e semântico, contendo em si valores e elementos
desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtraídos no contexto de
representação e construção do real social. (PEDROSO, 2001, p. 52)
O foco do sensacionalismo é transmitir o que interessa ao público de maneira
espetacularizada, amplificada, dessa forma o impacto vai ser maior, seja ele positivo ou
negativo, mas gerando audiência.
No dia 5 de julho de 1993, o SBT exibiu ao vivo no telejornal ‘Aqui agora’, o
suicídio de uma jovem de 16 anos, que se jogou de um prédio em São Paulo. Na época,
a emissora foi extremamente criticada pela falta de ética na transmissão dos fatos. De
acordo com dados do IBOPE, a audiência subiu 33,55% no momento da exibição do
telejornal. Os pais da vítima processaram a emissora por danos morais e receberam
uma indenização de valor exorbitante pela exposição da filha.
Outro caso a ser citado, é o sequestro da jovem Eloá Pimentel, de 15 anos, no
dia 13 de outubro de 2008, transmitido por várias emissoras de televisão durante todo
o período de cárcere privado. Houve diversas discussões acerca de ‘Quem matou Eloá?’,
e a mídia foi apontada por muitos, como a grande culpada da morte da jovem, por ter
entrado em contato com o sequestrador e transmitido em rede nacional, interferindo na
ação de resgate da polícia. Em casos como esses, compreende-se como o trabalho da
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Experiências acadêmicas no campo da comunicação

  • 1. P á g i n a | 0
  • 2. 1 | P á g i n a Experiências acadêmicas no campo da comunicação
  • 3. P á g i n a | 2 Cláudia Maria Arantes de Assis Saar Jacks de Mello Andrade Junior Paulo Vitor Giraldi Pires (organizadores) Experiências acadêmicas no campo da comunicação 2018
  • 4. 3 | P á g i n a Copyright © 2018, Autores Reitora: Prof.ª Dr.ª Eliane Superti Vice-Reitora: Prof.ª Dr.ª Adelma das Neves Nunes Barros Mendes Pró-Reitora de Administração: Wilma Gomes Silva Monteiro Pró-Reitor de Planejamento: Jefferson da Silva Martins Pró-Reitor de Gestão de Pessoas: Aretha Barros Silva Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Prof.ª Dr.ª Daize Fernanda Wagner Silva Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof.ª Dr.ª Helena Cristina Guimarães Queiroz Simões Pró-Reitor de Extensão e Ações Comunitárias: Prof. MSc. Adolfo Francesco de Oliveira Colares Pró-Reitor de Cooperação e Relações Interinstitucionais: Prof. Dr. Paulo Gustavo Pellegrino Correa Diretor da Editora da Universidade Federal do Amapá Tiago Luedy Silva Editor-Chefe da Editora da Universidade Federal do Amapá Fernando Castro Amoras Conselho Editorial Artemis Socorro do N. Rodrigues César Augusto Mathias de Alencar Cláudia Maria do Socorro C. F. Chelala Daize Fernanda Wagner Silva Elinaldo da Conceição dos Santos Elizabeth Machado Barbosa Elza Caroline Alves Muller José Walter Cárdenas Sotil Luis Henrique Rambo Marcus André de Souza Cardoso da Silva Maria de Fátima Garcia dos Santos Patrícia Helena Turola Takamatsu Patrícia Rocha Chaves Robson Antonio Tavares Costa Rosilene de Oliveira Furtado Simone de Almeida Delphim Leal Simone Dias Ferreira Tiago Luedy Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) E096e Experiências acadêmicas no campo da Comunicação / Cláudia Maria Arantes de Assis Saar, Jacks de Mello Andrade Junior & Paulo Vitor Giraldi Pires (organizadores) – Macapá : UNIFAP, 2018. 133 p. ISBN: 978-85-5476-020-5 1. Comunicação. 2. Mercado. 3. Tecnologia. I. Cláudia Maria Arantes de Assis Saar. II. Jacks de Mello Andrade Junior. III. Paulo Vitor Giraldi Pires. IV. Fundação Universidade Federal do Amapá. IV. Título. CDD: 380 Diagramação: Cláudia Maria Arantes de Assis Saar Projeto Gráfico: Cláudia Maria Arantes de Assis Saar - Vetor http://www.freepik.com - designed by Freepik A opinião manifestada na presente obra é de inteira responsabilidade dos autores e não representa o ponto de vista da Universidade Federal do Amapá Editora da Universidade Federal do Amapá Site: www2.unifap.br/editora | E-mail: editora@unifap.br Endereço: Rodovia Juscelino Kubitschek, Km 2, Campus Marco Zero do Equador Macapá-AP, CEP: 68.903-419
  • 5. P á g i n a | 4 Sumário 6 19 24 36 49
  • 6. 5 | P á g i n a 66 81 107 93 120
  • 7. P á g i n a | 6
  • 8. 7 | P á g i n a Prefácio Pesquisa em Comunicação no Brasil: tecnologia como elemento integrador entre academia e mercado Rafael Vergili1 Introdução Nos dias de hoje, a instantaneidade passa a ser cada vez mais valorizada. O momento é tratado como algo fundamental. E é diante dessa premissa que a história, de forma temerária, se torna descartável. De maneira antagônica a essa tendência, o presente texto pretende apresentar, em duas seções: (1) um resgate histórico da chegada tardia das universidades ao Brasil, o que, até hoje, afeta a forma como se realiza pesquisa em Comunicação no país; e (2) a aparente resistência em unir o mercado e, em alguns casos, a tecnologia para otimizar pesquisas acadêmicas nas Instituições de Ensino Superior. A primeira seção terá como referência, as obras de José Marques de Melo (1986), Luiz Antonio Cunha (1980) e Paulo Nassar (2014). E a segunda seção será desenvolvida à luz de textos de Antônio Carlos Jesus (1986), Carlos Haag (2013), Margarida Maria Krohling Kunsch (1986) e Waldyr Gutierrez Fortes (1986). Além disso, ao longo do texto e, em especial, nas considerações finais, são resgatadas algumas 1 Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e mestre em Comunicação na Contemporaneidade pela Faculdade Cásper Líbero. E-mail: rafaelvergili@usp.br
  • 9. P á g i n a | 8 informações da Tese de Doutorado que desenvolvi na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em 2017, intitulada “Literacias digitais nos cursos de Graduação em Relações Públicas: disciplinas de tecnologia nas matrizes curriculares de universidades brasileiras”. Influência da chegada tardia das universidades no Brasil na pesquisa em Comunicação Em 1538, foi fundada a Universidad Autónoma de Santo Domingo, a primeira universidade no continente americano. Apesar de pioneira fora da Europa, a universidade não conseguiu obter o mesmo destaque de Instituições de Ensino Superior (IES) tradicionais do século XIII, como a Universidad de Salamanca, ou, até mesmo, da Real y Pontificia Universidad de México, fundada na primeira metade da década de 1550, tendo base em princípios espanhóis (CUNHA, 1980; GOMES, 2002; MAIA, 2000; MARQUES DE MELO, 1986; NASSAR, 2014). Diferentemente dessas experiências mais tradicionais, oriundas da Espanha, o Brasil começou sua expansão universitária com atraso, até mesmo em relação à América Latina, que, a partir de 1550, teve um desenvolvimento com mais constância, em que surgem universidades no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cuzco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). Nesse sentido, “ao mesmo tempo de nossa independência, havia 26 ou 27 universidades na América espanhola [...]. No Brasil, nenhuma” (CUNHA, 1980, p. 15). Essa chegada tardia da universidade ao Brasil, com opções mais estruturadas apenas no começo do século XIX, justifica-se por diversos fatores, sendo o mais frequente relacionado aos recursos financeiros e docentes que cada país colonizador pretendia investir:
  • 10. 9 | P á g i n a A Espanha tinha, no século XVI, oito universidades [universidades de Salamanca, Valença, Lérida, Barcelona, Santiago de Compostela, Valadolid, Ovideo e Alcalá], famosas em toda a Europa, sendo a Universidade de Salamanca de grande porte para a época, com 6 mil alunos e 60 cátedras [...]. Portugal dispunha de apenas uma universidade, a de Coimbra, mais tarde a de Évora, de pequeno porte. A população espanhola chegava a 9 milhões, ao passo que a portuguesa, apenas 1,5 milhão de habitantes. Com mais habitantes e mais universidades, a população letrada espanhola era muito maior que a portuguesa. Por isso, [...] enquanto a Espanha podia transferir recursos docentes para as colônias sem, com isso, prejudicar o ensino nas suas universidades, o mesmo não acontecia com Portugal. (CUNHA, 1980, p. 17) Há especulação, inclusive, que uma das iniciativas pioneiras de educação formal no Brasil surgiu mais por razões políticas e diplomáticas do que acadêmicas, como sugere Heládio C. Gonçalves Antunha (1974, p. 53): Sabe-se que a Universidade do Rio de Janeiro foi criada, em 1920, em virtude da necessidade de ser outorgado o título de Doutor Honoris Causa ao Rei Alberto I, da Bélgica, como parte das homenagens que lhe deveriam ser prestadas, protocolarmente, por ocasião de sua visita oficial dentro do quadro das comemorações do centenário de Independência. De certa maneira, todavia, há desconstrução de tal narrativa por Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero (2000, p. 4-9), que, ao analisar “Atas da Assembleia Constituída pelos Institutos do Ensino Superior incorporados à Universidade do Rio de Janeiro [URJ]” e “Atas do Conselho Universitário da URJ” não evidenciam empiricamente a suposta influência diplomática. Mesmo com incertezas históricas, o que é possível observar, ao menos de modo oficial, é que a criação da Universidade do Brasil deu-se por decreto, como uma continuação do processo de expansão da Universidade do Rio de Janeiro, fundada em 1920, pelo Decreto Federal n°. 14.343, de 07 de setembro de 1920,2 que, de acordo 2 DECRETO Nº 14.343, de 7 de setembro de 1920. [s.d.]. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14343-7-setembro-1920-570508- publicacaooriginal-93654-pe.html>. Acesso em: 08 jul. 2017.
  • 11. P á g i n a | 10 com o Governo, tinha a intenção de padronizar o Ensino Superior brasileiro (MARQUES DE MELO, 1986; GOMES, 2002; FÁVERO, 2000). De acordo com Eustáquio Gomes (2002), na sequência, em 1927, na cidade de Belo Horizonte, cria-se a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a reinvindicação da autonomia didática, administrativa e econômica. Em 25 de janeiro de 1934,3 sete anos depois, surge a Universidade de São Paulo (USP), Instituição de Ensino Superior que, posteriormente, transformou-se em uma referência para diversas universidades no que tange à “formação de profissionais destinados ao ensino, à indústria e à administração pública”, em todo o país. Se comparado com instituições europeias, essas datas de fundação de universidades tradicionais brasileiras demonstra a tardia chegada ao Brasil, o que pode ter dificultado a formação de cidadãos mais críticos por séculos, principalmente no campo da Comunicação Social. Pode-se dizer que antes da "ficção diplomática" da Universidade do Brasil (atualmente nomeada “Universidade Federal do Rio de Janeiro”), do ousado projeto de Anísio Teixeira para a Universidade do Distrito Federal e da longeva Universidade de São Paulo, estudantes eram formados em faculdades sem muita tradição, isoladas, com dificuldade de entrecruzamento de campos do conhecimento, e que privilegiavam a formação técnica, geralmente com base nas habilidades práticas de profissionais renomados do mercado, que buscavam somente disseminar suas experiências cotidianas, de forma instrumental (MARQUES DE MELO, 1986). O histórico, muito focado na formação de profissionais, não favorecia a pesquisa científica. Porém, segundo José Marques de Melo (1986), desde então, com universidades mais estruturadas, tais problemas começaram a ser superados com a integração entre ensino, pesquisa e serviços. A relação entre docentes e discentes 3 DECRETO N.º 6.283, de 25de janeiro de 1934. [s.d.]. Disponível em: <http://www.leginf.usp.br/?historica=decreto-n-o-6-283-de-25-de-janeiro-de-1934>. Acesso em: 12 jul. 2017.
  • 12. 11 | P á g i n a passou a ser mais intensa, mas as deficiências ainda estão longe de encontrarem uma solução definitiva no Brasil. José Marques de Melo (1986) destaca que, com o tempo, aquela via de mão única, em que profissionais do mercado passavam informações para estudantes, tentou ser substituída por uma troca de experiências entre docentes e discentes, especialmente com a introdução da pesquisa nas universidades. A busca pelo rompimento da situação estática vivida em sala de aula por projetos que contavam com a participação dos dois atores envolvidos esbarrou, no entanto, na ausência de estratégia para a implantação da pesquisa acadêmica, que teria potencial para promover preparação intelectual e produção original de saber, mas que priorizou a quantidade de publicações, muitas vezes com propósitos díspares e inconsistentes, e o isolamento entre pesquisadores em busca de autonomia do seu objeto de trabalho. O assunto ainda está em pauta, visto que em 2013, em entrevista para Carlos Haag (2013), da Revista Pesquisa FAPESP, o professor Wilson Gomes destacou: “Inventamos a pesquisa autista, em que cada professor está só no mundo e aparentemente só publica por imperativo do relatório”. E é nessa perspectiva que, apesar de sua importância posterior, a pesquisa acabou por acentuar a defasagem no que diz respeito às tarefas do ensino, uma vez que [...] a 'valorização' da pesquisa colocou as tarefas do ensino em posição menor, conduzindo muitos professores a abandonar a docência e a se enclausurar nos laboratórios, nos núcleos de investigação. Resultado: a relação pedagógica na sala de aula continuou inalterada. Com exceções, os alunos não tiveram chances de participar da pesquisa. Nem se beneficiaram das descobertas e observações feitas pelos pesquisadores, pois estes não se dignavam a retornar ao espaço didático, optando por subir o plano inclinado da titulação acadêmica e da glorificação científica. [...]. A consequência imediata do desenvolvimento atrofiado da pesquisa universitária foi, em muitos casos, a substituição dos antigos e renomados profissionais, que transmitiam sua experiência pessoal na sala de aula, pela atuação de jovens recém-formados (auxiliares de ensino), desprovidos de conhecimento amadurecido e de treinamento metodológico. E que se limitavam a reproduzir padrões convencionais do ensino livresco, dogmático, verboso. (MELO, 1986, p. 204)
  • 13. P á g i n a | 12 A partir desse período, como muitos alunos foram formados por professores inexperientes ou ainda sem o adequado amadurecimento acadêmico, o reflexo começou a aparecer também na Pós-Graduação, com a chegada de estudantes que não possuíam inventividade ou disciplina acadêmica para refletir profundamente sobre determinado tema e desenvolver um projeto de pesquisa. De acordo com Marques de Melo (1986), esses problemas, apesar de ainda não terem sido superados, têm procurado ser contornados, desde então, com a integração entre ensino, pesquisa e serviços à comunidade, o que amplia as possibilidades de estimular a relação entre docentes e discentes e oferecer arcabouços teóricos mais adequados. É válido ressaltar que ao não tratar da estrutura das universidades como um todo e restringir-se apenas ao surgimento formal das escolas de Comunicação Social brasileiras, a aparição é ainda mais tardia, apenas na década de 1940. Por exemplo, em 16 de maio de 1947, cria-se a Faculdade Cásper Líbero, no período intitulada “Escola de Jornalismo Cásper Líbero”, tornando-se o primeiro curso em nível universitário no ensino de Jornalismo e impulsionando a criação posterior de outros cursos de Comunicação Social na instituição, como os cursos de Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Rádio e TV4. A restrição aos cursos universitários em Jornalismo e outras especializações em áreas afins começaram a ser superadas e formarem um campo de “Comunicação” pela primeira vez no país durante a década de 60, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)5, como mencionado por Cláudia Peixoto de Moura (2008, p. 692): 4 Faculdade Cásper Líbero – Quem Somos. Disponível em: <https://casperlibero.edu.br/quem-somos/>. Acesso em: 16 jul. 2017. 5 É válido salientar que, segundo José Marques de Melo (1986), em 1963, a Universidade de Brasília desenvolveu uma Faculdade de Comunicação de Massa, o que, para alguns, foi um dos momentos mais importantes para a área.
  • 14. 13 | P á g i n a Nos anos 60, a ‘Escola de Jornalismo’, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, foi transformada em ‘Faculdade dos Meios de Comunicação Social’, sendo a primeira no País a formar profissionais de comunicação. Também foi criada a ‘Escola de Comunicações Culturais’, da Universidade de São Paulo, com as áreas de Jornalismo, Rádio e Televisão, Arte Dramática, Cinema, Biblioteconomia, Documentação e Relações Públicas. E a Associação Brasileira de Relações Públicas – seção Rio Grande do Sul realizou em Porto Alegre o ‘Simpósio de Comunicação Social’, que visava a estabelecer um currículo único para a Comunicação. (MOURA, 2008, p. 692) Segundo Sonia Aparecida Cabestré (2008), de maneira geral, é possível afirmar que o ensino brasileiro em Comunicação começou a se consolidar em cursos superior regulares a partir das décadas de 60 (em especial a partir de 1964) e 70, especialmente baseadas em um modelo norte-americano e calcado em pressões de categorias profissionais. Os anos 80 se destacaram pelas Diretrizes Curriculares de 1984 e os 90 por mudanças políticas que começaram a alterar o cenário tecnológico do país. Os anos 2000 se caracterizaram pela ampliação do uso da Web e, por consequência, muitas mudanças para os pesquisadores e profissionais de Comunicação. Outros detalhes sobre o desenvolvimento dos cursos brasileiros de Comunicação Social e, em especial, de Relações Públicas, além de aspectos relativos às Diretrizes Nacionais Curriculares, que norteiam os cursos de graduação da área, podem ser observados na minha Tese de Doutorado (2017): “Literacias digitais nos cursos de Graduação em Relações Públicas: disciplinas de tecnologia nas matrizes curriculares de universidades brasileiras”. Divórcio entre ambiente acadêmico e mercado: tecnologia como facilitador da união? Depois da mudança no contato entre pessoas, especialmente propiciada pelo cenário tecnológico alterado pela Internet nos anos 2000, a década atual intensifica esse processo, ampliando acesso e mobilidade, com trocas de informações mais
  • 15. P á g i n a | 14 frequentes e praticamente em tempo real. O novo panorama provoca alterações nas Instituições de Ensino Superior (IES) na busca de flexibilização de suas estruturas de curso e facilidade para a compreensão das problemáticas contemporâneas por parte de estudantes e pesquisadores do ponto de vista tecnológico. No entanto, as atualizações propostas até o momento esbarram no aparente conservadorismo do ensino superior brasileiro, um fato recorrente, já relatado em momentos anteriores, como em 1986, por Waldyr Gutierrez Fortes (1986, p. 297), em experiência vivida na Universidade Estadual de Londrina: “Chegou-se à conclusão de que pouca coisa mudava [na montagem do novo currículo]: as mudanças profundas que eram aguardadas não ocorreram”. Em outro capítulo da mesma obra em que Fortes fez sua declaração (Comunicação e Educação: caminhos cruzados), Margarida Maria Krohling Kunsch (1986, p. 6) constatou algo que ainda parece fazer parte do cotidiano nos dias atuais: “O fato é que o sistema educacional brasileiro, bastante superado, ainda se acha muito divorciado da nova realidade comunicacional e dos fatos da vida nacional". Situação similar ocorre com alguns problemas constatados por José Marques de Melo (1986) na época e que aparentemente ainda persistem, como as deficiências na formação básica de estudantes que refletem após o ingresso na graduação, as falhas na avaliação dos alunos e, em especial, a concepção inadequada de currículo, o que pode comprometer pesquisas futuras, inclusive no nível da Pós-Graduação, uma vez que [...] não sendo pensado como um conjunto articulado de conteúdos, mas sim como um simples mosaico de cadeiras ou disciplinas, o currículo acaba se tornando um espaço burocrático, divisor de águas do campo de trabalho dos professores e compartimentador da estocagem dos conhecimentos que vitima os alunos. (MELO, 1986, p. 211). Muitas décadas se passaram desde então, mas o conservadorismo continua mantendo alterações que não acompanham os avanços tecnológicos e que provoca um
  • 16. 15 | P á g i n a distanciamento das empresas. Por sua vez, as empresas afastam-se das universidades e decidem criar cursos próprios para suprir algumas necessidades – geralmente relacionadas aos recentes desafios do ambiente digital – com disciplinas supostamente não fornecidas pelo ensino formal. Um dos indícios para essa constatação é que José Marques de Melo (1986, p. 218) dizia que “as estratégias pedagógicas excluem ou atendem parcialmente as condições do mercado de trabalho, ocasionando vácuos ou deficiências na formação dos futuros profissionais” e quase trinta anos depois, em 2013, em entrevista para Carlos Haag (2013), da Revista Pesquisa FAPESP, o próprio José Marques de Melo ressaltou: Sou muito crítico da pesquisa em comunicação no país. Ela repercute pouco porque as universidades se fecham como um caramujo, sempre voltadas para dentro. O que fazemos não é relevante para a sociedade, porque de modo geral só imitamos os estrangeiros. Acima de tudo, não fazemos pesquisas empíricas. E dá continuidade ao seu pensamento com o que denomina de “pesquisa de morgue”, aquelas que se baseiam em fenômenos já passados, objetos inanimados e sem pesquisa empírica: E quando pesquisamos, usamos referencial teórico importado [...], porque não criamos algo que seja nosso para nossas questões. Não posso fazer pesquisa se não me aproximar das empresas do mercado. Seria como dizer a um médico para trabalhar com saúde sem chegar perto de um hospital. [...] Além disso, as pesquisas que vão para as financiadoras muitas vezes são mais ensaios, especulações, reflexões à margem das questões reais e atuais. Fazemos mais de mil teses por ano, um dos países que mais produzem conhecimento em comunicação no mundo, mas tudo isso não repercute e não é veiculado para as empresas”. É nesse ponto que se reforça a importância de introduzir informações e conceitos sobre tecnologia em projetos de pesquisa, objetivando a otimização de processos e, por consequência, resultados mais significativos. Não é raro encontrar questionamentos sobre a real utilidade de associar objetos de pesquisa consolidados com inovações
  • 17. P á g i n a | 16 tecnológicas, uma vez que este estão em constante mutação. Reitera-se, neste texto, uma justificativa que há mais de trinta anos foi indicada por Antônio Carlos Jesus (1986) e permanece atual: Elas [inovações tecnológicas] têm potencialidade suficiente para transtornar toda a prática da comunicação social, e por extensão as instituições educacionais formadoras dos profissionais, seus professores, os currículos escolares, os projetos experimentais, os sindicatos profissionais e até o exercício prático da profissão. (JESUS, 1986, p. 335) E complementa: Não se trata, neste caso, da velha prática de colocar 'em moda' temas teóricos [...]. Trata-se de uma preocupação que expressa uma linha de compromisso com os interesses que o nosso povo vem reivindicando na área de comunicação social. É necessário que nossas universidades [...] se adaptem e integrem-se a essas circunstâncias. (JESUS, 1986, p. 335-336) Considerações finais Diante das informações expostas anteriormente, entende-se que resgatando o histórico dos objetos de estudo e relacionando-os a elementos ligados às questões tecnológicas supracitadas, cria-se uma maneira de fortalecer a pesquisa em Comunicação, aproximando o ainda distante ambiente acadêmico das práticas do mercado. Defende-se, neste texto, o aumento das discussões acerca da tecnologia em cursos de Comunicação, desde a Graduação e, em especial, na Pós-Graduação, em que a pesquisa conta com estudantes mais amadurecidos academicamente, para diminuir a distância entre a Instituições de Ensino Superior e as empresas, beneficiando as práticas do cotidiano mercadológico e, simultaneamente, revitalizando e, em determinados casos, validando ideias propostas nas universidades.
  • 18. 17 | P á g i n a Apesar do conservadorismo relatado, como exemplo de algumas iniciativas que podem ser tomadas, já durante a Graduação, para reduzir os problemas identificados ao longo do texto, menciona-se uma pesquisa realizada por mim, em Tese de Doutorado (2017) sobre os cursos de Relações Públicas. Diante das novas Diretrizes Curriculares Nacionais de RP, analisou-se, por meio de pesquisa documental (com matrizes curriculares de 10 cursos de graduação em Relações Públicas), que, de 2013 para 2016, o número de disciplinas de tecnologia oferecido era de no máximo 13 e passou para 18. No que diz respeito à Carga Horária, houve evolução substancial no tempo dedicado a essa temática, uma vez que, em 2013, o número mínimo era de 105 horas e de no máximo de 735 horas, passando, em 2016, para um mínimo de 150 horas e máximo de 990 horas. Nesse contexto, especialmente pelas entrevistas em profundidade realizadas com coordenadores de curso de Relações Públicas, observou-se a junção entre o conhecimento humanístico e a capacitação instrumental, o que reforça a ideia de que as tecnologias possuem importante papel na formação do pesquisador, mas que não se deve reduzir o ensino ao domínio da parte técnica das plataformas digitais. Ou seja, que as Instituições de Ensino Superior devem continuar a ter como prioridade a formação de pesquisadores críticos, com um arcabouço teórico que permita uma autonomia acadêmica e profissional, mas com alinhamento a um novo momento, integrando a pesquisa com inovações tecnológicas. Referências ANTUNHA, Heládio C. Gonçalves. Universidade de São Paulo – fundação e reforma. São Paulo: Ministério da Educação e Cultura/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais/Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Sudeste, 1974. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&id=56kQAAAAYAAJ&focus=searchwithin volume&q=Rei+Alberto>. Acesso em: 30 jun. 2017.
  • 19. P á g i n a | 18 CABESTRÉ, Sonia Aparecida. Contextualizando as Relações Públicas como atividade do campo profissional. In: MOURA, Cláudia Peixoto de (Org.). História das relações públicas: fragmentos da memória de uma área. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. p. 103-136. CUNHA, Luiz Antonio. A Universidade Temporã: O Ensino Superior da Colônia à Era de Vargas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. O título de doutor honoris causa ao rei dos belas e a criação da RJ. In: Anais do I Congresso Brasileiro de História da Educação. Rio de Janeiro: URFJ, 2000. Disponível em: <http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe1/ anais/104_maria_lurdes_a.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2017. FORTES, Waldyr Gutierrez. “O Ensino de Relações Públicas: Currículo da Universidade Estadual de Londrina”. In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.). Comunicação e Educação: caminhos cruzados. São Paulo: Loyola, 1986. p. 297-304. GOMES, Eustáquio. País tem história universitária tardia. Jornal da Unicamp, ano XVII, n. 191, 23 a 29 de setembro de 2002. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp _hoje/ju/setembro2002/unihoje_ju191pag7a.html>. Acesso em: 30 jun. 2017. HAAG, Carlos. A crise da idade média: Nos 50 anos das ciências da comunicação no país, não há consenso sobre estado da arte da pesquisa sobre o campo. Revista Pesquisa FAPESP, ed. 211, p. 77-81, setembro de 2013. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/09/12/a-crise-da-media-idade/>. Acesso em: 12 jul. 2017. JESUS, Antônio Carlos. Educação e Novas Tecnologias. In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.). Comunicação e Educação: caminhos cruzados. São Paulo: Loyola, 1986. p. 334-337. KUNSCH, Margarida Maria Krohling. “Comunicação e Educação: caminhos cruzados”. In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.). Comunicação e Educação: caminhos cruzados. São Paulo: Loyola, 1986. p. 5-21. MAIA, Almir de Souza. O descobrimento tardio: as raízes, o nascimento e os atuais desafios da universidade brasileira. Revista Impulso, Piracicaba, vol. 12, n. 27, p. 9-20, 2000. Disponível em: <http://biblat.unam.mx/es/revista/impulso-piracicaba/articulo/o-descobrimento-tardio-as- raizes-o-nascimento-e-os-atuais-desafios-da-universidade-brasileira>. Acesso em: 24 mai. 2017. MARQUES DE MELO, José. Ação Educativa nas Escolas de Comunicação: Desafios, perplexidade. In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling (Org.). Comunicação e Educação: caminhos cruzados. São Paulo: Loyola, 1986. p. 199-221. NASSAR, Paulo. Para que serve a universidade?. 2014. Disponível em: <http://www.aberje.siteprofissional.com/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=1120&ID_COLU NISTA=28>. Acesso em: 20 jul. 2017.
  • 20. 19 | P á g i n a VERGILI, Rafael. Literacias digitais nos cursos de Graduação em Relações Públicas: disciplinas de tecnologia nas matrizes curriculares de universidades brasileiras. 2017. 511 p. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
  • 21. P á g i n a | 20
  • 22. 21 | P á g i n a Apresentação Tecituras do saber Analisar não é tarefa fácil. E, quando se trata da mídia, o esforço teórico é redobrado. O que há por de trás dos discursos, dos conteúdos, das imagens e mensagens divulgadas, diariamente, pelos veículos de comunicação? Tudo é pensado, construído, manipulado? Toda mídia é sensacionalista? São questionamentos presentes nas discussões de sala de aula, com alunos que trilham a formação acadêmica em Jornalismo. E com razão: logo são eles que ocuparão as bancadas dos telejornais, as redações, as emissoras de rádio e TV, as agências midiáticas e digitais, além dos mais diversos segmentos do mercado de jornalismo. O jornalismo é fruto de análises, desde a escolha da pauta até o fechamento de jornal ou publicação da notícia. Desta forma, não se pode admitir que os futuros profissionais saiam dos bancos da universidade sem uma visão crítica e analítica sobre a própria profissão – produção, inovação e mercado. A graduação, nas diferentes áreas do conhecimento, é dimensionada por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. É esse tripé, fomentado pelo ensino superior, que permite a formação integral dos acadêmicos, que ingressam, anualmente, nas universidades. O compromisso das instituições, aliado ao trabalho de seus docentes, é favorecer e estimular a preparação humana, técnica e tecnológica de seus discentes. Na graduação em Jornalismo não é diferente. Que tipo de profissionais estamos formando? Essa pergunta deve inquietar e provocar reflexões, e, principalmente, indagar sobre o que ensinamos e para que ensinamos. “O que é fazer um bom jornalismo?”, perguntou um aluno durante uma das aulas da disciplina de Comunicação Comparada. Parece um questionamento simples,
  • 23. P á g i n a | 22 mas não é. São provocações que nos fazem pensar. Nasce então, outro desafio: pensar e analisar conjuntamente: tecer. Se queremos entender o ‘fazer jornalismo’, precisamos investigar, avaliar, estudar, praticar, inovar e, claro, entender quem já o faz. Desafio aceito! Cada dupla ou trio de alunos escolheram um veículo de comunicação local ou nacional, selecionaram uma produção midiática (programas de TV, reportagem, cobertura especial ou fato jornalístico) para análise de mídia. Tempo curto: dois meses. Parecia tudo difícil, principalmente quando é preciso deixar de lado o ‘achismo’ e, fundamentar, teoricamente as análises. Sem esquecer da ABNT, correções e ajustes finais. Uma boa análise é resultado de muitas leituras e conversas. Mas, as produções de sala não pararam por aí. Durante uma conversa com Profa. Cláudia Arantes, surgiu a ideia de organizar o primeiro evento científico com alunos. E a proposta não ficou só no papel. Em parceria com o Grupo de Pesquisa Comunicação, Mercado e Tecnologia (COMERTEC), organizamos o 1º Encontro do Comertec Jr., dias 02 e 03 de junho de 2016, com o tema ‘A Pesquisa em Comunicação: do Norte para o mundo’. Mais de 100 participantes inscritos – alunos internos e externos. Foram dois dias de evento, com palestras, GT´s e oficinas de áudio e vídeo. O evento foi realizado em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós- Graduação e Pró-Reitoria de Extensão, representada pelos professores Dra. Helena Simões e Dr. Alaan Ubaiara Brito, e Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). O Encontro do COMERTEC Jr., que pretendemos dar continuidade, nasceu com o objetivo de estimular e fomentar a pesquisa científica com os alunos de graduação. Essa primeira edição reuniu pesquisadores interessados em desenvolver estudos e propostas reflexivas sobre a comunicação contemporânea na era tecnológica. O Grupo de Pesquisa COMERTEC possui parcerias com universidades brasileiras e internacionais, fazendo diálogo, constante, entre o Norte no país, com diversos pesquisadores da América Latina e América do Norte. Registramos a participação de pesquisadores renomados em nosso primeiro evento: Prof. Dr. Paul Bradshaw -
  • 24. 23 | P á g i n a Birmingham City University, Prof. Dr. Eduardo Villanueva Mansilla - Pontifícia Universidade Católica do Peru, Prof. Dr. James lull - San José State University e o Dr. Rafael Vergili - Universidade de São Paulo (USP). Desta forma, o 1º COMERTEC veio reforçar a missão e compromisso da UNIFAP, a partir do tripé: o ensino, a pesquisa e a extensão, que sustenta nosso desenvolvimento e consolidação como uma universidade inovadora e transformadora, presente na região Norte do país, abrindo fronteiras de diálogo com o mundo. Neste E-book, composto de papers, procuramos trilhar um percurso independente, livre, mas nem por isso, descompromissado. São experiências acadêmicas no campo da Comunicação, de jovens pesquisadores aventurados na tecitura do saber. Assim como os fios que se atravessam no tear (urdidura), encontramos alunos desejosos de um conhecimento produzido em rede. Este livro, é como um bonito tecido confeccionado por muitas mãos – aluno e professor, e revelam o conhecimento resultante de uma tecitura, fios que se entrelaçam, para juntos formar novos saberes. Para efetivar tal objetivo, o E-book traz oito trabalhos integrados pelo escopo da aplicação prática da comunicação nos mais diversos mercados, além da análise de mídia e gestão das estratégias comunicacionais. São textos refletem os aprendizados fomentados em sala de aula, e que agora, são compartilhados. Andreza Gil Costa e Costa, em Quando o humor vem como notícias: uma análise do site de humor Sensacionalista, busca entender qual o papel do humor e sua interferência no conteúdo jornalístico produzidos por sites de informação. Fabiana Ribeiro Barcellos e Karina Soares Pacheco, em A barbárie em horário nobre: um estudo sobre a abordagem adotada pelo apresentador do Cidade Alerta, analisam a abordagem midiática adotada pelo apresentador Marcelo Rezende no telejornalismo brasileiro. No texto A ética na produção jornalística: uma análise crítica sobre o site Seles Nafes, Laura Machado, Luana Silveira e Pedro Souza, buscam entender o papel da ética na produção de
  • 25. P á g i n a | 24 conteúdos noticiosos e como a mídia trata das questões sociais. Em O poder de julgamento da mídia: uma análise midiática sobre o caso Isabella Nardoni, Amanda Bastos e Railana da Silva, analisam a cobertura midiática realizada pelo programa Domingo Espetacular, no dia 11 de março de 2012, sobre o caso Isabella Nardoni, com base na Teoria do Agendamento e do Newsmaking. O Estupro no Rio: a culpa é sempre delas, é reflexão de Anita Flexa, Felipe Lima e Isabel Ubaiara, sobre o papel da mídia na apuração do crime de estupro coletivo envolvendo uma adolescente, de uma comunidade do Rio de Janeiro, em maio de 2016. Em A repercussão do caso: o desaparecimento do garoto do Acre no Programa Fantástico, Jamille Rosa da Silva Dias e Thallysom Oliveira, avaliam o discurso e a midiatização do social pela Rede Globo, sobre o misterioso sumiço do jovem Bruno Borges, de 24 anos no Acre. No artigo O massacre de Realengo: análise do discurso jornalístico de uma reportagem apresentada no Bom Dia Brasil, Luciana Cordeiro, Michelle da Silva e Sidney Cardoso observam o discurso do jornalismo sobre o caso, além da repercussão na mídia. Os problemas da erotização infantil na cultura midiática: a história de Mc Melody, são discutidos por Marcella Palheta da Fonseca e Nelson Carlos da Silva Gama, que avaliam a construção de personagens mirins pela mídia e argumentam sobre os riscos da erotização infantil na TV. Todas as experiências, produções e momentos aqui relatados, só foram possíveis graças ao empenho, dedicação e altruísmo dos alunos e de docentes que acreditam na transformação do mundo por meio da Comunicação e do conhecimento. Aqui, nossos mais profundos agradecimentos aos professores do Colegiado de Jornalismo da UNIFAP: Prof. Dr. Jefferson Ferreira Saar, Profa Dra. Cláudia Maria Arantes de Assis Saar, Profa. Ms. Elisângela Andrade, Prof. Ms. Luciana Macedo e Prof. Esp. Jacks Andrade. Partilhamos com você reflexões, questionamentos, análises críticas de alunos que sonham com um novo jornalismo – em vista de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Não propomos, apenas, textos científicos. Oferecemos diferentes pontos de
  • 26. 25 | P á g i n a vistas e proposições, que vão além dos modelos e arcabouços teóricos. Sim, as teorias nos orientam nos passos da análise de mídia, mas não limitam nosso olhar crítico. Pelo contrário, cada artigo publicado neste E-book é fruto de reflexões teórico-metodológicas e, principalmente, um debruçar atento sobre as relações e tecituras de comunicação que envolvem diretamente a matéria prima do jornalismo: a vida humana. Boa leitura, Um abraço. Prof. Ms. Paulo Vitor Giraldi Pires Docente do Colegiado de Jornalismo da UNIFAP Mestre em Comunicação Midiática (FAAC/UNESP) Doutorando em Comunicação (FAC/UnB)
  • 27. P á g i n a | 26
  • 28. 27 | P á g i n a CAPÍTULO 1 QUANDO O HUMOR VEM COMO NOTÍCIAS: Uma análise do site de humor “Sensacionalista”6 Andreza Gil Costa e COSTA7 RESUMO Este paper tem como foco fazer uma análise do site de humor Sensacionalista para entender qual o papel do humor no conteúdo produzido pelo site. Partimos da hipótese central de que o humor quando utiliza-se do jornalismo está para além do entretenimento, pois a ironia característica do site é veiculadora de uma crítica à sociedade e ao próprio fazer jornalístico. Para fins de análise, abordaremos as reportagens da editoria de política, e mais precisamente a notícia “Temer comemora bodas de papel com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT”, publicada no site o Sensacionalista e a reportagem da Folha de S. Paulo “71% dos brasileiros são contra reforma da Previdência Datafolha”. PALAVRAS-CHAVE: Sensacionalista; Humor; Ficção; Informação; Uso e Gratificações INTRODUÇÃO Num dia qualquer, liguei a TV, troquei para o canal da Multishow, onde passava um telejornal, por mim até então desconhecido. De imediato, não dei muita atenção para o que os apresentadores diziam, mas quando a repórter foi chamada, fiquei curiosa com o tema da reportagem: uma mãe de família havia cometido um crime, 6 Artigo produzido na disciplina de Comunicação Comparada - 2017.1, sob a orientação do Prof. Paulo Vitor Giraldi Pires 7 Estudante de Graduação do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da UNIFAP, email: andrezagil.ap@gmail.com
  • 29. P á g i n a | 28 propositalmente, para ser presa. O motivo? Dispor de tempo e sossego para ler livros e ouvir discos numa cela de um presídio8. A notícia em questão, na verdade, era fictícia. No entanto, não foi tão fácil chegar a esta conclusão. A seriedade dos apresentadores e da repórter, a qualidade técnica das passagens, entrevistas e simulações me levaram a crer que se tratava de mais um jornal qualquer, mas de uma notícia absurda. Enfim, toda a linguagem jornalística estava, aparentemente, a serviço de uma informação verdadeira. No entanto, quando a reportagem terminou, observei que o canal era o Multishow – desconfiei se tratar de um programa de humor. Depois desse dia, alguns amigos – entre eles, um jornalista! – compartilharam o link da reportagem em uma rede social, acompanhado de comentários de indignação, acreditando se tratar de um fato verídico9. Algum tempo depois, durante os primeiros semestres do curso de Comunicação, me interessei em estudar o conteúdo do “Sensacionalista”, a fim de compreender seu processo de produção, isto é, a capacidade de se utilizar de técnicas jornalísticas para gerar entretenimento e ao mesmo tempo, através da ironia, lançar uma crítica profunda ao sensacionalismo cada vez mais presente no jornalismo brasileiro. Descobri que o programa foi exibido de 2011 a 2014 no canal Multishow, resultado do estouro na internet do site “Sensacionalista”, fundado em 2009 pelo jornalista e humorista Nelito Fernandes. Além do site, o “Sensacionalista”, tem cada vez mais acessos e seguidores em diversas redes sociais, como o Facebook, Twitter, Instagram etc. As notícias, embora absurdas, fictícias e bastante humoradas trazem por trás uma crítica social aos acontecimentos mais recentes no mundo da política e da economia brasileira veiculada pelos grandes jornais do país. 8 https://www.youtube.com/watch?v=A9ShMyQj1Bk, publicado em 24 de março de 2014. 9 A confusão entre as pessoas a respeito da veracidade da notícia continua até hoje. Alguns comentários no vídeo do youtube comprovam isto. Por exemplo, um usuário comentou: “Isso é sério mesmo ou é teatro??”, e outro comentou: “Sou fã da Laura. Achei a atitude desesperadora, mas positiva, mulher de coragem.”, etc.
  • 30. 29 | P á g i n a Neste sentido, o problema norteador deste artigo é entender qual o papel do humor no conteúdo produzido pelo site sensacionalista.com.br? A hipótese central é que o humor quando utiliza-se do jornalismo está para além do entretenimento. A ironia característica do site é veiculadora de uma crítica à sociedade e ao próprio fazer jornalístico. O objetivo, portanto, é compreender como o humor (a ironia) é capaz de “brincar” entre a realidade e a ficção. Para fins de análise, abordarei as reportagens da editoria de política, e mais precisamente a notícia “Temer comemora bodas de papel com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT”, publicada no site o Sensacionalista e a reportagem da Folha de S. Paulo “71% dos brasileiros são contra reforma da Previdência Datafolha”. O Sensacionalista A partir da primeira década dos anos 2000, os sites de humor no jornalismo vêm ganhando cada vez mais espaço no mundo virtual. Um dos principais inspiradores do site “Sensacionalista” foi o norte-americano “The Onion”, fundado como jornal impresso em 1988 por dois estudantes universitários. Desde 1996 no meio digital, o “The Onion” utiliza nomes fictícios em suas reportagens, exceto quando figuras públicas são satirizadas (MACON; SODRÉ, 2015). Neste mesmo caminho, entre a realidade e a ficção, o site brasileiro “Sensacionalista” foi fundado em 2009, pelo jornalista e redator Nelito Fernandes. Nelito trabalhou como jornalista nos jornais O Globo, Extra e Revista Época, foi redator do programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, mas foi no humor que fez carreira nos programas Divertics, Zorra Total e Casseta & Planeta, todos da TV Globo10. Nas palavras de Macon e Sodré: 10 Uma curiosidade a respeito da criação do site é que seu primeiro nome foi “Diário do dia”, mas sofreu mudança por não representar o objetivo proposto por seu criador: criar humor através de notícias fictícias.
  • 31. P á g i n a | 30 As notícias publicadas no Sensacionalista são fictícias baseadas ou não na realidade. As informações são divididas em editoriais – país, esporte, entretenimento, mundo, digital, economia – postadas, por vezes, a partir de assuntos que estão na pauta do dia e com envolvimento de nomes de artistas e governantes (MACON; SODRÉ, 2015, p. 2-3). Observamos que o site Sensacionalista funciona a partir do formato jornalístico de editorias com temáticas agendadas por outros veículos e pela sociedade. Além disso, utiliza-se do humor para transitar entre a ficção e a realidade, como também lançar uma crítica ao próprio fazer jornalístico, especificamente o sensacionalismo existente nos grandes meios de comunicação. O Sensacionalismo no Jornalismo No livro “Espreme que sai sangue”, publicado em 1995, na primeira parte intitulada “Sensacionalismo da Comunicação”, Danilo Angrimani, oferece algumas definições para os termos “sensacionalismo” e “sensacionalista”, tomando por base o dicionário Aurélio: Sensacionalismo - S.m. 1. Divulgação e exploração, em tom espalhafatoso, de matéria capaz de emocionar ou escandalizar. 2. Uso de escândalos, atitudes chocantes, hábitos exóticos etc.. com o mesmo fim. 3. Exploração do que é sensacional na literatura, na arte etc. “Sensacionalista - Adj.2g. Em que há, ou que usa de sensacionalismo; notícia sensacionalista; jornal sensacionalista. (apud ANGRIMANI, 1995, p.13). Segundo ele, os termos em questão são amplos, por isso mesmo imprecisos e frequentemente utilizados como adjetivos de acusação para veículos de comunicação ou jornalistas. Já para o leitor, espectador ou ouvinte (o receptor) o sensacionalismo é entendido como um “desequilíbrio” informativo. Isto acontece quando o meio de comunicação comete um deslize, isto é, exagera na coleta de dados, publica conteúdos
  • 32. 31 | P á g i n a ousados ou, por exemplo, envereda por linhas editoriais que invadem a vida pessoal de figuras públicas. Neste sentido, o termo “sensacionalismo” é utilizado quase sempre pelo receptor para desqualificar, “colocar a margem” uma notícia ou meio de comunicação e separá- lo, portanto, dos jornais “sérios”. Uma vez que são múltiplas e imprecisas, as definições encontradas no dicionário ou aquelas construídas pelo senso comum não possibilitam uma investigação mais profunda sobre o assunto. Portanto, Angrimani recorre às definições elaboradas com mais precisão, como aquela oferecida por Rosa Nívea Pedroso quando define o sensacionalismo como um gênero de jornalismo que se caracteriza por um: [...] modo de produção discursivo da informação de atualidade, processado por critérios de intensificação e exagero gráfico, temático, linguístico e semântico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtraídos no contexto de representação ou reprodução de real social. (apud AGRIMANI, 1995, p. 14) Quanto às regras que definem este gênero do jornalismo e seu modo de produção de informação, Pedroso enfatiza uma série de elementos, dos quais destacarei os seguintes: o exagero e a heterogeneidade gráfica, a informação construída através do apelo emocional, a exploração do vulgar e do extraordinário, temáticas isoladas sem continuidade e relevância social, econômica e cultural. Quanto ao aspecto discursivo, o jornalismo sensacionalista é caracterizado por sua repetitividade, ambiguidade e unilateralidade, orientada por uma lógica comercial a serviço do interesse empresarial frente às demandas da grande massa. Neste sentido, Angrimani também se vale da definição proposta por Marcondes Filho, que enfatiza os aspectos ideológicos do sensacionalismo. Segundo Marcondes, o sensacionalismo é a radicalização da mercantilização das informações, isto é, o que se vende é a aparência, a manchete. Esta, por sua vez, quase sempre traz elementos que serão explorados pelas carências do público. Diz Marcondes Filho:
  • 33. P á g i n a | 32 O jornalismo sensacionalista extrai do fato, da notícia, a sua carga emotiva e apelativa e a enaltece. Fabrica uma nova notícia que a partir daí passa a se vender por si mesma. (A imprensa sensacionalista) não se presta a informar, muito menos a formar. Presta-se básica e fundamentalmente a satisfazer as necessidades instintivas do público, por meio de formas sádica, caluniadora e ridicularizadora das pessoas. (apud ANGRIMANI, 1995, p. 15). Segundo Angrimani, o sensacionalismo torna um fato jornalístico comum em espetacular, sensacional. Para tanto, faz uso de uma linguagem escandalosa e espalhafatosa. O sensacionalismo é, portanto, o modo de produzir notícias que extrapola o real, pois superdimensiona o que aconteceu de fato. Outra característica da publicação sensacionalista é a inadequação entre os elementos que compõem a notícia, como manchete e texto ou texto e foto, levando o leitor ao descrédito do veículo. Neste sentido, o termo “sensacionalista” é pejorativo e quase sempre é utilizado para descredibilizar este tipo de veículo de comunicação. Quanto a linguagem, prevalece o estilo coloquial – com uso de gírias e até palavrões – a fim de envolver o leitor emocionalmente com o texto. Enfim, o gênero sensacionalista recorre ao absurdo e ao apelo emocional, deturpando a própria realidade, quase sempre veiculando notícias descompromissadas política e socialmente, a fim vendê-las para o maior público possível. Neste sentido, no livro “Espreme que sai sangue”, Angrimani traz definições que são importantes para entender de que forma o Sensacionalista se constitui como um jornal de humor ao se apropriar dos elementos do sensacionalismo e, ao mesmo tempo, lançar uma crítica sobre ele.
  • 34. 33 | P á g i n a Análise Notícia 1: 71% dos brasileiros são contra reforma da Previdência Datafolha A matéria em formato reportagem foi publicada na edição impressa e no site do jornal Folha de S. Paulo, em 01 de maio de 2017, escrita pela jornalista Ana Estela de Sousa Pinto11. No lide da reportagem é possível observar o descontentamento dos brasileiros em relação à Reforma Previdenciária: Sete em cada dez brasileiros se dizem contrários à reforma da Previdência, mostra pesquisa realizada pelo Datafolha. A rejeição chega a 83% entre os funcionários públicos, que representam 6% da amostra e estão entre os grupos mais ameaçados pelas mudanças nas regras para aposentadorias e pensões. Para que possamos compreender esta notícia, é importante destacar o contexto político e econômico em que ela se insere. Desde que Michel Temer assumiu como presidente interino em 12 de maio de 2016, logo depois do impeachment de Dilma Rousseff ter sido aprovado no Senado Federal, no discurso de posse, prometeu dar prioridade à economia brasileira e consequentemente promover melhorias na máquina pública. Depois de três meses e dezenove dias como presidente interino, foi empossado como presidente definitivo. A primeira proposta do presidente Temer no Congresso Nacional foi a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) referente ao limite dos gastos públicos do Governo Federal. A PEC tramitou no Senado como PEC 55 e na Câmara dos Deputados como PEC 241 e então, foi aprovada em 13 de dezembro de 2016, passando a vigorar no ano de 2017. Outras reformas também foram propostas como a Reforma do Ensino Médio, da Terceirização, da Previdenciária e a Trabalhista. 11 A reportagem não foi compartilhada na fanpage da Folha de S. Paulo no Facebook, onde possui quase 6 milhões de curtidas e 5,7 milhões de seguidores.
  • 35. P á g i n a | 34 Na matéria em destaque observamos uma reação da população exatamente a respeito das duas últimas propostas. Segundo a Teoria dos Usos e Gratificações, existe por parte dos indivíduos uma necessidade de consumir determinados tipos de informações. Neste sentido, os indivíduos não são sujeitos passivos, mas ativos. Isto se revela na crescente procura por notícias que tratem de temas sobre política e economia, e mais especificamente, sobre os últimos acontecimentos no governo do presidente Michel Temer ou da Operação Lava Jato, por exemplo. Neste sentido, “motivações, gratificações, satisfações e necessidades são vetores conceituais a partir dos quais os efeitos e os usos pontuais dos meios de comunicação são compreendidos” (SILVEIRA, 2014, p.463). Dentro de uma perspectiva funcionalista, o receptor começa a ser pensado como um ser que não é mais vazio diante da mídia. Silveira completa esta reflexão dizendo que: Segundo este entendimento, o receptor passa a filtrar, à sua maneira, aquilo que lhe é oferecido pela emissão. Admite-se a existência de outros processos agenciadores que não são imediatos, mas que interferem consideravelmente no núcleo de decisões do receptor (SILVEIRA, 2014, p. 460). Obter satisfação faz parte do núcleo de decisões do receptor. Os autores Paul Lazarsfeld e Elihu Katz trabalham a perspectiva de que o processo de recepção agora é determinado pelo emissor. Para Katz, o receptor ocupa um papel de usuário ativo dos meios massivos e por essa razão o importante passa a ser responder o que os indivíduos fazem com as mídias. Notícia 2: Temer comemora bodas de papel com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT A matéria, em formato notícia, foi postada na fanpage do Sensacionalista no Facebook, compartilhada do site www.sensacionalista.com.br no dia 12 de maio de
  • 36. 35 | P á g i n a 2017 e marcou a surpreendente marca de 14 mil curtidas, 344 comentários e 2.613 compartilhamentos. A fanpage do site de humor já ultrapassou a marca de 3 milhões de curtidas e de seguidores, número que se compara ao de grandes jornais brasileiros que também estão no Facebook. Destaca-se a matéria: Ao completar um ano de seu governo, conhecido como “bodas de papel”, o presidente Michel Temer reuniu parlamentares e ministros no Palácio do Planalto, em um evento para fazer um balanço de um ano do governo. Temer deu ênfase às ações de sua gestão e ressaltou as reformas da Previdência e a trabalhista, defendidas pelo governo. Ao fim de seu discurso, uma linda chuva de papel picado caiu do céu do Palácio, feita exclusivamente com títulos de eleitor e páginas da CLT de diversos brasileiros. “Achamos o governo Temer, até agora, um golpe de mestre” elogiou um ministro. “A chuva de papel deu um toque decorativo à cerimônia” disse outro. De acordo com Temer, apesar de todas as dificuldades até aqui, seu governo sai desse primeiro ano com saldo positivo. “Positivo em 4%!” gritou um parlamentar da oposição, sentado ao fundo. Apesar de fictícia, é possível observar que a notícia em questão versa sobre um assunto em grande discussão no momento: as reformas da previdência e trabalhista. O humor, neste caso, se realiza uma vez que o conteúdo produzido brinca com a realidade e a ficção. Para compreender o humor por trás desta notícia, é necessário ter conhecimento do que está acontecendo no país, isto é, das notícias veiculadas pelos grandes meios de comunicação. No site Sensacionalista, a ficção (a piada) é o outro lado da moeda. Segundo Chauí (2006), podemos compreender o entretenimento e o lazer de diversas formas; como elementos vitais para a vida humana, como descanso para o aumento da produtividade, e mais radicalmente, como produto da alienação, do controle social e da dominação. Seja qual for nossa concepção de entretenimento, é certo que sua característica principal não é apenas o repouso, mas também o passatempo. É um deixar passar o tempo como tempo livre e desobrigado, como tempo nosso (mesmo quando esse “nosso” é ilusório) (CHAUÍ, 2006, p. 21)
  • 37. P á g i n a | 36 Apesar das formulações, o entretenimento é um produto da cultura – em sentido amplo –, isto é, revela as formas que os indivíduos inventaram para simplesmente “passar” o tempo, recarregar suas energias, se divertir. Porém, o entretenimento se diferencia da cultura em seu sentido estrito, enquanto trabalho criador de pensamento e de arte. No caso do conteúdo produzido pelo Sensacionalista, apesar de ser considerado como entretenimento, observamos que o humor está para além do simples passamento, mas é também veiculador de uma forte crítica social ao cenário político e econômico brasileiro, além do próprio fazer jornalístico. Este humor “crítico” é conceituado pelo prório Nelito Fernandes que em uma entrevista ao canal GNT12: Eu acho que o humor pega a pessoa distraída, você não espera o que vem. O humor surpreende, ele precisa surpreender pra provocar o riso. E eu acho que o melhor caminho pro humor sempre é ser contra. Você é contra, não importa. “Vocês batem muito no governo”, porque é o governo. Se amanhã a oposição for o governo, vamos bater no governo, vamos bater na oposição, vamos ser contra. O humor a favor é impossível (...) Você aponta feridas, você sacaneia, é isso. O sensacionalismo não é eticamente permitido no jornalismo. O Código de Ética dos Jornalistas foi criado para fixar normas éticas ao profissional do jornalismo. O texto do Art. 7° do Código diz que “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação”. Todos os jornalistas e veículos de comunicação devem observar e respeitar este princípio em nome do compromisso social com a comunidade. O Sensacionalismo, por ser um site de humor, não tem compromisso com a verdade, inclusive, deixa claro no seu slogan “Um jornal isento de verdade”. No entanto, pessoas desavisadas divos podem acreditar no que é noticiado. O fato de suas notícias, sobretudo de política serem pautadas em temas que também estão em grandes sites 12 http://gnt.globo.com/programas/papo-de-segunda/videos/4901651.htm
  • 38. 37 | P á g i n a de notícias jornalísticas, ajudam a alimentar a crença que as notícias veiculadas por ele são reais. Considerações finais Nas próprias palavras do criador do site, observei que o conteúdo produzido pelo Sensacionalista não está a serviço do entretenimento alienador, isto é, aquele que afasta o indivíduo dos processos sociais, políticos e econômicos. Pelo contrário, é através do humor que a crítica se realiza. Na editoria de política do site, rir significa tomar consciência do que está acontecendo atualmente no Brasil. Isto significa dizer que os elementos sensacionalistas utilizados pelo site servem tão somente para criticar o que está sendo veiculado por muitos jornais brasileiros. O Sensacionalista surge em um contexto em que o humor passa a ganhar espaço no mundo virtual. As notícias falsas elaboradas pelo site são inspiradas em fatos, acontecimentos e personalidades reais do Brasil. Em suas abordagens sobre o mundo da política, ironiza os escândalos de corrupção e as reformas do Governo Federal, como o caso das reformas da previdência e a trabalhista. Referâncias ANGRIMANI SOBRINHO, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação e Consumo. In: CITELLI, Adilson; BERGER, Christa; BACCEGA, Maria Aparecida; LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; FRANÇA,Vera Veiga (orgs.). Dicionário de Comunicação – Escolas, Teorias e Autores. São Paulo: Contexto, 2014.
  • 39. P á g i n a | 38 CHAUI, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006. CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS. Congresso Nacional dos Jornalistas Profissionais. Disponível em: <http://www.abi.org.br/institucional/legislacao/codigo-de-etica- dos-jornalistas-brasileiros/> MACON, Felipe; SODRÉ, Muniz. Olimpíadas no Rio: Uma Análise das Notícias sobre o Evento no Site de Humor Sensacionalista. In: XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Rio de Janeiro. 2015. PINTO, Ana Estela de Sousa. 71% dos brasileiros são contra reforma da Previdência Datafolha. O Estado de S. Paulo, 01 mai. 2017. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1880026-71-dos-brasileiros-sao-contra- reforma-da-previdencia-mostra-datafolha.shtml>. Acesso em: 21 maio 2017. TEMER comemora bodas de papel com chuva de papel picado de títulos de eleitor e CLT. Sensacionalista. Disponível em: <https://www.sensacionalista.com.br/2017/05/12/temer- comemora-bodas-de-papel-com-chuva-de-papel-picado-de-titulos-de-eleitor-e-clt/>. Acesso em: 21 maio 2017.
  • 40. 39 | P á g i n a CAPÍTULO 2 A BARBÁRIE EM HORÁRIO NOBRE: um estudo sobre a abordagem adotada pelo apresentador do Cidade Alerta13 Fabiana Ribeiro BARCELLOS14 Karina Soares PACHECO15 RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar a abordagem adotada pelo apresentador Marcelo Rezende, que comanda o programa Cidade Alerta, exibido nacionalmente pela emissora Record TV, de segunda a sexta-feira. Analisaremos o comportamento midiático do apresentador (considerado intolerante e agressivo) no decorrer do programa e como isso se desenvolve na vida do telespectador. Tomamos como objeto de estudos o vídeo disponibilizado no site YouTube do programa exibido em Junho de 2015. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo, comunicação, barbárie, sensacionalismo. Introdução Cidade Alerta é um programa de cunho jornalístico e policial, transmitido pela emissora Record TV. O programa já possuiu três fases: de 1995 a 2005, de junho a setembro de 2011 e de junho de 2012 até os dias atuais. É exibido ao vivo 13 Artigo produzido na disciplina de Comunicação Comparada - 2017.1, sob a orientação do Prof. Paulo Vitor Giraldi Pires. 14 Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: fabianarbr@hotmail.com 15 Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: karinnapacheco07@gmail.com
  • 41. P á g i n a | 40 nacionalmente de segunda a sexta-feira, geralmente no final da tarde. Algumas emissoras produzem edições locais do programa, que são exibidas somente no estado em que são produzidas. Outras, no entanto, veiculam a edição nacional. O Cidade Alerta tornou-se bastante conhecido pela maneira que veicula as notícias, tornando-se acusado de desrespeitar e violar diversos direitos humanos. Em 2004, entrou na lista da campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania", formada por denúncias de telespectadores e pelo Comitê de Acompanhamento da Programação (CAP), onde estão como representantes mais de 60 entidades que assessoram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados do Brasil. No entanto, apesar de polêmico e controverso, percebe-se que o programa é muito assistido. Em 20 de junho de 2011, ficou na vice-liderança do IBOPE16, perdendo apenas para uma novela da Rede Globo. Desde então, o programa vem sendo campeão de audiência de uma forma nunca esperada. Seu auge foi em sete de setembro de 2015, quando atingiu um pico de 21 pontos de audiência17, superando o Jornal Nacional, tradicional telejornal da Rede Globo. Neste estudo será analisado o motivo de tal fato acontecer, baseando-se na premissa de que o programa, apesar de receber muitas críticas, ainda é muito assistido. Marcelo Rezende é o atual apresentador do Cidade Alerta. Rezende é jornalista não graduado, e começou sua carreira como repórter esportivo de clubes. Já foi apresentador do programa policial Linha Direta, da Rede Globo, partindo para a emissora Record TV, onde começou a apresentar o programa Cidade Alerta. Marcelo tem mais de 40 anos de atividade profissional. 16 Disponível em: http://loucospelatv.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html. Acesso em: 17 de maio. 2017 17 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_Alerta#Audi.C3.AAncia. Acesso em: 17 de maio. 2017
  • 42. 41 | P á g i n a Barbárie no Jornalismo Se buscarmos no dicionário a definição de barbárie, encontramos: “selvageria; qualidade ou condição do que é bárbaro, cruel ou desumano” 18. A desumanização do outro é algo que vem se tornando corriqueiro dentro do jornalismo policial e suas pautas são dominadas pelo bárbaro, violento, agressivos. Nesse sentido, Bittencourt (2011)19, argumenta que a barbárie pode ser entendida como a desumanização do outro e conclui que parte da atitude jornalísticas da grande mídia tem essas características de criminalização de ventos sócias, desumanização da pobreza, dos “criminosos” e não consegue respeitar as visões que vão contra os seus interesses. Entrando no contexto jornalístico, podemos enxergar esses pontos no que é conhecido como o sensacionalismo, caracterizado por usar o emocional com o objetivo de causar impacto em seus telespectadores. De forma exagerada,“o sensacionalismo não admite moderação” (ANGRIMANI, 1994, p. 40). O sensacionalismo está presente também na linguagem coloquial exagerada, na produção de noticiário que extrapola o real, no tratamento antianódino do fato, na “produção de uma nova notícia que a partir daí passa a se vender por si mesma”, na exploração do vulgar, no destaque a elementos insignificantes (...) na valorização de conteúdos ou temáticas isoladas (...) e sem contextualização políticoeconômico- social-cultural. (ANGRIMANI, 1990, p. 102) Os apresentadores usam tons pejorativos quando falam de algum personagem que foi indiciado ou cometeu algum crime. O jornalismo sensacionalista teve origem no impresso e não há uma data ao certo de quando iniciou, segundo Angrimani (1994) em 18 Disponível em: https://www.dicio.com.br/barbarie/. Acesso em: 15 de maio. 2017 19 (BITTENCOURT, Icaro. Jornalismo Blogs e Redes Sociais: entre a civilização e a barbárie, 2011. Disponível em: http://jornalismob.com/2011/01/18/jornalismo-blogs-e-redes-sociais-entre-a-civilizacao-e-a-barbarie/. Acesso em: 15 de maio. 2017.
  • 43. P á g i n a | 42 seu estudo do sensacionalismo na imprensa aponta alguns nomes de editores como Joseph Pulitzer e William Randolp Hearst como criadores do gênero20. O estilo apelativo é uma forma de atrair o público para que consuma os produtos daquele programar e assim gerar ao aumento de audiência. Vendo que as matérias que mexem com o sentimental ou imagens fortes garantem a fidelidade de seus receptores, a mídia faz disso sua estratégia para garantir o topo na audiência. Para o autor Angrimani (1995) além de ser um conjunto de estratégias mercantis, que “fisgam” leitores, o “sensacionalismo” revela necessidades psicanalíticas do leitor comum, como a morbidez, as pulsões de morte e de amor, a atração pelo grotesco. Para Marcondes Filho (1985, p. 66) o sensacionalismo não vem apenas do jornalismo popular, mas pode muito bem ser visto nos jornais mais aclamados. A única diferença entre eles é grau. O sensacionalismo é o grau mais radical da mercantilização onde só venderá a aparência. [...] todos os jornais são uns mais outros menos, sensacionalistas. Nenhum foge dessa determinação. Isso porque transformar um fato em notícia não é o mesmo que reproduzir singelamente o que ocorreu. Transformar um fato em notícia é também alterá-lo, dirigi-lo, mutilá-lo (MARCONDES FILHO, 1985, p. 29) GÓES (2013, p. 02) afirma que a construção de uma noticia dentro deste contexto é algo feito superficialmente apenas para ser vendido para a população que busca algo simples para manter-se informado sem complexidade. 20 GÓES, José Cristian. “Marcos na história do jornalismo sensacionalista: a construção de uma estratégia mercadológica na imprensa”. 2013, p. 11.
  • 44. 43 | P á g i n a Sensacionalismo Sensacionalismo refere-se a um tipo editorial jornalístico utilizado pelos meios de comunicação de massa. No sensacionalismo, as notícias e partes da mesma são exageradas com o objetivo comercial de aumentar os números de leitores ou telespectadores. Suas técnicas são apelativas à emoção e ao auto-centrismo, agindo para obter atenção. O escândalo, a chantagem e a falta de ética também são características do sensacionalismo. Apesar de criticado, no entanto, o jornalismo sensacionalista é muito apreciado pelo público. A definição da palavra "sensacionalismo" é a seguinte: 1. gosto ou busca pelo sensacional. 2. m.com uso e efeito de assuntos sensacionais, capazes de causar impacto, de chocar a opinião pública, sem que haja qualquer preocupação com a veracidade. A falta de cuidado com a veracidade torna o jornalismo sensacionalista mais fácil de ser consumido, além de que o “sensacional” (o extraordinário) prende a atenção, algo que, consequentemente, leva a uma maior comercialização do produto midiático. Análise No programa exibido no dia 23 de Junho de 2015, o comandante Hamilton entrava ao vivo fazendo a transmissão de uma perseguição envolvendo um policial da ROCAM que perseguia dois supostos criminosos que abriram fuga em alta velocidade utilizando uma motocicleta roubada.
  • 45. P á g i n a | 44 O vídeo tem duração de 19 minutos e 30 segundos, as imagens de ação eram exibidas enquanto Marcelo Rezende narrava e comentava o fato. Dentro de suas observações as palavras mais utilizadas por ele quando se referia aos jovens eram “Bandido” e “Ladrão”. “Olha aí o bandido fugindo” “Olha o ladrão. O ladrão é bom piloto de moto” Este tipo de linguagem foi usado durante boa parte da cobertura. As ofensas desferidas apareceram durante a exibição em um total de 15 repetições. O Capítulo III do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (FENAJ) trata das responsabilidades que o profissional de jornalismo deve apresentar. No Art. 12º, inciso III, diz que é de competência do jornalista o dever de respeitar a todos os que estão envolvidos na informação que está sendo apresentada. Mais a frente nos 01 minuto e 25 segundos o apresentador vendo que os acusados estavam escapando do militar, solta a seguinte frase incentivando o policial a reagir: "atira, meu camarada; é bandido!" Ainda na visão do Código de Ética do Jornalista Brasileiro, é notável o apresentador infringindo outra regra nela estabelecida. O Capítulo II disserta sobre a conduta profissional do jornalista. Art. 7º, inciso V, deixa bem claro que o profissional não pode incentivar a violência. Além da quebra das regras, devemos nos atentar ao horário da exibição do programa. De segunda a sexta, às 16h45 e aos sábados, às 17h2021. Para o programa foi atribuído a classificação indicativa 10, apresentação de conteúdos não 21 Disponível em: http://noticias.r7.com/cidade-alerta/saiba-mais-sobre-o-programa-cidade-alerta-22052017. Acesso em: 22 de maio. 2017.
  • 46. 45 | P á g i n a recomendados para menores de 10 anos22. Mesmo com a alteração na classificação a exibição permanece sem alteração em seu horário. Nas edições do programa Cidade Alerta são exibidos conteúdos de violência urbana que despertam o sentimento de revolta no público todas narradas de forma dramática. O programa temático Cidade Alerta pauta-se nas principais ocorrências do mundo do crime - acontecimentos violentos, grotescos ou esdrúxulos, são mostrados diariamente no telejornal. Umas das principais estratégias de endereçamento do programa está no enquadramento dado ás matérias, que procura mostrar os acontecimentos por um viés sensacionalista, por meio de cenas chocantes e com alto grau de apelo emocional (OLIVEIRA apud GOMES 2011, p. 146) O uso de gírias, xingamentos e da linguagem coloquial usados por Marcelo Rezende é um fator de fácil percepção ao assistir o vídeo. Os discursos feitos pelos apresentadores de telejornais têm forte influência sobre o público e se torna de extrema relevância para seus telespectadores, pois os profissionais são vistos não apenas como jornalistas, mas como artistas de TV. BUCCI (2000) declara que o apresentador de telejornal é um ingrediente-chave para garantir audiência entretendo. Ele desenvolve uma relação com o telespectador que o transforma em um astro de TV, uma celebridade. Em outro momento, nos 04 minutos e 25 segundo do vídeo. Um dos acusados lança um capacete em direção ao agente na tentativa de atingi-lo, mas os fugitivos acabaram se desequilibrando e caindo da motocicleta. A cena foi repetida 07 vezes a pedido do apresentador para preencher a falta de ação, visto que os acusados já estavam no chão aguardando a guarnição da policia. Enquanto as imagens eram exibidas, o apresentador continuava narrando cada detalhe da cena e comentando a 22 Disponível em: http://www.otvfoco.com.br/com-baixo-faturamento-cidade-alerta-ganha-insercoes-de- merchandising/. Acesso em: 22 de maio. 2017.
  • 47. P á g i n a | 46 situação fazendo julgamentos antes mesmo de a polícia mandar mais informações. Nos 14 minutos, Marcelo Rezende pede para colocar no ar toda a rota da perseguição novamente para destrinchar cada detalhe que já foi exibido e comentado por ele. O exagero de repetições na tentativa de cobrir as lacunas deixadas pela falta de movimentação da parte dos personagens no vídeo veio para segurar a atenção dos telespectadores e garantir a audiência. Para um programa sensacionalista não importa quanto tempo leve a transmissão de uma matéria o mais importante é fazer com que o público venha consumir aquele produto mesmo que as informações já tenham sido dadas. Para COELHO (2006) o sensacionalismo informa visando satisfazer as necessidades do público, capaz de expor as pessoas ao ridículo e espetacularizar fatos. As matérias podem ter durações muito maiores que o tempo normal desde que a exibição esteja interessando o público e garantindo audiência. A mídia, por ser um vídeo disponibilizado no site do YouTube23, possui uma seção de comentários, onde as pessoas podem opinar e discutir acerca do vídeo. Nos comentários do vídeo analisado, percebemos, portanto, uma grande predominância de comentários concordantes com a ação do policial de atirar nos bandidos que estavam sendo perseguidos. Sem levar em conta os direitos básicos de todos os seres humanos (ou apenas direitos humanos), no qual está incluso o direito à vida, as pessoas continuam emanando seus anseios de “justiça” deliberadamente: 23 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mntpJ8rmjo0. Acesso em: 21 de maio. 2017.
  • 48. 47 | P á g i n a Percebe-se, na atual conjuntura da sociedade brasileira, a aspiração pela efetivação do Direito Penal, também conhecido como Direito Criminal, que se dedica a controlar crimes e delitos através das normas instituídas pelo Poder Legislativo – as leis.Parte significativa da população do nosso país compreende a aplicação do Direito Penal como único meio eficiente para lidar-se com a criminalidade. “O direito penal é cada vez mais banalizado, transformando-se em um remédio supostamente apto a curar todos os males, quando o Estado se esquiva dos investimentos sociais necessários” (ROSA; KHALED JUNIOR, 2015, p.47). A sociedade tolera a desordem, incentiva comportamentos desviantes e soluções agressivas aos corriqueiros conflitos humanos, além de consumir produtos de entretenimento que exploram a degradação do caráter humano. Dando audiência a programas xulos, oferecendo mercado para a prostituição, contrabandistas e traficantes, mostrando no desrespeito e na violência do trânsito o quanto despreza a cidadania, a sociedade mais que se omitir, passa a ser mantenedora e incentivadora do clima permissivo da transgressão da impunidade. (FILHO, José Vicente da Silva. Estratégias Policias Para a Redução da Violência. Monografia. Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. São Paulo, 1998, p. 07)
  • 49. P á g i n a | 48 Contudo, ainda se nota parte da população ciente das reais responsabilidades da justiça e execução dos direitos; essas pessoas, porém, acabam sendo rechaçadas em um meio predominantemente intolerante. Os usuários das redes sociais, em sua grande maioria, “não veem razão para não fazerem justiça com as próprias mãos e/ou pra ter piedade pelo infrator” 24. 24 Disponível em: https://aphonso.jusbrasil.com.br/artigos/311629280/direito-penal-esse-remedio-jamais-vai- curar?ref=topic_feed. Acesso em: 21 de maio. 2017.
  • 50. 49 | P á g i n a Considerações finais Apesar de sensacionalista e apelativo, além de desrespeitoso aos direitos humanos, o cunho jornalístico do programa Cidade Alerta é algo que ainda funciona com êxito no Brasil. Num país onde 68% da população é analfabeta funcional25, torna- se mais simples receber uma informação que chame sua atenção e que não precise de nenhuma comprovação de veracidade ou nível de raciocínio além do superficial. É mais fácil aceitar um jornalismo sensacionalista, que não pede por ideias e conclusões elaboradas. Isso ainda se relaciona ao fato de que a opinião dos brasileiros é concordante 25 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Analfabetismo_funcional. Acesso em: 22 de maio. 2017.
  • 51. P á g i n a | 50 com a barbárie veiculada pelo Cidade Alerta: em 2016, 57% dos brasileiros afirmaram acreditar que “bandido bom é bandido morto”26. A fórmula do sucesso do programa, então, é bem simples: junta-se o jornalismo de fácil entendimento (que, consequentemente, não necessita de opiniões além) com uma temática de pensamentos propensa às ideias da grande maioria da sociedade. O programa Cidade Alerta, portanto, torna-se altamente consumido na atual sociedade brasileira, por ser de fácil acesso. O jornalismo desempenha um grande papel na sociedade, que infelizmente não tem acesso a determinadas informações como um profissional da área tem. Logo, o jornalista tem a missão de informar a todos de uma forma compreensível. Um profissional que trabalha com o telejornalismo obtém grande visibilidade e torna-se influência para a maioria dos telespectadores. Portanto, o comunicador deve ter cautela em suas colocações para que não venha repassar falsa informação, incitar a violência e dramatizar o fato afim de conseguir audiência. Isso pode afetar diretamente na opinião daqueles que o seguem, que baseiam-se no discurso do jornalista. Referências ANGRIMANI SOBRINHO, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. 3. ed. São Paulo: Boitempo, 2000. COELHO, Cláudio. Comunicação e Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Paulus, 2006. 26 Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/11/para-57-dos-brasileiros-bandido-bom-e- bandido-morto-diz-datafolha.html. Acesso em: 22 de maio. 2017.
  • 52. 51 | P á g i n a GOMES, Itania Mota. Gêneros televisivos e modos de endereçamento no telejornalismo. Salvador: EDUFBA, 2011. GÓES, José Cristian. Jornalismo e sensacionalismo: enquadramento, criminalização da pobreza e implicações éticas no Jornal Cinform. 230 f. Dissertação (Pós-Graduação). Programa de Pós- Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Sergipe, 2014. GARBIN, Aphonso Vinícius. Direito Penal: esse remédio jamais vai curar. Disponível em: <https://aphonso.jusbrasil.com.br/artigos/311629280/direito-penal-esse-remedio-jamais-vai- curar?ref=topic_feed>. Acesso em: 21 de maio. 2017. MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia. São Paulo: Ática, 1985. Federação Nacional dos Jornalistas. Código de ética dos jornalistas brasileiros. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros .pdf>. Acesso em: 22 de maio. 2017.
  • 53. P á g i n a | 52
  • 54. 53 | P á g i n a CAPÍTULO 3 A ÉTICA NA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA: uma análise crítica sobre o site Seles Nafes27 Laura MACHADO28 Luana SILVEIRA29 Pedro SOUZA30 RESUMO O presente trabalho tem como foco realizar uma análise crítica da produção jornalística do site Seles Nafes. O artigo abordará a importância da ética na produção de matérias e de outros conteúdos noticiosos; e de como a opinião desse profissional e a maneira a qual ele relata as questões sociais, pode influenciar na formação do discurso público. Nesse caso, analisamos a matéria ‘Um salto para a morte’, veiculada no site em questão, através da ótica dos critérios de noticiabilidade, tendo em vista a maneira a qual foi apresentada a morte de uma mulher de 48 anos de idade, fato esse que deve ser tratado com extrema delicadeza pelo profissional da área jornalística, por conta da natureza do acontecimento. Desse modo, buscou-se informar outros jornalistas acerca de posicionamentos como esse, que podem expor e/ou denegrir a imagem da vítima. PALAVRAS-CHAVE: Análise crítica; Seles Nafes; produção jornalística; sensacionalismo; ética. 27 Artigo produzido na disciplina de Comunicação Comparada - 2017.1, sob a orientação do Prof. Paulo Vitor Giraldi Pires. 28 Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: lauramaachado@hotmail.com 29 Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: luuanasilveira@hotmail.com 30 Estudante de Graduação 3º. semestre do Curso de Jornalismo da UNIFAP, email: henrique_msouza@outlook.com
  • 55. P á g i n a | 54 Introdução A palavra jornalismo carrega consigo um extenso valor semântico, tendo em vista que, pode variar de acordo com alguns aspectos, por exemplo, o tempo e o espaço. Ainda assim, a profissão demanda alguns princípios norteadores para que seja realizada de forma eficaz, valorizando o compromisso social. Um fator determinante para o exercício da profissão é a ética, que está relacionada à conduta do jornalista diante dos fatos mais adversos. É preciso ter em mente que, o profissional desta área está atuando em um regime de soberania popular, dessa forma, a opinião da população é mais importante que qualquer outra, necessitando respeitá-la e pautar seus argumentos por um viés democrático. O profissional efetua papel de mediador entre os fatos que estão em andamento e o repasse do que foi apurado para a sociedade. Portanto, deve informar tudo o que for de interesse público, e que especialmente sempre procure buscar mais de uma versão sobre determinado assunto, favorecendo ao receptor a elaboração de sua opinião a partir das informações que lhe foram transmitidas. Considerando o aparato de informações adquiridos, cabe agora observarmos um veículo de informação denominado Seles Nafes e a análise crítica a respeito desta plataforma de conteúdo informativo. Seles Nafes é um profissional da comunicação, atuando em funções como: apresentador, blogueiro e jornalista. Foi âncora no Jornal do Amapá da Rede Amazônica (afiliada da Rede Globo no Amapá) e após 18 anos trabalhando na emissora, em 2016, decidiu sair para se empenhar em projetos próprios, dentre eles, o site em questão. O jornalista conta com uma equipe com mais de 8 colaboradores em diversas funções, como: repórter, colunista, administrador e editor-chefe. Entre eles, André Melo, Técnico em Web Design e especialista em redes sociais, responsável pelo layout atual do site. Em 14 de novembro de 2016, o referido site publicou uma matéria abordando o possível suicídio de uma mulher de 48 anos de idade, entretanto, o que chamou a
  • 56. 55 | P á g i n a atenção nesta publicação não foi unicamente a informação da morte daquela mulher, mas sim a forma como foi retratada no título da matéria, que dizia ‘Um salto para a morte’. A matéria é extremamente curta, com dados insuficientes e abordagem superficial e ampla da situação, além de ser composta em maior parte por imagens; a mesma não possui assinatura específica de um jornalista, mas sim de toda a redação. Para Danilo Angrimani, o foco do sensacionalismo é o excesso, e dessa forma, torna-se capaz de explorar as percepções sensoriais do receptor, "A linguagem editorial precisa ser chocante e causar impacto. O sensacionalismo não admite moderação” (Angrimani, 1995, p. 40). E a professora Ana Lúcia Enne, considera que tais práticas sensacionalistas, estão atreladas a algumas matrizes culturais da modernidade ocidental, (Enne, 2007, p. 3.). O objetivo desse estudo é salientar a importância do dever do jornalista de transmitir fatos de interesse público, mas sem ultrapassar o limite da exposição desenfreada da imagem de outrem. Na matéria ‘Um salto para a morte’, houve inúmeros termos especulativos e acusatórios, que não deve ocorrer em um material informativo, pois na produção da notícia, deve-se fazer presente a imparcialidade e a neutralidade. Objeto de análise A matéria “Um salto para a morte” foi publicada no dia 14 de novembro de 2016, no site de notícias Seles Nafes31, veículo que trata de política, cultura, beleza, polícia, etc. No conteúdo da matéria, o site aborda a morte de uma mulher de 48 anos, que por volta das 09:00h do dia 14 de novembro de 2016 – data da publicação da matéria – 31 Matéria “Um salto para a morte”. Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte
  • 57. P á g i n a | 56 teria se jogado da sacada de um dos apartamentos do 3º andar do prédio residencial Casablanca, onde trabalhava como empregada doméstica. O corpo da vítima foi encontrado preso na cerca elétrica que fica em torno do prédio. Segundo as equipes que fizeram a retirada do corpo, a morte foi imediata, tendo em vista o local onde o corpo caiu, o que atraiu a atenção de curiosos que passavam por perto no momento do ocorrido e dos próprios moradores do residencial. Em meio a um Estado e a um país que contém altos índices de suicídio, depressão e afins, essa manchete não foi a mais adequada para introduzir a notícia, afinal, tratar de um assunto tão delicado como se fosse alguma diversão, pode desencadear uma série de fatores, inclusive alterar a percepção do público a respeito de uma situação problemática, causando um impacto diferente. FIGURA 1: Imagem de chamada. Fonte: Seles Nafes.com32 Na imagem acima, observa-se a equipe de resgate da Polícia Técnico Científica e policiais da Polícia militar, que foram chamados para investigação dos fatos. 32 Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte. Acesso em: 06 de maio de 2017
  • 58. 57 | P á g i n a FIGURA 2: Residencial Casablanca. Fonte: Seles Nafes.com33 Na figura 2, obteve-se a imagem do local da morte da vítima, que também era o seu local de trabalho. Nota-se os carros de resgate do Corpo de bombeiros e da Polícia Técnico Científica, e muitas observadores ao fundo. FIGURA 3: Corpo da vítima. Fonte: Print da internet Fonte: Seles Nafes.com34 33 Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte. Acesso em: 06 de maio de 2017
  • 59. P á g i n a | 58 Na última imagem, tem-se o corpo da vítima no lugar em que caiu, e um morador que tenta ajudar no resgate. Na matéria há 3 imagens, duas produzidas por colaboradores do site e outra enviada por um leitor – justificando a baixa resolução da fotografia, por ter sido produzida por um fotógrafo amador –. As imagens mostram o prédio, e carros da polícia e do corpo de bombeiros, além do veículo da Polícia Técnico Científica – POLITEC, solicitado para fazer a remoção do corpo da vítima. Na última imagem, foi utilizado um recurso que impossibilitasse o reconhecimento da vítima, no entanto, ainda assim percebe-se que o corpo está preso na cerca do prédio. Não existe um código de ética formado na produção do fotojornalismo, mas o Código de Ética do Jornalista Brasileiro coloca uma série de critérios importantes que o profissional deve seguir, condições básicas para que a fotografia não ultrapasse o seu papel de ilustrar um fato. No Art. 4º capítulo II, fica estabelecido que: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”. Dessa forma, é de inteira responsabilidade do jornalista a maneira como determinada informação vai ser transmitida, mas sempre de maneira ética. O jornalista Rodolfo Fernandes, no documentário ‘Abaixando a máquina – ética e dor no fotojornalismo carioca (2007)’, cita pequenos critérios que um profissional deve seguir no fotojornalismo. Você tem que ter um rumo, que é: produzir uma discussão na sociedade, uma discussão positiva, aquilo tem que ter um interesse jornalístico, não tem que ser gratuito, o objetivo não é chocar por chocar; conter o menos possível de elementos de violência (sangue, partes de corpo), quando você puder evitar esse tipo de coisa. (FERNANDES, 2007.) 34 Disponível em: http://selesnafes.com/2016/11/um-salto-para-a-morte. Acesso em: 06 de maio de 2017
  • 60. 59 | P á g i n a Como parte responsável pela construção do discurso público, o jornalista não deve negligenciar a influência da sua opinião no que tange a informação que vai ser repassada à sociedade. O objetivo da transmissão da informação é suscitar um debate acerca do assunto, para que se discuta maneiras de melhorar e/ou evitar que algo aconteça. De acordo com as ideias de Kossoy, o resultado final de uma fotografia varia de acordo com a mensagem que o fotógrafo quer transmitir. [...] existe sempre uma motivação, interior ou exterior, pessoal ou profissional, para a criação de uma fotografia e aí reside a primeira opção do fotógrafo, quando este seleciona o assunto em função de uma determinada finalidade/intencionalidade (Kossoy, 1999, p.27.). Nesse caso, o que influencia uma fotografia que vai ilustrar um conteúdo sensacionalista, é o seu teor de dramaticidade, quanto maior o nível de perplexidade dessa imagem, maior será o número de pessoas atraídas por ela. Conhecimento na produção jornalísitica O aprendizado é parte da construção do processo de comunicação entre os seres, pois a partir de conhecimentos prévios, realiza-se uma troca de informações entre indivíduos, e consequentemente um compartilhamento de experiências. Na abordagem de Hohlfeldt; Martino; França; (2011, p. 44), esse aprendizado inicia-se desde a infância, época em que adquirimos nossos primeiros conceitos, baseados na cultura vigente. No caso da comunicação, componente básico da vida social, experiência permanente do homem, o aprendizado começa com os primeiros dias de vida.
  • 61. P á g i n a | 60 Aprendemos as formas comunicativas de nossa cultura, aprendemos a nos comunicar, reconhecemos os modelos comunicativos com os quais nos defrontamos. A exposição e o uso permanente dos meios de comunicação fazem deles práticas e objetos familiares e amplamente conhecidos pelos membros da sociedade. Falamos deles, de seus conteúdos, do desempenho dos personagens que os habitam; dominamos, em certa medida, seus funcionamentos; dirigimo-lhes críticas. (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2011, p. 44.) E na área jornalística, o conhecimento teórico é imprescindível, como a noção básica dos critérios de noticiabilidade, o que poderá evitar a veiculação de informações improcedentes. Por outro lado, contribui para saber discernir o que é ou não notícia, sempre baseando-se nos critérios de noticiabilidade. De acordo com Erbolato, (1978), os critérios de noticiabilidade são: ineditismo, improbabilidade, interesse, empatia, proximidade, impacto, interesse humano, repercussão, etc. Critérios esses, que regem a produção da notícia. Tendo em vista o interesse público, critério de noticiabilidade mais importante, é função do jornalista noticiar informações que sejam pertinentes à sociedade. Relacionando à matéria ‘Um salto para a morte’, o conteúdo era de conhecimento público, no entanto, com algumas ressalvas no momento de produzir a matéria, levando em consideração a forma violenta como se deu a morte, os sentimentos da família da vítima e a cautela na exposição da imagem da mesma, sem ferir sua integridade; ainda mais por não saber ao certo se a morte foi acidental, ou se foi, de fato, suicídio. Realizar uma análise crítica de um material como este, que é a matéria ‘Um salto para a morte’ veiculada ao site Seles Nafes, está relacionada a um estudo profundo, levantando pontos a fim de discutí-los e relacionando-os a outros estudos, para que se possa chegar a um resultado.
  • 62. 61 | P á g i n a A ética jornalística e o sensacionalismo O filósofo e escritor espanhol Adolfo Sanchéz Vázquez, publicou um livro chamado “Ética” onde tratou a temática. No 1° capítulo de sua obra, explica: Nas relações cotidianas entre os indivíduos, surgem continuamente problemas como estes: devo cumprir a promessa x que fiz ontem ao meu amigo y, embora hoje perceba que o cumprimento me causará certos prejuízos? Se alguém se aproxima, à noite, de maneira suspeita e receio que possa me agredir, devo atirar nele, aproveitando que ninguém pode ver, afim de não correr o risco de ser agredido? Com respeito aos crimes cometidos pelos nazistas durante a segunda guerra mundial, os soldados que os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados? (VÁZQUEZ, 2002, p. 17) O autor exemplifica vários momentos que o convívio social proporciona a um indivíduo, e o jornalista deve ter em mente que sua produção jornalística está diretamente relacionada a sua conduta em um meio coletivo. Por conseguinte, deve manter sua postura em todo conteúdo que realizar, mantendo a noção de que aquela informação atingirá um grande público e por isso deve manter o máximo de imparcialidade. Uma análise de conteúdo do site “Seles Nafes” Análise crítica é um estudo aprofundado de um determinado assunto, com o objetivo de detectar problemáticas e solucionar, se possível, essas adversidades. Além, de apresentar alternativas para amenizar os possíveis efeitos negativos. Para uma análise eficaz, é necessário haver imparcialidade, objetividade e neutralidade, tendo em
  • 63. P á g i n a | 62 vista, que na área de jornalismo, é imprescindível que o profissional saiba todos os lados do fato para que possa explorar sempre da maneira mais isenta possível. O mencionado veículo de comunicação, surgiu há aproximadamente 4 anos, e aborda em suas postagens diárias, assuntos de interesse público. Porém, em algumas de suas matérias, nota-se a ausência da ética jornalística, que deve se fazer presente na produção de conteúdos informativos/noticiosos. Portanto, afetando a credibilidade de um canal que deveria ser referência, usando da falta de ética total ou parcialmente. Percebe-se nas chamadas das matérias um tom acusatório, e no corpo do texto pouquíssimas informações. Desse modo, tendo em vista um público que usa como meio de captação de informações apenas o site em questão, o público terá uma opinião rasa sobre o tema, pautado na produção tendenciosa do jornalista que produziu a matéria. Ainda que o interesse de um veículo produtor de informações, de qualquer natureza, seja a obtenção da maior audiência, a prioridade deve ser sempre a transmissão de informações verdadeiras e de interesse público. De acordo com Charaudeau, (2006), “as mídias não são a própria democracia, mas são o espetáculo da democracia”, refletindo aquilo que o público deseja ver, mas não necessariamente o que ele precisa saber. Em casos onde há crimes horrendos, ou seja, muito violentos e que causam repulsa, ou que haja uma grande exposição da imagem da vítima, como em casos de estupro e suicídio, ao invés de uma fotografia que explore ainda mais esse contexto em que a vítima se encontra, deveria optar-se por fotografar pontos específicos, que faça o público ter noção do assunto abordado. Na matéria do site Seles Nafes, mesmo tendo usado de recursos para dificultar o reconhecimento do rosto da vítima, é possível perceber que o corpo está jogado sobre a cerca elétrica, o que por si só já causa grande impacto na população; desse modo, seria viável usar de recursos que possibilitassem ao público a noção acerca da matéria, mas sem expor a imagem da vítima. Sem contar os sentimentos da família ao ver um
  • 64. 63 | P á g i n a ente querido em uma situação degradante, tendo a imagem espetacularizada dessa forma. Além da publicação no site, a matéria ainda foi compartilhada nas redes sociais, causando grande revolta em boa parte da população. No site, houve comentários de 3 leitores, dois deles criticando a maneira como a informação foi transmitida, pelo contexto da chamada e que matérias como essa, são o que pessoas que pretendem cometer suicídio esperam. Além de afirmarem que apesar dos fatos, pode ter sido um caso de acidente por falta de equipamentos de segurança para efetuar a limpeza do apartamento sem qualquer risco, tendo em vista que a mesma morreu enquanto limpava um dos apartamentos do residencial. A própria população, sem qualquer estudo aprofundado na produção jornalística, percebe como foi superficial e especulativa a informação transmitida pelo site, e que esse tipo de tema deve ser tratado de maneira mais cuidadosa e humanitária, alertando a sociedade sobre os perigos da falta de segurança e também sobre os males que levam pessoas a cometer suicídio. Informação x audiência A necessidade de dar o furo35 antes de outro veículo informativo é tamanha, que as informações acabam por serem apuradas de forma superficial, sem atentar aos detalhes e passando por cima de critérios importantes na produção de uma notícia. Na matéria "Um salto para a morte", o texto trouxe algumas informações sobre a vítima, no entanto sem noticiar depoimentos de familiares ou pessoas próximas que pudessem esclarecer um pouco das dezenas de informações que foram transmitidas sobre o caso, 35 Expressão utilizada na área jornalística para se referir à uma informação inédita, que ainda não foi veiculada.
  • 65. P á g i n a | 64 houve apenas depoimentos de policiais que basearam-se nos relatos de testemunhas, já que não estavam presentes no momento do acidente. O primeiro dever de um jornalista é transmitir a verdade, independente do fato, toda a construção de seu trabalho deve partir desse direcionamento. O sensacionalismo parte da quebra dessa base crucial para a produção da notícia. Na visão de Pedroso, (2001, p. 52), a produção do jornalismo sensacionalista perpassa pelo critério do excesso. Defino o jornalismo sensacionalista como o modo de produção discursiva da informação de atualidade, processado por critérios de intensificação e exagero gráfico, temático, linguístico e semântico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtraídos no contexto de representação e construção do real social. (PEDROSO, 2001, p. 52) O foco do sensacionalismo é transmitir o que interessa ao público de maneira espetacularizada, amplificada, dessa forma o impacto vai ser maior, seja ele positivo ou negativo, mas gerando audiência. No dia 5 de julho de 1993, o SBT exibiu ao vivo no telejornal ‘Aqui agora’, o suicídio de uma jovem de 16 anos, que se jogou de um prédio em São Paulo. Na época, a emissora foi extremamente criticada pela falta de ética na transmissão dos fatos. De acordo com dados do IBOPE, a audiência subiu 33,55% no momento da exibição do telejornal. Os pais da vítima processaram a emissora por danos morais e receberam uma indenização de valor exorbitante pela exposição da filha. Outro caso a ser citado, é o sequestro da jovem Eloá Pimentel, de 15 anos, no dia 13 de outubro de 2008, transmitido por várias emissoras de televisão durante todo o período de cárcere privado. Houve diversas discussões acerca de ‘Quem matou Eloá?’, e a mídia foi apontada por muitos, como a grande culpada da morte da jovem, por ter entrado em contato com o sequestrador e transmitido em rede nacional, interferindo na ação de resgate da polícia. Em casos como esses, compreende-se como o trabalho da