1. O documento discute a história do lúdico e dos jogos na educação ao longo dos tempos.
2. Nos primórdios, o ensino acontecia de forma espontânea através da imitação e estava integrado à vida cotidiana.
3. Com o desenvolvimento da agricultura e da propriedade privada, surgiram novas formas de organização social e de transmissão de valores entre gerações.
3. O Valor do Lúdico na Vida e na Educação
“A brincadeira é o alimento da personalidade que está se formando.
Apenas faltam oportunidades para brincar.”
Grajew Oded
O jogo é uma temática que está presente em diversas áreas do
conhecimento. É um fenômeno global imanente à condição humana. A
própria vida parece acontecer em um jogo.
4. O que é o
lúdico?
Lúdico. É toda
manifestação advinda
de nossa essência
que nos impele a
brincar; a jogar; a se
divertir.
5. Prática
Jogo: cruzado ou descruzado
• Ideia central: É uma atividade
de adivinhação que requer a
atenção dos participantes
para descobrirem o seu
segredo;
• Competências e valores:
Atenção, foco e persistência.
• Faixa etária sugerida: Jovens,
adultos e idosos.
6. Contextualizando
• As pessoas se habituaram a ir à escola.
Mandam seus filhos para lá e pouco
questionam se ela é realmente
necessária. Mas, as pessoas se
acostumaram, ou foram induzidas a
pensar e agir assim? O fato é que a
atividade educativa da escola existe no
mundo todo e segue certo padrão.
7. Nesta aula, realizaremos uma retrospectiva histórica, para entender
como a presença do lúdico aconteceu. Quem sabe, a partir desse
entendimento, conseguiremos motivar a sua capacidade em
desenvolver um ensino mais lúdico?
Mas como se construiu
historicamente
essa atividade?
Será que o lúdico e o
jogo estiveram presentes
nessa construção?
8. 1.1 O Lúdico na História Civilizatória
• Com certeza, você já percebeu que a iniciação dos jovens nas relações sociais acontece em
todas as épocas, por meio de diferentes maneiras, que transmitem os parâmetros de
convivência. Enguita (1991) analisa que nos primórdios não havia a escola. Ela existe há
algum tempo e através dela e de outros mecanismos, que seguem um modelo semelhante,
são transmitidos os valores (cultura, conhecimento) e princípios morais e éticos, que regem
nosso convívio.
• A escola funciona utilizando-se de mecanismos de coerção, pois a sociedade também
funciona dessa forma, determinando como devemos nos comportar. Mas será que foi
sempre assim? Observe que, como a nossa formação insere uma perspectiva de atuação
como profissional da educação, estamos envolvidos nessa história e comumente
reproduzimos esse modelo, sem refletirmos se poderia ser diferente.
• Assim, essa “viagem” traz o entendimento de como se construiu a Educação, que temos
hoje, e desvela como aconteceu ao longo da História o ato de ensinar relacionado com o
lúdico.
9. 1.1.1 O Lúdico no Contexto da Primitividade
• As descobertas arqueológicas mostram, através das evidências materiais, que, na época
das cavernas, a maneira como a humanidade ensinava uns aos outros se baseava na
relação direta com o fazer. Os mais jovens adquiriam os saberes elementares a partir do
convívio direto com os mais velhos. A imitação representava a maneira mais natural de
ensinar e de aprender. Acreditamos que o processo acontecia de forma espontânea, de
maneira semelhante ao que ocorre, ainda hoje, nas tribos indígenas.
• As formas de ensinar começaram a mudar quando os grupos desenvolveram a
agricultura. Nesse momento, deu-se a fixação geográfica e isso exigiu uma ordem e uma
organização do tempo e do espaço. A estabilidade exigiu normas e, consequentemente,
o domínio de estratégias de produção e de convívio (LUZURIAGA, 1978).
• À mulher cabia a guarda e a orientação dos filhos. Preocupava-se com a proteção
material e com a formação de defensores e/ou atacantes das riquezas de outros
grupos/tribos.
10. • O domínio rudimentar da natureza e de técnicas impedia a segmentação do tempo
para dedicação a outras coisas que não o trabalho, pois a vida circulava quase que
totalmente em torno da sobrevivência, restando pouco tempo para as invenções. A
construção do conhecimento advinha das experiências que o próprio meio impunha.
Perceba que o acúmulo decorrente do maior entendimento dos processos da
natureza e do desenvolvimento de utensílios trouxe a possibilidade de mais tempo
para o pensar mais elaborado.
• Dessa maneira, a atividade lúdica ocorria junto com o trabalho, com a vida,
integrada ao contexto (BRUHNS, 1993). Curiosamente, o surgimento dos jogos
deve muito aos embates pela sobrevivência. Nesse sentido, a guerra seria um jogo
mais elaborado decorrente da acumulação de riquezas, advindas da
sedentarização.
12. Para pensar e
discutir.
Podemos então inferir que a cultura dos jogos,
brinquedos e brincadeiras desenvolveu-se
impulsionada pela necessidade de se conseguir
o sustento e a apropriação de riquezas?
Então as guerras foram/são fermento do lúdico
e de outras potencialidades do ser humano?
13. O Lúdico no Contexto da Antiguidade
• O desenvolvimento das maneiras de produzir os mecanismos de sobrevivência (moradia,
alimento, vestuário, utensílios) aumentou também a possibilidade de ampliação dos grupos
tribais. Mais pessoas passaram a habitar a mesma localidade. Assim, o crescimento
populacional exigiu maneiras mais elaboradas de ordenação e organização. Observe que o
aumento da produção foi favorecido pela disponibilidade de mais força de trabalho, e também
propiciou mais tempo disponível para outras atividades, que não apenas a produção material.
• O acúmulo de saberes e a capacidade de pensar ocasionaram algo até então pouco
observado nos grupos: a discriminação de funções. Algumas pessoas distanciaram-se do
trabalho braçal e receberam mais relevância por sua característica pensante. Assim, iniciou-se
a ruptura entre o trabalho físico e o trabalho mental.
• A divisão social da produção começou a fazer parte da identidade do grupo. A propriedade,
que era coletiva, baseada na consanguinidade (uns colaboravam com os outros), tornou-se
privada, estabelecendo-se a divisão social por categorias sociais ou classes.
14. • Bem, você já percebeu que a relação produção/trabalho favoreceu o desenvolvimento de
novas técnicas, que ocasionou mais acumulação material. Esses excedentes passaram a ser
trocados, ampliando o acúmulo de recursos. O acúmulo trouxe a possibilidade do ócio. O ócio
permitiu mais elaborações materiais, não materiais e novas experimentações na utilização de
outras matérias. Dessa maneira, surgia o embrião do que hoje denominamos de ciência,
cultura, ideologia (PONCE, 1994).
• Perceba que com o aumento do tempo livre, a cultura do lúdico também se desenvolveu. A
diversidade na cultura do lúdico ampliou-se, dada a distinção de classes. Brincando
representava-se a vida e ampliava-se a imaginação, desenvolvendo-se a inventividade.
• Repare que os jogos eram vistos como uma regalia da nobreza, pois detinham mais tempo
para o ócio. Mas, apesar da seletividade no convívio social, os jogos se estendiam ao longo
das atividades cotidianas como que inerentes a elas, representando uma das principais
formas de estreitamento de laços na coletividade.
15. • Como as guerras passaram a fazer parte da vida, necessitando muito
mais de elaboração e de preparação, a Educação incorpora o
conhecimento belicoso. As práticas físicas eram largamente
incentivadas e exercitadas para o corpo estar apto e disciplinado para
o combate, mesmo que isso fosse alcançado através de castigos.
• Como você verá a seguir, as estruturas de ensino ampliaram-se e,
sem dúvida, a ascensão do poder da Igreja Católica foi determinante.
Por trás da busca espiritual e da salvação, havia repressão à cultura
mundana e ao ócio como inimigo da alma (LUZURIAGA,1978).
17. O Lúdico no Contexto da Idade Média
• Na Idade Média, a Igreja apropria-se do direito de determinar o que seria
necessário e correto para a educação da sociedade. As distinções firmavam-se,
pois as funções e as classes sociais distinguiram-se mais ainda nesse período.
• A Igreja tomou para si a instrução de massa. Nos monastérios não se ensinava
outra coisa senão a doutrina cristã, como artifício para o estabelecimento de um
comportamento dócil e conformista. Já nas escolas de formação de monges o
conhecimento era difundido. Em ambas as situações, tendo em vista uma
manobra muito bem articulada com os senhores feudais, os alunos eram
submetidos aos dogmas sob severa disciplina. Assim, a Educação servia como
mecanismo de manutenção do estado das coisas.
18. • À custa de muita guerra, a educação cristã expandiu-se para toda a parte na Idade
Média. A cultura clássica, intelectual, de origem greco-romana, submergiu,
conduzindo o mundo ocidental ao que se denominou Idade das Trevas. Nesse
período, a vida no plano horizontal, corpóreo, material sucumbiu à mentalidade
espiritual, e o desprezo pela vida alcançou seu ápice.
• A despeito da resistência da Igreja, a pressão que a burguesia exerceu sobre o
sistema social indicava que era necessário mudar. Novas escolas foram
constituídas e pela primeira vez a criança também foi instruída. Contudo, a
abrangência do atendimento ainda era restrita.
• Mas e o lúdico nesse contexto? O fenômeno do lúdico na Idade Média consistia em
uma manifestação livre, mas sem relevância existencial. Todos se divertiam a seu
modo, indiscriminadamente, e sem inibições, pois a honra era um reflexo da
existência e não do trabalho. Entretanto, era a nobreza quem detinha mais tempo
ocioso para suas diversões. O jogo, contudo, não era permitido no ambiente
educacional.
19. • A vida em toda a sua efervescência eclodia das trevas com tantas
invenções, que se tornava cada vez mais atraente. A tristeza deixava de
ser “santa” e a carne (corpo) de ser uma miséria. A Igreja Católica perdia
força nos seus dogmas e começou a ser questionada.
• O lúdico adquiria força como qualidade humana. Os prazeres eram reais.
O mundo ocidental renascia, depois de longo ostracismo e desprezo à
vida mundana, conforme veremos a seguir.
21. O Lúdico no Contexto da Renascença
• Por volta do século XV, eclode a Renascença. Desenvolve-se o interesse por uma
Educação voltada para princípios mais humanos. Rompe-se com a visão ascética,
dando-se lugar a uma concepção mais humanizada, risonha e prazenteira da
existência. Formaram-se as cidades-estado; o comércio expande-se com as
navegações; as “descobertas” de novas terras e riquezas aconteceram. Desenvolve-se
um sentimento cosmopolita junto com a ampliação das trocas culturais e artísticas.
• Valoriza-se a cultura e o conhecimento. Os iluministas, responsáveis pelo florescimento
dos ideais humanistas, acreditavam que não fosse o formalismo e o elitismo acentuado
das práticas educativas, sob influência da aristocracia, o ensino seria mais liberal,
alegre e agradável.
• Emergia o capitalismo, e a Educação influenciou-se pelo novo ideal de produção.
Contudo, o cenário educativo não acrescentava muito à velha ordem. Os ricos tinham
acesso a professores enquanto as classes dominadas recebiam pregadores.
22. • Perceba que com a ascensão da burguesia, as atividades lúdicas foram sendo
banidas do cotidiano da sociedade, por suas características não condizentes
com o capitalismo. No período do século XVI, a frivolidade típica do jogo não
combinava em absoluto com a nova ordem fundada nos valores puritanos da
burguesia. Sob essa nova ótica, fundou-se as bases da pedagogia tradicional,
que fez do trabalho uma nova religião e estabeleceu o rumo da organização
educativa da escola de massa.
• Nesse momento histórico, também é dada uma maior relevância à racionalidade,
uma das características centrais do processo produtivo emergente, que
influenciou diretamente a Educação e ampliou a ruptura entre o trabalho e o
lúdico.
• A presença do lúdico no meio comum ainda era observada para todas as idades
e classes, mas gradualmente deu-se uma ruptura na prática de jogos entre as
crianças e os adultos, sobretudo no meio nobre e entre o povo e a burguesia.
23. O Jogo nos Séculos VXIII e XIX
O processo de escolarização de massa ganhou intensidade, influenciado
pelo sentimento cívico-nacionalista, a doutrina liberal, o pragmatismo, o
utilitarismo e o trabalho. A influência de Napoleão, um mante das letras, foi
relevante nesse sentido. Nesse contexto, o jogo constituiria a categoria que
possibilitaria a melhor relação entre o pensar e o fazer. Goethe, por
exemplo, deixou claro esse ponto de vista ao afirmar que:
Na vida só a ação importa (...) Ser ativo é o destino do
homem (...) Pensar e fazer, fazer e pensar, eis a súmula
de toda a sabedoria, em todo tempo praticada, em todo
tempo reconhecida, mas nem sempre compreendida.
Uma e outra coisa hão de alternar-se eternamente, como
a inspiração e a expiração; deviam ser inseparáveis,
como a pergunta e a resposta
(LUZURIAGA, 1978, p.198).
24. O Lúdico no Contexto da Modernidade
• Nas proximidades do Século XX, a industrialização disseminou-se pelo mundo.
A maior parte dos países, marcados pelo processo industrial, já havia adotado a
escola primária obrigatória. Mais do que nunca, a Ciência foi impulsionada pela
lógica racionalista do trabalho/produção. A nova ordem produtivista, alimentada
por uma verdadeira revolução tecnológica, diga-se de passagem, intimamente
relacionada com as forças que abriram caminho para a modernização, através
da produção de artefatos bélicos, não tinha como não tencionar o ambiente
social.
• Exigiu-se, por razões múltiplas, que não cabe aqui tratar, novos comportamentos
do trabalhador, dentre eles o domínio da linguagem escrita. Com o advento da
indústria ocorreu a necessidade urgente de mão de obra. Essa tarefa de
preparação para o trabalho logo passou a ser incumbência da escola, tornando
essa formação a sua prioridade.
25. • As massas, para se submeterem ao modelo de produção capitalista, foram
induzidas a um processo instrutivo, onde a negação de suas raízes conduziu à
negação de sua identidade cultural, inclusive da cultura do lúdico (BRUHUNS,
1993). Observe que o espaço/tempo, dominado pelo trabalho, gradualmente
aliena o indivíduo a uma dinâmica artificial e afasta-o da sua cultura de raiz. A
transmissão da cultura acumulada a outras gerações é interrompida e
considerada pouco atrativa para as novas gerações, provocando em muitos
casos a sua extinção.
• Espaços restritivos, tempo controlado, indução ao consumo etc., tudo isso
adveio com a nova ordem, que induziu a organização em aglomerados urbanos.
• Na cultura do lúdico vimos muitas brincadeiras, brinquedos e jogos
desaparecendo do corolário lúdico da infância, por influência do modo de vida
nas cidades.
26. À escola coube o papel de inculcar os novos valores da emergente ordem industrial, tanto
que, desde cedo, foi induzida a pensar num padrão modelar, onde o controle de produtos
e processos deveriam caminhar dentro de uma estrita racionalidade — característica,
aliás, avessa aos princípios das atividades lúdicas.
Nesse período aconteceu uma verdadeira explosão de métodos ativos de ensino, cuja
fundamentação estava nos ideais de liberdade, de individualidade, de trabalho
cooperativo, de criatividade. Na sua aplicação, esses métodos visavam a uma
estimulação cognitiva continuada e, em muito, baseavam-se na dinâmica do jogo.
No Brasil, esse movimento denominou-se de Escolanovismo ou Educação Nova. Por
outro lado, embora fosse evidente que o sentido da Educação no século XX caminhava
para a elevação das liberdades individuais e da persona, jamais deixou de figurar no
corolário da Educação a presença dos aspectos sócio-pedagógicos.
27. Por influência desse modo de conceber o processo produtivo, as questões relativas
ao lúdico acirraram-se por desdobramento das interpretações unilaterais do trabalho
e do lazer, entendidos de forma fragmentária e dual. Assim, os reflexos do
funcionalismo na escola acentuaram a racionalização do trabalho pedagógico e,
consequentemente, os mecanismos de manutenção da ordem (MARCELLINO,
1990).
No século XX, a educação escolar estendeu-se por todo o planeta. Os países até
são pressionados por órgãos internacionais para elevar as suas taxas de
escolarização. Hoje, a história não é só alfabetizar todos os “cidadãos”. O interesse
é que haja uma instrução contínua para manter as pessoas qualificadas, para as
mudanças – rápidas – no ambiente produtivo.
O investimento em equipamentos para modernizar a escola é perceptível, sobretudo
nos países ricos e nas escolas privadas, que atendem à elite. Nessas escolas, o
retrato da fachada mudou, mas na essência o modelo que seguem ainda está
atrelado aos determinismos da produção.
28. E Agora um Novo Século: Pós-modernidade?
“O universo tem, para além de todas as misérias, o
destino de felicidade. O homem deve reencontrar o
paraíso.”
Gaston Bachelard
Nesse momento, podemos identificar traços marcantes da presença do jogo, perpassando
o nosso dia-a-dia em todas as manifestações humanas. É como se tivéssemos fissionado a
barreira, que separava a realidade da fantasia. Barreira tão intensamente delineada pela
racionalidade durante a Modernidade.
Tratando do tema específico, o jogo na pós modernidade, Zajdsznajder (1992) acrescenta
que quando não imperam as idéias sobre o bem e o mal, e quando os modelos de agir e de
ser não parecem para sempre estabelecidos, o mundo abre-se para o jogo. Cada indivíduo,
liberto das obrigações, percebe que pode estabelecer para si as regras que acreditava
herdadas. Diante das pequenas e grandes coisas da vida, permite-se desenhar os quadros
que mais atraem.
29. O lúdico aproxima-se do artístico. Acabam por fundir-
se, e o artístico, que perde suas fronteiras, espalha-
se pelo mundo.
(...) O lúdico está presente em todos os pontos,
nas relações entre homens e mulheres, no
trabalho, na escola. Reconheceu-se na aplicação
de jogos uma forma ímpar de aprender
(ZAJDSZNAJDER, 1992, p. 169).
Então, o que você acha disso tudo? Estaríamos vivenciando uma
Nova Era? Uma era do lúdico?
31. Atividade de Pesquisa e
Registro
• Entreviste seus pais e avós, ou amigos
mais velhos, e peça que eles apontem
os jogos favoritos quando eram
crianças.
• Compare as brincadeiras favoritas
deles com as suas próprias. Anotem
essas informações em um quadro no
caderno, seguindo o modelo adiante.
• Registre no papel: O que mudou? Por
que mudou?
Avós ou pais Amigos mais velhos Criança
Jogo 1
Jogo 2
Jogo 3