Este documento discute as partes interessadas num relatório de incidente em saúde. As principais partes interessadas incluem: 1) o paciente e sua família, 2) os profissionais de saúde, 3) os gestores hierárquicos, 4) a gestão superior da instituição, e 5) o governo e a sociedade civil. Todos esses grupos têm interesse em melhorar a qualidade e segurança dos cuidados de saúde.
1. Quem são as "partes interessadas"
num relato de incidente?
Em todas as situações existem "partes
interessadas". Esses Stakeholders podem ter
opiniões diferentes e até opostas, mas todos tem
uma opinião sobre essa questão.
Num incidente ocorre o mesmo.
Quando ocorre um incidente, quem são os
Stakeholders?
1. O Doente/Família - Desde logo o principal
interessado é o Doente. Não, não estou a
dizer que todos os Doentes têm consciência
do que ocorreu (por vezes nem ficam a saber
porque ninguém lhes diz). Quando digo
"Doente" refiro-me a todos nós - cidadãos -
que um dia, muito provavelmente no
encontraremos nessa condição;
2. O Profissional de Saúde - Seja quem for,
médico, enfermeiro, técnico de diagnóstico e
terapêutica, todos são partes interessadas.
Todos gostavam de ter melhores condições
de trabalho. Todos gostavam de ter
dispositivos ou equipamentos médicos que
funcionam bem. Todos querem que os
medicamentos não faltem. Todos querem que
os procedimentos e protocolos sejam simples
e cumpridos por todos. Mas não é isso que
ocorre.
3. O Superior Hierárquico - Sim, "o Chefe". Ele
tem (ou deve ter) um interesse especial. Não,
não estou a falar em punir ou acusar. Isso não
é um chefe, é apenas uma pessoa que não
sabe liderar. O interesse especial está em
saber o que aconteceu para poder melhorar.
Retirar do incidente as lições e a
aprendizagem necessárias para mudar o
sistema (a forma como uma determinada sala
está arrumada; a falta de material; um
equipamento que não funcionou; um
procedimento que não foi cumprido). É para
isso que um chefe deve utilizar o relato de
incidente. Para crescer e fazer crescer a sua
equipa, prestando melhores cuidados ao
Doente.
4. A Gestão de Topo da Instituição - O Conselho
de Administração é também uma parte
interessada. O tipo e número de incidentes
permitem à gestão de topo obter uma
imagem diferente da qualidade dos cuidados
prestados, mas também da gestão que está
em curso na instituição. Incidentes que
indicam a falta de medicamentos ou DM
denunciam falta de organização na
Farmácia/Aprovisionamento ou problemas
financeiros? Falhas nos cuidados diretos ao
Doente são incidentes “inevitáveis” ou
demonstram a falta de orientações clinicas
precisas e compreensíveis por todos? A
existência de elevadores constantemente
avariados são resultado de utilização
indevida, manutenção mal planeada ou
desinteresse dos responsáveis? A lista é
quase interminável, mas a responsabilidade
do Conselho de Administração não pode ser
"esquecida".
5. O Governo/Sociedade Civil - Imaginem,
apenas por um instante que de um momento
para o outro, todos os profissionais e
doentes/famílias começavam a notificar todos
os incidentes que conhecem num Sistema
Nacional de Notificação de Incidentes e
Eventos Adversos?
Imaginem que de repente, Portugal ficava a
conhecer a verdadeira dimensão do dano que
os cuidados de saúde causam aos seus
cidadãos? Não estou a falar de guerras
"estéreis" entre Ordens Profissionais. Estou a
falar da realidade. Das horas de espera nos
serviços, dos erros de marcação, da falta de
profissionais e de recursos. Estou a falar de
dispositivos "baratos" que não funcionam. Da
falta de formação. De quedas e úlceras por
pressão evitáveis.
Que bom seria se, com base nesse conhecimento,
pudéssemos começar a mudar?
Stakeholders somos todos nós.
Todos temos a ganhar.
O SNNIEA já existe. Tem de ser melhorado, mas
também tem de ser alimentado para que possa
crescer.
Vais participar na mudança?
Fernando Fausto M. Barroso - 2013/09/25
www.risco-clinico.blogspot.pt