O documento discute como o desenvolvimento tecnológico impactou a relação médico-paciente, trazendo mais opções de diagnóstico e tratamento, mas também riscos de fragilizar essa relação. Defende que os médicos devem avaliar criticamente como as inovações afetam cada paciente individualmente, priorizando a autonomia e qualidade de vida em vez de apenas estender a sobrevida.
A relação médico paciente na era da informatização (1)
1. A relação médico-paciente
na era da informatização.
Carlos Frederico Almeida Rodrigues.¹
Isadora Cavenago Fillus.²
¹Médico – Santa Casa – RJ.
Neurologia – HU Pedro Ernesto - UERJ.
Neurocirurgia – HM Souza Aguiar – RJ.
Neurocirurgia Pediátrica – IFF – FioCruz – RJ.
Interne Service Neurochirurgie pédiatric – Hôpital de La Timone
– Marseille – France.
Mestre em Filosofia – PUCRS.
Professor da Faculdade de Medicina da Unochapecó e da
Unioeste (campus de Fco. Beltrão).
²Academica da faculdade de medicina da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus
Francisco Beltrão.
2. • É de conhecimento de todos que o
desenvolvimento tecnológico tem contribuído
com a medicina, principalmente nos últimos
20 anos, tanto na maior facilidade e precisão
do diagnóstico, como em mais opções de
tratamentos para as mais diversas
enfermidades.
A relação médico-paciente na era da informatização.
3. • No entanto, a razão com o qual somos imbuídos nos
permite vislumbrar aquilo que podemos fazer, mas
também o que não devemos fazer.
A relação médico-paciente na era da informatização.
E é partindo desse princípio que
devemos constantemente rever
nossas ações na área da saúde,
que por vezes se mostram tão
dependentes das inovações
tecnológicas e de um desejo
cego de lutar contra a morte ao
invés de a favor da qualidade de
vida. Isso é importante para que
não acabemos por fragilizar uma
das mais importantes bases da
medicina: a relação médico-
paciente.Pope, Robert. Erica.
4. • Existem limites para o uso de tecnologias? Se
existem, quais são? Quando devemos deixar a
natureza seguir seu curso? Quando devemos
intervir? Esses são alguns dos vários
questionamentos que fazemos, não necessariamente
para obter respostas, pois talvez elas nem existam,
mas para promover reflexões que discutam e
reavaliem as ações médicas com cada paciente em
específico.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. Chemotherapy.
5. • Em especial, temos os conflitos encontrados ao lidar
com o paciente terminal, que depois de ciente de
sua situação pode escolher não ser entubado,
mantido em aparelhos ou reanimado em caso de
parada cardíaca, mesmo tendo uma equipe médica
oferecendo diversas tentativas de contornar o fim
que
A relação médico-paciente na era da informatização.
que ela mesma
diagnosticou. Essa deve
ser uma escolha oriunda
da autonomia do
paciente, pois o
processo de morrer faz
parte da vida e deve ter
a cara que esse paciente
quer dar.
Pope, Robert. Visitors.
6. • O setor da saúde é um dos que mais tem
crescido na economia mundial. Números
apontam “evoluções”, “desenvolvimento” e
inovações. Mas o que está por trás de
números frios que nos são apresentados? A
arte de cuidar de outra pessoa realmente
cabe em dados e estatísticas sem
desumanizar-se? A assistência médica tem
uma singularidade que não permite ser
comparada com uma categoria econômica.
A medicina é algo que não possui preço,
pois não pode ser substituída por um
equivalente, logo, possui dignidade.
A relação médico-paciente na era da informatização.
7. • O atendimento médico se diferencia de
qualquer serviço prestado em indústrias,
pois não se baseia em padronizações. O
médico “não é o médico dos seres vivos
em geral, nem mesmo o médico do
gênero humano, mas o médico do
indivíduo humano". Logo, nenhuma ação
médica pode ser baseada no bem de uma
maioria, ou pensando em um suposto
progresso científico, mas sim no ser
humano individual que procura o serviço
do profissional.
A relação médico-paciente na era da informatização.
8. • Não são as tecnologias ou a informatização da medicina as
causadoras dos problemas, mas sim nosso aceitar sem
questionar dessa dita “evolução”. As inovações surgem com
uma velocidade muito acima da nossa de refletir sobre as
coisas que nos são “vendidas” e aceitamos tudo sem pensar
se realmente é o caminho que queremos tomar.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. Radiation.
9. • Não podemos ver como normal médicos que
consultem os aparelhos e deem o diagnóstico
com base somente em números frios, sem se
quer olhar para o paciente que está no leito, ou
uma medicina especialista que sabe tudo de um
pequeno segmento do corpo, mas ao mesmo
tempo não sabe nada pois desconsidera o
paciente como um ser biopsicossocial.
• Achar tudo isso normal é perder a sensibilidade
de lidar com outro ser humano e tentar fugir da
responsabilidade de estar com uma vida
depositada em suas mãos. E é só “tentar” fugir,
porque a responsabilidade é “sem escapatória”,
como cita Lévinas.
A relação médico-paciente na era da informatização.
10. • Escutar, olhar, tocar. Verbos que traduzem
a sensibilização do médico e do paciente no
contato de um com o outro. A relação
médico paciente é interagir com alguém que
não se conhece, que é Outrem, que
continuará eternamente estranho a você. O
médico nunca vai saber tudo sobre o
paciente e é neste estranhamento, nesta
incompletude, que se inicia uma relação
através do rosto, que em uma epifania, se
revela, e das palavras proferidas no
discurso.
A relação médico-paciente na era da informatização.
11. • Ainda que se saiba muito do outro não é o
outro, mas apenas o que eu sei sobre ele e
não podemos reduzir o outro ao que eu penso
que ele é. O médico é responsável por aquele
que nem conhece, mas procura considerar ao
máximo todas as informações que possa
reunir sobre aquele que lhe vem pedir ajuda,
e assim, pensando no ser humano como um
todo, desenvolver a arte de curar sem querer
fazer com que essa complexa relação caiba
em uma simples interação médico-doença
A relação médico-paciente na era da informatização.
12. • Todo o conhecimento técnico deveria ser a
base que traz para o profissional confiança
em seu próprio trabalho para lidar com essa
responsabilidade por Outrem. É estar
munido de todo um repertório que se adapte
ao que o paciente precisa e quer. Entretanto
o que acontece é que por vezes esse
conhecimento não é mais uma arma de
defesa, mas de retaliação do paciente em
partes anatômicas que serão atendidas por
médicos específicos.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. Heart Currents.
13. • Anula-se por completo a pessoa a
quem pertence aquele “pulmão”
que está sendo consultado e a
consulta só é dita “bem sucedida”
quando se consegue etiquetar o
paciente com o nome de uma
doença. Infelizmente é comum ver
um colega médico falando de
quantos tumores tem de operar ou
que vai passar visita no quarto de
determinada síndrome, e assim vai
se perdendo a visão do ser
biopsicossocial que tem sua
família, desejos e medos.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. The Sparrow.
14. • “Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana”
(Carl Jung)
A relação médico-paciente na era da informatização.
Robert Pope, Self
Portrait with Dr.
Langley