SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
A relação médico-paciente
na era da informatização.
Carlos Frederico Almeida Rodrigues.¹
Isadora Cavenago Fillus.²
¹Médico – Santa Casa – RJ.
Neurologia – HU Pedro Ernesto - UERJ.
Neurocirurgia – HM Souza Aguiar – RJ.
Neurocirurgia Pediátrica – IFF – FioCruz – RJ.
Interne Service Neurochirurgie pédiatric – Hôpital de La Timone
– Marseille – France.
Mestre em Filosofia – PUCRS.
Professor da Faculdade de Medicina da Unochapecó e da
Unioeste (campus de Fco. Beltrão).
²Academica da faculdade de medicina da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus
Francisco Beltrão.
• É de conhecimento de todos que o
desenvolvimento tecnológico tem contribuído
com a medicina, principalmente nos últimos
20 anos, tanto na maior facilidade e precisão
do diagnóstico, como em mais opções de
tratamentos para as mais diversas
enfermidades.
A relação médico-paciente na era da informatização.
• No entanto, a razão com o qual somos imbuídos nos
permite vislumbrar aquilo que podemos fazer, mas
também o que não devemos fazer.
A relação médico-paciente na era da informatização.
E é partindo desse princípio que
devemos constantemente rever
nossas ações na área da saúde,
que por vezes se mostram tão
dependentes das inovações
tecnológicas e de um desejo
cego de lutar contra a morte ao
invés de a favor da qualidade de
vida. Isso é importante para que
não acabemos por fragilizar uma
das mais importantes bases da
medicina: a relação médico-
paciente.Pope, Robert. Erica.
• Existem limites para o uso de tecnologias? Se
existem, quais são? Quando devemos deixar a
natureza seguir seu curso? Quando devemos
intervir? Esses são alguns dos vários
questionamentos que fazemos, não necessariamente
para obter respostas, pois talvez elas nem existam,
mas para promover reflexões que discutam e
reavaliem as ações médicas com cada paciente em
específico.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. Chemotherapy.
• Em especial, temos os conflitos encontrados ao lidar
com o paciente terminal, que depois de ciente de
sua situação pode escolher não ser entubado,
mantido em aparelhos ou reanimado em caso de
parada cardíaca, mesmo tendo uma equipe médica
oferecendo diversas tentativas de contornar o fim
que
A relação médico-paciente na era da informatização.
que ela mesma
diagnosticou. Essa deve
ser uma escolha oriunda
da autonomia do
paciente, pois o
processo de morrer faz
parte da vida e deve ter
a cara que esse paciente
quer dar.
Pope, Robert. Visitors.
• O setor da saúde é um dos que mais tem
crescido na economia mundial. Números
apontam “evoluções”, “desenvolvimento” e
inovações. Mas o que está por trás de
números frios que nos são apresentados? A
arte de cuidar de outra pessoa realmente
cabe em dados e estatísticas sem
desumanizar-se? A assistência médica tem
uma singularidade que não permite ser
comparada com uma categoria econômica.
A medicina é algo que não possui preço,
pois não pode ser substituída por um
equivalente, logo, possui dignidade.
A relação médico-paciente na era da informatização.
• O atendimento médico se diferencia de
qualquer serviço prestado em indústrias,
pois não se baseia em padronizações. O
médico “não é o médico dos seres vivos
em geral, nem mesmo o médico do
gênero humano, mas o médico do
indivíduo humano". Logo, nenhuma ação
médica pode ser baseada no bem de uma
maioria, ou pensando em um suposto
progresso científico, mas sim no ser
humano individual que procura o serviço
do profissional.
A relação médico-paciente na era da informatização.
• Não são as tecnologias ou a informatização da medicina as
causadoras dos problemas, mas sim nosso aceitar sem
questionar dessa dita “evolução”. As inovações surgem com
uma velocidade muito acima da nossa de refletir sobre as
coisas que nos são “vendidas” e aceitamos tudo sem pensar
se realmente é o caminho que queremos tomar.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. Radiation.
• Não podemos ver como normal médicos que
consultem os aparelhos e deem o diagnóstico
com base somente em números frios, sem se
quer olhar para o paciente que está no leito, ou
uma medicina especialista que sabe tudo de um
pequeno segmento do corpo, mas ao mesmo
tempo não sabe nada pois desconsidera o
paciente como um ser biopsicossocial.
• Achar tudo isso normal é perder a sensibilidade
de lidar com outro ser humano e tentar fugir da
responsabilidade de estar com uma vida
depositada em suas mãos. E é só “tentar” fugir,
porque a responsabilidade é “sem escapatória”,
como cita Lévinas.
A relação médico-paciente na era da informatização.
• Escutar, olhar, tocar. Verbos que traduzem
a sensibilização do médico e do paciente no
contato de um com o outro. A relação
médico paciente é interagir com alguém que
não se conhece, que é Outrem, que
continuará eternamente estranho a você. O
médico nunca vai saber tudo sobre o
paciente e é neste estranhamento, nesta
incompletude, que se inicia uma relação
através do rosto, que em uma epifania, se
revela, e das palavras proferidas no
discurso.
A relação médico-paciente na era da informatização.
• Ainda que se saiba muito do outro não é o
outro, mas apenas o que eu sei sobre ele e
não podemos reduzir o outro ao que eu penso
que ele é. O médico é responsável por aquele
que nem conhece, mas procura considerar ao
máximo todas as informações que possa
reunir sobre aquele que lhe vem pedir ajuda,
e assim, pensando no ser humano como um
todo, desenvolver a arte de curar sem querer
fazer com que essa complexa relação caiba
em uma simples interação médico-doença
A relação médico-paciente na era da informatização.
• Todo o conhecimento técnico deveria ser a
base que traz para o profissional confiança
em seu próprio trabalho para lidar com essa
responsabilidade por Outrem. É estar
munido de todo um repertório que se adapte
ao que o paciente precisa e quer. Entretanto
o que acontece é que por vezes esse
conhecimento não é mais uma arma de
defesa, mas de retaliação do paciente em
partes anatômicas que serão atendidas por
médicos específicos.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. Heart Currents.
• Anula-se por completo a pessoa a
quem pertence aquele “pulmão”
que está sendo consultado e a
consulta só é dita “bem sucedida”
quando se consegue etiquetar o
paciente com o nome de uma
doença. Infelizmente é comum ver
um colega médico falando de
quantos tumores tem de operar ou
que vai passar visita no quarto de
determinada síndrome, e assim vai
se perdendo a visão do ser
biopsicossocial que tem sua
família, desejos e medos.
A relação médico-paciente na era da informatização.
Pope, Robert. The Sparrow.
• “Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana”
(Carl Jung)
A relação médico-paciente na era da informatização.
Robert Pope, Self
Portrait with Dr.
Langley
Obrigada!

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?Daniel Valente
 
Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2
Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2
Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2Mateus Neves
 
Eduardo juan troster mesa redonda 13
Eduardo juan troster   mesa redonda 13Eduardo juan troster   mesa redonda 13
Eduardo juan troster mesa redonda 13xanamachado
 
A história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalarA história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalarAnderson Souza
 
Psicologia hospitalar-tidir
Psicologia hospitalar-tidirPsicologia hospitalar-tidir
Psicologia hospitalar-tidirMateus Neves
 
Informações clinicas e a comunicação com o paciente.
Informações clinicas e a comunicação com o paciente.Informações clinicas e a comunicação com o paciente.
Informações clinicas e a comunicação com o paciente.Luciane Santana
 
Psico-oncologia
Psico-oncologiaPsico-oncologia
Psico-oncologiaAndressawm
 
04 psciologia hospitalar
04 psciologia  hospitalar04 psciologia  hospitalar
04 psciologia hospitalarGraça Martins
 
psicologia hospitalar x psicologia da saúde
 psicologia hospitalar x psicologia da saúde psicologia hospitalar x psicologia da saúde
psicologia hospitalar x psicologia da saúdeUNIME
 
Cuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da Saúde
Cuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da SaúdeCuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da Saúde
Cuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da Saúdeprojetacursosba
 
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...biacastro
 
Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.luzienne moraes
 
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidadoComunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidadoGabriela Montargil
 
Comunicando más notícias
Comunicando más notíciasComunicando más notícias
Comunicando más notíciasInaiara Bragante
 
Noçõe de psicologia - téc enfermagem 2ª aula
Noçõe de psicologia - téc enfermagem  2ª aulaNoçõe de psicologia - téc enfermagem  2ª aula
Noçõe de psicologia - téc enfermagem 2ª aulaGabriel Jefferson Oliveira
 
Relacionamento profissional de saúde e paciente
Relacionamento profissional de saúde e pacienteRelacionamento profissional de saúde e paciente
Relacionamento profissional de saúde e pacienteviviansantos2012
 
Habilidades de comunicação de más notícias
Habilidades de comunicação de más notíciasHabilidades de comunicação de más notícias
Habilidades de comunicação de más notíciasLuís Fernando Tófoli
 

Mais procurados (20)

Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
 
Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2
Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2
Psicologia Hospitalar - Pacientes Terminais 2
 
Eduardo juan troster mesa redonda 13
Eduardo juan troster   mesa redonda 13Eduardo juan troster   mesa redonda 13
Eduardo juan troster mesa redonda 13
 
A história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalarA história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalar
 
Psicologia hospitalar-tidir
Psicologia hospitalar-tidirPsicologia hospitalar-tidir
Psicologia hospitalar-tidir
 
Informações clinicas e a comunicação com o paciente.
Informações clinicas e a comunicação com o paciente.Informações clinicas e a comunicação com o paciente.
Informações clinicas e a comunicação com o paciente.
 
Psico-oncologia
Psico-oncologiaPsico-oncologia
Psico-oncologia
 
04 psciologia hospitalar
04 psciologia  hospitalar04 psciologia  hospitalar
04 psciologia hospitalar
 
psicologia hospitalar x psicologia da saúde
 psicologia hospitalar x psicologia da saúde psicologia hospitalar x psicologia da saúde
psicologia hospitalar x psicologia da saúde
 
Bioetica direito a informação
Bioetica   direito a informaçãoBioetica   direito a informação
Bioetica direito a informação
 
Cuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da Saúde
Cuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da SaúdeCuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da Saúde
Cuidados Paliativos Oncologicos Controle da Dor-Ministerio da Saúde
 
Plano de Ensino
Plano de EnsinoPlano de Ensino
Plano de Ensino
 
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
 
Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.
 
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidadoComunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
 
Psicologia hospitalar
Psicologia hospitalarPsicologia hospitalar
Psicologia hospitalar
 
Comunicando más notícias
Comunicando más notíciasComunicando más notícias
Comunicando más notícias
 
Noçõe de psicologia - téc enfermagem 2ª aula
Noçõe de psicologia - téc enfermagem  2ª aulaNoçõe de psicologia - téc enfermagem  2ª aula
Noçõe de psicologia - téc enfermagem 2ª aula
 
Relacionamento profissional de saúde e paciente
Relacionamento profissional de saúde e pacienteRelacionamento profissional de saúde e paciente
Relacionamento profissional de saúde e paciente
 
Habilidades de comunicação de más notícias
Habilidades de comunicação de más notíciasHabilidades de comunicação de más notícias
Habilidades de comunicação de más notícias
 

Semelhante a A relação médico paciente na era da informatização (1)

A IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE
A IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTEA IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE
A IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTERubens De Fraga Junior
 
O Paciente é... um Artista Plástico
O  Paciente é... um Artista PlásticoO  Paciente é... um Artista Plástico
O Paciente é... um Artista PlásticoSergio Cabral
 
A Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao ExplicitaA Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao ExplicitaJosiane M F Tonelotto
 
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15Eleonora Lins
 
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULOMEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULOEleonora Lins
 
Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internet
Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internetDoentes devem ser guiados nas pesquisas de internet
Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internetPaulo Morais
 
124279799 dar mas_noticias
124279799 dar mas_noticias124279799 dar mas_noticias
124279799 dar mas_noticiasPelo Siro
 
O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)
O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)
O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)ceudeagartha1
 
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...Sérgio Henrique da Silva Pereira
 
11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico
11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico
11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeuticoMarcelo Oliveira Borges
 
O médico e a prática da medicina
O médico e a prática da medicinaO médico e a prática da medicina
O médico e a prática da medicinaHelena Brígido
 
1.fundamentos epistemológicos da medicina introdução
1.fundamentos epistemológicos da medicina   introdução1.fundamentos epistemológicos da medicina   introdução
1.fundamentos epistemológicos da medicina introduçãoLuiz-Salvador Miranda-Sa
 
LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.
LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.
LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.LATEC - UFF
 
Aula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicação
Aula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicaçãoAula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicação
Aula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicaçãoCristianoNogueira19
 

Semelhante a A relação médico paciente na era da informatização (1) (20)

A IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE
A IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTEA IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE
A IATROGENIA DA PALAVRA NA RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE
 
O Paciente é... um Artista Plástico
O  Paciente é... um Artista PlásticoO  Paciente é... um Artista Plástico
O Paciente é... um Artista Plástico
 
A Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao ExplicitaA Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao Explicita
 
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
 
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULOMEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
 
8 morrendo bem_equipado
8 morrendo bem_equipado8 morrendo bem_equipado
8 morrendo bem_equipado
 
Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internet
Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internetDoentes devem ser guiados nas pesquisas de internet
Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internet
 
A arte perdida de cuidar
A arte perdida de cuidar A arte perdida de cuidar
A arte perdida de cuidar
 
Farmacêutico para quê
Farmacêutico para quêFarmacêutico para quê
Farmacêutico para quê
 
124279799 dar mas_noticias
124279799 dar mas_noticias124279799 dar mas_noticias
124279799 dar mas_noticias
 
O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)
O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)
O LIVRO VERMELHO DA SAÚDE (Renato Dias)
 
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
 
A cura de_um_minuto
A cura de_um_minutoA cura de_um_minuto
A cura de_um_minuto
 
11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico
11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico
11 a relacao_doente_sem_possibilidade_manejo_terapeutico
 
O médico e a prática da medicina
O médico e a prática da medicinaO médico e a prática da medicina
O médico e a prática da medicina
 
Aula 5 as doenças os doentes e os medicos
Aula 5 as doenças os doentes e os medicosAula 5 as doenças os doentes e os medicos
Aula 5 as doenças os doentes e os medicos
 
1.fundamentos epistemológicos da medicina introdução
1.fundamentos epistemológicos da medicina   introdução1.fundamentos epistemológicos da medicina   introdução
1.fundamentos epistemológicos da medicina introdução
 
Fundamentos epistemológicos da medicina
Fundamentos epistemológicos da medicinaFundamentos epistemológicos da medicina
Fundamentos epistemológicos da medicina
 
LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.
LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.
LATEC - UFF. A COMUNICAÇÃO MÉDICO-PACIENTE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO.
 
Aula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicação
Aula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicaçãoAula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicação
Aula CFM Relação Médico Paciente e os meios de comunicação
 

Mais de Carlos Frederico Almeida Rodrigues

Traumatismo craniano – classificação e epidemiologia regional
Traumatismo craniano – classificação e epidemiologia regionalTraumatismo craniano – classificação e epidemiologia regional
Traumatismo craniano – classificação e epidemiologia regionalCarlos Frederico Almeida Rodrigues
 
Análise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica pato
Análise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica patoAnálise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica pato
Análise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica patoCarlos Frederico Almeida Rodrigues
 

Mais de Carlos Frederico Almeida Rodrigues (20)

Hemorragia periventricular
Hemorragia periventricularHemorragia periventricular
Hemorragia periventricular
 
Cefaleia na emergência
Cefaleia na emergênciaCefaleia na emergência
Cefaleia na emergência
 
Transtornos do aprendizado
Transtornos do aprendizadoTranstornos do aprendizado
Transtornos do aprendizado
 
Disrafismos e hidrocefalias
Disrafismos e hidrocefaliasDisrafismos e hidrocefalias
Disrafismos e hidrocefalias
 
Neurofisiologia
NeurofisiologiaNeurofisiologia
Neurofisiologia
 
Líquido cefalorraquidiano
Líquido cefalorraquidianoLíquido cefalorraquidiano
Líquido cefalorraquidiano
 
Diagnósticos desafiadores - COMA
Diagnósticos desafiadores - COMADiagnósticos desafiadores - COMA
Diagnósticos desafiadores - COMA
 
Neurocirurgia
NeurocirurgiaNeurocirurgia
Neurocirurgia
 
Princípios das cirurgias dos tumores supratentoriais
Princípios das cirurgias dos tumores supratentoriaisPrincípios das cirurgias dos tumores supratentoriais
Princípios das cirurgias dos tumores supratentoriais
 
Quando encaminhar para um neurologista
Quando encaminhar para um neurologistaQuando encaminhar para um neurologista
Quando encaminhar para um neurologista
 
Acidente vascular encefálico
Acidente vascular encefálicoAcidente vascular encefálico
Acidente vascular encefálico
 
Traumatismo craniano – classificação e epidemiologia regional
Traumatismo craniano – classificação e epidemiologia regionalTraumatismo craniano – classificação e epidemiologia regional
Traumatismo craniano – classificação e epidemiologia regional
 
Ataxia e ..
Ataxia e ..Ataxia e ..
Ataxia e ..
 
Apresentação sist. límbico (1)
Apresentação sist. límbico (1)Apresentação sist. límbico (1)
Apresentação sist. límbico (1)
 
Sistema Límbico: uma abordagem neuroanatômica e funcional.
Sistema Límbico: uma abordagem neuroanatômica e funcional.Sistema Límbico: uma abordagem neuroanatômica e funcional.
Sistema Límbico: uma abordagem neuroanatômica e funcional.
 
Análise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica pato
Análise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica patoAnálise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica pato
Análise dos aneurismas intracranianos operados na policlínica pato
 
Toc
TocToc
Toc
 
Uno cc febril
Uno   cc febrilUno   cc febril
Uno cc febril
 
Lesões+do..
Lesões+do..Lesões+do..
Lesões+do..
 
Vias motoras
Vias motorasVias motoras
Vias motoras
 

A relação médico paciente na era da informatização (1)

  • 1. A relação médico-paciente na era da informatização. Carlos Frederico Almeida Rodrigues.¹ Isadora Cavenago Fillus.² ¹Médico – Santa Casa – RJ. Neurologia – HU Pedro Ernesto - UERJ. Neurocirurgia – HM Souza Aguiar – RJ. Neurocirurgia Pediátrica – IFF – FioCruz – RJ. Interne Service Neurochirurgie pédiatric – Hôpital de La Timone – Marseille – France. Mestre em Filosofia – PUCRS. Professor da Faculdade de Medicina da Unochapecó e da Unioeste (campus de Fco. Beltrão). ²Academica da faculdade de medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão.
  • 2. • É de conhecimento de todos que o desenvolvimento tecnológico tem contribuído com a medicina, principalmente nos últimos 20 anos, tanto na maior facilidade e precisão do diagnóstico, como em mais opções de tratamentos para as mais diversas enfermidades. A relação médico-paciente na era da informatização.
  • 3. • No entanto, a razão com o qual somos imbuídos nos permite vislumbrar aquilo que podemos fazer, mas também o que não devemos fazer. A relação médico-paciente na era da informatização. E é partindo desse princípio que devemos constantemente rever nossas ações na área da saúde, que por vezes se mostram tão dependentes das inovações tecnológicas e de um desejo cego de lutar contra a morte ao invés de a favor da qualidade de vida. Isso é importante para que não acabemos por fragilizar uma das mais importantes bases da medicina: a relação médico- paciente.Pope, Robert. Erica.
  • 4. • Existem limites para o uso de tecnologias? Se existem, quais são? Quando devemos deixar a natureza seguir seu curso? Quando devemos intervir? Esses são alguns dos vários questionamentos que fazemos, não necessariamente para obter respostas, pois talvez elas nem existam, mas para promover reflexões que discutam e reavaliem as ações médicas com cada paciente em específico. A relação médico-paciente na era da informatização. Pope, Robert. Chemotherapy.
  • 5. • Em especial, temos os conflitos encontrados ao lidar com o paciente terminal, que depois de ciente de sua situação pode escolher não ser entubado, mantido em aparelhos ou reanimado em caso de parada cardíaca, mesmo tendo uma equipe médica oferecendo diversas tentativas de contornar o fim que A relação médico-paciente na era da informatização. que ela mesma diagnosticou. Essa deve ser uma escolha oriunda da autonomia do paciente, pois o processo de morrer faz parte da vida e deve ter a cara que esse paciente quer dar. Pope, Robert. Visitors.
  • 6. • O setor da saúde é um dos que mais tem crescido na economia mundial. Números apontam “evoluções”, “desenvolvimento” e inovações. Mas o que está por trás de números frios que nos são apresentados? A arte de cuidar de outra pessoa realmente cabe em dados e estatísticas sem desumanizar-se? A assistência médica tem uma singularidade que não permite ser comparada com uma categoria econômica. A medicina é algo que não possui preço, pois não pode ser substituída por um equivalente, logo, possui dignidade. A relação médico-paciente na era da informatização.
  • 7. • O atendimento médico se diferencia de qualquer serviço prestado em indústrias, pois não se baseia em padronizações. O médico “não é o médico dos seres vivos em geral, nem mesmo o médico do gênero humano, mas o médico do indivíduo humano". Logo, nenhuma ação médica pode ser baseada no bem de uma maioria, ou pensando em um suposto progresso científico, mas sim no ser humano individual que procura o serviço do profissional. A relação médico-paciente na era da informatização.
  • 8. • Não são as tecnologias ou a informatização da medicina as causadoras dos problemas, mas sim nosso aceitar sem questionar dessa dita “evolução”. As inovações surgem com uma velocidade muito acima da nossa de refletir sobre as coisas que nos são “vendidas” e aceitamos tudo sem pensar se realmente é o caminho que queremos tomar. A relação médico-paciente na era da informatização. Pope, Robert. Radiation.
  • 9. • Não podemos ver como normal médicos que consultem os aparelhos e deem o diagnóstico com base somente em números frios, sem se quer olhar para o paciente que está no leito, ou uma medicina especialista que sabe tudo de um pequeno segmento do corpo, mas ao mesmo tempo não sabe nada pois desconsidera o paciente como um ser biopsicossocial. • Achar tudo isso normal é perder a sensibilidade de lidar com outro ser humano e tentar fugir da responsabilidade de estar com uma vida depositada em suas mãos. E é só “tentar” fugir, porque a responsabilidade é “sem escapatória”, como cita Lévinas. A relação médico-paciente na era da informatização.
  • 10. • Escutar, olhar, tocar. Verbos que traduzem a sensibilização do médico e do paciente no contato de um com o outro. A relação médico paciente é interagir com alguém que não se conhece, que é Outrem, que continuará eternamente estranho a você. O médico nunca vai saber tudo sobre o paciente e é neste estranhamento, nesta incompletude, que se inicia uma relação através do rosto, que em uma epifania, se revela, e das palavras proferidas no discurso. A relação médico-paciente na era da informatização.
  • 11. • Ainda que se saiba muito do outro não é o outro, mas apenas o que eu sei sobre ele e não podemos reduzir o outro ao que eu penso que ele é. O médico é responsável por aquele que nem conhece, mas procura considerar ao máximo todas as informações que possa reunir sobre aquele que lhe vem pedir ajuda, e assim, pensando no ser humano como um todo, desenvolver a arte de curar sem querer fazer com que essa complexa relação caiba em uma simples interação médico-doença A relação médico-paciente na era da informatização.
  • 12. • Todo o conhecimento técnico deveria ser a base que traz para o profissional confiança em seu próprio trabalho para lidar com essa responsabilidade por Outrem. É estar munido de todo um repertório que se adapte ao que o paciente precisa e quer. Entretanto o que acontece é que por vezes esse conhecimento não é mais uma arma de defesa, mas de retaliação do paciente em partes anatômicas que serão atendidas por médicos específicos. A relação médico-paciente na era da informatização. Pope, Robert. Heart Currents.
  • 13. • Anula-se por completo a pessoa a quem pertence aquele “pulmão” que está sendo consultado e a consulta só é dita “bem sucedida” quando se consegue etiquetar o paciente com o nome de uma doença. Infelizmente é comum ver um colega médico falando de quantos tumores tem de operar ou que vai passar visita no quarto de determinada síndrome, e assim vai se perdendo a visão do ser biopsicossocial que tem sua família, desejos e medos. A relação médico-paciente na era da informatização. Pope, Robert. The Sparrow.
  • 14. • “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” (Carl Jung) A relação médico-paciente na era da informatização. Robert Pope, Self Portrait with Dr. Langley