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pelos direitos da criança.
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Pequenos Descuidos, Grandes Problemas
Copyright by © Petit Editora e Distribuidora Ltda., 2008
1-3-08-5.000
Direção editorial: Flávio Machado
Assistente editorial: Dirce Yukie Yamamoto
Colaboração: Afonso Moreira Jr.
Chefe de arte: Mareio da Silva Barreto
Capa: Júlia Machado
Foto da capa: Marcelo Kura
Diagramação: Ricardo Brito
Revisão: Mareia Nunes
Auxiliar de revisão: Adriana Maria Cláudio
Fotolito da capa e impressão: S E R M O G R A F - Artes Gráficas
e Editora Ltda.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Canhoto, Américo.
Pequenos descuidos, grandes problemas / Américo Canhoto. -
São Paulo : Petit, 2008.
ISBN 978-85-7253-162-7
1. Crianças - Criação 2. Cuidados 3. Educação de crianças
4. Espiritismo - Filosofia 5. Pais e filhos I. Título.
08-00462 CDD: 133.901
índices para catálogo sistemático:
1. Educação de filhos : Doutrina Espírita 133.901
Direitos autorais reservados.
E proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma
ou por qualquer meio, salvo com autorização da Editora.
(Lei na
9.610, de 19 de fevereiro de 1998.)
Traduções somente com autorização por escrito da Editora.
Impresso no Brasil, no verão de 2008.
Prezado leitor (a),
Caso encontre neste livro alguma parte que acredita que vai interessar ou mesmo
ajudar outras pessoas e decida distribuí-la por meio da internet ou outro meio,
nunca deixe de mencionar a fonte, pois assim estará preservando os direitos do
autor e conseqüentemente contribuindo para uma ótima divulgação do livro.
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— Saúde ou doença: a escolha é sua
— Chegando à casa espírita
— Quem ama cuida
O tempo todo e em
qualquer lugar onde nos
encontrarmos, somos
educadores.
Para que os resultados
dos nossos esforços
em prol de uma vida
familiar melhor sejam mais
produtivos, é preciso
nos capacitarmos
para as tarefas que
nos aguardam.
Sumário
Apresentação 11
Um espectador privilegiado 11
Considerações iniciais 21
As crianças da nova geração 27
Nosso ponto de vista 28
Abordagem de questões 31
Parte 1: A educação deve visar desenvolver
a capacidade de discernir 36
Questionamentos 37
Quem somos nós? 37
Quem sou eu? 50
Quem é a criança? 53
Quem é o educador? 57
Quem é o educando? 59
A responsabilidade da mídia 60
Qual é o método pedagógico mais adequado? 61
A quem se destina a educação? 63
7
AMÉRICO CANHOTO
Parte 2: Relação familiar envolve compromisso... 66
O papel da família 67
Mudança de DNA 70
O que é a família? 70
A forma como a família é constituída 74
Parte 3: Planejar e gerenciar a vida em família
é uma conquista espiritual 76
Qualidade das relações na vida em família 77
Separação e abandono 80
Parte 4: Os pais não são responsáveis pelos
filhos, estão responsáveis 82
Causas da falência da família 83
Maneira de gerenciar 86
Ausência da mãe 87
Herança educacional 88
Educação íntima precária 90
Maturidade dos familiares 91
Senso de responsabilidade dos pais 93
Falta de diálogo 95
Conflitos 100
Parte 5: Não há pessoa mais desconhecida
para nós do que nós mesmos 104
Descuidos comuns na educação 105
Educar para a vida 108
8
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Falta de limite 110
Tentativa de domínio pelo medo 116
Senso de honestidade dos pais 117
Controle 119
Manipulação 120
Chantagem 122
Cultura das pequenas mentiras 123
Perda de autoridade 125
Pensamento mágico 127
Criação de paradoxos 129
Vícios 132
Inversão de metas e suas conseqüências 134
Projeção de frustrações 136
Padronização 140
Em busca de privilégios 141
Cultivo do meio-termo 143
Aceitação das injustiças 146
Demasiada exposição à ação da mídia 148
Entretenimentos perigosos 150
Parte 6: Família: oficina onde aprendemos
a arte de amar 154
Reestruturação da família 155
Modernização da forma de gerenciar a vida familiar .159
Reciclagem do educador 164
Escola de pais 165
Educação compartilhada 167
9
AMÉRICO CANHOTO
A arte de educar 168
Leis básicas da vida: ensino obrigatório 180
Parte 7: Alguns distúrbios do comportamento
poderiam ser evitados se nós, adultos,
prestássemos mais atenção às crianças,
analisando suas atitudes, impulsos e
tendências naturais 190
Parte 8: A mudança de pequenas coisas
na vida da criança é muito importante para
seu bem-estar 198
Recursos de grande utilidade 199
Considerações finais 204
Bibliografia 210
10
Apresentação
vivendo uma fase de transição acelerada. A
Terra encaminha-se a passos largos para ser um mundo de re-
generação, no qual haverá a predominância do bem. Por assim
dizer, trata-se de delicada cirurgia cósmica que desperta a aten-
ção e o interesse de todos aqueles que trabalham em prol da
paz e da harmonia do universo.
Espíritos de outros lugares e dimensões estão vindo até
nós e reencarnando por toda parte do orbe terrestre, entre os
quais estão as chamadas crianças da nova geração.
UM ESPECTADOR PRIVILEGIADO
Desde 1977, na condição de médico de família, acom-
panhei o nascimento e o desenvolvimento de muitas crianças.
Hoje tenho a alegria de atender os filhos daqueles a quem con-
sidero "minhas crianças".
Ao longo desses anos, sou testemunha do quanto o de-
senvolvimento dessas crianças tem sido acelerado. Costumo co-
mentar com seus pais que, mal saem do útero, já estão querendo
II
AMÉRICO CANHOTO
saber onde estão e quem se encontra a seu redor. Brincando,
digo que em breve vão nascer falando.
Até recentemente, atribuía esse desenvolvimento acele-
rado ao nosso estilo de vida, aos estímulos de todo o tipo que
nos alcançam. Pouco a pouco, mudei de idéia, porque essa
explicação me pareceu insuficiente. Considerei também que
não estamos preparados para mudanças tão rápidas, mas sim
confusos diante de tanta precocidade.
Observei que, a princípio, os pais geralmente ficam des-
lumbrados com o filho, pequeno gênio que fazem questão de
exibir, e destacam suas habilidades. Esse deslumbramento,
no entanto, dura pouco: descobrem que essa criaturinha tem
idéias próprias, não aceita ordens, enfrenta os adultos de igual
para igual e, às vezes, até parece que lê pensamentos, além de
manipular as pessoas com extrema facilidade, lembrando-nos
de Gremlins, de Steven Spielberg. Assistam ao filme e percebam
a analogia. Nele fica patente o que ocorre quando uma regra
muito simples não é respeitada.
Ao longo dos anos, tenho observado a angústia de pais
que se sentem perdidos na educação dos filhos, até mesmo de
crianças que se enquadram nos padrões normais de compor-
tamento. Essa angústia é ainda maior quando recebem uma da
nova geração para encaminhar na vida. Nesse caso, as dificul-
dades dos pais são ainda maiores. O que fazer? Onde buscar
soluções?
Muito tenho lido e ouvido falar sobre a necessidade ur-
gente de desenvolver-se uma nova pedagogia, adequada às
12
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
novas crianças. Concordo, mas não acredito na eficácia de ne-
nhuma solução enquanto nós, adultos, não nos reeducarmos.
É hora de reavaliar nossos paradigmas.
Para a maioria dos pais, educadores e profissionais da área
da saúde, a criança da nova geração é um problema, quando,
na verdade, ela é parte da solução da maioria de nossos proble-
mas. Por intermédio delas, que não aceitam as imposições da
atualidade, somos forçados a mudar para melhor, o que acelera
nossa evolução...
Geralmente sou questionado por causa desse posiciona-
mento - querem saber de onde tirei estas idéias. Elas estão fun-
damentadas na experiência de uma vida dedicada à saúde do
próximo. Essa experiência, que é bem modesta, inclui o atendi-
mento clínico a famílias, participação em projetos relacionados
à área de educação e ainda 14 anos de vivência cotidiana em
berçário e escola de educação infantil. Além do conhecimento
científico que busco atualizar, tenho aproveitado inúmeras ex-
periências profissionais que a vida me proporcionou e que me
ajudaram a crescer.
Na medida do possível, desejo compartilhar meu aprendi-
zado com todos aqueles que, de boa vontade, tenham interesse
em aprimorar-se para ajudar a melhorar o mundo em que vive-
mos. Nesse sentido, ministro palestras e seminários, promovo
oficinas culturais, escrevo artigos e livros. Denominei esse meu
esforço de projeto "Educar para um Mundo Novo". Seu objetivo
básico é repensar a educação e integrar os adultos para que,
com as crianças, possam reciclar seus conhecimentos.
13
AMÉRICO CANHOTO
É minha intenção promover um debate em torno da
natureza das crianças de hoje, cuja educação é considerada
um problema de difícil solução. Essas crianças se apresentam
muito diferenciadas daquelas que as antecederam. Não nos
preparamos para recebê-las, embora essa nova geração tenha
sido anunciada há muito tempo... Esse despreparo é ainda mais
agravado pela nossa dificuldade em aceitar o que é novo, o
que é diferente do que já conhecemos. Inseguros, rejeitamos
quaisquer inovações e estagnamos. Por comodismo, adotamos
a opinião da maioria, fazendo o mesmo que os outros, des-
preocupados se isto é o certo ou o errado. Seguir a maioria
é o nosso álibi.
Este livro é uma tentativa de fazer uma reflexão sobre a
necessidade de mudar essa postura. É o resultado do trabalho
de muitos anos, no qual inserimos a questão das crianças da
nova geração, com o objetivo de esclarecer a que vieram, ana-
lisando-as livres de preconceitos e misticismo.
As crianças de hoje não são gênios
nem seres iluminados, apenas trazem consigo
certas habilidades e um grande potencial
a ser desenvolvido. A questão é:
o que vamos ensinar a elas?
Neste livro, não vou me deter na análise das crianças
da nova geração; meu objetivo é abranger todas as crianças.
Para tanto, acredito que devemos nos preparar para educá-las,
14
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
reformulando nosso modo de ser e de entender a vida. Estou
certo de que educamos a partir do nosso exemplo, já que sim-
plesmente compartilhamos aquilo que somos e o que sabemos.
Pretendo estabelecer um diálogo com aqueles que admi-
tem que a educação de hoje é falha e precisa mudar. Desejamos
o melhor para nossos filhos: saúde, alegria, paz, prosperidade...
Procuramos educá-los para que sejam os melhores, os mais sau-
dáveis, os mais felizes entre outras crianças. Mas estamos fa-
dados a não atingir nosso objetivo porque ainda não sabemos o
que é a felicidade, a saúde, a paz, a prosperidade e a harmonia.
Precisamos rever os conceitos, buscar a verdade, e a verdade
nos libertará das dores, da aflição e da ignorância.
Todo cuidado é pouco:
não podemos projetar nos filhos a
realização de nossos desejos e expectativas.
Não será por intermédio deles que vamos
nos livrar de nossas frustrações.
E um devaneio pretender que nossas fantasias que não
conseguimos vivenciar realizem-se por intermédio de nossos
filhos. Eles têm seu próprio caminho: o que devemos fazer é
prepará-los e incentivá-los para conquistar seus ideais.
Fomos, porém, educados para viver num mundo de ilu-
sões e aparências, povoado de valores que flutuam ao sabor dos
desejos e interesses do momento. Ou seja, estamos perdidos.
Em relação aos nossos filhos, caso não mudemos nosso modo
15
AMÉRICO CANHOTO
de viver e entender as coisas como elas são, seremos cegos a
guiar cegos*, como nos alertou Jesus.
Toda criança necessita de cuidados,
atenção, respeito e amor.
Estamos cercados de objetos e utensílios descartáveis, o
que gera hábitos consumistas, bem como uma cultura da su-
perficialidade do "usar e jogar fora". Quando alguma coisa ou
alguém não nos interessa mais ou não nos satisfaz na medida
de nossos interesses, nós o descartamos. Esse modo de agir
contaminou nossas relações: quando alguém não corresponde
às nossas expectativas, é refratário à nossa autoridade, não
buscamos entender suas razões. Acusamos os jovens de rebeldes
e problemáticos, quando, na verdade, a rebeldia está em nós
mesmos por não aceitá-los como nossos iguais e entender que
apenas reencarnamos antes deles...
Desde Sócrates e Platão, os filósofos da Antiguidade se
detiveram diante das dificuldades de relacionamento entre
as gerações. Se amamos nossos filhos, devemos demonstrar
esse amor, cercando-os não apenas com cuidados, mas tam-
bém dando ouvido a eles, além de respeitar seu modo de ver
as coisas.
Poucos estão preparados para as grandes mudanças que
a Terra já está vivendo nos dias de hoje e que, com o passar
* Mateus, 15: 14. (Nota do Editor)
16
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
dos dias, serão ainda maiores e mais drásticas. A maioria dos
pais, acomodados ou sentindo-se incapazes de educar os filhos,
repassa essa responsabilidade para a escola. Esse é um grande
erro, sobre o qual vamos nos deter, em busca da renovação
de atitudes.
Educar exige preparo,
reciclagem rápida e contínua.
E necessário que os pais se preparem para receber os
filhos com consciência para obter sucesso em sua educação.
Não se trata da educação ideal, pois não há filhos ou pais ideais.
Existe apenas a realidade de cada um. O método informal de "ir
levando a vida para ver no que dá" já provou sua ineficácia.
Hoje, para atingir um padrão de qualidade melhor, é pre-
ciso que tenhamos metas a serem alcançadas e que busquemos
os recursos necessários para atingi-las. Essa providência é in-
teressante em especial na formação da nova geração, pois ela
não aceita imposições nem regras que não sejam obedecidas
por todos.
É importante aprender a arte de compartilhar,
e não apenas ditar regras.
Quando percebermos que educamos mais por meio de
nossas atitudes, ficará mais fácil entender que não se pode con-
trolar o aprendizado de outra pessoa, não é esse nosso papel.
17
AMÉRICO CANHOTO
Desse momento em diante, nós nos sentiremos aliviados, pois
tiraremos dos ombros um pesado e indevido encargo: o controle
do destino do próximo.
A educação compartilhada ajuda a definir o papel de
todos. Nela, destaca-se a função de cada um, seu papel espe-
cífico. Os pais, a família, a escola, a sociedade, todos têm fun-
ções interdependentes. Inclusive, a própria criança. Se as
expectativas de uma educação de boa qualidade serão ou não
atendidas, dependerá de uma série de fatores que, embora se
complementem, são independentes. Definir direitos, tarefas e
funções é um passo inicial importante.
A análise do papel que cada um cumpriu bem ou mal
interessa apenas a quem o revisa. E a inteligência determina
que essa reavaliação deve constituir apenas uma revisão de metas,
sem o cultivo de sofrimentos. Também não adianta "jogar a
toalha" e gritar: "Não sei mais o que fazer!". Não há como de-
sistir: os filhos são para toda a existência...
Vamos apenas relembrar alguns erros que, de tão comuns
nem mais os percebemos nas lides do dia-a-dia, mas que po-
derão, no futuro, pela sua repetição, causar muita dor e sofri-
mento tanto para os adultos quanto para as crianças.
Aproveitamos para reforçar um alerta a respeito da tran-
sição que estamos vivendo: de alguns anos para cá, tudo anda
cada vez mais célere, inclusive a Lei de Ação e Reação. Em
outros tempos era possível reparar ou consertar os estragos que
cometíamos com relativa tranqüilidade. Mas, atualmente, o
espaço entre a causa e o efeito está diminuindo cada vez mais.
18
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Caso continuemos a teimar em continuar presos aos
mesmos padrões, o risco de não haver tempo hábil para as
correções é grande. Para mim, o mais interessante, depois de
estudar detidamente as características da nova geração, foi
descobrir que preencho muitas delas. Se eu tivesse essas infor-
mações antes, será que minha vida teria sido diferente?
Que o azul, que é a cor do nosso planeta visto do alto,
nos envolva a todos na oportunidade deste diálogo aberto.
Sejam bem-vindos!
Américo Canhoto
19
Considerações iniciais
termos e às concepções empregados no decorrer do livro, acha-
mos por bem apresentar alguns que já conhecem e que ouvirão
muito daqui em diante. Deixo claro que não concordo nem
discordo inteiramente de nenhum deles, mas, a partir deles,
tentaremos formatar nossa própria forma de ver, sentir e agir.
0 objetivo deste livro é provocar no leitor a atitude de
duvidar, criticar, vivenciar e utilizar o que for possível e perti-
nente, com um único intuito: proporcionar a saúde e a felici-
dade de seus filhos.
Nossas crenças não mudam as leis que regem a vida cós-
mica. Tanto faz crer ou deixar de crer nelas, tudo continua
sendo como deve ser: simples, igualitário ou divinamente per-
feito. Um dia iremos amadurecer e deixar de bancar deuses em
defesa de interesses próprios.
Apenas para servir de parâmetro aos leitores: nas minhas
convicções religiosas, já fui católico de berço e de "vestir a camisa";
depois, apenas por não aceitar nenhum tipo de dogma, conheci e
vivenciei a prática de muitas outras; o que gostaria de dividir com
o leitor fique posicionado em relação aos
21
AMÉRICO CANHOTO
os leitores: nenhuma consegue ofender minha convicção de que
devemos ser atuantes e amorosos. O conceito de nova geração
está acima de dogmas e de qualquer sistema de crenças, é uma
realidade com a qual devemos aprender a conviver.
Devo admitir, por exercício de humildade, que o con-
tato com o conceito de nova geração preencheu várias lacunas
nas minhas dúvidas e questionamentos sobre tão interessante
assunto e forneceu-me para compartilhar com os pais dessas
crianças uma nova abordagem, muito diferente dos antigos
paradigmas educacionais.
A pedagogia de valores, anunciada por Jesus e outros e
formulada em parâmetros educacionais por Egidio Vecchio, re-
vela inúmeros pontos em comum com nossa visão sobre como
participar da educação das crianças de hoje e de amanhã - pois
a base é a mesma - e reforça a idéia de estarmos a caminho de
uma educação mais adequada aos novos tempos.
Vivemos numa época cada vez mais acelerada e com fortes
marcas de ação inteligente nas transformações que se operam;
o que, por si só, já explica uma parte das saudáveis mudanças.
Nos livros da Codificação Espírita, há muitos convites à refle-
xão a esse respeito: algumas dessas mudanças já são bem claras
e inquestionáveis; já outras necessitam de mais tempo para que
cada um de nós possa tirar suas próprias conclusões.
Lê-se em A Gênese, no capítulo 11:
"Logo que um mundo tem chegado a um de seus pe-
ríodos de transformação, a fim de ascender na hierarquia dos
22
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
mundos, operam-se mutações na sua população encarnada e
desencarnada. É quando se dão as grandes emigrações e imigra-
ções. Mas, ao mesmo tempo que os maus se afastam do mundo
em que habitavam, Espíritos melhores aí os substituem, vindos
quer da erraticidade, concernente a esse mundo, quer de um
mundo menos adiantado, que mereceram abandonar (...)."
"São às vezes parciais essas mutações, isto é, circunscritas
a um povo, a uma raça; doutras vezes, são gerais, quando chega
para o globo o período de renovação."
Comentário: embora as crianças de hoje sejam dife-
rentes das antecessoras, vale a pena aguardar mais fatos e o
decorrer do tempo.
Em A Gênese, capítulo 18, lê-se:
Perturbação
"Onde nos parece haver perturbações, o que há são mo-
vimentos parciais e isolados, que se nos afiguram irregulares
apenas porque circunscrita é a nossa visão. Se lhes pudéssemos
abarcar o conjunto, veríamos que tais irregularidades são apenas
aparentes e que se harmonizam com o todo."
Mundo de regeneração
"Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que
somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados.
23
AMÉRICO CANHOTO
Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica
dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda
não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo
dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão,
lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constitui-
riam obstáculo ao progresso (...)
Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinarem em
seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. A Terra, no dizer dos
Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo
que aniquile de súbito uma geração. A atual geração desapare-
cerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem
que haja mudança alguma na ordem natural das coisas."
Comentário: provavelmente, a geração atual desapa-
recerá por meio de doenças, pois as crianças estão pulando as
doenças dos adultos e indo diretamente para as de idosos.
Lê-se ainda em A Gênese, capítulo 18:
"(...) uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí
não mais tornarão a encarnar.
Em cada criança que nascer, em vez de um espírito atra-
sado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um
Espírito mais adiantado e propenso ao bem.
Assim, decepcionados ficarão os que contem ver a trans-
formação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.
(...) a nova geração se distingue por inteligência e razão
geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a
24
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo
grau de adiantamento anterior.
Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminente-
mente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham
predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a
secundar o movimento de regeneração.
E muito simples o modo por que se opera a transformação,
sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em
nada das leis da natureza.
Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos
encarnados formarão duas categorias: de um lado os retardatá-
rios, que partem; de outro, os progressistas, que chegam."
Comentário: os retardatários refletem a grande maioria
chamada normal; já os progressistas podem ser as crianças hoje
rotuladas de problemáticas - apenas por perturbarem a velha
ordem dos interesses em vigor.
Continuando o estudo do livro A Gênese, de Allan Kardec,
ainda no capítulo 18:
Desencarnações coletivas:
progresso
"As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por
único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais
rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências,
e o de dar maior ascendente às idéias novas.
25
AMÉRICO CANHOTO
Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atin-
gem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo
corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento
progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados.
Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quimé-
ricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum (...)•"
Comentário: de acordo com o resultado de nossas
observações diárias ao longo do tempo, estamos convencidos
de que, graças ao sistema de educação vigente, grande número
de espíritos - hoje na condição de crianças - terá existência
muito curta por causa dos efeitos do estresse crônico, o qual é
a marca registrada da antiga geração.
Allan Kardec, em A Gênese, capítulo 18, continua com o
estudo dessa questão:
Regeneração da humanidade
"A época atual é de transição; já se misturam os elementos
das duas gerações. Quem estiver de fora assistirá à partida de
uma e à chegada de outra (...).
Tudo se concluirá com a geração que se vai, e a que lhe
suceder elevará novo edifício, que as subseqüentes consolidarão
e completarão."
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
encontra-se o seguinte comentário:
26
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
"Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos
em que todas as coisas devem ser restabelecidas em seu verda-
deiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e
glorificar os justos."
AS CRIANÇAS DA NOVA GERAÇÃO
Considero nesta abordagem o entrelaçamento das duas
gerações citadas: de retardatários e progressistas. Para fins con-
ceituais, distingo a geração progressista entre "reformadores" e
"sábios", mas não as tendências de cada um deles:
• A precocidade é sua marca registrada;
• Necessitam de disciplina coerente;
• Viciam-se com facilidade;
• No geral, são mais bonitas que as gerações anteriores;
• Seu potencial dos vários tipos de inteligência supera o
das antigas crianças;
• Necessitam de adultos emocionalmente estáveis e se-
guros ao seu redor;
• Não aceitam autoridade por imposição;
• Dizem o que pensam e só fazem o que desejam;
• São mais práticos;
• São manipuladores ao lado de adultos inseguros;
• São vulneráveis à aceleração: instáveis, apresentam
déficit de atenção seletiva e, por isso, se lembram
apenas do que lhes interessa.
27
AMÉRICO CANHOTO
NOSSO PONTO DE VISTA
Convidado a participar de seminários sobre educação,
tenho deixado claro o meu ponto de vista, baseado em estudos
e observações de pacientes que atendi ao longo do exercício
clínico como médico-orientador de famílias. Nesse trabalho,
tenho a certeza absoluta de que tenho o amparo de mentores
amigos e espíritos benfeitores, que me intuem sugestões a serem
transmitidas aos que me procuram todos os dias em busca de
alívio para dores e sofrimentos.
Ao longo deste livro, apresentarei minha forma parti-
cular de ver e de perceber as reações e posturas da criança
da nova geração e das demais, embasado na experiência de
um trabalho profissional de muitos anos. Por vezes, poderá
parecer que contradigo a opinião de outros estudiosos, mas,
ao final, veremos que apenas as repito ou mesmo as com-
plemento.
Minha visão de mundo sofre a cada dia novas inter-
venções. Já a espinha dorsal, base das minhas convicções,
encontra fundamento no livro A Gênese, de Allan Kardec,
especialmente nos capítulos 11, 17 e 18.
Resguardo a intenção deste escrito: pequenos descuidos
tornam-se no futuro grandes problemas quando a educação
é conduzida sem planejamento. Vamos nos ater ao tema, na
tentativa de adquirir disciplina, que é virtude fundamental do
espírito que busca alçar vôo da terceira dimensão, mundo este
onde nos encontramos, para as outras.
28
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Apenas para compor o quadro dos diferentes tipos de
crianças da atualidade, com a intenção de facilitar seu en-
tendimento, identificaremos as crianças em grupos distintos,
embora separar gerações seja tão complicado quanto distinguir
distúrbios psicológicos (neurose, psicose, personalidade psico-
pática, transtorno bipolar etc.).
As gerações têm idéias e pontos de vistas diferentes,
às vezes opostos. Como o momento é de transição, confun-
dem-se e misturam-se os elementos de duas gerações milenares.
A mudança, que se dava de forma gradativa, atualmente está em
sua fase final, na qual atingirá o clímax determinado pelo nosso
comportamento: o estresse crônico, que levará ao desencarne
milhões de pessoas cada vez mais rapidamente, sem necessidade
de que ocorram desastres físicos, climáticos e geográficos. Apenas
para exemplificar: cada vez mais, as crianças vão sofrer doenças
próprias dos idosos como diabete, enfarte, acidente vascular ce-
rebral, câncer de todos os tipos, depressão, angústia, pânico...
Geração antiga
Podemos enquadrar na geração antiga a quase totalidade
daqueles que hoje rotulamos de pessoas "normais", adaptadas
aos padrões contemporâneos. Os "normais" não são espíritos
propensos ao mal, mas sim tendenciosos à ausência do bem e
aos vícios cada vez mais degradantes. Além disso, estão cen-
trados em si mesmos, nos seus interesses pessoais e familiares
ou grupais. Não são, portanto, nem bons nem maus.
29
AMÉRICO CANHOTO
Predominam neles orgulho, inveja, egoísmo, narcisismo,
intolerância e impaciência. Deles é que a Terra precisa ser ex-
purgada, pois se obstinam em não se emendar. São pessoas que
fazem questão de acreditar em sorte, azar, destino, sobrena-
tural, alimentos diet e light* e crêem que "um pouquinho só não
faz mal", no "beba com moderação", "fume com moderação",
"use camisinha em relações suspeitas" e por aí afora...
Geração transitória
Por estarem mais amadurecidos, apesar de suas imper-
feições, muitos partem cada vez mais rapidamente.
Os "normais" acelerados, ou melhor, os que estão subme-
tidos ao processo de aceleração da última fase da atual transição
planetária, são basicamente as crianças que sofrem fortemente
a pressão da angústia, do pânico, da depressão e doenças como
o câncer.
Por meio de nossos livros e palestras, estimulamos as pes-
soas a pensar e desenvolver o raciocínio crítico revelado por Jesus
quando nos afirmou que somente a verdade nos libertará**.
Pais, mestres e cidadãos adeptos dos vários sistemas de
crenças e de todas as origens sociais devem com urgência re-
ciclar sua visão de mundo para entender, dentre outras coisas,
* Inúmeros produtos rotulados de diet e light contêm mais calorias que os normais e
não apresentam informações sobre os efeitos colaterais dos produtos químicos nos
rótulos. Acho importante lembrar disso porque sei que, quando confiamos que um
produto não é prejudicial, costumamos usá-lo sem critério. (Nota do Autor)
**]oão, 8:31,32. (RE.)
30
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
que de fato existe uma Lei de Ação e Reação e que o que gera
nossa realidade são nossos atos.
Nova geração
Caracteriza-se por pessoas dotadas, desde o nascimento,
de potencialidades acima da média, muito mais propensas ao
bem, porém ainda suscetíveis de buscá-lo por meio da visão de
mundo dos "normais".
Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova
geração se distingue por sua inteligência e razão geralmente
precoce, bem como por sentimento inato de religiosidade des-
provido de dogmatismo.
ABORDAGEM DE QUESTÕES
A educação ainda sofre
de um mal crônico: a falfa
de planejamento.
Falta-nos compreensão do que seja educar. Para a maior
parte das pessoas, educar um filho é ditar-lhe regras ou propor-
cionar-lhe um banco escolar sobre o qual atravessará boa parte
de sua vida para receber a instrução formal.
As informações adquiridas nas salas de aula nem sem-
pre serão verdadeiras ou úteis e, o que é pior, pouco serão
utilizadas...
31
AMÉRICO CANHOTO
Na vivência descuidada,
pequenos deslizes tornam-se graves
e dolorosos problemas.
O estilo "levar a vida e sobreviver do jeito que dá", sem
parar para pensar e planejar, é absorvido pela criança e enten-
dido como se fosse um comportamento "normal". Esse modo
de agir, que é repassado de geração a geração, nos mantém pri-
sioneiros, dependentes de favores.
Conceitos e valores errôneos, reforçados e repassados
de uma geração a outra, hoje transmitidos com mais inten-
sidade pela mídia, acabam por gerar mentira, oportunismo,
agressividade, calúnia, maledicência, orgulho, inveja, traição,
intolerância.
A educação deveria nos estimular a desenvolver pa-
ciência, tolerância, respeito, simplicidade, senso de ética e de
justiça, qualidades muito valorizadas na teoria, mas pouco cul-
tivadas na prática. Exemplo: quando pedimos a uma criança
que vá ao mercado comprar alguma coisa, não devemos pro-
por-lhe que compre uma guloseima com o troco para executar
essa tarefa. Um dia, condicionada por esse comportamento
- toma lá, dá cá - poderá freqüentar os noticiários como de-
putado, presidente, senador ou policial, por exemplo, adepto
do suborno.
Quem não conhece o popular refrão dos pais que come-
tem erros: "Não foi isso o que eu ensinei!"? Um dia, em algum
lugar, teremos de prestar contas à própria consciência do que
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
oferecemos aos que a divina providência nos confiou como
filhos, ou mesmo àqueles que estão sob nossa responsabilidade.
Até há alguns anos, o sistema educacional, com todas as
dificuldades, dava a impressão de funcionar a contento. No
entanto, nesta fase de transição planetária, ficam evidentes
suas deficiências.
Geração após geração,
nós nos apegamos obsessivamente
às sensações.
Os hábitos alimentares podem servir de exemplo tanto
à obsessão quanto à lentidão em nos reciclarmos. Mudam
muito pouco de uma geração a outra sob circunstâncias bem
diferenciadas.
A avó que parou no tempo premia todos os dias os netos
com guloseimas, esquecida de que na sua infância eram ofe-
recidas apenas em ocasiões especiais. Dessa forma, isso não
causava danos à saúde daqueles que as recebiam.
Analisemos nossa tendência para consumir carboidratos
(contidos no arroz e no feijão, por exemplo). Antigamente,
predominava o trabalho braçal. Na atualidade, mesmo os que
levam uma vida de pouco ou nenhum uso do corpo conservam
os hábitos herdados dos antepassados: alimentam-se além de
suas necessidades.
0 resultado é o aumento da incidência de diabete em
todas as idades e da obesidade infantil, presente em crianças de
33
AMÉRICO CANHOTO
todas as classes sociais, a ponto de tornar-se um sério problema
de saúde pública.
As crianças consomem de tudo, sem nenhum controle.
Os pais se omitem por ignorância ou comodismo. Os poucos
que se preocupam em mudar a sistemática da alimentação
discursam para uma platéia surda.
Nenhum recurso vai eliminar miraculosamente as con-
seqüências de anos de má alimentação. Minha intenção não é
simplesmente criticar, muito menos apontar erros para despertar
culpas e remorsos, mas de alertar o leitor para que faça as ne-
cessárias mudanças nos seus hábitos, as quais vão beneficiá-lo
e servir de exemplo não apenas para seus filhos, mas para todas
as pessoas que o rodeiam.
Nossa contribuição é ofertar material para reflexão, tes-
tado entre as quatro paredes de um consultório e fora dele,
para que a sucessão de pequenos descuidos, ao longo de uma
vida, não se transforme num problema grave, de lenta e dolo-
rida resolução.
34
A reestruturação
da família começa com
o aprendizado do diálogo.
É fundamental cultivar o
hábito de conversar sobre
temas importantes e
inteligentes, mas com bom
humor. A alegria cativa
as pessoas, torna o
diálogo mais agradável
e atraente.
A EDUCAÇÃO DEVE
VISAR DESENVOLVER
A CAPACIDADE DE
DISCERNIR
QUESTIONAMENTOS
Esclarecendo dúvidas
0métodoque indicamos é o mais simples e na-
tural possível: duvidar e, em seguida, refletir (experimentação
e reavaliação periódica). O material pedagógico são as coisas e
os fatos mais simples do dia-a-dia. O roteiro mais fácil a ser se-
guido é o sistema de reestruturação usado em muitas empresas:
metas, projetos, reposicionamento constante, reavaliação dos
recursos e objetivos.
0 primeiro passo da reestruturação íntima e familiar é
abordar algumas questões: "Quem somos nós?; O que fazemos
aqui?; Quem é minha família?; Quem são meus filhos?; O que
é educar?; Qual o melhor método de educação?; Quem é o
educador?; Quem é o educando?; Quando termina o processo
educativo?; De quem é a responsabilidade da educação?".
QUEM SOMOS NÓS?
Viver nos dias de hoje parece algo complicado, difícil e
caro. Gastamos grande parte do nosso tempo e conhecimento
para ganhar dinheiro e por vezes custear a educação dos filhos.
Vez ou outra somos obrigados a nos deparar com jornais e re-
vistas que apresentam gráficos e pesquisas de quanto custa
um filho e sua educação (leia-se instrução). Essas reportagens
servem de estímulo para que muitas pessoas evitem ter filhos.
37
AMÉRICO CANHOTO
Confundimos educação com simples treinamento e instru-
ção. Desembolsamos uma fortuna para que nossos filhos perma-
neçam na escola boa parte de suas vidas para aprender coisas sem
muita utilidade prática. Claro que num mundo onde a tecnologia
se torna cada vez mais importante, alguns conhecimentos são
necessários, mas não podemos nos esquecer de outros aspectos
que nos caracterizam como pessoas sadias e felizes. Muitas vezes,
nessas instituições de ensino, eles são cobrados em demasia por
resultados que não conseguem alcançar, para depois, fracas-
sados, caírem em depressão, angústia existencial ou pânico.
Onde falhamos?
Desperdiçamos ensinamentos que a vida nos apresenta
no cotidiano de nossa existência, talvez por serem ofertados
de graça pela divina providência - não os valorizamos. Qual
a razão dessa atitude? A crise na educação, em grande parte,
tem sua origem no desconhecimento de quem somos e qual a
nossa função.
Entre nós e os animais irracionais,
há muitas semelhanças e algumas diferenças...
Os animais, guiados pelos instintos, não têm problemas
para comer, saciar a sede, respirar, urinar, evacuar. Qual é a
razão da inapetência, da constipação intestinal, da asma, da
insónia de nossas crianças? Estou certo de que a origem de todos
38
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
esses males encontra-se no tipo de educação que recebemos e
que transmitimos aos nossos filhos. Mesmo que estes já tenham
desaprendido de dormir, respirar, comer e até evacuar - o que
não ocone com os animais, caso contrário não sobreviveriam -,
mesmo assim, se os educarmos corretamente, fazendo-os en-
tender o que é o corpo humano, como funciona, quais são suas
necessidades, os problemas que poderão advir dos nossos maus
hábitos alimentares e comportamentais poderão ser sanados.
Os instintos guiam o animal, que pode ser domado ou trei-
nado, e suas emoções parecem ser primárias. A mais evidente di-
ferença entre racionais e irracionais é a capacidade de pensar de
forma contínua. Nós, os racionais, pensamos, sentimos e somos
capazes de agir; portanto, em teoria, podemos nos educar.
A educação deve visar desenvolver
a capacidade de discernir.
Pensar/sentir/agir é um processo que deve estar sempre
integrado, embora às vezes pensemos uma coisa, digamos outra
e ajamos de forma discordante, pois quer queiramos quer não,
nossas ações provocam reações e, ao recebê-las, devemos dis-
cernir se continuamos agindo da mesma forma ou mudamos
nosso modo de nos comportarmos.
Se pretendemos educar nossos filhos, em vez de apenas
treiná-los, é preciso, em primeiro lugar, que fique bem claro para
eles que suas ações vão gerar efeitos muito além da imaginação,
pois não há apelação no caso da propagação dos seus efeitos.
39
AMÉRICO CANHOTO
Desculpas ou pedidos de perdão sem que, ao mesmo tempo, bus-
quemos reparar os erros cometidos não resolvem. É certo, porém,
que podemos consertar o mal que causarmos a nós mesmos e aos
outros. Enquanto não o fizermos, aliás, essa dívida permanecerá
gravada em nossa consciência.
Algumas escolhas trazem prazer,
outras carregam dor: o tempo encarrega-se
de revelar o que semeamos...
A dor e o sofrimento são causados por escolhas erradas.
A repetição crônica desses erros revela que estamos nos ne-
gando a evoluir. A educação, nesse sentido, pode ser o fator
determinante de nossa mudança.
A criança da nova geração, por exemplo, é mais receptiva
a entender a necessidade de mudanças. Se lhe explicarmos o
que precisa fazer para ser feliz e se dar bem na vida, embasados
em argumentos bem fundamentados, ela vai, em primeira ins-
tância, refletir sobre nossas afirmações. Por exemplo: "Estou
com vontade de comer bombom, por que não posso comer todos
os que estão na caixa?" Se disser a ela que ficará com dor de
barriga ou algo parecido, ela pode dizer que não se importa.
Cabe a nós, adultos, provar-lhe o contrário não a medicando
quando resolver fazer esse experimento...
O modo de pensar cria nossa realidade:
é necessário idealizar o que desejamos para nós.
40
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
O pensamento contínuo é uma forma de energia que tem
o poder de deslocar elétrons de suas órbitas. O ato de pensar
cria e movimenta correntes eletromagnéticas e faz fluir a vida.
Vivemos na atmosfera fluídica gerada por nossos pensamentos.
Desde que nosso pensamento seja voltado para o bem, emitido
com intensidade - com fervor, com fé -, e seguido de ação,
poderá realizar-se, pois na terceira dimensão a força do pensa-
mento necessita de atitudes concretas de trabalho.
Quando pensamos, criamos a nossa realidade.
E interagimos com a realidade dos outros,
criando vínculos.
Como a intenção deste livro é oferecer um novo olhar
sobre a educação de nossas crianças, vale lembrar que elas po-
dem ser afetadas pelo pensamento dos adultos. Exemplo: se os
pais pensam continuamente que seu filho é incapaz, incompe-
tente para aprender, dependendo da intensidade do seu modo
de pensar, ele poderá vir a sê-lo, especialmente se vier acom-
panhado de palavras e atitudes. Se tal assertiva vale para o
pensamento negativo, ao qual nos referimos, vale também para
o positivo. Se afirmarmos que existem virtudes em nossos filhos
e os imaginarmos manifestando esses sentimentos, estaremos
contribuindo para semear o bem e a felicidade em suas vidas.
No consultório, atendo algumas crianças que adoecem
com mais freqüência do que outras e demoram mais para
atingir a cura. Na condição de médico de família, descubro
41
AMÉRICO CANHOTO
que em casos como esse geralmente algum familiar está en-
frentando um conflito que envolve doença, perda ou medo
da morte.
Noutras vezes, há uma guerra não declarada entre pais e
filhos, uma disputa para ver quem manda mais. Colocar uma
criança da nova geração sob tal pressão é desastroso para a
família, pois ela tira proveito da situação, manipula os pais e
pode até provocar a falência da família, sem que o deseje, pois
necessita mais do que as outras de segurança afetiva.
Algumas crianças, além disso, têm medo ou pavor de ir ao
médico. Na maioria das vezes, esse pânico é resultado do pensa-
mento de pais ou familiares, contaminado com o "vírus" do medo,
do apego, da insegurança, da falta de soberania emocional.
A criança não tem capacidade para se proteger dessa
projeção mental de seus familiares, que por sua vez imaginam
que ela esteja doente ou tenha algum problema. Esse pensa-
mento negativo a envolve e contribui para que desenvolva o
temor pelo médico, que vai acompanhá-la por toda vida se não
for capaz de enfrentá-lo.
Com a finalidade de manipular os filhos, muitos pais
usam da visita ao médico como punição: "Se continuar assim,
vou levá-lo ao médico. Você vai ver o que é bom!". Se a crian-
ça muda seu comportamento, influenciada pela ameaça, pre-
miam-na com o adiamento indefinido da ida ao consultório:
"Como você está bonzinho, não vamos ao médico neste mês".
Esse tipo de atitude, contudo, é altamente prejudicial.
Pode agravar problemas que, em tempo hábil, seriam facilmente
42
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
extirpados. Os pais e familiares devem mudar seu pensamento: o
médico é um facilitador da saúde. Atende a criança com carinho
e a ajuda, segundo suas possibilidades, a viver melhor.
A criança da nova geração
não abre mão da liberdade.
Pensar permite escolhas: é a liberdade que nos permite o
livre-arbítrio. Quando desejar impor limites ou regras para uma
criança da nova geração, deixe em aberto uma ou várias alter-
nativas para que ela possa exercitar sua capacidade de escolha
entre aquilo que lhe é permitido.
Elas têm uma consciência inata de que pensar e escolher
é exercitar a liberdade que tanto ansiamos. Quando presenciam
a atitude passiva de seus pais, que aceitam os males que os ator-
mentam sem esboçar reações, impacientam-se. Perguntam a si
mesmas: "Porque meus pais abrem mão da liberdade de escolher
a felicidade? Por que se recusam a perceber que não escolher, se
acomodar, também é uma forma de fazer uma escolha?".
Nos dias de hoje, a grande maioria das pessoas não pensa
para não ter de escolher, como se isso fosse possível. Delegam
as escolhas corriqueiras a outros e imaginam, assim, esquivar-se de
arcar com as conseqüências, porém pequenos descuidos levam
a grandes problemas (aos quais, pela Lei de Ação e Reação, res-
ponderão no futuro...). Um exemplo disso, bem característico,
é a postura descuidada dos adultos diante da bula dos remédios.
"Para que lê-las? Por que perder tempo com aquele papelzinho
4 3
AMÉRICO CANHOTO
impresso com letras tão pequenas? Se o médico receitou, é ele
quem deve lê-la, não eu".
Essas pessoas recusam-se a encarar os dados que constam
da bula. Ler esse impresso significa inteirar-se dos males que
nos afligem e entender a ação medicamentosa, além de conhecer
os efeitos colaterais da medicação e sua composição.
O mesmo ocorre na educação de nossos filhos. Assim
como transferimos para o médico a responsabilidade total de
nos devolver a saúde, agimos da mesma forma em relação à
educação de nossos filhos. Jogamos a responsabilidade para a
escola. Não nos dispomos a ler o programa do curso e muito
menos a tomar conhecimento da bibliografia que será utili-
zada. Matriculamos a criança, compramos o material escolar
e o uniforme, enchemos sua mochila com alimentos indus-
trializados e, se estiver ao nosso alcance, contratamos o trans-
porte que vai levá-la à escola e trazê-la de volta ao lar. Essa
é a nossa parte! Os alunos parecem batatas quentes atiradas
aos professores.
A criança progressista - carente de afetividade e apoio
familiar e consciente das obrigações de seus pais para com elas
- pode perceber o que está por trás da atitude dos adultos: o
desejo de livrar-se do encargo de educá-la e até de conviver
com ela, pois sua forma questionadora de ser lhes tira o sossego.
Tem dificuldade em aceitar a educação que lhe é imposta e
causa algumas dificuldades aos pais e educadores. Como po-
demos observar, a Lei de Ação e Reação funciona de forma
acelerada: pais que se recusam a dar aos filhos a maior riqueza a
44
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
seu alcance - a educação - são vítimas do sistema, repassando
o que receberam; porém a atitude de alguns beira à omissão.
Criada num ambiente onde não
é permitido experimentar para aprender,
a criança recusa-se a crescer.
Muitas crianças recusam-se a alcançar a maturidade
psicológica (mental, emocional e afetiva) e mantêm de forma
acintosa posturas que não correspondem a sua idade. Essa ati-
tude não é simplesmente birra, é o reflexo do comportamento
de seus pais. E fruto da educação que apenas despeja informa-
ções em sua cabeça.
Geração após geração, não se permite à criança a li-
berdade de escolha. Quando, eventualmente, os adultos lhe
permitem isso, quase sempre ela é impedida de arcar com as
conseqüências, o que retarda significativamente alcançar a
maturidade psicológica.
Quais seriam os motivos principais que levam os pais a
impedir que a criança exercite a capacidade de pensar antes de
escolher, tornando-as incapazes de suportar os efeitos de suas
escolhas? Onde e com quem as crianças aprendem a desenvolver
esse padrão de atitudes pouco responsável? Meditem. No de-
correr deste livro, descobriremos respostas para essa questão.
A educação também deve desenvolver
a capacidade de sentir.
45
AMÉRICO CAN»
Perante as situações que vivenciamos, experimentamos
emoções e sentimentos que retomam ao corpo como sensações,
que devemos tentar interpretar. Quando nos recusamos a fazê-lo,
nós as materializamos como doenças. Se porventura nos causam
prazer, dizemos que são emoções boas. Se nos provocam dor ou
sofrimento, nós as classificamos como emoções ruins. Chamam
a isso de inteligência emocional. Como é fácil perceber, nossa in-
teligência emocional deixa muito a desejar, isso é cada vez mais
visível no dia-a-dia, em que, por exemplo, algumas pessoas não
conseguem parar de chorar sem motivo aparentemente lógico
para quem está de fora, para o observador.
Somos seres interdependentes, então permutamos emoções
e sentimentos. Em teoria, somos capazes de controlar a forma
como as emoções e os sentimentos dos outros podem nos afetar
mas não é o que se observa na prática: por exemplo, se num grupo
de pessoas há uma muito irritada, logo todos estarão discutindo
sem saber a razão. Poucas pessoas usam a razão para filtrar e
também para permitir quais energias podem ou não afetá-las.
Essa capacidade é entendida como a soberania da razão
sobre a emoção, uma conquista espiritual ainda ao alcance
de poucas pessoas. A dificuldade que temos para lidar com as
emoções na maioria das vezes nos causa problemas. Essa con-
fusão emocional é mais uma conseqüência da educação que
recebemos.
Não permitimos que a criança enfrente
emoções que rotulamos de inadequadas.
46
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
A criança está com raiva do irmão que lhe quebrou o
brinquedo e sua reação é dar-lhe uns tapas. Presenciando a
cena, dizemos à criança que o "Papai do Céu" está zangado,
muito zangado com ela, porque cometeu um "pecado". Não
lhe explicamos com lógica e clareza que a sua atitude foi
egoísta, que ela precisa aprender a partilhar seus pertences
eque agredir o irmão pode lhe causar, mais tarde, o retorno
da mesma dor para que aprenda a só fazer aos outros o que
deseja para si.
Na condição de pais, de acordo com as possibilidades
de entendimento de nossos filhos, devemos ensinar-lhes as
conseqüências de suas reações. É importante ajudá-los a
controlar as emoções e a discernir suas atitudes. Observar
seu comportamento durante as brincadeiras e jogos infantis
e corrigir seu comportamento intempestivo é nosso dever.
Devemos contribuir para que superem sentimentos inatos
que desde cedo se manifestam em suas atitudes: ciúme, in-
veja, egoísmo... Ensinemos a eles que Deus não castiga nin-
guém, nem sai por aí distribuindo prêmios. Temos aquilo que
merecemos.
Quando não se explica com honestidade, simplicidade
e clareza, a criança não é capaz de elaborar suas emoções, até
porque tem dificuldade em distinguir se está triste, magoada,
decepcionada, com raiva ou ódio. Ela depende do adulto para
desenvolver essa habilidade, mas com ele apenas aprende a
fingir, camuflar suas emoções. Mais tarde, na idade adulta, ela
poderá colher as conseqüências dessa indiscriminação: doenças
47
AMÉRICO CANHOTO
as mais diversas, alimentadas por mágoas acumuladas, ressen-
timento, impaciência, ansiedade desvairada...
Soberania emocional
As crianças da nova geração são portadoras de soberania
emocional mais desenvolvida que a nossa e capazes de elaborar
as emoções com objetividade, além de serem muito amorosas.
No entanto, não sofrem por causa das pessoas: auxiliam espon-
taneamente, sem se deter na contemplação de suas dores.
Por assim dizer, são verdadeiras ONGs ambulantes... Re-
gistre bem isso, se for o caso, para entender as atitudes humani-
tárias de seu filho progressista, as quais certamente despertarão
a incompreensão das pessoas "comuns", incapazes ainda de
praticar a caridade que Jesus nos ensinou, ou seja, tratar o pró-
ximo como gostaríamos de ser tratados.
Pensar, sentir, analisar, decidir e agir. Essa é a seqüência
do pensamento contínuo. Discernir se o resultado das escolhas
foi correto é o passo seguinte. Reformular ou não a escolha
inicial é direito e dever de cada um.
Normalmente, o adulto projeta-se na criança e acaba
impedindo que pense e sinta por si mesma. Determina o que
ela deve fazer e como reagir. Quando ela se rebela contra essa
atitude, quase sempre a reação dos adultos não é das mais agra-
dáveis.
A seqüência à qual me referi é tão clara, lógica e natural
que a criança da nova geração revolta-se quando é impedida
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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
de executá-la. Quando proibida de agir segundo seus impulsos
mais progressistas, sua reação natural é não aceitar o que vigo-
ra no sistema.
As crianças da nova geração têm um faro
aguçado para descobrir quem somos nós.
Nosso sistema de crenças é que vai nos conduzir na dire-
ção do progresso. Para acelerar essa caminhada, é fundamental
ouvir a todos e analisar as opiniões alheias, sejam elas de origem
religiosa, filosófica ou científica. De posse das informações co-
lhidas, devemos analisá-las e tomar nossas próprias decisões.
Nisso se resume a fé raciocinada. Caso não paremos para
refletir com isenção sobre aquilo que nos alcança, estaremos
presos a dogmas, convenções e preconceitos, e nossas escolhas
poderão ser desastrosas. É importante estarmos sempre dispos-
tos a ouvir, refletir, meditar e, se necessário, debater com as
pessoas nossas dúvidas, até nos sentirmos bem.
Os adultos "normais" evitam discutir alguns temas e,
quando o fazem, querem impor seus pontos de vista. As crian-
ças da nova geração adoram aprender e, boa parte delas, diz
com naturalidade que somos espíritos eternos em aprendizado
contínuo e que esta existência é apenas uma aula breve, duran-
te a qual teremos tempo para refazer algumas lições malfeitas
no passado.
Sem que ninguém lhes diga, lá no fundo de sua alma, elas
têm a intuição de que parar para refletir a respeito de quem so-
49
AMÉRICO CANHOTO
mos e o que fazemos aqui é o passo inicial para conquistarmos
calma, paz e alegria de viver.
QUEM SOU EU?
Não estou me referindo à data e ao local de nascimento
e a outras informações óbvias a nosso respeito, tais como nú-
meros de documentos etc. Responder a essa pergunta implica
olhar para dentro de nós e, então, observar nosso comporta-
mento e atitudes e "mapear" nosso íntimo. Esse reconheci-
mento da alma exige boa vontade e um esforço perseverante.
Poucos de nós nos dispomos a despender nosso tempo
nessa aventura. A maioria das pessoas desconhece sua na-
tureza. Vivem apenas para comer, beber, consumir... Fogem
do desconhecido porque ignoram sua natureza e temem que
lhes cause sofrimento. Andam sem rumo pela vida, ao sa-
bor das oportunidades, e padecem de angústia e inquietação
crônicas.
Podemos iniciar desde já o processo de autoconhe-
cimento com base na análise de nossos pensamentos. Des-
tacamos alguns deles, muito comuns a todos nós, os quais
transcrevo a seguir.
"Não quero nem pensar..."
"Não aprendi a escolher por mim mesmo..."
"Se todos fazem assim, por que preciso ser diferente?
"Quem sou eu para mudar?"
"Nem imagino o que vim fazer nesta existência..."
50
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
"Ignoro quem sou..."
"Nem imagino como explicar as ocorrências do meu
dia-a-dia..."
"Não consigo parar para pensar nisso tudo..."
"Nem imagino o que fazer para educar melhor meus
filhos..."
Pensamentos tão desencontrados como esses revelam
que é tempo de reformular o modo de ser. Se esse é o seu caso,
as crianças pertencentes à nova geração que eventualmente
forem seus filhos lhes serão de grande ajuda. Diferentes de nós,
elas nascem com a intuição do papel que vão desempenhar
nesta existência; possuem uma visão mais clara do próprio po-
tencial; detêm relativa consciência daquilo que querem e não
abrem mão de seus valores.
Conheço crianças progressistas que, com menos de dez
anos, dizem aos pais que parem de trabalhar tanto, pois não
querem herdar seu dinheiro nem suas propriedades. "Não
quero ser como vocês", dizem aos pais, abrindo-lhes os olhos
para o péssimo exemplo que estão dando: concentração de seus
esforços apenas na conquista de bens materiais.
Será possível recuperar o tempo perdido
e as oportunidades de autoconhecimento?
Sim, sempre é possível, e quem manifesta essa intenção já
atingiu uma condição mínima de maturidade e discernimento
que vai ajudá-lo a conhecer melhor a si mesmo, descobrir a
51
AMÉRICO CANHOTO
natureza do seu eu. Será admitido no "clube" das pessoas que
buscam progredir sem a ajuda do sofrimento.
"A quem muito foi dado,
muito será pedido"*, disse Jesus.
Descobrir quem sou e qual minha missão no mundo pa-
rece uma tarefa difícil, quase impossível, mas não é. Quando
sei com clareza quem sou e o que faço aqui, adquiro equilíbrio
para conquistar minhas metas e meus sonhos. Esse passo inicial
deverá ser dado ainda na infância, pois é possível auxiliar a
criança a descobrir seu potencial, suas predisposições, tendên-
cias e impulsos inatos sem ferir os direitos do próximo.
Quando os adultos que nos cercam na infância colaboram
para o nosso processo de autodescoberta, torna-se mais fácil
identificar o que viemos fazer nesta existência. Se não receber-
mos esse auxílio, ainda não é o fim do mundo, pois sempre será
possível analisar nossa condição: fatos ocorridos conosco, de
que forma interagimos com as pessoas que nos cercam... Cada
situação ou acontecimento que já vivemos ou estamos vivendo
pode tornar-se uma oportunidade de aprendizado e um sinal de
mudanças de rumo na vida afetiva ou profissional.
Ajudar a criança na descoberta do projeto de sua exis-
tência é uma das razões de vivermos em família. É a essência
da arte de educar. Mas como educar? Como veremos a seguir,
* Lucas, 12:8. (N.E.)
52
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
educar é compartilhar com a criança o aprendizado que já
adquirimos. De preferência discursando menos e exemplifi-
cando mais.
Caso tenhamos uma criança progressista na família,
podemos solicitar-lhe que nos ajude a educá-la. Para tanto,
basta analisar com carinho e humildade suas opiniões sobre
quem somos e como nos comportamos. Procuremos refletir
sobre suas considerações e, a partir delas, reformular nosso
modo de ser.
QUEM É A CRIANÇA?
A criança é um ser eterno
em evolução.
Ela não é um boneco ou um bichinho de estimação. Pa-
rece incrível ter de dizer isso, mas algumas pessoas estão tão
entretidas com seus filhos, a ponto de esquecer que eles não
foram criados para o seu deleite, mas para viverem sua própria
existência, de forma independente mesmo que sob tutela.
E preciso recordar quem somos e o que fazemos aqui e
refletir sobre isso. Nossos pais nos deram a oportunidade bioló-
gica de reencarnar para aprender e progredir. Fazemos o nosso
papel dando essa mesma possibilidade aos nossos filhos.
Os pais não são meros reprodutores, seu dever vai além:
é fundamental que participem ativamente da construção do ser
que receberam em seus braços. Não devem criá-los com mimos
5 3
AMÉRICO CANHOTO
ou destacar suas habilidades para exibi-los aos amigos e conhe-
cidos ou, ao contrário, escondê-los se não nasceram de acordo
com suas expectativas...
Faz-se necessário estudar nosso filho para compreendê-lo.
É importante analisar suas tendências, impulsos e comporta-
mento desde a vida uterina até onde for possível, sem intenção
de julgar, criticar ou controlar; além de colaborar para o de-
senvolvimento de suas potencialidades, ajudar a mudar carac-
terísticas inatas conforme colocamos em nosso livro A reforma
íntima começa no berço, "com paciência e muito amor".
Mesmo seres diferenciados como as crianças da nova ge-
ração sofrem a influência do meio em que são criadas. Tanto
podem ser bem-sucedidas quanto experimentar quedas fantás-
ticas. Quanto maior o potencial, claro que maior é o risco a que
nos expomos.
Ao nascer,
não somos páginas em branco.
Para os "normais", é difícil perceber que, ao nascer, tra-
zemos impulsos, tendências e predisposições inatas, algumas
muito marcantes, denominadas por alguns de índole e classifi-
cadas de boa ou ruim. Uma das funções da educação é ajudar a
criança a discernir sobre a própria índole e corrigir as tendên-
cias inadequadas.
Anote a espécie de comportamento de seus filhos. Faça
um esforço para registrar esse comportamento e analisar seu
54
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
desenvolvimento. Observe também o modo de agir de outras
crianças, evitando julgá-las ou dar palpites a seus pais, mesmo
quando solicitado. Como não estamos inseridos no seu con-
texto familiar, torna-se difícil e arriscado opinar sobre a vida
alheia: cuidemos de nossos próprios filhos.
A criança deve ser estudada o tempo todo.
Viver é educar-se, dia e noite. Cabe ao adulto estudar a
criança para ajudá-la a esboçar seu projeto de vida, ajustado às
suas necessidades evolutivas. A execução desse projeto e o seu
sucesso também dependem da ação dos pais. Quer queiramos,
quer não, somos seus mentores encarnados; em nenhuma
hipótese, podemos abandoná-los à própria sorte.
A maior parte das dificuldades existenciais
encontra sua origem nos problemas mal
resolvidos na época da infância.
Somos criaturas vivendo em permanente evolução. Ao
nascer, trazemos um conjunto de tendências e predisposições,
que vão nos proporcionar paz e felicidade, e outras, por sua vez,
nos causarão infelicidade e dor.
Desde a infância, precisamos nos educar para enfrentar o
prazer e a dor, que serão uma constante em nossas existências,
pois se trata de uma necessidade evolutiva, já que reencarnamos
num mundo de expiação e provas.
55
AMÉRICO CANHOTO
Por incrível que possa parecer, a educação formal não
contribui para vencermos as más tendências. Além dos im-
pulsos, tendências e predisposições que trazemos ao nascer, ou-
tros são incorporados, decorrentes do contato com a família e
a sociedade. Quantos casos de depressão, pânico, roubos, trai-
ções e mortes serão evitados quando a educação compreender
o estudo e a superação das tendências inatas? Os benefícios
serão incalculáveis para toda a humanidade...
A reforma íntima começa no berço.
Mudar algumas tendências inatas de uma criança bem
pequena é muito mais fácil e simples do que as de uma criança
maior ou de um adulto. Isso é mais do que lógico. Por exemplo,
como ajudar um bebê impaciente e mandão? Isso é possível re-
tardando seus desejos. Demore o máximo para satisfazer suas
vontades (não suas necessidades básicas) para que entenda
que não é "dono do mundo" e que nesta vida nada vai ser
conseguido no berro. Se os pais se dispuserem a tanto, devem
entender que a criança maior tem o direito de participar ati-
vamente dessa transformação; só discursar não adianta. Além
disso, os adultos devem compartilhar com ela sua própria ree-
ducação ou reforma íntima.
Pais e educadores ficam em polvorosa quando a criança
exige que essa transformação seja feita de acordo com seu modo
de entender as coisas, do seu jeito. As crianças da nova geração
não abrem mão de suas prerrogativas.
56
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
QUEM É O EDUCADOR?
Na escola da vida,
cada qual oferece o que possui.
Os pais são os educadores e os filhos os educandos. O
entendimento dessa questão, porém, amplia-se quando nos
conscientizamos de que somos todos espíritos em evolução:
aprendemos uns com os outros. No convívio com os filhos,
ensinamos e aprendemos de acordo com as circunstâncias e
necessidades.
Muitos pais, contudo, assumem a condição de "doutores
da lei", certos de que são verdadeiros mestres, cabendo aos filhos
seguir-lhes os passos. Outros cometem o desatino dos desatinos:
terceirizam a educação dos filhos, transferindo-a para insti-
tuições e pessoas ainda menos credenciadas que eles mesmos.
Por incrível que possa parecer, pais com pouca instrução mas
dotados de amor e boa vontade tornam-se educadores de qua-
lidade e outros, muito instruídos - em grande parte por como-
dismo ou omissão -, deixam a desejar no papel de educadores.
Os acontecimentos do dia-a-dia
são lições de vida. Nessa escola, o tempo todo,
somos educadores e educandos.
Pais de boa vontade são aqueles que ensinam a partir do
próprio exemplo. Dia desses, atendi em meu consultório um
57
AMÉRICO CANHOTO
adolescente, ali conduzido pelo pai. Uma raridade, pois quase
sempre é a mãe a levar os filhos ao médico.
Num determinado momento, o garoto foi questionado
pelo pai quanto a seu gosto musical: "Doutor, ele fica horas e
horas ouvindo música sem pé nem cabeça em alto volume e in-
comoda até os vizinhos". A resposta do jovem foi interessante.
Dirigiu seu olhar em minha direção e comentou: "Nunca meus
pais me ensinaram a ter bom gosto musical. Nem sei do que
eles gostam. Foi com meus amigos que aprendi a gostar dessas
músicas. Coloco o som no último volume para abafar a gritaria
deles com meus irmãos".
Acredito que, depois dessa consulta, alguma coisa mudou
no lar desse jovem. No mínimo, seus pais entenderam a neces-
sidade de partilhar com os filhos suas preferências musicais.
A criança também
é um educador.
O adulto deve aprender a interagir com a criança,
permutando ensinamentos; mas, para que isso se realize, é
preciso iniciar um diálogo construtivo. Diálogo construtivo?
Do que se trata? A criança deve ser ensinada a assumir seu
papel de educador perante as outras crianças, os adultos e os
próprios pais.
Como começar? Pelo básico, permita que a criança fale,
não a interrompa nem tente convencê-la com meros discursos.
Antes de tudo, não a interrompa, ouça o que tem a dizer.
58
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Trate-a de igual para igual. Use de argumentos e não tente
persuadi-la, pressionando-a para que faça o que você acha
correto. Explique o que considera bom e útil para ela. Faça-se
entender com brandura, não eleve seu tom de voz e, acima de
tudo, seja paciente.
As crianças da nova geração
são educadores natos.
Muitas são donas de uma capacidade de discernir e
de um bom senso que supera o de muitos adultos. Seus pais
devem acatar suas ponderações, elogiá-las e verbalizar sua
gratidão - seja na vida em família, seja na escola, seja na
relação social.
Essa atitude pode aguçar ainda mais sua intuição e fazer
aflorar uma sabedoria milenar. As que nos incomodam com
perguntas, exigindo explicações lógicas, e por vezes detalhadas,
e não se convencem quando damos respostas superficiais são
pedras preciosas que recebemos da divina providência, a qual
nos incumbiu de lapidá-las com amor.
QUEM É O EDUCANDO?
Todos nós somos educandos...
O período da infância do ser humano é o maior dentre
todos os mamíferos do planeta. A criança é uma verdadeira
59
AMÉRICO CANHOTO
"esponja", capaz de absorver as influências do meio em que
se desenvolve. Dessa forma, a maior parte do padrão atual de
atitudes dos adultos é um aprendizado recebido no período
da infância.
Os pais que desejem assumir a condição de verdadeiros
educadores devem posicionar-se junto de seus filhos não como
sábios e donos da verdade, mas como modestos aprendizes.
A RESPONSABILIDADE DA MÍDIA
Educar é interagir.
O comportamento dos nossos filhos pode influenciar
outras crianças. Devemos conscientizá-los disso, destacando a
importância de agirem corretamente, sempre com a intenção
voltada para o bem comum.
Cumpre-nos alertá-los de que somos observados por
olhos invisíveis, atentos aos nossos atos. É incontável o núme-
ro de mentes que captam nossos pensamentos, uma vez que
estamos conectados espiritualmente uns aos outros em rede,
on-line... Influenciamos e somos influenciados o tempo todo,
um processo que vai muito além da nossa imaginação.
Paulo de Tarso nos alertou nesse sentido: "Portanto,
estamos rodeados dessa grande nuvem de testemunhas. Dei-
xemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se
agarra em nós. Corramos com perseverança na corrida, man-
tendo os olhos fixos em Jesus, que tanto incentivou a fé. Em
60
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
troca da alegria que lhe era proposta, ele se submeteu à cruz,
e se assentou à direita do trono de Deus"*.Vale dizer, é preciso
vigiar nossas atitudes, pois somos responsáveis pela influência
que viermos a causar aos outros.
QUAL É O MÉTODO PEDAGÓGICO
MAIS ADEQUADO?
A criança necessita fazer as coisas
do seu jeito para aprender.
Na relação entre pais e filhos, um método pedagógico
essencial é o exemplo. Mil palavras não valem uma atitude.
Mas milhares de palavras e exemplos não rendem os frutos da
própria experiência. Especialmente para as crianças com as
particularidades da nova geração, isso é vital. Elas têm de fazer
as coisas do jeito delas para aprender.
O papel do adulto inteligente é criar-lhes limites e per-
mitir que o aprendizado prossiga sem interferências autoritárias.
Porque vivemos de forma descuidada, o "método pedagógico"
mais usado é o da contradição: faça o que eu digo, mas não faça
o que eu faço... Se o que observamos no dia-a-dia é um grande
número de mal-educados em todos os sentidos, é cada vez
mais evidente que os recursos pedagógicos da atualidade não
são eficientes.
* Carta aos hebreus, 12: 1, 2. (N.E.)
61
AMÉRICO CANHOTO
É urgente que se permita
à criança experimentar os frutos
das próprias escolhas.
Na dúvida sobre o que fazer, deixe o acontecimento fluir.
Quando não temos domínio sobre algo é melhor não interferir.
Apenas é preciso observar, analisar, para agir quando estivermos
seguros de nossas ações. Ofereçamos à criança o que temos de
melhor: compreensão, carinho, autoridade moral, honestidade
de propósitos, humildade, cuidados e respeito. Com certeza
a criança aprenderá que deve agir assim em reciprocidade e
quando agimos com tolerância e amor, o retorno é maravilhoso,
especialmente entre as crianças da nova geração, que passam a
desenvolver seu potencial com maior desenvoltura.
Somos o modelo.
Como pais, devemos nos matricular na "Universidade
da Reestruturação da Personalidade". Para que nos tornemos
bons exemplos ou modelos, é preciso colocar sempre o foco
de nossa consciência no bem. Nossos filhos aprenderão a fazer
o mesmo.
Ao enaltecermos e valorizarmos suas qualidades, eles vão
copiar nossa forma de agir. Se analisarmos com honestidade de
propósito as qualidades que lhes faltam, é possível ajudá-los a
conquistá-las. Evitando destacar seus defeitos - atitude que só
vai contribuir para reforçá-los ainda mais -, seremos capazes
62
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
de colaborar para que suas qualidades se evidenciem, incenti-
vando-os a prosseguir no seu aprendizado.
A QUEM SE DESTINA A EDUCAÇÃO?
Somente o humano terráqueo
pode ser educado?
A educação cósmica destina-se a todos os habitantes do
universo, sem distinção, conforme fica bem claro na Codifi-
cação por meio do livro A Gênese. Quem dentre nós é um ET?
Tanto quem não deseja aprender quanto aquele que ainda não
despertou para a necessidade de educar-se serão igualmente
beneficiados.
Algumas pessoas se educam segundo a própria vontade
e da forma que escolheram, outras são educadas compulsoria-
mente segundo a Lei de Ação e Reação. Como diz o ditado,
"se não for pelo amor, será pela dor". A opção da nova ge-
ração, quando lhe permitem, é aprender usando a lógica e a
experimentação: não gostam de modelos teóricos, regimentos
e enquadramentos.
A educação pode ser tanto passiva quanto ativa.
A educação pode ser aplicada de forma ativa ou passiva.
De forma passiva, nós nos educamos desenvolvendo a inteli-
gência e a maturidade psicológica para evitar o sofrimento e a
63
AMÉRICO CANHOTO
dor. Na forma ativa de educar-se, aprendemos por opção pró-
pria, pelo desejo espontâneo de evoluir.
Cabe ao candidato a mestre - pais, educadores, adultos
de maneira geral - provar a seus alunos que é mais fácil, prático
e inteligente mudar por opção própria do que sob a pressão da
Lei de Causa e Efeito. Aprimorar esse padrão de atitude vai nos
qualificar para o papel de educadores.
6 4
Educar também é permitir
à criança descobrir seus
próprios limites.
PARTE 2
RELAÇÃO
FAMILIAR ENVOLVE
COMPROMISSO
O PAPEL DA FAMÍLIA
A base d a civilização está fixada num dos microcosmos
mais importantes da evolução: a família. Sua eficácia ou não
como agente educador depende da forma como foi constituída.
Quando estudamos a educação, não podemos deixar de
dar um destaque especial à família. É entre nossos familiares,
no período da infância, que formamos nossa personalidade e
fixamos padrões de comportamento que vão nos acompanhar
por toda a existência.
De muitas maneiras, espelhamos a qualidade
das pessoas que nos são mais próximas.
Para compreender melhor a importância da vida familiar
na construção da personalidade da criança, imaginemos, por
exemplo, que ela seja um computador. Seu inconsciente, que
seria o disco rígido, é o arquivo de registro de antigas expe-
riências. O subconsciente é a memória periférica, o que está
sendo executado no momento, que tanto pode ser salvo no
arquivo principal ou ir para a lixeira. O foco da consciência
ou do consciente é a tela. Imaginemos que todos os periféricos
estão ligados.
Na criança, comparada grosso modo a um computador,
um equipamento que funciona tal e qual um scanner ligado 24
horas por dia é o subconsciente, o que faz com que ela capte
tudo o que se passa a seu redor. Esse mecanismo de captação,
6 7
AMÉRICO CANHOTO
tão operante na criança, interfere e molda até o padrão dos
seus caracteres físicos. Basta observar como as crianças ado-
tadas, desde muito pequenas assemelham-se a seus pais adotivos,
mesmo quando são de outra etnia.
Claro que a estrutura familiar ainda deixa muito a de-
sejar no cumprimento de tão importante papel - a formação
da criança -, especialmente no que se refere aos aspectos que
envolvem a ética e a moral segundo as leis da evolução. Obser-
vamos vários fatores limitadores dessa função: nossas relações
ainda são percebidas e sentidas segundo uma relação limitada
à materialidade. O conhecimento das leis de evolução, além
de precário, é pouco praticado na vida em família, restringindo
sua influência na formação do caráter da criança.
"Já cumpri meu papel de pai, meus filhos já estão criados
e formados."
"Desisto, meu filho não tem jeito..."
Ouvimos afirmações como essas todos os dias ou somos
nós mesmos que as pronunciamos. Precisamos entender que,
nesta existência, um filho será sempre nosso filho e que não
podemos renegar as responsabilidades que temos para com ele,
nunca, daí não importar a idade cronológica dele.
Nas bandas deste universo, a família é a oficina que a
divina providência constituiu para nos conduzir, passo a passo,
existência após outra, rumo à felicidade e à perfeição.
A relação entre pais e filhos é um compromisso
que se estende além do tempo e do espaço.
68
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Não importa a idade de nossos filhos, muito menos onde
se encontrem. Nesta existência, na condição de pais, estamos
incumbidos de auxiliar seu desenvolvimento. Somos, por assim
dizer, seus mentores encarnados, anjos guardiões, guias, como
queiram. Não podemos nos isentar dessa responsabilidade.
Essa relação é um poderoso instrumento, capaz de nos
ajudar, pais e filhos, a desenvolver a capacidade de amar. Se
nos cabe educar um filho problemático, não vamos desanimar
diante das dificuldades e muito menos renegar nosso compro-
misso. Se o que buscamos são informações, métodos e roteiros
que nos auxiliem nessa tarefa, as informações expostas neste
livro serão de grande utilidade.
Fique bem claro que não disponho de fórmulas mágicas
ou panaceias capazes de resolver quaisquer problemas. Desejo
partilhar a experiência de uma vida dedicada à família e o farei
com isenção e transparência, usando de todos os recursos ao
meu alcance, sem falsear com a verdade.
A maioria das pessoas
está colecionando pequenos descuidos
e ainda não sentiu as conseqüências
de suas atitudes.
Habituados a não parar para pensar e questionar, come-
temos todos os dias pequenos descuidos que vão se avolu-
mando... Atualmente, nós nos descuidamos da educação de
nossos filhos para mais tarde enfrentar problemas angustiantes.
69
AMÉRICO CANHOTO
O descaso de hoje pode causar sérios e dolorosos pesadelos que
nem médicos ou terapeutas renomados poderão resolver de
pronto. Vale, portanto, empenhar o melhor de nós em prol de
nossos filhos: esta é nossa missão!
MUDANÇA DE DNA
Modernas teorias provam que o meio ambiente afeta
profundamente a membrana das células, alterando a estrutura
do nosso DNA. No entanto, antes mesmo de receber essa in-
formação, já cansamos de comprová-la no dia-a-dia.
No consultório, atendo várias famílias que têm filhos
adotados, os quais absorvem, por assim dizer, ao longo dos
anos, o fenótipo dos pais, ou seja, tornam-se muito parecidos
com eles em todos os sentidos.
Depois da adoção, conhecidos nossos tiveram filhos con-
sanguíneos e percebe-se, embora isso pareça incrível, que os
adotados são até mais parecidos com os pais... Casais, que estão
juntos há muitos anos, por vezes aparentam tantas semelhanças
que até parecem irmãos consanguíneos; se observamos fotogra-
fias antigas dessas pessoas, veremos que, no passado, as seme-
lhanças não existiam.
O QUE É A FAMÍLIA?
Quando influenciamos alguém a tomar
uma atitude, criamos compromissos para o futuro.
70
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Do conjunto de atitudes do passado,
originaram-se as famílias do presente.
Não fazemos parte de nossa família por acaso. Essa filia-
ção não é um mero acidente de percurso: faz parte da lei da
interatividade.
Estamos juntos daqueles com quem nos compete, nesta
existência, conviver para nos reeducar, aprender ou até mesmo
realizar alguma tarefa em conjunto. "O que fiz para nascer nesta
família?" é uma pergunta pertinente: estamos com aqueles que
serão nossos professores nesta existência, para os quais exerce-
remos o mesmo papel, ou estaremos ombreando com amigos
para executar projetos construtivos que foram combinados no
plano espiritual.
Relação familiar envolve compromisso.
Os integrantes de uma família sentem-se, intuitivamente,
mais ou menos compromissados uns com os outros. Tanto mais
forte será o vínculo familiar quanto maior a capacidade dos
seus integrantes de responsabilizar-se uns pelos outros. A união
familiar depende da condição evolutiva dos envolvidos. Pode
ser correta, saudável, alegre e feliz ou inadequada, doentia
e sofredora.
As crianças progressistas são mais resolvidas e indepen-
dentes na relação familiar. Sentem a importância de fazer parte
desse grupo, daí precisam sentir apoio na companhia de seus
AMÉRICO CANHOTO
familiares; pois elas fazem tudo o que está a seu alcance para
que a tarefa combinada seja realizada. Não perdem tempo,
auxiliam e socorrem aqueles que estão do seu lado, amparam
de coração, sem, no entanto, envolver-se emocionalmente no
problema ou na dor do próximo. Sabem que fazem parte do
grupamento familiar no qual se encontram por razões trans-
cendentais. Aceitam essa realidade - embora nem sempre sejam
tão bem-aceitos por seus familiares.
A formação da família pode ser planejada?
Sem dúvida, pois para isso estamos neste mundo. Estamos
aptos para tal empreitada. Um dia, em algum lugar do passado,
nós nos tornamos capazes de planejar, até certo ponto, a cons-
tituição familiar.
Claro que a execução dessa tarefa depende da qualidade
dos relacionamentos que construímos no passado, do grau de
maturidade daqueles que estão envolvidos conosco e da ca-
pacitação que desenvolvemos. Ainda não temos consciência
plena dessa responsabilidade nem do que advém de nossa inse-
gurança em relação à formação da família.
Escolhidos aqueles que vão participar do nosso
grupo, não é possível romper o vínculo.
Como diz a música: "Não adianta querer me abandonar,
pois vou te encontrar por aí". Não adianta fugir, abandonar, se
72
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
separar. Um dia, retomaremos ao convívio daqueles que hou-
vemos por bem nos separar.
Boa parte dos grupos familiares de hoje - envolvidos em
dores, dificuldades e sofrimentos - são os retardatários de on-
tem, aqueles que fugiram dos compromissos assumidos, ima-
ginando-se liberados de um período de convivência que não
satisfazia suas expectativas.
Para a maioria das pessoas, consideradas "normais", não
cumprir com a palavra é comum. O mesmo não ocorre com a
nova geração, que não entende nem aceita a negação de res-
ponsabilidades, o uso de subterfúgios para escapar de compro-
missos assumidos. Ao contrário, cobra fidelidade daqueles que
a cercam e, por sua vez, não quebra comprometimentos.
Quando enfrentam embargos na caminhada, são bem
francos: revelam suas dificuldades, prontos a negociar. Costumam
ser fiéis a sentimentos, interessados no bem-estar das pessoas
que fazem parte de seu universo afetivo. São livros abertos, não
conseguem camuflar seu estado de alma positivo ou negativo.
A criança da nova geração apresenta a marcante carac-
terística de fazer, sem esforço, espontaneamente, uma leitura
exata dos sentimentos e desejos das pessoas. Se é criada num
ambiente de hipocrisia, logo passará a manipular as pessoas
sem manifestar sentimento de culpa: simplesmente entra no
jogo para ganhar.
Com facilidade, a criança da nova geração
aprende a "dançar conforme a música".
73
AMÉRICO CANHOTO
Na dança da vida, ela é uma excelente dançarina, seja
qual for o ritmo imposto a ela. Trocando em miúdos: se perceber
que é impossível usar seu senso ético-moral e sua aprimorada
visão de justiça, ela vai atuar segundo as regras e valores do
grupo em que está inserida.
Por uma questão de sobrevivência, vai se adequar ao
meio, o que não significa a perda de suas conquistas espirituais.
Ao enfrentar esse tipo de situação, ela sente um forte impulso
de deixar a vida física, um risco de desastre iminente. Se uma
criança da nova geração disser que está cansada da vida, fique
de olho "para mantê-la na aula até soar o sinal"...
A FORMA COMO A FAMÍLIA
É CONSTITUÍDA
Podemos dizer que uma parte das famílias da atualidade for-
mou-se segundo a lei de atração e sintonia sob a batuta da Lei de
Ação e Reação. Pois ela é a força motriz que ainda nos aglutina.
Nós nos aproximamos de nossos familiares graças aos compro-
metimentos do passado, originados geralmente por nossos atos
impensados e transgressões cometidas contra as leis divinas.
Algumas, por merecimento espiritual de seus integrantes
e amparadas por benfeitores do mundo maior, demonstram co-
locar em prática um planejamento que se esboçou do outro lado
da vida. São auxiliadas por aqueles que já fizeram parte delas e
que, agora em melhor condição evolutiva, estão em condição de
ampará-las espiritualmente.
74
Para educar uma criança,
é fundamental não só
termos consciência de
quem somos, mas também
capacidade de nos
responsabilizar por nós
mesmos, pelo nosso corpo,
pelas nossas escolhas.
PLANEJAR E
GERENCIAR A
VIDA EM FAMÍLIA É
UMA CONQUISTA
ESPIRITUAL
QUALIDADE DAS RELAÇÕES
NA VIDA EM FAMÍLIA
E inegável que até certo ponto somos fruto do meio
ambiente em que nascemos e fomos criados, o que é compro-
vado por recentes descobertas da ciência; o cientista Bruce H.
Lipton deixa isso bem claro no seu livro A biologia da crença.
Os nascidos em famílias mais bem planejadas e administradas
têm mais chances e oportunidades de receber uma educação
de melhor qualidade, mas esse não é o caso da maioria que
habita o nosso planeta.
Em que ponto estamos na escala evolutiva?
Entre os animais, a relação entre pais e suas crias sempre
obedece ao padrão que predomina na espécie. Além do ins-
tinto, o mecanismo do relacionamento familiar entre os homens
compreende a ação das emoções, a manifestação do amor ou
do egoísmo.
Existe amor entre pais e filhos quando há responsabili-
dade e respeito. O egoísmo prevalece quando buscamos satis-
fazer interesses ou desejamos controlar o próximo. A criança
da nova geração, por exemplo, adora ser cuidada e necessita,
como todos, de amor, mas não suporta os excessos da afetividade
em que a soberania emocional não exista.
Na escala evolutiva, estamos no estágio da experimen-
tação da razão e do sentimento. Ainda incapazes de controlar
77
AMÉRICO CANHOTO
nossos sentimentos, confundimos amor com a posse do ser
amado e desperdiçamos, muitas vezes, uma convivência que,
de outra forma, seria muito produtiva e gratificante.
Em nossas relações familiares,
ainda predomina a desigualdade
no trato afetivo.
Entre nós, existem aqueles que nos causam sensações
desconfortáveis. Essa sensação explica-se pelo entendimento
da sintonia e afinidades genéticas e energéticas.
A qualidade da relação familiar pode ser de simpatia ou
de antipatia, geradas no passado e no presente. A vida familiar,
quando sadia e harmoniosa, transforma a antipatia em sim-
patia e amplia o amor e o entendimento que já existem entre
aqueles que são afins.
A criança da nova geração, sem que ninguém peça, é
capaz de cuidar de seus irmãos, de pessoas idosas e de todas
aquelas que necessitem de cuidados especiais. Presta essa ajuda
com absoluta naturalidade e não gosta de ser elogiada por isso.
Manifesta estranheza quando percebe que as pessoas não agem
assim, espontaneamente.
Na condição de facilitadoras de nossa passagem para o
mundo de regeneração, as crianças da nova geração não têm
dívidas espirituais para com seus familiares, nem vieram a
este mundo para expiar culpas do passado. Estão, na verdade,
provando sua capacidade de servir ao próximo. Servem de
78
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
mediadoras entre seus familiares e contribuem para salvar uniões
conjugais e aproximar a parentela.
Reconheço que tenho problemas familiares.
O que devo fazer?
Quando as relações familiares não andam bem, é ne-
cessário humildade para reconhecer isso e buscar ajuda. As
crianças progressistas são excelentes conselheiras e ajudam
a restabelecer a harmonia conjugal e familiar. Precocemente,
manifestam com naturalidade sugestões de grande valor. Obser-
vadoras e intuitivas, identificam com clareza os problemas que
estão minando a união familiar e sugerem medidas práticas
que podem evitar o pior.
Em sintonia com seus pais e irmãos, elas auxiliam pra-
zerosamente, sem cobrar gratidão ou gratificações por sua
intervenção. Com a ajuda deles e daqueles que se dispuserem
a nos auxiliar, devemos planejar o gerenciamento da vida
em comum.
Se não for possível eliminar todos os pontos de atrito,
certamente ficará ao nosso alcance minorar essas ocorrências.
Uma família que faliu em existência anterior e que se reúne em
nova encarnação tem grandes probabilidades de ser feliz, não
obstante as dificuldades acumuladas a enfrentar.
Planejar e gerenciar a vida em família
é uma conquista do homem. 79
AMÉRICO CANHOTO
O animal irracional manifesta o impulso instintivo da ma-
ternidade e da paternidade, inerentes à perpetuação da espécie.
O ser humano acrescenta ao instinto, presente em sua constitui-
ção, a emoção, a inteligência e a conseqüência de suas escolhas.
Quem deseja de fato "humanizar-se" e libertar-se dos
instintos primários deve conscientizar-se das responsabilidades
que nos cabem quando geramos um filho. O papel de pais bio-
lógicos ou adotivos é valiosa oportunidade de crescimento es-
piritual, desde que o exerçamos de acordo com as prerrogativas
que nos foram delegadas na espiritualidade ou que decidimos
no momento presente - oportunidades de adoção surgem e
quem quer as aproveita.
SEPARAÇÃO E ABANDONO
Muitas pessoas se acham merecedoras de toda a felici-
dade do mundo e, para alcançá-la, fazem o próximo sofrer sob
o jugo dos seus desejos. Um dia, podem sofrer a conseqüência
do seu egoísmo, pois reencarnarão para vivenciar experiências
junto daqueles que manipularam no passado. O resultado dessas
uniões dependerá do livre-arbítrio na ocasião.
A cada dia, aumenta o número de separações: famílias
problemáticas se desfazem por toda parte. São uniões estabe-
lecidas ao sabor das paixões, cujos integrantes se frustram
diante das dificuldades que são incapazes de enfrentar porque
não amadureceram seu entendimento do que seja, realmente,
um grupamento familiar. Esperam daqueles que os cercam a
80
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
satisfação de seus desejos egoístas e quando suas expectativas
são frustradas rompem os compromissos.
A nova geração jamais abandona seus filhos,
mesmo que tenha sido desamparada
no período da infância.
Ela manifesta um senso de responsabilidade muito desen-
volvido. Valoriza a união familiar e faz o que está a seu alcance
para sustentá-la. Mesmo quando separada do cônjuge, não se
omite diante dos deveres assumidos. Se porventura foi abando-
nada no período da infância ou sofreu o descaso dos pais, não
guarda mágoas ou rancores daqueles que a privaram de uma vida
melhor. Supera o sofrimento relegando-o ao esquecimento.
São pais devotados, generosos, conscientes de seus deveres
e obrigações, exercidas com prazer. Vibram com a felicidade dos
filhos, mas não se prendem a eles nem se permitem aprisionar-se
nos excessos da afetividade.
81
PARTE 4 OS PAIS NÃO
SÃO RESPONSÁVEIS
PELOS FILHOS, ESTÃO
RESPONSÁVEIS
CAUSAS DA FALÊNCIA DA FAMÍLIA
Formar uma família é um empreendimento
como outro qualquer.
Seadotarmosuma visão empresarial da família,
conscientes do nosso compromisso com a Lei de Ação e Reação,
a possibilidade de sucesso do nosso empreendimento familiar
será ainda maior. O lar assemelha-se a uma companhia que
exige administração, planejamento e gerenciamento. Tal qual
uma empresa, não pode ser entregue ao acaso ou a mãos iná-
beis, caso em que estará condenada à falência.
Quando uma empresa "quebra", todos aqueles que fazem
parte dela sofrem as conseqüências. Quando uma família nau-
fraga no mar da vida, contribui para aumentar o número de de-
pressivos e dos que se drogam para dormir ou para acordar, além
do vício do tabagismo, do alcoolismo e do sexo sem amor.
As maiores vítimas desse desastre são os órfãos de pais vivos,
mas separados, que muitas vezes sofrem o fogo cruzado disparado
por seus familiares... Esse tipo de ambiente, deprimente e opres-
sivo, é muito prejudicial ao desenvolvimento da nova geração.
As empresas que planejam o empreendimento antes de
iniciar suas atividades e que, diante das dificuldades, buscam se
ajustar aos desafios quase sempre alcançam um relativo sucesso.
E comum, muitas vezes, saltarem do prejuízo para a lucrati-
vidade. Fazem por merecer o lucro que obtêm, fruto de um
trabalho de equipe.
83
AMÉRICO CANHOTO
Por outro lado, as famílias estruturadas que se adaptam
diante das dificuldades e as enfrentam com disposição ganham
a paz, a harmonia, a relativa felicidade, a saúde, o crescimento
espiritual dos seus integrantes e a melhoria do padrão de matu-
ridade psicológica de todos bem como a continuidade da vida
em comum.
Como se inicia a maioria
dos empreendimentos familiares?
A força de atração básica é o magnetismo da energia
sexual ou o instinto de perpetuação da espécie. A pressão social
também exerce uma ação considerável na opção de formação
de uma família, além do medo de ficar só, ser conhecido como
uma pessoa problemática, solitária e frustrada. Tudo indica
que a maioria das famílias inicia-se por essas razões.
A fase de incubação da família é o namoro e o noivado. Na
atualidade, os problemas costumam aparecer já nessa etapa,
quando fazemos nossas escolhas ao acaso, ao sabor de paixões
passageiras. Até poucos anos atrás, as crises mais fortes e ca-
pazes de acabar com a relação surgiam por volta dos cinco anos
de relacionamento.
Não estou sugerindo que sejamos frios e calculistas na
escolha do parceiro com o qual iremos dividir nossas res-
ponsabilidades familiares, mas que busquemos analisar quais
serão nossas possibilidades de sucesso ao lado desta ou da-
quela pessoa.
84
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
Raramente, porém, nessa época da vida, nos aproximamos
para elaborar planos ou desenvolver metas de vida conjugal e
de como criar os filhos, se a opção for tê-los. Nossos encontros
visam apenas usufruir de momentos prazerosos, quando o mais
adequado seria planejar o empreendimento familiar nessa fase.
Quantas dores e desilusões serão poupadas se discutirmos o
dia de amanhã embasados na realidade, sem perder de vista as
necessidades práticas de uma vida em comum.
É necessário o estudo lógico e racional das possíveis difi-
culdades que iremos enfrentar e instituir um programa de metas
comuns para sanar contratempos e evitar problemas antes que
surjam no horizonte de nossas vidas.
Vários fatores contribuem para que
a família não se consolide ou não progrida
segundo nossas expectativas.
Alguns fatores, isolados ou conjugados a outros, podem
frustrar o desejo de encontrar a felicidade familiar. Vejamos
alguns deles:
• Falta de clareza nos objetivos do casal, que não tem
certeza dos motivos pelos quais se atraíram, da ex-
pectativa desse casamento e muito menos do desejo
de trabalhar em equipe para esse empreendimento.
• Ausência de maturidade psicológica (mental, afetiva,
emocional) do casal.
85
AMÉRICO CANHOTO
• Visão romanceada do que seja a vida familiar: depositar
no cônjuge expectativas de satisfação de necessidades
pessoais.
• Falta de transparência e dissimulação da personalidade.
• Pouca honestidade de propósitos e falta de diálogo.
• Camuflagem de interesses pessoais.
• Interferências externas: rota de colisão entre familiares.
• Excessiva dependência emocional e financeira da
família.
MANEIRA DE GERENCIAR j
A cada dia que passa, a aceleração dos acontecimentos
expõe de maneira nua e crua nossas dificuldades íntimas e
desgasta relacionamentos pouco sólidos.
Quando estudamos as relações familiares, esse fato
evidencia-se. No passado não muito distante, as atribuições
de cada um eram mais ou menos definidas. Direitos e obri-
gações eram mais delineados, mas nem sempre justos, porém
bem mais definidos. O papel que cada um desempenhava
em família era bem mais claro, o que facilitava a cobrança
de responsabilidades e a suposta eficiência da organização
familiar.
Nos dias de hoje, a família sofre uma crise global. Na
maior parte dos países onde a cultura do consumo prevalece,
o papel do homem é de mero provedor de recursos para a
manutenção do lar. A mulher, em relação ao homem, é mais
86
PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S
sobrecarregada por tarefas e comprometimentos que, muitas
vezes, a impedem de exercer plenamente o papel de mãe.
Momento de transição
Muitas foram as aquisições feitas no campo dos direitos
pessoais e da relação familiar com ênfase nos direitos da mulher
e da criança. Vivemos numa época de rápidas transformações,
mas nossa capacidade de mudar com rapidez tem limites es-
treitos; isso nos deixa um pouco perdidos.
Se os papéis familiares estão embaralhados, basta rede-
fini-los para que cada qual cumpra com seus deveres e exerça
seus direitos. Acrescente-se que os valores sociais hoje mudam
muito depressa. Muitas pessoas estão desorientadas e não sabem
como se comportar diante das mudanças. Resultado desse caó-
tico estado de coisas: as crianças apresentam sérios problemas
psicológicos e de comportamento.
Para mudar esse panorama, peça ajuda às crianças da
nova geração de sua família. Felizes daqueles que têm uma
criança progressista reconhecida como tal, com permissão dos
pais para opinar e agir para melhorar a vida familiar.
AUSÊNCIA DA MÃE
As mães estão cada vez mais afastadas dos filhos. Essa
convivência, tão necessária para a harmonia da família, está
cada vez mais escassa. Está provado que a ausência da mãe
87
AMÉRICO CANHOTO
é um mal ainda maior do que a do pai no dia-a-dia da família.
Muitas mulheres murmuram: "Filhos? Seria melhor não tê-los".
Cabe perguntar: e os compromissos assumidos na espirituali-
dade? Adiar o pagamento de dívidas implica acumular novos
débitos...
HERANÇA EDUCACIONAL
Tal pai, tal filho...
Além da instrução básica, faz parte da educação - para
aqueles que têm acesso a ela - a cultura geral, as noções de
etiqueta e de elegância. Predomina, porém, o conceito de boa
educação baseado no "verniz social": pessoas são elogiadas
como bem-educadas se usam o tom de voz correto, dizem
bom-dia, boa-tarde, sorriem, escutam os outros com atenção
etc. Pouca atenção prestamos na postura ético-moral das pes-
soas nas atividades do dia-a-dia; como disse o Mestre, a árvore
se conhece pelos frutos*.
Mesmo assim, a todo instante, nós nos deparamos com
adultos bem-nutridos e instruídos cujo comportamento deixa
muito a desejar: desacatam as pessoas, empurram-nas em filas,
metem-se na conversa dos outros, não respeitam as leis de
trânsito e muito menos as normas e os regulamentos em geral.
Com quem aprenderam a se comportar assim?
* Mateus, 12: 33. (N.E.)
88
Desafios na educação da nova geração
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Desafios na educação da nova geração

  • 1. PEQUENOS DESCUIDOS GRANDESPROBLEMAS Somos associados da Fundação Abrinq pelos direitos da criança. Nossos fornecedores uniram-se a nós e não utilizam mão-de-obra infantil ou trabalho irregular de adolescentes.
  • 2. Pequenos Descuidos, Grandes Problemas Copyright by © Petit Editora e Distribuidora Ltda., 2008 1-3-08-5.000 Direção editorial: Flávio Machado Assistente editorial: Dirce Yukie Yamamoto Colaboração: Afonso Moreira Jr. Chefe de arte: Mareio da Silva Barreto Capa: Júlia Machado Foto da capa: Marcelo Kura Diagramação: Ricardo Brito Revisão: Mareia Nunes Auxiliar de revisão: Adriana Maria Cláudio Fotolito da capa e impressão: S E R M O G R A F - Artes Gráficas e Editora Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Canhoto, Américo. Pequenos descuidos, grandes problemas / Américo Canhoto. - São Paulo : Petit, 2008. ISBN 978-85-7253-162-7 1. Crianças - Criação 2. Cuidados 3. Educação de crianças 4. Espiritismo - Filosofia 5. Pais e filhos I. Título. 08-00462 CDD: 133.901 índices para catálogo sistemático: 1. Educação de filhos : Doutrina Espírita 133.901 Direitos autorais reservados. E proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorização da Editora. (Lei na 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.) Traduções somente com autorização por escrito da Editora. Impresso no Brasil, no verão de 2008. Prezado leitor (a), Caso encontre neste livro alguma parte que acredita que vai interessar ou mesmo ajudar outras pessoas e decida distribuí-la por meio da internet ou outro meio, nunca deixe de mencionar a fonte, pois assim estará preservando os direitos do autor e conseqüentemente contribuindo para uma ótima divulgação do livro.
  • 3. PEQUENOS DESCUIDOS GRANDES PROBLEMAS Américo Canhoto e d i t o r a Rua Atuai, 383/389 - Vila Esperança/Penha C E P 03646-000 - Sáo Paulo - SP Fone: (Oxxll) 2684-6000 Endereço para correspondência: Caixa Postal 67545 - Ag. Almeida L i m a 03102-970 - São Paulo - SP www.petit.com.br | petit@petit.com.br
  • 4. Outros livros de sucesso do mesmo autor: — Saúde ou doença: a escolha é sua — Chegando à casa espírita — Quem ama cuida
  • 5. O tempo todo e em qualquer lugar onde nos encontrarmos, somos educadores. Para que os resultados dos nossos esforços em prol de uma vida familiar melhor sejam mais produtivos, é preciso nos capacitarmos para as tarefas que nos aguardam.
  • 6. Sumário Apresentação 11 Um espectador privilegiado 11 Considerações iniciais 21 As crianças da nova geração 27 Nosso ponto de vista 28 Abordagem de questões 31 Parte 1: A educação deve visar desenvolver a capacidade de discernir 36 Questionamentos 37 Quem somos nós? 37 Quem sou eu? 50 Quem é a criança? 53 Quem é o educador? 57 Quem é o educando? 59 A responsabilidade da mídia 60 Qual é o método pedagógico mais adequado? 61 A quem se destina a educação? 63 7
  • 7. AMÉRICO CANHOTO Parte 2: Relação familiar envolve compromisso... 66 O papel da família 67 Mudança de DNA 70 O que é a família? 70 A forma como a família é constituída 74 Parte 3: Planejar e gerenciar a vida em família é uma conquista espiritual 76 Qualidade das relações na vida em família 77 Separação e abandono 80 Parte 4: Os pais não são responsáveis pelos filhos, estão responsáveis 82 Causas da falência da família 83 Maneira de gerenciar 86 Ausência da mãe 87 Herança educacional 88 Educação íntima precária 90 Maturidade dos familiares 91 Senso de responsabilidade dos pais 93 Falta de diálogo 95 Conflitos 100 Parte 5: Não há pessoa mais desconhecida para nós do que nós mesmos 104 Descuidos comuns na educação 105 Educar para a vida 108 8
  • 8. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Falta de limite 110 Tentativa de domínio pelo medo 116 Senso de honestidade dos pais 117 Controle 119 Manipulação 120 Chantagem 122 Cultura das pequenas mentiras 123 Perda de autoridade 125 Pensamento mágico 127 Criação de paradoxos 129 Vícios 132 Inversão de metas e suas conseqüências 134 Projeção de frustrações 136 Padronização 140 Em busca de privilégios 141 Cultivo do meio-termo 143 Aceitação das injustiças 146 Demasiada exposição à ação da mídia 148 Entretenimentos perigosos 150 Parte 6: Família: oficina onde aprendemos a arte de amar 154 Reestruturação da família 155 Modernização da forma de gerenciar a vida familiar .159 Reciclagem do educador 164 Escola de pais 165 Educação compartilhada 167 9
  • 9. AMÉRICO CANHOTO A arte de educar 168 Leis básicas da vida: ensino obrigatório 180 Parte 7: Alguns distúrbios do comportamento poderiam ser evitados se nós, adultos, prestássemos mais atenção às crianças, analisando suas atitudes, impulsos e tendências naturais 190 Parte 8: A mudança de pequenas coisas na vida da criança é muito importante para seu bem-estar 198 Recursos de grande utilidade 199 Considerações finais 204 Bibliografia 210 10
  • 10. Apresentação vivendo uma fase de transição acelerada. A Terra encaminha-se a passos largos para ser um mundo de re- generação, no qual haverá a predominância do bem. Por assim dizer, trata-se de delicada cirurgia cósmica que desperta a aten- ção e o interesse de todos aqueles que trabalham em prol da paz e da harmonia do universo. Espíritos de outros lugares e dimensões estão vindo até nós e reencarnando por toda parte do orbe terrestre, entre os quais estão as chamadas crianças da nova geração. UM ESPECTADOR PRIVILEGIADO Desde 1977, na condição de médico de família, acom- panhei o nascimento e o desenvolvimento de muitas crianças. Hoje tenho a alegria de atender os filhos daqueles a quem con- sidero "minhas crianças". Ao longo desses anos, sou testemunha do quanto o de- senvolvimento dessas crianças tem sido acelerado. Costumo co- mentar com seus pais que, mal saem do útero, já estão querendo II
  • 11. AMÉRICO CANHOTO saber onde estão e quem se encontra a seu redor. Brincando, digo que em breve vão nascer falando. Até recentemente, atribuía esse desenvolvimento acele- rado ao nosso estilo de vida, aos estímulos de todo o tipo que nos alcançam. Pouco a pouco, mudei de idéia, porque essa explicação me pareceu insuficiente. Considerei também que não estamos preparados para mudanças tão rápidas, mas sim confusos diante de tanta precocidade. Observei que, a princípio, os pais geralmente ficam des- lumbrados com o filho, pequeno gênio que fazem questão de exibir, e destacam suas habilidades. Esse deslumbramento, no entanto, dura pouco: descobrem que essa criaturinha tem idéias próprias, não aceita ordens, enfrenta os adultos de igual para igual e, às vezes, até parece que lê pensamentos, além de manipular as pessoas com extrema facilidade, lembrando-nos de Gremlins, de Steven Spielberg. Assistam ao filme e percebam a analogia. Nele fica patente o que ocorre quando uma regra muito simples não é respeitada. Ao longo dos anos, tenho observado a angústia de pais que se sentem perdidos na educação dos filhos, até mesmo de crianças que se enquadram nos padrões normais de compor- tamento. Essa angústia é ainda maior quando recebem uma da nova geração para encaminhar na vida. Nesse caso, as dificul- dades dos pais são ainda maiores. O que fazer? Onde buscar soluções? Muito tenho lido e ouvido falar sobre a necessidade ur- gente de desenvolver-se uma nova pedagogia, adequada às 12
  • 12. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S novas crianças. Concordo, mas não acredito na eficácia de ne- nhuma solução enquanto nós, adultos, não nos reeducarmos. É hora de reavaliar nossos paradigmas. Para a maioria dos pais, educadores e profissionais da área da saúde, a criança da nova geração é um problema, quando, na verdade, ela é parte da solução da maioria de nossos proble- mas. Por intermédio delas, que não aceitam as imposições da atualidade, somos forçados a mudar para melhor, o que acelera nossa evolução... Geralmente sou questionado por causa desse posiciona- mento - querem saber de onde tirei estas idéias. Elas estão fun- damentadas na experiência de uma vida dedicada à saúde do próximo. Essa experiência, que é bem modesta, inclui o atendi- mento clínico a famílias, participação em projetos relacionados à área de educação e ainda 14 anos de vivência cotidiana em berçário e escola de educação infantil. Além do conhecimento científico que busco atualizar, tenho aproveitado inúmeras ex- periências profissionais que a vida me proporcionou e que me ajudaram a crescer. Na medida do possível, desejo compartilhar meu aprendi- zado com todos aqueles que, de boa vontade, tenham interesse em aprimorar-se para ajudar a melhorar o mundo em que vive- mos. Nesse sentido, ministro palestras e seminários, promovo oficinas culturais, escrevo artigos e livros. Denominei esse meu esforço de projeto "Educar para um Mundo Novo". Seu objetivo básico é repensar a educação e integrar os adultos para que, com as crianças, possam reciclar seus conhecimentos. 13
  • 13. AMÉRICO CANHOTO É minha intenção promover um debate em torno da natureza das crianças de hoje, cuja educação é considerada um problema de difícil solução. Essas crianças se apresentam muito diferenciadas daquelas que as antecederam. Não nos preparamos para recebê-las, embora essa nova geração tenha sido anunciada há muito tempo... Esse despreparo é ainda mais agravado pela nossa dificuldade em aceitar o que é novo, o que é diferente do que já conhecemos. Inseguros, rejeitamos quaisquer inovações e estagnamos. Por comodismo, adotamos a opinião da maioria, fazendo o mesmo que os outros, des- preocupados se isto é o certo ou o errado. Seguir a maioria é o nosso álibi. Este livro é uma tentativa de fazer uma reflexão sobre a necessidade de mudar essa postura. É o resultado do trabalho de muitos anos, no qual inserimos a questão das crianças da nova geração, com o objetivo de esclarecer a que vieram, ana- lisando-as livres de preconceitos e misticismo. As crianças de hoje não são gênios nem seres iluminados, apenas trazem consigo certas habilidades e um grande potencial a ser desenvolvido. A questão é: o que vamos ensinar a elas? Neste livro, não vou me deter na análise das crianças da nova geração; meu objetivo é abranger todas as crianças. Para tanto, acredito que devemos nos preparar para educá-las, 14
  • 14. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S reformulando nosso modo de ser e de entender a vida. Estou certo de que educamos a partir do nosso exemplo, já que sim- plesmente compartilhamos aquilo que somos e o que sabemos. Pretendo estabelecer um diálogo com aqueles que admi- tem que a educação de hoje é falha e precisa mudar. Desejamos o melhor para nossos filhos: saúde, alegria, paz, prosperidade... Procuramos educá-los para que sejam os melhores, os mais sau- dáveis, os mais felizes entre outras crianças. Mas estamos fa- dados a não atingir nosso objetivo porque ainda não sabemos o que é a felicidade, a saúde, a paz, a prosperidade e a harmonia. Precisamos rever os conceitos, buscar a verdade, e a verdade nos libertará das dores, da aflição e da ignorância. Todo cuidado é pouco: não podemos projetar nos filhos a realização de nossos desejos e expectativas. Não será por intermédio deles que vamos nos livrar de nossas frustrações. E um devaneio pretender que nossas fantasias que não conseguimos vivenciar realizem-se por intermédio de nossos filhos. Eles têm seu próprio caminho: o que devemos fazer é prepará-los e incentivá-los para conquistar seus ideais. Fomos, porém, educados para viver num mundo de ilu- sões e aparências, povoado de valores que flutuam ao sabor dos desejos e interesses do momento. Ou seja, estamos perdidos. Em relação aos nossos filhos, caso não mudemos nosso modo 15
  • 15. AMÉRICO CANHOTO de viver e entender as coisas como elas são, seremos cegos a guiar cegos*, como nos alertou Jesus. Toda criança necessita de cuidados, atenção, respeito e amor. Estamos cercados de objetos e utensílios descartáveis, o que gera hábitos consumistas, bem como uma cultura da su- perficialidade do "usar e jogar fora". Quando alguma coisa ou alguém não nos interessa mais ou não nos satisfaz na medida de nossos interesses, nós o descartamos. Esse modo de agir contaminou nossas relações: quando alguém não corresponde às nossas expectativas, é refratário à nossa autoridade, não buscamos entender suas razões. Acusamos os jovens de rebeldes e problemáticos, quando, na verdade, a rebeldia está em nós mesmos por não aceitá-los como nossos iguais e entender que apenas reencarnamos antes deles... Desde Sócrates e Platão, os filósofos da Antiguidade se detiveram diante das dificuldades de relacionamento entre as gerações. Se amamos nossos filhos, devemos demonstrar esse amor, cercando-os não apenas com cuidados, mas tam- bém dando ouvido a eles, além de respeitar seu modo de ver as coisas. Poucos estão preparados para as grandes mudanças que a Terra já está vivendo nos dias de hoje e que, com o passar * Mateus, 15: 14. (Nota do Editor) 16
  • 16. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S dos dias, serão ainda maiores e mais drásticas. A maioria dos pais, acomodados ou sentindo-se incapazes de educar os filhos, repassa essa responsabilidade para a escola. Esse é um grande erro, sobre o qual vamos nos deter, em busca da renovação de atitudes. Educar exige preparo, reciclagem rápida e contínua. E necessário que os pais se preparem para receber os filhos com consciência para obter sucesso em sua educação. Não se trata da educação ideal, pois não há filhos ou pais ideais. Existe apenas a realidade de cada um. O método informal de "ir levando a vida para ver no que dá" já provou sua ineficácia. Hoje, para atingir um padrão de qualidade melhor, é pre- ciso que tenhamos metas a serem alcançadas e que busquemos os recursos necessários para atingi-las. Essa providência é in- teressante em especial na formação da nova geração, pois ela não aceita imposições nem regras que não sejam obedecidas por todos. É importante aprender a arte de compartilhar, e não apenas ditar regras. Quando percebermos que educamos mais por meio de nossas atitudes, ficará mais fácil entender que não se pode con- trolar o aprendizado de outra pessoa, não é esse nosso papel. 17
  • 17. AMÉRICO CANHOTO Desse momento em diante, nós nos sentiremos aliviados, pois tiraremos dos ombros um pesado e indevido encargo: o controle do destino do próximo. A educação compartilhada ajuda a definir o papel de todos. Nela, destaca-se a função de cada um, seu papel espe- cífico. Os pais, a família, a escola, a sociedade, todos têm fun- ções interdependentes. Inclusive, a própria criança. Se as expectativas de uma educação de boa qualidade serão ou não atendidas, dependerá de uma série de fatores que, embora se complementem, são independentes. Definir direitos, tarefas e funções é um passo inicial importante. A análise do papel que cada um cumpriu bem ou mal interessa apenas a quem o revisa. E a inteligência determina que essa reavaliação deve constituir apenas uma revisão de metas, sem o cultivo de sofrimentos. Também não adianta "jogar a toalha" e gritar: "Não sei mais o que fazer!". Não há como de- sistir: os filhos são para toda a existência... Vamos apenas relembrar alguns erros que, de tão comuns nem mais os percebemos nas lides do dia-a-dia, mas que po- derão, no futuro, pela sua repetição, causar muita dor e sofri- mento tanto para os adultos quanto para as crianças. Aproveitamos para reforçar um alerta a respeito da tran- sição que estamos vivendo: de alguns anos para cá, tudo anda cada vez mais célere, inclusive a Lei de Ação e Reação. Em outros tempos era possível reparar ou consertar os estragos que cometíamos com relativa tranqüilidade. Mas, atualmente, o espaço entre a causa e o efeito está diminuindo cada vez mais. 18
  • 18. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Caso continuemos a teimar em continuar presos aos mesmos padrões, o risco de não haver tempo hábil para as correções é grande. Para mim, o mais interessante, depois de estudar detidamente as características da nova geração, foi descobrir que preencho muitas delas. Se eu tivesse essas infor- mações antes, será que minha vida teria sido diferente? Que o azul, que é a cor do nosso planeta visto do alto, nos envolva a todos na oportunidade deste diálogo aberto. Sejam bem-vindos! Américo Canhoto 19
  • 19. Considerações iniciais termos e às concepções empregados no decorrer do livro, acha- mos por bem apresentar alguns que já conhecem e que ouvirão muito daqui em diante. Deixo claro que não concordo nem discordo inteiramente de nenhum deles, mas, a partir deles, tentaremos formatar nossa própria forma de ver, sentir e agir. 0 objetivo deste livro é provocar no leitor a atitude de duvidar, criticar, vivenciar e utilizar o que for possível e perti- nente, com um único intuito: proporcionar a saúde e a felici- dade de seus filhos. Nossas crenças não mudam as leis que regem a vida cós- mica. Tanto faz crer ou deixar de crer nelas, tudo continua sendo como deve ser: simples, igualitário ou divinamente per- feito. Um dia iremos amadurecer e deixar de bancar deuses em defesa de interesses próprios. Apenas para servir de parâmetro aos leitores: nas minhas convicções religiosas, já fui católico de berço e de "vestir a camisa"; depois, apenas por não aceitar nenhum tipo de dogma, conheci e vivenciei a prática de muitas outras; o que gostaria de dividir com o leitor fique posicionado em relação aos 21
  • 20. AMÉRICO CANHOTO os leitores: nenhuma consegue ofender minha convicção de que devemos ser atuantes e amorosos. O conceito de nova geração está acima de dogmas e de qualquer sistema de crenças, é uma realidade com a qual devemos aprender a conviver. Devo admitir, por exercício de humildade, que o con- tato com o conceito de nova geração preencheu várias lacunas nas minhas dúvidas e questionamentos sobre tão interessante assunto e forneceu-me para compartilhar com os pais dessas crianças uma nova abordagem, muito diferente dos antigos paradigmas educacionais. A pedagogia de valores, anunciada por Jesus e outros e formulada em parâmetros educacionais por Egidio Vecchio, re- vela inúmeros pontos em comum com nossa visão sobre como participar da educação das crianças de hoje e de amanhã - pois a base é a mesma - e reforça a idéia de estarmos a caminho de uma educação mais adequada aos novos tempos. Vivemos numa época cada vez mais acelerada e com fortes marcas de ação inteligente nas transformações que se operam; o que, por si só, já explica uma parte das saudáveis mudanças. Nos livros da Codificação Espírita, há muitos convites à refle- xão a esse respeito: algumas dessas mudanças já são bem claras e inquestionáveis; já outras necessitam de mais tempo para que cada um de nós possa tirar suas próprias conclusões. Lê-se em A Gênese, no capítulo 11: "Logo que um mundo tem chegado a um de seus pe- ríodos de transformação, a fim de ascender na hierarquia dos 22
  • 21. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S mundos, operam-se mutações na sua população encarnada e desencarnada. É quando se dão as grandes emigrações e imigra- ções. Mas, ao mesmo tempo que os maus se afastam do mundo em que habitavam, Espíritos melhores aí os substituem, vindos quer da erraticidade, concernente a esse mundo, quer de um mundo menos adiantado, que mereceram abandonar (...)." "São às vezes parciais essas mutações, isto é, circunscritas a um povo, a uma raça; doutras vezes, são gerais, quando chega para o globo o período de renovação." Comentário: embora as crianças de hoje sejam dife- rentes das antecessoras, vale a pena aguardar mais fatos e o decorrer do tempo. Em A Gênese, capítulo 18, lê-se: Perturbação "Onde nos parece haver perturbações, o que há são mo- vimentos parciais e isolados, que se nos afiguram irregulares apenas porque circunscrita é a nossa visão. Se lhes pudéssemos abarcar o conjunto, veríamos que tais irregularidades são apenas aparentes e que se harmonizam com o todo." Mundo de regeneração "Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados. 23
  • 22. AMÉRICO CANHOTO Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constitui- riam obstáculo ao progresso (...) Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinarem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual geração desapare- cerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas." Comentário: provavelmente, a geração atual desapa- recerá por meio de doenças, pois as crianças estão pulando as doenças dos adultos e indo diretamente para as de idosos. Lê-se ainda em A Gênese, capítulo 18: "(...) uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um espírito atra- sado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. Assim, decepcionados ficarão os que contem ver a trans- formação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos. (...) a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a 24
  • 23. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminente- mente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração. E muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da natureza. Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formarão duas categorias: de um lado os retardatá- rios, que partem; de outro, os progressistas, que chegam." Comentário: os retardatários refletem a grande maioria chamada normal; já os progressistas podem ser as crianças hoje rotuladas de problemáticas - apenas por perturbarem a velha ordem dos interesses em vigor. Continuando o estudo do livro A Gênese, de Allan Kardec, ainda no capítulo 18: Desencarnações coletivas: progresso "As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências, e o de dar maior ascendente às idéias novas. 25
  • 24. AMÉRICO CANHOTO Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atin- gem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quimé- ricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum (...)•" Comentário: de acordo com o resultado de nossas observações diárias ao longo do tempo, estamos convencidos de que, graças ao sistema de educação vigente, grande número de espíritos - hoje na condição de crianças - terá existência muito curta por causa dos efeitos do estresse crônico, o qual é a marca registrada da antiga geração. Allan Kardec, em A Gênese, capítulo 18, continua com o estudo dessa questão: Regeneração da humanidade "A época atual é de transição; já se misturam os elementos das duas gerações. Quem estiver de fora assistirá à partida de uma e à chegada de outra (...). Tudo se concluirá com a geração que se vai, e a que lhe suceder elevará novo edifício, que as subseqüentes consolidarão e completarão." Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, encontra-se o seguinte comentário: 26
  • 25. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S "Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas em seu verda- deiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos." AS CRIANÇAS DA NOVA GERAÇÃO Considero nesta abordagem o entrelaçamento das duas gerações citadas: de retardatários e progressistas. Para fins con- ceituais, distingo a geração progressista entre "reformadores" e "sábios", mas não as tendências de cada um deles: • A precocidade é sua marca registrada; • Necessitam de disciplina coerente; • Viciam-se com facilidade; • No geral, são mais bonitas que as gerações anteriores; • Seu potencial dos vários tipos de inteligência supera o das antigas crianças; • Necessitam de adultos emocionalmente estáveis e se- guros ao seu redor; • Não aceitam autoridade por imposição; • Dizem o que pensam e só fazem o que desejam; • São mais práticos; • São manipuladores ao lado de adultos inseguros; • São vulneráveis à aceleração: instáveis, apresentam déficit de atenção seletiva e, por isso, se lembram apenas do que lhes interessa. 27
  • 26. AMÉRICO CANHOTO NOSSO PONTO DE VISTA Convidado a participar de seminários sobre educação, tenho deixado claro o meu ponto de vista, baseado em estudos e observações de pacientes que atendi ao longo do exercício clínico como médico-orientador de famílias. Nesse trabalho, tenho a certeza absoluta de que tenho o amparo de mentores amigos e espíritos benfeitores, que me intuem sugestões a serem transmitidas aos que me procuram todos os dias em busca de alívio para dores e sofrimentos. Ao longo deste livro, apresentarei minha forma parti- cular de ver e de perceber as reações e posturas da criança da nova geração e das demais, embasado na experiência de um trabalho profissional de muitos anos. Por vezes, poderá parecer que contradigo a opinião de outros estudiosos, mas, ao final, veremos que apenas as repito ou mesmo as com- plemento. Minha visão de mundo sofre a cada dia novas inter- venções. Já a espinha dorsal, base das minhas convicções, encontra fundamento no livro A Gênese, de Allan Kardec, especialmente nos capítulos 11, 17 e 18. Resguardo a intenção deste escrito: pequenos descuidos tornam-se no futuro grandes problemas quando a educação é conduzida sem planejamento. Vamos nos ater ao tema, na tentativa de adquirir disciplina, que é virtude fundamental do espírito que busca alçar vôo da terceira dimensão, mundo este onde nos encontramos, para as outras. 28
  • 27. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Apenas para compor o quadro dos diferentes tipos de crianças da atualidade, com a intenção de facilitar seu en- tendimento, identificaremos as crianças em grupos distintos, embora separar gerações seja tão complicado quanto distinguir distúrbios psicológicos (neurose, psicose, personalidade psico- pática, transtorno bipolar etc.). As gerações têm idéias e pontos de vistas diferentes, às vezes opostos. Como o momento é de transição, confun- dem-se e misturam-se os elementos de duas gerações milenares. A mudança, que se dava de forma gradativa, atualmente está em sua fase final, na qual atingirá o clímax determinado pelo nosso comportamento: o estresse crônico, que levará ao desencarne milhões de pessoas cada vez mais rapidamente, sem necessidade de que ocorram desastres físicos, climáticos e geográficos. Apenas para exemplificar: cada vez mais, as crianças vão sofrer doenças próprias dos idosos como diabete, enfarte, acidente vascular ce- rebral, câncer de todos os tipos, depressão, angústia, pânico... Geração antiga Podemos enquadrar na geração antiga a quase totalidade daqueles que hoje rotulamos de pessoas "normais", adaptadas aos padrões contemporâneos. Os "normais" não são espíritos propensos ao mal, mas sim tendenciosos à ausência do bem e aos vícios cada vez mais degradantes. Além disso, estão cen- trados em si mesmos, nos seus interesses pessoais e familiares ou grupais. Não são, portanto, nem bons nem maus. 29
  • 28. AMÉRICO CANHOTO Predominam neles orgulho, inveja, egoísmo, narcisismo, intolerância e impaciência. Deles é que a Terra precisa ser ex- purgada, pois se obstinam em não se emendar. São pessoas que fazem questão de acreditar em sorte, azar, destino, sobrena- tural, alimentos diet e light* e crêem que "um pouquinho só não faz mal", no "beba com moderação", "fume com moderação", "use camisinha em relações suspeitas" e por aí afora... Geração transitória Por estarem mais amadurecidos, apesar de suas imper- feições, muitos partem cada vez mais rapidamente. Os "normais" acelerados, ou melhor, os que estão subme- tidos ao processo de aceleração da última fase da atual transição planetária, são basicamente as crianças que sofrem fortemente a pressão da angústia, do pânico, da depressão e doenças como o câncer. Por meio de nossos livros e palestras, estimulamos as pes- soas a pensar e desenvolver o raciocínio crítico revelado por Jesus quando nos afirmou que somente a verdade nos libertará**. Pais, mestres e cidadãos adeptos dos vários sistemas de crenças e de todas as origens sociais devem com urgência re- ciclar sua visão de mundo para entender, dentre outras coisas, * Inúmeros produtos rotulados de diet e light contêm mais calorias que os normais e não apresentam informações sobre os efeitos colaterais dos produtos químicos nos rótulos. Acho importante lembrar disso porque sei que, quando confiamos que um produto não é prejudicial, costumamos usá-lo sem critério. (Nota do Autor) **]oão, 8:31,32. (RE.) 30
  • 29. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S que de fato existe uma Lei de Ação e Reação e que o que gera nossa realidade são nossos atos. Nova geração Caracteriza-se por pessoas dotadas, desde o nascimento, de potencialidades acima da média, muito mais propensas ao bem, porém ainda suscetíveis de buscá-lo por meio da visão de mundo dos "normais". Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por sua inteligência e razão geralmente precoce, bem como por sentimento inato de religiosidade des- provido de dogmatismo. ABORDAGEM DE QUESTÕES A educação ainda sofre de um mal crônico: a falfa de planejamento. Falta-nos compreensão do que seja educar. Para a maior parte das pessoas, educar um filho é ditar-lhe regras ou propor- cionar-lhe um banco escolar sobre o qual atravessará boa parte de sua vida para receber a instrução formal. As informações adquiridas nas salas de aula nem sem- pre serão verdadeiras ou úteis e, o que é pior, pouco serão utilizadas... 31
  • 30. AMÉRICO CANHOTO Na vivência descuidada, pequenos deslizes tornam-se graves e dolorosos problemas. O estilo "levar a vida e sobreviver do jeito que dá", sem parar para pensar e planejar, é absorvido pela criança e enten- dido como se fosse um comportamento "normal". Esse modo de agir, que é repassado de geração a geração, nos mantém pri- sioneiros, dependentes de favores. Conceitos e valores errôneos, reforçados e repassados de uma geração a outra, hoje transmitidos com mais inten- sidade pela mídia, acabam por gerar mentira, oportunismo, agressividade, calúnia, maledicência, orgulho, inveja, traição, intolerância. A educação deveria nos estimular a desenvolver pa- ciência, tolerância, respeito, simplicidade, senso de ética e de justiça, qualidades muito valorizadas na teoria, mas pouco cul- tivadas na prática. Exemplo: quando pedimos a uma criança que vá ao mercado comprar alguma coisa, não devemos pro- por-lhe que compre uma guloseima com o troco para executar essa tarefa. Um dia, condicionada por esse comportamento - toma lá, dá cá - poderá freqüentar os noticiários como de- putado, presidente, senador ou policial, por exemplo, adepto do suborno. Quem não conhece o popular refrão dos pais que come- tem erros: "Não foi isso o que eu ensinei!"? Um dia, em algum lugar, teremos de prestar contas à própria consciência do que
  • 31. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S oferecemos aos que a divina providência nos confiou como filhos, ou mesmo àqueles que estão sob nossa responsabilidade. Até há alguns anos, o sistema educacional, com todas as dificuldades, dava a impressão de funcionar a contento. No entanto, nesta fase de transição planetária, ficam evidentes suas deficiências. Geração após geração, nós nos apegamos obsessivamente às sensações. Os hábitos alimentares podem servir de exemplo tanto à obsessão quanto à lentidão em nos reciclarmos. Mudam muito pouco de uma geração a outra sob circunstâncias bem diferenciadas. A avó que parou no tempo premia todos os dias os netos com guloseimas, esquecida de que na sua infância eram ofe- recidas apenas em ocasiões especiais. Dessa forma, isso não causava danos à saúde daqueles que as recebiam. Analisemos nossa tendência para consumir carboidratos (contidos no arroz e no feijão, por exemplo). Antigamente, predominava o trabalho braçal. Na atualidade, mesmo os que levam uma vida de pouco ou nenhum uso do corpo conservam os hábitos herdados dos antepassados: alimentam-se além de suas necessidades. 0 resultado é o aumento da incidência de diabete em todas as idades e da obesidade infantil, presente em crianças de 33
  • 32. AMÉRICO CANHOTO todas as classes sociais, a ponto de tornar-se um sério problema de saúde pública. As crianças consomem de tudo, sem nenhum controle. Os pais se omitem por ignorância ou comodismo. Os poucos que se preocupam em mudar a sistemática da alimentação discursam para uma platéia surda. Nenhum recurso vai eliminar miraculosamente as con- seqüências de anos de má alimentação. Minha intenção não é simplesmente criticar, muito menos apontar erros para despertar culpas e remorsos, mas de alertar o leitor para que faça as ne- cessárias mudanças nos seus hábitos, as quais vão beneficiá-lo e servir de exemplo não apenas para seus filhos, mas para todas as pessoas que o rodeiam. Nossa contribuição é ofertar material para reflexão, tes- tado entre as quatro paredes de um consultório e fora dele, para que a sucessão de pequenos descuidos, ao longo de uma vida, não se transforme num problema grave, de lenta e dolo- rida resolução. 34
  • 33. A reestruturação da família começa com o aprendizado do diálogo. É fundamental cultivar o hábito de conversar sobre temas importantes e inteligentes, mas com bom humor. A alegria cativa as pessoas, torna o diálogo mais agradável e atraente.
  • 34. A EDUCAÇÃO DEVE VISAR DESENVOLVER A CAPACIDADE DE DISCERNIR
  • 35. QUESTIONAMENTOS Esclarecendo dúvidas 0métodoque indicamos é o mais simples e na- tural possível: duvidar e, em seguida, refletir (experimentação e reavaliação periódica). O material pedagógico são as coisas e os fatos mais simples do dia-a-dia. O roteiro mais fácil a ser se- guido é o sistema de reestruturação usado em muitas empresas: metas, projetos, reposicionamento constante, reavaliação dos recursos e objetivos. 0 primeiro passo da reestruturação íntima e familiar é abordar algumas questões: "Quem somos nós?; O que fazemos aqui?; Quem é minha família?; Quem são meus filhos?; O que é educar?; Qual o melhor método de educação?; Quem é o educador?; Quem é o educando?; Quando termina o processo educativo?; De quem é a responsabilidade da educação?". QUEM SOMOS NÓS? Viver nos dias de hoje parece algo complicado, difícil e caro. Gastamos grande parte do nosso tempo e conhecimento para ganhar dinheiro e por vezes custear a educação dos filhos. Vez ou outra somos obrigados a nos deparar com jornais e re- vistas que apresentam gráficos e pesquisas de quanto custa um filho e sua educação (leia-se instrução). Essas reportagens servem de estímulo para que muitas pessoas evitem ter filhos. 37
  • 36. AMÉRICO CANHOTO Confundimos educação com simples treinamento e instru- ção. Desembolsamos uma fortuna para que nossos filhos perma- neçam na escola boa parte de suas vidas para aprender coisas sem muita utilidade prática. Claro que num mundo onde a tecnologia se torna cada vez mais importante, alguns conhecimentos são necessários, mas não podemos nos esquecer de outros aspectos que nos caracterizam como pessoas sadias e felizes. Muitas vezes, nessas instituições de ensino, eles são cobrados em demasia por resultados que não conseguem alcançar, para depois, fracas- sados, caírem em depressão, angústia existencial ou pânico. Onde falhamos? Desperdiçamos ensinamentos que a vida nos apresenta no cotidiano de nossa existência, talvez por serem ofertados de graça pela divina providência - não os valorizamos. Qual a razão dessa atitude? A crise na educação, em grande parte, tem sua origem no desconhecimento de quem somos e qual a nossa função. Entre nós e os animais irracionais, há muitas semelhanças e algumas diferenças... Os animais, guiados pelos instintos, não têm problemas para comer, saciar a sede, respirar, urinar, evacuar. Qual é a razão da inapetência, da constipação intestinal, da asma, da insónia de nossas crianças? Estou certo de que a origem de todos 38
  • 37. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S esses males encontra-se no tipo de educação que recebemos e que transmitimos aos nossos filhos. Mesmo que estes já tenham desaprendido de dormir, respirar, comer e até evacuar - o que não ocone com os animais, caso contrário não sobreviveriam -, mesmo assim, se os educarmos corretamente, fazendo-os en- tender o que é o corpo humano, como funciona, quais são suas necessidades, os problemas que poderão advir dos nossos maus hábitos alimentares e comportamentais poderão ser sanados. Os instintos guiam o animal, que pode ser domado ou trei- nado, e suas emoções parecem ser primárias. A mais evidente di- ferença entre racionais e irracionais é a capacidade de pensar de forma contínua. Nós, os racionais, pensamos, sentimos e somos capazes de agir; portanto, em teoria, podemos nos educar. A educação deve visar desenvolver a capacidade de discernir. Pensar/sentir/agir é um processo que deve estar sempre integrado, embora às vezes pensemos uma coisa, digamos outra e ajamos de forma discordante, pois quer queiramos quer não, nossas ações provocam reações e, ao recebê-las, devemos dis- cernir se continuamos agindo da mesma forma ou mudamos nosso modo de nos comportarmos. Se pretendemos educar nossos filhos, em vez de apenas treiná-los, é preciso, em primeiro lugar, que fique bem claro para eles que suas ações vão gerar efeitos muito além da imaginação, pois não há apelação no caso da propagação dos seus efeitos. 39
  • 38. AMÉRICO CANHOTO Desculpas ou pedidos de perdão sem que, ao mesmo tempo, bus- quemos reparar os erros cometidos não resolvem. É certo, porém, que podemos consertar o mal que causarmos a nós mesmos e aos outros. Enquanto não o fizermos, aliás, essa dívida permanecerá gravada em nossa consciência. Algumas escolhas trazem prazer, outras carregam dor: o tempo encarrega-se de revelar o que semeamos... A dor e o sofrimento são causados por escolhas erradas. A repetição crônica desses erros revela que estamos nos ne- gando a evoluir. A educação, nesse sentido, pode ser o fator determinante de nossa mudança. A criança da nova geração, por exemplo, é mais receptiva a entender a necessidade de mudanças. Se lhe explicarmos o que precisa fazer para ser feliz e se dar bem na vida, embasados em argumentos bem fundamentados, ela vai, em primeira ins- tância, refletir sobre nossas afirmações. Por exemplo: "Estou com vontade de comer bombom, por que não posso comer todos os que estão na caixa?" Se disser a ela que ficará com dor de barriga ou algo parecido, ela pode dizer que não se importa. Cabe a nós, adultos, provar-lhe o contrário não a medicando quando resolver fazer esse experimento... O modo de pensar cria nossa realidade: é necessário idealizar o que desejamos para nós. 40
  • 39. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S O pensamento contínuo é uma forma de energia que tem o poder de deslocar elétrons de suas órbitas. O ato de pensar cria e movimenta correntes eletromagnéticas e faz fluir a vida. Vivemos na atmosfera fluídica gerada por nossos pensamentos. Desde que nosso pensamento seja voltado para o bem, emitido com intensidade - com fervor, com fé -, e seguido de ação, poderá realizar-se, pois na terceira dimensão a força do pensa- mento necessita de atitudes concretas de trabalho. Quando pensamos, criamos a nossa realidade. E interagimos com a realidade dos outros, criando vínculos. Como a intenção deste livro é oferecer um novo olhar sobre a educação de nossas crianças, vale lembrar que elas po- dem ser afetadas pelo pensamento dos adultos. Exemplo: se os pais pensam continuamente que seu filho é incapaz, incompe- tente para aprender, dependendo da intensidade do seu modo de pensar, ele poderá vir a sê-lo, especialmente se vier acom- panhado de palavras e atitudes. Se tal assertiva vale para o pensamento negativo, ao qual nos referimos, vale também para o positivo. Se afirmarmos que existem virtudes em nossos filhos e os imaginarmos manifestando esses sentimentos, estaremos contribuindo para semear o bem e a felicidade em suas vidas. No consultório, atendo algumas crianças que adoecem com mais freqüência do que outras e demoram mais para atingir a cura. Na condição de médico de família, descubro 41
  • 40. AMÉRICO CANHOTO que em casos como esse geralmente algum familiar está en- frentando um conflito que envolve doença, perda ou medo da morte. Noutras vezes, há uma guerra não declarada entre pais e filhos, uma disputa para ver quem manda mais. Colocar uma criança da nova geração sob tal pressão é desastroso para a família, pois ela tira proveito da situação, manipula os pais e pode até provocar a falência da família, sem que o deseje, pois necessita mais do que as outras de segurança afetiva. Algumas crianças, além disso, têm medo ou pavor de ir ao médico. Na maioria das vezes, esse pânico é resultado do pensa- mento de pais ou familiares, contaminado com o "vírus" do medo, do apego, da insegurança, da falta de soberania emocional. A criança não tem capacidade para se proteger dessa projeção mental de seus familiares, que por sua vez imaginam que ela esteja doente ou tenha algum problema. Esse pensa- mento negativo a envolve e contribui para que desenvolva o temor pelo médico, que vai acompanhá-la por toda vida se não for capaz de enfrentá-lo. Com a finalidade de manipular os filhos, muitos pais usam da visita ao médico como punição: "Se continuar assim, vou levá-lo ao médico. Você vai ver o que é bom!". Se a crian- ça muda seu comportamento, influenciada pela ameaça, pre- miam-na com o adiamento indefinido da ida ao consultório: "Como você está bonzinho, não vamos ao médico neste mês". Esse tipo de atitude, contudo, é altamente prejudicial. Pode agravar problemas que, em tempo hábil, seriam facilmente 42
  • 41. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S extirpados. Os pais e familiares devem mudar seu pensamento: o médico é um facilitador da saúde. Atende a criança com carinho e a ajuda, segundo suas possibilidades, a viver melhor. A criança da nova geração não abre mão da liberdade. Pensar permite escolhas: é a liberdade que nos permite o livre-arbítrio. Quando desejar impor limites ou regras para uma criança da nova geração, deixe em aberto uma ou várias alter- nativas para que ela possa exercitar sua capacidade de escolha entre aquilo que lhe é permitido. Elas têm uma consciência inata de que pensar e escolher é exercitar a liberdade que tanto ansiamos. Quando presenciam a atitude passiva de seus pais, que aceitam os males que os ator- mentam sem esboçar reações, impacientam-se. Perguntam a si mesmas: "Porque meus pais abrem mão da liberdade de escolher a felicidade? Por que se recusam a perceber que não escolher, se acomodar, também é uma forma de fazer uma escolha?". Nos dias de hoje, a grande maioria das pessoas não pensa para não ter de escolher, como se isso fosse possível. Delegam as escolhas corriqueiras a outros e imaginam, assim, esquivar-se de arcar com as conseqüências, porém pequenos descuidos levam a grandes problemas (aos quais, pela Lei de Ação e Reação, res- ponderão no futuro...). Um exemplo disso, bem característico, é a postura descuidada dos adultos diante da bula dos remédios. "Para que lê-las? Por que perder tempo com aquele papelzinho 4 3
  • 42. AMÉRICO CANHOTO impresso com letras tão pequenas? Se o médico receitou, é ele quem deve lê-la, não eu". Essas pessoas recusam-se a encarar os dados que constam da bula. Ler esse impresso significa inteirar-se dos males que nos afligem e entender a ação medicamentosa, além de conhecer os efeitos colaterais da medicação e sua composição. O mesmo ocorre na educação de nossos filhos. Assim como transferimos para o médico a responsabilidade total de nos devolver a saúde, agimos da mesma forma em relação à educação de nossos filhos. Jogamos a responsabilidade para a escola. Não nos dispomos a ler o programa do curso e muito menos a tomar conhecimento da bibliografia que será utili- zada. Matriculamos a criança, compramos o material escolar e o uniforme, enchemos sua mochila com alimentos indus- trializados e, se estiver ao nosso alcance, contratamos o trans- porte que vai levá-la à escola e trazê-la de volta ao lar. Essa é a nossa parte! Os alunos parecem batatas quentes atiradas aos professores. A criança progressista - carente de afetividade e apoio familiar e consciente das obrigações de seus pais para com elas - pode perceber o que está por trás da atitude dos adultos: o desejo de livrar-se do encargo de educá-la e até de conviver com ela, pois sua forma questionadora de ser lhes tira o sossego. Tem dificuldade em aceitar a educação que lhe é imposta e causa algumas dificuldades aos pais e educadores. Como po- demos observar, a Lei de Ação e Reação funciona de forma acelerada: pais que se recusam a dar aos filhos a maior riqueza a 44
  • 43. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S seu alcance - a educação - são vítimas do sistema, repassando o que receberam; porém a atitude de alguns beira à omissão. Criada num ambiente onde não é permitido experimentar para aprender, a criança recusa-se a crescer. Muitas crianças recusam-se a alcançar a maturidade psicológica (mental, emocional e afetiva) e mantêm de forma acintosa posturas que não correspondem a sua idade. Essa ati- tude não é simplesmente birra, é o reflexo do comportamento de seus pais. E fruto da educação que apenas despeja informa- ções em sua cabeça. Geração após geração, não se permite à criança a li- berdade de escolha. Quando, eventualmente, os adultos lhe permitem isso, quase sempre ela é impedida de arcar com as conseqüências, o que retarda significativamente alcançar a maturidade psicológica. Quais seriam os motivos principais que levam os pais a impedir que a criança exercite a capacidade de pensar antes de escolher, tornando-as incapazes de suportar os efeitos de suas escolhas? Onde e com quem as crianças aprendem a desenvolver esse padrão de atitudes pouco responsável? Meditem. No de- correr deste livro, descobriremos respostas para essa questão. A educação também deve desenvolver a capacidade de sentir. 45
  • 44. AMÉRICO CAN» Perante as situações que vivenciamos, experimentamos emoções e sentimentos que retomam ao corpo como sensações, que devemos tentar interpretar. Quando nos recusamos a fazê-lo, nós as materializamos como doenças. Se porventura nos causam prazer, dizemos que são emoções boas. Se nos provocam dor ou sofrimento, nós as classificamos como emoções ruins. Chamam a isso de inteligência emocional. Como é fácil perceber, nossa in- teligência emocional deixa muito a desejar, isso é cada vez mais visível no dia-a-dia, em que, por exemplo, algumas pessoas não conseguem parar de chorar sem motivo aparentemente lógico para quem está de fora, para o observador. Somos seres interdependentes, então permutamos emoções e sentimentos. Em teoria, somos capazes de controlar a forma como as emoções e os sentimentos dos outros podem nos afetar mas não é o que se observa na prática: por exemplo, se num grupo de pessoas há uma muito irritada, logo todos estarão discutindo sem saber a razão. Poucas pessoas usam a razão para filtrar e também para permitir quais energias podem ou não afetá-las. Essa capacidade é entendida como a soberania da razão sobre a emoção, uma conquista espiritual ainda ao alcance de poucas pessoas. A dificuldade que temos para lidar com as emoções na maioria das vezes nos causa problemas. Essa con- fusão emocional é mais uma conseqüência da educação que recebemos. Não permitimos que a criança enfrente emoções que rotulamos de inadequadas. 46
  • 45. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S A criança está com raiva do irmão que lhe quebrou o brinquedo e sua reação é dar-lhe uns tapas. Presenciando a cena, dizemos à criança que o "Papai do Céu" está zangado, muito zangado com ela, porque cometeu um "pecado". Não lhe explicamos com lógica e clareza que a sua atitude foi egoísta, que ela precisa aprender a partilhar seus pertences eque agredir o irmão pode lhe causar, mais tarde, o retorno da mesma dor para que aprenda a só fazer aos outros o que deseja para si. Na condição de pais, de acordo com as possibilidades de entendimento de nossos filhos, devemos ensinar-lhes as conseqüências de suas reações. É importante ajudá-los a controlar as emoções e a discernir suas atitudes. Observar seu comportamento durante as brincadeiras e jogos infantis e corrigir seu comportamento intempestivo é nosso dever. Devemos contribuir para que superem sentimentos inatos que desde cedo se manifestam em suas atitudes: ciúme, in- veja, egoísmo... Ensinemos a eles que Deus não castiga nin- guém, nem sai por aí distribuindo prêmios. Temos aquilo que merecemos. Quando não se explica com honestidade, simplicidade e clareza, a criança não é capaz de elaborar suas emoções, até porque tem dificuldade em distinguir se está triste, magoada, decepcionada, com raiva ou ódio. Ela depende do adulto para desenvolver essa habilidade, mas com ele apenas aprende a fingir, camuflar suas emoções. Mais tarde, na idade adulta, ela poderá colher as conseqüências dessa indiscriminação: doenças 47
  • 46. AMÉRICO CANHOTO as mais diversas, alimentadas por mágoas acumuladas, ressen- timento, impaciência, ansiedade desvairada... Soberania emocional As crianças da nova geração são portadoras de soberania emocional mais desenvolvida que a nossa e capazes de elaborar as emoções com objetividade, além de serem muito amorosas. No entanto, não sofrem por causa das pessoas: auxiliam espon- taneamente, sem se deter na contemplação de suas dores. Por assim dizer, são verdadeiras ONGs ambulantes... Re- gistre bem isso, se for o caso, para entender as atitudes humani- tárias de seu filho progressista, as quais certamente despertarão a incompreensão das pessoas "comuns", incapazes ainda de praticar a caridade que Jesus nos ensinou, ou seja, tratar o pró- ximo como gostaríamos de ser tratados. Pensar, sentir, analisar, decidir e agir. Essa é a seqüência do pensamento contínuo. Discernir se o resultado das escolhas foi correto é o passo seguinte. Reformular ou não a escolha inicial é direito e dever de cada um. Normalmente, o adulto projeta-se na criança e acaba impedindo que pense e sinta por si mesma. Determina o que ela deve fazer e como reagir. Quando ela se rebela contra essa atitude, quase sempre a reação dos adultos não é das mais agra- dáveis. A seqüência à qual me referi é tão clara, lógica e natural que a criança da nova geração revolta-se quando é impedida 48
  • 47. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S de executá-la. Quando proibida de agir segundo seus impulsos mais progressistas, sua reação natural é não aceitar o que vigo- ra no sistema. As crianças da nova geração têm um faro aguçado para descobrir quem somos nós. Nosso sistema de crenças é que vai nos conduzir na dire- ção do progresso. Para acelerar essa caminhada, é fundamental ouvir a todos e analisar as opiniões alheias, sejam elas de origem religiosa, filosófica ou científica. De posse das informações co- lhidas, devemos analisá-las e tomar nossas próprias decisões. Nisso se resume a fé raciocinada. Caso não paremos para refletir com isenção sobre aquilo que nos alcança, estaremos presos a dogmas, convenções e preconceitos, e nossas escolhas poderão ser desastrosas. É importante estarmos sempre dispos- tos a ouvir, refletir, meditar e, se necessário, debater com as pessoas nossas dúvidas, até nos sentirmos bem. Os adultos "normais" evitam discutir alguns temas e, quando o fazem, querem impor seus pontos de vista. As crian- ças da nova geração adoram aprender e, boa parte delas, diz com naturalidade que somos espíritos eternos em aprendizado contínuo e que esta existência é apenas uma aula breve, duran- te a qual teremos tempo para refazer algumas lições malfeitas no passado. Sem que ninguém lhes diga, lá no fundo de sua alma, elas têm a intuição de que parar para refletir a respeito de quem so- 49
  • 48. AMÉRICO CANHOTO mos e o que fazemos aqui é o passo inicial para conquistarmos calma, paz e alegria de viver. QUEM SOU EU? Não estou me referindo à data e ao local de nascimento e a outras informações óbvias a nosso respeito, tais como nú- meros de documentos etc. Responder a essa pergunta implica olhar para dentro de nós e, então, observar nosso comporta- mento e atitudes e "mapear" nosso íntimo. Esse reconheci- mento da alma exige boa vontade e um esforço perseverante. Poucos de nós nos dispomos a despender nosso tempo nessa aventura. A maioria das pessoas desconhece sua na- tureza. Vivem apenas para comer, beber, consumir... Fogem do desconhecido porque ignoram sua natureza e temem que lhes cause sofrimento. Andam sem rumo pela vida, ao sa- bor das oportunidades, e padecem de angústia e inquietação crônicas. Podemos iniciar desde já o processo de autoconhe- cimento com base na análise de nossos pensamentos. Des- tacamos alguns deles, muito comuns a todos nós, os quais transcrevo a seguir. "Não quero nem pensar..." "Não aprendi a escolher por mim mesmo..." "Se todos fazem assim, por que preciso ser diferente? "Quem sou eu para mudar?" "Nem imagino o que vim fazer nesta existência..." 50
  • 49. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S "Ignoro quem sou..." "Nem imagino como explicar as ocorrências do meu dia-a-dia..." "Não consigo parar para pensar nisso tudo..." "Nem imagino o que fazer para educar melhor meus filhos..." Pensamentos tão desencontrados como esses revelam que é tempo de reformular o modo de ser. Se esse é o seu caso, as crianças pertencentes à nova geração que eventualmente forem seus filhos lhes serão de grande ajuda. Diferentes de nós, elas nascem com a intuição do papel que vão desempenhar nesta existência; possuem uma visão mais clara do próprio po- tencial; detêm relativa consciência daquilo que querem e não abrem mão de seus valores. Conheço crianças progressistas que, com menos de dez anos, dizem aos pais que parem de trabalhar tanto, pois não querem herdar seu dinheiro nem suas propriedades. "Não quero ser como vocês", dizem aos pais, abrindo-lhes os olhos para o péssimo exemplo que estão dando: concentração de seus esforços apenas na conquista de bens materiais. Será possível recuperar o tempo perdido e as oportunidades de autoconhecimento? Sim, sempre é possível, e quem manifesta essa intenção já atingiu uma condição mínima de maturidade e discernimento que vai ajudá-lo a conhecer melhor a si mesmo, descobrir a 51
  • 50. AMÉRICO CANHOTO natureza do seu eu. Será admitido no "clube" das pessoas que buscam progredir sem a ajuda do sofrimento. "A quem muito foi dado, muito será pedido"*, disse Jesus. Descobrir quem sou e qual minha missão no mundo pa- rece uma tarefa difícil, quase impossível, mas não é. Quando sei com clareza quem sou e o que faço aqui, adquiro equilíbrio para conquistar minhas metas e meus sonhos. Esse passo inicial deverá ser dado ainda na infância, pois é possível auxiliar a criança a descobrir seu potencial, suas predisposições, tendên- cias e impulsos inatos sem ferir os direitos do próximo. Quando os adultos que nos cercam na infância colaboram para o nosso processo de autodescoberta, torna-se mais fácil identificar o que viemos fazer nesta existência. Se não receber- mos esse auxílio, ainda não é o fim do mundo, pois sempre será possível analisar nossa condição: fatos ocorridos conosco, de que forma interagimos com as pessoas que nos cercam... Cada situação ou acontecimento que já vivemos ou estamos vivendo pode tornar-se uma oportunidade de aprendizado e um sinal de mudanças de rumo na vida afetiva ou profissional. Ajudar a criança na descoberta do projeto de sua exis- tência é uma das razões de vivermos em família. É a essência da arte de educar. Mas como educar? Como veremos a seguir, * Lucas, 12:8. (N.E.) 52
  • 51. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S educar é compartilhar com a criança o aprendizado que já adquirimos. De preferência discursando menos e exemplifi- cando mais. Caso tenhamos uma criança progressista na família, podemos solicitar-lhe que nos ajude a educá-la. Para tanto, basta analisar com carinho e humildade suas opiniões sobre quem somos e como nos comportamos. Procuremos refletir sobre suas considerações e, a partir delas, reformular nosso modo de ser. QUEM É A CRIANÇA? A criança é um ser eterno em evolução. Ela não é um boneco ou um bichinho de estimação. Pa- rece incrível ter de dizer isso, mas algumas pessoas estão tão entretidas com seus filhos, a ponto de esquecer que eles não foram criados para o seu deleite, mas para viverem sua própria existência, de forma independente mesmo que sob tutela. E preciso recordar quem somos e o que fazemos aqui e refletir sobre isso. Nossos pais nos deram a oportunidade bioló- gica de reencarnar para aprender e progredir. Fazemos o nosso papel dando essa mesma possibilidade aos nossos filhos. Os pais não são meros reprodutores, seu dever vai além: é fundamental que participem ativamente da construção do ser que receberam em seus braços. Não devem criá-los com mimos 5 3
  • 52. AMÉRICO CANHOTO ou destacar suas habilidades para exibi-los aos amigos e conhe- cidos ou, ao contrário, escondê-los se não nasceram de acordo com suas expectativas... Faz-se necessário estudar nosso filho para compreendê-lo. É importante analisar suas tendências, impulsos e comporta- mento desde a vida uterina até onde for possível, sem intenção de julgar, criticar ou controlar; além de colaborar para o de- senvolvimento de suas potencialidades, ajudar a mudar carac- terísticas inatas conforme colocamos em nosso livro A reforma íntima começa no berço, "com paciência e muito amor". Mesmo seres diferenciados como as crianças da nova ge- ração sofrem a influência do meio em que são criadas. Tanto podem ser bem-sucedidas quanto experimentar quedas fantás- ticas. Quanto maior o potencial, claro que maior é o risco a que nos expomos. Ao nascer, não somos páginas em branco. Para os "normais", é difícil perceber que, ao nascer, tra- zemos impulsos, tendências e predisposições inatas, algumas muito marcantes, denominadas por alguns de índole e classifi- cadas de boa ou ruim. Uma das funções da educação é ajudar a criança a discernir sobre a própria índole e corrigir as tendên- cias inadequadas. Anote a espécie de comportamento de seus filhos. Faça um esforço para registrar esse comportamento e analisar seu 54
  • 53. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S desenvolvimento. Observe também o modo de agir de outras crianças, evitando julgá-las ou dar palpites a seus pais, mesmo quando solicitado. Como não estamos inseridos no seu con- texto familiar, torna-se difícil e arriscado opinar sobre a vida alheia: cuidemos de nossos próprios filhos. A criança deve ser estudada o tempo todo. Viver é educar-se, dia e noite. Cabe ao adulto estudar a criança para ajudá-la a esboçar seu projeto de vida, ajustado às suas necessidades evolutivas. A execução desse projeto e o seu sucesso também dependem da ação dos pais. Quer queiramos, quer não, somos seus mentores encarnados; em nenhuma hipótese, podemos abandoná-los à própria sorte. A maior parte das dificuldades existenciais encontra sua origem nos problemas mal resolvidos na época da infância. Somos criaturas vivendo em permanente evolução. Ao nascer, trazemos um conjunto de tendências e predisposições, que vão nos proporcionar paz e felicidade, e outras, por sua vez, nos causarão infelicidade e dor. Desde a infância, precisamos nos educar para enfrentar o prazer e a dor, que serão uma constante em nossas existências, pois se trata de uma necessidade evolutiva, já que reencarnamos num mundo de expiação e provas. 55
  • 54. AMÉRICO CANHOTO Por incrível que possa parecer, a educação formal não contribui para vencermos as más tendências. Além dos im- pulsos, tendências e predisposições que trazemos ao nascer, ou- tros são incorporados, decorrentes do contato com a família e a sociedade. Quantos casos de depressão, pânico, roubos, trai- ções e mortes serão evitados quando a educação compreender o estudo e a superação das tendências inatas? Os benefícios serão incalculáveis para toda a humanidade... A reforma íntima começa no berço. Mudar algumas tendências inatas de uma criança bem pequena é muito mais fácil e simples do que as de uma criança maior ou de um adulto. Isso é mais do que lógico. Por exemplo, como ajudar um bebê impaciente e mandão? Isso é possível re- tardando seus desejos. Demore o máximo para satisfazer suas vontades (não suas necessidades básicas) para que entenda que não é "dono do mundo" e que nesta vida nada vai ser conseguido no berro. Se os pais se dispuserem a tanto, devem entender que a criança maior tem o direito de participar ati- vamente dessa transformação; só discursar não adianta. Além disso, os adultos devem compartilhar com ela sua própria ree- ducação ou reforma íntima. Pais e educadores ficam em polvorosa quando a criança exige que essa transformação seja feita de acordo com seu modo de entender as coisas, do seu jeito. As crianças da nova geração não abrem mão de suas prerrogativas. 56
  • 55. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S QUEM É O EDUCADOR? Na escola da vida, cada qual oferece o que possui. Os pais são os educadores e os filhos os educandos. O entendimento dessa questão, porém, amplia-se quando nos conscientizamos de que somos todos espíritos em evolução: aprendemos uns com os outros. No convívio com os filhos, ensinamos e aprendemos de acordo com as circunstâncias e necessidades. Muitos pais, contudo, assumem a condição de "doutores da lei", certos de que são verdadeiros mestres, cabendo aos filhos seguir-lhes os passos. Outros cometem o desatino dos desatinos: terceirizam a educação dos filhos, transferindo-a para insti- tuições e pessoas ainda menos credenciadas que eles mesmos. Por incrível que possa parecer, pais com pouca instrução mas dotados de amor e boa vontade tornam-se educadores de qua- lidade e outros, muito instruídos - em grande parte por como- dismo ou omissão -, deixam a desejar no papel de educadores. Os acontecimentos do dia-a-dia são lições de vida. Nessa escola, o tempo todo, somos educadores e educandos. Pais de boa vontade são aqueles que ensinam a partir do próprio exemplo. Dia desses, atendi em meu consultório um 57
  • 56. AMÉRICO CANHOTO adolescente, ali conduzido pelo pai. Uma raridade, pois quase sempre é a mãe a levar os filhos ao médico. Num determinado momento, o garoto foi questionado pelo pai quanto a seu gosto musical: "Doutor, ele fica horas e horas ouvindo música sem pé nem cabeça em alto volume e in- comoda até os vizinhos". A resposta do jovem foi interessante. Dirigiu seu olhar em minha direção e comentou: "Nunca meus pais me ensinaram a ter bom gosto musical. Nem sei do que eles gostam. Foi com meus amigos que aprendi a gostar dessas músicas. Coloco o som no último volume para abafar a gritaria deles com meus irmãos". Acredito que, depois dessa consulta, alguma coisa mudou no lar desse jovem. No mínimo, seus pais entenderam a neces- sidade de partilhar com os filhos suas preferências musicais. A criança também é um educador. O adulto deve aprender a interagir com a criança, permutando ensinamentos; mas, para que isso se realize, é preciso iniciar um diálogo construtivo. Diálogo construtivo? Do que se trata? A criança deve ser ensinada a assumir seu papel de educador perante as outras crianças, os adultos e os próprios pais. Como começar? Pelo básico, permita que a criança fale, não a interrompa nem tente convencê-la com meros discursos. Antes de tudo, não a interrompa, ouça o que tem a dizer. 58
  • 57. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Trate-a de igual para igual. Use de argumentos e não tente persuadi-la, pressionando-a para que faça o que você acha correto. Explique o que considera bom e útil para ela. Faça-se entender com brandura, não eleve seu tom de voz e, acima de tudo, seja paciente. As crianças da nova geração são educadores natos. Muitas são donas de uma capacidade de discernir e de um bom senso que supera o de muitos adultos. Seus pais devem acatar suas ponderações, elogiá-las e verbalizar sua gratidão - seja na vida em família, seja na escola, seja na relação social. Essa atitude pode aguçar ainda mais sua intuição e fazer aflorar uma sabedoria milenar. As que nos incomodam com perguntas, exigindo explicações lógicas, e por vezes detalhadas, e não se convencem quando damos respostas superficiais são pedras preciosas que recebemos da divina providência, a qual nos incumbiu de lapidá-las com amor. QUEM É O EDUCANDO? Todos nós somos educandos... O período da infância do ser humano é o maior dentre todos os mamíferos do planeta. A criança é uma verdadeira 59
  • 58. AMÉRICO CANHOTO "esponja", capaz de absorver as influências do meio em que se desenvolve. Dessa forma, a maior parte do padrão atual de atitudes dos adultos é um aprendizado recebido no período da infância. Os pais que desejem assumir a condição de verdadeiros educadores devem posicionar-se junto de seus filhos não como sábios e donos da verdade, mas como modestos aprendizes. A RESPONSABILIDADE DA MÍDIA Educar é interagir. O comportamento dos nossos filhos pode influenciar outras crianças. Devemos conscientizá-los disso, destacando a importância de agirem corretamente, sempre com a intenção voltada para o bem comum. Cumpre-nos alertá-los de que somos observados por olhos invisíveis, atentos aos nossos atos. É incontável o núme- ro de mentes que captam nossos pensamentos, uma vez que estamos conectados espiritualmente uns aos outros em rede, on-line... Influenciamos e somos influenciados o tempo todo, um processo que vai muito além da nossa imaginação. Paulo de Tarso nos alertou nesse sentido: "Portanto, estamos rodeados dessa grande nuvem de testemunhas. Dei- xemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se agarra em nós. Corramos com perseverança na corrida, man- tendo os olhos fixos em Jesus, que tanto incentivou a fé. Em 60
  • 59. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S troca da alegria que lhe era proposta, ele se submeteu à cruz, e se assentou à direita do trono de Deus"*.Vale dizer, é preciso vigiar nossas atitudes, pois somos responsáveis pela influência que viermos a causar aos outros. QUAL É O MÉTODO PEDAGÓGICO MAIS ADEQUADO? A criança necessita fazer as coisas do seu jeito para aprender. Na relação entre pais e filhos, um método pedagógico essencial é o exemplo. Mil palavras não valem uma atitude. Mas milhares de palavras e exemplos não rendem os frutos da própria experiência. Especialmente para as crianças com as particularidades da nova geração, isso é vital. Elas têm de fazer as coisas do jeito delas para aprender. O papel do adulto inteligente é criar-lhes limites e per- mitir que o aprendizado prossiga sem interferências autoritárias. Porque vivemos de forma descuidada, o "método pedagógico" mais usado é o da contradição: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço... Se o que observamos no dia-a-dia é um grande número de mal-educados em todos os sentidos, é cada vez mais evidente que os recursos pedagógicos da atualidade não são eficientes. * Carta aos hebreus, 12: 1, 2. (N.E.) 61
  • 60. AMÉRICO CANHOTO É urgente que se permita à criança experimentar os frutos das próprias escolhas. Na dúvida sobre o que fazer, deixe o acontecimento fluir. Quando não temos domínio sobre algo é melhor não interferir. Apenas é preciso observar, analisar, para agir quando estivermos seguros de nossas ações. Ofereçamos à criança o que temos de melhor: compreensão, carinho, autoridade moral, honestidade de propósitos, humildade, cuidados e respeito. Com certeza a criança aprenderá que deve agir assim em reciprocidade e quando agimos com tolerância e amor, o retorno é maravilhoso, especialmente entre as crianças da nova geração, que passam a desenvolver seu potencial com maior desenvoltura. Somos o modelo. Como pais, devemos nos matricular na "Universidade da Reestruturação da Personalidade". Para que nos tornemos bons exemplos ou modelos, é preciso colocar sempre o foco de nossa consciência no bem. Nossos filhos aprenderão a fazer o mesmo. Ao enaltecermos e valorizarmos suas qualidades, eles vão copiar nossa forma de agir. Se analisarmos com honestidade de propósito as qualidades que lhes faltam, é possível ajudá-los a conquistá-las. Evitando destacar seus defeitos - atitude que só vai contribuir para reforçá-los ainda mais -, seremos capazes 62
  • 61. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S de colaborar para que suas qualidades se evidenciem, incenti- vando-os a prosseguir no seu aprendizado. A QUEM SE DESTINA A EDUCAÇÃO? Somente o humano terráqueo pode ser educado? A educação cósmica destina-se a todos os habitantes do universo, sem distinção, conforme fica bem claro na Codifi- cação por meio do livro A Gênese. Quem dentre nós é um ET? Tanto quem não deseja aprender quanto aquele que ainda não despertou para a necessidade de educar-se serão igualmente beneficiados. Algumas pessoas se educam segundo a própria vontade e da forma que escolheram, outras são educadas compulsoria- mente segundo a Lei de Ação e Reação. Como diz o ditado, "se não for pelo amor, será pela dor". A opção da nova ge- ração, quando lhe permitem, é aprender usando a lógica e a experimentação: não gostam de modelos teóricos, regimentos e enquadramentos. A educação pode ser tanto passiva quanto ativa. A educação pode ser aplicada de forma ativa ou passiva. De forma passiva, nós nos educamos desenvolvendo a inteli- gência e a maturidade psicológica para evitar o sofrimento e a 63
  • 62. AMÉRICO CANHOTO dor. Na forma ativa de educar-se, aprendemos por opção pró- pria, pelo desejo espontâneo de evoluir. Cabe ao candidato a mestre - pais, educadores, adultos de maneira geral - provar a seus alunos que é mais fácil, prático e inteligente mudar por opção própria do que sob a pressão da Lei de Causa e Efeito. Aprimorar esse padrão de atitude vai nos qualificar para o papel de educadores. 6 4
  • 63. Educar também é permitir à criança descobrir seus próprios limites.
  • 65. O PAPEL DA FAMÍLIA A base d a civilização está fixada num dos microcosmos mais importantes da evolução: a família. Sua eficácia ou não como agente educador depende da forma como foi constituída. Quando estudamos a educação, não podemos deixar de dar um destaque especial à família. É entre nossos familiares, no período da infância, que formamos nossa personalidade e fixamos padrões de comportamento que vão nos acompanhar por toda a existência. De muitas maneiras, espelhamos a qualidade das pessoas que nos são mais próximas. Para compreender melhor a importância da vida familiar na construção da personalidade da criança, imaginemos, por exemplo, que ela seja um computador. Seu inconsciente, que seria o disco rígido, é o arquivo de registro de antigas expe- riências. O subconsciente é a memória periférica, o que está sendo executado no momento, que tanto pode ser salvo no arquivo principal ou ir para a lixeira. O foco da consciência ou do consciente é a tela. Imaginemos que todos os periféricos estão ligados. Na criança, comparada grosso modo a um computador, um equipamento que funciona tal e qual um scanner ligado 24 horas por dia é o subconsciente, o que faz com que ela capte tudo o que se passa a seu redor. Esse mecanismo de captação, 6 7
  • 66. AMÉRICO CANHOTO tão operante na criança, interfere e molda até o padrão dos seus caracteres físicos. Basta observar como as crianças ado- tadas, desde muito pequenas assemelham-se a seus pais adotivos, mesmo quando são de outra etnia. Claro que a estrutura familiar ainda deixa muito a de- sejar no cumprimento de tão importante papel - a formação da criança -, especialmente no que se refere aos aspectos que envolvem a ética e a moral segundo as leis da evolução. Obser- vamos vários fatores limitadores dessa função: nossas relações ainda são percebidas e sentidas segundo uma relação limitada à materialidade. O conhecimento das leis de evolução, além de precário, é pouco praticado na vida em família, restringindo sua influência na formação do caráter da criança. "Já cumpri meu papel de pai, meus filhos já estão criados e formados." "Desisto, meu filho não tem jeito..." Ouvimos afirmações como essas todos os dias ou somos nós mesmos que as pronunciamos. Precisamos entender que, nesta existência, um filho será sempre nosso filho e que não podemos renegar as responsabilidades que temos para com ele, nunca, daí não importar a idade cronológica dele. Nas bandas deste universo, a família é a oficina que a divina providência constituiu para nos conduzir, passo a passo, existência após outra, rumo à felicidade e à perfeição. A relação entre pais e filhos é um compromisso que se estende além do tempo e do espaço. 68
  • 67. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Não importa a idade de nossos filhos, muito menos onde se encontrem. Nesta existência, na condição de pais, estamos incumbidos de auxiliar seu desenvolvimento. Somos, por assim dizer, seus mentores encarnados, anjos guardiões, guias, como queiram. Não podemos nos isentar dessa responsabilidade. Essa relação é um poderoso instrumento, capaz de nos ajudar, pais e filhos, a desenvolver a capacidade de amar. Se nos cabe educar um filho problemático, não vamos desanimar diante das dificuldades e muito menos renegar nosso compro- misso. Se o que buscamos são informações, métodos e roteiros que nos auxiliem nessa tarefa, as informações expostas neste livro serão de grande utilidade. Fique bem claro que não disponho de fórmulas mágicas ou panaceias capazes de resolver quaisquer problemas. Desejo partilhar a experiência de uma vida dedicada à família e o farei com isenção e transparência, usando de todos os recursos ao meu alcance, sem falsear com a verdade. A maioria das pessoas está colecionando pequenos descuidos e ainda não sentiu as conseqüências de suas atitudes. Habituados a não parar para pensar e questionar, come- temos todos os dias pequenos descuidos que vão se avolu- mando... Atualmente, nós nos descuidamos da educação de nossos filhos para mais tarde enfrentar problemas angustiantes. 69
  • 68. AMÉRICO CANHOTO O descaso de hoje pode causar sérios e dolorosos pesadelos que nem médicos ou terapeutas renomados poderão resolver de pronto. Vale, portanto, empenhar o melhor de nós em prol de nossos filhos: esta é nossa missão! MUDANÇA DE DNA Modernas teorias provam que o meio ambiente afeta profundamente a membrana das células, alterando a estrutura do nosso DNA. No entanto, antes mesmo de receber essa in- formação, já cansamos de comprová-la no dia-a-dia. No consultório, atendo várias famílias que têm filhos adotados, os quais absorvem, por assim dizer, ao longo dos anos, o fenótipo dos pais, ou seja, tornam-se muito parecidos com eles em todos os sentidos. Depois da adoção, conhecidos nossos tiveram filhos con- sanguíneos e percebe-se, embora isso pareça incrível, que os adotados são até mais parecidos com os pais... Casais, que estão juntos há muitos anos, por vezes aparentam tantas semelhanças que até parecem irmãos consanguíneos; se observamos fotogra- fias antigas dessas pessoas, veremos que, no passado, as seme- lhanças não existiam. O QUE É A FAMÍLIA? Quando influenciamos alguém a tomar uma atitude, criamos compromissos para o futuro. 70
  • 69. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Do conjunto de atitudes do passado, originaram-se as famílias do presente. Não fazemos parte de nossa família por acaso. Essa filia- ção não é um mero acidente de percurso: faz parte da lei da interatividade. Estamos juntos daqueles com quem nos compete, nesta existência, conviver para nos reeducar, aprender ou até mesmo realizar alguma tarefa em conjunto. "O que fiz para nascer nesta família?" é uma pergunta pertinente: estamos com aqueles que serão nossos professores nesta existência, para os quais exerce- remos o mesmo papel, ou estaremos ombreando com amigos para executar projetos construtivos que foram combinados no plano espiritual. Relação familiar envolve compromisso. Os integrantes de uma família sentem-se, intuitivamente, mais ou menos compromissados uns com os outros. Tanto mais forte será o vínculo familiar quanto maior a capacidade dos seus integrantes de responsabilizar-se uns pelos outros. A união familiar depende da condição evolutiva dos envolvidos. Pode ser correta, saudável, alegre e feliz ou inadequada, doentia e sofredora. As crianças progressistas são mais resolvidas e indepen- dentes na relação familiar. Sentem a importância de fazer parte desse grupo, daí precisam sentir apoio na companhia de seus
  • 70. AMÉRICO CANHOTO familiares; pois elas fazem tudo o que está a seu alcance para que a tarefa combinada seja realizada. Não perdem tempo, auxiliam e socorrem aqueles que estão do seu lado, amparam de coração, sem, no entanto, envolver-se emocionalmente no problema ou na dor do próximo. Sabem que fazem parte do grupamento familiar no qual se encontram por razões trans- cendentais. Aceitam essa realidade - embora nem sempre sejam tão bem-aceitos por seus familiares. A formação da família pode ser planejada? Sem dúvida, pois para isso estamos neste mundo. Estamos aptos para tal empreitada. Um dia, em algum lugar do passado, nós nos tornamos capazes de planejar, até certo ponto, a cons- tituição familiar. Claro que a execução dessa tarefa depende da qualidade dos relacionamentos que construímos no passado, do grau de maturidade daqueles que estão envolvidos conosco e da ca- pacitação que desenvolvemos. Ainda não temos consciência plena dessa responsabilidade nem do que advém de nossa inse- gurança em relação à formação da família. Escolhidos aqueles que vão participar do nosso grupo, não é possível romper o vínculo. Como diz a música: "Não adianta querer me abandonar, pois vou te encontrar por aí". Não adianta fugir, abandonar, se 72
  • 71. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S separar. Um dia, retomaremos ao convívio daqueles que hou- vemos por bem nos separar. Boa parte dos grupos familiares de hoje - envolvidos em dores, dificuldades e sofrimentos - são os retardatários de on- tem, aqueles que fugiram dos compromissos assumidos, ima- ginando-se liberados de um período de convivência que não satisfazia suas expectativas. Para a maioria das pessoas, consideradas "normais", não cumprir com a palavra é comum. O mesmo não ocorre com a nova geração, que não entende nem aceita a negação de res- ponsabilidades, o uso de subterfúgios para escapar de compro- missos assumidos. Ao contrário, cobra fidelidade daqueles que a cercam e, por sua vez, não quebra comprometimentos. Quando enfrentam embargos na caminhada, são bem francos: revelam suas dificuldades, prontos a negociar. Costumam ser fiéis a sentimentos, interessados no bem-estar das pessoas que fazem parte de seu universo afetivo. São livros abertos, não conseguem camuflar seu estado de alma positivo ou negativo. A criança da nova geração apresenta a marcante carac- terística de fazer, sem esforço, espontaneamente, uma leitura exata dos sentimentos e desejos das pessoas. Se é criada num ambiente de hipocrisia, logo passará a manipular as pessoas sem manifestar sentimento de culpa: simplesmente entra no jogo para ganhar. Com facilidade, a criança da nova geração aprende a "dançar conforme a música". 73
  • 72. AMÉRICO CANHOTO Na dança da vida, ela é uma excelente dançarina, seja qual for o ritmo imposto a ela. Trocando em miúdos: se perceber que é impossível usar seu senso ético-moral e sua aprimorada visão de justiça, ela vai atuar segundo as regras e valores do grupo em que está inserida. Por uma questão de sobrevivência, vai se adequar ao meio, o que não significa a perda de suas conquistas espirituais. Ao enfrentar esse tipo de situação, ela sente um forte impulso de deixar a vida física, um risco de desastre iminente. Se uma criança da nova geração disser que está cansada da vida, fique de olho "para mantê-la na aula até soar o sinal"... A FORMA COMO A FAMÍLIA É CONSTITUÍDA Podemos dizer que uma parte das famílias da atualidade for- mou-se segundo a lei de atração e sintonia sob a batuta da Lei de Ação e Reação. Pois ela é a força motriz que ainda nos aglutina. Nós nos aproximamos de nossos familiares graças aos compro- metimentos do passado, originados geralmente por nossos atos impensados e transgressões cometidas contra as leis divinas. Algumas, por merecimento espiritual de seus integrantes e amparadas por benfeitores do mundo maior, demonstram co- locar em prática um planejamento que se esboçou do outro lado da vida. São auxiliadas por aqueles que já fizeram parte delas e que, agora em melhor condição evolutiva, estão em condição de ampará-las espiritualmente. 74
  • 73. Para educar uma criança, é fundamental não só termos consciência de quem somos, mas também capacidade de nos responsabilizar por nós mesmos, pelo nosso corpo, pelas nossas escolhas.
  • 74. PLANEJAR E GERENCIAR A VIDA EM FAMÍLIA É UMA CONQUISTA ESPIRITUAL
  • 75. QUALIDADE DAS RELAÇÕES NA VIDA EM FAMÍLIA E inegável que até certo ponto somos fruto do meio ambiente em que nascemos e fomos criados, o que é compro- vado por recentes descobertas da ciência; o cientista Bruce H. Lipton deixa isso bem claro no seu livro A biologia da crença. Os nascidos em famílias mais bem planejadas e administradas têm mais chances e oportunidades de receber uma educação de melhor qualidade, mas esse não é o caso da maioria que habita o nosso planeta. Em que ponto estamos na escala evolutiva? Entre os animais, a relação entre pais e suas crias sempre obedece ao padrão que predomina na espécie. Além do ins- tinto, o mecanismo do relacionamento familiar entre os homens compreende a ação das emoções, a manifestação do amor ou do egoísmo. Existe amor entre pais e filhos quando há responsabili- dade e respeito. O egoísmo prevalece quando buscamos satis- fazer interesses ou desejamos controlar o próximo. A criança da nova geração, por exemplo, adora ser cuidada e necessita, como todos, de amor, mas não suporta os excessos da afetividade em que a soberania emocional não exista. Na escala evolutiva, estamos no estágio da experimen- tação da razão e do sentimento. Ainda incapazes de controlar 77
  • 76. AMÉRICO CANHOTO nossos sentimentos, confundimos amor com a posse do ser amado e desperdiçamos, muitas vezes, uma convivência que, de outra forma, seria muito produtiva e gratificante. Em nossas relações familiares, ainda predomina a desigualdade no trato afetivo. Entre nós, existem aqueles que nos causam sensações desconfortáveis. Essa sensação explica-se pelo entendimento da sintonia e afinidades genéticas e energéticas. A qualidade da relação familiar pode ser de simpatia ou de antipatia, geradas no passado e no presente. A vida familiar, quando sadia e harmoniosa, transforma a antipatia em sim- patia e amplia o amor e o entendimento que já existem entre aqueles que são afins. A criança da nova geração, sem que ninguém peça, é capaz de cuidar de seus irmãos, de pessoas idosas e de todas aquelas que necessitem de cuidados especiais. Presta essa ajuda com absoluta naturalidade e não gosta de ser elogiada por isso. Manifesta estranheza quando percebe que as pessoas não agem assim, espontaneamente. Na condição de facilitadoras de nossa passagem para o mundo de regeneração, as crianças da nova geração não têm dívidas espirituais para com seus familiares, nem vieram a este mundo para expiar culpas do passado. Estão, na verdade, provando sua capacidade de servir ao próximo. Servem de 78
  • 77. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S mediadoras entre seus familiares e contribuem para salvar uniões conjugais e aproximar a parentela. Reconheço que tenho problemas familiares. O que devo fazer? Quando as relações familiares não andam bem, é ne- cessário humildade para reconhecer isso e buscar ajuda. As crianças progressistas são excelentes conselheiras e ajudam a restabelecer a harmonia conjugal e familiar. Precocemente, manifestam com naturalidade sugestões de grande valor. Obser- vadoras e intuitivas, identificam com clareza os problemas que estão minando a união familiar e sugerem medidas práticas que podem evitar o pior. Em sintonia com seus pais e irmãos, elas auxiliam pra- zerosamente, sem cobrar gratidão ou gratificações por sua intervenção. Com a ajuda deles e daqueles que se dispuserem a nos auxiliar, devemos planejar o gerenciamento da vida em comum. Se não for possível eliminar todos os pontos de atrito, certamente ficará ao nosso alcance minorar essas ocorrências. Uma família que faliu em existência anterior e que se reúne em nova encarnação tem grandes probabilidades de ser feliz, não obstante as dificuldades acumuladas a enfrentar. Planejar e gerenciar a vida em família é uma conquista do homem. 79
  • 78. AMÉRICO CANHOTO O animal irracional manifesta o impulso instintivo da ma- ternidade e da paternidade, inerentes à perpetuação da espécie. O ser humano acrescenta ao instinto, presente em sua constitui- ção, a emoção, a inteligência e a conseqüência de suas escolhas. Quem deseja de fato "humanizar-se" e libertar-se dos instintos primários deve conscientizar-se das responsabilidades que nos cabem quando geramos um filho. O papel de pais bio- lógicos ou adotivos é valiosa oportunidade de crescimento es- piritual, desde que o exerçamos de acordo com as prerrogativas que nos foram delegadas na espiritualidade ou que decidimos no momento presente - oportunidades de adoção surgem e quem quer as aproveita. SEPARAÇÃO E ABANDONO Muitas pessoas se acham merecedoras de toda a felici- dade do mundo e, para alcançá-la, fazem o próximo sofrer sob o jugo dos seus desejos. Um dia, podem sofrer a conseqüência do seu egoísmo, pois reencarnarão para vivenciar experiências junto daqueles que manipularam no passado. O resultado dessas uniões dependerá do livre-arbítrio na ocasião. A cada dia, aumenta o número de separações: famílias problemáticas se desfazem por toda parte. São uniões estabe- lecidas ao sabor das paixões, cujos integrantes se frustram diante das dificuldades que são incapazes de enfrentar porque não amadureceram seu entendimento do que seja, realmente, um grupamento familiar. Esperam daqueles que os cercam a 80
  • 79. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S satisfação de seus desejos egoístas e quando suas expectativas são frustradas rompem os compromissos. A nova geração jamais abandona seus filhos, mesmo que tenha sido desamparada no período da infância. Ela manifesta um senso de responsabilidade muito desen- volvido. Valoriza a união familiar e faz o que está a seu alcance para sustentá-la. Mesmo quando separada do cônjuge, não se omite diante dos deveres assumidos. Se porventura foi abando- nada no período da infância ou sofreu o descaso dos pais, não guarda mágoas ou rancores daqueles que a privaram de uma vida melhor. Supera o sofrimento relegando-o ao esquecimento. São pais devotados, generosos, conscientes de seus deveres e obrigações, exercidas com prazer. Vibram com a felicidade dos filhos, mas não se prendem a eles nem se permitem aprisionar-se nos excessos da afetividade. 81
  • 80. PARTE 4 OS PAIS NÃO SÃO RESPONSÁVEIS PELOS FILHOS, ESTÃO RESPONSÁVEIS
  • 81. CAUSAS DA FALÊNCIA DA FAMÍLIA Formar uma família é um empreendimento como outro qualquer. Seadotarmosuma visão empresarial da família, conscientes do nosso compromisso com a Lei de Ação e Reação, a possibilidade de sucesso do nosso empreendimento familiar será ainda maior. O lar assemelha-se a uma companhia que exige administração, planejamento e gerenciamento. Tal qual uma empresa, não pode ser entregue ao acaso ou a mãos iná- beis, caso em que estará condenada à falência. Quando uma empresa "quebra", todos aqueles que fazem parte dela sofrem as conseqüências. Quando uma família nau- fraga no mar da vida, contribui para aumentar o número de de- pressivos e dos que se drogam para dormir ou para acordar, além do vício do tabagismo, do alcoolismo e do sexo sem amor. As maiores vítimas desse desastre são os órfãos de pais vivos, mas separados, que muitas vezes sofrem o fogo cruzado disparado por seus familiares... Esse tipo de ambiente, deprimente e opres- sivo, é muito prejudicial ao desenvolvimento da nova geração. As empresas que planejam o empreendimento antes de iniciar suas atividades e que, diante das dificuldades, buscam se ajustar aos desafios quase sempre alcançam um relativo sucesso. E comum, muitas vezes, saltarem do prejuízo para a lucrati- vidade. Fazem por merecer o lucro que obtêm, fruto de um trabalho de equipe. 83
  • 82. AMÉRICO CANHOTO Por outro lado, as famílias estruturadas que se adaptam diante das dificuldades e as enfrentam com disposição ganham a paz, a harmonia, a relativa felicidade, a saúde, o crescimento espiritual dos seus integrantes e a melhoria do padrão de matu- ridade psicológica de todos bem como a continuidade da vida em comum. Como se inicia a maioria dos empreendimentos familiares? A força de atração básica é o magnetismo da energia sexual ou o instinto de perpetuação da espécie. A pressão social também exerce uma ação considerável na opção de formação de uma família, além do medo de ficar só, ser conhecido como uma pessoa problemática, solitária e frustrada. Tudo indica que a maioria das famílias inicia-se por essas razões. A fase de incubação da família é o namoro e o noivado. Na atualidade, os problemas costumam aparecer já nessa etapa, quando fazemos nossas escolhas ao acaso, ao sabor de paixões passageiras. Até poucos anos atrás, as crises mais fortes e ca- pazes de acabar com a relação surgiam por volta dos cinco anos de relacionamento. Não estou sugerindo que sejamos frios e calculistas na escolha do parceiro com o qual iremos dividir nossas res- ponsabilidades familiares, mas que busquemos analisar quais serão nossas possibilidades de sucesso ao lado desta ou da- quela pessoa. 84
  • 83. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S Raramente, porém, nessa época da vida, nos aproximamos para elaborar planos ou desenvolver metas de vida conjugal e de como criar os filhos, se a opção for tê-los. Nossos encontros visam apenas usufruir de momentos prazerosos, quando o mais adequado seria planejar o empreendimento familiar nessa fase. Quantas dores e desilusões serão poupadas se discutirmos o dia de amanhã embasados na realidade, sem perder de vista as necessidades práticas de uma vida em comum. É necessário o estudo lógico e racional das possíveis difi- culdades que iremos enfrentar e instituir um programa de metas comuns para sanar contratempos e evitar problemas antes que surjam no horizonte de nossas vidas. Vários fatores contribuem para que a família não se consolide ou não progrida segundo nossas expectativas. Alguns fatores, isolados ou conjugados a outros, podem frustrar o desejo de encontrar a felicidade familiar. Vejamos alguns deles: • Falta de clareza nos objetivos do casal, que não tem certeza dos motivos pelos quais se atraíram, da ex- pectativa desse casamento e muito menos do desejo de trabalhar em equipe para esse empreendimento. • Ausência de maturidade psicológica (mental, afetiva, emocional) do casal. 85
  • 84. AMÉRICO CANHOTO • Visão romanceada do que seja a vida familiar: depositar no cônjuge expectativas de satisfação de necessidades pessoais. • Falta de transparência e dissimulação da personalidade. • Pouca honestidade de propósitos e falta de diálogo. • Camuflagem de interesses pessoais. • Interferências externas: rota de colisão entre familiares. • Excessiva dependência emocional e financeira da família. MANEIRA DE GERENCIAR j A cada dia que passa, a aceleração dos acontecimentos expõe de maneira nua e crua nossas dificuldades íntimas e desgasta relacionamentos pouco sólidos. Quando estudamos as relações familiares, esse fato evidencia-se. No passado não muito distante, as atribuições de cada um eram mais ou menos definidas. Direitos e obri- gações eram mais delineados, mas nem sempre justos, porém bem mais definidos. O papel que cada um desempenhava em família era bem mais claro, o que facilitava a cobrança de responsabilidades e a suposta eficiência da organização familiar. Nos dias de hoje, a família sofre uma crise global. Na maior parte dos países onde a cultura do consumo prevalece, o papel do homem é de mero provedor de recursos para a manutenção do lar. A mulher, em relação ao homem, é mais 86
  • 85. PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S sobrecarregada por tarefas e comprometimentos que, muitas vezes, a impedem de exercer plenamente o papel de mãe. Momento de transição Muitas foram as aquisições feitas no campo dos direitos pessoais e da relação familiar com ênfase nos direitos da mulher e da criança. Vivemos numa época de rápidas transformações, mas nossa capacidade de mudar com rapidez tem limites es- treitos; isso nos deixa um pouco perdidos. Se os papéis familiares estão embaralhados, basta rede- fini-los para que cada qual cumpra com seus deveres e exerça seus direitos. Acrescente-se que os valores sociais hoje mudam muito depressa. Muitas pessoas estão desorientadas e não sabem como se comportar diante das mudanças. Resultado desse caó- tico estado de coisas: as crianças apresentam sérios problemas psicológicos e de comportamento. Para mudar esse panorama, peça ajuda às crianças da nova geração de sua família. Felizes daqueles que têm uma criança progressista reconhecida como tal, com permissão dos pais para opinar e agir para melhorar a vida familiar. AUSÊNCIA DA MÃE As mães estão cada vez mais afastadas dos filhos. Essa convivência, tão necessária para a harmonia da família, está cada vez mais escassa. Está provado que a ausência da mãe 87
  • 86. AMÉRICO CANHOTO é um mal ainda maior do que a do pai no dia-a-dia da família. Muitas mulheres murmuram: "Filhos? Seria melhor não tê-los". Cabe perguntar: e os compromissos assumidos na espirituali- dade? Adiar o pagamento de dívidas implica acumular novos débitos... HERANÇA EDUCACIONAL Tal pai, tal filho... Além da instrução básica, faz parte da educação - para aqueles que têm acesso a ela - a cultura geral, as noções de etiqueta e de elegância. Predomina, porém, o conceito de boa educação baseado no "verniz social": pessoas são elogiadas como bem-educadas se usam o tom de voz correto, dizem bom-dia, boa-tarde, sorriem, escutam os outros com atenção etc. Pouca atenção prestamos na postura ético-moral das pes- soas nas atividades do dia-a-dia; como disse o Mestre, a árvore se conhece pelos frutos*. Mesmo assim, a todo instante, nós nos deparamos com adultos bem-nutridos e instruídos cujo comportamento deixa muito a desejar: desacatam as pessoas, empurram-nas em filas, metem-se na conversa dos outros, não respeitam as leis de trânsito e muito menos as normas e os regulamentos em geral. Com quem aprenderam a se comportar assim? * Mateus, 12: 33. (N.E.) 88