1. Profa. Dra. Lucia Helena
Reily
Doutorado em Psicologia Escolar
USP, 1994
Mestrado em Psicologia Escolar
USP, 1990
Bacharelado em Artes
Indiana, EUA, 1974
2. Lucia Helena Reily é pesquisadora e docente no Centro de Estudos
e Pesquisas em Reabilitação Prof. Dr. Gabriel Porto, da Faculdade
de Ciências Médicas da Unicamp. Desenvolve também um
trabalho de supervisão pedagógica na Associação Educacional
Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especial.
A experiência de Lucia Reily com crianças, adolescentes e adultos
com diferentes comprometimentos e histórias de vida, levaram-na
a publicar o livro Armazém de imagens (Papirus, 2001). Três anos
depois, seus conhecimentos, somados ao trabalho de formação de
professores na universidade com foco na articulação entre saúde e
educação, resultaram no livro Escola inclusiva: Linguagem e
mediação.
Ao discutir os meios de expressão e a mediação pedagógica, a
autora instrumentaliza o professor com conceitos e propostas de
trabalho, ajudando-o a perceber o melhor recurso para
impulsionar a aprendizagem de seu aluno.
3. QUAL O PAPEL DO
PROFESSOR DA ESCOLA
INCLUSIVA? SERIA ELE O
PRINCIPAL RESPONSÁVEL
PELA EDUCAÇÃO DO ALUNO
COM NECESSIDADES
ESPECIAIS?
4. Lucia Reily: O
professor tem um papel essencial como mediador dos
processos de ensino-aprendizagem. Na escola inclusiva, é ele que
recebe o aluno com necessidades especiais na sala de aula. Sua
atitude perante a deficiência é determinante para orientar como
esse aluno, com as suas diferenças, vai ser visto pelos colegas. O
professor também organiza o trabalho pedagógico e pensa
estratégias para garantir que todos tenham possibilidade de
participar e aprender. No entanto, ele não é o único responsável
pela educação do aluno com necessidades especiais. A escola
também responde pela inclusão, e cabe ao professor promover
uma mediação entre família e escola, solicitando suporte e
acompanhamento da escola durante o ano letivo. Assim, vemos
que a mediação se dá em vários níveis: no trabalho
pedagógico, nas relações na sala de aula, na escola e também nas
relações com a família e a comunidade.
5. Em sua obra, você afirma que os
recursos pedagógicos são
ilimitados. Mas como o professor
de uma escola inclusiva reconhece
os melhores recursos para
impulsionar a aprendizagem de seu
aluno?
6. Lucia Reily: Entendo a atuação pedagógica como um processo de
investigação e estudo, de solução de problemas. No contexto da sala de
aula, às vezes o professor se defronta com limites. São limites das
condições de trabalho, do conhecimento ou de sua própria formação
ou necessidades educativas especiais do aluno. Não importa a origem
do desafio, essa situação vai exigir do professor a busca de novas
estratégias para resolver o problema. Quando digo que os recursos
pedagógicos são ilimitados, quero dizer que as soluções podem vir de
vários campos do conhecimento. O professor precisa identificar as
possibilidades do aluno e o trajeto que ele percorre para se
comunicar, para se apropriar do que está à sua volta, a fim de encontrar
um caminho compatível com as possibilidades dele. Esse caminho
geralmente não é o tradicional da aula expositiva, centrada na palavra
oral ou escrita. É necessário recorrer a jogos, filmes, músicas, mapas,
maquetes, desenhos, gráficos, livros de história, miniaturas e
dramatizações como recursos alternativos possíveis.
7. Como o professor da escola
inclusiva deve utilizar os recursos
da linguagem ao trabalhar o
conteúdo escolar com crianças que
apresentam diferentes
dificuldades?
8. Lucia Reily: O livro Escola inclusiva: Linguagem e mediação foi
organizado pensando não em como atender as deficiências na
escola inclusiva, mas sim nos recursos da linguagem, valorizando a
linguagem verbal (a palavra) e as linguagens não-verbais (os
sistemas visuais e pictóricos, a música, a linguagem do corpo). No
caso de uma criança com deficiência visual, por exemplo, sua
possibilidade de contato com o mundo é por meio de ações físicas
no espaço, de movimentos e sensações, e da significação pela
palavra. Assim, o conteúdo escolar precisa ser apresentado por
esse canal. Isso não quer dizer que a imagem ficará fora do seu
repertório, mas sim que a imagem precisa ser traduzida para que
ela tenha acesso tátil e linguístico àquilo que está sendo
transmitido por meio da imagem. Seguindo esse mesmo
raciocínio, o aluno surdo não tem acesso à oralidade, então o
conteúdo precisa chegar até ele de outra maneira, pela
imagem, pela língua de sinais, enquanto ele não tiver um
domínio mínimo da escrita.