O documento descreve três movimentos literários brasileiros: Concretismo, Poesia Práxis e Poema Processo. O Concretismo surgiu nos anos 1950 focado em geometrismo e racionalismo nas artes. A Poesia Práxis foi proposta por Mário Chamie em 1961 como dinâmica e passível de manipulação pelo leitor. Já o Poema Processo dos anos 1960/70 rejeitava o uso de palavras e empregava símbolos visuais.
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Poesias pós-modernas: concretismo, Poesia Práxis e Poema-Processo
1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE
Campus de Marechal Cândido Rondon
Curso de Letras – Português/Alemão/Espanhol/Inglês
RESENHA TEMÁTICA SOBRE LITERATURA CONTEMPORÂNEA (1970-2016).
ACEDÊMICAS: Djeisci Maldaner, Glaucia Tepper e Manuela Táffeni.
CONCRETISMO
O concretismo corresponde a um movimento artístico iniciado nos anos de 50 e
seu auge foi nos anos 60. Segundo o dicionário Online de Português o significado de
Concretismo é tendência que, nas artes plásticas, busca realizar obras que não se originam
de modelo natural, e que vem em geral se vale de elementos visuais ou táteis.
No entanto o concretismo caracteriza-se como movimento de cunho
marcadamente racionalista, buscando na arte a expressão de um geometrismo extremo.
Conforme o texto de Sant’Anna, foi ao fim dos anos 1940 que surgiram as
primeiras expressões de arte concreta no Brasil, sendo que assim as partidários da
abstração de arte geométrica se reuniam para estabelecer no país uma arte mais moderna,
que fosse, segundo eles, destituída de subjetividade. Assim buscando na forma
geométrica, na construção de ritmos seriados, na composição do espaço racional uma arte
que pudesse ser homogeneamente apreendida pelo intelecto, publicado no ano de 1951 o
manifesto da ruptura. De um modo a negar “as variações e hibridismo do naturalismo”,
assim eles tachavam de velho “o não figurativismo hedonista, produto do gosto gratuito”,
no entanto pode-se perceber que o concretismo se orientava para a mudança, chamando
de “o novo” seu próprio projeto para as artes plásticas.
Segundo o texto de Marques, Simon (p.90) cita Gonriger, pois é na poesia concreta
– como evolução de formas – nasceu no Brasil e na Europa, através da pesquisa apartada
de autores que tendiam para conclusões comuns e realizações até certo ponto semelhantes.
Contudo a poesia concreta brasileira apresentou um conjunto de precursores da poesia e
da literatura mundial que num aspecto ou noutro desenvolveram elementos que formaram
o conjunto de proposições do chamado plano-piloto da poesia concreta.
2. POESIA PRÁXIS
A poesia práxis foi um movimento conduzido pelo crítico e poeta Mário Chamie1,
que a partir de 1961 começou a adotar a palavra como organismo vivo gerador de novos
termos. Essa nomeação surgiu sob julgamento ao movimento de vanguarda concretista2,
de uma desarmonia de poetas que estavam insatisfeitos com o rigor formal e o
academicismo, não considerando o poema como um objeto estático e fechado mas, como
um produto dinâmico, passível de transformação pela influência ou manipulação do
leitor, resolvendo então romper com o concretismo ao propor uma nova estética poética.
Partindo desta premissa, a poesia práxis está relacionada a três ações e sobre elas
se intencionam um restabelecimento a vitalidade da palavra, como também em
reaproximar o fazer poético da situação social. Estas três ações são consideradas como:
1) o ato de compor; 2) a ação de levantamento da área da composição; 3) o ato de
consumir.
O ato de compor é uma ação que consiste em uma tomada de consciência, por
parte do poeta. Neste primeiro momento, destacam-se alguns elementos do projeto: o
espaço em preto, a mobilidade intercomunicante das palavras que é conceituada como a
utilização de algumas palavras isoladas e centralizadas, e outras em períodos. E o suporte
interno de significados que pode ser comparado ao sintagma. O espaço em preto refere-
se à soma das estrofes e palavras as quais seguem a uma lógica de sentido entre elas. Esta
lógica deve ser reforçada na organização geométrica dos blocos, de modo que, trocando
respectivamente as palavras correspondentes a cada bloco, a poesia se desdobre num
poema derivado, mas que ainda esteja ligado ao referente que o motivou. Além disso, os
blocos dos poemas também devem demonstrar esse tipo de relação entre si, pois “As
palavras são corpos vivos. Não vítimas passivas do contexto” (CHAMIE, 1962 apud
2010, ANO, p. 2).
Nesse sentido, o espaço em preto será o “campo de defesa da palavra”, (como cita
Chamie (1962 apud COSTA, 2010, p. 6), uma rosa é uma rosa e seu nome não mudará).
O propósito do espaço em preto, então, é garantir a proteção das palavras de maneira que
1 Disponível em: http://www.tirodeletra.com.br/biografia/MarioChamie.htm>. Acesso em21 dez. 2016.
2 Conforme Anderson Ulisses S. Nascimento “O concretismo caracteriza-se como movimento de cunho
marcadamente racionalista, buscando na arte a expressão de um geometrismo extremo.” Disponível em:
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-literarios/concretismo.html>. Acesso em: 20
dez. 2016.
3. elas não se transfigurem em “corpos inertes mobilizados a critério de quem as profere e
as usa” (CHAMIE, 1962, apud COSTA, 2010, p. 2). Portanto, “a existência, a estrutura e
a fisionomia do espaço em preto permitem o desdobramento desse processo, a partir de
qualquer palavra (ou unidade de composição) em qualquer campo de defesa do livro
Lavra Lavra.” (CHAMIE, 1962 apud COSTA, 2010, p. 2).
Para visualizarmos um exemplo da ocorrência dessa estrutura de composição,
vejamos os primeiros blocos do poema Arado que Chamie cita no Livro Lavra-Lavra:
Não talho, o leve risco talha
a terra
e a garra vira a terra e leva
o barro
para a via, via de grama e pedra.
Nem valo, a fina faca fende
o tronco
e a foice cerra o tronco e fere
o nervo
para o dia, dia de Branco e cera.
(CHAMIE, 1962 apud COSTA, 2010, p. 2)
Podemos perceber o primeiro elemento do ato de compor, quando as linhas de
cada bloco vão alternando-se, modificando palavras e recriando-se sem fugir do tema
central que é o ambiente agrário.
O segundo elemento importante: mobilidade intercomunicante, que pretende
explicar a relação dialética presente entre as palavras no espaço em preto, são
determinadas ainda como palavras que devem, de acordo com o contexto, “limitarem-se
a si mesmas, devido a suas “intensidades significativas”” (CHAMIE, 1962 apud COSTA,
2010, p. 3). Diante destas afirmações, podemos perceber que muitas vezes os poemas
contêm redundâncias significantes que vão repetindo-se na mesma posição dos diferentes
blocos, como é o caso do trecho de Arado, exposto acima. O mecanismo permite que as
palavras co-particípes substituam outras posições, diferenciando sentidos na relação com
esses significantes redundantes e compondo a “palavra homogênea no poema” (ex: terra;
barro).
O terceiro e último elemento é denominado de suporte interno de significados. A
diferença deste quanto ao sintagma, em um verso ou estrofe é que “as palavras puxam
4. umas às outras para traduzir um conteúdo conferível na prosa” (CHAMIE, 1962 apud
COSTA, 2010, p. 3) no suporte interno de significado da poesia práxis, as palavras devem
explorar os sentidos para todos os signos relacionados ao espaço em preto, e assim
estabelecem a mobilidade intercomunicante capaz de compor pela relação entre os
diferentes blocos e palavras isoladas do poema algumas palavras homogêneas.
Ainda com Base em Chamie (1962, apud COSTA, 2010, p. 3), a segunda e a
terceira ações fundamentam a poesia práxis, podemos perceber que suas funções
estabelecem mais significativamente a parcela ideológica do projeto. Portanto, a ação de
levantamento da área de composição representa o tema. Segundo Costa (2010) esta ação
pode ser denominada como uma “realidade exposta” da qual parte uma escolha de palavra
que se encaixam melhor no tema central. A terceira ação que caracteriza-se como o ato
de consumir, por sua vez, completa as ações essenciais do poema práxis procurando uma
linguagem idêntica para os intelectuais e o povo. Resumindo, o que espera-se com estas
ações é um aumento na intensificação de um diálogo autor-leitor e, assim aos pouco ir
eliminando aquele papel já idealizado do leitor passivo e do autor isolado e alienado da
realidade social.
Diante do exposto, podemos perceber que a poesia práxis é uma mistura de
palavras, sentidos e estética, com aquele teor inovador que é o propósito de Chamie (1962
apud COSTA, 2010, p. 6). Nesse sentido, o próximo poema também escrito pelo autor
fundador deste movimento, assemelha-se a todas as ações expostas acima, como também
a estética, fazendo com que a poesia tenha um movimento.
AGIOTAGEM
um
dois
três
o juro:o prazo
o pôr / o cento / o mês / o ágio
p o r c e n t a g i o.
dez
cem
mil
o lucro:o dízimo
o ágio / a mora / a monta em péssimo
e m p r é s t i m o.
5. muito
nada
tudo
a quebra:a sobra
a monta / o pé / o cento / a quota
h a j a n o t a
agiota.3
Por fim, podemos observar que no lugar desta suposta transmissão de palavras
aleatórias no caso da poesia concreta, o autor da poesia práxis trabalha em consonância
com a materialidade da área de levantamento, busca operar o texto com uma “realidade
exposta”, concluindo a partir dela uma dialética com o leitor, de modo a produzir
diferentes sentidos quanto aos atos de leitura da poesia
o poema praxis remodela o duo autor-leitor. O autor só é autor,
enquanto no exercício da condição; enquanto pratica o ato de compor.
Fora daí, é leitor e, rigorosamente, no âmbito maior da literatura-praxis
(de que o poema práxis é uma extroversão), haverá um momento em
que a riqueza criativa de um grupo, de uma sociedade e de um povo
será constituída, quantitativa e qualitativamente, de leitores. (CHAMIE,
1963, apud COSTA, 2010, p. 5)
Com base no que foi descrito acima, visualizando, lendo e estudando este
movimento, percebemos como a poesia práxis demonstra uma linguagem mais
homogênea, social e com um visual estético modificado das poesias concretas.
POEMA PROCESSO
O poema processo corresponde ao movimento artístico de vanguarda que ocorreu
no Brasil entre 1967 a 1972, em plena Ditadura Militar.
Surgiu em duas capitais do país simultaneamente: Rio de Janeiro (RJ) e em Natal
(RN), se espalhando pelo Brasil. Foi fundado por diversos poetas dos quais se destacam:
Wlademir Dias Pino, Moacy Cirne, Neide de Sá e Álvaro de Sá.
Esse movimento visava apresentar uma nova forma de fazer poesia a partir de uma
nova linguagem. Com um espírito revolucionário, o grupo de poetas do movimento
inovaram os poemas visuais, já explorados anteriormente pelo movimento concretista.
Note que ele está relacionado com a poesia concreta uma vez que surgiu dela, no
entanto, apresentam diferenças.
3 Disponível em: <https://profstellerdepaula.wordpress.com/2010/11/11/tendencias-contemporaneas/>.
Acesso em: 20 dez. 2016.
6. Assim, enquanto na poesia concreta as palavras eram as principais ferramentas, o
poema processo vem rejeitar seu uso, empregando além delas, símbolos e, portanto,
extrapolando os limites do poema.
A exploração desses signos não verbais no poema processo é mediada por figuras
geométricas, perfurações no papel e gráficos. Assim, o poema processo é um poema
semiótico e visual para ser visto antes de ser lido.
Principais características:
Linguagem não verbal.
Espírito revolucionário e inovador.
Poema experimental e visual.
Uso de símbolos visuais.
Principais autores:
Moacy Cirne
Neide Dias de Sá
Álvaro de Sá
Ariel Tecla
José Cláudio
Ronaldo Werneck
Aquiles Branco
Dailor Varela
Anabela Cunha
Cristina Felício dos Santos
Nei Leandro de Castro
Celso Dias
Segue alguns exemplos de poema-processo:
FIGURA 1:
Poema Poemãos de Neide Dias de Sá, 1973.
7. FIGURA 2:
Criação do poeta Álvaro de Sá publicado em 1973.
REFERÊNCIAS
COSTA, Tiago Leite. A poesia práxis contextualizada. PUC – Rio de Janeiro, 2010. p.1
– 10. Disponível em: <http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/12/A-poesia-praxis-
contextualizada.pdf>. Acesso em 21 dez. 2016.
MARQUES, Cristina. O Concretismo Brasileiro e a Poesia Experimental Portuguesa.
Diálogos – Revista de Estudos Acadêmicos, Artes e Culturas.
SANT’ANNA, Sabrina M. P. O museu de Arte Moderna e a trajetória do concretismo
carioca. Estudos históricos, Rio de Janeiro, nº 38, julho-dezembro de 2016, p. 33-48.
SANTOS, Wagner. Concretismo e Poesia-Práxis: a poesia no pós-modernismo brasileiro. 2016.
Disponível em: <https://descomplica.com.br/blog/literatura/resumo-concretismo-poesia-
praxis/>. Acesso em: 22 dez. 2016.
SILVA, Débora. Poesia práxis. Disponível em:
<http://www.estudopratico.com.br/poesia-praxis/>. Acesso em: 21 dez. 2016.
8. Portal toda matéria, Google. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/o-poema-
processo/>. Acesso dia 15 de outubro de 2016.
Portal toda matéria, Google. Disponível em: <http://expurgacao.art.br/poema-processo/>.
Acesso dia 20 de outubro de 2016.