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Mundo Jovem: E a questão do racismo, você a vê
Entrevista                                                          como uma questão cultural?
Publicada jornal Mundo Jovem, na edição nº 382, novembro de 2007.

Afirmação negra e                                                   Dionária da Silva: Sim, com certeza. O racismo foi
                                                                    construído e, dentro desse processo, vem passando por
humanização de toda a sociedade                                     vários elementos. Aqui no Brasil a gente tem como
                                                                    racismo mais específico a questão da religião. A
                                                                    população negra sofre muita discriminação nesse
                                                                    sentido. Sabemos que as religiões africanas sofreram e
                                                                    continuam sofrendo um processo de diabolização. São
                                                                    vistas como cultos demoníacos e há um total desrespeito
                                                                    à cultura africana, de não aceitar um determinado povo,
                                                                    quando se nega os hábitos culturais desse povo. Mas
                                                                    vemos o racismo no Brasil também pela questão da cor.

                                                                       Algumas pessoas falam que existe um problema
                                                                    social. Mas a questão social é só um agravante, porque
                                                                    o que existe mesmo é um preconceito em relação aos
                                                                    aspectos físicos, que envolve a cor, o cabelo (porque o
                              O Brasil, o último país a             natural do negro é ter o cabelo crespo). Quando um
abolir formalmente o trabalho escravo, concentra hoje o             jovem negro vai num local, por exemplo, procurar um
segundo maior contigente de população negra do                      emprego, é negada a sua entrada. Ele é logo visto como
mundo, atrás apenas da Nigéria. Essa realidade exige de             um marginal, bandido... Muitas vezes acaba sendo
toda a sociedade brasileira uma reflexão sobre a                    marginal, porque é assim que ele é visto pela sociedade.
condição da população negra no país. Nesta entrevista,
a pedagoga e militante do Movimento Negro, Dionária da
Silva Santos, de Jequié, BA, traz elementos para esse                  Aliás, a nossa sociedade vê a população pobre como
debate.                                                             mais suscetível a produzir bandido, ladrão, por causa da
                                                                    condição social. E aí o negro, por esta condição de se
Dionária da Silva Santos,                                           encontrar numa situação de marginalidade, acaba sendo
pedagoga e militante do Movimento Negro, Jequié, BA.                associado a esta imagem de ser um bandido e este
Endereço eletrônico: naraodara@yahoo.com.br                         preconceito está ligado ao aspecto físico da população
                                                                    negra.

Mundo Jovem: Como viveram e como vivem os
negros no Brasil?                                                   Mundo Jovem: Mas este racismo é um racismo
                                                                    velado? Por que se diz que não existe mais racismo
Dionária da Silva: No tempo da escravidão, no regime                no Brasil?
escravista, o negro vivia em condições subumanas,
tratado como animal. Não era uma relação patrão-                    Dionária da Silva: Claro. Existem dados estatísticos que
empregado. O negro era tratado com indiferença total.               dizem isto e a sociedade insiste em afirmar que não há
Depois da abolição, não mudou muito essa realidade,                 racismo. Mesmo que o mito da democracia racial tenha
porque a população negra foi marginalizada, foi entregue            sido derrubado, ainda insistem nesse discurso de que
à própria sorte, sem nenhuma proposta de inclusão na                neste país não há discriminação, que vivemos num país
sociedade.                                                          miscigenado, onde convivem várias raças. Mas nós
                                                                    sabemos, através de pesquisas e dados estatísticos, que
   Hoje existe nos bairros periféricos, nos pequenos,               ainda existe um alto percentual da população negra em
médios e grandes centros urbanos, uma concentração                  situação de analfabetismo, de desemprego e uma série
da população negra. E daí vêm os maiores índices de                 de coisas.
desemprego, de baixa escolaridade, analfabetismo, que
estão entre a população negra. Se olharmos os                           A questão do racismo ser velado é o que mais
presídios, o maior número de detentos também vem da                 dificulta o combate a ele. Existem nos movimentos
população negra. Se observarmos as vítimas das                      negros os intelectuais empenhados no combate ao
chacinas, o perfil também é de pessoas jovens, de 14 a              racismo, mas o racismo não existe às claras. A gente vai
25 anos, e também proveniente da população negra.                   percebendo como o racismo acontece, seja no contexto
Então, a situação da população negra no Brasil é de total           educacional, seja na área da saúde, e muitas vezes a
descaso, em estado de marginalidade mesmo.                          própria população negra acaba não percebendo e isso
                                                                    contribui para o racismo se reproduzir.
Mundo Jovem: A consciência negra está crescendo               resultados nesse sentido?
no país?
                                                              Dionária da Silva: Com certeza, porque as pessoas que
Dionária da Silva: Sim. A luta destas várias entidades        combatiam o sistema de cotas argumentavam que com
negras de todo o Brasil, a intervenção de pensadores          isso iria diminuir o nível intelectual das universidades,
negros, têm conseguido ampliar o nível da consciência         porque as pessoas que entrariam através da cota teriam
negra. E, ao mesmo tempo, percebemos pelos dados              um nível de conhecimento inferior ao das outras. Mas
estatísticos, pelos índices do IBGE, que o percentual de      isto não é verdade, porque a pessoa que entra através
população negra aumentou. A leitura que se faz a partir       do sistema de cotas passa pelo mesmo processo de
disso é que as pessoas estão começando a se aceitar,          seleção dos outros, é avaliada da mesma forma. A
aceitar sua identidade de negro. Com certeza isso é fruto     diferença é que existe uma reserva para os cotistas. Elas
dos movimentos, dos pensadores e das políticas                disputam entre si, o que aumenta o grau de dificuldade.
públicas de afirmação, seja de educação, de saúde, de
moradia, que chamamos de políticas afirmativas ou                De qualquer forma, existem pesquisas comprovando
políticas de reparação social. Estas iniciativas tentam       que as universidades que adotaram o sistema de cotas
reparar os resquícios que ficaram do período da               têm apresentado o mesmo nível de desempenho e de
escravidão no país.                                           desenvolvimento. Inclusive há dados apontando que
                                                              alguns cotistas têm um melhor aproveitamento do que os
    A questão das cotas, por exemplo, tem sido uma luta       alunos não-cotistas. Então, este mito foi derrubado e foi
muito grande. Muitas universidades já adotaram esse           constatado um aumento da população negra nas
sistema e a nossa grande luta é que seja adotado nas          universidades, assim como o aumento de jovens
universidades públicas, em todos os cursos. Através da        envolvidos nas políticas públicas de inclusão. Isso
força da luta dos jovens negros, muitas pessoas, hoje,        consideramos uma vitória.
estão começando a rever os seus conceitos.

                                                              Mundo Jovem: Essa luta da consciência negra não é
Mundo Jovem: Que tipo de argumentos você usaria               uma luta só dos jovens negros. O que você diria aos
na defesa do sistema de cotas?                                jovens brancos sobre a luta contra o racismo?

Dionária da Silva: Primeiramente, o sistema de cotas é        Dionária da Silva: Diria exatamente isso: que a luta
uma ação afirmativa de reparação social. O principal          contra a discriminação racial é uma luta de todos nós
argumento que a gente usa para a defesa do sistema de         brasileiros, de todos os cidadãos, porque é uma luta pelo
cotas é baseado em dados estatísticos que revelam que         resgate da cultura brasileira, já que a nossa cultura é
o número de pessoas negras nas universidades é muito          formada também por todos esses elementos que
pequeno. Nas regiões onde existiam universidades, o           constituem a cultura brasileira. Isso vai contribuir para o
número de estudantes negros era de 0,1% a 1%. Daí foi         desenvolvimento intelectual e social de toda a sociedade
feito um estudo para levantar o porquê de haver poucas        e para a nossa própria humanização.
pessoas negras na universidade. Vieram à tona todos
aqueles elementos da condição social em que o negro
se encontra.                                                  Proposta de redação
   Sabemos que a partir do momento em que a                   Leia a entrevista e faça uma paráfrase de três
população tem acesso à escola, tem maior nível de             parágrafos, 15 linhas, sobre ela.
escolaridade, melhora sua condição social e a condição
do contexto em que vive, porque desta forma a pessoa          1.º §: introdução (máximo de 3 linhas)
tem sua consciência crítica ampliada. O sistema de cotas      2.º § - desenvolvimento (em torno de 9 a 12 linhas)
seria uma das formas de incluir uma população que,            3.º § conclusão (máximo de 3 linhas)
historicamente, foi penalizada, roubada em seus direitos
de pessoa humana, de cidadã. Seria uma forma de               Apresentar rascunho, pôr título e passar a limpo na folha
devolução da dignidade, de pagamento de uma dívida            de redação.
que o estado brasileiro tem para com a população negra.
                                                              Inicie a paráfrase assim:
   Entendemos também que o sistema de cotas é uma
forma mais imediata de aumentar o número de pessoas           A pedagoga Dionária da Silva Santos, em sua entrevista,
negras dentro das universidades. Havia uma descrença          afirma (ou discute)....
entre os jovens negros estudantes, e hoje há uma
expectativa de cursar o nível superior, se sentir incluído.


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Dionária da Silva defende cotas raciais e consciência negra crescente no Brasil

  • 1. Mundo Jovem: E a questão do racismo, você a vê Entrevista como uma questão cultural? Publicada jornal Mundo Jovem, na edição nº 382, novembro de 2007. Afirmação negra e Dionária da Silva: Sim, com certeza. O racismo foi construído e, dentro desse processo, vem passando por humanização de toda a sociedade vários elementos. Aqui no Brasil a gente tem como racismo mais específico a questão da religião. A população negra sofre muita discriminação nesse sentido. Sabemos que as religiões africanas sofreram e continuam sofrendo um processo de diabolização. São vistas como cultos demoníacos e há um total desrespeito à cultura africana, de não aceitar um determinado povo, quando se nega os hábitos culturais desse povo. Mas vemos o racismo no Brasil também pela questão da cor. Algumas pessoas falam que existe um problema social. Mas a questão social é só um agravante, porque o que existe mesmo é um preconceito em relação aos aspectos físicos, que envolve a cor, o cabelo (porque o O Brasil, o último país a natural do negro é ter o cabelo crespo). Quando um abolir formalmente o trabalho escravo, concentra hoje o jovem negro vai num local, por exemplo, procurar um segundo maior contigente de população negra do emprego, é negada a sua entrada. Ele é logo visto como mundo, atrás apenas da Nigéria. Essa realidade exige de um marginal, bandido... Muitas vezes acaba sendo toda a sociedade brasileira uma reflexão sobre a marginal, porque é assim que ele é visto pela sociedade. condição da população negra no país. Nesta entrevista, a pedagoga e militante do Movimento Negro, Dionária da Silva Santos, de Jequié, BA, traz elementos para esse Aliás, a nossa sociedade vê a população pobre como debate. mais suscetível a produzir bandido, ladrão, por causa da condição social. E aí o negro, por esta condição de se Dionária da Silva Santos, encontrar numa situação de marginalidade, acaba sendo pedagoga e militante do Movimento Negro, Jequié, BA. associado a esta imagem de ser um bandido e este Endereço eletrônico: naraodara@yahoo.com.br preconceito está ligado ao aspecto físico da população negra. Mundo Jovem: Como viveram e como vivem os negros no Brasil? Mundo Jovem: Mas este racismo é um racismo velado? Por que se diz que não existe mais racismo Dionária da Silva: No tempo da escravidão, no regime no Brasil? escravista, o negro vivia em condições subumanas, tratado como animal. Não era uma relação patrão- Dionária da Silva: Claro. Existem dados estatísticos que empregado. O negro era tratado com indiferença total. dizem isto e a sociedade insiste em afirmar que não há Depois da abolição, não mudou muito essa realidade, racismo. Mesmo que o mito da democracia racial tenha porque a população negra foi marginalizada, foi entregue sido derrubado, ainda insistem nesse discurso de que à própria sorte, sem nenhuma proposta de inclusão na neste país não há discriminação, que vivemos num país sociedade. miscigenado, onde convivem várias raças. Mas nós sabemos, através de pesquisas e dados estatísticos, que Hoje existe nos bairros periféricos, nos pequenos, ainda existe um alto percentual da população negra em médios e grandes centros urbanos, uma concentração situação de analfabetismo, de desemprego e uma série da população negra. E daí vêm os maiores índices de de coisas. desemprego, de baixa escolaridade, analfabetismo, que estão entre a população negra. Se olharmos os A questão do racismo ser velado é o que mais presídios, o maior número de detentos também vem da dificulta o combate a ele. Existem nos movimentos população negra. Se observarmos as vítimas das negros os intelectuais empenhados no combate ao chacinas, o perfil também é de pessoas jovens, de 14 a racismo, mas o racismo não existe às claras. A gente vai 25 anos, e também proveniente da população negra. percebendo como o racismo acontece, seja no contexto Então, a situação da população negra no Brasil é de total educacional, seja na área da saúde, e muitas vezes a descaso, em estado de marginalidade mesmo. própria população negra acaba não percebendo e isso contribui para o racismo se reproduzir.
  • 2. Mundo Jovem: A consciência negra está crescendo resultados nesse sentido? no país? Dionária da Silva: Com certeza, porque as pessoas que Dionária da Silva: Sim. A luta destas várias entidades combatiam o sistema de cotas argumentavam que com negras de todo o Brasil, a intervenção de pensadores isso iria diminuir o nível intelectual das universidades, negros, têm conseguido ampliar o nível da consciência porque as pessoas que entrariam através da cota teriam negra. E, ao mesmo tempo, percebemos pelos dados um nível de conhecimento inferior ao das outras. Mas estatísticos, pelos índices do IBGE, que o percentual de isto não é verdade, porque a pessoa que entra através população negra aumentou. A leitura que se faz a partir do sistema de cotas passa pelo mesmo processo de disso é que as pessoas estão começando a se aceitar, seleção dos outros, é avaliada da mesma forma. A aceitar sua identidade de negro. Com certeza isso é fruto diferença é que existe uma reserva para os cotistas. Elas dos movimentos, dos pensadores e das políticas disputam entre si, o que aumenta o grau de dificuldade. públicas de afirmação, seja de educação, de saúde, de moradia, que chamamos de políticas afirmativas ou De qualquer forma, existem pesquisas comprovando políticas de reparação social. Estas iniciativas tentam que as universidades que adotaram o sistema de cotas reparar os resquícios que ficaram do período da têm apresentado o mesmo nível de desempenho e de escravidão no país. desenvolvimento. Inclusive há dados apontando que alguns cotistas têm um melhor aproveitamento do que os A questão das cotas, por exemplo, tem sido uma luta alunos não-cotistas. Então, este mito foi derrubado e foi muito grande. Muitas universidades já adotaram esse constatado um aumento da população negra nas sistema e a nossa grande luta é que seja adotado nas universidades, assim como o aumento de jovens universidades públicas, em todos os cursos. Através da envolvidos nas políticas públicas de inclusão. Isso força da luta dos jovens negros, muitas pessoas, hoje, consideramos uma vitória. estão começando a rever os seus conceitos. Mundo Jovem: Essa luta da consciência negra não é Mundo Jovem: Que tipo de argumentos você usaria uma luta só dos jovens negros. O que você diria aos na defesa do sistema de cotas? jovens brancos sobre a luta contra o racismo? Dionária da Silva: Primeiramente, o sistema de cotas é Dionária da Silva: Diria exatamente isso: que a luta uma ação afirmativa de reparação social. O principal contra a discriminação racial é uma luta de todos nós argumento que a gente usa para a defesa do sistema de brasileiros, de todos os cidadãos, porque é uma luta pelo cotas é baseado em dados estatísticos que revelam que resgate da cultura brasileira, já que a nossa cultura é o número de pessoas negras nas universidades é muito formada também por todos esses elementos que pequeno. Nas regiões onde existiam universidades, o constituem a cultura brasileira. Isso vai contribuir para o número de estudantes negros era de 0,1% a 1%. Daí foi desenvolvimento intelectual e social de toda a sociedade feito um estudo para levantar o porquê de haver poucas e para a nossa própria humanização. pessoas negras na universidade. Vieram à tona todos aqueles elementos da condição social em que o negro se encontra. Proposta de redação Sabemos que a partir do momento em que a Leia a entrevista e faça uma paráfrase de três população tem acesso à escola, tem maior nível de parágrafos, 15 linhas, sobre ela. escolaridade, melhora sua condição social e a condição do contexto em que vive, porque desta forma a pessoa 1.º §: introdução (máximo de 3 linhas) tem sua consciência crítica ampliada. O sistema de cotas 2.º § - desenvolvimento (em torno de 9 a 12 linhas) seria uma das formas de incluir uma população que, 3.º § conclusão (máximo de 3 linhas) historicamente, foi penalizada, roubada em seus direitos de pessoa humana, de cidadã. Seria uma forma de Apresentar rascunho, pôr título e passar a limpo na folha devolução da dignidade, de pagamento de uma dívida de redação. que o estado brasileiro tem para com a população negra. Inicie a paráfrase assim: Entendemos também que o sistema de cotas é uma forma mais imediata de aumentar o número de pessoas A pedagoga Dionária da Silva Santos, em sua entrevista, negras dentro das universidades. Havia uma descrença afirma (ou discute).... entre os jovens negros estudantes, e hoje há uma expectativa de cursar o nível superior, se sentir incluído. Mundo Jovem: Já dá para comemorar alguns